segunda-feira, 16 de março de 2015

O PRÓXIMO PASSO




Leida Reis 

O país acorda certamente se perguntando aonde levarão as manifestações do domingo pedindo o impeachment de Dilma Rousseff. Um exercício sadio da democracia levou 1,5 milhão de pessoas às ruas na maior parte das capitais brasileiras e em centenas de outras cidades de forma pacífica. Inesperado esse movimento para uma presidente que assumiu o mandato há dois meses e meio. A imagem do Brasil lá fora não é das melhores, uma vez que o escândalo do Petrolão figura, sem dúvida, como um dos mais nefastos registrados no mundo inteiro e, claro, os atos públicos de ontem tiveram destaque na imprensa internacional.

O direito de protestar contra o poder constituído é indiscutível e saudável para um país que busca crescer em consciência política. Não é golpe, como gritam petistas. É direito à voz, após o exercício do direito ao voto. Entre os manifestantes, bandeiras ecléticas pedindo redução dos impostos, mais educação, saúde e segurança, críticas também aos presidentes da Câmara e do Senado, além dos caminhoneiros parcialmente vitoriosos em recente greve.

A discussão do impeachment, no entanto, não pode ser política. É inegável a insatisfação com a presidente, mas há também um senso comum contra a corrupção, esteja ela onde estiver. A última pesquisa Datafolha mostrava que a aceitação de Dilma Rousseff está caindo, aquele mundo maravilhoso pintado pelo marqueteiro João Santana não se confirmou. Não é difícil encontrar eleitores de Dilma perplexos com os rumos da economia e muitos até arrependidos da escolha que fizeram em outubro do ano passado.

Mas os argumentos dos juristas que refutam a tese do impedimento da presidente se sobrepõem aos demais. Se Ives Gandra afirma que Dilma pode ser julgada por culpa (e não dolo), tendo sido omissa no escoamento de bilhões de reais da Petrobras, vêm outros, como Celso Antônio Bandeira de Melo, da PUC-SP, dizer que não há evidência de ligação direta da presidente com os desvios que a leve a um processo de tal natureza.

O argumento de doações ilegais como apontado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, segundo quem US$ 300 mil da estatal foram repassados à campanha da petista, cai por terra pelo fato de o TSE ter aprovado as contas da então candidata. Outro debate é sobre a não aplicação da Lei Anticorrupção, beneficiando as empreiteiras envolvidas no escândalo, o que efetivamente não ocorreu, tendo a CGU anunciado a abertura de investigação das empresas.

Trata-se, sim, de uma briga de argumentos de especialistas e o país dividido entre os que foram ou quiseram ter ido às ruas pedindo o fim do governo e tantos outros – que em número menor estiveram nas ruas na última sexta-feira – preferindo continuar acreditando na presidente.

Nesse quadro dicotômico, legítimo, creio ser possível a sobrevivência de Dilma Rousseff. Não me parece plausível a aceitação de um pedido de impeachment pelo STF. Por outro lado, o PT e a presidente terão muita dificuldade para reconquistar a confiança do país. Sou pelo direito de todos irem às ruas, trabalhadores, patrões, autônomos; mas não deixo de meditar a favor da harmonia no Brasil.

 

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