quarta-feira, 2 de julho de 2014

O FANTASMA DA INFLAÇÃO

O FANTASMA DA INFLAÇÃO

O Plano real completou 20 anos no dia primeiro de julho de 1994 e poucas pessoas, principalmente os mais jovens,  desconhecem o que realmente a inflação representa para a economia brasileira e como ela afeta o dia-a-dia dos brasileiros.
“Os brasileiros com menos de 40 anos talvez não tenham noção do que significava viver em um país em que os preços eram remarcados todos os dias e o dinheiro parecia derreter nos bolsos.  Mas era exatamente essa a sensação provocada pelo cenário inflacionário anterior a 1994”.  
“Correr ao supermercado para comprar produtos por um preço mais baixo, manter vários carros na garagem para lucrar com a posterior venda deles e ter uma despensa em casa para guardar reserva de comida.  Todos esses fatores não fazem o menor sentido para a nova geração consumista que mal sabe administrar a própria mesada e o próprio salário”.
“Os consumidores de hoje vão ao supermercado pelo menos uma vez por semana. As cozinhas de casas modernas mal contemplam espaço para os alimentos. E o uso do salário pode ser planejado com facilidade. A realidade é bastante diferente e, certamente, mais fácil”.
“Durante os anos 1980 e a primeira metade dos anos 1990, o país viveu uma era prolongada de desacerto monetário, e quem pagou por ele foi a população mais pobre que, sem acesso ao sistema bancário, não dispunha das contas remuneradas, da poupança e de outros mecanismos capazes de reduzir os efeitos da corrosão da moeda e essa corrosão era intensa”.
“O Brasil teve nesse período seis moedas diferentes – e isso teve consequências desastrosas sobre o sistema produtivo e sobre a capacidade de investimento das empresas e das pessoas. O dinheiro perdeu nove zeros no período. A inflação voraz se aproximou de inacreditáveis 2.500% ano no ano de 1993, e a corrosão teria sido maior no ano seguinte se não fosse implantado o Plano Real pela equipe do presidente Itamar Franco”.
“A inflação pode até ter deixado de corroer a moeda com a mesma força do passado, mas nunca deixou de representar uma ameaça à saúde da economia.
A inflação nada mais é do que a consequência do desmazelo com as contas públicas. Quando o governo gasta mais do que arrecada, o resultado é inflação. Quando as impressoras da Casa da Moeda funcionam aceleradas e a emissão de dinheiro supera o equilíbrio necessário para um quadro de estabilidade de preços, a consequência é mais inflação.
Quando a taxa de juros serve como ferramenta de estímulo ao consumo, a consequência é mais inflação ainda. Isso vale para qualquer país. No caso brasileiro, além dos riscos permanentes relacionados à falta de rigidez na gestão das contas públicas, há problemas adicionais. Esses são 100% brasileiros.
Como uma herança maldita do tempo em que os preços subiam dia sim e outro também, o governo e a sociedade conservaram o hábito de estabelecer indexadores para tudo.
Tudo no país, a começar pelos aluguéis, pelos pedágios nas rodovias, pela conta de luz e água, IPTU e outros impostos, e todo qualquer outro preço administrado, aumenta de acordo com a inflação passada. E sempre que esses preços sobem, a sociedade, com toda razão, pressiona por aumentos de salário – e a consequência desses aumento é inflação futura.
Há exatos 20 anos. O Brasil conseguiu acabar com a inflação galopante. Mas manteve vivos os mecanismos de indexação que nunca permitiram que ela desaparecesse por completo. Tais mecanismos, somados à despreocupação incurável do governo com a qualidade das contas públicas, revelam que o monstro da inflação que tantos estragos causou no passado está enjaulado. Mas continua vivo e pode se soltar a qualquer instante. Ameaçador como nunca deixou de ser”.

Fonte: Eduardo Galuppo – Jornal Hoje em Dia do dia 01/07/2014.



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