sábado, 2 de dezembro de 2023

MINA DE SAL GEMA EM MACEIÓ AMEAÇA COLÁPSO QUE AFETA VÁRIOS BAIRROS

História por Fabio Grellet  • Jornal Estadão

A Defesa Civil de Maceió divulgou nota sobre o risco iminente de colapso de uma mina da petroquímica Braskem, situação que gerou alerta máximo de órgãos da prefeitura, do governo de Alagoas e do Serviço Geológico do Brasil. Segundo a informação divulgada às 9h56 desta sexta-feira, 1.º, o deslocamento vertical acumulado da mina é de 1,42 metro e a velocidade vertical é de 2,6 centímetros por hora.

A equipe de análise da Defesa Civil disse se basear em dados contínuos, incluindo análises sísmicas. A Braskem, por sua vez, diz que vem “tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”.

“Por precaução, a recomendação é clara: a população não deve transitar na área desocupada até uma nova atualização da Defesa Civil, enquanto medidas de controle e monitoramento são aplicadas para reduzir o perigo”, diz a nota da Defesa Civil.

Área de risco iminente de colapso em mina da Braskem no bairro do Mutange, em Maceió Foto: Ailton Cruz/Estadão© Fornecido por Estadão

Esta semana, Maceió decretou estado de emergência após o alerta de “risco iminente de colapso” da mina 18, que é operada pela Braskem e fica no bairro de Mutange. A Defesa Civil de Maceió afirma que o colapso da mina da Braskem pode ocorrer a qualquer momento.

Estudos têm mostrado o aumento significativo na movimentação do solo na mina, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um sinkhole, ou seja, uma enorme cratera pode ser aberta na região afetada. Após um período de estabilização, o deslocamento da mina começou a se intensificar nos últimos dias.

  • Risco de colapso em Maceió e minas da Braskem: deslocamento é de 2,6 cm por hora, diz Defesa Civil© Fornecido por EstadãoRisco de colapso em Maceió e minas da Braskem: veja o antes e depois de bairros afetados

Os problemas na capital alagoana começaram em 3 de março de 2018, quando um tremor de terra causou rachaduras em ruas e casas e o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas naquele ano. Agora, uma decisão judicial determinou a saída de 27 famílias da área de risco. Dessas, 14 ainda não tinham saído de casa até a noite de quinta-feira.

Está agendada uma reunião para o dia 5 de dezembro entre o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, e o governador Paulo Dantas, que pedirá para que o governo federal esteja preparado para ajudar Alagoas em caso de necessidade.

Em nota, a Braskem declarou que “continua mobilizada e monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange, tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências”. O texto acrescenta que “todos os dados colhidos estão sendo compartilhados em tempo real com as autoridades, com quem a Braskem vem trabalhando em estreita colaboração”.

Ainda segundo a empresa, a extração de sal-gema (um cloreto de sódio que é utilizado para produzir soda cáustica e PVC) em Maceió foi totalmente encerrada em maio de 2019. A fabricação na região teve início em 1976.

“A Braskem vem adotando as medidas para o fechamento definitivo dos poços de sal, conforme plano apresentado às autoridades e aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esse plano registra 70% de avanço nas ações, e a conclusão dos trabalhos está prevista para meados de 2025?, diz o texto.

Ibama

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que está em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde participa da Conferência do Clima da ONU, COP-28, afirmou nesta sexta-feira, 1.º, que o Ibama acompanha de perto a situação envolvendo a mina da Braskem em Maceió.

“É um licenciamento feito pelo governo do Estado, mas o Ibama está acompanhando. Os nossos especialistas em risco ambiental estão acompanhando de perto. A orientação do Ministério do Meio Ambiente é: mesmo sendo algo de responsabilidade do governo estadual, nós não nos furtamos em suplementarmente apoiar os Estados quando se trata de questões de alto risco”, disse a ministra.

Segundo Marina, neste caso, o órgão do governo federal atua de maneira suplementar.

 

CÂMARA DOS DEPUTADOS CRIA NOVO FERIADO DA CONSCIÊNCIA NEGRA

História por Alex Braga  • Jornal Estadão

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 29, o projeto de lei que torna feriado nacional o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. A iniciativa teve 286 votos favoráveis e 121 contra. Como a proposta já foi analisada e aprovada pelo Senado Federal, o próximo passo é a sanção presidencial.

Plenário da Câmara dos Deputados aprovou Dia da Consciência Negra como feriado nacional Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados© Fornecido por Estadão

Com o nome de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a data que já é considerado feriado em seis Estados (Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São Paulo) – e em mais de 1.000 cidades por meio de leis municipais e estaduais, será estendida a todo o território nacional.

De autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) a proposta dividiu a opinião dos parlamentares durante a votação na Câmara. Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) a data é fundamental para “celebrar a negritude” da população brasileira. Já para Otoni de Paula (MDB-RJ) a medida é um “erro” e trará malefícios a economia do País, porque o mês de novembro já tem muitos feriados.

 

VENEZUELA AMEAÇA INVADIR ESSEQUIBO NA GUIANA

História por Leandro Prazeres – Da BBC News Brasil em Brasília  

Cartaz de campanha para o referendo sobre a região de Essequibo convocada pela Venezuela. Votação será no domingo (3/12)© Reuters

No domingo (3/12), milhões de venezuelanos deverão ir às urnas do país para se manifestar em um referendo sobre a região conhecida como Essequibo, na divisa entre a Venezuela e a República da Guiana, uma área conhecida por suas riquezas em ouro, diamantes e petróleo.

O referendo convocado pelo regime de Nicolás Maduro tem cinco perguntas, mas o cerne é sobre se a população apoia ou não a criação de um Estado venezuelano dentro da região conhecida como Essequibo, uma área de pouco mais de 159 mil quilômetros quadrados (maior que o Estado do Ceará) que é alvo de uma disputa territorial com mais de 100 anos e que é hoje administrado pela Guiana.

A preocupação com o resultado do referendo se dá por conta das suas possíveis consequências práticas. A criação do Estado venezuelano poderia implicar na perda, pela Guiana, de pouco mais de 70% do seu território.

Na sexta-feira (30/11), a Corte Internacional de Justiça expediu uma decisão sobre um pedido feito pela Guiana que solicitava que a corte impedisse a realização do referendo. A corte não se manifestou sobre a suposta ilegalidade do referendo, mas disse, em sentença, que a Venezuela não poderia tomar nenhuma medida que “modificaria a situação que atualmente prevalece no território em disputa”.

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o resultado deverá ser favorável à criação do novo Estado venezuelano em terras hoje sob administração da Guiana e a principal dúvida é: até onde o regime de Maduro estaria disposto a colocar o plano em prática

Em visita à região no final de outubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou que o país não abriria mão de Essequibo.

“Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado”, disse.

Em meio a esse cenário de tensão entre dois países sul-americanos, o governo brasileiro mobilizou tropas e diplomatas para evitar uma escalada na crise.

Na quarta-feira (28/11), a poucos dias do referendo, o Ministério da Defesa anunciou que acompanha o caso e que aumentou as ações na região.

“O Ministério da Defesa tem acompanhado a situação. As ações de defesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país, promovendo maior presença militar”, disse a pasta em nota enviada à BBC News Brasil.

Especialistas e duas fontes diplomáticas brasileiras ouvidas em caráter reservado dizem que a realização do referendo preocupa o governo brasileiro por colocar em risco o que classificam como tradição de resolução pacífica de conflitos territoriais na América do Sul.

Os diplomatas avaliam que a perspectiva de uma iniciativa militar dos venezuelanos sobre o território é vista como remota, mas que o tema deve ser tratado com cautela, especialmente porque a Venezuela realizará eleições presidenciais em 2024 e o assunto poderia ser usado politicamente por Maduro como plataforma de sua campanha.

Essequibo: por que disputa entre Venezuela e Guiana fez Brasil colocar tropas e diplomatas de prontidão?© BBC

Consultas e tropas mobilizadas

Fontes diplomáticas ouvidas pela BBC News Brasil contam que a preocupação do Brasil com o assunto tem alguns meses. No dia 9 de novembro, o presidente brasileiro e da Guiana conversaram por videoconferência e, segundo um diplomata brasileiro, o presidente guianense expressou suas preocupações sobre o referendo a Lula (PT).

Duas semanas depois, no dia 22 de novembro, Lula enviou o assessor-especial para assuntos internacionais, o embaixador Celso Amorim, a Caracas. Ele se reuniu com Nicolás Maduro na capital venezuelana e ambos teriam, segundo as duas fontes, conversado longamente sobre o assunto.

Uma das fontes ouvidas pela BBC News Brasil disse que, ao longo da conversa, Maduro teria tentado tranquilizar Amorim sobre as reais intenções do seu governo em relação à região. O brasileiro, por sua vez, teria expressado sua preocupação com o tema e reforçado a posição de que a disputa seja resolvida de forma pacífica.

Dias depois, integrantes dos Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa passaram a analisar, conjuntamente, a crise na região.

Foi a partir dessa análise que, na quarta-feira, o Ministério da Defesa divulgou a nota em que anuncia a intensificação das ações de defesa na fronteira. A região de Essequibo faz divisa com a fronteira norte do Brasil, especificamente com o Estado de Roraima.

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, houve o deslocamento de 200 militares e veículos blindados sobre rodas para um pelotão de fronteira localizado na cidade de Pacaraima, em Roraima, no extremo norte do país. Também teria havido o transporte de munição.

Um dos diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avalia que a crise preocupa o Itamaraty porque um conflito entre os dois países romperia com a tradição pacífica de disputas territoriais na região e porque aconteceria em uma área extremamente próxima ao Brasil.

Estima-se que 300 mil pessoas vivam em Essequibo e um conflito poderia ter impactos econômicos e sociais nas áreas brasileiras próximas.

Havia a previsão de que Lula e o presidente guianense se encontrassem em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, durante a passagem de ambos pelo país para a cúpula do ONU sobre o clima (COP 28), mas a reunião bilateral acabou não ocorrendo.

Um elemento que também causa preocupação junto ao governo brasileiro é a incerteza sobre o processo decisório dentro do governo Maduro.

Em novembro, segundo o jornal Folha de S. Paulo, emissários do governo Venezuelano disseram que, a depender do resultado do referendo, o governo de Caracas poderia “ser forçado pelo povo” a agir.

As declarações teriam sido dadas durante um encontro de ministros da Defesa e de Relações Exteriores da América do Sul, em Brasília.

Logo após a decisão da Corte Internacional de Justiça sobre a disputa, Maduro foi às redes sociais dizer que não reconhece a instância como instrumento para resolver a disputa com a Guiana e voltou a convocar a população a participar do plebiscito.

“Não podem minar o direito da comunidade venezuelana de se expressar através do voto”, disse Maduro.

O temor entre parte da diplomacia brasileira é que Maduro explore a disputa sobre Essequibo de forma política para tentar mobilizar mais votos nas eleições do ano que vem.

Essa possibilidade também é cogitada pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Carlos Lima.

“Sem dúvida a decisão do referendo e o discurso de recuperação de um território supostamente perdido por uma ilegalidade é algo que move o espírito nacional e pode ser um argumento nas eleições. Sabemos que apelos ao nacionalismo podem ser fatores extremamente decisivos numa eleição. Isso pode também servir de teste da popularidade do atual governo”, disse à BBC News Brasil.

Em outubro deste ano, o governo e a oposição da Venezuela assinaram um acordo prevendo regras para as eleições presidenciais de 2024 que incluem a atuação de missões de observação da Organização das Nações Unidas e da União Europeia.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, defendeu a realização do referendo apesar da oposição feita pela Guiana© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Conflito na vizinhança?

Especialistas em Relações Internacionais ouvidos pela BBC News Brasil se dividem quanto à possibilidade de que a crise em torno de Essequibo possa resultar em um conflito armado.

“Acredito que o custo político de uma ação militar da Venezuela é muito alto. Ao fazê-lo, a Venezuela estaria violando o Direito Internacional e poderia gerar diferentes reações tanto da comunidade internacional quanto dos países da região”, disse o professor Lucas Carlos Lima. “Acredito que o custo é muito alto para ser factível”, complementou.

Já para o professor aposentado de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria e ex-representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, Ricardo Seitenfus, o referendo colocaria Maduro sob pressão, o que poderia levá-lo a escalar a crise.

Ele chama o referendo convocado pela Venezuela de “consulta” por considerá-lo “ilegal” do ponto de vista do Direito Internacional uma vez que o território sobre o qual ele se destina não pertenceria, atualmente, à Venezuela.

“Maduro terá um problema pós-consulta: o que fazer com uma vitória que se anuncia acachapante? Desconhecer o resultado é impossível. Ele pode aumentar a pressão na fronteira? Sim. Invadir, no que seria um passeio militar? É provável. Esse day-after (dia seguinte) está carregado de perigos, pois os Estados Unidos, o Reino Unido, a Colômbia e o Brasil reagirão”, disse Seitenfus à BBC News Brasil.

Seitenfus comparou Maduro ao ditador argentino Leopoldo Galtieri que, em 1982, determinou a ocupação das Ilhas Malvinas e foi derrotado militarmente por tropas inglesas. A derrota é vista como um dos elementos que antecipou o fim da ditadura militar na argentina que durou entre 1976 e 1983.

“Caso não se contenha, Maduro será o futuro Leopoldo Galtieri”, disse.

O que é o Essequibo?

Essequibo é como ficou conhecida uma área de aproximadamente 159 mil quilômetros quadrados (equivalente a pouco mais que o Estado do Ceará) situada entre a Venezuela e a Guiana.

A região é rica em minerais como ouro, cobre, diamante e, recentemente, lá também foram descobertos enormes depósitos de petróleo e outros hidrocarbonetos.

O referendo que ser realizado neste domingo remonta uma disputa iniciada ainda no século 19 durante o processo de independência das ex-colônias espanholas. Em 1811, a Venezuela tornou-se independente e a região de Essequibo passou a fazer parte do país.

Três anos depois, porém, o Reino Unido comprou a então Guiana Inglesa por meio de um tratado com os Países Baixos. O tratado de compra, no entanto, não definiu com precisão qual seria a linha de fronteira do país com a Venezuela.

Em 1840, o Reino Unido nomeou o explorador Robert Shomburgk para definir essa fronteira e uma linha, chamada Linha Schomburgk, foi inaugurada.

Com ela, a então Guiana Inglesa passou a ter 80 mil quilômetros quadrados adicionais em relação ao território inicialmente adquirido dos Países Baixos.

Em 1841, começou oficialmente a disputa pelo território com denúncias sobre uma incursão indevida do Reino Unido no território.

Nas décadas seguintes, a controvérsia em torno de Essequibo passou a fazer parte da disputa por influência na América do Sul entre os Estados Unidos, uma potência então em ascensão, e o então poderoso Império Britânico.

Os norte-americanos expandiram seus interesses pela região e usavam como argumento a chamada Doutrina Monroe ,cujo slogan era “América para americanos”. A postura representava, na prática, uma tentativa de limitar a influência das potências europeias sobre o continente.

Em 1886, uma nova versão da Linha Schomburgk foi traçada, incorporando uma nova porção de território à Guiana Inglesa.

Nove anos depois, em 1895, os Estados Unidos, então aliados da Venezuela, denunciaram a definição da fronteira e recomendaram que o caso fosse definido por meio de uma arbitragem internacional.

Três anos mais tarde, em 1899, foi emitida a Sentença Arbitral de Paris, que decidiu de forma favorável ao Reino Unido.

Meio século depois, em 1949, porém, veio a público um memorando de um advogado norte-americano que atuou na defesa da Venezuela no processo de arbitragem em Paris.

O documento denunciava uma suposta imparcialidade dos juízes do caso. A divulgação desse memorando e de outros documentos do processo passaram a ser usados pela Venezuela para pedir que a Sentença de Paris fosse considerada “nula e sem efeito”.

Em 1966, porém, o país e o Reino Unido firmaram o Acordo de Genebra, que reconheceu a reivindicação venezuelana e se comprometeu a buscar soluções para resolver a disputa.

Mais recentemente, a Guiana solicitou que a Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia, na Holanda, arbitre a disputa, mas o governo venezuelano vem, reiteradamente, negando a legitimidade da instituição para decidir o futuro de Essequibo.

Essequibo: por que disputa entre Venezuela e Guiana fez Brasil colocar tropas e diplomatas de prontidão?© BBC

Reinício da disputa

Apesar de a disputa territorial entre os dois países ter mais de um século de existência, as tensões passaram a se intensificar a partir de 2015, quando a petroleira norte-americana ExxonMobil anunciou ter encontrado enormes depósitos de petróleo na costa da área disputada.

Até o momento, a multinacional americana ExxonMobil e os seus parceiros fizeram 46 descobertas que elevaram as reservas de petróleo da Guiana para cerca de 11 bilhões de barris, representando cerca de 0,6% do total mundial.

As descobertas, consideradas surpreendentes, tornaram a Guiana, um país de 800 mil habitantes, numa das economias que mais crescem no mundo. O produto interno bruto (PIB) do país deverá crescer 25% este ano. Em 2022, o aumento no PIB foi de 57,8%.

A exploração de petróleo na costa de Essequibo é um dos pontos mais criticados pelo regime venezuelano nos últimos anos.

O governo questiona, por exemplo, a emissão de licenças de exploração para multinacionais que atuam na costa da região em disputa.

“A Guiana não é uma vítima, não tem títulos sobre o território em disputa, é uma ocupante de fato e tem violentado reiteradamente o acordo de Genebra e a legalidade internacional, outorgando unilateralmente concessões no território terrestre e em águas de delimitação pendente”, disse o governo venezuelano.

A equipe jurídica da Guiana, que denunciou o referendo perante o tribunal internacional, descreve-o como uma “ameaça existencial” que procura preparar o caminho para a anexação de Essequibo pela Venezuela.

A costa da região de Essequibo contém vastas reservas de petróleo© Reuters

O papel do Brasil

Os diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que o país vem enviando mensagens claras ao governo venezuelano sobre a inviabilidade de uma escalada na crise com a Guiana.

Uma demonstração disso, segundo eles, seria a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante a reunião em que enviados da Venezuela teriam elevado o tom sobre o referendo, em Brasília.

“O nosso compromisso comum com a integração da América do Sul é reiterarmos — cada um de nossos doze países — o nosso compromisso com a solução pacífica das controvérsias”, disse o chanceler na ocasião.

Para Lucas Carlos Lima, da UFMG, o Brasil tem tentado evitar um aumento nas tensões na região.

“O Brasil também tem uma parte de suas fronteiras com a Guiana determinada por arbitragem e acredito que não deseja que esse tipo de assentamento pacífico se transforme em contestações. Os bastidores diplomáticos sugerem que o Brasil está interessado em restabelecer relações estáveis com a Venezuela e, para isso, está voltado a não escalar o conflito”, disse o professor.

Já o professor Ricardo Seitenfus avalia que o país deveria ser mais contundente em suas manifestações sobre o referendo venezuelano.

“O Brasl não pode ser conivente com nada que venha a abalar o princípio da paz sul-americana […] O Brasil precisa se manifestar de forma contundente a respeito desse referendo e deixar claro que essa consulta é nula, pois só quem pode decidir sobre o destino de Essequibo é a população de Essequibo e não o povo da Venezuela”, conclui o profess

 

VOLTAM AS DECISÕES POLÍTICAS NA PETROBRAS

Rolo compressor do governo Lula altera estatuto da petroleira para retirar amarras que impediam loteamento de cargos e uso político da companhia; TCU e STF ainda podem impedir

Por Notas & Informações – Jornal Estadão

O artigo 21, que a Petrobras jogou no lixo nesta semana ao invalidar sua base mais sólida, é um dos mais extensos dos 60 que compõem o estatuto da companhia e ditam as normas de seu funcionamento. Ao esmiuçar, com todos os pormenores possíveis, as exigências para validar indicados à alta administração da empresa, esse artigo buscou interromper o loteamento político dos cargos de comando, prática que atravessou governos, mas ganhou dimensão piramidal nas gestões petistas.

A trava, montada em 2016, quando a reputação da companhia havia sido puxada para o fundo do poço pelos escândalos de corrupção e manipulação política, não chegou a durar uma década. De volta ao poder, o governo petista, sem o menor pudor, desobedeceu à legislação logo na chegada, indicando um petista com mandato no Senado para presidir a Petrobras. Em seguida, instalou secretários do Ministério de Minas e Energia (MME) no Conselho de Administração. Por fim, para tornar perene a desobediência, rasga o estatuto na parte que bloqueava a interferência política.

Para o governo não foi difícil. Embora controle a petroleira com menos de 37% do capital total, a participação que a União detém nas ações com direito a voto supera os 50%. Assim, o governo Lula da Silva passou o rolo compressor na reunião de acionistas que mudou as regras estatutárias da Petrobras. Mais especificamente as que impediam que seus dirigentes e conselheiros representassem algum conflito de interesses para a companhia.

O empoderamento do Comitê de Indicação, Remuneração e Sucessão da empresa, responsável por analisar o cumprimento dos requisitos de todos os indicados aos cargos, também desceu pelo ralo. Na verdade, o órgão interno de governança já havia sido desautorizado antes, quando vetou os dois conselheiros indicados pelo MME e a decisão foi revertida por força de uma conveniente liminar do então ministro do STF Ricardo Lewandowski, que hoje, aposentado, figura na lista de cotados por Lula para substituir Flávio Dino no Ministério da Justiça.

A decisão isolada de Lewandowski, proferida em março, até hoje não foi levada ao plenário da Corte. Há expectativa de que o julgamento finalmente ocorra nos próximos dias, quase nove meses depois da decisão monocrática do ministro que suspendeu o trecho da Lei das Estatais que restringe indicações de conselheiros que sejam titulares de cargos públicos. Na época, o governo usou também essa decisão para garantir a permanência de Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Agora, com base na decisão de Lewandowski, os representantes da União no Conselho de Administração propuseram a mudança no estatuto. E assim segue a Petrobras, com um erro sustentando o outro. Na manobra articulada pelo governo Lula da Silva, o que menos importa é a integridade da empresa que – é importante frisar – é uma sociedade de capital misto, com acionistas que não estão em busca de votos, mas sim de uma gestão eficiente.

Esses investidores não são crédulos a ponto de comprar o discurso do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que disse que “em absolutamente nenhum momento houve o desejo de contaminar a Petrobras com interesse político colocando gente lá por conta dessas mudanças”. Ao que parece, há uma presunção generalizada no governo de que qualquer meio justifica o fim que, no caso, é a perpetuação de um projeto de poder.

Está aberta a porteira da Petrobras para a entrada de integrantes do governo e seus aliados, políticos em exercício de mandato, dirigentes sindicais e partidários e colaboradores de campanhas políticas. Exatamente como ocorreu em gestões anteriores do PT, com uma ingerência política que desconhecia limites morais, éticos e até mesmo legais, que levou a companhia à beira do abismo.

Apenas o entendimento contrário dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) poderá interromper esse movimento afrontoso. Como o TCU apura irregularidades na política de indicações para cargos na empresa, somente após o julgamento, se o resultado for favorável à União, esse desrespeito poderá ser oficializado.

 

NETWORKING É UMA ESTRATÉGIA ESSENCIAL PARA O SUCESSO PROFISSIONAL

 

Lívia Felizardo, diretora de produtos da Vivae

 Confira 4 dicas para construir uma rede de contatos eficaz

O network é uma estratégia essencial para o sucesso profissional. Uma rede de contatos bem construída pode abrir portas para novas oportunidades de emprego, aprendizado e crescimento pessoal. De acordo com uma pesquisa publicada na revista americana Harvard Business Review, profissionais com um bom network têm mais chances de ser promovidos e de receber aumentos salariais.

Lívia Felizardo, diretora de produtos da Vivae, startup de educação e empregabilidade criada a partir de uma parceria entre a operadora Vivo e a Ânima Educação, explica a importância de se começar a construir uma rede de contatos sólida. “Muitas vezes, as melhores vagas são preenchidas por meio de recomendações e indicações de contatos profissionais. Ter uma rede ativa pode significar a diferença entre encontrar o emprego desejado e permanecer pinçando vagas aleatórias”, ressalta.

Mas como exatamente se constrói uma boa rede de contatos? Felizardo aponta 4 dicas para quem está começando ou deseja ampliar sua rede.

Seja sociável e aberto a novas conexões

A primeira chave para construir um network eficaz é ser sociável e estar aberto a novas conexões. Isso significa participar ativamente de eventos profissionais, cursos e workshops relacionados à sua área de atuação. É nessas ocasiões que você terá a oportunidade de conhecer pessoas que compartilham seus interesses e objetivos profissionais.

Construa relacionamentos de qualidade

Mais importante do que a quantidade de contatos que você tem é a qualidade dessas conexões. Não se trata apenas de acumular cartões de visita ou conexões nas redes sociais. Em vez disso, concentre-se em construir relacionamentos genuínos com as pessoas. Isso significa se envolver nas conversas, entender suas necessidades e interesses, e demonstrar disponibilidade em ajudar quando possível.

Seja um bom ouvinte

Uma habilidade muitas vezes subestimada na construção de um network é a capacidade de ouvir. As pessoas gostam de falar sobre si mesmas, seus projetos e suas conquistas. Portanto, seja um bom ouvinte e dê atenção ao que os outros têm a dizer, faça perguntas e mostre interesse por suas histórias.

Ofereça ajuda e apoio

Construir uma rede de contatos não é apenas sobre os benefícios que você pode obter, mas também sobre o que você pode oferecer. Você pode ajudar alguém fornecendo informações, compartilhando recursos ou, até mesmo, oferecendo apoio moral. As pessoas tendem a reconhecer ajuda e isso pode se traduzir em oportunidades profissionais e suporte quando você mais precisar.

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

SEGURO DPVAT PODERÁ VOLTAR A SER COBRADO EM 2024

 

História por diegof  • IstoÉ

As cobranças do seguro obrigatório do DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre) para proprietários de veículos foi suspensa em 2020 e, desde então, a taxa não é recolhida, mas isso pode mudar já em 2024.

No ano de 2020, o DPVAT deixou de ser uma cobrança compulsória, uma vez que se descobriu que a administradora do seguro, a seguradora Líder, havia efetuado cobranças excessivas à população brasileira.

Consequentemente, acumulou-se um excedente aproximado de R$ 4 bilhões nos cofres da seguradora Líder. Diante deste cenário, a decisão governamental foi de assegurar a cobertura do DPVAT para os brasileiros utilizando os recursos excedentes existentes.

Deste modo, o governo proporcionou a dispensa desse seguro para a população brasileira no período entre 2020 e 2023, com a previsão de retomada da cobrança no ano de 2024.

Segundo a Caixa Econômica Federal, as indenizações solicitadas após 15 de novembro estão com pagamentos suspensos. Quem solicitou o seguro para acidentes entre 1 de janeiro de 2021 e 14 de novembro de 2023 vai receber a indenização.

Quem sofreu acidentes a partir de 15 de novembro também precisará ser indenizado, no entanto, estes vão esperar o retorno do pagamento do seguro.

O governo federal não confirma a informação do retorno da cobrança, mas criou um grupo de trabalho, em abril, que teria 90 dias para apresentar um relatório com estudos para aprimorar a legislação que trata das indenizações decorrentes de acidentes veiculares.

DEPUTADOS EM VOTAÇÃO RELÂMPAGO APROVARAM UM PACOTE DE PROJETOS DE VERBAS ELEITORAIS E DIFICULTAM A FISCALIZAÇÃO

 

História por Daniel Weterman  • Jornal Estadão

BRASÍLIA – O relógio marcava 0h39 da madrugada desta quinta-feira, 30, e já era feriado em Brasília quando a Câmara dos Deputados aprovou um pacote de projetos que acelera o envio de verbas a redutos eleitorais e diminui o controle sobre licitações de prefeituras. As propostas são criticadas por especialistas, que apontam riscos de desvios, falta de transparência e até formação de cartéis.

Pacote que reduz controle sobre licitações foi discutido e votado em madrugada de feriado na Câmara. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados© Fornecido por Estadão

Um dos projetos, apresentado pelo deputado Otto Alencar Filho (PSD-BA), permite que prefeituras embarquem em licitações de outros municípios comprando os mesmos produtos dos mesmos fornecedores sem abrir uma nova licitação.

O modelo é chamado de ata de registro de preços e serve apenas para compras recorrentes de coisas comuns, como copos descartáveis, materiais de limpeza e alimentos, mas já foi adotado em compras com suspeitas de irregularidades, como asfalto do orçamento secretokits de robótica com indícios de superfaturamento e bistecas nunca entregues em aldeias indígenas.

De acordo com especialistas, a prática pode contaminar as licitações nos municípios, ao estabelecer os mesmos produtos e os mesmos fornecedores para cidades que possuem realidades diferentes. Além disso, se for constatado algum problema na contratação, como superfaturamento ou direcionamento para uma única empresa, todas são impactadas. A adesão para contratações que não são recorrentes já causou desvios de dinheiro público, como nos casos de asfalto do orçamento secreto, compra de kits de robótica e gastos com bistecas que nunca foram entregues para indígenas na Amazônia.

No total, foram aprovados quatro projetos apensados em uma única proposta, o que acontece normalmente quando propostas sobre o mesmo tema são apresentadas. O pacote foi aprovado com 307 votos favoráveis, 27 contrários e uma abstenção.

O relator, deputado Elmar Nascimento (União-BA), não estava mais na Câmara e quem leu o parecer foi o deputado Domingos Sávio (PL-MG). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também havia deixado o local antes da deliberação. A maioria dos deputados votou remotamente, pelo celular. No momento da aprovação, a quantidade de deputados presentes no plenário não passava de 50.

“Nós não sabemos o que estamos votando. Eu não posso nem ser contra, nem a favor, porque nós não sabemos”, disse a deputada Julia Zanatta (PL-SC), que votou contra. O deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) votou a favor e admitiu que foi “convencido” por líderes partidários que o projeto era bom, mas criticou a votação relâmpago na madrugada. “Precisamos ter previsibilidade e saber o que estamos votando”, disse.

O bloco da Maioria, que reúne os partidos com o maior número de parlamentares, não orientou a votação. “Vou seguir a maioria e vou embora. A Maioria foi embora, presidente”, disse o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), provocando risos entre os colegas. Ele votou contra.

Relator do projeto, Elmar Nascimento (União-BA), não estava no plenário e parecer foi lido pelo deputado Domingos Sávio (PL-MG), na foto. Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados© Fornecido por Estadão

Projeto cria repasse antecipado antes da realização de obras em municípios

O pacote deve facilitar o envio de verbas federais, incluindo as emendas parlamentares, para prefeituras em 2024, ano de eleições municipais. Prefeitos pressionam congressistas por envio mais rápido de dinheiro e entregas antes da disputa.

Outro projeto do pacote aprovado, de autoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS), cria um regime simplificado para o envio de recursos federais a municípios que assinam convênios para receber a verba e fazer as obras.

Com a proposta, se o projeto custar até R$ 1,5 milhão, o dinheiro vai cair de uma só vez, de forma antecipada, e só depois a prefeitura vai executar o serviço. Antes, o pagamento era feito em parcelas e dependia do andamento da obra, o que gerava um controle maior, mas também reclamações de prefeitos e parlamentares em função da demora.

Além disso, se a obra custar menos do que o repasse enviado pelo governo federal, a prefeitura não terá mais que devolver o restante e poderá usar a sobra para ampliar o projeto. Por exemplo, se planejou pavimentar 20 ruas, poderá asfaltar mais cinco.

O modelo é uma resposta ao uso da Emenda Pix, revelada pelo Estadão, que também envolve o repasse direto de recursos para prefeituras, mas não é fiscalizada e tem provocado críticas de especialistas e órgãos de controle.

O regime simplificado prevê transferência direta e antecipada, mas ainda mantém a fiscalização federal com exigências técnicas como plano de trabalho, licenciamento ambiental e relatórios de acompanhamento, o que não acontece com a Emenda Pix.

A adesão à Emenda Pix cresceu e pode atingir R$ 12 bilhões em 2024, ano de eleição municipal, mas o uso tem incomodado alguns parlamentares, pois os prefeitos podem fazer o que quiser com o dinheiro e muitos não gastam conforme a indicação do congressista.

Proposta autoriza propostas sigilosas em licitações acima de R$ 1,5 milhão

O mesmo projeto abre uma brecha para diminuição da transparência em licitações e até a formação de cartéis. Em licitações com valores acima de R$ 1,5 milhão, empresas vão oferecer propostas de forma sigilosa para obras de engenharia, assistência técnica e serviços de limpeza urbana.

Nesse formato, chamado de modo de disputa fechado, as propostas de quem está interessado em vencer a licitação só são conhecidas no momento da divulgação e da abertura de todos os lances apresentados – o que pode facilitar a formação de conluios entre empreiteiras. O modelo já existe, mas o projeto diz que, nas compras acima de R$ 1,5 milhão, essa vai ser a regra.

Para o procurador de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, o pacote traz preocupações no momento em que o valor das emendas parlamentares aumenta e a fiscalização diminui. “Os ingredientes do projeto nos mostram que a situação é gravíssima e, se tiver problema em uma licitação, o vício vai contaminar as licitações que embarcarem na mesma contratação”, disse. “Não se elimina a burocracia desrespeitando o patrimônio público. O projeto pode gerar uma concentração de mercado, que é nociva e vai na contramão do próprio princípio da licitação.”

O relator do pacote, Elmar Nascimento (União-BA), afirmou no parecer que a proposta gera maior rapidez e eficiência nas compras e contratações por parte dos municípios. Agora, o texto dependerá de sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Precisamos acabar com esse negócio de obra inacabada no Brasil e de perder dinheiro público porque não se consegue concluir uma licitação adequada”, disse o deputado Domingos Sávio (PL-MG).

STF QUER PUNIR A IMPRENSA MAIS AFIRMA QUE NÃO HÁ CENSURA

 

História por CONSTANÇA REZENDE  • Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, disse nesta quinta-feira (30) que a corte não tomou nenhuma decisão cerceadora da liberdade de expressão.

A declaração foi feita um dia após o tribunal aprovar uma tese prevendo a possibilidade de responsabilização civil de empresas jornalísticas que publicarem entrevistas que imputem de forma falsa crime a terceiros.

Isto, segundo o entendimento dos ministros, valeria quando são considerados indícios concretos de que as declarações são mentirosas. Entidades de imprensa manifestaram preocupação com a aprovação e cobraram esclarecimentos ao STF.

Barroso disse que Supremo reafirma o seu compromisso com a liberdade de expressão, “que no entanto não é o único valor que deve prevalecer em uma sociedade civilizada”.

“Portanto, não existindo censura em qualquer hipótese, toda e qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica, pode eventualmente ser responsabilizada por comportamento doloso por má-fé ou por grave negligência”, declarou.

O presidente do STF acrescentou que a corte considera que a liberdade de expressão é essencial para a democracia e reiterou a vedação expressa de qualquer tipo de censura prévia à imprensa.

“A imprensa é um dos alicerces da democracia e tem aqui no Supremo um dos seus principais guardiões. Nós temos dezenas de reclamações acolhidas para assegurar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão”, afirmou.

O texto aprovado pelo Supremo diz que “a plena proteção constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo binômio liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura prévia, porém admitindo a possibilidade posterior de análise e responsabilização”.

A tese foi elaborada pelo ministro Alexandre de Moraes, com mudanças propostas por Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Essa responsabilização, que pode incluir remoção de conteúdo, seria por “informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas, e em relação a eventuais danos materiais e morais”.

“Na hipótese de publicação de entrevista em que o entrevistado imputa falsamente prática de crime a terceiro, a empresa jornalística somente poderá ser responsabilizada civilmente se: (i) à época da divulgação, havia indícios concretos da falsidade da imputação; e (ii) o veículo deixou de observar o dever de cuidado na verificação da veracidade dos fatos e na divulgação da existência de tais indícios”, diz a tese aprovada pelo Supremo.

O BRASIL TEM UM PROBLEMA FISCAL SÉRIO E O MERCADO FINANCEIRO PARECE IGNORAR

 

História por STÉFANIE RIGAMONTI  • Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O economista-chefe do banco Itaú e ex-diretor do Banco Central, Mário Mesquita, afirmou nesta quarta-feira (29) que o mercado financeiro parece ignorar o noticiário sobre as contas públicas, mas que esse é um problema que ainda persiste, apesar do empenho da equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para zerar o déficit fiscal no próximo ano.

“A gente tem um problema fiscal, de fato, bastante sério, até agora o mercado não tem reagido, ou parece que perdeu a sensibilidade, mas ele não deixa de ter suas consequências”, disse durante transmissão organizada pela Kinea, gestora vinculada ao Itaú que tem sob gestão cerca de R$ 120 bilhões em ativos.

Segundo Mesquita, parte da justificativa para o Itaú apostar em uma taxa terminal para os juros básicos de 9,5% no atual ciclo de corte da Selic, e não menos que isso, é justamente o reconhecimento da manutenção de riscos fiscais no país.

Para o economista, o mercado reagiu melhor do que o esperado por ele à proposta do novo arcabouço fiscal, dadas as críticas de analistas fiscalistas ao texto enviado pelo governo ao Congresso.

Ainda assim, Mesquita ponderou que a equipe econômica mandou mensagens positivas no início do ano ao elaborar rapidamente um arcabouço fiscal que substituísse o já fracassado teto de gastos, e também ao manter a meta da inflação em 3%, em vez de subir essa meta como propôs algumas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mas Mesquita ainda percebe discursos conflitantes pró-despesas por parte de integrantes do governo. “Vejo tensão entre o arcabouço [fiscal], que implica algum controle de gastos, e a preferência de parte do governo por mais gastos”, disse durante a transmissão, acompanhada presencialmente pela reportagem.

O economista vê como preocupante discussões sobre mudança da meta fiscal para o ano que vem, além das manobras para gastar mais sem contabilizar algumas despesas.

Sobre a meta fiscal, Mesquita acredita que, mesmo com o mercado já ciente das baixas possibilidades de zerar o déficit no próximo ano, a manutenção dessa meta serve como um importante sinal para o Congresso de que as medidas de aumento de receita devem ser priorizadas e aprovadas.

Ele diz concordar que as medidas de incremento de arrecadação são relevantes, mas afirmou que elas são limitadas, indicando que o governo também deveria organizar as contas públicas por meio do corte de gastos.

CRESCIMENTO ECONÔMICO

Mesquita disse que o Itaú espera um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deste ano entre 2,5% e 3%, muito acima das projeções divulgadas no início do ano.

Segundo o economista, desde 2020 os analistas têm tido uma sequência de surpresas entre as projeções para o PIB e a realidade do crescimento econômico do país, o que sugere que os modelos não estão capturando adequadamente o que acontece na economia.

Mesquita trouxe algumas hipóteses para essas surpresas: “Talvez os modelos não estejam capturando adequadamente todo o impacto do agro[negócio]. Talvez os modelos não estejam capturando adequadamente também o impacto das transferências fiscais, das transferências sociais”, ponderou.

“E, eu acho que também não dá para descartar a hipótese de que a tendência de crescimento da economia brasileira seja um pouco maior do que a gente tinha antes das reformas da agenda de 2016. Acho que é um pouco de cada um desses fatores”, completou.

Por outro lado, Mesquita disse que o comportamento da inflação neste ano tem estado bem alinhado às expectativas do mercado, apesar das surpresas geopolíticas no exterior, como a guerra no Oriente Médio que despontou recentemente.

CEITEC REESTATIZADA TEM MAQUINÁRIO ULTRAPASSADO NÃO TEM FUNCIONÁRIOS ESPECIALIZADOS E DÁ PREJUÍZOS DE BILHÕES

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

O presidente Lula da Silva reverteu, por meio de decreto, a liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). A empresa foi incluída no ambicioso e fracassado programa de desestatizações do governo Jair Bolsonaro, que previa privatizar, fundir e fechar dezenas de empresas públicas federais. Como muitos outros, o processo da Ceitec nunca foi concluído, o que permitiu à administração petista ressuscitar a moribunda e deficitária estatal.

O caso da Ceitec é exemplar sob vários aspectos. Ela foi uma das mais de 40 empresas públicas federais criadas durante as administrações petistas. Nasceu com a promessa de se tornar uma grande produtora de chips e inserir o País no disputado mapa mundial do setor de alta tecnologia. Nada menos.

Desde 2006, a Ceitec recebeu bilhões em investimentos do Tesouro Nacional, via subvenções e adiantamentos para futuro aumento de capital. Esses recursos nunca colocaram a empresa em condições para competir com as gigantes internacionais, tampouco a impediram de registrar prejuízos durante toda a sua existência.

A Ceitec nasceu com maquinário ultrapassado, oriundo de doações. Ao longo dos anos, a empresa não conseguiu nem mesmo viabilizar a venda de chips para passaportes, cuja caderneta é produzida pela também estatal Casa da Moeda. Fechar a companhia seria um caminho natural, respaldado pela própria Constituição, que restringe a exploração direta de atividade econômica pelo Estado aos imperativos de segurança nacional e relevante interesse coletivo. Chips, por óbvio, nunca se encaixaram nessa descrição.

Assim teria sido, não fossem as trapalhadas cometidas pelo próprio governo Bolsonaro na condução desse processo. Diversas fragilidades, como o atropelo de prazos e o menosprezo ao cumprimento de etapas burocráticas inerentes ao setor público, entre as quais a apresentação de estudos para subsidiar o fechamento da empresa, levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a interromper a liquidação em setembro de 2021.

Focado unicamente na reeleição e sem qualquer compromisso real com a agenda econômica, Bolsonaro nunca conseguiu destravar o processo na Corte de Contas. Não se sabe se houve desinteresse ou incompetência por parte de sua equipe, mas o certo é que essa inação garantiu as condições necessárias para o atual governo reverter a liquidação assim que tomou posse.

O que fez Lula acreditar que a Ceitec merecia receber uma segunda chance? Isso é algo que o governo teria a obrigação de explicar. Afinal, se a própria concepção da Ceitec não se justificou tecnicamente, recriá-la depois de tantos anos de prejuízo não tem o menor cabimento, a não ser para reforçar o discurso estatizante do governo Lula.

Não se pode utilizar a covid-19 como pretexto para reativá-la. A pandemia desorganizou as cadeias produtivas e evidenciou uma crise mundial na produção de chips, mas as recentes tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China no mercado de semicondutores deixam claro que a disputa vai muito além da mera liderança mundial no campo da tecnologia.

Modernizar a Ceitec, por óbvio, requer investimentos bilionários, com os quais o deficitário Estado brasileiro não tem a menor condição de arcar. Além de recursos públicos, este é um setor que depende de capital humano, algo que a Ceitec tampouco conseguiu preservar. Com o início da liquidação, a maioria dos empregados migrou para a concorrência, seja no Brasil ou no exterior.

Ressuscitar a Ceitec, portanto, é uma decisão com o potencial de drenar bilhões em recursos públicos nos próximos anos, sem qualquer garantia de retorno em receitas, inovação ou produtividade para o País.

São muitas as necessidades, as carências e as prioridades do Estado brasileiro em educação, ciência e tecnologia, sem as quais o crescimento e o desenvolvimento econômico continuarão a ser um sonho distante. Recriar a Ceitec certamente não faz parte delas. Com a reativação da estatal inútil e deficitária, Lula atesta ser incapaz de aprender com seus próprios erros. Pior: movido pela inabalável fé em si mesmo, insiste em repeti-los à espera de resultados diferentes.

 

LULA JÁ NÃO GOVERNA. É GOVERNADO PELAS REDES SOCIAIS

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