Mecanismos de defesa
Simone Demolinari
Temos uma certa
tolerância para suportar estresse e sofrimento. Contudo, quando a dor
ultrapassa certo ponto, acionamos alguns mecanismos que buscam amenizar o que
estamos sentindo. São os chamados “mecanismos de defesa”.
Bom exemplo disso é
a “negação”. Quando recebemos uma notícia triste, nosso comportamento imediato
é não aceitar. Quando alguém toma conhecimento de que é portador de uma doença
grave, tende a diminuir a gravidade ou mesmo a acreditar que seu corpo reagirá
de forma especial até sanar a patologia. Alguns, de forma mais incisiva, negam
enfaticamente, colocam exames numa gaveta e ignoram completamente o
diagnóstico. Continuam vivendo como se nada tivesse acontecido.
Outro mecanismo
comum é a “repressão”. Nele tendemos a suprimir determinado desejo quando o
mesmo não está de acordo com o código moral interno. Este mecanismo é muito
comum em pessoas com rígida educação religiosa ou quando se tem pais muito
severos. Através da repressão as pessoas sufocam seus desejos acreditando que
assim ele desapareça. Porém, quanto mais se reprime, maior é o conteúdo que vai
para o inconsciente, de onde ficam enviando sinais, os chamados “atos falhos”.
Outras vezes, o que é reprimido pode surgir em sonhos.
Antigamente, era
bastante comum reprimir um desejo sexual por pessoa do mesmo sexo. Incapazes de
lidar com a homossexualidade, muitos se casavam rápido e tratavam logo de ter
filhos. A intenção era de que aquele desejo desaparecesse, porém, viviam sendo
lembrados pela voz silenciosa do inconsciente. Muitos, sem conseguir se manter
reprimidos, levavam uma vida homossexual paralela.
Outra forma usada
para ajudar a atenuar a dor é a “racionalização”. Racionalizar não significa
“usar a razão” e sim substituir a verdade por uma explicação aparentemente
lógica e mais fácil de ser aceita. Funciona como uma espécie de fuga da
realidade. Bom exemplo é alguém que promete parar de fumar, mas não consegue
manter o prometido. A partir desse fracasso, inicia-se uma racionalização, como
por exemplo se apoiar numa história real de alguém que fumou até 90 anos sem
ter nenhum problema pulmonar. Espécie de “mentira verdadeira”.
Usamos tantos
mecanismos que às vezes nem nos damos conta deles. A fantasia é outro esquema
mental que usamos com frequência. Quem a pratica geralmente não consegue fazer
uma autocrítica, mas quem convive geralmente percebe e comenta: “fulano de tal
vive num mundo imaginário”.
A fantasia ocorre
quando a pessoa cria uma situação que, na verdade, só acontece na imaginação
dela. Existem duas formas de manifestação desse mecanismo: a primeira é quando
a pessoa verbaliza algo muito diferente da realidade e tem um teor de mentira,
mas na verdade é uma imaginação fértil. E a outra forma é a não verbal, em que
a pessoa apenas pensa na situação imaginária, por exemplo: alguém que foi
abandonado pelo par amoroso passa horas fantasiando uma vingança mental ou
então se imagina ganhando na loteria e esnobando quem o largou.
Esses mecanismos
existem para nos ajudar a lidar e superar situações de extrema dificuldade.
Porém, se faz muito importante reconhece-los. Quanto mais conscientes estamos
das nossas defesas, menos utilizamos esse artifício e mais maduros
emocionalmente ficamos para lidar com nossos dissabores.