Paraguai
descola do Brasil e tem 3º maior crescimento do mundo em 2013
Num ano
definido pelos especialistas como "atípico" para o Paraguai, em 2013,
a economia do país se "descolou" da brasileira, à qual
tradicionalmente é ligada, e registrou um crescimento muito maior do que o do
Brasil.
Segundo
relatório do Banco Mundial, o Paraguai teve, no ano passado, o terceiro maior
crescimento econômico do mundo: 14,1%. O Brasil, no mesmo período, cresceu
2,2%.
A
disparidade chama a atenção, já que o Brasil tem participação estimada entre
19% e 30% no PIB paraguaio, de cerca de US$ 30 bilhões. Gráficos das economias
dos dois países mostram que elas costumam ter oscilações semelhantes.
Segundo
apurou a BBC Brasil, o "descolamento" está ligado a uma série de
fatores, entre os quais a recuperação da economia paraguaia, após um ano de
dificuldades, a maior diversificação de suas exportações (tentando diminuir sua
dependência do Brasil) e uma maior abertura econômica, que inclui uma
legislação tributária definida como "simples" em relação a outros
países --incluindo o Brasil.
Mudança de perfil
Com 7
milhões de habitantes, cuja maioria é jovem e fala guarani, além do espanhol e
muitas vezes o português, o Paraguai é o sétimo maior exportador de carne e o
quarto maior exportador de soja do planeta.
Em 2012,
o país teve problemas ao enfrentar a seca, que afetou a produção de soja, e
também a febre aftosa. No ano passado, porém, com a recuperação da produção do
país, o desempenho foi bem melhor.
"O
Paraguai tem uma economia infinitamente menor que a brasileira, e, por isso, os
efeitos das commodities são maiores nos seus resultados", disse um
negociador brasileiro que acompanha a economia vizinha.
Mas, além
disso, 2013 registrou também uma maior diversificação das exportações do país,
que está dando um novo perfil ao vizinho brasileiro.
"Já
são exportados produtos com valor agregado, como azeites, para diferentes
mercados", afirmou o economista paraguaio Fernando Masi, do Centro de
Análise e Difusão da Energia Paraguaia (Cadep). "Falta muito, mas já temos
hoje sinais evidentes de um novo perfil econômico."
Além
disso, o Paraguai tem conseguido exportar para países que, até alguns anos
atrás, não tinham tanto destaque na balança comercial.
"Mesmo
integrado ao Mercosul, o Paraguai fez a sua parte buscando outros mercados e
hoje enviamos soja, carne e produtos industrializados, como plásticos, para a
Rússia, o Oriente Médio e a Ásia", disse o ministro da Fazenda paraguaio, Germán
Rojas, falando em português.
Barreiras e legislação
O
Paraguai também estaria sendo beneficiado por sua legislação, que permite, como
destacou o ministro, a livre circulação de bens e de divisas --em um momento em
que barreiras comerciais afetam a circulação de bens e a movimentação
financeira em outros países da América Latina.
Além
disso, a legislação tributária, apontada como "simples" (no sentido
de descomplicada) para os investidores nacionais e estrangeiros, estaria
contando a favor.
"O
Paraguai tem, neste sentido, maior abertura econômica que os outros países da
região. Mas essa maior abertura também significa que ele fica mais vulnerável
ao que ocorre no mercado mundial", diz um estudo do Cadep.
A BBC
Brasil apurou que, nos últimos anos, entre setores empresariais e diplomáticos
brasileiros e argentinos, existe um reconhecimento de que o Paraguai passou a
ser um país mais atraente para investimentos.
"Estamos
aplicando leis que atraem os investidores e eles percebem que aqui não há
mudanças de regras, além de muita gente querendo emprego e de os salários e os
custos de produção serem muito mais baixos que em outros países. E este ano
entra em vigor a lei de aliança público-privada (concessão de estradas, portos,
entre outros) para o setor privado", disse Germán Rojas.
'Dependência' em queda
Apesar
dessas mudanças, a economia paraguaia ainda é vista como bastante atrelada à
brasileira.
"Aqui
falamos que o Brasil é nosso irmão mais velho. E, claro que sim, que seguimos
sendo dependentes da economia brasileira", disse um assessor do governo
paraguaio.
Essa
dependência ocorre especialmente pelas chamadas "reexportações": quando
produtos, principalmente eletrônicos, que chegam de países asiáticos ao
Paraguai são enviados, legalmente, como se fossem paraguaios, para Ciudad del
Este e vendidos, sobretudo, para turistas brasileiros.
Recente
estudo do Cadep aponta que as reexportações representam cerca de 40% do que o
Paraguai importa e elas terminam se destinando, em grande parte, ao mercado
brasileiro.
As
reexportações representam quase o mesmo valor que as exportações globais do
Paraguai, incluindo carne e soja e excluindo a energia gerada por Itaipu,
segundo dados do Banco Central do Paraguai (BCP).
Mas de
acordo com o Cadep, as reexportações estão em queda. "Nos anos 1990, as
reexportações de produtos estrangeiros chegaram a representar três vezes mais o
valor total das exportações de bens originais (soja e carne) do país",
disse Masi. "Hoje, essa proporção representa somente 40%."
Pobreza
Além
disso, apesar dos indícios do surgimento de um novo ambiente empresarial, que
tem atraído empresas brasileiras e multinacionais ao Paraguai, a expansão da
economia não amenizou problemas que o país enfrenta há anos, como a pobreza e a
corrupção.
De acordo
com o Índice de Percepção de Corrupção 2013 da Transparência Internacional, o
Paraguai é visto como um dos mais corruptos do continente.
No caso
da pobreza, o ministro paraguaio reconheceu que é uma luta difícil.
"Ela
se mantém igual há anos e queremos intensificar planos de inclusão social e
gerar mais empregos a partir da lei de aliança público-privada porque a
informalidade é altíssima", disse.
Em 2011,
segundo dados da ONU, 49% da população paraguaia vivia em situação de pobreza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário