Posso ser
louco, mas não sou burro"
Jack Ma, o fundador da Alibaba, maior site de
e-commerce do mundo, conta como se tornou o homem mais rico da Ásia e o 21° do
mundo
Com uma
fortuna avaliada em US$ 28,5 bilhões, Jack Ma é homem mais rico da Ásia.
Chinês, baixo, franzino e sempre sorridente, sua riqueza impressiona. Mas o que
realmente surpreende é o tempo que ele levou para acumulá-la. Em 15 anos,
Ma passou de um pequeno empreendedor com dificuldades para fechar as
contas do mês para o 21° no ranking de bilionários da Bloomberg. A Alibaba,
a empresa de comércio eletrônico que fundou em 1999 com US$ 60 mil, realizou
no ano passado o maior IPO da história de Wall Street, ao captar US$ 25
bilhões. A história de vida de Ma, no entanto, está longe de ser uma coleção de
sucessos. O empresário teve que engolir muitas decepções - como não ser
aprovado três vezes para entrar na faculdade e não passar em processos
seletivos para entrar na polícia local ou na rede de restaurantes KFC.
Ma leva
na brincadeira - pelo menos atualmente - as vezes em que teve que encarar um
não. "Falhei muitas vezes. Fui rejeitado em uns 30 empregos. Tentei uma
vaga na polícia, não me quiseram. Quando o KFC chegou à China, tentei um
emprego lá. Eles entrevistaram 24 pessoas e contrataram 23. Eu fui o único que
ficou de fora. Tentei entrar em Harvard dez vezes. Em todas fui rejeitado. Eu
sei ser rejeitado ", afirmou, em depoimento dado nesta sexta-feira
(23/01), no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
O tempo
iria vingar Ma. No último ano, 300 milhões de consumidores compraram nos sites
da Alibaba. A companhia é responsável por cerca de 90% das transações entre
consumidores e metade das vendas de empresas para clientes da internet chinesa.
"Somos grandes se compararmos o que éramos há 15 anos ao que somos hoje,
porém somos ainda um bebê perto do que seremos daqui a 15 anos", diz.
Pode
parecer - e acabar efetivamente sendo - uma promessa vazia, mas Ma já tem
prática em surpreender. "A primeira vez que fui à revista Time, eles me
chamaram de 'crazy Jack' (Jack, o louco). Eu acho que a loucura é boa. Nós
somos loucos, mas não somos burros. Se você não tentar, nada é possível. Se
tentar, ao menos terá a esperança ", afirma. "Sabemos o que estamos
fazendo, mas se todos concordarem comigo e com minhas ideias, não teremos
sucesso".
Nos
primeiros cinco anos de existência da Alibaba, o empreendedor assume que só se
preocupava em sobreviver, embora a companhia já tivesse alcançado certa fama.
Ele conta que era comum ir a restaurantes e ter as refeições pagas por clientes
que o reconheciam. "Uma vez recebi um bilhete que dizia que aquela pessoa
tinha feito muito dinheiro com a plataforma da Alibaba e que sabia que eu não
fazia dinheiro com ela - e por isso estava pagando a conta". Hoje, a história
vira piada.
A última
grande cartada da Alibaba foi seu IPO. Apesar do sucesso da operação, Ma
também passou por dificuldades antes de cair nas graças dos investidores
americanos. "Em 2001, vim aos EUA tentar levantar US$ 5 milhões com fundos
de venture capital . Não consegui. Agora [com o IPO], voltei e captei um pouco
mais do que isso", brinca.
Apesar do
feito espetacular, o empresário tenta não se deixar levar pela empolgação.
"Nosso valor de mercado é hoje maior do que o da IBM ", afirma.
"Há alguns anos, quando nos criticavam, eu dizia que não éramos tão ruins
quanto falavam. Agora, digo que não somos tão bons quanto falam".
Os
planos, no entanto, são bastante ambiciosos. Ma conta já ter feito uma aposta
com um executivo sênior do Walmart de que a Alibaba será maior do que a rede
varejista americana em 10 anos. "Se o Walmart quiser ter 10 mil novos
clientes, ele terá que construir toda uma estrutura. Eu preciso apenas de dois
servidores".
E o
empresário quer ter muito mais do que 10 mil novos clientes. Ele pretende
levar a Alibaba para o mundo inteiro. "Queremos ajudar pequenas empresas a
vender para todos os lugares. Ter uma plataforma global, para que uma companhia
norueguesa possa vender para uma argentina".
Contato
com o exterior
Com ambições de se tornar global, Ma tem familiaridade com o mundo ocidental. Ele é fluente em inglês e tem pouco sotaque. O empresário começou a aprender a língua quando trabalhou ainda adolescente como guia turístico em sua cidade natal, Hangzhou. "Quando eu tinha 12, 13 anos, não havia sequer livros de inglês onde eu morava. Por nove anos, fui guia de graça para aprender a língua. Isso me mudou. Foi uma experiência que abriu a minha mente. Tudo o que eu ouvia era muito diferente do que meus pais e as escolas falavam".
Com ambições de se tornar global, Ma tem familiaridade com o mundo ocidental. Ele é fluente em inglês e tem pouco sotaque. O empresário começou a aprender a língua quando trabalhou ainda adolescente como guia turístico em sua cidade natal, Hangzhou. "Quando eu tinha 12, 13 anos, não havia sequer livros de inglês onde eu morava. Por nove anos, fui guia de graça para aprender a língua. Isso me mudou. Foi uma experiência que abriu a minha mente. Tudo o que eu ouvia era muito diferente do que meus pais e as escolas falavam".
O nome
ocidental de Ma, "Jack", surgiu nessa época. Uma turista de quem ele
ficou amigo e passou a se corresponder reclamou da dificuldade em pronunciar
seu nome chinês, Ma Yun. Ela propôs então o uso de "Jack". "Ela
me disse: meu pai se chama Jack, meu marido se chama Jack. Posso te chamar de
Jack? Eu aceitei", conta.
A
primeira visita aos EUA veio em 1995. Nesta viagem, Ma foi visitar um amigo em
Seattle. Foi quando ele foi apresentado à internet. Não foi amor à primeira
vista. "O sistema era bastante lento. Computador era algo muito caro na
China. Se eu gostasse, não poderia pagar", diz. Relutante, ele testou uma
busca. Procurou pela palavra cerveja. Encontrou vários resultados sobre
cervejas alemãs, americanas, japonesas ... mas nada sobre cervejas chinesas.
Fez uma nova busca. Desta vez, por China. Nenhum resultado.
Ma, com a
ajuda de alguns amigos, decidiu então fazer uma página para anunciar seus
serviços de tradução para o chinês. Era uma página bem simples e feia, segundo
conta. Ela entrou no ar às 9h40. Às 12h30, ele já havia recebido cinco e-mails.
"Meu amigo me ligou empolgado para dizer que tinham chegado e-mails. Minha
resposta? O que são e-mails?". As pessoas que haviam escrito as mensagens
diziam que nunca tinham visto um site sobre a China na internet e sugeriam se
era possível fazer algum negócio juntos.
O
empresário voltou para a China e abriu a China Pages, uma companhia de criação
de sites para pequenas empresas. Depois, aceitou um emprego no governo. Dessa
época, ela guarda uma lição: "apaixone-se pelo governo, mas não se case
com ele". A próxima empreitada foi a vencedora fundação da Alibaba.
Ousar
Nos primeiros três anos, a Alibaba não faturava. A plataforma funcionava basicamente como um ponto de encontro entre consumidores e empresas. "Não podíamos realizar as transações por conta de restrições regulatórias. Os bancos não queriam entrar no negócio. Foi quando ouvi numa palestra que liderança é assumir responsabilidades. Decidi então que faríamos. Falei aos meus colegas que se algo desse errado eu que iria para a prisão". Nascia então a Alipay, uma empresa de pagamentos eletrônicos. A decisão foi recebida com ceticismo. Disseram a Ma que essa era a ideia mais estúpida que ele havia tido. Atualmente, 800 milhões de clientes usam a Alipay.
Nos primeiros três anos, a Alibaba não faturava. A plataforma funcionava basicamente como um ponto de encontro entre consumidores e empresas. "Não podíamos realizar as transações por conta de restrições regulatórias. Os bancos não queriam entrar no negócio. Foi quando ouvi numa palestra que liderança é assumir responsabilidades. Decidi então que faríamos. Falei aos meus colegas que se algo desse errado eu que iria para a prisão". Nascia então a Alipay, uma empresa de pagamentos eletrônicos. A decisão foi recebida com ceticismo. Disseram a Ma que essa era a ideia mais estúpida que ele havia tido. Atualmente, 800 milhões de clientes usam a Alipay.
Uma das
principais inspirações de Ma para administrar seu negócio vem do filme Forrest
Gump. "Eu amo o Forrest Gump. A mensagem é: simplicidade, nunca desista , acredite no que está fazendo, goste do
que está fazendo, mesmo que os outros não entendam", diz. "A vida
é mesmo como descrita no filme: 'uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que
irá encontrar'".
O tai
chi, praticado pelo empresário, é outra fonte de inspiração. "Eu uso a
filosofia do tai chi nos negócios: tenha calma, sempre há uma saída, busque seu
equilíbrio. Eu não odeio o eBay, por exemplo. É ele que me ajuda a ter
equilíbrio". E de equilíbrio a Alibaba irá precisar se quiser levar
seu modelo chinês de sucesso para o resto do mundo.
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