Petrolão e o suicídio
Eduardo Costa
Sou da geração que
só viu crise, mordaça, roubalheira, desonra e, em brevíssimos parênteses, um
pouco de esperança. O período mais animador ocorreu poucos anos atrás, quando
Lula, tendo a sabedoria de seguir a política econômica de FHC que tanto
criticava, mas, com um olhar inegavelmente mais voltado para os pobres, levou o
frango à mesa do miserável, possibilitou ao pobre conhecer avião e nos permitiu
andar com os ombros erguidos diante dos povos ditos desenvolvidos.
A safadeza e a falta
de compromissos que nos rodeiam desde 1500 fizeram do nosso presidente operário
um decrépito que nada via e não ouvia sobre a turma do Zé Dirceu e nosso
castelo de sonhos desmoronou. No ano passado, quando já se sabia que dona Dilma
estava com lama até o pescoço, mas dizia navegar em águas calmas, houve uma
opção de mudança com Aécio; contudo, a maioria dos brasileiros concordou com
Luciana Genro – na briga entre tucanos e petistas é o sujo falando do mal
lavado – e o Brasil não mudou. Restou-nos um país dividido e o pior momento que
já vivi (ou, pelo menos, percebi) em quase seis décadas de labuta.
Estou impressionado.
Não há um só lugar, uma só prosa ou um encontro com amigo que não ouço falar de
dificuldades, falências e desemprego.
Não quero discutir
política e economia. Quero falar de suicídio. Fosse eu capaz de pautar a
imprensa brasileira, convocaria os colegas jornalistas para ignorar o “pacto”
antigo de não se falar sobre o autoextermínio. Concordo que uma abordagem
sensacionalista, gratuita, pode ter resultados catastróficos. É só voltar no
tempo, final do século 18, quando “Os sofrimentos do Jovem Werther”, de
Wolfgang Goethe, provocou uma onda de suicídios na Europa.
Eu falo é de veiculação
de mensagens positivas, esclarecedoras, no meio de nosso sangue ensandecido das
ruas e as entrevistas descaradas dos engravatados. Eu falo é de apoio
institucional a entidades como o Centro de Valorização da Vida. Eu peço é
atenção ao comportamento dos que convivem conosco, mas, especialmente, os mais
vulneráveis: adolescentes e idosos.
Na era do celular, a
gente só fica olhando pra ele, enquanto uma pessoa querida pede socorro bem ao
lado. Com a desesperança, a avalanche das drogas e a volta do desemprego os
casos, historicamente subnotificados, tendem a crescer. E, mais ainda, pela
omissão nossa, dos jornalistas, a pretexto de bancar o politicamente correto.
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