terça-feira, 31 de outubro de 2023

COMO HADDAD PODE FIRMAR UM COMPROMISSO DE DÉFICIT ZERO DESAUTORIZANDO O CHEFE LULA

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha uma tarefa difícil de ser cumprida nesta segunda-feira: convencer o País de que o governo ainda tem como meta zerar o déficit fiscal em 2024. Bem que ele tentou, mas o presidente Lula da Silva tornou seu trabalho impossível.

Como reafirmar um compromisso sobre o qual já havia muito ceticismo sem desautorizar o chefe? Havia pouquíssimas formas de fazê-lo de maneira convincente, mas a convocação de uma entrevista, logo após uma reunião entre Haddad e o presidente, alimentou expectativas.

Esperava-se de Haddad que dissesse que Lula não escolheu bem as palavras ou foi mal interpretado. Não seria o primeiro nem o único ministro da área econômica a fazê-lo. O que se viu, porém, foi bastante constrangedor. Depois de um fim de semana de silêncio, Haddad ainda achava que poderia tergiversar.

Primeiro, chegou ao Ministério acompanhado dos economistas Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira, nomes indicados para a diretoria do Banco Central (BC). Numa segunda-feira normal, este seria um tema de muito interesse da imprensa. Não era o caso.

Depois de apresentá-los, o ministro passou a meia hora seguinte a repetir a importância de medidas para recuperar a arrecadação e a lamentar decisões do Congresso, do Judiciário e de governos anteriores que contribuíram para erodir a base fiscal. Sem corrigi-las, não seria possível elevar as receitas – e este, segundo Haddad, teria sido o contexto no qual Lula se baseou para reduzir a importância do déficit zero.

Claro que não colou. Incisivamente questionado pelos jornalistas sobre a meta fiscal do ano que vem, o ministro passou a responder às perguntas com ironia e irritação. Por fim, referiu-se à meta de déficit zero como “minha meta” e encerrou a entrevista no momento em que foi instado a explicar claramente o que queria dizer com isso. Não respondida, a dúvida era pertinente: afinal, a meta fiscal de Haddad é a meta fiscal de Lula?

O ministro pode ter a meta que quiser, desde que esteja combinado com seu chefe. Do contrário, não será uma meta crível. Desde sempre, todos sabiam, inclusive dentro do governo, que a meta de déficit zero era utópica, e nunca ficou claro como Haddad pretendia reverter o rombo das contas públicas em tão pouco tempo sem anunciar medidas estruturais para aumentar impostos ou reduzir os gastos públicos.

Que a base fiscal do governo tem sido corroída nos últimos anos não é segredo para ninguém. A maior evidência disso é que as receitas não têm acompanhado o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O superávit pontual atingido em 2022 não teria sido alcançado se não fosse a disparada das cotações do petróleo.

As despesas, por outro lado, têm subido de forma constante nos últimos anos e tiveram um impulso extra, muito além do necessário para recompor o Orçamento destroçado pelo então presidente Jair Bolsonaro, na emenda constitucional da transição – e isso no primeiro ano de mandato de Lula, período preferencial para os governantes adotarem medidas mais austeras.

Atingir o déficit zero era impossível. O que todos queriam saber é se Haddad ainda contava com o respaldo político do presidente para perseguir ativamente a meta e defendê-la. Sua irritação demonstrou que não.

O incômodo do ministro é compreensível, mas ele terá de começar a se acostumar. As enfáticas perguntas dos repórteres, que Haddad não gostou, voltarão a ser feitas pelo setor produtivo, pelos investidores e pelos parlamentares.

Durante a entrevista, o dólar voltou a se valorizar ante o real, a despeito da onda de enfraquecimento da moeda norte-americana no exterior; o Ibovespa caiu, descolado da alta registrada nos mercados internacionais; e os juros futuros continuaram a subir, embora seja esperado que o Banco Central anuncie uma nova redução dos juros amanhã. Não foi um movimento meramente especulativo, mas demérito do desacreditado Haddad.

Não é improvável que deputados e senadores, ao discutirem a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, se sintam à vontade para propor a alteração da meta à revelia do ministro. Mas, se hoje Haddad sangra em praça pública, a culpa não é das perguntas incisivas da imprensa. É da sinceridade irresponsável do presidente da República.

TEMAS ECONÔMICOS SÃO PRIORIDADE DO SENADO PARA 2023

 

História por PODER360  

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que “insatisfações pontuais” não contaminam “o sentimento geral de que com a economia não é possível brincar”. Por isso, segundo o congressista, temas econômicos, como a reforma tributária, vão avançar ainda em 2023.

A minha percepção e a percepção geral do Senado é de uma prioridade, de uma importância muito grande da pauta econômica para o Brasil”, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta 2ª feira (30.out.2023), acrescentando que há tempo para que as medidas sejam aprovadas neste ano: “Temos novembro e dezembro para poder cumprir essa missão, lembrando que nós já aprovamos muitos outros projetos ao longo do ano”.

Pacheco afirmou que medidas “de sustentação para o regime fiscal” são prioridades e que haverá no Senado “colaboração” para que “projetos bons” sejam aprovados.

Eventuais e pontuais insatisfações não contaminam o sentimento geral de que com a economia não é possível se brincar. É preciso ter a solidez da nossa economia com a aprovação de propostas e projetos que sejam sustentáveis”, disse. “Isso está muito além de eventuais insatisfações de parlamentares com o governo. O sentimento geral em relação à reforma tributária é de senso de importância, da sustentação do marco fiscal, da lei orçamentária igualmente”, completou.

Conforme o senador, a reforma tributária “é muito importante para o Brasil, para a simplificação tributária e para o desenvolvimento econômico”. Por isso, deve haver “o comprometimento de buscar vê-la aprovada no mês de novembro”.

Pacheco classificou como temas “igualmente importantes” alguns projetos “referentes ao Judiciário”. Entre eles, “o fim da reeleição, ou uma discussão acerca do fundo eleitoral e do Código Eleitoral”.

O presidente do Senado disse: “Em relação ao Poder Judiciário, há uma previsão, nesse mês de novembro, de apreciarmos o projeto de lei que define as verbas indenizatórias. Ele busca reduzir ou acabar com aquelas situações chamadas de supersalários no âmbito do Judiciário”.

Questionado sobre como fica a relação com o STF (Supremo Tribunal Federal) diante do avanço de pautas sobre o Judiciário, Pacheco respondeu: “A proposta que regula as decisões monocráticas e também a dos mandatos de ministros do STF são muito positivas para a Corte. Não há de nossa parte nenhum tipo de animosidade ou de acirramento, e tampouco de retaliação”.

E completou: “Temos de fazer as coisas que são importantes para o Brasil, independentemente da versão que se queira dar a elas. O fato é que o mandato de ministro do Supremo Tribunal Federal é algo adotado em diversos países. É fato também que diversos ministros atuais e anteriores à Suprema Corte defenderam ou defendem o mandato. É fato também que eu, na minha reeleição, ao rechaçar as ideias de impeachment de ministros e de aviltamento da instituição, eu dizia que o nosso papel era legislar para propor inclusive o mandato de ministro do Supremo. É uma discussão honesta, propositiva”.

DESIGUALDADE DE RENDA E TODOS O CRESCIMENTO DO BRASIL FICA COM 5% DOS MAIS RICOS

 

História por Mariana Schreiber – Da BBC News Brasil em Brasília  

Especialista em desigualdade de renda, Marcelo Medeiros analisa em novo livro quem são os pobres e os ricos no Brasil© Divulgação/Esperança Dias

Que o Brasil é extremamente desigual não é novidade para ninguém. Mas como exatamente essa desigualdade se distribui na sociedade? E o que isso significa para traçar melhores estratégias de distribuição de renda e redução da pobreza?

Essas são algumas das questões centrais do livro “Os ricos e os pobres: O Brasil e a desigualdade” (Companhia das Letras), nova obra do sociólogo Marcelo Medeiros, pesquisador no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que há décadas estuda o tema e atualmente é professor visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

Ao tentar explicar quem, afinal, são os ricos e os pobres brasileiros, Medeiros constata que o Brasil é formada por uma grande massa de pessoas de baixa renda, que compõe cerca de 80% da população.

Dentro desse grupo, descreve o sociólogo, a desigualdade é relativamente pequena. Há, claro, diferenças de renda dentro dessa massa, mas numa proporção muitíssimo menor do que a desigualdade que se vê no topo da pirâmide.

Para se ter uma ideia, analisando a distribuição de renda em valores de 2021, o livro destaca que metade dos adultos brasileiros não ganha mais de R$ 14 mil ao ano (menos de R$ 1.200 na média mensal).

Mesmo entre os “mais ricos” dentro dos 80% mais pobres o ganho anual não supera R$ 31 mil (cerca de R$ 2.600 na média mensal). Isso significa que quatro quintos da população adulta ganham menos que a média de um adulto brasileiro (cerca de R$ 33 mil ao ano).

Isso acontece porque o topo da pirâmide tem renda tão mais alta que puxa a média da renda para muita acima do que a maioria ganha de fato.

No caso do grupo dos 10% mais ricos, a renda não começa tão elevada. Os “mais pobres” desse grupo ganham em torno de R$ 50 mil por ano. Isso equivale ao salário aproximado de R$ 3.800 mensais de um trabalhador formal, que recebe décimo terceiro e adicional de férias, ressalta o autor.

A partir daí, porém, os patamares de renda começam a crescer num ritmo super acelerado, constata o livro. O 1% mais rico, por exemplo, é um grupo de pouco mais de 1,5 milhão de pessoas que ganham, no mínimo, R$ 340 mil por ano – quase sete vezes mais que aqueles que estão no começo dos 10% mais ricos. Mas as rendas do topo desse grupo vão muito além, enfatiza o autor.

“A maior parte da desigualdade do Brasil está nos 10% mais ricos. Eles são um grupo terrivelmente desigual”, resumiu, em entrevista à BBC News Brasil.

E a desigualdade no topo não é apenas de nível de renda, mas de como essa renda é taxada, destaca Medeiros. Trabalhadores assalariados, por exemplo, tendem a pagar um imposto mais alto que profissionais liberais ou investidores.

“Algumas dessas pessoas (no grupo dos 10% mais ricos) estão pagando bastante Imposto de Renda, por exemplo, e outras estão pagando muito menos Imposto de Renda”, afirma.

Aumentar a progressividade da tributação – ou seja, cobrar mais de quem ganha mais – é uma das medidas necessárias para promover a distribuição de renda, defende o sociólogo, mas nem de longe é suficiente. Na sua visão, enfrentar a colossal desigualdade brasileira tem que estar em toda a política de governo.

O próprio crescimento da economia, defende, precisa ser pensado como um crescimento pró-pobre. Ou seja, um crescimento que puxe a renda da base ao invés de beneficiar essencialmente o topo, como vem ocorrendo.

“Mais ou menos metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5% da população”, crítica.

Medeiros reconhece que é uma tarefa para décadas, que provocará muita resistência das elites e depende de “mobilizar um capital político monstruoso”.

“Reduzir dramaticamente a desigualdade e a pobreza no Brasil vai envolver muita mobilização política porque o problema é político antes dele ser enfrentado do ponto de vista econômico”.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista, feita por telefone e editada por concisão e clareza.

Livro acaba de ser lançado pela Companhia das Letras© Divulgação

BBC News Brasil – É amplamente sabido que o Brasil é muito desigual. O que maioria das pessoas não sabe sobre a desigualdade brasileira?

Marcelo Medeiros – O ponto de partida desse livro é a constatação de que o Brasil é extremamente desigual e há uma grande massa de população de baixa renda que é separada de uma elite que é pequena, mas é bem mais rica do que a maior parte da população.

Algo como 80% da população são muito parecidos. A maior parte da desigualdade brasileira está na diferença entre os 10% mais ricos e o resto da população e as desigualdades internas dentro desse grupo dos 10% mais ricos.

Talvez não falte informação técnica (sobre a desigualdade), talvez falte interpretar o que isso significa. Eu vou lhe dar um exemplo. Estatisticamente a gente tem definições com linhas de pobreza. Quando você diz que uma linha de pobreza de 1,9 dólar ppp (taxa de câmbio que leva em conta o poder de compra do dinheiro local) define pobreza globalmente e essa linha aplicada no Brasil (o equivalente à cerca de R$ 5 por dia por pessoa, em valores de 2020) dá 12% da população, as pessoas sabem disso. O que elas não conseguem muito bem é ver o que isso significa.

Então eu tentei no livro traduzir essa noção estatística para algo concreto, como dar uma dimensão das privações gigantescas que uma mãe vai ter que fazer para comprar o material escolar da sua filha porque ela é pobre. Quantos dias ela vai precisar parar de comer para comprar um livro de matemática, por exemplo.

Então, talvez não seja uma questão de saber (que há muita desigualdade), talvez seja mais uma questão de incorporar isso de forma concreta e de começar a exigir a incorporação dessas coisas na formulação das políticas.

BBC News Brasil – Você diz que há uma grande massa de pessoas de baixa renda não muito diferentes entre si, enquanto há muita desigualdade entre os 10% mais ricos. Qual a implicação para o desenho das políticas contra a desigualdade?

Marcelo Medeiros – Isso traz duas implicações iniciais. A primeira é lembrar que uma linha de pobreza (no Brasil) divide uma população muito parecida de forma bastante artificial. E, porque existe pouca diferença entre os pobres e as pessoas de baixa renda, a gente não deve desenhar política ignorando que, ainda que as pessoas não sejam pobres, elas precisam muito das políticas públicas para tudo que elas fazem. Precisam muito da Previdência, dos serviços de saúde, dos serviços educacionais. Em alguma medida, elas também precisam de assistência (social).

Então, a gente não deve separar de maneira artificial demais os pobres das pessoas de baixa renda porque, na verdade, a massa de população brasileira é de baixa renda.

Outra coisa é importante é que as pessoas não são pobres, a maior parte das pessoas está pobre. Existe muita entrada e saída continuamente em torno da pobreza (pessoas cuja renda oscila abaixo e acima da linha de pobreza), e a gente também tem que aprender a lidar melhor com isso.

Isso do lado dos pobres. Do lado dos ricos, é importante parar de achar que existe um ponto a partir do qual se identifica claramente quem são as pessoas ricas. Não é a partir dos 10% (com maior renda), não é a partir dos 5% (com maior renda), não é a partir do 1% (com maior renda), porque todos esses grupos são extremamente heterogêneos.

Uma das implicações disso é que a gente deve focar melhor na progressividade de algumas políticas como, por exemplo, a tributação. Temos que melhorar nosso sistema tributário para lidar com o fato de que você está arrecadando renda de uma população extremamente desigual.

Tratar uma pessoa que está no 1% (de maior renda) da mesma forma que se trata a pessoa que está nos 10% (de maior renda) não é bom, assim como tratar uma pessoa que está no 0,1% (de maior renda) da mesma forma que você trata uma pessoa que tá no 1% (de maior renda), também não é bom. A gente tem que melhorar os nossos mecanismos de progressividade em tudo, inclusive no Imposto de Renda.

BBC News Brasil – Como avalia as ações do governo Lula nesses dez primeiros meses para combater desigualdade?

Marcelo Medeiros – Eu não estou fazendo acompanhamento das políticas no detalhe que precisaria para te dar uma resposta minimamente sólida sobre isso, e algumas medidas vão ser de longo prazo também. Eu tenho feito muito pouco avaliação de conjuntura pelo fato de ter saído do Brasil.

BBC News Brasil – O que deveria ser priorizado pelo governo para reduzir desigualdade no Brasil?

Marcelo Medeiros – Achar que há uma solução simples para um problema dessa magnitude não ajuda a resolver o problema. É um problema incrivelmente difícil, vai levar muito tempo, vai mobilizar um capital político monstruoso, porque, no fundo, você não produz um país com o nível de desigualdade brasileira só com um conjunto de fatores isolado.

Toda política tem que levar desigualdade em conta. Portanto, não existe uma prioridade. Não é uma questão, por exemplo, de educação, não é uma questão de apenas tributar as pessoas mais ricas, é uma combinação de uma série de políticas que vai tornar o Brasil um país menos desigual.

A ideia de fazer o livro é trazer conhecimentos sobre a desigualdade no Brasil para que esses conhecimentos possam ser incorporados em todas as políticas, e não apenas um conjunto específico de políticas.

Programas de assistência social não são suficientes para enfrentar desigualdade, diz Medeiros© Agência Brasil

BBC News Brasil – No livro, você aponta que a redução da pobreza e da desigualdade exige ações em várias frentes, como mais acesso à educação, mais serviços de proteção social, mudanças na tributação, além de crescimento econômico. Como fazer isso com as restrições fiscais que o governo enfrenta?

Marcelo Medeiros – Uma coisa que você mencionou, na verdade, não é importante para combater a desigualdade, que é a necessidade do crescimento econômico. Isso porque não existe o crescimento econômico do país. No Brasil, quem cresce (economicamente) são algumas pessoas e outras não, umas mais e outras menos. Então, é errado falar do Brasil crescendo, o certo é falar de quem no Brasil está crescendo mais e quem está crescendo menos.

Um crescimento pró-pobres é completamente diferente de um crescimento pró-ricos, embora o resultado final possa ser a mesma taxa de crescimento (do PIB). Então, na verdade, o que o Brasil precisa não é de crescimento, o que o Brasil precisa é de um crescimento pró-pobres. No sentido amplo da palavra, pró-pobres significando toda a população de baixa renda.

BBC News Brasil – O que fazer para o crescimento ser mais pró-pobre?

Marcelo Medeiros – Realmente, não existe uma resposta simples para isso. A gente vai ter (que enfrentar) barreiras de natureza política, barreiras no conflito distributivo, vai ter limitações de natureza fiscal, muita coisa para ser administrada aí.

Talvez, parte dos nossos problemas de natureza política é acreditar nesse simplismo. Isso resulta, às vezes, em algum populismo, seja ele populismo de direita, seja ele populismo de esquerda, seja populismo tecnocrático, de adotar essas soluções que aparentemente são simples para problemas que são monstruosos.

Vou fazer uma analogia: como a gente enfrenta o problema da criminalidade no Brasil? Qual a solução simples para um problema dessa magnitude? A resposta de qualquer pessoa vai ser: eu não sei.

BBC News Brasil – Ao longo da história, geralmente o crescimento foi pró-rico?

Marcelo Medeiros – Teve momentos de crescimento pró-pobre e crescimento pró-ricos. O que a gente pode dizer é que ao longo das últimas duas décadas, arredondando um pouco, um quarto de todo o crescimento foi apropriado só por 1% da população.

Ou, se quiser outro número que é equivalente a esse, mais ou menos metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5% da população.

Ou seja, temos um crescimento que extremamente concentrado e a implicação disso é que nossa discussão sobre o crescimento, no fundo, é uma discussão que está sendo apropriada por um grupo que não chega a um décimo da população brasileira.

BBC News Brasil – Voltando à pergunta anterior: como o governo pode atuar contra a desigualdade em várias frentes em um cenário de restrição fiscal?

Marcelo Medeiros – Sempre vai haver uma restrição fiscal, por isso negociar dentro do orçamento é tão importante. O Brasil precisa liberar recursos por um lado, ou seja, precisa reorganizar alguns gastos, precisa aumentar a eficiência de algumas políticas, mas também precisa aumentar arrecadação. Um problema dessa magnitude vai precisar de algum aumento de arrecadação.

Inclusive, o problema fiscal brasileiro (para além do combate à desigualdade) vai precisar de mais arrecadação. Simplesmente, porque há um ponto onde cortar gastos se torna extremamente difícil, demora tempo demais. Há coisas, por exemplo, que você não pode fazer. Não pode cortar previdências no Brasil, porque isso implicaria violações importantes de contratos e abriria precedentes para outras violações de contratos muito importantes.

Então há limites no que pode e não pode ser feito para qualquer governo, independente da sua matriz ideológica. E um bom governante tem que lidar com esses limites o tempo inteiro. Mas, em termos gerais, há muita coisa que pode ser feita no Brasil. Eu não quero fazer uma lista. Acho que a discussão é mais sofisticada do que um indivíduo pode fazer isoladamente.

BBC News Brasil – Então, para reduzir desigualdade precisa aumentar a carga tributária?

Marcelo Medeiros – Na verdade, para resolver o problema fiscal o Brasil precisa ter redução de gastos, realocação de gastos e aumento de arrecadação. Se isso vai ser via aumento de carga ou se vai ser simplesmente aumento de base, que é outra alternativa, cobrar imposto de quem tá pagando pouco, também é uma possibilidade.

Não vamos subestimar. Se fosse fácil, alguém já tinha feito. Isso passa por enfrentar o conflito distributivo gigante. Vai haver reação. Reduzir dramaticamente a desigualdade e a pobreza no Brasil vai envolver muita mobilização política porque o problema é político antes dele ser enfrentado do ponto de vista econômico.

BBC News Brasil – O governo está enfrentando dificuldades para aprovar medidas pontuais, como aumentar impostos sobre fundos de super ricos que hoje são pouco tributados. Qual seu otimismo sobre reduzir a desigualdade do Brasil quando isso depende não apenas de algumas ações pontuais, mas de um caminhão de medidas a serem aprovadas no Congresso?

Marcelo Medeiros – Não sou nem otimista, nem pessimista. Acho que ninguém deve ser otimista ou pessimista. As pessoas têm que ser realistas diante da magnitude do problema que está sendo enfrentado. Elas têm que entender que essas coisas são decisões que vão exigir muito mais metas de longo prazo que de curto prazo.

E que essas metas passam por mobilização política, por escolher bem os representantes políticos e assim, sucessivamente, por várias outras coisas. E, inclusive, por criar, literalmente, jogo de força na política.

BBC News Brasil – Quando você fala longo prazo quer dizer décadas?

Marcelo Medeiros – Décadas. Na verdade, são décadas, a não ser que você queria tomar medidas muito dramáticas. Mas a pergunta é se a gente está disposto a tomar medida muito dramáticas. Houve casos de quedas radicais de desigualdade no mundo, mas elas são resultados de medidas muito dramáticas, como, por exemplo, as quedas que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial na Europa, ou nos Estados Unidos com uma mobilização gigantesca, uma regulação tremenda da economia, ou o que aconteceu nos países soviéticos. Isso faz a desigualdade cair de maneira rápida.

Mas, obviamente, toda a política tem um preço, todo o benefício tem um custo.

BBC News Brasil – Nos Estados Unidos, por exemplo, que tipo de regulação dramática na economia foi adotada?

Marcelo Medeiros – Toda, geral, não foi uma regulação, foi uma montanha de regulações, primeiro no pós-Grande Depressão (após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929) e, segundo, no esforço de guerra (durante a Segunda Guerra Mundial). Você controlava salários, controlava lucros, controlava a economia inteira. Então, controlou muita coisa, não foi uma medida isolada, foi uma coisa gigantesca.

Se você não regula (a economia), obviamente quem tem poder vai replicar esse poder com velocidade mais alta.

Pequena elite concentra grande parte da renda do país, mostra livro© GETTY IMAGES

BBC News Brasil – O livro aborda quem são os pobres e quem são os ricos no Brasil. O que seria a classe média?

Marcelo Medeiros – Eu te respondo com outra pergunta: são essas as divisões certas? Ricos, pobres, e classe média? E a pergunta subsequente é: para que a gente quer dividir a população?

A divisão de uma população em grupos é uma ferramenta. Essa ferramenta vai ser usada para quê? Porque dependendo do que a gente fizer, uma ferramenta pode ser melhor do que a outra. A gente pode querer dividir a população em três grupos, como pode querer dividir a população em 300 grupos.

E esse que é o argumento central do livro: não é dado que existe um grupo de pobres, um grupo de ricos, e um grupo de classe média. Isso é só um uma maneira de dividir a sociedade de classes, e a gente tem que pensar para que a gente quer dividir a sociedade em classes, primeiro. E, segundo, (pensar) o que significam essas divisões.

Se a gente não tem uma definição substantiva do que é ser rico, uma definição substantiva do que é ser classe média, uma definição substantiva do que é ser pobre, isso vai ser simplesmente uma classificação de borboletas, onde você atribui arbitrariamente a classe das borboletas por cor, por exemplo.

Não vamos deixar de lado, que, por trás da definição de classe média, existe uma decisão de natureza política do significado daquilo, porque, no fundo, a nossa cultura política, nosso sistema legal, ele é baseado em ideias que não são precisamente definidas. E a gente não deve deixar de lado jamais que essas classificações são classificações políticas.

BBC News Brasil – Fiz essa pergunta para introduzir outra questão: uma pessoa com renda individual de R$ 10 mil por mês já está no grupo dos 10% mais ricos do país. Mas essa pessoa provavelmente não se vê como rica. Possivelmente, ela se vê como classe média.

Marcelo Medeiros – Há estudos no mundo sobre isso. No geral, as pessoas não gostam de se autoclassificar como pobres nem como ricas. Elas geralmente se classificam como classe média, nesses esquemas só de três classes, e elas usam qualificadores: classe média baixa para os pobres, classe média alta para os ricos. É isso que você vai ver no mundo inteiro, o Brasil não é uma exceção.

BBC News Brasil – Como as políticas de distribuição devem agir sobre esse grupo, que está no topo da pirâmide, mas não são os mais ricos? São pessoas que vivem confortavelmente, mas não estão necessariamente esbanjando dinheiro. Elas deveriam contribuir mais de alguma forma, dada a distribuição de renda do Brasil?

Marcelo Medeiros – Não dá para dizer isso porque esse grupo que você definiu é muito grande e heterogêneo. Algumas dessas pessoas (no grupo dos 10% mais ricos) estão pagando bastante Imposto de Renda, por exemplo, e outras estão pagando muito menos Imposto de Renda. Então, não podemos esquecer que esse grupo é muito heterogêneo. Na verdade, a maior parte da desigualdade do Brasil está nos 10% mais ricos. Eles são um grupo terrivelmente desigual.

BBC News Brasil – Um grupo que estaria pagando pouco impostos, na visão de economistas como Armínio Fraga e Samuel Pessoa, seriam profissionais liberais de renda alta que costumam ter empresas em regimes especiais de tributação, caso de médicos e advogados, por exemplo. Isso deveria mudar?

Marcelo Medeiros – Não porque é para esse grupo. Tem que mudar porque um bom sistema tributário tributa da mesma forma a renda, independente da sua fonte, claro, com algumas poucas exceções. Então, seria importante, por exemplo, que as pessoas físicas e as pessoas jurídicas… ou melhor, que os rendimentos do trabalho e os lucros e dividendos (distribuídos pelas empresas aos acionistas) fossem tributados da mesma maneira.

Assim como também seria muito importante, porque não está na pauta, mas deveria estar, que os rendimentos de capital, que no Brasil se chama rendimento de tributação exclusiva, também fossem tributados como o rendimento do trabalho.

No fundo, tudo tem que ser tributado da mesma maneira. Hoje, no Brasil, a gente paga menos tributos nesse caso, bem menos, 15%, quando muito 22%, se você for sacar rápido demais, mas geralmente paga menos.

Isso também não é nenhuma panaceia. Isso não vai aumentar a arrecadação dramaticamente, mas é o que precisa ser feito. É bom para não criar mecanismos artificiais de reorganização da economia. Ou seja, as pessoas começam a se organizar para ser CNPJ, por exemplo, no lugar de ser pessoa física só por causa disso.

Educação de qualidade e cotas são algumas das medidas necessárias para reduzir desigualdade, aponta sociólogo© GETTY IMAGES

BBC News Brasil – O livro ressalta que mais educação não é solução mágica pra reduzir desigualdade. Por que essa medida tem impacto limitado?

Marcelo Medeiros – Primeiro, porque educação é um investimento de longo prazo. Leva muito tempo para fazer uma reforma educacional, muito tempo para educar uma criança e, mesmo que isso fosse feito num sistema perfeito, o que a gente vai fazer com todos os trabalhadores que já estão no mercado de trabalho e que vão ficar no mercado de trabalho por 40 anos? Então, só vai ser uma solução para alguma coisa talvez daqui a meio século.

A segunda questão é: educação é um termo genérico de mais. Que educação que a gente está falando? Ensino básico primário, ensino médio, ou ensino superior? A diferença salarial entre trabalhadores de ensino primário e de ensino médio é muito pequena. A educação que realmente afeta desigualdade é o ensino superior.

Se a nossa estratégia for usar a educação para reduzir desigualdade, isso vai requerer uma massificação do ensino superior no Brasil, o que vai custar muito caro e vai levar muito tempo. Então, não é que a educação não seja necessária, educação é insuficiente para resolver esse problema.

BBC News Brasil – Os governos do PT promoveram expansão do ensino superior com mais universidades públicas e programas como Fies e Prouni. Esse caminho está correto? Precisa ser ampliado?

Marcelo Medeiros – O Brasil já vem expandindo seu ensino superior desde pelo menos meados da década de 90. E expandiu muito rapidamente a partir dos anos 2000, mas baseado basicamente no ensino à distância, não uma expansão das universidades públicas como algumas pessoas acreditam.

O problema não é o ensino à distância, o problema é que o ensino à distância tal como ele foi implementado é de baixíssima qualidade. Então, a gente tem problemas importantes de qualidade e de quantidade para enfrentar. E não vai ser um conjunto pequeno de medidas que vai resolver isso.

BBC News Brasil – O Congresso acaba de aprovar a revisão da Lei de Cotas. A reserva de vagas para negros no ensino superior é uma política importante para reduzir desigualdade?

Marcelo Medeiros – É uma política extremamente importante por uma razão simples: uma alternativa as cotas seria simplesmente investir em educação de base. O problema é o tempo gigantesco que isso vai levar.

Dois, (outro problema é) o conjunto enorme de obstáculos que os negros vão enfrentar à medida que eles sobem. Os negros têm mais dificuldade para avançar na educação porque a vida (dos negros) é cheia de obstáculos, inclusive dentro da escola.

E a educação dos negros é menos valorizada que a educação dos brancos. Um homem branco e um homem negro com exatamente a mesma educação, o homem negro tenderá a ter um salário mais baixo. Portanto, os caminhos têm que ser outros. O sistema de cotas é um complemento a outras medidas que precisam ser tomadas.

BBC News Brasil – Além de dar acesso a profissões de maior renda, as cotas também são importantes por aumentar o acesso dessas pessoas a espaços de poder e liderança?

Marcelo Medeiros – Existe um fator de sinalização muito importante que é as pessoas negras poderem se projetar em lideranças negras: nos artistas, nos intelectuais, nos políticos, nos empresários. Porque parte do problema passa pelas barreiras relacionadas a isso.

Existe um outro fator que é o de representatividade. Nem todos vão ser representantes de causas negros, mas alguns serão representantes de causas negras e, ao acontecer isso, obviamente isso favorece pessoas que não estão na mesma posição que eles.

BBC News Brasil – Você defende que o combate à desigualdade tem que permear todas as ações do governo. O presidente Lula disse que gênero e raça não são critérios para escolher o próximo ministro do STF, um corte dominada por homens brancos. A representatividade do Supremo tem reflexos pra redução de desigualdade?

Marcelo Medeiros – Eu sou favorável a ter mais representatividade racial e de gênero no Supremo, como de resto em qualquer elite. Agora não sei dizer qual impacto isso vai ter, em qual desigualdade e por qual caminho.

BBC News Brasil – Idealmente, Lula deveria levar em conta raça e gênero ao indicar uma pessoa para a Corte?

Marcelo Medeiros – Idealmente, a sociedade inteira, não só o presidente, todo mundo tem que levar em conta. Os partidos têm que fazer isso, as empresas têm que fazer isso, a televisão tem que fazer isso. A desigualdade racial está em todos os lugares.

ISRAEL QUER DESTRUIR OS TÚNEIS SOB GAZA

 

Por David Leonhardt e Lauren Jackson – The New York Times

Bom dia. Estamos cobrindo a crucial rede de túneis sob Gaza – bem como a ordem de silêncio de Trump, a violência armada americana e os tributos a Matthew Perry.

Um combatente palestino num túnel de Gaza no ano passado. Mohammed Saber/EPA, via Shutterstock – Um labirinto de túneis

Existe uma rede de transportes abaixo de Gaza, que Israel está a tentar destruir.

A rede é composta por túneis, onde a maioria dos combatentes do Hamas provavelmente vive ao lado de arsenais de armas, alimentos, água e, agora, mais de 200 reféns israelitas. Partes dos túneis são grandes o suficiente para que os veículos possam circular neles.

Os militares israelitas lançaram primeiro um intenso ataque aéreo visando estes túneis e agora enviaram tropas terrestres para os destruir. A eliminação dos túneis seria um grande passo para quebrar o controlo do Hamas sobre Gaza.

No boletim informativo de hoje, explicaremos por que a rede de túneis é tão importante – e por que Israel não terá facilidade em desmantelá-la.

‘O metro’

Túneis existem sob Gaza há anos. Mas depois de Israel ter retirado as suas forças e colonos de Gaza, há quase duas décadas, o Hamas expandiu enormemente a rede clandestina. O Hamas tem uma longa história de violência terrorista – tanto os EUA como a União Europeia consideram-no um grupo terrorista – e os túneis permitem aos seus membros esconderem-se dos ataques aéreos israelitas.

Israel criou mais incentivos para a construção de túneis ao reforçar o bloqueio de Gaza depois de 2007. A principal razão para o bloqueio foi impedir a entrada de armas e materiais relacionados, mas a definição de Israel é tão ampla que o bloqueio também restringiu o fluxo de artigos básicos. Em resposta, os habitantes de Gaza têm utilizado os túneis – que se estendem para sul, até ao Egipto – para contrabandear alimentos, mercadorias, pessoas e armas. Algumas pessoas referem-se às centenas de quilômetros de túneis como “o metrô”.

( Esta história , dos nossos colegas Adam Goldman, Helene Cooper e Justin Scheck, tem mais detalhes.)

O governo do Egito também considerou os túneis uma ameaça à segurança. Há uma década, o Egipto tentou destruir alguns túneis ao longo da sua fronteira com Gaza, despejando-lhes esgoto e arrasando casas que escondiam entradas, como disse aos nossos colegas Joel Roskin, professor de geologia na Universidade Bar-Ilan, em Israel.

Na guerra actual, o Hamas utilizará os túneis para esconder e atacar soldados israelitas a partir de locais inesperados. “Ao utilizar os túneis, o inimigo pode cercar-nos e atacar-nos por trás”, disse o coronel Amir Olo, antigo comandante da unidade de engenharia de elite israelita responsável pelo desmantelamento dos túneis.

O tributo civil

A batalha pelos túneis é uma das principais razões pelas quais esta guerra já tem um elevado número de mortes de civis. Mais de dois milhões de pessoas vivem acima dos túneis – uma camada de vida humana entre muitos alvos do Hamas e mísseis israelitas.

O Hamas escondeu muitas armas sob hospitais, escolas e mesquitas, de modo que Israel corre o risco de matar civis e enfrenta uma reação internacional quando luta. Os combatentes do Hamas também deslizam acima e abaixo do solo, misturando-se com os civis.

Estas práticas significam que o Hamas é responsável por muitas das mortes de civis, de acordo com o direito internacional, como explicou David French, redator do Times Opinion e antigo advogado militar . Colocar deliberadamente recursos militares perto de civis e disfarçar combatentes como civis são violações das leis da guerra.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que Israel também está a violar o direito internacional ao continuar a bombardear o sul de Gaza – em parte para destruir túneis – depois de primeiro ordenar às pessoas que evacuassem para lá por segurança.

Embora Israel diga que os seus ataques são precisos, os palestinianos dizem que o bombardeamento pareceu vingativo e desfocado. Um homem perdeu 45 membros de sua família. No geral, diz o Hamas, pelo menos 8.000 pessoas morreram na guerra e a ONU confirmou a morte de pelo menos 2.360 crianças.

Uma questão é que as bombas que atingem os túneis ainda podem matar civis através de uma espécie de tremor secundário. Quando as bombas explodem no subsolo, os edifícios acima podem desabar e formar uma cratera. “As crateras tornam-se valas comuns”, disse Eyal Weizman, diretor do grupo de pesquisa Forensic Architecture.

Qualquer que seja a mistura apropriada de culpas entre Israel e o Hamas, o custo humano levou a críticas generalizadas a Israel. E à medida que as suas incursões terrestres continuarem, o número de vítimas certamente aumentará. Os mais de 200 reféns detidos pelo Hamas, provavelmente nos túneis, também estarão em risco.

Soldados no sul de Israel. Sergey Ponomarev para o The New York Times

Ar, depois terra

A primeira etapa da campanha de Israel contra os túneis foi a guerra aérea. Os militares lançaram mais de 7.000 ataques aéreos em Gaza desde o ataque do Hamas, em 7 de Outubro, que matou mais de 1.400 israelitas. Essa guerra aérea continua, juntamente com a operação terrestre.

Israel lançou bombas especiais que só explodem depois de serem enterradas no solo. Outro tipo de arma, chamada “ bombas de esponja ”, cria uma explosão de espuma endurecida para vedar os túneis. Se as entradas dos túneis estiverem fechadas, os combatentes não poderão sair delas em ataques surpresa.

A operação terrestre permite que Israel tome medidas adicionais para demolir túneis. Um soldado reservista israelense descreveu uma técnica, chamada “cabelo roxo”, aos nossos colegas:

As tropas israelenses jogam granadas de fumaça em um túnel e depois observam se a fumaça roxa sai de qualquer casa na área. A fumaça, disse o soldado, sinaliza que uma casa está conectada à rede de túneis e deve ser isolada antes que os soldados desçam para os túneis. A fumaça se move como fios de cabelo por todo o sistema de túneis, disse ele.

Esta descrição ajuda a esclarecer por que a guerra urbana tende a ser tão mortal. “Serão combates sangrentos e brutais”, disse o general Joseph L. Votel, antigo líder das operações militares dos EUA no Médio Oriente.

FRUTAS QUE TÊM VITAMINA "C" EM MAIOR OU MENOS QUANTIDADE

 

Augusto Aragão de Barros – Quora

Mestrado em Química de Produtos Naturais e Farmacognosia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Formou-se em 2011)8 de out.

A Vitamina C, também designada como Ácido Ascórbico ou L-treo-hex-2-enomo-1,4-lactona, é um composto imprescindível à saúde humana e pode ser encontrada amplamente distribuída em fontes alimentares vegetais – não apenas nos frutos, como também em legumes. Se nas plantas esta vitamina age em diversos aspectos da fisiologia dos frutos, incluindo sua maturação e proteção contra processos oxidativos, da mesma forma é um elemento crucial na fisiologia humana e animal, pois que suas propriedades antioxidantes e acessórias em variados aspectos da imunidade, absorção intestinal e sinalização celular (integra como cofator e é acessório de muitas enzimas) não deixam dúvidas de que sua carência é perniciosa.

Estrutura química da Vitamina C, uma das mais abundantes nos produtos vegetais!

Embora amplamente distribuída nos alimentos vegetais, há muito que a literatura científica já delimitou que as cifras ideais de ingestão diária recomendada estão na faixa de 90 a 110mg (os maiores índices são recomendados para as grávidas e lactantes) e para atender à isso é que já se mapeou diferentes teores oferecidos por muitos dos alimentos vegetais usualmente consumidos. Segundo as publicações, podemos encontrar as seguintes cifras (para cada 100g) entre as maiores já documentadas:

Kakadu (Terminalia ferdinandiana) = cerca de 2900mg

Acerola (Malpighia emarginata) = cerca de 825mg

Rosa (Rosa canina) = cerca de 426mg

Pimentas em geral (Capsicum sp) = de 127mg a 285mg

Cassia/Groselha Preta (Rubis nigrum) = cerca de 181mg

Coentro (Coriandrum sativum) = cerca de 133mg

Couve (Brassica sp) = cerca de 120mg

Kiwi (Actinidia deliciosa) = cerca de 93mg

Brócolis (Brassica oleracea) = cerca de 89mg

Goiaba (Psidium guajava) = cerca de 80mg

Couve de Bruxelas (Brassica oleracea) cerca de 80mg

Mamão Papaya (Carica papaya) = cerca de 60mg

Citros em geral (Citrus sp) = de 53mg a 59mg

Há de se esclarecer alguns aspectos importantes em relação à Vitamina C neste contexto. O primeiro diz respeito ao fato de que existe uma grande variação do teor desta vitamina nos mesmos vegetais, especialmente nas variedades e cultivares, pois que a síntese é afetada pelos fatores edáficos (solo) e climáticos (o fotoperiodismo por exemplo). Isso explica porque é difícil conseguir “homogeneidade” no teor do Ácido Ascórbico entre mesmo frutos, já que as variações sazonais também reponde por isso.

Por fim cabe salientar que de nada adianta ingerir doses cavalares desta vitamina, pois que já são documentados problemas ocasionados pelo excedente ingerido. Apesar de ser um composto hidrossolúvel e que é facilmente excretado por indivíduos com função renal normal (clearance renal normal), em doses de 2000 a 3000mg pode ocorrer diarréias, cólicas e inclusive uma acidificação da urina que pode alterar a farmacocinética de medicamentos alcalinos como as Anfetaminas e Opióides, por exemplo. Não sendo apenas isso, é válido destacar que altas doses de Vitamina C podem aumentar o risco de cálculos renais.

Se alguém desejar saber mais detalhes sobre as fontes vegetais de Vitamina C e outros aspectos relacionados, eu indico a leitura dos artigos científicos a seguir:

A Comparative Study On The Ascorbic Acid Content Of Several Fruits, International Journal of Food and Nutritional Sciences (2022); volume 11, issue 7, pages 1224–1232.

Ascorbic Acid Content in Exotic Fruits: A Contribution to Produce Quality Data for Food Composition Databases, Food Research International (2011); 44(7):2237-2242. DOI:10.1016/j.foodres.2011.02.012

Impact of Innovative Technologies on the Content of Vitamin C and Its Bioavailability from Processed Fruit and Vegetable Products, Antioxidants (Basel). (2021); 10(1): 54. doi: 10.3390/antiox10010054

Metabolism and Regulation of Ascorbic Acid in Fruits, Plants (Basel). (2022); 11(12): 1602. doi: 10.3390/plants11121602

Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation, Front. Plant Sci. Sec. Plant Physiology (2019);

Volume 9, DOI: Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation

MARCAS QUE ATRAEM E ENVOLVEM OS MAIS JOVENS SÃO MAIS BEM SUCEDIDAS E CONSUMIDAS

 

Por Patricia Artoni, professora da FIA Business School

A capacidade de atrair e envolver o público mais jovem é fundamental para o sucesso das marcas. Os jovens representam o futuro do consumo, e conquistar sua preferência desde cedo pode resultar em uma base de clientes leais que acompanhará a marca ao longo de suas vidas. No entanto, os jovens de hoje não buscam apenas benefícios funcionais em seus produtos. Eles anseiam por entretenimento e experiências significativas. Recentemente, a Kids Corp conduziu uma pesquisa abrangente para analisar as marcas preferidas e confiáveis entre crianças e adolescentes na América Latina. Os resultados deste estudo, baseados em respostas de 8.437 entrevistados entre janeiro e julho de 2023, lançam luz sobre como as estratégias de Shoppertainment, estão transformando o marketing para o público infantil.

Os resultados da pesquisa da Kids Corp revelam preferências por marcas e a confiança que elas geram nesse público. O YouTube lidera as preferências, com 13% dos jovens elegendo-o como sua marca favorita e 24% como confiável. Outras marcas que se destacam como preferidas incluem Roblox e Nike, ambas com 8% de preferência, seguidas de perto por Adidas e McDonald’s, com 7% cada. Netflix e PlayStation também desfrutam de alta popularidade, com 6% de preferência, e a Disney fecha a lista das marcas preferidas, com 5%

Esses números refletem o poder das estratégias de Shoppertainment, nas quais as marcas conseguem entreter, educar e envolver jovens, conquistando tanto seu coração quanto sua confiança. As marcas preferidas apresentam algumas características principais, como a capacidade de alegrar o público (31%), ser engraçado (30%), proporcionar alta qualidade (25%), oferecer conteúdo envolvente (19%) e fazer-se presente pela indicação e consumo dos amigos (18%).

O favoritismo não acontece ao acaso. No mundo atual, o vídeo é rei. O estudo da Kids Corp mostra que o YouTube é o canal líder, com 52% das respostas indicando que as campanhas de marketing foram assistidas lá. Os jovens consomem conteúdo de vídeo de maneira voraz, e as marcas que desejam se destacar devem dominar essa linguagem. O vídeo é altamente envolvente, memorável e compartilhável, tornando-se uma ferramenta essencial para contar histórias, demonstrar produtos e criar conexões emocionais com o público.

Os jovens estão cada vez mais conscientes das autênticas intenções das empresas e desejam se conectar com aquelas que compartilham seus valores. Portanto, ser genuíno e autêntico em sua abordagem é essencial. Além disso, as marcas destacadas pelo público têm o foco na criação de experiências memoráveis e não em vendas diretas.

Quando os jovens se sentem envolvidos, educados e entretidos, as vendas se tornam uma consequência natural. O estudo também revela que as marcas bem-sucedidas são eficientes em criar uma sensação de exclusividade e mantendo os consumidores envolvidos.

No cenário de marketing em constante mudança, o Shoppertainment é, sem dúvida, uma das tendências mais promissoras. Para conquistar os corações e mentes dos consumidores mais jovens e construir marcas verdadeiramente memoráveis, é fundamental adotar estratégias que promovam o entretenimento, educação e autenticidade, tudo isso com ética e responsabilidade.

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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

VAZAMENTO DE PRODUTOS QÚMICOS DE REFRIGERAÇÃO SÃO ALTAMENTE POLUENTES

 

História por admin3  • IstoÉ Dinheiro

Quando Jennifer Byrne, proprietária e técnica da empresa Comfy Heating and Cooling, recebe uma ligação para ir consertar um sistema de ar-condicionado relativamente novo, uma das primeiras perguntas que faz é se a casa foi reformada recentemente.

Na região oeste da cidade da Filadélfia, EUA, Byrne já encontrou reformas mal feitas em que os instaladores pularam etapas como o teste de pressão após a instalação. Isso pode causar acúmulo de gelo e vazamento de produtos químicos que promovem o resfriamento, chamados refrigerantes.

“Esse é um problema extremamente frequente por aqui. As pessoas normalmente contam que compraram uma casa que foi mexida, e há todo tipo de coisa errada, como o ar condicionado congelando”, conta Byrne, se referindo ao acúmulo de gelo.

“Tentam fazer da forma mais barata possível”, acrescentou, enquanto retirava o equipamento de sua caminhonete.

Não é um problema pequeno. Quando gases refrigerantes vazam assim, são altamente destrutivos para a sensível atmosfera da Terra. Eles são “os gases de efeito estufa mais potentes conhecidos pela ciência moderna”, como descreve um artigo científico, e estão aumentando depressa.

Um dos mais comuns, com o nome hostil de R-410A, é 2.088 vezes mais prejudicial ao clima do que o dióxido de carbono proveniente da queima de carvão e gasolina. Assim, uma das formas essenciais para as pessoas se refrescarem está tornando o mundo mais quente e mais instável.

É por isso que o Clean Air Act, a Lei do Ar Limpo nos EUA, proíbe a liberação intencional da maioria dos fluidos refrigerantes. Quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) exigiu que uma família de produtos químicos fosse gradualmente descontinuada em 85% até 2036, criou-se uma pressão para desenvolver e difundir alternativas mais limpas.

A caminhonete de Byrne está carregada com ferramentas, recipientes, mangueiras e cilindros selados especiais, inclusive um em cor rosa, do padrão industrial, que contém o potente R-410A. Quando ela conserta uma unidade de A/C com vazamento, ela drena o resto do fluido refrigerante em um dos cilindros, para permanecer armazenado de forma segura enquanto ela desmonta o aparelho.

Os aparelhos domésticos de ar-condicionado, porém, são apenas uma das formas pelas quais o gás refrigerante penetra na atmosfera, elevando os níveis de forma mensurável e contribuindo para o aumento das condições meteorológicas extremas.

Os carros são outra fonte desses super poluentes, segundo Eckhard Groll, especialista em refrigeração e coordenador de engenharia mecânica na Universidade Purdue. Os sistemas de ar-condicionado em veículos movidos a gasolina são “propensos a vazamentos” e, em média, cerca de 25% do gás refrigerante de todos os carros vaza a cada ano. Com mais de 200 milhões de carros a gasolina só nos EUA, Groll calcula que isso equivaleria a aproximadamente 45 mil toneladas de gás refrigerante chegando à atmosfera a cada ano.

Os supermercados são a segunda maior fonte de vazamentos, porque são grandes, e extensas tubulações transportam o fluido refrigerante até cada expositor refrigerado. Danielle Wright, diretora-executiva do Conselho Norte-Americano de Refrigeração Sustentável, um grupo de defesa de interesses, diz que aproximadamente 25% do gás refrigerante de um supermercado médio vaza a cada ano, o que confirma um documento da Agência de Proteção Ambiental de 2011.

“Eu não diria que (os supermercados) estão necessariamente fazendo economia, mas vamos dizer assim: é mais barato deixar o gás refrigerante vazar do que construir um sistema à prova de vazamento”, diz Wright.

A necessidade de minimizar o vazamento de gás refrigerante impulsionou uma indústria de reutilização e recuperação. Uma dessas empresas nos EUA é a A-Gas Rapid Recovery, que tem instalações em Dallas, no estado americano do Texas, em Toledo, no estado de Ohio, e em Punta Gorda, na Flórida, entre outras.

Os fluidos refrigerantes podem ser usados muitas vezes e durar por 30 anos, diz Mike Armstrong, presidente da A-Gas nas Américas. A empresa coleta fluido refrigerante e tanques em todo o país e, além disso, drena, purifica e recupera os produtos químicos, e depois despacha o produto reciclado.

“Antigamente, alguns técnicos literalmente só cortavam o tubo e liberavam o gás na atmosfera”, conta Anthony Nash, gerente de treinamento na rede A-Gas. Agora, “a EPA e a regulação que se aplica a todos nós tornam isso não só ilegal, mas também antiético”, diz.

O fluido refrigerante que não pode ser reutilizado passa por um processo a temperaturas extremamente altas, chamado pirólise, em que os gases são destruídos. Os negócios estão em franca expansão.

“A indústria provavelmente vai aumentar de quatro a cinco vezes nos próximos dois anos”, diz Armstrong.

SUBSTITUIÇÕES SUSTENTÁVEIS

Ao mesmo tempo, a indústria química está procurando substitutos. Até agora, alguns são muito melhores na questão climática, mas poderiam ter outros aspectos negativos, como serem inflamáveis, e seu impacto a longo prazo sobre o meio ambiente ainda não é conhecido.

Vários pesquisadores estão cogitando o próprio dióxido de carbono como um gás refrigerante. Mas Groll ressalva que ele precisa estar sob pressão extremamente alta, o que exige sistemas diferentes.

O dióxido de carbono seria ótimo se “estivesse sendo retirado da atmosfera”, segundo Christopher Cappa, professor de engenharia ambiental na Universidade da Califórnia, em Davis. “Mas se estamos produzindo apenas como gás refrigerante, então isso não seria necessariamente tão bom.”

“É possível pensar em um futuro onde avançaríamos para uma economia em grande parte livre de combustíveis fósseis e nossa principal fonte de dióxido de carbono seria retirá-lo da atmosfera”, diz Cappa.

Atualmente, os compradores comerciais que procuram uma refrigeração menos poluente conseguem encontrá-la. “É uma bola na cara do gol, uma tecnologia conhecida que está pronta para o mercado”, diz Wright.

Mas quando se trata de ar-condicionado, a história é diferente. Wright alega que os esforços de lobby dos fabricantes de produtos químicos e de equipamentos de climatização, além de alguns códigos e padrões, paralisaram o desenvolvimento de fluidos refrigerantes menos poluentes para os equipamentos de ar condicionado nos EUA.

Mas uma grande fabricante, chamada Trane Technologies, diz que vem trabalhando intensamente na busca de alternativas menos poluentes, já selecionou uma que é 78% menos prejudicial do que a atual, e irá adotá-la gradualmente nos aparelhos a partir de 2024.

Jarad Mason, professor assistente de química e biologia química na Universidade de Harvard, está trabalhando em cooperação com colegas pesquisadores para desenvolver um fluido refrigerante que seja, na verdade, um sólido no lugar do vapor. O mineral perovskita é eficaz na absorção de calor sob baixa pressão, permitindo que resfrie o ambiente.

A pesquisa em refrigerantes sólidos está nos primeiros passos, mas Mason vê com otimismo seu potencial, porque poderia ser usada em geladeiras, edifícios comerciais, e residências.

“A procura por aquecimento e arrefecimento só vai aumentar, e é absolutamente vital que tenhamos formas sustentáveis e econômicas de fornecer isso a todos no mundo”, diz.

O post EUA: Produtos químicos de refrigeração são um pesadelo climático apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

TURQUIA COMPLETOU 100 ANOS NESSE 29/10

il e Mundo Centenário da Turquia

100 anos de Turquia: como caiu o Império Otomano, a superpotência que queria ser universal

Byvaleon

Out 30, 2023

História por Norberto Paredes – BBC News Mundo e Brasil

A Turquia completa 100 anos em 29 de outubro© Getty Images

“Viva a República! Vida longa a Mustafa Kemal Pasha!”, gritaram os legisladores turcos em 29 de outubro de 1923, depois de proclamarem um novo modelo de governo e empossar Kemal Atatürk como primeiro presidente do país que acabava de nascer.

Enquanto muitos comemoravam, outros ainda lamentavam a queda do Império Otomano, uma das maiores superpotências que a humanidade já conheceu.

Neste domingo (29/10), completam-se 100 anos desde o nascimento da Turquia e pouco mais de um século desde a queda definitiva do Império.

O golpe final foi desferido em novembro de 1922, quando a Grande Assembleia Nacional aboliu o cargo de sultão, encerrando aproximadamente 600 anos de história da dinastia Osmanli, a família que liderou o império desde sua fundação, em 1299, até a sua dissolução.

A queda da superpotência, que rivalizou com os países mais poderosos do mundo durante vários períodos da história, foi uma tragédia para os turcos.

O Estado otomano se expandiu por três continentes, governando o que hoje é a Bulgária, o Egito, a Grécia, a Hungria, a Jordânia, o Líbano, Israel, os territórios palestinos, a Macedônia, a Romênia, a Síria, partes da Arábia Saudita e a costa norte de África.

Muitos outros países como a Albânia, Chipre, Iraque, Sérvia, Qatar e Iêmen também eram parcial ou totalmente otomanos.

Em muitas destas nações, no entanto, o legado imperial é tão controverso que alguns preferem esquecê-lo. Em outras, como a Turquia, ele é recordado com nostalgia e como uma época dourada que gera orgulho.

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A dinastia Osmanli (ou Casa de Osman) começou com uma oportunidade aproveitada por Osman I, então líder do império Seljuk.

Ao notar a fraqueza de seu império e do vizinho Bizantino, Osman decidiu fundar seu emirado em 1299 na Anatólia, o território hoje conhecido como Turquia.

Ele se tornava assim o fundador e primeiro sultão de um Estado turco que logo começaria a se expandir até cobrir mais de 5 milhões de km2.

Os descendentes de Osman, cujo nome às vezes é escrito Ottman ou Othman e de onde veio o termo “Otomano”, governaram a poderosa nação durante seis séculos.

A queda de Constantinopla

Olivier Bouquet, professor de História Otomana e do Oriente Médio na Universidade Paris Diderot, destaca que, em 1299, foi fundado apenas um “Estado Turco”.

O Império de fato começaria a tomar forma com a queda de Constantinopla, em 1453.

Com uma entrada simbólica em Constantinopla, montado em um cavalo branco, o sultão Mehmed II pôs fim a mil anos de Império Bizantino e posteriormente ordenou o assassinato de grande parte da população local, forçando o resto ao exílio.

Ele logo repovoou a cidade trazendo pessoas de outras partes do território otomano.

Mehmed II também renomeou Constantinopla para Istambul, a “cidade do Islã”, e começou a reconstruí-la.

Assim, a cidade se tornou não só a capital política e militar do império, mas também, devido à sua posição no cruzamento entre Europa, África e Ásia, um importante centro comercial mundial.

A força econômica que o império ganharia deveu-se em grande parte à política de Mehmed II de incentivar o aumento da quantidade de comerciantes e artesãos no seu estado.

Ele encorajou muitos comerciantes a se mudarem para Istambul e estabelecerem negócios lá. Os governantes posteriores continuaram esta política.

Receita do sucesso

Além do fato de o poder máximo ter sido transferido para apenas uma pessoa, evitando rivalidades, Bouquet explica que o império teve sucesso por outros motivos, sendo um dos principais o seu caráter de Estado fiscal-militar.

O chefe turco Osman (1258-1324), considerado o fundador do Império Otomano.© Getty Images

“Era um Estado em que a extração de recursos da riqueza fiscal estava ligada à conquista militar, que tinha o objetivo de adquirir mais riqueza e fazer entrar mais impostos de forma centralizada”, disse o especialista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Outro elemento propulsor do império, segundo o historiador, foi o seu poderio militar.

Os ataques do exército otomano foram rápidos e contaram com forças especializadas, como o famoso corpo de elite dos janízaros, ou janíçaros, que protegiam o sultão, e os sipaios, uma temida tropa de cavalaria de elite que em tempos de paz era responsável pela cobrança de impostos.

Também desempenharam papel importante a burocracia altamente centralizada do império, que lhe permitiu organizar a distribuição das suas riquezas, o fato do império ser inspirado e unido pelo islamismo, e de toda a sociedade ter o mesmo governante como referência.

“Era em tese uma sociedade que permitia outras religiões e, em teoria, não havia conversão forçada (ao Islã). Mas na verdade houve. Houve uma política de islamização em certos territórios”, diz Bouquet.

Os otomanos também se destacaram por seu pragmatismo: pegaram as melhores ideias de outras culturas e tornaram-as suas também.

Solimão, o Magnífico

Um dos sultões mais conhecidos do império foi Solimão, o Magnífico, que reinou entre 1520 e 1566 e fez com que o seu Estado chegasse aos Balcãs e à Hungria, chegando às portas da cidade romana de Viena.

Solimão, o Magnífico© Getty Images

Embora no Ocidente ele seja lembrado como “o Magnífico” e no Oriente como “o Legislador”, Suleiman tinha outros títulos tão exagerados quanto surpreendentes.

Estes incluem “o deputado de Allah na Terra”, “Senhor dos Senhores deste mundo”, “Dono dos pescoços dos homens”, “Refúgio de todas as pessoas em todo o mundo”, entre muitos outros que denotam a sua importância.

Um dos seus apelidos mais polêmicos era “Imperador do Oriente e do Ocidente”, algo visto por historiadores como um desafio direto à autoridade de Roma que, naquela época, havia sido superada pela autoridade otomana.

Embora o império atingisse sua extensão territorial máxima mais tarde, o período de Solimão, o Magnífico, é considerado no Ocidente como uma era de ouro para os otomanos, quando aconteceram muitas campanhas militares bem-sucedidas.

O império que queria ser universal

O nome “Imperador do Oriente e do Ocidente” também deixa claro que o Império Otomano se via e se considerava como único, sem nenhum igual ou semelhante.

“Aos olhos dos sultões otomanos, não havia outro imperador além do sultão otomano”, explica o historiador Olivier Bouquet.

Sultão Mahmud II saindo da Mesquita Bayezid, Constantinopla, em 1837© Heritage Images

Segundo ele, a ideia de um império universal vem da herança bizantina e do Islã.

“Eles queriam conquistar todos os territórios onde viviam homens e mulheres”, diz o professor. “Todos os países localizados fora dos ‘territórios do Islã’ (Dar al-Islam) tinham uma vocação para ser conquistados.”

Isso explica a longa duração do Império Otomano: seu exército não tinha limites na conquista de territórios, que avançou durante séculos.

“E o império começou a enfraquecer no momento em que as conquistas ficaram mais difíceis ou param”, acrescenta Bouquet.

O começo do fim

Um dos primeiros episódios a enfraquecer a superpotência em que se transformara o Estado Otomano foi a sua derrota na Batalha de Lepanto, em 1571.

O império enfrentara a Liga Santa, uma coligação militar composta por Estados Católicos e liderada pela monarquia espanhola e um grupo de territórios onde hoje está a Itália.

Esta é descrita como uma das batalhas mais sangrentas que a humanidade viu desde a antiguidade e pôs fim à expansão militar otomana no Mediterrâneo.

A derrota na Batalha de Lepanto em 1571 foi um golpe devastador para o Império Otomano.© Getty Images

A partir daí terminava a sorte do império, dando espaço a um longo e progressivo declínio.

Vários erros de cálculo somados à instabilidade política e econômica de Istambul no início do século XX acabaram desmoronando um império cujo brilho já estava manchado.

O primeiro foi a Primeira Guerra dos Balcãs (1912-1913), na qual enfrentou a Liga Balcânica (Bulgária, Grécia, Montenegro e Sérvia), que, apoiada pela Rússia, tentava expulsar os otomanos de suas terras.

Militarmente inferior, o Império Otomano perdeu a guerra e com ela todos os seus territórios na Europa, com exceção de Constantinopla e arredores.

Historiadores recordam esta derrota como um ponto de virada e um episódio “humilhante” para os otomanos.

O golpe final

Os territórios otomanos restantes atravessavam um mau momento econômico, devido ao desenvolvimento de outras rotas comerciais, à crescente rivalidade comercial com a América e a Ásia, e ao aumento do desemprego.

Eles também enfrentavam as ambições expansionistas de potências europeias como a Grã-Bretanha e a França.

Além disso, as tensões entre diferentes grupos religiosos e étnicos aumentaram. Armênios, curdos e gregos, entre outros povos, sentiam-se cada vez mais oprimidos pelos turcos.

Com todos esses problemas, Istambul embarcou em uma nova guerra contra uma poderosa aliança liderada pela França, o Império Britânico, os Estados Unidos e a Rússia.

A vitória dos Aliados no Oriente Médio durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um dos gatilhos para a desintegração do Império Otomano, que já estava com os dias contados.

Depois disso, foram criados o mandato francês na Síria e os mandatos britânicos no Iraque e na Palestina, todos sob a supervisão da Liga das Nações (órgão que precedeu a ONU).

Os otomanos não sabiam que em 1917, no meio da guerra, a França e a Grã-Bretanha já tinham concordado secretamente em dividir seus territórios pelo tratado Sykes-Picot.

Nesse mesmo ano, também foi assinada a Declaração Balfour, documento no qual o governo britânico prometia ao povo judeu um “lar” na região da Palestina, que também fazia parte do império.

Nasce um país: Turquia

Oficialmente, o império deixou de existir em 1º de novembro de 1922, quando o cargo de sultão foi abolido.

Um ano depois nasceu a República da Turquia.

Depois de liderar uma revolução republicana, Mustafa Kemal Atatürk, considerado “o pai da Turquia moderna”, tornou-se seu primeiro presidente.

O último sultão do Império Otomano, Mehmed VI, temia ser morto pelos revolucionários e teve de ser retirado de Istambul por agentes britânicos.

Ele acabou exilado na Itália de Benito Mussolini, no balneário de San Remo, mesmo local onde havia sido acertada a divisão de seu império.

Lá ele morreu quatro anos depois, tão pobre que as autoridades italianas confiscaram seu caixão até que as dívidas com comerciantes locais fossem pagas.

Mustafa Kemal Atatürk governou a Turquia desde a sua criação, por 15 anos.© Getty Images

A república que nascia deixou para trás suas aspirações imperiais e se baseou no Kemalismo, uma ideologia implementada por Atatürk que tinha como valores o republicanismo, o populismo, o nacionalismo, o secularismo, o estatismo e o reformismo.

Muitos historiadores afirmam que o secularismo da Turquia moderna é um “grande” legado do Império Otomano.

Neo-otomanismo

Por outro lado, o califado Otomano continuou brevemente como instituição na Turquia, embora com autoridade bastante reduzida, até que também foi abolido em 3 de março de 1924.

Atualmente, a visão de que a derrota dos otomanos na Primeira Guerra Mundial pôs fim ao seu império é contestada por alguns, que afirmam que a sua queda é culpa do Ocidente.

“A ideia da responsabilidade ocidental (na queda do império) foi assumida durante vários anos pelo regime de Ancara e pelo atual presidente da República Turca (Recep Tayyip Erdogan)”, afirma o historiador Olivier Bouquet.

Recep Tayyip Erdogan© Getty Images

Nos últimos anos, o sentimento de nostalgia que alguns na Turquia sentem pela era otomana alimentou o ressurgimento do chamado neo-otomanismo.

Trata-se de uma ideologia política islâmica e imperialista que, no seu sentido mais literal, defende a honra do passado otomano da Turquia e o aumento da influência turca nas regiões que estiveram sob domínio otomano.

Durante muitas décadas, os líderes da Turquia moderna se esforçaram para se distanciar do legado imperial e do Islã com a intenção de projetar uma face mais “ocidental” e “secular”.

Mas desde sua ascensão ao poder, Erdogan não esconde sua nostalgia pelo passado otomano do seu país e sua herança islâmica.

Prova disso foi a controversa conversão em 2020 da Hagia Sophia – que Atatürk transformou em um dos museus mais emblemáticos de Istambul – em uma mesquita.

Da mesma forma, Erdogan demonstrou repetidamente sua admiração por Selim I, um sultão que liderou uma das maiores expansões do Império Otomano.

Depois de vencer um referendo constitucional em 2017, que expandiu enormemente seus poderes presidenciais, Erdogan fez sua primeira aparição pública no túmulo do antigo sultão otomano.

E, mais recentemente, decidiu dar seu nome a uma das pontes construídas sobre o famoso estreito de Istambul, no Bósforo.

“O Império Otomano desapareceu, mas há um neo-otomanismo que se desenvolveu (…) Há muito mais referências ao Império Otomano hoje do que havia no final do século XX”, conclui Bouquet.

 

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