segunda-feira, 1 de junho de 2015

DÍVIDA PÚBLICA IMPAGÁVEL



Orçamento para 2015 prevê R$ 1,35 TRILHÃO para a dívida pública
Projeto de Lei Orçamentária para 2015, prevê 47% dos recursos para juros e amortizações da dívida pública
Valor destinado à dívida em 2015 aumenta 35% em relação à previsão para 2014

O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2015, prevê um total de despesas de R$ 2,863 trilhões, das quais R$ 1,356 trilhão (47%) destinam-se ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública.
Este valor representa 13 vezes mais que os recursos previstos para a saúde, 13 vezes mais que os recursos previstos para educação, ou 54 vezes os recursos previstos para transporte.
O PLOA 2015 prevê um aumento do salário mínimo (acima da inflação indicada pelo IBGE) de apenas 2,3%. Mantendo-se este ritmo, serão necessários 61 anos para que o salário mínimo atual (R$ 724) atinja o salário exigido pela Constituição (R$ 2.915,07, conforme o DIEESE), capaz de atender às necessidades vitais básicas dos trabalhadores e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.
A eterna justificativa oficial para este aumento pífio é que a Previdência Social não teria recursos para aumentar as aposentadorias, porém, a Previdência está inserida na Seguridade Social (na qual estão também as áreas de saúde e assistência), que apresenta superávits gigantescos, de mais de R$ 70 bilhões por ano. O problema é que o governo utiliza a maior parte do orçamento federal para pagar a questionável dívida pública.
Dos R$ 1,356 trilhão previstos para o pagamento da dívida em 2015, R$ 868 bilhões (64%) são apresentados como sendo “refinanciamento” da dívida, valor este que é constantemente desprezado por analistas neoliberais e pessoas ligadas ao governo, alegando que se trataria de uma mera “rolagem”, ou seja, o pagamento de amortizações (principal) da dívida por meio da emissão de novos títulos. Segundo estes analistas, isto representaria apenas a troca de títulos velhos por novos, sem custo para o governo.
Porém, a recente CPI da Dívida realizada na Câmara dos Deputados revelou que grande parcela da “rolagem” não representa o pagamento de amortizações, mas sim, o pagamento de juros, sendo que o governo não divulga tal parcela. Além do mais, se a atual questionável dívida não existisse, as novas dívidas que estão sendo feitas para pagar a tal “rolagem” poderiam servir para investimentos na saúde, educação, transporte e diversas outras áreas sociais.

Dívida pública sobe 0,42% em abril, para R$ 2,45 trilhões

Aumento da dívida no mês está relacionado a apropriação de juros.
Dívida externa recuou por conta da valorização do real.

Do G1, em São Paulo
 
A dívida pública federal, que inclui os endividamentos interno e externo do governo, registrou aumento de 0,42% em abril deste ano, para R$ 2,45 trilhões, segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (25) pela Secretaria do Tesouro Nacional. Em março, o endividamento público estava em R$ 2,44 trilhões.
Os números oficiais mostram que o aumento da dívida em abril deste ano está relacionado, principalmente, a apropriação de juros (quando os juros passam a fazer parte do principal da dívida) de R$ 20,7 bilhões.
O governo, no entanto, pagou mais dívidas do que emitiu, resultando em resgate líquido de R$ 20,43 bilhões – no mês passado, foram emitidos R$ 102,2 bilhões em papéis da dívida federal, ao mesmo tempo em que foram resgatados (pagos) R$ 112,6 bilhões.
Interna e externa
Em abril, o estoque da dívida interna cresceu 0,75%, passando de R$ 2,3 trilhões para R$ 2,23 trilhões. devido à apropriação positiva de juros, no valor de R$ 27,08 bilhões, descontada em parte pelo resgate líquido, no valor de R$ 9,77 bilhões.
Já a dívida externa sofreu redução de 5,64%, para R$ 117,68 bilhões. A variação, segundo o Tesouro, deveu-se principalmente pela valorização do real frente às moedas que compõem o estoque da dívida externa.

Programação para 2015
De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, a dívida pública pode chegar ao patamar máximo de R$ 2,6 trilhões no fim deste ano – R$ 305 bilhões a mais em relação ao fechamento de 2014.
O Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida pública, feito pelo Tesouro Nacional, também estabelece um piso de R$ 2,45 trilhões para o débito público no fim deste ano, o que representaria uma alta de R$ 155 bilhões em comparação com dezembro do ano passado.
Em 2015, os vencimentos de títulos públicos previstos somam R$ 571 bilhões, ao mesmo tempo em que os encargos da dívida pública totalizam R$ 63 bilhões. O governo prevê, entretanto, o uso de R$ 147,1 bilhões em recursos orçamentários para pagar os vencimentos neste ano.

COMENTÁRIO:
O melhor é não fazer dívidas. Caso elas ocorram, é recomendável um endividamento de no máximo de 30% da renda da pessoa ou empresa. Fica difícil pagar uma dívida cujo valor ultrapasse esse limite.
A única diferença entre o endividamento da pessoa física ou empresarial  para  o governo é que o contribuinte não pode emitir dinheiro e o governo pode, dai a dívida do contribuinte não poder aumentar e a do governo pode aumentar indefinidamente com a concordância do Congresso.  

SUPERBACTÉRIAS



Dez coisas que você precisa saber sobre as superbactérias
Tatiana Pronin





No fim de abril, ao anunciar onde a duquesa de Cambridge Kate Middleton daria à luz sua filha, herdeira do príncipe William, a imprensa mundial repercutiu o fato de que uma ala do Hospital de St. Mary, em Londres, havia sido fechada em decorrência de um pequeno surto de superbactéria.
Se uma instituição frequentada por um casal real pode passar por uma situação como essa, dá para ter noção do desafio enfrentado diariamente por profissionais do mundo inteiro para lidar com micro-organismos multirresistentes. Estima-se que, em 2050, 10 milhões de pessoas deverão morrer por ano apenas devido a infecções desse tipo.
Com o uso de cada vez mais disseminado de antibióticos, em larga escala e muitas vezes de forma incorreta, aumentou-se a pressão para que cada vez mais germes com mecanismos de resistência fossem gerados. Em um mundo globalizado, em que milhares de pessoas viajam todos os dias de um canto a outro do mundo, é impossível não espalhar esses organismos. Veja, a seguir, alguns fatos importantes para entender o fenômeno e se proteger, na medida do possível:

1. Superbactéria não é super-herói, é sobrevivente
Quando se fala em "superbactéria", é comum pensar em um micróbio que ficou mais forte, capaz de causar uma doença mais grave nas supostas vítimas. Trata-se apenas de um germe que desenvolveu um mecanismo de sobrevivência e se tornou imune às armas criadas para combatê-lo.
"A capacidade de causar doença não aumenta; o tratamento é que fica complicado", afirma Jorge Luiz Mello Sampaio, médico assessor para microbiologia e parasitologia do Fleury Medicina e Saúde, que não gosta muito do termo "superbactéria".

2. Não existe apenas um, mas diversos mecanismos de defesa
Os micro-organismos podem contar com várias estratégias para se defender das substâncias utilizadas para combatê-los. "O mais comum é a bactéria produzir enzimas que 'digerem' os antibacterianos. Mas pode ocorrer o espessamento da parede celular da bactéria (o que impede que o antibacteriano penetre na célula); pode ocorrer uma alteração do local por onde o antibacteriano se liga (então o fármaco não tem como agir sobre a bactéria); e, algumas vezes, a bactéria ativa uma 'bomba' que joga o antibiótico para fora da célula e impede que o fármaco atue", explica o infectologista Plinio Trabasso, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Uma vez que uma única bactéria se torna resistente ao antibiótico, é muito fácil transmitir esse "poder" às que estão ao redor. Pense em uma colônia de mil germes no seu intestino. Ao tomar um antibiótico, você pode combater 998 delas e, ao sentir que já está melhor, abandona o tratamento um pouco antes. "Essas duas bactérias 'conversam' com as outras, transmitindo material genético", ilustra Marcos Oliveira de Carvalho, doutor em genética e biologia molecular e sócio da Neoprospecta, empresa que auxilia hospitais no controle de surtos.
Essa transferência, chamada pelos especialistas de horizontal, não ocorre somente no "sexo" entre as bactérias (sim, elas fazem algo parecido com isso), mas, também, quando um germe assimila o material genético que sobrou no ambiente após a morte de um "colega". Daí para o número de organismos resistentes se multiplicar é um pulo: bactérias comuns como a E.coli, por exemplo, têm a capacidade de se replicar a cada 20 minutos, só para você ter uma ideia do problema.

3. KPC não é o nome de uma superbactéria
No Brasil, diversos casos de KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) foram responsáveis, recentemente, pela interdição de algumas alas de hospitais. A sigla, na verdade, refere-se a uma enzima produzida por algumas bactérias para degradar certos antibióticos. "O mais correto seria usarmos a sigla ERC, de 'enterobactérias (presentes no intestino) resistentes a carbapenêmicos' (um tipo de antimicrobiano)", ensina o médico Jorge Luiz Mello Sampaio. 
"A KPC ficou em evidência porque ela está presente no país, mas existem outras que podem se tornar um problema tão grave quanto", acredita Marcos Oliveira de Carvalho, da Neoprospecta. Uma delas é a NDM (New delhi metallo-B-lactamase-1), enzima que foi identificada em 2009, na Índia, e já foi encontrada em enterococos de hospitais de Porto Alegre em 2013.  

4. Elas existem antes mesmo da invenção dos antibióticos
A afirmação acima é talvez uma das mais surpreendentes em relação às superbactérias, visto que os antibióticos têm sido apontados como os principais "vilões" do problema. "Há muito tempo as bactérias vivem em uma espécie de guerra química contra os fungos: ambos competem para crescer em determinado local", conta Marcos Carvalho. Vale lembrar que a penicilina, primeiro antibiótico do mundo, foi desenvolvido a partir do fungo Penicillium chrysogenum. Para vencer esse inimigo embolorado é que as bactérias evoluíram ao longo de milênios, na Terra.
O especialista cita como exemplo a descoberta recente de bactérias resistentes a antibióticos em uma tribo ianomâmi na Amazônia venezuelana. Segundo pesquisa publicada por cientistas norte-americanos no periódico "Science", o grupo vive isoladamente e nunca teve contato com antibióticos, nem mesmo por meio da carne ou da água.

5. O uso de antibióticos de forma indiscriminada contribui para o surgimento de novas superbactérias
O fato de fungos e bactérias brigarem há milênios não significa que os antibióticos não sejam os vilões da história. "O uso de antimicrobianos acarreta, de forma inexorável, a possibilidade da ocorrência da resistência das bactérias a esses antimicrobianos. Entretanto o uso incorreto dos antimicrobianos potencializa este risco", reitera o infectologista Plinio Trabasso, da Unicamp.
Desde 2010, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem restringido a comercialização de antibióticos, justamente para tentar conter o surgimento de novos casos de bactérias multirresistentes. Antes disso, não era difícil comprar antibióticos por conta própria ou receitar por telefone, sem nem examinar o paciente.
Ainda que esse tipo de medicamento tenha sido essencial para combater doenças graves e aumentar a longevidade das populações, está cada vez mais claro que antibiótico é para ser consumido somente em caso de necessidade. E, nesse caso, é fundamental usar como manda a prescrição, ou seja, no período indicado pelo médico, sem esquecer nenhuma dose. "O ideal é usar o mínimo possível e corretamente", reforça Marcos Carvalho. É preciso lembrar, porém, que os humanos não são os únicos animais a consumir antibióticos...

6. A produção de animais para consumo alimentar é uma das principais fontes geradoras de superbactérias
"Usa-se uma quantidade excessiva de antibióticos como promotores de crescimento na pecuária e como defensivos agrícolas. Toda esta carga de antimicrobianos acaba sendo dispersa no meio ambiente e exerce pressão seletiva sobre as bactérias aí presentes", relata o infectologista da Unicamp Plinio Trabasso.
Ainda que uma pessoa cozinhe a carne corretamente, ela pode se contaminar ao manipular a peça crua (é por isso que existe uma série de regras de vigilância sanitária nos restaurantes, por exemplo). Além disso, quem trabalha nas fazendas de produção de carne ou açougues pode contrair e espalhar bactérias multirresistentes sem desenvolver qualquer sintoma. 

7. Algumas pessoas carregam no corpo superbactérias sem que causem doenças
Há bactérias em todo lugar, o que significa que também existe o risco de haver micro-organismos resistentes em muitos endereços. Recentemente, a pedido do jornal "Folha de S.Paulo", a Neoprospecta realizou a análise do DNA de bactérias encontradas em várias amostras coletadas em pontos diferentes da capital paulista. Foram identificados organismos com genes de resistência em terminais de ônibus, no Mercado Central e nos parques Ibirapuera e Buenos Aires.
No ano passado, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) chegou a divulgar um alerta para que cidadãos fluminenses não frequentassem as praias consideradas impróprias pelos testes de balneabilidade, o que incluía as do Flamengo e de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro. Segundo estudos, havia superbactérias nessas praias.
Em outras palavras: muita gente visita parentes internados, não lava as mãos e depois utiliza o transporte público, levando bactérias de todo o tipo para todos os lugares -- sem contar a falta de tratamento de esgoto em diversas partes do país. A maioria das pessoas não irá desenvolver nenhuma infecção, a não ser que esteja com o sistema imunológico comprometido.

8.  Pacientes hospitalares correm maior risco de contrair infecções por superbactérias
Nos hospitais, o risco de contrair um micro-organismo resistente é maior por vários motivos: o local é relativamente pequeno, fechado, reúne pessoas que estão com a saúde debilitada e que utilizam, com frequência, antibióticos. As bactérias ficam alojadas nas paredes e nos instrumentos, por isso é importante que haja uma desinfecção completa depois que o paciente sai, assim como é imprescindível que os profissionais de saúde lavem as mãos com frequência, conforme explicam os especialistas.
Quando um novo paciente é internado e desenvolve uma infecção, em geral os médicos são obrigados a utilizar antibióticos de amplo espectro, pois as culturas para determinar a quais substâncias a bactéria em questão é sensível levam 48 ou 72 horas para se desenvolver. É por isso que novas tecnologias em microbiologia são importantes: para acelerar o diagnóstico e permitir uma mudança de conduta em tempo hábil. A tentativa de tratamento com outros antibióticos, que não os desenvolvidos para aquele grupo de bactérias específico, nem sempre é bem-sucedida.

9. O número de novos antibióticos diminui a cada ano, enquanto o de superbactérias só aumenta
No ano passado, os infectologistas comemoraram a descoberta de uma nova classe de antibióticos, algo que não acontecia desde 1987. Batizada de teixobactina, a nova substância foi criada a partir de um método que extrai drogas de bactérias do solo, um ambiente promissor para a ciência -- cultivar micro-organismos em laboratório é um grande limitador, já que 99% deles não sobrevivem em condições artificiais. A nova droga ainda é uma promessa, já que só foi testada em camundongos.
Venenos e toxinas de animais têm sido outra aposta dos cientistas no combate a germes resistentes. Peptídeos, ou seja, moléculas presentes nessas substâncias, têm sido utilizados como modelo para o desenvolvimento de novas drogas. É o caso da magainina, por exemplo, proveniente da secreção da pele de um anfíbio africano. 
Outra forma de enfrentar o problema que vem sendo considerada, como informa o sócio da Neoprospecta, é utilizar vírus que atacam somente bactérias. A chamada fagoterapia foi bastante utilizada na antiga União Soviética, durante a Guerra Fria, e agora voltou a ser estudada como alternativa contra germes resistentes.

10. A falta de um rígido controle e monitoramento de infecções hospitalares pode levar ao aumento na taxa de infecção por superbactérias
Nenhum hospital, por melhor que seja, está imune aos micro-organismos multirresistentes, mas estratégias de controle têm se mostrado úteis para evitar surtos. A detecção de focos e a desinfecção adequada (antes que as infecções ocorram), assim como regras rígidas para garantir a correta lavagem das mãos entre os profissionais de saúde, são medidas fundamentais.
Até existem casos de resistência a produtos desinfetantes, mas, na maioria das vezes, seu uso é suficiente para eliminar as bactérias das superfícies -- informação que é útil também para quem não trabalha na área da saúde. Já para higienizar as mãos, basta água e sabão.
É preciso lembrar de usar a torneira ao chegar em casa, depois de usar o transporte público e, especialmente, após visitar um parente no hospital. Outra recomendação: exigir que seu médico e outros profissionais de saúde façam a higiene das mãos antes e depois de examiná-lo.

FICÇÃO HOJE OU REALIDADE NO FUTURO



Os desafios do elevador espacial

 Salvador Nogueira

Você talvez tenha visto a divertida reportagem que o Fantástico exibiu no domingo (31) sobre a empresa japonesa Obayashi Corporation que quer construir um elevador espacial em 2050. A proposta da empreiteira já havia sido abordada pelo Mensageiro Sideral no ano passado, e, convenhamos, é sensacional. Mas será que é viável?


           Concepção artística do elevador espacial da Obayashi Corporation. Sobe?

Tecnicamente, o único impedimento conhecido hoje é a dificuldade na construção de cabos com a resistência e a força suficientes para resistir às tensões de serem esticados a um comprimento de 100 mil km, espaço afora. Não sabemos como fabricá-los e a principal aposta está nos nanotubos de carbono. O difícil até agora tem sido fazê-los com a extensão necessária.
Uma alternativa recente foi explorada por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia e publicada no periódico “Nature Materials”: nanofios de diamante. Eles basicamente comprimiram benzeno a uma pressão extraordinariamente alta e obtiveram esses fios de carbono cristalino estruturado que poderiam ser ainda mais resistentes que os nanotubos. Resta saber se também haverá como produzi-los na extensão requerida — que não é pouca.
Caso esses materiais resolvam a questão, um elevador espacial, capaz de reduzir drasticamente o custo (e o drama) do transporte à órbita terrestre, poderia ser, em princípio, construído. Seria um baita desafio de engenharia, verdade, mas tecnicamente viável. O que é altamente improvável é que isso tudo possa acontecer em 35 anos, como quer a companhia japonesa. E nossos amigos da Obayashi também não explicaram quem vai pagar a obra. Segundo algumas estimativas, o sistema poderia custar a bagatela de US$ 100 bilhões.
Deu vontade de dar risada? Então é sinal de que estamos longe de ver esse projeto executado. O escritor inglês Arthur C. Clarke era um dos mais entusiasmados defensores dos elevadores espaciais — retratando-os na ficção em seus livros “As Fontes do Paraíso” e “3001” –, mas sabia que eles não seriam tão facilmente trazidos à realidade quanto outra ideia que ele ajudou a criar e a popularizar: os satélites geoestacionários de telecomunicações. Quando perguntaram a Clarke quando ele achava que um elevador espacial seria construído, ele respondeu: “Provavelmente uns cinquenta anos depois que todo mundo parar de rir.”
Nem todo mundo parou de rir, mas muitos cientistas e entusiastas já. Entre eles estão os que pertencem ao Consórcio Internacional do Elevador Espacial (ISEC), que realizará em agosto deste ano mais uma conferência científica, em Seattle, nos Estados Unidos, para tratar do tema. A exemplo da Obayashi, eles também acreditam que pode dar pé. Eu confesso que tenho minhas dúvidas.
No meu primeiro livro, “Rumo ao Infinito: Passado e Futuro da Aventura Humana na Conquista do Espaço”, publicado no longínquo ano de 2005 (alguém aí tem interesse em uma versão revisada, ampliada e atualizada?), eu abordo alguns dos desafios — talvez intransponíveis — que se colocam entre nós e o transporte espacial via elevadores.
Alguns deles são bem triviais, como o risco de terrorismo. Imagine o estrago que um Bin Laden do século 22 (supondo que todo mundo tenha parado de rir até lá) poderia fazer ao chocar um avião contra o prédio que serve de ancoragem ao elevador espacial aqui na Terra. Estamos falando de uma estrutura com uma centena de milhares quilômetros de altura, e nos primeiros 10 km não seria difícil atingi-la com um avião. Isso sem falar nos desafios que ter uma atmosfera impõem a edifícios muito altos.
Seguindo adiante, lá em cima, fora da atmosfera, temos de nos lembrar da imensa quantidade de detritos espaciais, entre lixo gerado por nós mesmos e pequenos asteroides. Você não pode desviar os cabos do elevador deles, ainda que pudesse detectá-los todos de antemão e antecipar colisões. Haveria, na melhor das hipóteses, pequenos danos constantes à estrutura, que teriam de ser reparados com frequência. E, se a manutenção for cara demais, a própria razão de ser do elevador — a redução do custo do transporte até o espaço — pode desaparecer.
Ainda assim, como alerto no livro, nesse estágio tão preliminar da pesquisa, não vale a pena abandonar a esperança. Deixemos os japoneses — e tantos outros — nos contagiarem com seus sonhos de elevadores espaciais. Afinal, outro dia mesmo os foguetes eram apenas sonhos, e antes deles até os aviões não passavam de devaneios de mentes imaginativas como as dos irmãos Wright e a de Alberto Santos-Dumont.

DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA É DE US$ 355,733 BILHÕES DE DÓLARES

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