PROFESSOR
NO FUNDO DO POÇO
Esta
é a minha situação como Professor Efetivo
do Estado de Minas Gerais, aposentado no
mês de Junho/2012 com “Proventos por média” no valor de R$ 622,00 , brutos, isto mesmo, salário mínimo, ao completar 70
anos e com 15 anos de trabalho como
Professor Efetivo de Física no ensino médio, com os descontos normais e de um
empréstimo consignado no valor de R$396,91, recebo líquido apenas R$150,00
mensais.
“E
agora, José? A festga acabou. Se você gritasse se você gemesse se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é
duro, José! O que eu posso fazer? Você marcha José! José, para onde?”
Até
o mês de Julho/2012 estava recebendo mensalmente R$ 3.121,10 trabalhando em
dois períodos, não é um grande salário, mas, comparando com a situação atual é
infinitamente melhor.
Prevendo
a situação atual, tentei continuar lecionando, pois a saúde me permite, mas, o
sistema não me deixa continuar, devido à idade.
E agora, o que eu vou fazer para sobreviver e ter uma vida digna? Quem
vai empregar um velho de 70 anos?
Optei
pela educação desde o ano de 1994 e naquela época os professores podiam aposentar
com o último salário que estavam percebendo quando estavam na ativa. E hoje? O estado economiza nas costas de uns
para sobrar para outros.
Esta
minha situação é uma alerta para os professores que estão trabalhando, pois,
quando se aposentarem, irão perceber o mínimo do mínimo e não o necessário para
a sua sobrevivência.
Esta
situação precária dos professores vem de há muito tempo, minha mãe, hoje com 95
anos, era professora do estado/MG e vendo que não poderia sobreviver com R$
1.000,00 por mês quando fosse aposentar, fez concurso no próprio estado para
outra área para ganhar mais e ter uma aposentadoria um pouco mais tranqüila,
isto ocorreu há mais de trinta anos.
A
projeção do estado para o salário de um professor que hoje ganha R$ 1.524,59
mensais para o ano de 2015 é de R$ 1.550,00, enquanto um soldado da PM que hoje
percebe R$ 2.500,00 irá ganhar em 2015 R$ 4.000,00. Não tenho nada contra,
apenas pergunto, por que fazem isto com a educação e seus profissionais?
Não
há na educação um plano de progressão dos seus profissionais, como na PM,
quando um soldado, teoricamente, pode chegar ao posto de coronel, através de
concursos e promoções, dando-lhe direito de aposentar com proventos integrais correspondentes
ao último posto ou da última promoção.
E
o que consta no Estatuto do Idoso, Lei
10.741 de 1º de outubro de 2003, no Art. 3º: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade
e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao
lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária. Será que o poder público
está me assegurando todas essas garantias e prerrogativas, como professor e
cidadão, ora em fim de carreira e agora aposentado?
Alguns podem argumentar que muitos ganham salário
mínimo neste país e não morrem de fome, sabe lá Deus se isto é verdade. Infelizmente,
estes, não têm instrução suficiente para almejar uma situação melhor. No meu
caso, é totalmente diferente, não estou acostumado a ganhar salário mínimo,
pois luto desde a minha maioridade para almejar um futuro melhor, para isto
estudei e me formei em: Engenharia
Mecânica na PUC/BH (1966/1970), tenho cursos de Licenciatura Plena em
Matemática e Física (1994/1996) e Pós-Graduação em Física na UFV (2001/2002),
além de vários cursos de aperfeiçoamento e participação em vários eventos como
na VII FEBRACE (USP/SP) em 2007.
Para o estado, nada disso é importante, nós, os mais experientes, somos
equiparados salarialmente aos iniciantes.
Trabalhar no estado/MG, hoje, como professor, só é
um bom negócio para aqueles que estão ganhando salário mínimo. Basta fazer um
curso presencial ou não de Licenciatura de 2 ou 3 anos e imediatamente, sem
comprovação se estão aptos ou não para darem aula, pois não existe uma “prova”
como na OAB, já podem lecionar no Estado como contratados e são muitos nesta
situação, percebendo o mesmo valor salarial igual àqueles professores que lá
estão há 15 ou 20 anos e até mais. Esta é uma das causas da má qualidade do
nosso ensino: professores despreparados para a função “fingindo que ensinam e
os alunos fingindo que aprendem” e todos ganhando mal. O estado quer alguém na
frente dos alunos dizendo que é professor, se é bom ou ruim não importa.
Dizem que se conselho fosse bom, valeria dinheiro,
mas, mesmo assim, aconselho aos mais jovens para optarem por carreiras mais sólidas
e valorizadas que lhes garantam uma aposentadoria mais digna no futuro, tais
como: Carreira Militar, Judiciário e Carreira Política. São profissões
intocáveis, pois não há leis para diminuir os seus salários, ao contrário,
sempre percebem aumentos substanciais e aposentam com salários integrais e com
gordas vantagens.
Este meu protesto não é apenas um protesto
solitário de um professor prejudicado por ações e leis injustas que relegam os
profissionais da educação às piores situações de abandono e desvalorização do
ser humano. É um clamor de toda a nação para rever este sistema de injustiça e
descaso por que passa a educação neste país, no sentido de valorizar o ensino e
os seus profissionais, pois, se o Brasil quiser entrar para o primeiro mundo,
tem que valorizar a educação. A educação é o princípio de tudo, qualquer
profissão precisa de um “bom professor”.
Parece-me apropriado ao assunto o seguinte artigo:
O exemplo da Coréia do Sul
Terezinha Saraiva*
Não é de hoje que se aponta a Coréia do Sul como um exemplo de país que,
por priorizar a educação, saiu de uma guerra, na década de 60, que levou a uma
trágica divisão de seu território, saiu de uma economia agrária pobre e
tornou-se, nos últimos anos, um dos maiores PIBs da Ásia, transformando-se numa
potência, cujos produtos competem em igualdade de condições com outros países,
como por exemplo, o Japão.
A prioridade conferida à educação é apontada como um dos fatores
fundamentais para o rápido desenvolvimento da Coréia do Sul.
Atualmente, o ensino oferecido no país é olhado como modelo para o
mundo.
Li recentemente uma reportagem intitulada “A febre educacional que
salvou a
Coréia do Sul” que vale a pena ser comentada neste artigo; embora o
exemplo da Coréia já seja conhecido.
Barack Obama, num discurso, que ficou famoso, pediu que os Estados
Unidos seguissem o exemplo das crianças sul-coreanas, cujo ano letivo tem um
mês a mais do que as escolas frequentadas pelos alunos americanos.
Sabemos que o crescimento de um país é fruto da convergência de vários
fatores; mas no caso da Coréia do Sul, os analistas apontam que os
investimentos em educação e na formação de capital humano, foram os principais
responsáveis pela arrancada de Seul.
O desenvolvimento educacional sul-coreano, a partir da década de 60,
precedeu e guiou o crescimento econômico.
Em 1945, com o fim da colonização japonesa, apenas 22% da população eram
alfabetizadas. Hoje, o índice é superior a 98%.
O ensino sul-coreano é considerado excelente e isto é ratificado por
vários estudos e avaliações mundiais. Para os pais coreanos, a educação de seus
filhos é prioridade absoluta. Os que analisam os avanços alcançados pela Coréia
do Sul usam uma expressão que mostra a importância que a educação tem para os
jovens e para a sociedade: “febre educacional”.
Vejamos alguns indicadores que mostram a excelência do modelo
educacional. Os alunos sul-coreanos estão entre os melhores do mundo em
matemática, ciência e leitura, revelam os resultados do Programa Internacional
de Avaliação de Alunos (PISA).
De acordo com dados liberados pela OCDE, 97% dos estudantes concluem o ensino médio, o maior percentual entre os países pesquisados. O índice
de pessoas com nível universitário, considerando a faixa etária de 25 a 34
anos, é de 60%.
O livro “Febre educacional: sociedade, política e o exercício da
escolaridade na Coréia do Sul”, do professor Michael Seth, da Universidade James
Madison, em Virgínia, explica que o sistema educacional na Coréia do Sul foi
desenvolvido de forma sequencial, a começar pelo ensino fundamental. Só depois
de sua universalização é que o Estado passou a investir no ensino médio. O
modelo concentra sua força na educação básica. A parte mais fraca do sistema é
o ensino superior, diz o professor, mas isto é compensado pelo fato de os
coreanos buscarem as melhores universidades internacionais para estudarem, e
pelos programas de treinamento financiados pela iniciativa particular.
Pode-se ler, ainda, no livro do professor americano, que o sistema de
ensino sul-coreano é homogêneo e uniforme. As escolas adotam o mesmo currículo,
e recebem o mesmo montante de recursos públicos.
Existe um sistema de rodízio entre os professores, para evitar que os
melhores
fiquem concentrados em algumas escolas. Além disso, foi criado um
programa de assistência especial para as áreas rurais, para evitar grandes
diferenças em relação à região metropolitana.
Outros fatores importantes são o investimento no treinamento dos
professores.
Cem por cento dos profissionais são recrutados entre os melhores alunos
de ensino médio.
Para lecionar as crianças menores do ensino fundamental, só são aceitas
na Universidade de Educação, os 5% com melhor desempenho no ensino médio.
Apesar do treinamento ser rigoroso, há compensação: bons salários,
prestígio, possibilidade de crescimento profissional.
Há um provérbio coreano que diz: “Nem sequer pise na sombra de um
professor.”
O respeito ao professor é uma questão cultural.
Os salários dos professores que lecionam nas primeiras séries do ensino
fundamental (o primário) são os mais elevados do mundo, equiparáveis aos
salários de médicos e engenheiros.
Um outro dado que mostra a eficiência do sistema educacional
sul-coreano: só 1% dos estudantes desistem do curso, por ano.
Os anos equivalentes ao ensino fundamental no Brasil, isto é, nove, são
gratuitos.
As escolas de ensino médio são financiadas através de impostos.
É comum, mesmo entre famílias mais humildes, o investimento em
professores
particulares para ajudar as crianças depois do horário escolar e até nos
fins de semana.
Como o grande investimento é feito na educação básica, é expressivo o
número de estudantes sul-coreanos que deixam o país para estudar no exterior,
na idade universitária. Segundo dados de 2007, 350 mil estudantes sul-coreanos
estudavam em renomadas universidades de outros países, sobretudo Estados Unidos
e Japão.
Este artigo sobre o sistema educacional sul-coreano não tem a intenção
de estabelecer qualquer comparação com o sistema educacional brasileiro.
Primeiro, porque não aprecio rankings. Segundo, porque não me parece correto
estabelecer comparação entre países com expressivas diferenças em extensão
territorial e população, por exemplo.
O que me levou a abordar este assunto, que independe de extensão
territorial, número de habitantes, culturas diversas, é a importância conferida
à educação, na Coréia do Sul, notadamente a educação básica; a valorização do principal
agente da educação – o professor, e a consciência coletiva que o
desenvolvimento de um país está condicionado a um bom e eficiente sistema
educacional.
Quando o Brasil terá governos que priorizem a educação, ampliando as oportunidades,
sem perda de qualidade do ensino e do desempenho dos alunos? Quando a sociedade
brasileira, em geral, e as famílias dos alunos, em particular, compreenderão a
importância da educação, prestigiando o trabalho desenvolvido pelas escolas e
pelos professores? Quando as famílias dos milhões de brasileiros que frequentam
a educação básica se empenharão em acompanhar o percurso educacional de seus
filhos, colaborando e apoiando o trabalho desenvolvido pelos professores?
O exemplo da Coréia do Sul evidencia que o sucesso educacional obtido
não se deve, apenas, a políticas públicas; mas foi resultado, também, da
obsessão pela educação que tomou conta de todos os sul-coreanos.
Este é um exemplo que deve ser seguido pelos governos e pela sociedade brasileiros.
* Educadora
Há um provérbio coreano que diz: “Nem sequer pise na sombra de um
professor.”
O respeito ao professor é uma questão cultural.
Aqui no Brasil, além de pisarem na sombra do professor, pisa-se nele
mesmo. Sinto que pisaram não foi só no meu corpo e sim também na minha alma.
É desumano o tratamento dado ao professor no Brasil, seja de qualquer
grau de escolaridade ou de posição cultural. Esta vulgarização do professor
ocorreu após 1960, antes, não era assim, lembro-me que os professores do
Colégio Estadual da minha terra, onde estudei o ginasial, eram respeitados
tanto dentro da sala de aula como na sociedade em geral.
O meu sentimento de frustação e decepção por eu ter escolhido a
profissão de professor num determinado momento da minha vida, é enorme, mas, normalmente
escolhemos os caminhos que sabemos que não nos levarão onde gostaríamos de
chegar, talvez por teimosia, talvez por esperança, talvez por querer acreditar
que aquilo que queremos é possível.
A dor se torna
maior quando a decepção é esperada e não quería admitir essa possibilidade,
pois a esperança é maior do que a própria certeza e, consequentemente fiquei
abalado com esta situação que inconscientemente antevia que poderia acontecer e
de fato ocorreu.
Que os deuses
olímpicos que moravam em um imenso palácio, em algumas versões de cristais,
construído no topo do monte Olimpo, uma montanha que ultrapassaria o céu. Alimentavam-se de ambrósia e
bebiam néctar, alimentos exclusivamente divinos, ao som da lira de Apolo, do
canto das Musas e da
dança das Cárites
e o nosso Deus que cremos, ilumine os
nossos governantes para mudarem radicalmente e de imediato o “status quo”
vigente e tomem atitudes mais humanas.
E-mail: mpcarlechblog@gmail.com
Fones: (31) 3827-2297 / 8662-2521
Que vergonha para nós termos governos irresponsáveis e descompromissados com o povo
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