BRASÍLIA. DF (FOLHAPRESS) – O avanço de partidos do centrão sobre
cargos do governo federal e sobre o Orçamento tem gerado críticas entre
aliados do presidente Lula (PT).
Na semana passada, Lula entregou o comando da Caixa Econômica Federal
ao servidor de carreira Carlos Vieira, que foi indicado pelo presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ainda assim, partidos cobram mais verba
e cargos.
A pressão do centrão ocorre no momento em que o governo busca
garantir apoio no Congresso, sobretudo para a aprovação de pautas
econômicas.
O próprio Lula reconheceu que fez um acordo com PP e Republicanos
para a entrada dessas siglas no governo. Ele afirmou que “precisava
desses votos” no Legislativo.
“Eu fiz um acordo com o PP, com Republicanos, acho que é direito
deles, que gostariam de ter espaço com governo, indicar uma pessoa
[Vieira, indicado por Lira] que esteve na Caixa, já foi da Caixa, já
esteve no governo da Dilma, já foi do Ministério das Cidades, uma pessoa
que tem currículo para isso. E eles juntos têm mais de 100 votos, eu
precisava desses votos para continuar o governo”, disse na sexta-feira
(27).
No mesmo dia, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR),
criticou a mobilização de parlamentares para controlar fatias ainda
maiores do Orçamento. A deputada afirmou, nas redes sociais, que
propostas para o governo pagar mais emendas “servem para atender apenas
interesses políticos insaciáveis”.
“No momento que o país precisa direcionar investimentos para o
crescimento e políticas públicas estruturantes, deputados querem obrigar
o governo a pagar emendas de comissões permanentes. É mais uma
intervenção indevida na aplicação do Orçamento da União”, escreveu
Gleisi na plataforma X, o antigo Twitter.
A deputada criticava discussões no Congresso para tornar impositiva a
execução das emendas de comissões, ou seja, obrigar o governo a pagar
uma verba que corresponde a R$ 7,5 bilhões em 2023. Se for aprovada,
essa mudança reduz o controle do governo Lula sobre a execução do
Orçamento de 2024, ano de eleições municipais.
A cúpula do Congresso ainda avalia outros caminhos para ditar o ritmo
da liberação das emendas e amarrar a execução da verba aos seus
interesses, desidratando ainda mais o poder do governo.
Como mostrou a Folha, o Palácio do Planalto busca formas de manter a
influência sobre o destino desses recursos. As conversas caminham para
um aumento no valor reservado para emendas do próximo ano, mas
preservando o poder do governo sobre essa cifra.
Ao se manifestar sobre a própria saída do cargo de presidente da
Caixa (para entregar o comando do banco ao centrão), Rita Serrano
agradeceu a Lula pelo convite para integrar o governo, mas disse nas
redes sociais que é “necessário e urgente pensar em outra forma de fazer
política”.
Rita Serrano ainda afirmou que espera deixar como legado “a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia”.
A mudança na Caixa também gerou crítica entre apoiadores de Lula em movimentos sociais e entidades ligadas a trabalhadores.
“A companheira Rita Serrano vinha fazendo um excelente trabalho na
Caixa. Infelizmente, perdemos um dos maiores instrumentos de
implementação de políticas públicas para o centrão”, disse o coordenador
geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar, nas
redes sociais.
“Precisamos melhorar a nossa correlação de forças no Congresso
Nacional elegendo parlamentares de esquerda, progressistas e
desenvolvimentistas que não deixem governos reféns dessas chantagens”,
escreveu Bacelar.
Em nota, a Fenag (Federação Nacional das Associações dos Gestores da
Caixa Econômica Federal) disse lamentar a saída de Rita Serrano. A
entidade disse que ela havia sofrido ataques e “travou uma batalha
ferrenha” no cargo, “mas não resistiu”.
A presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores
do Ramo Financeiro), Juvandia Moreira, também criticou a troca no
comando do banco.
“Não vamos aceitar que a política do governo passado seja
implementada na empresa, como o desmonte da empresa e da sua função de
banco público. Nem retrocessos na política da gestão de pessoas”, disse
ela, em nota publicada pela entidade.
Apesar de ter criticado a relação do centrão com Jair Bolsonaro
durante a campanha eleitoral, Lula aliou-se ao mesmo grupo e tem
repetido a entrega de cargos e verbas públicas em troca de apoio para
votações no Legislativo.
“Eu não fiz negociação com o centrão, eu não converso com o centrão,
vocês nunca me viram fazer reunião com o centrão. Eu só converso com
partidos políticos que estão aí legalizados, que elegeram bancadas.
Portanto com eles é que eu tenho que conversar, para estabelecer um
acordo”, disse Lula na semana passada.
A base do governo no Congresso é frágil. Recentemente, o Senado
chegou a rejeitar a indicação de Igor Roque para o comando da DPU
(Defensoria Pública da União).
Nas horas seguintes à troca na Caixa, porém, a Câmara destravou a
votação da proposta de taxação de offshores e de fundos de super-ricos.
As mudanças na Caixa e em ministérios para acomodar aliados do
centrão ainda reduziram a presença de mulheres em cargos de primeiro
escalão.
Lula culpou os partidos pela redução da presença feminina no
Executivo. “Quando um partido político tem que indicar uma pessoa e não
tem mulher, eu não posso fazer nada”, disse o presidente na última
semana.
A bancada do partido Novo na Câmara dos Deputados apresentou
um requerimento nesta 2ª feira (30.out.2023) para convocar o
diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, por suposta
interferência política na corporação.
O requerimento foi apresentado na CFFC (Comissão de Fiscalização
Financeira e Controle) depois de suposto procedimento interno aberto
contra o presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais
Federais), Willy Hauffe Neto. Eis a íntegra do documento (PDF – 162 kB).
CÂMARA DOS DEPUTADOS COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO FINANCEIRA E CONTROLE REQUERIMENTO PARA PRESTAR DEPOIMENTO (Da Sra. Adriana Ventura – NOVO/SP, do Sr. Marcel Van Hattem – NOVO/RS e do Sr. Gilson Marques – NOVO/SC) Solicita que seja convidado o Senhor Andrei Augusto Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, para prestar depoimento acerca de interferência política da cúpula da Polícia Federal. Senhor Presidente: Requer nos termos do art. 58, § 2°, V, da Constituição Federal, que seja convidado o Senhor Andrei Augusto Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, para prestar depoimento a esta Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, acerca de indícios de interferência política da cúpula da Polícia Federal. JUSTIFICAÇÃO Por determinação do Senhor Andrei Augusto Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, a corregedoria deste órgão abriu processo disciplinar para apurar a conduta do perito Willy Hauffe Neto, presidente da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), de acordo com a notícia veiculada pela Revista Veja1 , em 27/10/2023, com o título “Investigação da agressão a Moraes provoca embate interno na PF”. 1 https://veja.abril.com.br/brasil/investigacao-da-agressao-a-moraes-provoca-embate-interno-na-pf/ CD235388032500 Assinado eletronicamente pelo(a) Dep. Adriana Ventura e outros Para verificar as assinaturas, acesse https://infoleg-autenticidade-assinatura.camara.leg.br/CD235388032500 REQ n.453/2023 Apresentação: 30/10/2023 07:38:17.290 – CFFC Segundo a matéria, pode ser um caso de perseguição política – por meio do processo disciplinar – do servidor público que apontou desrespeito aos protocolos na apuração do caso. Qual é esse caso? A suposta agressão ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ao se envolver em incidente com um grupo de brasileiros no aeroporto internacional de Roma. Segundo noticiado pela Veja e em outros meios, há duas versões para o episódio: o magistrado foi xingado e seu filho, Alexandre Barci, agredido; enquanto os acusados – o empresário Roberto Mantovani, sua mulher, Andrea, confirmam que houve a discussão, mas negam que a agressão tenha ocorrido. Acontece que as imagens do aeroporto de Roma, até agora divulgadas, não são claras e não elucidam se houve mesmo um tapa no filho do magistrado. Ademais, a supracitada associação divulgou uma nota questionando o fato de a análise dessas imagens terem sido realizadas por agente que não tem a atribuição pericial: “É preocupante que procedimentos não periciais possam ser recepcionados como se fossem ‘prova pericial’, uma vez que não atendem às premissas legais, como a imparcialidade, suspeição e não ter, obrigatoriamente, qualquer viés de confirmação, que são exigidas dos peritos oficiais de natureza criminal.”. Antes de determinar a instauração da sindicância contra o servidor, o Diretor-Geral da PF, de acordo com a matéria, fez chegar aos peritos que eles estariam ajudando a “defesa dos agressores” ao pôr em xeque os métodos utilizados na investigação. Se isso de fato ocorreu, é gravíssimo! A cúpula da Polícia Federal não poderia e não deveria nunca usar seu poder hierárquico como forma de intimidar servidores em prol de um interesse específico. Seria interferência política, senão abuso de autoridade. Mais preocupante, essa interferência violaria frontalmente o devido processo legal, a constituição de provas periciais e o direito de defesa. A Polícia Federal é um órgão de Estado, razão pela qual não pode ser vista pelo seu corpo diretivo como um instrumento intimidatório para ser usado ao bem querer pelo governante de plantão. Pelo exposto, observando-se a aludida competência constitucional desta Comissão para solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão, é fundamental que o Senhor Andrei Augusto Passos Rodrigues, Diretor-Geral da Polícia Federal, apresente-se a essa Casa para depor e elucidar os fatos ora expostos. CD235388032500 Assinado eletronicamente pelo(a) Dep. Adriana Ventura e outros Para verificar as assinaturas, acesse https://infoleg-autenticidade-assinatura.camara.leg.br/CD235388032500 REQ n.453/2023 Apresentação: 30/10/2023 07:38:17.290 – CFFC Sala das Sessões, em 27 de outubro de 2023. Deputada ADRIANA VENTURA (NOVO/SP) Deputado MARCEL VAN HATTEM (NOVO/RS) Deputado GILSON MARQUES (NOVO/SC
“A cúpula da Polícia Federal não poderia e não deveria nunca usar
seu poder hierárquico como forma de intimidar servidores em prol de um
interesse específico. Seria interferência política, senão abuso de
autoridade. Mais preocupante, essa interferência violaria frontalmente o
devido processo legal, a constituição de provas periciais e o direito
de defesa”, afirma o documento.
O requerimento do Novo foi apresentado depois de reportagem da revista Veja afirmar
que o diretor-geral da PF teria determinado a abertura por parte da
corregedoria da corporação de processo disciplinar para apurar a conduta
do presidente da associações dos peritos.
Rodrigues teria tomado a decisão depois de nota da entidade com
críticas à análise das imagens da suposta hostilização ao ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O episódio se deu no Aeroporto
Internacional de Roma, na Itália, e, por conta disso, os registros foram
enviados pelas autoridades do país.
Em nota de 6 de outubro, a APCF expressou “preocupação” e disse que os registros “não foram objeto de qualquer análise pericial ou técnicas de aprimoramento ou tratamento de imagens”. Eis a íntegra do documento (PDF – 329 kB).
“É preocupante que procedimentos não periciais possam ser
recepcionados como se fossem ‘prova pericial’, uma vez que não atendem
às premissas legais, como a imparcialidade, suspeição e não ter,
obrigatoriamente, qualquer viés de confirmação, que são exigidas dos
peritos oficiais de natureza criminal”, diz.
O OUTRO LADO
O Poder360 procurou a Polícia Federal nesta 2ª feira
(30.out.2023) para obter o posicionamento da corporação sobre o
requerimento do Novo e as acusações de suposta interferência política
por parte do diretor-geral. Os contato foi feito por e-mail às 17h45.
Até a conclusão e publicação deste texto, nenhuma resposta foi recebida.
Quando e se desejar expressar sua posição, este post será alterado para
incluir a declaração da PF a respeito do caso.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tinha uma tarefa difícil de
ser cumprida nesta segunda-feira: convencer o País de que o governo
ainda tem como meta zerar o déficit fiscal em 2024. Bem que ele tentou,
mas o presidente Lula da Silva tornou seu trabalho impossível.
Como reafirmar um compromisso sobre o qual já havia muito ceticismo
sem desautorizar o chefe? Havia pouquíssimas formas de fazê-lo de
maneira convincente, mas a convocação de uma entrevista, logo após uma
reunião entre Haddad e o presidente, alimentou expectativas.
Esperava-se de Haddad que dissesse que Lula não escolheu bem as
palavras ou foi mal interpretado. Não seria o primeiro nem o único
ministro da área econômica a fazê-lo. O que se viu, porém, foi bastante
constrangedor. Depois de um fim de semana de silêncio, Haddad ainda
achava que poderia tergiversar.
Primeiro, chegou ao Ministério acompanhado dos economistas Paulo
Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira, nomes indicados para a diretoria do
Banco Central (BC). Numa segunda-feira normal, este seria um tema de
muito interesse da imprensa. Não era o caso.
Depois de apresentá-los, o ministro passou a meia hora seguinte a
repetir a importância de medidas para recuperar a arrecadação e a
lamentar decisões do Congresso, do Judiciário e de governos anteriores
que contribuíram para erodir a base fiscal. Sem corrigi-las, não seria
possível elevar as receitas – e este, segundo Haddad, teria sido o
contexto no qual Lula se baseou para reduzir a importância do déficit
zero.
Claro que não colou. Incisivamente questionado pelos jornalistas
sobre a meta fiscal do ano que vem, o ministro passou a responder às
perguntas com ironia e irritação. Por fim, referiu-se à meta de déficit
zero como “minha meta” e encerrou a entrevista no momento em que foi
instado a explicar claramente o que queria dizer com isso. Não
respondida, a dúvida era pertinente: afinal, a meta fiscal de Haddad é a
meta fiscal de Lula?
O ministro pode ter a meta que quiser, desde que esteja combinado com
seu chefe. Do contrário, não será uma meta crível. Desde sempre, todos
sabiam, inclusive dentro do governo, que a meta de déficit zero era
utópica, e nunca ficou claro como Haddad pretendia reverter o rombo das
contas públicas em tão pouco tempo sem anunciar medidas estruturais para
aumentar impostos ou reduzir os gastos públicos.
Que a base fiscal do governo tem sido corroída nos últimos anos não é
segredo para ninguém. A maior evidência disso é que as receitas não têm
acompanhado o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O superávit
pontual atingido em 2022 não teria sido alcançado se não fosse a
disparada das cotações do petróleo.
As despesas, por outro lado, têm subido de forma constante nos
últimos anos e tiveram um impulso extra, muito além do necessário para
recompor o Orçamento destroçado pelo então presidente Jair Bolsonaro, na
emenda constitucional da transição – e isso no primeiro ano de mandato
de Lula, período preferencial para os governantes adotarem medidas mais
austeras.
Atingir o déficit zero era impossível. O que todos queriam saber é se
Haddad ainda contava com o respaldo político do presidente para
perseguir ativamente a meta e defendê-la. Sua irritação demonstrou que
não.
O incômodo do ministro é compreensível, mas ele terá de começar a se
acostumar. As enfáticas perguntas dos repórteres, que Haddad não gostou,
voltarão a ser feitas pelo setor produtivo, pelos investidores e pelos
parlamentares.
Durante a entrevista, o dólar voltou a se valorizar ante o real, a
despeito da onda de enfraquecimento da moeda norte-americana no
exterior; o Ibovespa caiu, descolado da alta registrada nos mercados
internacionais; e os juros futuros continuaram a subir, embora seja
esperado que o Banco Central anuncie uma nova redução dos juros amanhã.
Não foi um movimento meramente especulativo, mas demérito do
desacreditado Haddad.
Não é improvável que deputados e senadores, ao discutirem a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, se sintam à vontade para propor a
alteração da meta à revelia do ministro. Mas, se hoje Haddad sangra em
praça pública, a culpa não é das perguntas incisivas da imprensa. É da
sinceridade irresponsável do presidente da República.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que “insatisfações pontuais” não contaminam “o sentimento geral de que com a economia não é possível brincar”. Por isso, segundo o congressista, temas econômicos, como a reforma tributária, vão avançar ainda em 2023.
“A minha percepção e a percepção geral do Senado é de uma
prioridade, de uma importância muito grande da pauta econômica para o
Brasil”, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta 2ª feira (30.out.2023), acrescentando que há tempo para que as medidas sejam aprovadas neste ano: “Temos novembro e dezembro para poder cumprir essa missão, lembrando que nós já aprovamos muitos outros projetos ao longo do ano”.
Pacheco afirmou que medidas “de sustentação para o regime fiscal” são prioridades e que haverá no Senado “colaboração” para que “projetos bons” sejam aprovados.
“Eventuais e pontuais insatisfações não contaminam o sentimento
geral de que com a economia não é possível se brincar. É preciso ter a
solidez da nossa economia com a aprovação de propostas e projetos que
sejam sustentáveis”, disse. “Isso está muito além de eventuais
insatisfações de parlamentares com o governo. O sentimento geral em
relação à reforma tributária é de senso de importância, da sustentação
do marco fiscal, da lei orçamentária igualmente”, completou.
Conforme o senador, a reforma tributária “é muito importante para o Brasil, para a simplificação tributária e para o desenvolvimento econômico”. Por isso, deve haver “o comprometimento de buscar vê-la aprovada no mês de novembro”.
Pacheco classificou como temas “igualmente importantes” alguns projetos “referentes ao Judiciário”. Entre eles, “o fim da reeleição, ou uma discussão acerca do fundo eleitoral e do Código Eleitoral”.
O presidente do Senado disse: “Em relação ao Poder Judiciário, há
uma previsão, nesse mês de novembro, de apreciarmos o projeto de lei
que define as verbas indenizatórias. Ele busca reduzir ou acabar com
aquelas situações chamadas de supersalários no âmbito do Judiciário”.
Questionado sobre como fica a relação com o STF (Supremo Tribunal
Federal) diante do avanço de pautas sobre o Judiciário, Pacheco
respondeu: “A proposta que regula as decisões monocráticas e também a
dos mandatos de ministros do STF são muito positivas para a Corte. Não
há de nossa parte nenhum tipo de animosidade ou de acirramento, e
tampouco de retaliação”.
E completou: “Temos de fazer as coisas que são importantes para o
Brasil, independentemente da versão que se queira dar a elas. O fato é
que o mandato de ministro do Supremo Tribunal Federal é algo adotado em
diversos países. É fato também que diversos ministros atuais e
anteriores à Suprema Corte defenderam ou defendem o mandato. É fato
também que eu, na minha reeleição, ao rechaçar as ideias de impeachment
de ministros e de aviltamento da instituição, eu dizia que o nosso papel
era legislar para propor inclusive o mandato de ministro do Supremo. É
uma discussão honesta, propositiva”.
Que o Brasil é extremamente desigual não é novidade para ninguém. Mas
como exatamente essa desigualdade se distribui na sociedade? E o que
isso significa para traçar melhores estratégias de distribuição de renda
e redução da pobreza?
Essas são algumas das questões centrais do livro “Os ricos e os
pobres: O Brasil e a desigualdade” (Companhia das Letras), nova obra do
sociólogo Marcelo Medeiros, pesquisador no Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) que há décadas estuda o tema e atualmente é
professor visitante na Universidade Columbia, em Nova York.
Ao tentar explicar quem, afinal, são os ricos e os pobres
brasileiros, Medeiros constata que o Brasil é formada por uma grande
massa de pessoas de baixa renda, que compõe cerca de 80% da população.
Dentro desse grupo, descreve o sociólogo, a desigualdade é
relativamente pequena. Há, claro, diferenças de renda dentro dessa
massa, mas numa proporção muitíssimo menor do que a desigualdade que se
vê no topo da pirâmide.
Para se ter uma ideia, analisando a distribuição de renda em valores
de 2021, o livro destaca que metade dos adultos brasileiros não ganha
mais de R$ 14 mil ao ano (menos de R$ 1.200 na média mensal).
Mesmo entre os “mais ricos” dentro dos 80% mais pobres o ganho anual
não supera R$ 31 mil (cerca de R$ 2.600 na média mensal). Isso significa
que quatro quintos da população adulta ganham menos que a média de um
adulto brasileiro (cerca de R$ 33 mil ao ano).
Isso acontece porque o topo da pirâmide tem renda tão mais alta que
puxa a média da renda para muita acima do que a maioria ganha de fato.
No caso do grupo dos 10% mais ricos, a renda não começa tão elevada.
Os “mais pobres” desse grupo ganham em torno de R$ 50 mil por ano. Isso
equivale ao salário aproximado de R$ 3.800 mensais de um trabalhador
formal, que recebe décimo terceiro e adicional de férias, ressalta o
autor.
A partir daí, porém, os patamares de renda começam a crescer num
ritmo super acelerado, constata o livro. O 1% mais rico, por exemplo, é
um grupo de pouco mais de 1,5 milhão de pessoas que ganham, no mínimo,
R$ 340 mil por ano – quase sete vezes mais que aqueles que estão no
começo dos 10% mais ricos. Mas as rendas do topo desse grupo vão muito
além, enfatiza o autor.
“A maior parte da desigualdade do Brasil está nos 10% mais ricos.
Eles são um grupo terrivelmente desigual”, resumiu, em entrevista à BBC
News Brasil.
E a desigualdade no topo não é apenas de nível de renda, mas de como
essa renda é taxada, destaca Medeiros. Trabalhadores assalariados, por
exemplo, tendem a pagar um imposto mais alto que profissionais liberais
ou investidores.
“Algumas dessas pessoas (no grupo dos 10% mais ricos) estão pagando
bastante Imposto de Renda, por exemplo, e outras estão pagando muito
menos Imposto de Renda”, afirma.
Aumentar a progressividade da tributação – ou seja, cobrar mais de
quem ganha mais – é uma das medidas necessárias para promover a
distribuição de renda, defende o sociólogo, mas nem de longe é
suficiente. Na sua visão, enfrentar a colossal desigualdade brasileira
tem que estar em toda a política de governo.
O próprio crescimento da economia, defende, precisa ser pensado como
um crescimento pró-pobre. Ou seja, um crescimento que puxe a renda da
base ao invés de beneficiar essencialmente o topo, como vem ocorrendo.
“Mais ou menos metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5% da população”, crítica.
Medeiros reconhece que é uma tarefa para décadas, que provocará muita
resistência das elites e depende de “mobilizar um capital político
monstruoso”.
“Reduzir dramaticamente a desigualdade e a pobreza no Brasil vai
envolver muita mobilização política porque o problema é político antes
dele ser enfrentado do ponto de vista econômico”.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista, feita por telefone e editada por concisão e clareza.
BBC News Brasil – É amplamente sabido que o Brasil é muito
desigual. O que maioria das pessoas não sabe sobre a desigualdade
brasileira?
Marcelo Medeiros – O ponto de partida desse livro é a
constatação de que o Brasil é extremamente desigual e há uma grande
massa de população de baixa renda que é separada de uma elite que é
pequena, mas é bem mais rica do que a maior parte da população.
Algo como 80% da população são muito parecidos. A maior parte da
desigualdade brasileira está na diferença entre os 10% mais ricos e o
resto da população e as desigualdades internas dentro desse grupo dos
10% mais ricos.
Talvez não falte informação técnica (sobre a desigualdade), talvez
falte interpretar o que isso significa. Eu vou lhe dar um exemplo.
Estatisticamente a gente tem definições com linhas de pobreza. Quando
você diz que uma linha de pobreza de 1,9 dólar ppp (taxa de câmbio que
leva em conta o poder de compra do dinheiro local) define pobreza
globalmente e essa linha aplicada no Brasil (o equivalente à cerca de R$
5 por dia por pessoa, em valores de 2020) dá 12% da população, as
pessoas sabem disso. O que elas não conseguem muito bem é ver o que isso
significa.
Então eu tentei no livro traduzir essa noção estatística para algo
concreto, como dar uma dimensão das privações gigantescas que uma mãe
vai ter que fazer para comprar o material escolar da sua filha porque
ela é pobre. Quantos dias ela vai precisar parar de comer para comprar
um livro de matemática, por exemplo.
Então, talvez não seja uma questão de saber (que há muita
desigualdade), talvez seja mais uma questão de incorporar isso de forma
concreta e de começar a exigir a incorporação dessas coisas na
formulação das políticas.
BBC News Brasil – Você diz que há uma grande massa de pessoas
de baixa renda não muito diferentes entre si, enquanto há muita
desigualdade entre os 10% mais ricos. Qual a implicação para o desenho
das políticas contra a desigualdade?
Marcelo Medeiros – Isso traz duas implicações
iniciais. A primeira é lembrar que uma linha de pobreza (no Brasil)
divide uma população muito parecida de forma bastante artificial. E,
porque existe pouca diferença entre os pobres e as pessoas de baixa
renda, a gente não deve desenhar política ignorando que, ainda que as
pessoas não sejam pobres, elas precisam muito das políticas públicas
para tudo que elas fazem. Precisam muito da Previdência, dos serviços de
saúde, dos serviços educacionais. Em alguma medida, elas também
precisam de assistência (social).
Então, a gente não deve separar de maneira artificial demais os
pobres das pessoas de baixa renda porque, na verdade, a massa de
população brasileira é de baixa renda.
Outra coisa é importante é que as pessoas não são pobres, a maior
parte das pessoas está pobre. Existe muita entrada e saída continuamente
em torno da pobreza (pessoas cuja renda oscila abaixo e acima da linha
de pobreza), e a gente também tem que aprender a lidar melhor com isso.
Isso do lado dos pobres. Do lado dos ricos, é importante parar de
achar que existe um ponto a partir do qual se identifica claramente quem
são as pessoas ricas. Não é a partir dos 10% (com maior renda), não é a
partir dos 5% (com maior renda), não é a partir do 1% (com maior
renda), porque todos esses grupos são extremamente heterogêneos.
Uma das implicações disso é que a gente deve focar melhor na
progressividade de algumas políticas como, por exemplo, a tributação.
Temos que melhorar nosso sistema tributário para lidar com o fato de que
você está arrecadando renda de uma população extremamente desigual.
Tratar uma pessoa que está no 1% (de maior renda) da mesma forma que
se trata a pessoa que está nos 10% (de maior renda) não é bom, assim
como tratar uma pessoa que está no 0,1% (de maior renda) da mesma forma
que você trata uma pessoa que tá no 1% (de maior renda), também não é
bom. A gente tem que melhorar os nossos mecanismos de progressividade em
tudo, inclusive no Imposto de Renda.
BBC News Brasil – Como avalia as ações do governo Lula nesses dez primeiros meses para combater desigualdade?
Marcelo Medeiros – Eu não estou fazendo
acompanhamento das políticas no detalhe que precisaria para te dar uma
resposta minimamente sólida sobre isso, e algumas medidas vão ser de
longo prazo também. Eu tenho feito muito pouco avaliação de conjuntura
pelo fato de ter saído do Brasil.
BBC News Brasil – O que deveria ser priorizado pelo governo para reduzir desigualdade no Brasil?
Marcelo Medeiros – Achar que há uma solução simples
para um problema dessa magnitude não ajuda a resolver o problema. É um
problema incrivelmente difícil, vai levar muito tempo, vai mobilizar um
capital político monstruoso, porque, no fundo, você não produz um país
com o nível de desigualdade brasileira só com um conjunto de fatores
isolado.
Toda política tem que levar desigualdade em conta. Portanto, não
existe uma prioridade. Não é uma questão, por exemplo, de educação, não é
uma questão de apenas tributar as pessoas mais ricas, é uma combinação
de uma série de políticas que vai tornar o Brasil um país menos
desigual.
A ideia de fazer o livro é trazer conhecimentos sobre a desigualdade
no Brasil para que esses conhecimentos possam ser incorporados em todas
as políticas, e não apenas um conjunto específico de políticas.
BBC News Brasil – No livro, você aponta que a redução da
pobreza e da desigualdade exige ações em várias frentes, como mais
acesso à educação, mais serviços de proteção social, mudanças na
tributação, além de crescimento econômico. Como fazer isso com as
restrições fiscais que o governo enfrenta?
Marcelo Medeiros – Uma coisa que você mencionou, na
verdade, não é importante para combater a desigualdade, que é a
necessidade do crescimento econômico. Isso porque não existe o
crescimento econômico do país. No Brasil, quem cresce (economicamente)
são algumas pessoas e outras não, umas mais e outras menos. Então, é
errado falar do Brasil crescendo, o certo é falar de quem no Brasil está
crescendo mais e quem está crescendo menos.
Um crescimento pró-pobres é completamente diferente de um crescimento
pró-ricos, embora o resultado final possa ser a mesma taxa de
crescimento (do PIB). Então, na verdade, o que o Brasil precisa não é de
crescimento, o que o Brasil precisa é de um crescimento pró-pobres. No
sentido amplo da palavra, pró-pobres significando toda a população de
baixa renda.
BBC News Brasil – O que fazer para o crescimento ser mais pró-pobre?
Marcelo Medeiros – Realmente, não existe uma
resposta simples para isso. A gente vai ter (que enfrentar) barreiras de
natureza política, barreiras no conflito distributivo, vai ter
limitações de natureza fiscal, muita coisa para ser administrada aí.
Talvez, parte dos nossos problemas de natureza política é acreditar
nesse simplismo. Isso resulta, às vezes, em algum populismo, seja ele
populismo de direita, seja ele populismo de esquerda, seja populismo
tecnocrático, de adotar essas soluções que aparentemente são simples
para problemas que são monstruosos.
Vou fazer uma analogia: como a gente enfrenta o problema da
criminalidade no Brasil? Qual a solução simples para um problema dessa
magnitude? A resposta de qualquer pessoa vai ser: eu não sei.
BBC News Brasil – Ao longo da história, geralmente o crescimento foi pró-rico?
Marcelo Medeiros – Teve momentos de crescimento
pró-pobre e crescimento pró-ricos. O que a gente pode dizer é que ao
longo das últimas duas décadas, arredondando um pouco, um quarto de todo
o crescimento foi apropriado só por 1% da população.
Ou, se quiser outro número que é equivalente a esse, mais ou menos
metade de todo o crescimento brasileiro está indo para as mãos só de 5%
da população.
Ou seja, temos um crescimento que extremamente concentrado e a
implicação disso é que nossa discussão sobre o crescimento, no fundo, é
uma discussão que está sendo apropriada por um grupo que não chega a um
décimo da população brasileira.
BBC News Brasil – Voltando à pergunta anterior: como o
governo pode atuar contra a desigualdade em várias frentes em um cenário
de restrição fiscal?
Marcelo Medeiros – Sempre vai haver uma restrição
fiscal, por isso negociar dentro do orçamento é tão importante. O Brasil
precisa liberar recursos por um lado, ou seja, precisa reorganizar
alguns gastos, precisa aumentar a eficiência de algumas políticas, mas
também precisa aumentar arrecadação. Um problema dessa magnitude vai
precisar de algum aumento de arrecadação.
Inclusive, o problema fiscal brasileiro (para além do combate à
desigualdade) vai precisar de mais arrecadação. Simplesmente, porque há
um ponto onde cortar gastos se torna extremamente difícil, demora tempo
demais. Há coisas, por exemplo, que você não pode fazer. Não pode cortar
previdências no Brasil, porque isso implicaria violações importantes de
contratos e abriria precedentes para outras violações de contratos
muito importantes.
Então há limites no que pode e não pode ser feito para qualquer
governo, independente da sua matriz ideológica. E um bom governante tem
que lidar com esses limites o tempo inteiro. Mas, em termos gerais, há
muita coisa que pode ser feita no Brasil. Eu não quero fazer uma lista.
Acho que a discussão é mais sofisticada do que um indivíduo pode fazer
isoladamente.
BBC News Brasil – Então, para reduzir desigualdade precisa aumentar a carga tributária?
Marcelo Medeiros – Na verdade, para resolver o
problema fiscal o Brasil precisa ter redução de gastos, realocação de
gastos e aumento de arrecadação. Se isso vai ser via aumento de carga ou
se vai ser simplesmente aumento de base, que é outra alternativa,
cobrar imposto de quem tá pagando pouco, também é uma possibilidade.
Não vamos subestimar. Se fosse fácil, alguém já tinha feito. Isso
passa por enfrentar o conflito distributivo gigante. Vai haver reação.
Reduzir dramaticamente a desigualdade e a pobreza no Brasil vai envolver
muita mobilização política porque o problema é político antes dele ser
enfrentado do ponto de vista econômico.
BBC News Brasil – O governo está enfrentando dificuldades
para aprovar medidas pontuais, como aumentar impostos sobre fundos de
super ricos que hoje são pouco tributados. Qual seu otimismo sobre
reduzir a desigualdade do Brasil quando isso depende não apenas de
algumas ações pontuais, mas de um caminhão de medidas a serem aprovadas
no Congresso?
Marcelo Medeiros – Não sou nem otimista, nem
pessimista. Acho que ninguém deve ser otimista ou pessimista. As pessoas
têm que ser realistas diante da magnitude do problema que está sendo
enfrentado. Elas têm que entender que essas coisas são decisões que vão
exigir muito mais metas de longo prazo que de curto prazo.
E que essas metas passam por mobilização política, por escolher bem
os representantes políticos e assim, sucessivamente, por várias outras
coisas. E, inclusive, por criar, literalmente, jogo de força na
política.
BBC News Brasil – Quando você fala longo prazo quer dizer décadas?
Marcelo Medeiros – Décadas. Na verdade, são décadas, a não ser que
você queria tomar medidas muito dramáticas. Mas a pergunta é se a gente
está disposto a tomar medida muito dramáticas. Houve casos de quedas
radicais de desigualdade no mundo, mas elas são resultados de medidas
muito dramáticas, como, por exemplo, as quedas que aconteceram durante a
Segunda Guerra Mundial na Europa, ou nos Estados Unidos com uma
mobilização gigantesca, uma regulação tremenda da economia, ou o que
aconteceu nos países soviéticos. Isso faz a desigualdade cair de maneira
rápida.
Mas, obviamente, toda a política tem um preço, todo o benefício tem um custo.
BBC News Brasil – Nos Estados Unidos, por exemplo, que tipo de regulação dramática na economia foi adotada?
Marcelo Medeiros – Toda, geral, não foi uma
regulação, foi uma montanha de regulações, primeiro no pós-Grande
Depressão (após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929) e, segundo, no
esforço de guerra (durante a Segunda Guerra Mundial). Você controlava
salários, controlava lucros, controlava a economia inteira. Então,
controlou muita coisa, não foi uma medida isolada, foi uma coisa
gigantesca.
Se você não regula (a economia), obviamente quem tem poder vai replicar esse poder com velocidade mais alta.
BBC News Brasil – O livro aborda quem são os pobres e quem são os ricos no Brasil. O que seria a classe média?
Marcelo Medeiros – Eu te respondo com outra
pergunta: são essas as divisões certas? Ricos, pobres, e classe média? E
a pergunta subsequente é: para que a gente quer dividir a população?
A divisão de uma população em grupos é uma ferramenta. Essa
ferramenta vai ser usada para quê? Porque dependendo do que a gente
fizer, uma ferramenta pode ser melhor do que a outra. A gente pode
querer dividir a população em três grupos, como pode querer dividir a
população em 300 grupos.
E esse que é o argumento central do livro: não é dado que existe um
grupo de pobres, um grupo de ricos, e um grupo de classe média. Isso é
só um uma maneira de dividir a sociedade de classes, e a gente tem que
pensar para que a gente quer dividir a sociedade em classes, primeiro.
E, segundo, (pensar) o que significam essas divisões.
Se a gente não tem uma definição substantiva do que é ser rico, uma
definição substantiva do que é ser classe média, uma definição
substantiva do que é ser pobre, isso vai ser simplesmente uma
classificação de borboletas, onde você atribui arbitrariamente a classe
das borboletas por cor, por exemplo.
Não vamos deixar de lado, que, por trás da definição de classe média,
existe uma decisão de natureza política do significado daquilo, porque,
no fundo, a nossa cultura política, nosso sistema legal, ele é baseado
em ideias que não são precisamente definidas. E a gente não deve deixar
de lado jamais que essas classificações são classificações políticas.
BBC News Brasil – Fiz essa pergunta para introduzir outra
questão: uma pessoa com renda individual de R$ 10 mil por mês já está no
grupo dos 10% mais ricos do país. Mas essa pessoa provavelmente não se
vê como rica. Possivelmente, ela se vê como classe média.
Marcelo Medeiros – Há estudos no mundo sobre isso.
No geral, as pessoas não gostam de se autoclassificar como pobres nem
como ricas. Elas geralmente se classificam como classe média, nesses
esquemas só de três classes, e elas usam qualificadores: classe média
baixa para os pobres, classe média alta para os ricos. É isso que você
vai ver no mundo inteiro, o Brasil não é uma exceção.
BBC News Brasil – Como as políticas de distribuição devem
agir sobre esse grupo, que está no topo da pirâmide, mas não são os mais
ricos? São pessoas que vivem confortavelmente, mas não estão
necessariamente esbanjando dinheiro. Elas deveriam contribuir mais de
alguma forma, dada a distribuição de renda do Brasil?
Marcelo Medeiros – Não dá para dizer isso porque
esse grupo que você definiu é muito grande e heterogêneo. Algumas dessas
pessoas (no grupo dos 10% mais ricos) estão pagando bastante Imposto de
Renda, por exemplo, e outras estão pagando muito menos Imposto de
Renda. Então, não podemos esquecer que esse grupo é muito heterogêneo.
Na verdade, a maior parte da desigualdade do Brasil está nos 10% mais
ricos. Eles são um grupo terrivelmente desigual.
BBC News Brasil – Um grupo que estaria pagando pouco impostos, na visão de economistas como Armínio Fraga e
Samuel Pessoa, seriam profissionais liberais de renda alta que costumam
ter empresas em regimes especiais de tributação, caso de médicos e
advogados, por exemplo. Isso deveria mudar?
Marcelo Medeiros – Não porque é para esse grupo. Tem
que mudar porque um bom sistema tributário tributa da mesma forma a
renda, independente da sua fonte, claro, com algumas poucas exceções.
Então, seria importante, por exemplo, que as pessoas físicas e as
pessoas jurídicas… ou melhor, que os rendimentos do trabalho e os lucros
e dividendos (distribuídos pelas empresas aos acionistas) fossem
tributados da mesma maneira.
Assim como também seria muito importante, porque não está na pauta,
mas deveria estar, que os rendimentos de capital, que no Brasil se chama
rendimento de tributação exclusiva, também fossem tributados como o
rendimento do trabalho.
No fundo, tudo tem que ser tributado da mesma maneira. Hoje, no
Brasil, a gente paga menos tributos nesse caso, bem menos, 15%, quando
muito 22%, se você for sacar rápido demais, mas geralmente paga menos.
Isso também não é nenhuma panaceia. Isso não vai aumentar a
arrecadação dramaticamente, mas é o que precisa ser feito. É bom para
não criar mecanismos artificiais de reorganização da economia. Ou seja,
as pessoas começam a se organizar para ser CNPJ, por exemplo, no lugar
de ser pessoa física só por causa disso.
BBC News Brasil – O livro ressalta que mais educação não é
solução mágica pra reduzir desigualdade. Por que essa medida tem impacto
limitado?
Marcelo Medeiros – Primeiro, porque educação é um
investimento de longo prazo. Leva muito tempo para fazer uma reforma
educacional, muito tempo para educar uma criança e, mesmo que isso fosse
feito num sistema perfeito, o que a gente vai fazer com todos os
trabalhadores que já estão no mercado de trabalho e que vão ficar no
mercado de trabalho por 40 anos? Então, só vai ser uma solução para
alguma coisa talvez daqui a meio século.
A segunda questão é: educação é um termo genérico de mais. Que
educação que a gente está falando? Ensino básico primário, ensino médio,
ou ensino superior? A diferença salarial entre trabalhadores de ensino
primário e de ensino médio é muito pequena. A educação que realmente
afeta desigualdade é o ensino superior.
Se a nossa estratégia for usar a educação para reduzir desigualdade,
isso vai requerer uma massificação do ensino superior no Brasil, o que
vai custar muito caro e vai levar muito tempo. Então, não é que a
educação não seja necessária, educação é insuficiente para resolver esse
problema.
BBC News Brasil – Os governos do PT promoveram expansão do
ensino superior com mais universidades públicas e programas como Fies e
Prouni. Esse caminho está correto? Precisa ser ampliado?
Marcelo Medeiros – O Brasil já vem expandindo seu
ensino superior desde pelo menos meados da década de 90. E expandiu
muito rapidamente a partir dos anos 2000, mas baseado basicamente no
ensino à distância, não uma expansão das universidades públicas como
algumas pessoas acreditam.
O problema não é o ensino à distância, o problema é que o ensino à
distância tal como ele foi implementado é de baixíssima qualidade.
Então, a gente tem problemas importantes de qualidade e de quantidade
para enfrentar. E não vai ser um conjunto pequeno de medidas que vai
resolver isso.
BBC News Brasil – O Congresso acaba de aprovar a revisão da
Lei de Cotas. A reserva de vagas para negros no ensino superior é uma
política importante para reduzir desigualdade?
Marcelo Medeiros – É uma política extremamente
importante por uma razão simples: uma alternativa as cotas seria
simplesmente investir em educação de base. O problema é o tempo
gigantesco que isso vai levar.
Dois, (outro problema é) o conjunto enorme de obstáculos que os
negros vão enfrentar à medida que eles sobem. Os negros têm mais
dificuldade para avançar na educação porque a vida (dos negros) é cheia
de obstáculos, inclusive dentro da escola.
E a educação dos negros é menos valorizada que a educação dos
brancos. Um homem branco e um homem negro com exatamente a mesma
educação, o homem negro tenderá a ter um salário mais baixo. Portanto,
os caminhos têm que ser outros. O sistema de cotas é um complemento a
outras medidas que precisam ser tomadas.
BBC News Brasil – Além de dar acesso a profissões de maior
renda, as cotas também são importantes por aumentar o acesso dessas
pessoas a espaços de poder e liderança?
Marcelo Medeiros – Existe um fator de sinalização
muito importante que é as pessoas negras poderem se projetar em
lideranças negras: nos artistas, nos intelectuais, nos políticos, nos
empresários. Porque parte do problema passa pelas barreiras relacionadas
a isso.
Existe um outro fator que é o de representatividade. Nem todos vão
ser representantes de causas negros, mas alguns serão representantes de
causas negras e, ao acontecer isso, obviamente isso favorece pessoas que
não estão na mesma posição que eles.
BBC News Brasil – Você defende que o combate à desigualdade
tem que permear todas as ações do governo. O presidente Lula disse que
gênero e raça não são critérios para escolher o próximo ministro do STF,
um corte dominada por homens brancos. A representatividade do Supremo
tem reflexos pra redução de desigualdade?
Marcelo Medeiros – Eu sou favorável a ter mais
representatividade racial e de gênero no Supremo, como de resto em
qualquer elite. Agora não sei dizer qual impacto isso vai ter, em qual
desigualdade e por qual caminho.
BBC News Brasil – Idealmente, Lula deveria levar em conta raça e gênero ao indicar uma pessoa para a Corte?
Marcelo Medeiros – Idealmente, a sociedade inteira,
não só o presidente, todo mundo tem que levar em conta. Os partidos têm
que fazer isso, as empresas têm que fazer isso, a televisão tem que
fazer isso. A desigualdade racial está em todos os lugares.
Por David Leonhardt e Lauren Jackson – The New York Times
Bom dia. Estamos cobrindo a crucial rede de túneis sob Gaza – bem
como a ordem de silêncio de Trump, a violência armada americana e os
tributos a Matthew Perry.
Um combatente palestino num túnel de Gaza no ano passado. Mohammed Saber/EPA, via Shutterstock – Um labirinto de túneis
Existe uma rede de transportes abaixo de Gaza, que Israel está a tentar destruir.
A rede é composta por túneis, onde a maioria dos combatentes do Hamas
provavelmente vive ao lado de arsenais de armas, alimentos, água e,
agora, mais de 200 reféns israelitas. Partes dos túneis são grandes o
suficiente para que os veículos possam circular neles.
Os militares israelitas lançaram primeiro um intenso ataque aéreo
visando estes túneis e agora enviaram tropas terrestres para os
destruir. A eliminação dos túneis seria um grande passo para quebrar o
controlo do Hamas sobre Gaza.
No boletim informativo de hoje, explicaremos por que a rede de túneis
é tão importante – e por que Israel não terá facilidade em
desmantelá-la.
‘O metro’
Túneis existem sob Gaza há anos. Mas depois de Israel ter retirado as
suas forças e colonos de Gaza, há quase duas décadas, o Hamas expandiu
enormemente a rede clandestina. O Hamas tem uma longa história de
violência terrorista – tanto os EUA como a União Europeia consideram-no
um grupo terrorista – e os túneis permitem aos seus membros
esconderem-se dos ataques aéreos israelitas.
Israel criou mais incentivos para a construção de túneis ao reforçar o
bloqueio de Gaza depois de 2007. A principal razão para o bloqueio foi
impedir a entrada de armas e materiais relacionados, mas a definição de
Israel é tão ampla que o bloqueio também restringiu o fluxo de artigos
básicos. Em resposta, os habitantes de Gaza têm utilizado os túneis –
que se estendem para sul, até ao Egipto – para contrabandear alimentos,
mercadorias, pessoas e armas. Algumas pessoas referem-se às centenas de
quilômetros de túneis como “o metrô”.
( Esta história , dos nossos colegas Adam Goldman, Helene Cooper e Justin Scheck, tem mais detalhes.)
O governo do Egito também considerou os túneis uma ameaça à
segurança. Há uma década, o Egipto tentou destruir alguns túneis ao
longo da sua fronteira com Gaza, despejando-lhes esgoto e arrasando
casas que escondiam entradas, como disse aos nossos colegas Joel Roskin,
professor de geologia na Universidade Bar-Ilan, em Israel.
Na guerra actual, o Hamas utilizará os túneis para esconder e atacar
soldados israelitas a partir de locais inesperados. “Ao utilizar os
túneis, o inimigo pode cercar-nos e atacar-nos por trás”, disse o
coronel Amir Olo, antigo comandante da unidade de engenharia de elite
israelita responsável pelo desmantelamento dos túneis.
O tributo civil
A batalha pelos túneis é uma das principais razões pelas quais esta
guerra já tem um elevado número de mortes de civis. Mais de dois milhões
de pessoas vivem acima dos túneis – uma camada de vida humana entre
muitos alvos do Hamas e mísseis israelitas.
O Hamas escondeu muitas armas sob hospitais, escolas e mesquitas, de
modo que Israel corre o risco de matar civis e enfrenta uma reação
internacional quando luta. Os combatentes do Hamas também deslizam acima
e abaixo do solo, misturando-se com os civis.
Estas práticas significam que o Hamas é responsável por muitas das
mortes de civis, de acordo com o direito internacional, como explicou
David French, redator do Times Opinion e antigo advogado militar .
Colocar deliberadamente recursos militares perto de civis e disfarçar
combatentes como civis são violações das leis da guerra.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que
Israel também está a violar o direito internacional ao continuar a
bombardear o sul de Gaza – em parte para destruir túneis – depois de
primeiro ordenar às pessoas que evacuassem para lá por segurança.
Embora Israel diga que os seus ataques são precisos, os palestinianos
dizem que o bombardeamento pareceu vingativo e desfocado. Um homem
perdeu 45 membros de sua família. No geral, diz o Hamas, pelo menos
8.000 pessoas morreram na guerra e a ONU confirmou a morte de pelo menos
2.360 crianças.
Uma questão é que as bombas que atingem os túneis ainda podem matar
civis através de uma espécie de tremor secundário. Quando as bombas
explodem no subsolo, os edifícios acima podem desabar e formar uma
cratera. “As crateras tornam-se valas comuns”, disse Eyal Weizman,
diretor do grupo de pesquisa Forensic Architecture.
Qualquer que seja a mistura apropriada de culpas entre Israel e o
Hamas, o custo humano levou a críticas generalizadas a Israel. E à
medida que as suas incursões terrestres continuarem, o número de vítimas
certamente aumentará. Os mais de 200 reféns detidos pelo Hamas,
provavelmente nos túneis, também estarão em risco.
Soldados no sul de Israel. Sergey Ponomarev para o The New York Times
Ar, depois terra
A primeira etapa da campanha de Israel contra os túneis foi a guerra
aérea. Os militares lançaram mais de 7.000 ataques aéreos em Gaza desde o
ataque do Hamas, em 7 de Outubro, que matou mais de 1.400 israelitas.
Essa guerra aérea continua, juntamente com a operação terrestre.
Israel lançou bombas especiais que só explodem depois de serem
enterradas no solo. Outro tipo de arma, chamada “ bombas de esponja ”,
cria uma explosão de espuma endurecida para vedar os túneis. Se as
entradas dos túneis estiverem fechadas, os combatentes não poderão sair
delas em ataques surpresa.
A operação terrestre permite que Israel tome medidas adicionais para
demolir túneis. Um soldado reservista israelense descreveu uma técnica,
chamada “cabelo roxo”, aos nossos colegas:
As tropas israelenses jogam granadas de fumaça em um túnel e depois
observam se a fumaça roxa sai de qualquer casa na área. A fumaça, disse o
soldado, sinaliza que uma casa está conectada à rede de túneis e deve
ser isolada antes que os soldados desçam para os túneis. A fumaça se
move como fios de cabelo por todo o sistema de túneis, disse ele.
Esta descrição ajuda a esclarecer por que a guerra urbana tende a ser
tão mortal. “Serão combates sangrentos e brutais”, disse o general
Joseph L. Votel, antigo líder das operações militares dos EUA no Médio
Oriente.
Mestrado em Química de Produtos Naturais e Farmacognosia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Formou-se em 2011)8 de
out.
A Vitamina C, também designada como Ácido Ascórbico ou
L-treo-hex-2-enomo-1,4-lactona, é um composto imprescindível à saúde
humana e pode ser encontrada amplamente distribuída em fontes
alimentares vegetais – não apenas nos frutos, como também em legumes. Se
nas plantas esta vitamina age em diversos aspectos da fisiologia dos
frutos, incluindo sua maturação e proteção contra processos oxidativos,
da mesma forma é um elemento crucial na fisiologia humana e animal, pois
que suas propriedades antioxidantes e acessórias em variados aspectos
da imunidade, absorção intestinal e sinalização celular (integra como
cofator e é acessório de muitas enzimas) não deixam dúvidas de que sua
carência é perniciosa.
Estrutura química da Vitamina C, uma das mais abundantes nos produtos vegetais!
Embora amplamente distribuída nos alimentos vegetais, há muito que a
literatura científica já delimitou que as cifras ideais de ingestão
diária recomendada estão na faixa de 90 a 110mg (os maiores índices são
recomendados para as grávidas e lactantes) e para atender à isso é que
já se mapeou diferentes teores oferecidos por muitos dos alimentos
vegetais usualmente consumidos. Segundo as publicações, podemos
encontrar as seguintes cifras (para cada 100g) entre as maiores já
documentadas:
Kakadu (Terminalia ferdinandiana) = cerca de 2900mg
Acerola (Malpighia emarginata) = cerca de 825mg
Rosa (Rosa canina) = cerca de 426mg
Pimentas em geral (Capsicum sp) = de 127mg a 285mg
Cassia/Groselha Preta (Rubis nigrum) = cerca de 181mg
Coentro (Coriandrum sativum) = cerca de 133mg
Couve (Brassica sp) = cerca de 120mg
Kiwi (Actinidia deliciosa) = cerca de 93mg
Brócolis (Brassica oleracea) = cerca de 89mg
Goiaba (Psidium guajava) = cerca de 80mg
Couve de Bruxelas (Brassica oleracea) cerca de 80mg
Mamão Papaya (Carica papaya) = cerca de 60mg
Citros em geral (Citrus sp) = de 53mg a 59mg
Há de se esclarecer alguns aspectos importantes em relação à Vitamina
C neste contexto. O primeiro diz respeito ao fato de que existe uma
grande variação do teor desta vitamina nos mesmos vegetais,
especialmente nas variedades e cultivares, pois que a síntese é afetada
pelos fatores edáficos (solo) e climáticos (o fotoperiodismo por
exemplo). Isso explica porque é difícil conseguir “homogeneidade” no
teor do Ácido Ascórbico entre mesmo frutos, já que as variações sazonais
também reponde por isso.
Por fim cabe salientar que de nada adianta ingerir doses cavalares
desta vitamina, pois que já são documentados problemas ocasionados pelo
excedente ingerido. Apesar de ser um composto hidrossolúvel e que é
facilmente excretado por indivíduos com função renal normal (clearance
renal normal), em doses de 2000 a 3000mg pode ocorrer diarréias, cólicas
e inclusive uma acidificação da urina que pode alterar a
farmacocinética de medicamentos alcalinos como as Anfetaminas e
Opióides, por exemplo. Não sendo apenas isso, é válido destacar que
altas doses de Vitamina C podem aumentar o risco de cálculos renais.
Se alguém desejar saber mais detalhes sobre as fontes vegetais de
Vitamina C e outros aspectos relacionados, eu indico a leitura dos
artigos científicos a seguir:
A Comparative Study On The Ascorbic Acid Content Of Several Fruits,
International Journal of Food and Nutritional Sciences (2022); volume
11, issue 7, pages 1224–1232.
Ascorbic Acid Content in Exotic Fruits: A Contribution to Produce
Quality Data for Food Composition Databases, Food Research International
(2011); 44(7):2237-2242. DOI:10.1016/j.foodres.2011.02.012
Impact of Innovative Technologies on the Content of Vitamin C and Its
Bioavailability from Processed Fruit and Vegetable Products,
Antioxidants (Basel). (2021); 10(1): 54. doi: 10.3390/antiox10010054
Metabolism and Regulation of Ascorbic Acid in Fruits, Plants (Basel). (2022); 11(12): 1602. doi: 10.3390/plants11121602
Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation, Front. Plant Sci. Sec. Plant Physiology (2019);
Volume 9, DOI: Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation
Por Patricia Artoni, professora da FIA Business School
A capacidade de atrair e envolver o público mais jovem é fundamental
para o sucesso das marcas. Os jovens representam o futuro do consumo, e
conquistar sua preferência desde cedo pode resultar em uma base de
clientes leais que acompanhará a marca ao longo de suas vidas. No
entanto, os jovens de hoje não buscam apenas benefícios funcionais em
seus produtos. Eles anseiam por entretenimento e experiências
significativas. Recentemente, a Kids Corp conduziu uma pesquisa
abrangente para analisar as marcas preferidas e confiáveis entre
crianças e adolescentes na América Latina. Os resultados deste estudo,
baseados em respostas de 8.437 entrevistados entre janeiro e julho de
2023, lançam luz sobre como as estratégias de Shoppertainment, estão
transformando o marketing para o público infantil.
Os resultados da pesquisa da Kids Corp revelam preferências por
marcas e a confiança que elas geram nesse público. O YouTube lidera as
preferências, com 13% dos jovens elegendo-o como sua marca favorita e
24% como confiável. Outras marcas que se destacam como preferidas
incluem Roblox e Nike, ambas com 8% de preferência, seguidas de perto
por Adidas e McDonald’s, com 7% cada. Netflix e PlayStation também
desfrutam de alta popularidade, com 6% de preferência, e a Disney fecha a
lista das marcas preferidas, com 5%
Esses números refletem o poder das estratégias de Shoppertainment,
nas quais as marcas conseguem entreter, educar e envolver jovens,
conquistando tanto seu coração quanto sua confiança. As marcas
preferidas apresentam algumas características principais, como a
capacidade de alegrar o público (31%), ser engraçado (30%), proporcionar
alta qualidade (25%), oferecer conteúdo envolvente (19%) e fazer-se
presente pela indicação e consumo dos amigos (18%).
O favoritismo não acontece ao acaso. No mundo atual, o vídeo é rei. O
estudo da Kids Corp mostra que o YouTube é o canal líder, com 52% das
respostas indicando que as campanhas de marketing foram assistidas lá.
Os jovens consomem conteúdo de vídeo de maneira voraz, e as marcas que
desejam se destacar devem dominar essa linguagem. O vídeo é altamente
envolvente, memorável e compartilhável, tornando-se uma ferramenta
essencial para contar histórias, demonstrar produtos e criar conexões
emocionais com o público.
Os jovens estão cada vez mais conscientes das autênticas intenções
das empresas e desejam se conectar com aquelas que compartilham seus
valores. Portanto, ser genuíno e autêntico em sua abordagem é essencial.
Além disso, as marcas destacadas pelo público têm o foco na criação de
experiências memoráveis e não em vendas diretas.
Quando os jovens se sentem envolvidos, educados e entretidos, as
vendas se tornam uma consequência natural. O estudo também revela que as
marcas bem-sucedidas são eficientes em criar uma sensação de
exclusividade e mantendo os consumidores envolvidos.
No cenário de marketing em constante mudança, o Shoppertainment é,
sem dúvida, uma das tendências mais promissoras. Para conquistar os
corações e mentes dos consumidores mais jovens e construir marcas
verdadeiramente memoráveis, é fundamental adotar estratégias que
promovam o entretenimento, educação e autenticidade, tudo isso com ética
e responsabilidade.
NOSSA MARCA. NOSSO ESTILO!
COMPARTILHAMOS CONHECIMENTO PARA EXECUTARMOS COM SUCESSO
NOSSA ESTRATÉGIA PARA REVOLUCIONAR O MODO DE FAZER PROPAGANDA DAS
EMPRESAS DO VALE DO AÇO.
O desejo de mudar, de transformar, de acreditar, são
fundamentais para irmos além. São agentes propulsores da realização de
sonhos. Já o empreendedorismo está presente no DNA dos brasileiros e
nossa história trouxa essa capacidade que temos de nos reinventar e de
nos conectarmos com você internauta e empresários que são a nossa razão
de existir.
E todos esses elementos combinados e levados ao território da internet, torna o que era bom ainda melhor. Na internet e através
do Site da Valeon, podemos proporcionar o início do “virar de chaves”
das empresas da região para incrementar as suas vendas.
Assim, com inovação e resiliência, fomos em busca das
mudanças necessárias, testamos, erramos, adquirimos conhecimento,
desenhamos estratégias que deram certo para atingirmos o sucesso, mas
nada disso valeria se não pudéssemos compartilhar com vocês essa
fórmula.
Portanto, cá estamos! Na Plataforma Comercial Marketplace da
VALEON para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos
produtos e serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada dos
nossos serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e
público.
Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos compublicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para asmarcas
exporem seus produtos e receberem acessos. Justamente por reunir uma
vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon
atrai uma grande diversidade evolume de público. Isso
proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores
que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por
meio dessa vitrine virtual.
O Site desenvolvido pela Startup Valeon,
focou nas necessidades do mercado e na falta de um Marketplace para
resolver alguns problemas desse mercado e em especial viemos para ser
mais um complemento na divulgação de suas Empresas e durante esses três
anos de nosso funcionamento procuramos preencher as lacunas do mercado
com tecnologia, inovação com soluções tecnológicas que facilitam a
rotina das empresas. Temos a missão de surpreender constantemente,
antecipar tendências, inovar. Precisamos estar em constante evolução
para nos manter alinhados com os desejos do consumidor. Por isso,
pensamos em como fazer a diferença buscando estar sempre um passo à
frente.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar
ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o
consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita
que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu
consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
Quando Jennifer Byrne, proprietária e técnica da empresa Comfy
Heating and Cooling, recebe uma ligação para ir consertar um sistema de
ar-condicionado relativamente novo, uma das primeiras perguntas que faz é
se a casa foi reformada recentemente.
Na região oeste da cidade da Filadélfia, EUA, Byrne já encontrou
reformas mal feitas em que os instaladores pularam etapas como o teste
de pressão após a instalação. Isso pode causar acúmulo de gelo e
vazamento de produtos químicos que promovem o resfriamento, chamados
refrigerantes.
“Esse é um problema extremamente frequente por aqui. As pessoas
normalmente contam que compraram uma casa que foi mexida, e há todo tipo
de coisa errada, como o ar condicionado congelando”, conta Byrne, se
referindo ao acúmulo de gelo.
“Tentam fazer da forma mais barata possível”, acrescentou, enquanto retirava o equipamento de sua caminhonete.
Não é um problema pequeno. Quando gases refrigerantes vazam assim,
são altamente destrutivos para a sensível atmosfera da Terra. Eles são
“os gases de efeito estufa mais potentes conhecidos pela ciência
moderna”, como descreve um artigo científico, e estão aumentando
depressa.
Um dos mais comuns, com o nome hostil de R-410A, é 2.088 vezes mais
prejudicial ao clima do que o dióxido de carbono proveniente da queima
de carvão e gasolina. Assim, uma das formas essenciais para as pessoas
se refrescarem está tornando o mundo mais quente e mais instável.
É por isso que o Clean Air Act, a Lei do Ar Limpo nos EUA, proíbe a
liberação intencional da maioria dos fluidos refrigerantes. Quando a
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) exigiu que uma
família de produtos químicos fosse gradualmente descontinuada em 85% até
2036, criou-se uma pressão para desenvolver e difundir alternativas
mais limpas.
A caminhonete de Byrne está carregada com ferramentas, recipientes,
mangueiras e cilindros selados especiais, inclusive um em cor rosa, do
padrão industrial, que contém o potente R-410A. Quando ela conserta uma
unidade de A/C com vazamento, ela drena o resto do fluido refrigerante
em um dos cilindros, para permanecer armazenado de forma segura enquanto
ela desmonta o aparelho.
Os aparelhos domésticos de ar-condicionado, porém, são apenas uma das
formas pelas quais o gás refrigerante penetra na atmosfera, elevando os
níveis de forma mensurável e contribuindo para o aumento das condições
meteorológicas extremas.
Os carros são outra fonte desses super poluentes, segundo Eckhard
Groll, especialista em refrigeração e coordenador de engenharia mecânica
na Universidade Purdue. Os sistemas de ar-condicionado em veículos
movidos a gasolina são “propensos a vazamentos” e, em média, cerca de
25% do gás refrigerante de todos os carros vaza a cada ano. Com mais de
200 milhões de carros a gasolina só nos EUA, Groll calcula que isso
equivaleria a aproximadamente 45 mil toneladas de gás refrigerante
chegando à atmosfera a cada ano.
Os supermercados são a segunda maior fonte de vazamentos, porque são
grandes, e extensas tubulações transportam o fluido refrigerante até
cada expositor refrigerado. Danielle Wright, diretora-executiva do
Conselho Norte-Americano de Refrigeração Sustentável, um grupo de defesa
de interesses, diz que aproximadamente 25% do gás refrigerante de um
supermercado médio vaza a cada ano, o que confirma um documento da
Agência de Proteção Ambiental de 2011.
“Eu não diria que (os supermercados) estão necessariamente fazendo
economia, mas vamos dizer assim: é mais barato deixar o gás refrigerante
vazar do que construir um sistema à prova de vazamento”, diz Wright.
A necessidade de minimizar o vazamento de gás refrigerante
impulsionou uma indústria de reutilização e recuperação. Uma dessas
empresas nos EUA é a A-Gas Rapid Recovery, que tem instalações em
Dallas, no estado americano do Texas, em Toledo, no estado de Ohio, e em
Punta Gorda, na Flórida, entre outras.
Os fluidos refrigerantes podem ser usados muitas vezes e durar por 30
anos, diz Mike Armstrong, presidente da A-Gas nas Américas. A empresa
coleta fluido refrigerante e tanques em todo o país e, além disso,
drena, purifica e recupera os produtos químicos, e depois despacha o
produto reciclado.
“Antigamente, alguns técnicos literalmente só cortavam o tubo e
liberavam o gás na atmosfera”, conta Anthony Nash, gerente de
treinamento na rede A-Gas. Agora, “a EPA e a regulação que se aplica a
todos nós tornam isso não só ilegal, mas também antiético”, diz.
O fluido refrigerante que não pode ser reutilizado passa por um
processo a temperaturas extremamente altas, chamado pirólise, em que os
gases são destruídos. Os negócios estão em franca expansão.
“A indústria provavelmente vai aumentar de quatro a cinco vezes nos próximos dois anos”, diz Armstrong.
SUBSTITUIÇÕES SUSTENTÁVEIS
Ao mesmo tempo, a indústria química está procurando substitutos. Até
agora, alguns são muito melhores na questão climática, mas poderiam ter
outros aspectos negativos, como serem inflamáveis, e seu impacto a longo
prazo sobre o meio ambiente ainda não é conhecido.
Vários pesquisadores estão cogitando o próprio dióxido de carbono
como um gás refrigerante. Mas Groll ressalva que ele precisa estar sob
pressão extremamente alta, o que exige sistemas diferentes.
O dióxido de carbono seria ótimo se “estivesse sendo retirado da
atmosfera”, segundo Christopher Cappa, professor de engenharia ambiental
na Universidade da Califórnia, em Davis. “Mas se estamos produzindo
apenas como gás refrigerante, então isso não seria necessariamente tão
bom.”
“É possível pensar em um futuro onde avançaríamos para uma economia
em grande parte livre de combustíveis fósseis e nossa principal fonte de
dióxido de carbono seria retirá-lo da atmosfera”, diz Cappa.
Atualmente, os compradores comerciais que procuram uma refrigeração
menos poluente conseguem encontrá-la. “É uma bola na cara do gol, uma
tecnologia conhecida que está pronta para o mercado”, diz Wright.
Mas quando se trata de ar-condicionado, a história é diferente.
Wright alega que os esforços de lobby dos fabricantes de produtos
químicos e de equipamentos de climatização, além de alguns códigos e
padrões, paralisaram o desenvolvimento de fluidos refrigerantes menos
poluentes para os equipamentos de ar condicionado nos EUA.
Mas uma grande fabricante, chamada Trane Technologies, diz que vem
trabalhando intensamente na busca de alternativas menos poluentes, já
selecionou uma que é 78% menos prejudicial do que a atual, e irá
adotá-la gradualmente nos aparelhos a partir de 2024.
Jarad Mason, professor assistente de química e biologia química na
Universidade de Harvard, está trabalhando em cooperação com colegas
pesquisadores para desenvolver um fluido refrigerante que seja, na
verdade, um sólido no lugar do vapor. O mineral perovskita é eficaz na
absorção de calor sob baixa pressão, permitindo que resfrie o ambiente.
A pesquisa em refrigerantes sólidos está nos primeiros passos, mas
Mason vê com otimismo seu potencial, porque poderia ser usada em
geladeiras, edifícios comerciais, e residências.
“A procura por aquecimento e arrefecimento só vai aumentar, e é
absolutamente vital que tenhamos formas sustentáveis e econômicas de
fornecer isso a todos no mundo”, diz.