A Defesa Civil de Maceió divulgou nota sobre o risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem,
situação que gerou alerta máximo de órgãos da prefeitura, do governo de
Alagoas e do Serviço Geológico do Brasil. Segundo a informação
divulgada às 9h56 desta sexta-feira, 1.º, o deslocamento vertical
acumulado da mina é de 1,42 metro e a velocidade vertical é de 2,6
centímetros por hora.
A equipe de análise da Defesa Civil disse se basear em dados
contínuos, incluindo análises sísmicas. A Braskem, por sua vez, diz que
vem “tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de
possíveis ocorrências”.
“Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve
transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil,
enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o
perigo”, diz a nota da Defesa Civil.
Estudos têm mostrado o aumento significativo na movimentação do solo
na mina, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um
sinkhole, ou seja, uma enorme cratera pode ser aberta na região afetada.
Após um período de estabilização, o deslocamento da mina começou a se
intensificar nos últimos dias.
Os problemas na capital alagoana começaram em 3 de março de 2018,
quando um tremor de terra causou rachaduras em ruas e casas e o
afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom
Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a
deixar suas casas naquele ano. Agora, uma decisão judicial determinou a
saída de 27 famílias da área de risco. Dessas, 14 ainda não tinham saído de casa até a noite de quinta-feira.
Está agendada uma reunião para o dia 5 de dezembro entre o presidente
da República em exercício, Geraldo Alckmin, e o governador Paulo
Dantas, que pedirá para que o governo federal esteja preparado para
ajudar Alagoas em caso de necessidade.
Em nota, a Braskem declarou que “continua mobilizada e monitorando a
situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, tomando todas as
medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”. O
texto acrescenta que “todos os dados colhidos estão sendo
compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem
trabalhando em estreita colaboração”.
Ainda segundo a empresa, a extração de sal-gema (um cloreto de sódio
que é utilizado para produzir soda cáustica e PVC) em Maceió foi
totalmente encerrada em maio de 2019. A fabricação na região teve início
em 1976.
“A Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos
poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela
Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço
nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de
2025?, diz o texto.
Ibama
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que
está em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde participa da Conferência
do Clima da ONU, COP-28, afirmou nesta sexta-feira, 1.º, que o Ibama
acompanha de perto a situação envolvendo a mina da Braskem em Maceió.
“É um licenciamento feito pelo governo do Estado, mas o Ibama está
acompanhando. Os nossos especialistas em risco ambiental estão
acompanhando de perto. A orientação do Ministério do Meio Ambiente é:
mesmo sendo algo de responsabilidade do governo estadual, nós não nos
furtamos em suplementarmente apoiar os Estados quando se trata de
questões de alto risco”, disse a ministra.
Segundo Marina, neste caso, o órgão do governo federal atua de maneira suplementar.
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou
nesta quarta-feira, 29, o projeto de lei que torna feriado nacional o
Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. A iniciativa
teve 286 votos favoráveis e 121 contra. Como a proposta já foi analisada
e aprovada pelo Senado Federal, o próximo passo é a sanção presidencial.
Com o nome de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a data
que já é considerado feriado em seis Estados (Alagoas, Amazonas, Amapá,
Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo) – e em mais de 1.000 cidades
por meio de leis municipais e estaduais, será estendida a todo o
território nacional.
De autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) a proposta dividiu a opinião dos parlamentares durante a votação na Câmara. Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) a data é fundamental para “celebrar a negritude” da população brasileira. Já para Otoni de Paula (MDB-RJ) a medida é um “erro” e trará malefícios a economia do País, porque o mês de novembro já tem muitos feriados.
O referendo convocado pelo regime de Nicolás Maduro tem
cinco perguntas, mas o cerne é sobre se a população apoia ou não a
criação de um Estado venezuelano dentro da região conhecida como
Essequibo, uma área de pouco mais de 159 mil quilômetros quadrados
(maior que o Estado do Ceará) que é alvo de uma disputa territorial com
mais de 100 anos e que é hoje administrado pela Guiana.
A preocupação com o resultado do referendo se dá por conta das suas
possíveis consequências práticas. A criação do Estado venezuelano
poderia implicar na perda, pela Guiana, de pouco mais de 70% do seu
território.
Na sexta-feira (30/11), a Corte Internacional de Justiça expediu uma
decisão sobre um pedido feito pela Guiana que solicitava que a corte
impedisse a realização do referendo. A corte não se manifestou sobre a
suposta ilegalidade do referendo, mas disse, em sentença, que a
Venezuela não poderia tomar nenhuma medida que “modificaria a situação
que atualmente prevalece no território em disputa”.
Analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o resultado deverá
ser favorável à criação do novo Estado venezuelano em terras hoje sob
administração da Guiana e a principal dúvida é: até onde o regime de
Maduro estaria disposto a colocar o plano em prática
Em visita à região no final de outubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou que o país não abriria mão de Essequibo.
“Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado”, disse.
Em meio a esse cenário de tensão entre dois países sul-americanos, o
governo brasileiro mobilizou tropas e diplomatas para evitar uma
escalada na crise.
Na quarta-feira (28/11), a poucos dias do referendo, o Ministério da
Defesa anunciou que acompanha o caso e que aumentou as ações na região.
“O Ministério da Defesa tem acompanhado a situação. As ações de
defesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país,
promovendo maior presença militar”, disse a pasta em nota enviada à BBC
News Brasil.
Especialistas e duas fontes diplomáticas brasileiras ouvidas em
caráter reservado dizem que a realização do referendo preocupa o governo
brasileiro por colocar em risco o que classificam como tradição de
resolução pacífica de conflitos territoriais na América do Sul.
Os diplomatas avaliam que a perspectiva de uma iniciativa militar dos
venezuelanos sobre o território é vista como remota, mas que o tema
deve ser tratado com cautela, especialmente porque a Venezuela realizará
eleições presidenciais em 2024 e o assunto poderia ser usado
politicamente por Maduro como plataforma de sua campanha.
Fontes diplomáticas ouvidas pela BBC News Brasil contam que a
preocupação do Brasil com o assunto tem alguns meses. No dia 9 de
novembro, o presidente brasileiro e da Guiana conversaram por
videoconferência e, segundo um diplomata brasileiro, o presidente
guianense expressou suas preocupações sobre o referendo a Lula (PT).
Duas semanas depois, no dia 22 de novembro, Lula enviou o
assessor-especial para assuntos internacionais, o embaixador Celso
Amorim, a Caracas. Ele se reuniu com Nicolás Maduro na capital
venezuelana e ambos teriam, segundo as duas fontes, conversado
longamente sobre o assunto.
Uma das fontes ouvidas pela BBC News Brasil disse que, ao longo da
conversa, Maduro teria tentado tranquilizar Amorim sobre as reais
intenções do seu governo em relação à região. O brasileiro, por sua vez,
teria expressado sua preocupação com o tema e reforçado a posição de
que a disputa seja resolvida de forma pacífica.
Dias depois, integrantes dos Ministérios das Relações Exteriores e da
Defesa passaram a analisar, conjuntamente, a crise na região.
Foi a partir dessa análise que, na quarta-feira, o Ministério da
Defesa divulgou a nota em que anuncia a intensificação das ações de
defesa na fronteira. A região de Essequibo faz divisa com a fronteira
norte do Brasil, especificamente com o Estado de Roraima.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve o deslocamento de 200
militares e veículos blindados sobre rodas para um pelotão de fronteira
localizado na cidade de Pacaraima, em Roraima, no extremo norte do
país. Também teria havido o transporte de munição.
Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avalia que a crise
preocupa o Itamaraty porque um conflito entre os dois países romperia
com a tradição pacífica de disputas territoriais na região e porque
aconteceria em uma área extremamente próxima ao Brasil.
Estima-se que 300 mil pessoas vivam em Essequibo e um conflito
poderia ter impactos econômicos e sociais nas áreas brasileiras
próximas.
Havia a previsão de que Lula e o presidente guianense se encontrassem
em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante a passagem de ambos pelo
país para a cúpula do ONU sobre o clima (COP 28), mas a reunião
bilateral acabou não ocorrendo.
Um elemento que também causa preocupação junto ao governo brasileiro é
a incerteza sobre o processo decisório dentro do governo Maduro.
Em novembro, segundo o jornal Folha de S. Paulo, emissários do
governo Venezuelano disseram que, a depender do resultado do referendo, o
governo de Caracas poderia “ser forçado pelo povo” a agir.
As declarações teriam sido dadas durante um encontro de ministros da
Defesa e de Relações Exteriores da América do Sul, em Brasília.
Logo após a decisão da Corte Internacional de Justiça sobre a
disputa, Maduro foi às redes sociais dizer que não reconhece a instância
como instrumento para resolver a disputa com a Guiana e voltou a
convocar a população a participar do plebiscito.
“Não podem minar o direito da comunidade venezuelana de se expressar através do voto”, disse Maduro.
O temor entre parte da diplomacia brasileira é que Maduro explore a
disputa sobre Essequibo de forma política para tentar mobilizar mais
votos nas eleições do ano que vem.
Essa possibilidade também é cogitada pelo professor de Relações
Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas
Carlos Lima.
“Sem dúvida a decisão do referendo e o discurso de recuperação de um
território supostamente perdido por uma ilegalidade é algo que move o
espírito nacional e pode ser um argumento nas eleições. Sabemos que
apelos ao nacionalismo podem ser fatores extremamente decisivos numa
eleição. Isso pode também servir de teste da popularidade do atual
governo”, disse à BBC News Brasil.
Em outubro deste ano, o governo e a oposição da Venezuela assinaram
um acordo prevendo regras para as eleições presidenciais de 2024 que
incluem a atuação de missões de observação da Organização das Nações
Unidas e da União Europeia.
Especialistas em Relações Internacionais ouvidos pela BBC News Brasil
se dividem quanto à possibilidade de que a crise em torno de Essequibo
possa resultar em um conflito armado.
“Acredito que o custo político de uma ação militar da Venezuela é
muito alto. Ao fazê-lo, a Venezuela estaria violando o Direito
Internacional e poderia gerar diferentes reações tanto da comunidade
internacional quanto dos países da região”, disse o professor Lucas
Carlos Lima. “Acredito que o custo é muito alto para ser factível”,
complementou.
Já para o professor aposentado de Relações Internacionais da
Universidade Federal de Santa Maria e ex-representante da Organização
dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, o referendo
colocaria Maduro sob pressão, o que poderia levá-lo a escalar a crise.
Ele chama o referendo convocado pela Venezuela de “consulta” por
considerá-lo “ilegal” do ponto de vista do Direito Internacional uma vez
que o território sobre o qual ele se destina não pertenceria,
atualmente, à Venezuela.
“Maduro terá um problema pós-consulta: o que fazer com uma vitória
que se anuncia acachapante? Desconhecer o resultado é impossível. Ele
pode aumentar a pressão na fronteira? Sim. Invadir, no que seria um
passeio militar? É provável. Esse day-after (dia seguinte) está
carregado de perigos, pois os Estados Unidos, o Reino Unido, a Colômbia
e o Brasil reagirão”, disse Seitenfus à BBC News Brasil.
Seitenfus comparou Maduro ao ditador argentino Leopoldo Galtieri que,
em 1982, determinou a ocupação das Ilhas Malvinas e foi derrotado
militarmente por tropas inglesas. A derrota é vista como um dos
elementos que antecipou o fim da ditadura militar na argentina que durou
entre 1976 e 1983.
“Caso não se contenha, Maduro será o futuro Leopoldo Galtieri”, disse.
O que é o Essequibo?
Essequibo é como ficou conhecida uma área de aproximadamente 159 mil
quilômetros quadrados (equivalente a pouco mais que o Estado do Ceará)
situada entre a Venezuela e a Guiana.
A região é rica em minerais como ouro, cobre, diamante e,
recentemente, lá também foram descobertos enormes depósitos de petróleo e
outros hidrocarbonetos.
O referendo que ser realizado neste domingo remonta uma disputa
iniciada ainda no século 19 durante o processo de independência das
ex-colônias espanholas. Em 1811, a Venezuela tornou-se independente e a
região de Essequibo passou a fazer parte do país.
Três anos depois, porém, o Reino Unido comprou a então Guiana Inglesa
por meio de um tratado com os Países Baixos. O tratado de compra, no
entanto, não definiu com precisão qual seria a linha de fronteira do
país com a Venezuela.
Em 1840, o Reino Unido nomeou o explorador Robert Shomburgk para
definir essa fronteira e uma linha, chamada Linha Schomburgk, foi
inaugurada.
Com ela, a então Guiana Inglesa passou a ter 80 mil quilômetros
quadrados adicionais em relação ao território inicialmente adquirido dos
Países Baixos.
Em 1841, começou oficialmente a disputa pelo território com denúncias sobre uma incursão indevida do Reino Unido no território.
Nas décadas seguintes, a controvérsia em torno de Essequibo passou a
fazer parte da disputa por influência na América do Sul entre os Estados
Unidos, uma potência então em ascensão, e o então poderoso Império
Britânico.
Os norte-americanos expandiram seus interesses pela região e usavam
como argumento a chamada Doutrina Monroe ,cujo slogan era “América para
americanos”. A postura representava, na prática, uma tentativa de
limitar a influência das potências europeias sobre o continente.
Em 1886, uma nova versão da Linha Schomburgk foi traçada, incorporando uma nova porção de território à Guiana Inglesa.
Nove anos depois, em 1895, os Estados Unidos, então aliados da
Venezuela, denunciaram a definição da fronteira e recomendaram que o
caso fosse definido por meio de uma arbitragem internacional.
Três anos mais tarde, em 1899, foi emitida a Sentença Arbitral de Paris, que decidiu de forma favorável ao Reino Unido.
Meio século depois, em 1949, porém, veio a público um memorando de um
advogado norte-americano que atuou na defesa da Venezuela no processo
de arbitragem em Paris.
O documento denunciava uma suposta imparcialidade dos juízes do caso.
A divulgação desse memorando e de outros documentos do processo
passaram a ser usados pela Venezuela para pedir que a Sentença de Paris
fosse considerada “nula e sem efeito”.
Em 1966, porém, o país e o Reino Unido firmaram o Acordo de Genebra,
que reconheceu a reivindicação venezuelana e se comprometeu a buscar
soluções para resolver a disputa.
Mais recentemente, a Guiana solicitou que a Corte Internacional de
Justiça, sediada em Haia, na Holanda, arbitre a disputa, mas o governo
venezuelano vem, reiteradamente, negando a legitimidade da instituição
para decidir o futuro de Essequibo.
Apesar de a disputa territorial entre os dois países ter mais de um
século de existência, as tensões passaram a se intensificar a partir de
2015, quando a petroleira norte-americana ExxonMobil anunciou ter
encontrado enormes depósitos de petróleo na costa da área disputada.
Até o momento, a multinacional americana ExxonMobil e os seus
parceiros fizeram 46 descobertas que elevaram as reservas de petróleo da
Guiana para cerca de 11 bilhões de barris, representando cerca de 0,6%
do total mundial.
As descobertas, consideradas surpreendentes, tornaram a Guiana, um
país de 800 mil habitantes, numa das economias que mais crescem no
mundo. O produto interno bruto (PIB) do país deverá crescer 25% este
ano. Em 2022, o aumento no PIB foi de 57,8%.
A exploração de petróleo na costa de Essequibo é um dos pontos mais criticados pelo regime venezuelano nos últimos anos.
O governo questiona, por exemplo, a emissão de licenças de exploração
para multinacionais que atuam na costa da região em disputa.
“A Guiana não é uma vítima, não tem títulos sobre o território em
disputa, é uma ocupante de fato e tem violentado reiteradamente o acordo
de Genebra e a legalidade internacional, outorgando unilateralmente
concessões no território terrestre e em águas de delimitação pendente”,
disse o governo venezuelano.
A equipe jurídica da Guiana, que denunciou o referendo perante o
tribunal internacional, descreve-o como uma “ameaça existencial” que
procura preparar o caminho para a anexação de Essequibo pela Venezuela.
Os diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o país vem
enviando mensagens claras ao governo venezuelano sobre a inviabilidade
de uma escalada na crise com a Guiana.
Uma demonstração disso, segundo eles, seria a manifestação do
ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reunião em que
enviados da Venezuela teriam elevado o tom sobre o referendo, em
Brasília.
“O nosso compromisso comum com a integração da América do Sul é
reiterarmos — cada um de nossos doze países — o nosso compromisso com a
solução pacífica das controvérsias”, disse o chanceler na ocasião.
Para Lucas Carlos Lima, da UFMG, o Brasil tem tentado evitar um aumento nas tensões na região.
“O Brasil também tem uma parte de suas fronteiras com a Guiana
determinada por arbitragem e acredito que não deseja que esse tipo de
assentamento pacífico se transforme em contestações. Os bastidores
diplomáticos sugerem que o Brasil está interessado em restabelecer
relações estáveis com a Venezuela e, para isso, está voltado a não
escalar o conflito”, disse o professor.
Já o professor Ricardo Seitenfus avalia que o país deveria ser mais
contundente em suas manifestações sobre o referendo venezuelano.
“O Brasl não pode ser conivente com nada que venha a abalar o
princípio da paz sul-americana […] O Brasil precisa se manifestar de
forma contundente a respeito desse referendo e deixar claro que essa
consulta é nula, pois só quem pode decidir sobre o destino de Essequibo é
a população de Essequibo e não o povo da Venezuela”, conclui o profess
Rolo compressor do governo Lula altera
estatuto da petroleira para retirar amarras que impediam loteamento de
cargos e uso político da companhia; TCU e STF ainda podem impedir
Por Notas & Informações – Jornal Estadão
O artigo 21, que a Petrobras jogou no lixo nesta semana ao invalidar
sua base mais sólida, é um dos mais extensos dos 60 que compõem o
estatuto da companhia e ditam as normas de seu funcionamento. Ao
esmiuçar, com todos os pormenores possíveis, as exigências para validar
indicados à alta administração da empresa, esse artigo buscou
interromper o loteamento político dos cargos de comando, prática que
atravessou governos, mas ganhou dimensão piramidal nas gestões petistas.
A trava, montada em 2016, quando a reputação da companhia havia sido
puxada para o fundo do poço pelos escândalos de corrupção e manipulação
política, não chegou a durar uma década. De volta ao poder, o governo
petista, sem o menor pudor, desobedeceu à legislação logo na chegada,
indicando um petista com mandato no Senado para presidir a Petrobras. Em
seguida, instalou secretários do Ministério de Minas e Energia (MME) no
Conselho de Administração. Por fim, para tornar perene a desobediência,
rasga o estatuto na parte que bloqueava a interferência política.
Para o governo não foi difícil. Embora controle a petroleira com
menos de 37% do capital total, a participação que a União detém nas
ações com direito a voto supera os 50%. Assim, o governo Lula da Silva
passou o rolo compressor na reunião de acionistas que mudou as regras
estatutárias da Petrobras. Mais especificamente as que impediam que seus
dirigentes e conselheiros representassem algum conflito de interesses
para a companhia.
O empoderamento do Comitê de Indicação, Remuneração e Sucessão da
empresa, responsável por analisar o cumprimento dos requisitos de todos
os indicados aos cargos, também desceu pelo ralo. Na verdade, o órgão
interno de governança já havia sido desautorizado antes, quando vetou os
dois conselheiros indicados pelo MME e a decisão foi revertida por
força de uma conveniente liminar do então ministro do STF Ricardo
Lewandowski, que hoje, aposentado, figura na lista de cotados por Lula
para substituir Flávio Dino no Ministério da Justiça.
A decisão isolada de Lewandowski, proferida em março, até hoje não
foi levada ao plenário da Corte. Há expectativa de que o julgamento
finalmente ocorra nos próximos dias, quase nove meses depois da decisão
monocrática do ministro que suspendeu o trecho da Lei das Estatais que
restringe indicações de conselheiros que sejam titulares de cargos
públicos. Na época, o governo usou também essa decisão para garantir a
permanência de Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Agora, com base na decisão de Lewandowski, os representantes da União
no Conselho de Administração propuseram a mudança no estatuto. E assim
segue a Petrobras, com um erro sustentando o outro. Na manobra
articulada pelo governo Lula da Silva, o que menos importa é a
integridade da empresa que – é importante frisar – é uma sociedade de
capital misto, com acionistas que não estão em busca de votos, mas sim
de uma gestão eficiente.
Esses investidores não são crédulos a ponto de comprar o discurso do
presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que disse que “em
absolutamente nenhum momento houve o desejo de contaminar a Petrobras
com interesse político colocando gente lá por conta dessas mudanças”. Ao
que parece, há uma presunção generalizada no governo de que qualquer
meio justifica o fim que, no caso, é a perpetuação de um projeto de
poder.
Está aberta a porteira da Petrobras para a entrada de integrantes do
governo e seus aliados, políticos em exercício de mandato, dirigentes
sindicais e partidários e colaboradores de campanhas políticas.
Exatamente como ocorreu em gestões anteriores do PT, com uma ingerência
política que desconhecia limites morais, éticos e até mesmo legais, que
levou a companhia à beira do abismo.
Apenas o entendimento contrário dos ministros do Tribunal de Contas
da União (TCU) poderá interromper esse movimento afrontoso. Como o TCU
apura irregularidades na política de indicações para cargos na empresa,
somente após o julgamento, se o resultado for favorável à União, esse
desrespeito poderá ser oficializado.
Confira 4 dicas para construir uma rede de contatos eficaz
O network é uma estratégia essencial para o sucesso profissional. Uma
rede de contatos bem construída pode abrir portas para novas
oportunidades de emprego, aprendizado e crescimento pessoal. De acordo
com uma pesquisa publicada na revista americana Harvard Business Review,
profissionais com um bom network têm mais chances de ser promovidos e
de receber aumentos salariais.
Lívia Felizardo, diretora de produtos da Vivae, startup de educação e
empregabilidade criada a partir de uma parceria entre a operadora Vivo e
a Ânima Educação, explica a importância de se começar a construir uma
rede de contatos sólida. “Muitas vezes, as melhores vagas são
preenchidas por meio de recomendações e indicações de contatos
profissionais. Ter uma rede ativa pode significar a diferença entre
encontrar o emprego desejado e permanecer pinçando vagas aleatórias”,
ressalta.
Mas como exatamente se constrói uma boa rede de contatos? Felizardo
aponta 4 dicas para quem está começando ou deseja ampliar sua rede.
Seja sociável e aberto a novas conexões
A primeira chave para construir um network eficaz é ser sociável e
estar aberto a novas conexões. Isso significa participar ativamente de
eventos profissionais, cursos e workshops relacionados à sua área de
atuação. É nessas ocasiões que você terá a oportunidade de conhecer
pessoas que compartilham seus interesses e objetivos profissionais.
Construa relacionamentos de qualidade
Mais importante do que a quantidade de contatos que você tem é a
qualidade dessas conexões. Não se trata apenas de acumular cartões de
visita ou conexões nas redes sociais. Em vez disso, concentre-se em
construir relacionamentos genuínos com as pessoas. Isso significa se
envolver nas conversas, entender suas necessidades e interesses, e
demonstrar disponibilidade em ajudar quando possível.
Seja um bom ouvinte
Uma habilidade muitas vezes subestimada na construção de um network é
a capacidade de ouvir. As pessoas gostam de falar sobre si mesmas, seus
projetos e suas conquistas. Portanto, seja um bom ouvinte e dê atenção
ao que os outros têm a dizer, faça perguntas e mostre interesse por suas
histórias.
Ofereça ajuda e apoio
Construir uma rede de contatos não é apenas sobre os benefícios que
você pode obter, mas também sobre o que você pode oferecer. Você pode
ajudar alguém fornecendo informações, compartilhando recursos ou, até
mesmo, oferecendo apoio moral. As pessoas tendem a reconhecer ajuda e
isso pode se traduzir em oportunidades profissionais e suporte quando
você mais precisar.
CARACTERÍSTICAS DA VALEON
Perseverança
Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em
razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer
determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a
resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é
necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que
permitem seguir perseverante.
Comunicação
Comunicação é a transferência de informação e significado de uma
pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e
compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros
por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o
ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar
conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela
através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e
políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem
positiva junto a seus públicos.
Autocuidado
Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações
que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade
de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância
com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada
pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.
Autonomia
Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em
gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias
escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida
por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é
incompatível com elas.
A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando
agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem
esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de
gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.
Inovação
Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades,
exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a
inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando
que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a
curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova
competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma
importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.
Busca por Conhecimento Tecnológico
A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender
aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de
todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia,
uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.
Capacidade de Análise
Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência
que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos
de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um
mundo com abundância de informações no qual o discernimento,
seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade
de analisar ganha importância ainda maior.
Resiliência
É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões
(inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado
emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após
momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em
líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a
capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.
As cobranças do seguro obrigatório do DPVAT (Danos Pessoais Causados
por Veículos Automotores de Via Terrestre) para proprietários de
veículos foi suspensa em 2020 e, desde então, a taxa não é recolhida,
mas isso pode mudar já em 2024.
No ano de 2020, o DPVAT deixou de ser uma cobrança compulsória, uma
vez que se descobriu que a administradora do seguro, a seguradora Líder,
havia efetuado cobranças excessivas à população brasileira.
Consequentemente, acumulou-se um excedente aproximado de R$ 4 bilhões
nos cofres da seguradora Líder. Diante deste cenário, a decisão
governamental foi de assegurar a cobertura do DPVAT para os brasileiros
utilizando os recursos excedentes existentes.
Deste modo, o governo proporcionou a dispensa desse seguro para a
população brasileira no período entre 2020 e 2023, com a previsão de
retomada da cobrança no ano de 2024.
Segundo a Caixa Econômica Federal, as indenizações solicitadas após
15 de novembro estão com pagamentos suspensos. Quem solicitou o seguro
para acidentes entre 1 de janeiro de 2021 e 14 de novembro de 2023 vai
receber a indenização.
Quem sofreu acidentes a partir de 15 de novembro também precisará ser
indenizado, no entanto, estes vão esperar o retorno do pagamento do
seguro.
O governo federal não confirma a
informação do retorno da cobrança, mas criou um grupo de trabalho, em
abril, que teria 90 dias para apresentar um relatório com estudos para
aprimorar a legislação que trata das indenizações decorrentes de
acidentes veiculares.
BRASÍLIA – O relógio marcava 0h39 da madrugada desta quinta-feira, 30, e já era feriado em Brasília quando a Câmara dos Deputados aprovou
um pacote de projetos que acelera o envio de verbas a redutos
eleitorais e diminui o controle sobre licitações de prefeituras. As
propostas são criticadas por especialistas, que apontam riscos de
desvios, falta de transparência e até formação de cartéis.
Um dos projetos, apresentado pelo deputado Otto Alencar Filho
(PSD-BA), permite que prefeituras embarquem em licitações de outros
municípios comprando os mesmos produtos dos mesmos fornecedores sem
abrir uma nova licitação.
O modelo é chamado de ata de registro de preços e serve apenas para
compras recorrentes de coisas comuns, como copos descartáveis, materiais
de limpeza e alimentos, mas já foi adotado em compras com suspeitas de
irregularidades, como asfalto do orçamento secreto, kits de robótica com indícios de superfaturamento e bistecas nunca entregues em aldeias indígenas.
De acordo com especialistas, a prática pode contaminar as licitações
nos municípios, ao estabelecer os mesmos produtos e os mesmos
fornecedores para cidades que possuem realidades diferentes. Além disso,
se for constatado algum problema na contratação, como superfaturamento
ou direcionamento para uma única empresa, todas são impactadas. A adesão
para contratações que não são recorrentes já causou desvios de dinheiro
público, como nos casos de asfalto do orçamento secreto, compra de kits
de robótica e gastos com bistecas que nunca foram entregues para
indígenas na Amazônia.
No total, foram aprovados quatro projetos apensados em uma única
proposta, o que acontece normalmente quando propostas sobre o mesmo tema
são apresentadas. O pacote foi aprovado com 307 votos favoráveis, 27
contrários e uma abstenção.
O relator, deputado Elmar Nascimento (União-BA), não estava mais na Câmara e quem leu o parecer foi o deputado Domingos Sávio (PL-MG). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
também havia deixado o local antes da deliberação. A maioria dos
deputados votou remotamente, pelo celular. No momento da aprovação, a
quantidade de deputados presentes no plenário não passava de 50.
“Nós não sabemos o que estamos votando. Eu não posso nem ser contra, nem a favor, porque nós não sabemos”, disse a deputada Julia Zanatta (PL-SC),
que votou contra. O deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) votou a favor e
admitiu que foi “convencido” por líderes partidários que o projeto era
bom, mas criticou a votação relâmpago na madrugada. “Precisamos ter
previsibilidade e saber o que estamos votando”, disse.
O bloco da Maioria, que reúne os partidos com o maior número de
parlamentares, não orientou a votação. “Vou seguir a maioria e vou
embora. A Maioria foi embora, presidente”, disse o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), provocando risos entre os colegas. Ele votou contra.
Projeto cria repasse antecipado antes da realização de obras em municípios
O pacote deve facilitar o envio de verbas federais, incluindo as
emendas parlamentares, para prefeituras em 2024, ano de eleições
municipais. Prefeitos pressionam congressistas por envio mais rápido de
dinheiro e entregas antes da disputa.
Outro projeto do pacote aprovado, de autoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS),
cria um regime simplificado para o envio de recursos federais a
municípios que assinam convênios para receber a verba e fazer as obras.
Com a proposta, se o projeto custar até R$ 1,5 milhão, o dinheiro vai
cair de uma só vez, de forma antecipada, e só depois a prefeitura vai
executar o serviço. Antes, o pagamento era feito em parcelas e dependia
do andamento da obra, o que gerava um controle maior, mas também
reclamações de prefeitos e parlamentares em função da demora.
Além disso, se a obra custar menos do que o repasse enviado pelo
governo federal, a prefeitura não terá mais que devolver o restante e
poderá usar a sobra para ampliar o projeto. Por exemplo, se planejou
pavimentar 20 ruas, poderá asfaltar mais cinco.
O modelo é uma resposta ao uso da Emenda Pix, revelada pelo Estadão,
que também envolve o repasse direto de recursos para prefeituras, mas
não é fiscalizada e tem provocado críticas de especialistas e órgãos de
controle.
O regime simplificado prevê transferência direta e antecipada, mas
ainda mantém a fiscalização federal com exigências técnicas como plano
de trabalho, licenciamento ambiental e relatórios de acompanhamento, o
que não acontece com a Emenda Pix.
A adesão à Emenda Pix cresceu
e pode atingir R$ 12 bilhões em 2024, ano de eleição municipal, mas o
uso tem incomodado alguns parlamentares, pois os prefeitos podem fazer o
que quiser com o dinheiro e muitos não gastam conforme a indicação do
congressista.
Proposta autoriza propostas sigilosas em licitações acima de R$ 1,5 milhão
O mesmo projeto abre uma brecha para diminuição da transparência em
licitações e até a formação de cartéis. Em licitações com valores acima
de R$ 1,5 milhão, empresas vão oferecer propostas de forma sigilosa para
obras de engenharia, assistência técnica e serviços de limpeza urbana.
Nesse formato, chamado de modo de disputa fechado, as propostas de
quem está interessado em vencer a licitação só são conhecidas no momento
da divulgação e da abertura de todos os lances apresentados – o que
pode facilitar a formação de conluios entre empreiteiras. O modelo já
existe, mas o projeto diz que, nas compras acima de R$ 1,5 milhão, essa
vai ser a regra.
Para o procurador de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu,
o pacote traz preocupações no momento em que o valor das emendas
parlamentares aumenta e a fiscalização diminui. “Os ingredientes do
projeto nos mostram que a situação é gravíssima e, se tiver problema em
uma licitação, o vício vai contaminar as licitações que embarcarem na
mesma contratação”, disse. “Não se elimina a burocracia desrespeitando o
patrimônio público. O projeto pode gerar uma concentração de mercado,
que é nociva e vai na contramão do próprio princípio da licitação.”
O relator do pacote, Elmar Nascimento (União-BA), afirmou no parecer
que a proposta gera maior rapidez e eficiência nas compras e
contratações por parte dos municípios. Agora, o texto dependerá de
sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Precisamos acabar com esse negócio de obra inacabada no Brasil e de
perder dinheiro público porque não se consegue concluir uma licitação
adequada”, disse o deputado Domingos Sávio (PL-MG).
História por CONSTANÇA REZENDE • Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Luís Roberto Barroso, disse nesta quinta-feira (30) que a
corte não tomou nenhuma decisão cerceadora da liberdade de expressão.
A declaração foi feita um dia após o tribunal aprovar uma tese
prevendo a possibilidade de responsabilização civil de empresas
jornalísticas que publicarem entrevistas que imputem de forma falsa
crime a terceiros.
Isto, segundo o entendimento dos ministros, valeria quando são
considerados indícios concretos de que as declarações são mentirosas.
Entidades de imprensa manifestaram preocupação com a aprovação e
cobraram esclarecimentos ao STF.
Barroso disse que Supremo reafirma o seu compromisso com a liberdade
de expressão, “que no entanto não é o único valor que deve prevalecer em
uma sociedade civilizada”.
“Portanto, não existindo censura em qualquer hipótese, toda e
qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica, pode eventualmente ser
responsabilizada por comportamento doloso por má-fé ou por grave
negligência”, declarou.
O presidente do STF acrescentou que a corte considera que a liberdade
de expressão é essencial para a democracia e reiterou a vedação
expressa de qualquer tipo de censura prévia à imprensa.
“A imprensa é um dos alicerces da democracia e tem aqui no Supremo um
dos seus principais guardiões. Nós temos dezenas de reclamações
acolhidas para assegurar a liberdade de imprensa e a liberdade de
expressão”, afirmou.
O texto aprovado pelo Supremo diz que “a plena proteção
constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo binômio
liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura
prévia, porém admitindo a possibilidade posterior de análise e
responsabilização”.
A tese foi elaborada pelo ministro Alexandre de Moraes, com mudanças
propostas por Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Essa responsabilização, que pode incluir remoção de conteúdo, seria
por “informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas,
mentirosas, e em relação a eventuais danos materiais e morais”.
“Na hipótese de publicação de entrevista em que o entrevistado imputa
falsamente prática de crime a terceiro, a empresa jornalística somente
poderá ser responsabilizada civilmente se: (i) à época da divulgação,
havia indícios concretos da falsidade da imputação; e (ii) o veículo
deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos
fatos e na divulgação da existência de tais indícios”, diz a tese
aprovada pelo Supremo.
História por STÉFANIE RIGAMONTI • Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O economista-chefe do banco Itaú e
ex-diretor do Banco Central, Mário Mesquita, afirmou nesta quarta-feira
(29) que o mercado financeiro parece ignorar o noticiário sobre as
contas públicas, mas que esse é um problema que ainda persiste, apesar
do empenho da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para
zerar o déficit fiscal no próximo ano.
“A gente tem um problema fiscal, de fato, bastante sério, até agora o
mercado não tem reagido, ou parece que perdeu a sensibilidade, mas ele
não deixa de ter suas consequências”, disse durante transmissão
organizada pela Kinea, gestora vinculada ao Itaú que tem sob gestão
cerca de R$ 120 bilhões em ativos.
Segundo Mesquita, parte da justificativa para o Itaú apostar em uma
taxa terminal para os juros básicos de 9,5% no atual ciclo de corte da
Selic, e não menos que isso, é justamente o reconhecimento da manutenção
de riscos fiscais no país.
Para o economista, o mercado reagiu melhor do que o esperado por ele à
proposta do novo arcabouço fiscal, dadas as críticas de analistas
fiscalistas ao texto enviado pelo governo ao Congresso.
Ainda assim, Mesquita ponderou que a equipe econômica mandou
mensagens positivas no início do ano ao elaborar rapidamente um
arcabouço fiscal que substituísse o já fracassado teto de gastos, e
também ao manter a meta da inflação em 3%, em vez de subir essa meta
como propôs algumas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mas Mesquita ainda percebe discursos conflitantes pró-despesas por
parte de integrantes do governo. “Vejo tensão entre o arcabouço
[fiscal], que implica algum controle de gastos, e a preferência de parte
do governo por mais gastos”, disse durante a transmissão, acompanhada
presencialmente pela reportagem.
O economista vê como preocupante discussões sobre mudança da meta
fiscal para o ano que vem, além das manobras para gastar mais sem
contabilizar algumas despesas.
Sobre a meta fiscal, Mesquita acredita que, mesmo com o mercado já
ciente das baixas possibilidades de zerar o déficit no próximo ano, a
manutenção dessa meta serve como um importante sinal para o Congresso de
que as medidas de aumento de receita devem ser priorizadas e aprovadas.
Ele diz concordar que as medidas de incremento de arrecadação são
relevantes, mas afirmou que elas são limitadas, indicando que o governo
também deveria organizar as contas públicas por meio do corte de gastos.
CRESCIMENTO ECONÔMICO
Mesquita disse que o Itaú espera um crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro deste ano entre 2,5% e 3%, muito acima das
projeções divulgadas no início do ano.
Segundo o economista, desde 2020 os analistas têm tido uma sequência
de surpresas entre as projeções para o PIB e a realidade do crescimento
econômico do país, o que sugere que os modelos não estão capturando
adequadamente o que acontece na economia.
Mesquita trouxe algumas hipóteses para essas surpresas: “Talvez os
modelos não estejam capturando adequadamente todo o impacto do
agro[negócio]. Talvez os modelos não estejam capturando adequadamente
também o impacto das transferências fiscais, das transferências
sociais”, ponderou.
“E, eu acho que também não dá para descartar a hipótese de que a
tendência de crescimento da economia brasileira seja um pouco maior do
que a gente tinha antes das reformas da agenda de 2016. Acho que é um
pouco de cada um desses fatores”, completou.
Por outro lado, Mesquita disse que o comportamento da inflação neste
ano tem estado bem alinhado às expectativas do mercado, apesar das
surpresas geopolíticas no exterior, como a guerra no Oriente Médio que
despontou recentemente.
O presidente Lula da Silva reverteu, por meio de decreto, a
liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada
(Ceitec). A empresa foi incluída no ambicioso e fracassado programa de
desestatizações do governo Jair Bolsonaro, que previa privatizar, fundir
e fechar dezenas de empresas públicas federais. Como muitos outros, o
processo da Ceitec nunca foi concluído, o que permitiu à administração
petista ressuscitar a moribunda e deficitária estatal.
O caso da Ceitec é exemplar sob vários aspectos. Ela foi uma das mais
de 40 empresas públicas federais criadas durante as administrações
petistas. Nasceu com a promessa de se tornar uma grande produtora de
chips e inserir o País no disputado mapa mundial do setor de alta
tecnologia. Nada menos.
Desde 2006, a Ceitec recebeu bilhões em investimentos do Tesouro
Nacional, via subvenções e adiantamentos para futuro aumento de capital.
Esses recursos nunca colocaram a empresa em condições para competir com
as gigantes internacionais, tampouco a impediram de registrar prejuízos
durante toda a sua existência.
A Ceitec nasceu com maquinário ultrapassado, oriundo de doações. Ao
longo dos anos, a empresa não conseguiu nem mesmo viabilizar a venda de
chips para passaportes, cuja caderneta é produzida pela também estatal
Casa da Moeda. Fechar a companhia seria um caminho natural, respaldado
pela própria Constituição, que restringe a exploração direta de
atividade econômica pelo Estado aos imperativos de segurança nacional e
relevante interesse coletivo. Chips, por óbvio, nunca se encaixaram
nessa descrição.
Assim teria sido, não fossem as trapalhadas cometidas pelo próprio
governo Bolsonaro na condução desse processo. Diversas fragilidades,
como o atropelo de prazos e o menosprezo ao cumprimento de etapas
burocráticas inerentes ao setor público, entre as quais a apresentação
de estudos para subsidiar o fechamento da empresa, levaram o Tribunal de
Contas da União (TCU) a interromper a liquidação em setembro de 2021.
Focado unicamente na reeleição e sem qualquer compromisso real com a
agenda econômica, Bolsonaro nunca conseguiu destravar o processo na
Corte de Contas. Não se sabe se houve desinteresse ou incompetência por
parte de sua equipe, mas o certo é que essa inação garantiu as condições
necessárias para o atual governo reverter a liquidação assim que tomou
posse.
O que fez Lula acreditar que a Ceitec merecia receber uma segunda
chance? Isso é algo que o governo teria a obrigação de explicar. Afinal,
se a própria concepção da Ceitec não se justificou tecnicamente,
recriá-la depois de tantos anos de prejuízo não tem o menor cabimento, a
não ser para reforçar o discurso estatizante do governo Lula.
Não se pode utilizar a covid-19 como pretexto para reativá-la. A
pandemia desorganizou as cadeias produtivas e evidenciou uma crise
mundial na produção de chips, mas as recentes tensões geopolíticas entre
Estados Unidos e China no mercado de semicondutores deixam claro que a
disputa vai muito além da mera liderança mundial no campo da tecnologia.
Modernizar a Ceitec, por óbvio, requer investimentos bilionários, com
os quais o deficitário Estado brasileiro não tem a menor condição de
arcar. Além de recursos públicos, este é um setor que depende de capital
humano, algo que a Ceitec tampouco conseguiu preservar. Com o início da
liquidação, a maioria dos empregados migrou para a concorrência, seja
no Brasil ou no exterior.
Ressuscitar a Ceitec, portanto, é uma decisão com o potencial de
drenar bilhões em recursos públicos nos próximos anos, sem qualquer
garantia de retorno em receitas, inovação ou produtividade para o País.
São muitas as necessidades, as carências e as prioridades do Estado
brasileiro em educação, ciência e tecnologia, sem as quais o crescimento
e o desenvolvimento econômico continuarão a ser um sonho distante.
Recriar a Ceitec certamente não faz parte delas. Com a reativação da
estatal inútil e deficitária, Lula atesta ser incapaz de aprender com
seus próprios erros. Pior: movido pela inabalável fé em si mesmo,
insiste em repeti-los à espera de resultados diferentes.