sexta-feira, 30 de maio de 2014

DOAÇÃO A UNIVERSIDADE



As Universidades, como qualquer outra instituição, precisam de dinheiro para desenvolver uma série de atividades, incluindo as pesquisas, para a sua subsistência e desenvolvimento.

É nesse ponto que os países desenvolvidos levam vantagem e tiram proveito dos financiamentos que conseguem e desenvolvem suas pesquisas sem a burocracia existente como aqui no Brasil. Por isso pertencem ao primeiro mundo. 

VAMOS ACABAR COM A BURROCRACIA!

Diferentemente dos EUA, doação a universidade é rara no Brasil

Para especialistas, elite nacional não se sente comprometida com educação e futuro do país

LUCIANNE CARNEIRO (EMAIL)

RIO e SÃO PAULO — A visita da presidente Dilma Rousseff ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) e à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, abriu o debate sobre o financiamento de universidades brasileiras com recursos de ex-alunos e empresas. Prática comum nos EUA — onde os fundos, chamados de endowments, chegam a reunir mais de US$ 30 bilhões, como é o caso de Harvard —, a doação ainda é rara no Brasil, embora comecem a aparecer iniciativas pingadas. De acordo com o professor de Política Educacional da Faculdade de Educação da USP Romualdo Portela de Oliveira, há na elite dos EUA uma percepção de responsabilidade com a educação, e as doações são muito frequentes:
— No Brasil, temos coisas pontuais, isoladas, algo infinitamente menor. Nossas elites têm muito pouco compromisso com o futuro da nação. Há uma percepção de que isso é responsabilidade do Estado.
Em artigo publicado ontem no GLOBO, Elio Gaspari afirma que poucos dos bilionários brasileiros patrocinam filantropias relevantes, seja por avareza ou por temer má gestão dos recursos. Procurados pela equipe, alguns dos principais bilionários brasileiros (segundo a “Forbes”) não comentaram o assunto.
Para Oliveira, da USP, as doações a universidades refletem uma preocupação social e permitem ganhos para a educação. O Brasil, segundo ele, poderia aprender com o exemplo bem-sucedido dos EUA.
— Ainda que a universidade seja pública, e a maior parte do financiamento venha do governo, não há problema que empresas e pessoas ajudem na sua manutenção — diz.
Para o advogado Felipe Sotto-Mayor, diretor da Endowments do Brasil — que estrutura fundos para universidades —, ainda não há cultura de o brasileiro investir nas universidades que estudou:
— A elite brasileira estuda de graça aqui e doa para a universidade lá de fora, onde fez MBA.
A Fundação Lemann, por exemplo, criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, quarto homem mais rico do país, financia programas de gestão escolar e de bolsas de estudo em várias universidades do mundo. E assinou com a Capes acordo de cooperação para o programa Ciência Sem Fronteiras, que prevê a criação de uma rede de apoio aos bolsistas de pós-graduação de Harvard e outras cinco universidades americanas. O convênio foi assinado em Harvard, durante a visita de Dilma.
Burocracia e falta de estrutura dificultam
O fato de os recursos não serem bem utilizados é um receio de ex-alunos e empresas. Outra dificuldade é a burocracia e a falta de estrutura para as doações.
— Há casos de pessoas que tentam doar por aqui e encontram uma série de dificuldades — conta o professor da USP.
Pouco a pouco, no entanto, algumas iniciativas começam a aparecer. A Escola Politécnica da USP tem hoje dois fundos para receber recursos de ex-alunos e empresas. O primeiro deles foi organizado pela diretoria e estruturado pela Endowments do Brasil, e já arrecadou quase R$ 400 mil. O outro é o Fundo Patrimonial Amigos da Poli, criado por ex-alunos, com meta de levantar R$ 10 milhões até o fim do ano.
— Queremos retribuir para a Poli tudo que recebemos e contribuir para seu crescimento. Já conseguimos R$ 5 milhões — diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, acrescentando que universidades como Yale e Harvard têm mais de um fundo.
Além do fundo da Poli, a Endowments do Brasil também é responsável pelo projeto do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da USP. E negocia hoje com uma universidade do Rio e com a Faculdade de Direito da FGV de São Paulo.
— É mudança lenta. Para formar um fundo, porém, é preciso negociar com possíveis doadores e diferentes áreas das universidades — diz Sotto-Mayor.
Em outras universidades, ainda que não haja fundos organizados, iniciativas começam a ganhar fôlego. A Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) lançou uma campanha para equipar sua biblioteca, depois de grande ampliação da unidade. Quase R$ 300 mil da meta de R$ 1 milhão já foram arrecadados de pessoas físicas. Outros R$ 700 mil, de um total de R$ 7 milhões, vieram de empresas, pela Lei Rouanet.
— Conseguimos R$ 8,5 milhões com o governo para obras físicas. Mas decidimos fazer essa campanha para equipar a nova biblioteca e movimentar a cultura de doação — diz o diretor da FEA/USP, Reinaldo Guerreiro.
O Instituto Coppead, da UFRJ, por sua vez, tem seis cátedras patrocinadas por empresas — Ipiranga, L’Oréal, Amil, Fiat, Visagio e Organizações Globo.
— As empresas financiam essas cátedras permitindo mais investimento em pesquisa, sem contrapartida — diz Kleber Figueiredo, diretor do Coppead.
* COLABORARAM: Ronaldo D’Ercole e Lino Rodrigues
Uma tradição de séculos
As doações de milionários, ex-alunos e empresas são parte fundamental do orçamento das universidades americanas e estão até mesmo na origem de muitas dessas instituições de ensino.
— As doações são muito importantes na cultura americana e constituem parte substantiva dos orçamentos das universidades — afirma Romualdo Portela de Oliveira, professor de Política Educacional da Faculdade de Educação da USP.
Oliveira explica, por exemplo, que a Cornell University foi criada em 1865, com a doação do empresário Ezra Cornell. Hoje, o fundo da universidade reúne US$ 5,059 bilhões.
Para se ter uma ideia, o valor dos dez maiores fundos de universidades americanas, os endowments, ultrapassava US$ 140 bilhões no ano passado, segundo dados do Instituto de Ciências da Educação dos EUA. O maior dos fundos é o da Universidade de Harvard, com US$ 31,728 bilhões. Os recursos patrocinam desde projetos de pesquisa, construção de salas ou prédios até bolsas para alunos.
As universidades americanas estão totalmente organizadas para receber esses recursos. Há setores que trabalham especificamente para entrar em contato com ex-alunos e organizar encontros para “passar o chapéu”. Além disso, os alunos são constantemente informados dos projetos e unidades financiados por esses fundos.
— Os endowments permitem que as universidades cresçam ainda mais. Universidades como Yale e Stanford têm muitos fundos diferentes que acumulam patrimônio e contribuem fortemente para os projetos — diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, da Escola Politécnica da USP.



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