O grande sábio e o imenso tolo, de Millôr Fernandes
Por um acaso do
destino, um velho e sábio professor e um jovem e estulto aluno se encontraram
dividindo bancos gêmeos num ônibus interestadual. O estulto aluno, já conhecido
do sábio professor exatamente por sua estultície, logo cansou o mestre com seu
matraquear ininterrupto e sem sentido. O professor aguentou o quando pôde a
conversa insossa e descabida. Afinal, cansado, arranjou, na sua cachola sábia,
uma maneira de desativar o papo inútil do aluno. Sugeriu:
- Vamos fazer um
jogo que sempre proponho nestas minhas viagens. Faz o tempo passar bem mais
depressa. Você me faz uma pergunta qualquer. Se eu não souber responder, perco
cem pratas. Depois eu lhe faço uma pergunta. Se você não souber responder,
perde cem.
- Ah, mas isso é
injusto! Não posso jogar esse jogo – disse o aluno, provando que não era tão
tolo quanto aparentava -, eu vou perder muito dinheiro! O senhor sabe
infinitamente mais do que eu. Só posso jogar com a seguinte combinação: quando
eu acertar, ganho cem pratas. Quando o senhor acertar, ganha só vinte.
- Está bem –
concordou o professor – pode começar.
- Me diz, professor
– perguntou o aluno , o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante
e rabo de pau?
O professor, sem
sequer pensar, respondeu:
- Não sei; nem
posso saber! Isso não existe.
- O senhor não
disse se devia existir ou não. O fato é que o senhor não sabe o que é –
argumentou o aluno – e, portanto, me deve cem pratas.
- Tá bem, eu pago
as cem pratas – concordou o professor pagando -, mas agora é minha vez. Me diz
aí: o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei –
respondeu o aluno. E, sem maior discussão, pagou vinte pratas ao professor.
Moral: A sabedoria,
nos dias de hoje, está valendo 20% da esperteza.
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