O FANTASMA
DA INFLAÇÃO
O Plano real
completou 20 anos no dia primeiro de julho de 1994 e poucas pessoas, principalmente
os mais jovens, desconhecem o que realmente
a inflação representa para a economia brasileira e como ela afeta o dia-a-dia
dos brasileiros.
“Os
brasileiros com menos de 40 anos talvez não tenham noção do que significava
viver em um país em que os preços eram remarcados todos os dias e o dinheiro
parecia derreter nos bolsos. Mas era
exatamente essa a sensação provocada pelo cenário inflacionário anterior a 1994”.
“Correr ao
supermercado para comprar produtos por um preço mais baixo, manter vários
carros na garagem para lucrar com a posterior venda deles e ter uma despensa em
casa para guardar reserva de comida. Todos
esses fatores não fazem o menor sentido para a nova geração consumista que mal
sabe administrar a própria mesada e o próprio salário”.
“Os
consumidores de hoje vão ao supermercado pelo menos uma vez por semana. As
cozinhas de casas modernas mal contemplam espaço para os alimentos. E o uso do
salário pode ser planejado com facilidade. A realidade é bastante diferente e,
certamente, mais fácil”.
“Durante os
anos 1980 e a primeira metade dos anos 1990, o país viveu uma era prolongada de
desacerto monetário, e quem pagou por ele foi a população mais pobre que, sem
acesso ao sistema bancário, não dispunha das contas remuneradas, da poupança e
de outros mecanismos capazes de reduzir os efeitos da corrosão da moeda e essa
corrosão era intensa”.
“O Brasil
teve nesse período seis moedas diferentes – e isso teve consequências
desastrosas sobre o sistema produtivo e sobre a capacidade de investimento das
empresas e das pessoas. O dinheiro perdeu nove zeros no período. A inflação
voraz se aproximou de inacreditáveis 2.500% ano no ano de 1993, e a corrosão
teria sido maior no ano seguinte se não fosse implantado o Plano Real pela
equipe do presidente Itamar Franco”.
“A inflação
pode até ter deixado de corroer a moeda com a mesma força do passado, mas nunca
deixou de representar uma ameaça à saúde da economia.
A inflação
nada mais é do que a consequência do desmazelo com as contas públicas. Quando o
governo gasta mais do que arrecada, o resultado é inflação. Quando as
impressoras da Casa da Moeda funcionam aceleradas e a emissão de dinheiro
supera o equilíbrio necessário para um quadro de estabilidade de preços, a
consequência é mais inflação.
Quando a
taxa de juros serve como ferramenta de estímulo ao consumo, a consequência é
mais inflação ainda. Isso vale para qualquer país. No caso brasileiro, além dos
riscos permanentes relacionados à falta de rigidez na gestão das contas
públicas, há problemas adicionais. Esses são 100% brasileiros.
Como uma
herança maldita do tempo em que os preços subiam dia sim e outro também, o
governo e a sociedade conservaram o hábito de estabelecer indexadores para
tudo.
Tudo no
país, a começar pelos aluguéis, pelos pedágios nas rodovias, pela conta de luz
e água, IPTU e outros impostos, e todo qualquer outro preço administrado,
aumenta de acordo com a inflação passada. E sempre que esses preços sobem, a
sociedade, com toda razão, pressiona por aumentos de salário – e a consequência
desses aumento é inflação futura.
Há exatos 20
anos. O Brasil conseguiu acabar com a inflação galopante. Mas manteve vivos os
mecanismos de indexação que nunca permitiram que ela desaparecesse por
completo. Tais mecanismos, somados à despreocupação incurável do governo com a
qualidade das contas públicas, revelam que o monstro da inflação que tantos
estragos causou no passado está enjaulado. Mas continua vivo e pode se soltar a
qualquer instante. Ameaçador como nunca deixou de ser”.
Fonte:
Eduardo Galuppo – Jornal Hoje em Dia do dia 01/07/2014.
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