quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

PARAGUAI



Paraguai descola do Brasil e tem 3º maior crescimento do mundo em 2013

Num ano definido pelos especialistas como "atípico" para o Paraguai, em 2013, a economia do país se "descolou" da brasileira, à qual tradicionalmente é ligada, e registrou um crescimento muito maior do que o do Brasil.
Segundo relatório do Banco Mundial, o Paraguai teve, no ano passado, o terceiro maior crescimento econômico do mundo: 14,1%. O Brasil, no mesmo período, cresceu 2,2%.

A disparidade chama a atenção, já que o Brasil tem participação estimada entre 19% e 30% no PIB paraguaio, de cerca de US$ 30 bilhões. Gráficos das economias dos dois países mostram que elas costumam ter oscilações semelhantes.
Segundo apurou a BBC Brasil, o "descolamento" está ligado a uma série de fatores, entre os quais a recuperação da economia paraguaia, após um ano de dificuldades, a maior diversificação de suas exportações (tentando diminuir sua dependência do Brasil) e uma maior abertura econômica, que inclui uma legislação tributária definida como "simples" em relação a outros países --incluindo o Brasil.

Mudança de perfil

Com 7 milhões de habitantes, cuja maioria é jovem e fala guarani, além do espanhol e muitas vezes o português, o Paraguai é o sétimo maior exportador de carne e o quarto maior exportador de soja do planeta.
Em 2012, o país teve problemas ao enfrentar a seca, que afetou a produção de soja, e também a febre aftosa. No ano passado, porém, com a recuperação da produção do país, o desempenho foi bem melhor.
"O Paraguai tem uma economia infinitamente menor que a brasileira, e, por isso, os efeitos das commodities são maiores nos seus resultados", disse um negociador brasileiro que acompanha a economia vizinha.
Mas, além disso, 2013 registrou também uma maior diversificação das exportações do país, que está dando um novo perfil ao vizinho brasileiro.
"Já são exportados produtos com valor agregado, como azeites, para diferentes mercados", afirmou o economista paraguaio Fernando Masi, do Centro de Análise e Difusão da Energia Paraguaia (Cadep). "Falta muito, mas já temos hoje sinais evidentes de um novo perfil econômico."
Além disso, o Paraguai tem conseguido exportar para países que, até alguns anos atrás, não tinham tanto destaque na balança comercial.
"Mesmo integrado ao Mercosul, o Paraguai fez a sua parte buscando outros mercados e hoje enviamos soja, carne e produtos industrializados, como plásticos, para a Rússia, o Oriente Médio e a Ásia", disse o ministro da Fazenda paraguaio, Germán Rojas, falando em português.

Barreiras e legislação

O Paraguai também estaria sendo beneficiado por sua legislação, que permite, como destacou o ministro, a livre circulação de bens e de divisas --em um momento em que barreiras comerciais afetam a circulação de bens e a movimentação financeira em outros países da América Latina.
Além disso, a legislação tributária, apontada como "simples" (no sentido de descomplicada) para os investidores nacionais e estrangeiros, estaria contando a favor.
"O Paraguai tem, neste sentido, maior abertura econômica que os outros países da região. Mas essa maior abertura também significa que ele fica mais vulnerável ao que ocorre no mercado mundial", diz um estudo do Cadep.
A BBC Brasil apurou que, nos últimos anos, entre setores empresariais e diplomáticos brasileiros e argentinos, existe um reconhecimento de que o Paraguai passou a ser um país mais atraente para investimentos.
"Estamos aplicando leis que atraem os investidores e eles percebem que aqui não há mudanças de regras, além de muita gente querendo emprego e de os salários e os custos de produção serem muito mais baixos que em outros países. E este ano entra em vigor a lei de aliança público-privada (concessão de estradas, portos, entre outros) para o setor privado", disse Germán Rojas.

'Dependência' em queda

Apesar dessas mudanças, a economia paraguaia ainda é vista como bastante atrelada à brasileira.
"Aqui falamos que o Brasil é nosso irmão mais velho. E, claro que sim, que seguimos sendo dependentes da economia brasileira", disse um assessor do governo paraguaio.
Essa dependência ocorre especialmente pelas chamadas "reexportações": quando produtos, principalmente eletrônicos, que chegam de países asiáticos ao Paraguai são enviados, legalmente, como se fossem paraguaios, para Ciudad del Este e vendidos, sobretudo, para turistas brasileiros.
Recente estudo do Cadep aponta que as reexportações representam cerca de 40% do que o Paraguai importa e elas terminam se destinando, em grande parte, ao mercado brasileiro.
As reexportações representam quase o mesmo valor que as exportações globais do Paraguai, incluindo carne e soja e excluindo a energia gerada por Itaipu, segundo dados do Banco Central do Paraguai (BCP).
Mas de acordo com o Cadep, as reexportações estão em queda. "Nos anos 1990, as reexportações de produtos estrangeiros chegaram a representar três vezes mais o valor total das exportações de bens originais (soja e carne) do país", disse Masi. "Hoje, essa proporção representa somente 40%."

Pobreza

Além disso, apesar dos indícios do surgimento de um novo ambiente empresarial, que tem atraído empresas brasileiras e multinacionais ao Paraguai, a expansão da economia não amenizou problemas que o país enfrenta há anos, como a pobreza e a corrupção.
De acordo com o Índice de Percepção de Corrupção 2013 da Transparência Internacional, o Paraguai é visto como um dos mais corruptos do continente.
No caso da pobreza, o ministro paraguaio reconheceu que é uma luta difícil.
"Ela se mantém igual há anos e queremos intensificar planos de inclusão social e gerar mais empregos a partir da lei de aliança público-privada porque a informalidade é altíssima", disse.
Em 2011, segundo dados da ONU, 49% da população paraguaia vivia em situação de pobreza.

ROLEZINHOS



O que os rolezinhos dizem sobre o direito à cidade?

por Danilo Mekari e Pedro Ribeiro Nogueira

Antes relegados à lugares invisíveis da cidade, onde não reuniam tanta gente e nem chamavam tanta atenção, os encontros de jovens da periferia de São Paulo tomaram outras proporções a partir do dia 7/12 do ano passado, quando ocorreu o primeiro rolezinho – encontro marcado via redes sociais – no Shopping Metrô Itaquera. Ao mesmo tempo, tramitava um projeto de lei que coibia os bailes funks de acontecerem nas ruas, posteriormente vetado pelo prefeito Fernando Haddad (PT).
Para quem participa está claro o motivo da reunião: se divertir, escutar música, fazer amizades e até mesmo paquerar – tudo isso dentro dos templos do consumo que esses mesmos jovens são tentados a fazer parte diariamente, através da publicidade intensa e da ostentação de outras classes mais abastadas.
Para os reais consumidores dos shoppings, porém, esses encontros são uma ameaça à tranquilidade com que fazem suas compras e, mais, devem ser devidamente contidos pelas forças de segurança e proibidos pela Justiça.
Os rolezinhos, porém, não pararam de crescer. Se antes eram restritos à capital paulista, agora se espalham por vários estados. E, se antes também se restringiam a um encontro de jovens das camadas mais populares, hoje há rolês organizados por jovens de classe média, universitários e movimentos sociais que apoiam o direito de ir e vir desses adolescentes.
Também se tornaram pauta prioritária na agenda do governo federal, por receio de se tornarem o estopim de novas manifestações, inclusive com a participação de black blocs.
Instigado por esse debate e em busca de sentidos para esse fenômeno, o Portal Aprendiz perguntou para Leonardo Sakamoto, Ermínia Maricato, Douglas Belchior, Alexandre Barbosa Pereira e Pablo Ortellado o que os rolezinhos nos dizem sobre a segregação e o direito à cidade.

Confira as respostas!
Leonardo Sakamoto – jornalista e doutor em Ciência Política, autor do Blog do Sakamoto
“A maior parte da molecada que vai aos rolezinhos não quer fazer nenhum protesto e sim curtir e ser curtido. Não são politizados, como também não era a maioria dos que foram às ruas nas jornadas de junho. Mas o cutucão, se não é o objetivo, acaba sendo o efeito colateral, pois a presença deles naquele espaço provoca uma reação violenta. Daí, há dois caminhos para analisar os rolês: quem são e o que querem esses jovens e o porquê da reação de determinados grupos sociais, sejam eles do centro ou da própria periferia.
Shoppings são bolhas, oferecem a garantia de que nada vai acontecer com você se estiver lá dentro comprando. Da mesma forma que cercas eletrificadas mentem sobre a proteção de casas, que carros blindados mentem sobre a proteção de famílias, que a presença de uma arma de fogo mente quando promete afastar qualquer risco real.
Quando centenas de “intrusos” ameaçam invadir essa realidade virtual, querendo fazer parte dela, seus usuários sentem que ela se desligou de repente e entram em pânico. Porque esse grupo de garotos e garotas talvez não entenda, mas é exatamente deles que parte do povo que se refugia em shoppings quer fugir. Fisicamente. Simbolicamente.”
Ermínia Maricato – professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP
“Nas relações sociais, no Brasil, existe uma profunda distância entre discurso e prática ou entre o texto da lei e sua aplicação. Em consequência, grande parte da sociedade permanece sem direitos previstos na legislação. São ignorados, segregados e invisíveis apesar das dimensões dessa exclusão. Como essa espécie de apartheid não é clara e assumida, vive-se uma contradição, um faz de conta. Faz de conta que isso é uma democracia, faz de conta que a lei se aplica a todos da mesma forma, faz de conta que todos têm direitos iguais, como é o caso do direito à cidade.
O que a prática dos rolezinhos tem de notável, fantástico, extraordinário mesmo, é o desnudamento dessa contradição. Quando os exilados urbanos decidem andar pela cidade, esse apartheid explode na cara da sociedade ainda que não seja essa a intenção da maior parte da moçada. Essa atitude questiona, profundamente, a sociedade que aprendeu a ser cínica (especialmente o “partido da mídia”) para esconder a incrível desigualdade de um país que não é pobre mas tem um povo pobre.”
Douglas Belchior – professor de História e integrante da UneAfro Brasil, autor do blog Negro Belchior
“Por parte dos shoppings vemos temos uma contradição, já que se espalharam pelas periferias justamente atrás do poder aquisitivo desse público que eles agora recusam.
A medida em que o mundo, através de seus valores, convence a população de que para “ser” é preciso “ter”, de que “viver” é não apenas “consumir” mas também “ostentar”… e ao mesmo tempo não proporciona espaços de convivência, de lazer e educação que provoquem o interesse da juventude, os shoppings passam a ser a grande opção.
Criminalizado como um dia fora a capoeira, o futebol, o samba e o rap, o funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é a resistência em sua forma e estética e nesse momento está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxúria e ostentação que a turma do funk.
Os meninos e meninas do funk hoje afrontam os cara-pálidas com sua presença física, com o tom de sua pele, com sua roupa, com seu som. Tudo isso, intencional ou não, é profundamente político e contestador por sua própria natureza.”
Pablo Ortellado - professor na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH) e autor do livro “20 Centavos: A Luta Contra o Aumento” (Ed. Veneta)
“Ainda permanece um pouco obscuro os motivos que levaram os jovens da periferia a marcar encontros coletivos nos shoppings da cidade – queriam mesmo só se divertir ou estariam também desafiando as barreiras econômicas e raciais que dividem os que têm dos que não têm? Seja como for, a resposta dura e anticidadã dos shopping centers e da Justiça conferiu um caráter social e político ao fenômeno.
E é nessa resposta jurídica que busca garantir aos shoppings o direito de escolher quem pode frequentá-los que se formalizou e se evidenciou a segregação espacial implícita que rege a nossa sociedade. Seja qual for a motivação, a repercussão colocou em discussão a vergonhosa separação espacial que segrega os ricos dos pobres e os brancos dos negros.”
Alexandre Barbosa Pereira – pesquisador do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (LabNAU) da USP e autor da tese “A maior zoeira: experiências juvenis na periferia de São Paulo”
“Os rolezinhos demonstram a necessidade de lutarmos por espaços, físicos, sociais e subjetivos, de representação, expressão e reconhecimento para todos. O principal recado que os jovens dos rolezinhos nos dão é o de que querem o direito a se divertir na cidade.”

Sejamos realistas. Os rolezinhos não são ciranda de rodas nem contos infantis. É um movimento de massa, consciente e justo, em que a juventude está incluída e faz reivindicações. Não vamos resolvê-las com mobilização de tropas e repressões, mas com emprego, ensino de qualidade, escolas e universidades.
Os nossos governantes estão preparados para esta Revolução Cultural?


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

SALÁRIO MÍNIMO DOS PROFESSORES



Na saída de Mercadante, MEC eleva piso em 8% e professores reclamam

RANIER BRAGON
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA

O governo federal definiu em 2014 um reajuste de 8,32% no piso nacional dos professores da educação básica e causou atrito com a categoria no momento em que Aloizio Mercadante deixa o Ministério da Educação para assumir a Casa Civil da Presidência.
Os docentes esperavam de 13% a 15%. Agora, acusam o MEC de ter "maquiado" os dados para o cálculo do índice, previsto em lei, como forma de reduzir o impacto nas contas de Estados e municípios -que pressionavam a União por um percentual menor.
Em tese, com o índice, nenhum dos 2 milhões de professores da rede pública poderá ganhar menos do que R$ 1.697 -hoje são R$ 1.567.



A CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) diz, porém, que a grande maioria dos municípios não cumpre a regra. Não há na lei punição prevista.
"O índice não condiz com o que foi repassado a Estados e municípios pelo Fundeb [fundo de apoio ao ensino básica, cujos repasses do ano anterior são usados para definir o reajuste]. O governo fez maquiagem", disse o presidente da CNTE, Roberto Leão. Ou seja, para a entidade, os repasses foram maiores.
A categoria, afirma ele, pretende fazer uma greve de três dias em março, como forma de pressionar o governo.
Paralelamente às críticas do sindicato, o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) iniciou na Justiça Federal uma ação pedindo a suspensão da portaria que definiu os parâmetros do reajuste.
A Justiça negou o pedido de liminar (decisão provisória), mas ainda julgará o mérito da ação. "Eles manipularam os dados. Temos a convicção de que o governo tungou o dinheiro dos professores", afirmou Cristovam.
Embora o MEC ainda não tenha anunciado oficialmente o índice, o percentual foi confirmado por Mercadante em reunião com os docentes, segundo a entidade, e já foi usado por alguns Estados.
Para o 1º vice-presidente do Consed (que reúne secretários estaduais de Educação), Eduardo Deschamps, a forma de cálculo precisa ser mais transparente e estável. "O índice demora muito a ser definido. Trabalhamos com um orçamento às escuras que, depois, precisa ser refeito."
Em notas, o MEC e o Tesouro Nacional negam maquiagem e afirmam que o reajuste varia de acordo com "estimativas anuais das receitas formadoras do Fundeb, as quais, não raramente, requerem revisões das projeções".
O MEC também ressaltou que a correção supera a inflação do período e que prefeituras e governos têm tido muita dificuldade de acompanhar o reajuste.
No ano passado, o aumento foi de 7,97%. Em 2012, 22,22%.



GOVERNO DEMITE O PRESIDENTE DA PETROBRAS JEAN PAUL PRATES

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