As Universidades, como
qualquer outra instituição, precisam de dinheiro para desenvolver uma série de
atividades, incluindo as pesquisas, para a sua subsistência e desenvolvimento.
É
nesse ponto que os países desenvolvidos levam vantagem e tiram proveito dos
financiamentos que conseguem e desenvolvem suas pesquisas sem a burocracia
existente como aqui no Brasil. Por isso pertencem ao primeiro mundo.
VAMOS
ACABAR COM A BURROCRACIA!
Diferentemente
dos EUA, doação a universidade é rara no Brasil
Para especialistas,
elite nacional não se sente comprometida com educação e futuro do país
LUCIANNE CARNEIRO (EMAIL)
RIO e SÃO PAULO — A visita da
presidente Dilma Rousseff ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) e à
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, abriu o debate sobre o
financiamento de universidades brasileiras com recursos de ex-alunos e empresas.
Prática comum nos EUA — onde os fundos, chamados de endowments, chegam a reunir
mais de US$ 30 bilhões, como é o caso de Harvard —, a doação ainda é rara no
Brasil, embora comecem a aparecer iniciativas pingadas. De acordo com o
professor de Política Educacional da Faculdade de Educação da USP Romualdo
Portela de Oliveira, há na elite dos EUA uma percepção de responsabilidade com
a educação, e as doações são muito frequentes:
— No Brasil, temos coisas pontuais,
isoladas, algo infinitamente menor. Nossas elites têm muito pouco compromisso
com o futuro da nação. Há uma percepção de que isso é responsabilidade do
Estado.
Em artigo publicado ontem no GLOBO,
Elio Gaspari afirma que poucos dos bilionários brasileiros patrocinam
filantropias relevantes, seja por avareza ou por temer má gestão dos recursos.
Procurados pela equipe, alguns dos principais bilionários brasileiros (segundo
a “Forbes”) não comentaram o assunto.
Para Oliveira, da USP, as doações a
universidades refletem uma preocupação social e permitem ganhos para a
educação. O Brasil, segundo ele, poderia aprender com o exemplo bem-sucedido
dos EUA.
— Ainda que a universidade seja
pública, e a maior parte do financiamento venha do governo, não há problema que
empresas e pessoas ajudem na sua manutenção — diz.
Para o advogado Felipe Sotto-Mayor,
diretor da Endowments do Brasil — que estrutura fundos para universidades —,
ainda não há cultura de o brasileiro investir nas universidades que estudou:
— A elite brasileira estuda de graça
aqui e doa para a universidade lá de fora, onde fez MBA.
A Fundação Lemann, por exemplo,
criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, quarto homem mais rico do país,
financia programas de gestão escolar e de bolsas de estudo em várias
universidades do mundo. E assinou com a Capes acordo de cooperação para o
programa Ciência Sem Fronteiras, que prevê a criação de uma rede de apoio aos
bolsistas de pós-graduação de Harvard e outras cinco universidades americanas.
O convênio foi assinado em Harvard, durante a visita de Dilma.
Burocracia e falta de estrutura
dificultam
O fato de os recursos não serem bem
utilizados é um receio de ex-alunos e empresas. Outra dificuldade é a
burocracia e a falta de estrutura para as doações.
— Há casos de pessoas que tentam doar
por aqui e encontram uma série de dificuldades — conta o professor da USP.
Pouco a pouco, no entanto, algumas
iniciativas começam a aparecer. A Escola Politécnica da USP tem hoje dois
fundos para receber recursos de ex-alunos e empresas. O primeiro deles foi
organizado pela diretoria e estruturado pela Endowments do Brasil, e já
arrecadou quase R$ 400 mil. O outro é o Fundo Patrimonial Amigos da Poli,
criado por ex-alunos, com meta de levantar R$ 10 milhões até o fim do ano.
— Queremos retribuir para a Poli tudo
que recebemos e contribuir para seu crescimento. Já conseguimos R$ 5 milhões —
diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, acrescentando
que universidades como Yale e Harvard têm mais de um fundo.
Além do fundo da Poli, a Endowments
do Brasil também é responsável pelo projeto do Centro Acadêmico da Faculdade de
Direito da USP. E negocia hoje com uma universidade do Rio e com a Faculdade de
Direito da FGV de São Paulo.
— É mudança lenta. Para formar um
fundo, porém, é preciso negociar com possíveis doadores e diferentes áreas das
universidades — diz Sotto-Mayor.
Em outras universidades, ainda que
não haja fundos organizados, iniciativas começam a ganhar fôlego. A Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) lançou uma campanha
para equipar sua biblioteca, depois de grande ampliação da unidade. Quase R$
300 mil da meta de R$ 1 milhão já foram arrecadados de pessoas físicas. Outros
R$ 700 mil, de um total de R$ 7 milhões, vieram de empresas, pela Lei Rouanet.
— Conseguimos R$ 8,5 milhões com o
governo para obras físicas. Mas decidimos fazer essa campanha para equipar a
nova biblioteca e movimentar a cultura de doação — diz o diretor da FEA/USP,
Reinaldo Guerreiro.
O Instituto Coppead, da UFRJ, por sua
vez, tem seis cátedras patrocinadas por empresas — Ipiranga, L’Oréal, Amil,
Fiat, Visagio e Organizações Globo.
— As empresas financiam essas
cátedras permitindo mais investimento em pesquisa, sem contrapartida — diz
Kleber Figueiredo, diretor do Coppead.
* COLABORARAM: Ronaldo D’Ercole e
Lino Rodrigues
Uma tradição de séculos
As doações de milionários, ex-alunos
e empresas são parte fundamental do orçamento das universidades americanas e
estão até mesmo na origem de muitas dessas instituições de ensino.
— As doações são muito importantes na
cultura americana e constituem parte substantiva dos orçamentos das
universidades — afirma Romualdo Portela de Oliveira, professor de Política
Educacional da Faculdade de Educação da USP.
Oliveira explica, por exemplo, que a
Cornell University foi criada em 1865, com a doação do empresário Ezra Cornell.
Hoje, o fundo da universidade reúne US$ 5,059 bilhões.
Para se ter uma ideia, o valor dos
dez maiores fundos de universidades americanas, os endowments, ultrapassava US$
140 bilhões no ano passado, segundo dados do Instituto de Ciências da Educação
dos EUA. O maior dos fundos é o da Universidade de Harvard, com US$ 31,728
bilhões. Os recursos patrocinam desde projetos de pesquisa, construção de salas
ou prédios até bolsas para alunos.
As universidades americanas estão
totalmente organizadas para receber esses recursos. Há setores que trabalham
especificamente para entrar em contato com ex-alunos e organizar encontros para
“passar o chapéu”. Além disso, os alunos são constantemente informados dos
projetos e unidades financiados por esses fundos.
— Os endowments permitem que as
universidades cresçam ainda mais. Universidades como Yale e Stanford têm muitos
fundos diferentes que acumulam patrimônio e contribuem fortemente para os
projetos — diz Diego Martins, diretor do Fundo Patrimonial Amigos da Poli, da
Escola Politécnica da USP.
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