terça-feira, 31 de outubro de 2023

ISRAEL QUER DESTRUIR OS TÚNEIS SOB GAZA

 

Por David Leonhardt e Lauren Jackson – The New York Times

Bom dia. Estamos cobrindo a crucial rede de túneis sob Gaza – bem como a ordem de silêncio de Trump, a violência armada americana e os tributos a Matthew Perry.

Um combatente palestino num túnel de Gaza no ano passado. Mohammed Saber/EPA, via Shutterstock – Um labirinto de túneis

Existe uma rede de transportes abaixo de Gaza, que Israel está a tentar destruir.

A rede é composta por túneis, onde a maioria dos combatentes do Hamas provavelmente vive ao lado de arsenais de armas, alimentos, água e, agora, mais de 200 reféns israelitas. Partes dos túneis são grandes o suficiente para que os veículos possam circular neles.

Os militares israelitas lançaram primeiro um intenso ataque aéreo visando estes túneis e agora enviaram tropas terrestres para os destruir. A eliminação dos túneis seria um grande passo para quebrar o controlo do Hamas sobre Gaza.

No boletim informativo de hoje, explicaremos por que a rede de túneis é tão importante – e por que Israel não terá facilidade em desmantelá-la.

‘O metro’

Túneis existem sob Gaza há anos. Mas depois de Israel ter retirado as suas forças e colonos de Gaza, há quase duas décadas, o Hamas expandiu enormemente a rede clandestina. O Hamas tem uma longa história de violência terrorista – tanto os EUA como a União Europeia consideram-no um grupo terrorista – e os túneis permitem aos seus membros esconderem-se dos ataques aéreos israelitas.

Israel criou mais incentivos para a construção de túneis ao reforçar o bloqueio de Gaza depois de 2007. A principal razão para o bloqueio foi impedir a entrada de armas e materiais relacionados, mas a definição de Israel é tão ampla que o bloqueio também restringiu o fluxo de artigos básicos. Em resposta, os habitantes de Gaza têm utilizado os túneis – que se estendem para sul, até ao Egipto – para contrabandear alimentos, mercadorias, pessoas e armas. Algumas pessoas referem-se às centenas de quilômetros de túneis como “o metrô”.

( Esta história , dos nossos colegas Adam Goldman, Helene Cooper e Justin Scheck, tem mais detalhes.)

O governo do Egito também considerou os túneis uma ameaça à segurança. Há uma década, o Egipto tentou destruir alguns túneis ao longo da sua fronteira com Gaza, despejando-lhes esgoto e arrasando casas que escondiam entradas, como disse aos nossos colegas Joel Roskin, professor de geologia na Universidade Bar-Ilan, em Israel.

Na guerra actual, o Hamas utilizará os túneis para esconder e atacar soldados israelitas a partir de locais inesperados. “Ao utilizar os túneis, o inimigo pode cercar-nos e atacar-nos por trás”, disse o coronel Amir Olo, antigo comandante da unidade de engenharia de elite israelita responsável pelo desmantelamento dos túneis.

O tributo civil

A batalha pelos túneis é uma das principais razões pelas quais esta guerra já tem um elevado número de mortes de civis. Mais de dois milhões de pessoas vivem acima dos túneis – uma camada de vida humana entre muitos alvos do Hamas e mísseis israelitas.

O Hamas escondeu muitas armas sob hospitais, escolas e mesquitas, de modo que Israel corre o risco de matar civis e enfrenta uma reação internacional quando luta. Os combatentes do Hamas também deslizam acima e abaixo do solo, misturando-se com os civis.

Estas práticas significam que o Hamas é responsável por muitas das mortes de civis, de acordo com o direito internacional, como explicou David French, redator do Times Opinion e antigo advogado militar . Colocar deliberadamente recursos militares perto de civis e disfarçar combatentes como civis são violações das leis da guerra.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, disse que Israel também está a violar o direito internacional ao continuar a bombardear o sul de Gaza – em parte para destruir túneis – depois de primeiro ordenar às pessoas que evacuassem para lá por segurança.

Embora Israel diga que os seus ataques são precisos, os palestinianos dizem que o bombardeamento pareceu vingativo e desfocado. Um homem perdeu 45 membros de sua família. No geral, diz o Hamas, pelo menos 8.000 pessoas morreram na guerra e a ONU confirmou a morte de pelo menos 2.360 crianças.

Uma questão é que as bombas que atingem os túneis ainda podem matar civis através de uma espécie de tremor secundário. Quando as bombas explodem no subsolo, os edifícios acima podem desabar e formar uma cratera. “As crateras tornam-se valas comuns”, disse Eyal Weizman, diretor do grupo de pesquisa Forensic Architecture.

Qualquer que seja a mistura apropriada de culpas entre Israel e o Hamas, o custo humano levou a críticas generalizadas a Israel. E à medida que as suas incursões terrestres continuarem, o número de vítimas certamente aumentará. Os mais de 200 reféns detidos pelo Hamas, provavelmente nos túneis, também estarão em risco.

Soldados no sul de Israel. Sergey Ponomarev para o The New York Times

Ar, depois terra

A primeira etapa da campanha de Israel contra os túneis foi a guerra aérea. Os militares lançaram mais de 7.000 ataques aéreos em Gaza desde o ataque do Hamas, em 7 de Outubro, que matou mais de 1.400 israelitas. Essa guerra aérea continua, juntamente com a operação terrestre.

Israel lançou bombas especiais que só explodem depois de serem enterradas no solo. Outro tipo de arma, chamada “ bombas de esponja ”, cria uma explosão de espuma endurecida para vedar os túneis. Se as entradas dos túneis estiverem fechadas, os combatentes não poderão sair delas em ataques surpresa.

A operação terrestre permite que Israel tome medidas adicionais para demolir túneis. Um soldado reservista israelense descreveu uma técnica, chamada “cabelo roxo”, aos nossos colegas:

As tropas israelenses jogam granadas de fumaça em um túnel e depois observam se a fumaça roxa sai de qualquer casa na área. A fumaça, disse o soldado, sinaliza que uma casa está conectada à rede de túneis e deve ser isolada antes que os soldados desçam para os túneis. A fumaça se move como fios de cabelo por todo o sistema de túneis, disse ele.

Esta descrição ajuda a esclarecer por que a guerra urbana tende a ser tão mortal. “Serão combates sangrentos e brutais”, disse o general Joseph L. Votel, antigo líder das operações militares dos EUA no Médio Oriente.

FRUTAS QUE TÊM VITAMINA "C" EM MAIOR OU MENOS QUANTIDADE

 

Augusto Aragão de Barros – Quora

Mestrado em Química de Produtos Naturais e Farmacognosia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (Formou-se em 2011)8 de out.

A Vitamina C, também designada como Ácido Ascórbico ou L-treo-hex-2-enomo-1,4-lactona, é um composto imprescindível à saúde humana e pode ser encontrada amplamente distribuída em fontes alimentares vegetais – não apenas nos frutos, como também em legumes. Se nas plantas esta vitamina age em diversos aspectos da fisiologia dos frutos, incluindo sua maturação e proteção contra processos oxidativos, da mesma forma é um elemento crucial na fisiologia humana e animal, pois que suas propriedades antioxidantes e acessórias em variados aspectos da imunidade, absorção intestinal e sinalização celular (integra como cofator e é acessório de muitas enzimas) não deixam dúvidas de que sua carência é perniciosa.

Estrutura química da Vitamina C, uma das mais abundantes nos produtos vegetais!

Embora amplamente distribuída nos alimentos vegetais, há muito que a literatura científica já delimitou que as cifras ideais de ingestão diária recomendada estão na faixa de 90 a 110mg (os maiores índices são recomendados para as grávidas e lactantes) e para atender à isso é que já se mapeou diferentes teores oferecidos por muitos dos alimentos vegetais usualmente consumidos. Segundo as publicações, podemos encontrar as seguintes cifras (para cada 100g) entre as maiores já documentadas:

Kakadu (Terminalia ferdinandiana) = cerca de 2900mg

Acerola (Malpighia emarginata) = cerca de 825mg

Rosa (Rosa canina) = cerca de 426mg

Pimentas em geral (Capsicum sp) = de 127mg a 285mg

Cassia/Groselha Preta (Rubis nigrum) = cerca de 181mg

Coentro (Coriandrum sativum) = cerca de 133mg

Couve (Brassica sp) = cerca de 120mg

Kiwi (Actinidia deliciosa) = cerca de 93mg

Brócolis (Brassica oleracea) = cerca de 89mg

Goiaba (Psidium guajava) = cerca de 80mg

Couve de Bruxelas (Brassica oleracea) cerca de 80mg

Mamão Papaya (Carica papaya) = cerca de 60mg

Citros em geral (Citrus sp) = de 53mg a 59mg

Há de se esclarecer alguns aspectos importantes em relação à Vitamina C neste contexto. O primeiro diz respeito ao fato de que existe uma grande variação do teor desta vitamina nos mesmos vegetais, especialmente nas variedades e cultivares, pois que a síntese é afetada pelos fatores edáficos (solo) e climáticos (o fotoperiodismo por exemplo). Isso explica porque é difícil conseguir “homogeneidade” no teor do Ácido Ascórbico entre mesmo frutos, já que as variações sazonais também reponde por isso.

Por fim cabe salientar que de nada adianta ingerir doses cavalares desta vitamina, pois que já são documentados problemas ocasionados pelo excedente ingerido. Apesar de ser um composto hidrossolúvel e que é facilmente excretado por indivíduos com função renal normal (clearance renal normal), em doses de 2000 a 3000mg pode ocorrer diarréias, cólicas e inclusive uma acidificação da urina que pode alterar a farmacocinética de medicamentos alcalinos como as Anfetaminas e Opióides, por exemplo. Não sendo apenas isso, é válido destacar que altas doses de Vitamina C podem aumentar o risco de cálculos renais.

Se alguém desejar saber mais detalhes sobre as fontes vegetais de Vitamina C e outros aspectos relacionados, eu indico a leitura dos artigos científicos a seguir:

A Comparative Study On The Ascorbic Acid Content Of Several Fruits, International Journal of Food and Nutritional Sciences (2022); volume 11, issue 7, pages 1224–1232.

Ascorbic Acid Content in Exotic Fruits: A Contribution to Produce Quality Data for Food Composition Databases, Food Research International (2011); 44(7):2237-2242. DOI:10.1016/j.foodres.2011.02.012

Impact of Innovative Technologies on the Content of Vitamin C and Its Bioavailability from Processed Fruit and Vegetable Products, Antioxidants (Basel). (2021); 10(1): 54. doi: 10.3390/antiox10010054

Metabolism and Regulation of Ascorbic Acid in Fruits, Plants (Basel). (2022); 11(12): 1602. doi: 10.3390/plants11121602

Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation, Front. Plant Sci. Sec. Plant Physiology (2019);

Volume 9, DOI: Vitamin C Content in Fruits: Biosynthesis and Regulation

MARCAS QUE ATRAEM E ENVOLVEM OS MAIS JOVENS SÃO MAIS BEM SUCEDIDAS E CONSUMIDAS

 

Por Patricia Artoni, professora da FIA Business School

A capacidade de atrair e envolver o público mais jovem é fundamental para o sucesso das marcas. Os jovens representam o futuro do consumo, e conquistar sua preferência desde cedo pode resultar em uma base de clientes leais que acompanhará a marca ao longo de suas vidas. No entanto, os jovens de hoje não buscam apenas benefícios funcionais em seus produtos. Eles anseiam por entretenimento e experiências significativas. Recentemente, a Kids Corp conduziu uma pesquisa abrangente para analisar as marcas preferidas e confiáveis entre crianças e adolescentes na América Latina. Os resultados deste estudo, baseados em respostas de 8.437 entrevistados entre janeiro e julho de 2023, lançam luz sobre como as estratégias de Shoppertainment, estão transformando o marketing para o público infantil.

Os resultados da pesquisa da Kids Corp revelam preferências por marcas e a confiança que elas geram nesse público. O YouTube lidera as preferências, com 13% dos jovens elegendo-o como sua marca favorita e 24% como confiável. Outras marcas que se destacam como preferidas incluem Roblox e Nike, ambas com 8% de preferência, seguidas de perto por Adidas e McDonald’s, com 7% cada. Netflix e PlayStation também desfrutam de alta popularidade, com 6% de preferência, e a Disney fecha a lista das marcas preferidas, com 5%

Esses números refletem o poder das estratégias de Shoppertainment, nas quais as marcas conseguem entreter, educar e envolver jovens, conquistando tanto seu coração quanto sua confiança. As marcas preferidas apresentam algumas características principais, como a capacidade de alegrar o público (31%), ser engraçado (30%), proporcionar alta qualidade (25%), oferecer conteúdo envolvente (19%) e fazer-se presente pela indicação e consumo dos amigos (18%).

O favoritismo não acontece ao acaso. No mundo atual, o vídeo é rei. O estudo da Kids Corp mostra que o YouTube é o canal líder, com 52% das respostas indicando que as campanhas de marketing foram assistidas lá. Os jovens consomem conteúdo de vídeo de maneira voraz, e as marcas que desejam se destacar devem dominar essa linguagem. O vídeo é altamente envolvente, memorável e compartilhável, tornando-se uma ferramenta essencial para contar histórias, demonstrar produtos e criar conexões emocionais com o público.

Os jovens estão cada vez mais conscientes das autênticas intenções das empresas e desejam se conectar com aquelas que compartilham seus valores. Portanto, ser genuíno e autêntico em sua abordagem é essencial. Além disso, as marcas destacadas pelo público têm o foco na criação de experiências memoráveis e não em vendas diretas.

Quando os jovens se sentem envolvidos, educados e entretidos, as vendas se tornam uma consequência natural. O estudo também revela que as marcas bem-sucedidas são eficientes em criar uma sensação de exclusividade e mantendo os consumidores envolvidos.

No cenário de marketing em constante mudança, o Shoppertainment é, sem dúvida, uma das tendências mais promissoras. Para conquistar os corações e mentes dos consumidores mais jovens e construir marcas verdadeiramente memoráveis, é fundamental adotar estratégias que promovam o entretenimento, educação e autenticidade, tudo isso com ética e responsabilidade.

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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

VAZAMENTO DE PRODUTOS QÚMICOS DE REFRIGERAÇÃO SÃO ALTAMENTE POLUENTES

 

História por admin3  • IstoÉ Dinheiro

Quando Jennifer Byrne, proprietária e técnica da empresa Comfy Heating and Cooling, recebe uma ligação para ir consertar um sistema de ar-condicionado relativamente novo, uma das primeiras perguntas que faz é se a casa foi reformada recentemente.

Na região oeste da cidade da Filadélfia, EUA, Byrne já encontrou reformas mal feitas em que os instaladores pularam etapas como o teste de pressão após a instalação. Isso pode causar acúmulo de gelo e vazamento de produtos químicos que promovem o resfriamento, chamados refrigerantes.

“Esse é um problema extremamente frequente por aqui. As pessoas normalmente contam que compraram uma casa que foi mexida, e há todo tipo de coisa errada, como o ar condicionado congelando”, conta Byrne, se referindo ao acúmulo de gelo.

“Tentam fazer da forma mais barata possível”, acrescentou, enquanto retirava o equipamento de sua caminhonete.

Não é um problema pequeno. Quando gases refrigerantes vazam assim, são altamente destrutivos para a sensível atmosfera da Terra. Eles são “os gases de efeito estufa mais potentes conhecidos pela ciência moderna”, como descreve um artigo científico, e estão aumentando depressa.

Um dos mais comuns, com o nome hostil de R-410A, é 2.088 vezes mais prejudicial ao clima do que o dióxido de carbono proveniente da queima de carvão e gasolina. Assim, uma das formas essenciais para as pessoas se refrescarem está tornando o mundo mais quente e mais instável.

É por isso que o Clean Air Act, a Lei do Ar Limpo nos EUA, proíbe a liberação intencional da maioria dos fluidos refrigerantes. Quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) exigiu que uma família de produtos químicos fosse gradualmente descontinuada em 85% até 2036, criou-se uma pressão para desenvolver e difundir alternativas mais limpas.

A caminhonete de Byrne está carregada com ferramentas, recipientes, mangueiras e cilindros selados especiais, inclusive um em cor rosa, do padrão industrial, que contém o potente R-410A. Quando ela conserta uma unidade de A/C com vazamento, ela drena o resto do fluido refrigerante em um dos cilindros, para permanecer armazenado de forma segura enquanto ela desmonta o aparelho.

Os aparelhos domésticos de ar-condicionado, porém, são apenas uma das formas pelas quais o gás refrigerante penetra na atmosfera, elevando os níveis de forma mensurável e contribuindo para o aumento das condições meteorológicas extremas.

Os carros são outra fonte desses super poluentes, segundo Eckhard Groll, especialista em refrigeração e coordenador de engenharia mecânica na Universidade Purdue. Os sistemas de ar-condicionado em veículos movidos a gasolina são “propensos a vazamentos” e, em média, cerca de 25% do gás refrigerante de todos os carros vaza a cada ano. Com mais de 200 milhões de carros a gasolina só nos EUA, Groll calcula que isso equivaleria a aproximadamente 45 mil toneladas de gás refrigerante chegando à atmosfera a cada ano.

Os supermercados são a segunda maior fonte de vazamentos, porque são grandes, e extensas tubulações transportam o fluido refrigerante até cada expositor refrigerado. Danielle Wright, diretora-executiva do Conselho Norte-Americano de Refrigeração Sustentável, um grupo de defesa de interesses, diz que aproximadamente 25% do gás refrigerante de um supermercado médio vaza a cada ano, o que confirma um documento da Agência de Proteção Ambiental de 2011.

“Eu não diria que (os supermercados) estão necessariamente fazendo economia, mas vamos dizer assim: é mais barato deixar o gás refrigerante vazar do que construir um sistema à prova de vazamento”, diz Wright.

A necessidade de minimizar o vazamento de gás refrigerante impulsionou uma indústria de reutilização e recuperação. Uma dessas empresas nos EUA é a A-Gas Rapid Recovery, que tem instalações em Dallas, no estado americano do Texas, em Toledo, no estado de Ohio, e em Punta Gorda, na Flórida, entre outras.

Os fluidos refrigerantes podem ser usados muitas vezes e durar por 30 anos, diz Mike Armstrong, presidente da A-Gas nas Américas. A empresa coleta fluido refrigerante e tanques em todo o país e, além disso, drena, purifica e recupera os produtos químicos, e depois despacha o produto reciclado.

“Antigamente, alguns técnicos literalmente só cortavam o tubo e liberavam o gás na atmosfera”, conta Anthony Nash, gerente de treinamento na rede A-Gas. Agora, “a EPA e a regulação que se aplica a todos nós tornam isso não só ilegal, mas também antiético”, diz.

O fluido refrigerante que não pode ser reutilizado passa por um processo a temperaturas extremamente altas, chamado pirólise, em que os gases são destruídos. Os negócios estão em franca expansão.

“A indústria provavelmente vai aumentar de quatro a cinco vezes nos próximos dois anos”, diz Armstrong.

SUBSTITUIÇÕES SUSTENTÁVEIS

Ao mesmo tempo, a indústria química está procurando substitutos. Até agora, alguns são muito melhores na questão climática, mas poderiam ter outros aspectos negativos, como serem inflamáveis, e seu impacto a longo prazo sobre o meio ambiente ainda não é conhecido.

Vários pesquisadores estão cogitando o próprio dióxido de carbono como um gás refrigerante. Mas Groll ressalva que ele precisa estar sob pressão extremamente alta, o que exige sistemas diferentes.

O dióxido de carbono seria ótimo se “estivesse sendo retirado da atmosfera”, segundo Christopher Cappa, professor de engenharia ambiental na Universidade da Califórnia, em Davis. “Mas se estamos produzindo apenas como gás refrigerante, então isso não seria necessariamente tão bom.”

“É possível pensar em um futuro onde avançaríamos para uma economia em grande parte livre de combustíveis fósseis e nossa principal fonte de dióxido de carbono seria retirá-lo da atmosfera”, diz Cappa.

Atualmente, os compradores comerciais que procuram uma refrigeração menos poluente conseguem encontrá-la. “É uma bola na cara do gol, uma tecnologia conhecida que está pronta para o mercado”, diz Wright.

Mas quando se trata de ar-condicionado, a história é diferente. Wright alega que os esforços de lobby dos fabricantes de produtos químicos e de equipamentos de climatização, além de alguns códigos e padrões, paralisaram o desenvolvimento de fluidos refrigerantes menos poluentes para os equipamentos de ar condicionado nos EUA.

Mas uma grande fabricante, chamada Trane Technologies, diz que vem trabalhando intensamente na busca de alternativas menos poluentes, já selecionou uma que é 78% menos prejudicial do que a atual, e irá adotá-la gradualmente nos aparelhos a partir de 2024.

Jarad Mason, professor assistente de química e biologia química na Universidade de Harvard, está trabalhando em cooperação com colegas pesquisadores para desenvolver um fluido refrigerante que seja, na verdade, um sólido no lugar do vapor. O mineral perovskita é eficaz na absorção de calor sob baixa pressão, permitindo que resfrie o ambiente.

A pesquisa em refrigerantes sólidos está nos primeiros passos, mas Mason vê com otimismo seu potencial, porque poderia ser usada em geladeiras, edifícios comerciais, e residências.

“A procura por aquecimento e arrefecimento só vai aumentar, e é absolutamente vital que tenhamos formas sustentáveis e econômicas de fornecer isso a todos no mundo”, diz.

O post EUA: Produtos químicos de refrigeração são um pesadelo climático apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

TURQUIA COMPLETOU 100 ANOS NESSE 29/10

il e Mundo Centenário da Turquia

100 anos de Turquia: como caiu o Império Otomano, a superpotência que queria ser universal

Byvaleon

Out 30, 2023

História por Norberto Paredes – BBC News Mundo e Brasil

A Turquia completa 100 anos em 29 de outubro© Getty Images

“Viva a República! Vida longa a Mustafa Kemal Pasha!”, gritaram os legisladores turcos em 29 de outubro de 1923, depois de proclamarem um novo modelo de governo e empossar Kemal Atatürk como primeiro presidente do país que acabava de nascer.

Enquanto muitos comemoravam, outros ainda lamentavam a queda do Império Otomano, uma das maiores superpotências que a humanidade já conheceu.

Neste domingo (29/10), completam-se 100 anos desde o nascimento da Turquia e pouco mais de um século desde a queda definitiva do Império.

O golpe final foi desferido em novembro de 1922, quando a Grande Assembleia Nacional aboliu o cargo de sultão, encerrando aproximadamente 600 anos de história da dinastia Osmanli, a família que liderou o império desde sua fundação, em 1299, até a sua dissolução.

A queda da superpotência, que rivalizou com os países mais poderosos do mundo durante vários períodos da história, foi uma tragédia para os turcos.

O Estado otomano se expandiu por três continentes, governando o que hoje é a Bulgária, o Egito, a Grécia, a Hungria, a Jordânia, o Líbano, Israel, os territórios palestinos, a Macedônia, a Romênia, a Síria, partes da Arábia Saudita e a costa norte de África.

Muitos outros países como a Albânia, Chipre, Iraque, Sérvia, Qatar e Iêmen também eram parcial ou totalmente otomanos.

Em muitas destas nações, no entanto, o legado imperial é tão controverso que alguns preferem esquecê-lo. Em outras, como a Turquia, ele é recordado com nostalgia e como uma época dourada que gera orgulho.

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A dinastia Osmanli (ou Casa de Osman) começou com uma oportunidade aproveitada por Osman I, então líder do império Seljuk.

Ao notar a fraqueza de seu império e do vizinho Bizantino, Osman decidiu fundar seu emirado em 1299 na Anatólia, o território hoje conhecido como Turquia.

Ele se tornava assim o fundador e primeiro sultão de um Estado turco que logo começaria a se expandir até cobrir mais de 5 milhões de km2.

Os descendentes de Osman, cujo nome às vezes é escrito Ottman ou Othman e de onde veio o termo “Otomano”, governaram a poderosa nação durante seis séculos.

A queda de Constantinopla

Olivier Bouquet, professor de História Otomana e do Oriente Médio na Universidade Paris Diderot, destaca que, em 1299, foi fundado apenas um “Estado Turco”.

O Império de fato começaria a tomar forma com a queda de Constantinopla, em 1453.

Com uma entrada simbólica em Constantinopla, montado em um cavalo branco, o sultão Mehmed II pôs fim a mil anos de Império Bizantino e posteriormente ordenou o assassinato de grande parte da população local, forçando o resto ao exílio.

Ele logo repovoou a cidade trazendo pessoas de outras partes do território otomano.

Mehmed II também renomeou Constantinopla para Istambul, a “cidade do Islã”, e começou a reconstruí-la.

Assim, a cidade se tornou não só a capital política e militar do império, mas também, devido à sua posição no cruzamento entre Europa, África e Ásia, um importante centro comercial mundial.

A força econômica que o império ganharia deveu-se em grande parte à política de Mehmed II de incentivar o aumento da quantidade de comerciantes e artesãos no seu estado.

Ele encorajou muitos comerciantes a se mudarem para Istambul e estabelecerem negócios lá. Os governantes posteriores continuaram esta política.

Receita do sucesso

Além do fato de o poder máximo ter sido transferido para apenas uma pessoa, evitando rivalidades, Bouquet explica que o império teve sucesso por outros motivos, sendo um dos principais o seu caráter de Estado fiscal-militar.

O chefe turco Osman (1258-1324), considerado o fundador do Império Otomano.© Getty Images

“Era um Estado em que a extração de recursos da riqueza fiscal estava ligada à conquista militar, que tinha o objetivo de adquirir mais riqueza e fazer entrar mais impostos de forma centralizada”, disse o especialista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Outro elemento propulsor do império, segundo o historiador, foi o seu poderio militar.

Os ataques do exército otomano foram rápidos e contaram com forças especializadas, como o famoso corpo de elite dos janízaros, ou janíçaros, que protegiam o sultão, e os sipaios, uma temida tropa de cavalaria de elite que em tempos de paz era responsável pela cobrança de impostos.

Também desempenharam papel importante a burocracia altamente centralizada do império, que lhe permitiu organizar a distribuição das suas riquezas, o fato do império ser inspirado e unido pelo islamismo, e de toda a sociedade ter o mesmo governante como referência.

“Era em tese uma sociedade que permitia outras religiões e, em teoria, não havia conversão forçada (ao Islã). Mas na verdade houve. Houve uma política de islamização em certos territórios”, diz Bouquet.

Os otomanos também se destacaram por seu pragmatismo: pegaram as melhores ideias de outras culturas e tornaram-as suas também.

Solimão, o Magnífico

Um dos sultões mais conhecidos do império foi Solimão, o Magnífico, que reinou entre 1520 e 1566 e fez com que o seu Estado chegasse aos Balcãs e à Hungria, chegando às portas da cidade romana de Viena.

Solimão, o Magnífico© Getty Images

Embora no Ocidente ele seja lembrado como “o Magnífico” e no Oriente como “o Legislador”, Suleiman tinha outros títulos tão exagerados quanto surpreendentes.

Estes incluem “o deputado de Allah na Terra”, “Senhor dos Senhores deste mundo”, “Dono dos pescoços dos homens”, “Refúgio de todas as pessoas em todo o mundo”, entre muitos outros que denotam a sua importância.

Um dos seus apelidos mais polêmicos era “Imperador do Oriente e do Ocidente”, algo visto por historiadores como um desafio direto à autoridade de Roma que, naquela época, havia sido superada pela autoridade otomana.

Embora o império atingisse sua extensão territorial máxima mais tarde, o período de Solimão, o Magnífico, é considerado no Ocidente como uma era de ouro para os otomanos, quando aconteceram muitas campanhas militares bem-sucedidas.

O império que queria ser universal

O nome “Imperador do Oriente e do Ocidente” também deixa claro que o Império Otomano se via e se considerava como único, sem nenhum igual ou semelhante.

“Aos olhos dos sultões otomanos, não havia outro imperador além do sultão otomano”, explica o historiador Olivier Bouquet.

Sultão Mahmud II saindo da Mesquita Bayezid, Constantinopla, em 1837© Heritage Images

Segundo ele, a ideia de um império universal vem da herança bizantina e do Islã.

“Eles queriam conquistar todos os territórios onde viviam homens e mulheres”, diz o professor. “Todos os países localizados fora dos ‘territórios do Islã’ (Dar al-Islam) tinham uma vocação para ser conquistados.”

Isso explica a longa duração do Império Otomano: seu exército não tinha limites na conquista de territórios, que avançou durante séculos.

“E o império começou a enfraquecer no momento em que as conquistas ficaram mais difíceis ou param”, acrescenta Bouquet.

O começo do fim

Um dos primeiros episódios a enfraquecer a superpotência em que se transformara o Estado Otomano foi a sua derrota na Batalha de Lepanto, em 1571.

O império enfrentara a Liga Santa, uma coligação militar composta por Estados Católicos e liderada pela monarquia espanhola e um grupo de territórios onde hoje está a Itália.

Esta é descrita como uma das batalhas mais sangrentas que a humanidade viu desde a antiguidade e pôs fim à expansão militar otomana no Mediterrâneo.

A derrota na Batalha de Lepanto em 1571 foi um golpe devastador para o Império Otomano.© Getty Images

A partir daí terminava a sorte do império, dando espaço a um longo e progressivo declínio.

Vários erros de cálculo somados à instabilidade política e econômica de Istambul no início do século XX acabaram desmoronando um império cujo brilho já estava manchado.

O primeiro foi a Primeira Guerra dos Balcãs (1912-1913), na qual enfrentou a Liga Balcânica (Bulgária, Grécia, Montenegro e Sérvia), que, apoiada pela Rússia, tentava expulsar os otomanos de suas terras.

Militarmente inferior, o Império Otomano perdeu a guerra e com ela todos os seus territórios na Europa, com exceção de Constantinopla e arredores.

Historiadores recordam esta derrota como um ponto de virada e um episódio “humilhante” para os otomanos.

O golpe final

Os territórios otomanos restantes atravessavam um mau momento econômico, devido ao desenvolvimento de outras rotas comerciais, à crescente rivalidade comercial com a América e a Ásia, e ao aumento do desemprego.

Eles também enfrentavam as ambições expansionistas de potências europeias como a Grã-Bretanha e a França.

Além disso, as tensões entre diferentes grupos religiosos e étnicos aumentaram. Armênios, curdos e gregos, entre outros povos, sentiam-se cada vez mais oprimidos pelos turcos.

Com todos esses problemas, Istambul embarcou em uma nova guerra contra uma poderosa aliança liderada pela França, o Império Britânico, os Estados Unidos e a Rússia.

A vitória dos Aliados no Oriente Médio durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um dos gatilhos para a desintegração do Império Otomano, que já estava com os dias contados.

Depois disso, foram criados o mandato francês na Síria e os mandatos britânicos no Iraque e na Palestina, todos sob a supervisão da Liga das Nações (órgão que precedeu a ONU).

Os otomanos não sabiam que em 1917, no meio da guerra, a França e a Grã-Bretanha já tinham concordado secretamente em dividir seus territórios pelo tratado Sykes-Picot.

Nesse mesmo ano, também foi assinada a Declaração Balfour, documento no qual o governo britânico prometia ao povo judeu um “lar” na região da Palestina, que também fazia parte do império.

Nasce um país: Turquia

Oficialmente, o império deixou de existir em 1º de novembro de 1922, quando o cargo de sultão foi abolido.

Um ano depois nasceu a República da Turquia.

Depois de liderar uma revolução republicana, Mustafa Kemal Atatürk, considerado “o pai da Turquia moderna”, tornou-se seu primeiro presidente.

O último sultão do Império Otomano, Mehmed VI, temia ser morto pelos revolucionários e teve de ser retirado de Istambul por agentes britânicos.

Ele acabou exilado na Itália de Benito Mussolini, no balneário de San Remo, mesmo local onde havia sido acertada a divisão de seu império.

Lá ele morreu quatro anos depois, tão pobre que as autoridades italianas confiscaram seu caixão até que as dívidas com comerciantes locais fossem pagas.

Mustafa Kemal Atatürk governou a Turquia desde a sua criação, por 15 anos.© Getty Images

A república que nascia deixou para trás suas aspirações imperiais e se baseou no Kemalismo, uma ideologia implementada por Atatürk que tinha como valores o republicanismo, o populismo, o nacionalismo, o secularismo, o estatismo e o reformismo.

Muitos historiadores afirmam que o secularismo da Turquia moderna é um “grande” legado do Império Otomano.

Neo-otomanismo

Por outro lado, o califado Otomano continuou brevemente como instituição na Turquia, embora com autoridade bastante reduzida, até que também foi abolido em 3 de março de 1924.

Atualmente, a visão de que a derrota dos otomanos na Primeira Guerra Mundial pôs fim ao seu império é contestada por alguns, que afirmam que a sua queda é culpa do Ocidente.

“A ideia da responsabilidade ocidental (na queda do império) foi assumida durante vários anos pelo regime de Ancara e pelo atual presidente da República Turca (Recep Tayyip Erdogan)”, afirma o historiador Olivier Bouquet.

Recep Tayyip Erdogan© Getty Images

Nos últimos anos, o sentimento de nostalgia que alguns na Turquia sentem pela era otomana alimentou o ressurgimento do chamado neo-otomanismo.

Trata-se de uma ideologia política islâmica e imperialista que, no seu sentido mais literal, defende a honra do passado otomano da Turquia e o aumento da influência turca nas regiões que estiveram sob domínio otomano.

Durante muitas décadas, os líderes da Turquia moderna se esforçaram para se distanciar do legado imperial e do Islã com a intenção de projetar uma face mais “ocidental” e “secular”.

Mas desde sua ascensão ao poder, Erdogan não esconde sua nostalgia pelo passado otomano do seu país e sua herança islâmica.

Prova disso foi a controversa conversão em 2020 da Hagia Sophia – que Atatürk transformou em um dos museus mais emblemáticos de Istambul – em uma mesquita.

Da mesma forma, Erdogan demonstrou repetidamente sua admiração por Selim I, um sultão que liderou uma das maiores expansões do Império Otomano.

Depois de vencer um referendo constitucional em 2017, que expandiu enormemente seus poderes presidenciais, Erdogan fez sua primeira aparição pública no túmulo do antigo sultão otomano.

E, mais recentemente, decidiu dar seu nome a uma das pontes construídas sobre o famoso estreito de Istambul, no Bósforo.

“O Império Otomano desapareceu, mas há um neo-otomanismo que se desenvolveu (…) Há muito mais referências ao Império Otomano hoje do que havia no final do século XX”, conclui Bouquet.

 

O GOVERNO GASTA COM ATIVIDADES QUE NÃO TÊM NA HAVER COM A EXPLORAÇÃO HIDRELÉTRICA E ENCARECE O CUSTO DA ENERGIA

 

História por ALEXA SALOMÃO  • Folha de S. Paulo

Photo taken in Foz Do Iguaçu, Brazil

BRASÍLIA, DF (FOLHARPESS) – Quitada a dívida contraída para a construção de Itaipu, o Brasil já pode rever a forma como comercializa a energia da hidrelétrica, avaliam especialistas do setor.

A medida não demanda negociação com o Paraguai e não fere os princípios do Tratado de Itaipu. Depende apenas de decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e alteração legal no Congresso Nacional, afirmam.

Neste momento, Brasil e Paraguai estão prestes a iniciar a renegociação do Anexo C, parte do tratado que define questões financeiras, mas isso também não faz diferença, argumentam. O Tratado de Itaipu determina que 100% da energia precisa ser contratada, com eventuais sobras de cada lado sendo cedidas para o parceiro, mediante um pagamento.

Não há no documento imposições sobre como cada país vai tratar a sua parte da cota, reforçam os especialistas.

Do lado brasileiro, uma lei de 1973 obriga que a tarifa da hidrelétrica seja embutida na conta de luz de 31 distribuidoras de dez estados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, seja qual for o preço. Essa compra compulsória foi uma das estratégias em favor do financiamento e reforçou as garantias aos credores de que haveria fonte certa de recursos para pagar a dívida da obra.

O empréstimo foi feito integralmente pelo Brasil, bem como a apresentação das garantias e, segundo estudo do Instituto Acende Brasil, detalhado neste domingo pela Folha, a quitação também. Os brasileiros consumiram a maior parte da energia e pagaram integralmente, via conta de luz, os US$ 63 bilhões (R$ 311,7 bilhões) da dívida, até a ultima parcela, em fevereiro deste ano.

O instituto defende o fim da obrigatoriedade de compra da energia pelas distribuidoras e que ela passe a ser comercializada em leilões pela ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional), estatal que assumiu o lado brasileiro de Itaipu após a privatização da Eletrobras.

“A ENBPar pode fazer o leilão para todos, distribuidores e consumidores livres”, diz Claudio Sales, presidente do Acende Brasil.

Pela proposta, eventuais valores gerados pela diferença entre a tarifa da usina e o preço de venda no mercado seriam utilizados para reduzir a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), onde se concentram os gastos do Brasil com os crescentes subsídios ao setor de energia, deixando mais barata a conta de luz do país.

A avaliação é que a venda no mercado também exigiria que Itaipu se tornasse mais competitiva e reduzisse a tarifa, algo que hoje não parece estar no foco dos governos parceiros, segundo críticos.

A dívida pela obra representava 60% das despesas, então, a expectativa era de que a sua queda e a quitação levariam a reduções proporcionais na tarifa, o que não ocorreu. Os recursos estão sendo canalizados para obras e projetos socioambientais, que os especialistas consideram uma espécie de “orçamento paralelo” para os governos dos dois lados da fronteira.

“A inclusão de inúmeras atividades que não têm relação com a exploração hidrelétrica de Itaipu representam uma distorção no espírito do tratado, e o efeito prático disso é encarecer de maneira irracional o custo da energia de Itaipu”, diz Sales. “Não há nada mais socialmente correto que garantir energia barata.”

A dívida começou a cair em 2007. De 2009 a 2021, anualmente, o seu custo se manteve na casa de US$ 2 bilhões (R$ 9,9 bilhões) e a tarifa ficou congelada. Em 2022, o custo caiu para US$ 1,4 bilhão (R$ 6,9 bilhões). Neste ano, cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) quitaram o pagamento. A redução, porém, não foi integralmente repassada à tarifa.

Em paralelo, o gasto com as obras e os projetos socioambientais foram crescendo.

Levantamento realizado pela consultoria PSR, uma das mais conceituadas do setor, identificou que esses projetos custavam US$ 88,5 milhões (R$ 437,8 milhões) em 2013. No ano passado, chegaram a US$ 316 milhões (R$ 1,56 bilhão).

Estimativas do MME (Ministério de Minas e Energia), em 2022, apontavam que a tarifa, sem a dívida, ficaria na casa de US$ 10,77 (R$ 53,28) pelo KW (kilowatt). Neste ano, está em US$ 16,71 (R$ 82,67).

Procurado pela Folha para falar sobre a tarifa, o Itamaraty afirmou que o valor “é o resultado de intensas negociações bilaterais e representa o equilíbrio possível entre os interesses de Brasil e Paraguai”.

A assessoria de Itaipu, por sua vez disse que a tarifa de 2023 é a menor em 20 anos, e que as iniciativas no campo da responsabilidade social e ambiental foram pactuadas pelas chancelarias dos dois países como “componente permanente na atividade de geração de energia”.

De fato, esses investimentos só são possíveis por uma alteração na missão original de Itaipu, feita em 2005. O governo Lula sugeriu, e o Paraguai aceitou, que Itaipu passasse a atuar em favor do desenvolvimento regional, aplicando-se a regra da paridade. Cada dólar gasto com esse fim num país, o outro também terá direito a gastar.

A medida foi oficializada por meio de um instrumento diplomático chamado Nota Reversal, e o novo custo passou a ser contabilizado na despesa de exploração, que originalmente foi criada para gastos de operação e manutenção da usina.

Todo governo da vez no Brasil alega que o Paraguai não quer baixar a tarifa, mas nenhuma gestão explicou quais são os critérios e os limites desse tipo de investimento, uma vez que a tarifa da usina é o custo da operação. A história mostra que cabe de tudo nesse tipo de investimento.

Itaipu no governo Michel Temer liberou a construção de duas pontes entre os dois países parceiros, uma em Mato Grosso do Sul. A gestão de Jair Bolsonaro apoiou 24 projetos, entre eles a estrada Boiadeira, trecho da BR-487 no Paraná.

Com o caixa abastecido com um valor histórico, dizem pessoas próximas a Itaipu, Lula 3 ampliou de 55 para 434 o número de municípios com direito a receber projetos socioambientais e de infraestrutura. A lista inclui todos os 399 do Paraná e 35 de Mato Grosso do Sul. Foi anunciado R$ 1 bilhão por meio de um convênio com a Caixa.

Outros R$ 600 milhões vão para conclusão da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu (PR).

“Os recursos pagos por milhões de consumidores tinham de ser distribuídos para todo o país, mas em uma ação ofensiva ao pacto federativo estão concentrados na mão de um estado só, onde são utilizados para fins políticos”, afirma José Luiz Alquéres, que foi conselheiro de Itaipu e presidente da Eletrobras.

Alquéres lembra que cada dólar gasto no Brasil equivale a outro dólar na conta do Paraguai –tudo pago pelos brasileiros, como mostrou levantamento do Acende Brasil.

“Lá também se coloca dinheiro em todo tipo de coisa, como aulas de guarani e redes de postos de gasolina. É um total desvirtuamento, que não está sob controle de nenhuma fiscalização seja qual for o lado da fronteira.”

Na tentativa de monitorar esses custos sem relação com energia elétrica, órgãos de controle externo nos dois países tentam criar uma Comissão Binacional de Contas. Em 16 de outubro, o subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas de União), Lucas Furtado, entrou com uma representação solicitando ao órgão que antecipe uma ação.

“Defendo a fiscalização e falo em desvio de finalidade porque a usina foi feita para produzir energia, não criar emas”, afirmou à Folha, numa referência ao fato de Itaipu estar financiando o novo viveiro de emas no Palácio da Alvorada.

O fim dessas despesas e da compra compulsória de energia, bem como a oferta em leilões já contam com apoio de outras entidades.

“O Brasil precisa de energia competitiva para o seu desenvolvimento, e todos concordam que ela está chegando cara ao consumidor final e no preço dos produtos. Itaipu é uma oportunidade de começar a reverter isso”, diz Paulo Pedrosa, ex-conselheiro de Itaipu e presidente da Abrace Energia, entidade que reúne grandes consumidores empresariais de energia.

O presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Luiz Eduardo Barata, que também atuou em Itaipu, apoia as mudanças e afirma que elas devem ser debatidas com a sociedade.

“O consumidor deve ter um papel predominante nessa discussão por ser o pagador do serviço, mesmo aqueles que estão nas regiões que não deram suporte ao pagamento da construção da binacional devem participar da solução”, diz Barata.

AUMENTAM OS IMPOSTOS EXAGERADAMENTE E DEPOIS FAZEM A REDUÇÃO PARA ALGUNS

História por EDUARDO CUCOLO  • 17h

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tributação efetiva do lucro das grandes empresas brasileiras de capital aberto é de 18,1%, quase metade da alíquota de 34% prevista na lei. Isso significa que, no papel, o Brasil possui uma das mais elevadas cargas tributárias corporativas do mundo. O imposto pago de fato, no entanto, está abaixo da média global de 23,5%.

O número coloca em xeque um dos principais argumentos utilizados para justificar a isenção de Imposto de Renda na distribuição de lucros e dividendos por essas empresas a seus acionistas: a afirmação de que esse benefício seria compensado por um imposto corporativo mais elevado do que em outros países.

As conclusões fazem parte do estudo “Alíquotas Efetivas e Incidência do Imposto de Renda Corporativo”, elaborado pelo Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e pelo Made/USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo), com apoio da organização social Samambaia.org, mantenedora da República.org.

A diferença entre a alíquota prevista em lei e o percentual efetivamente pago é explicada pela existência de benefícios fiscais e práticas de planejamento tributário que reduzem a carga dessas companhias, além da evasão fiscal e de decisões judiciais que afetam o pagamento de tributos.

Os autores destacam também que a diferença entre carga nominal e imposto recolhido cresceu ao longo do período analisado (2012 a 2022) e que essa diferença é maior em alguns setores do que em outros, criando um grupo de empresas mais privilegiadas.

Um dos objetivos do trabalho é servir de referência para as discussões sobre a reforma do Imposto de Renda, que está sendo elaborada pela secretaria extraordinária do Ministério da Fazenda que trata do tema. A ideia do governo é reduzir a alíquota de 34% dos tributos sobre o lucro corporativo (IRPJ/CSLL) e cobrar o IR na distribuição de lucros e dividendos.

Uma parte dessas mudanças já está em discussão no Congresso: a proposta que reduz o impacto de benefícios estaduais sobre a arrecadação federal, um dos pilares do pacote de medidas para zerar o déficit nas contas do governo no próximo ano.

Para os autores do trabalho, os economistas Manoel Pires (FGV), Pedro Romero Marques (Made/USP) e José Bergamin (Made/USP), seria positiva uma reforma que aproximasse a alíquota nominal da efetiva, permitindo que todas as empresas tenham uma tributação menor, e não somente aquelas beneficiadas pelas distorções do sistema atual.

Outro ponto é a revisão de brechas e benefícios, o que reduziria a complexidade, os custos associados às exceções e a pressão para ampliação de regimes especiais com carga tributária reduzida, como o lucro presumido e o Simples Nacional.

Eles defendem ainda o fim da isenção na distribuição de lucros. Afirmam que o argumento de que as corporações são sobretaxadas no Brasil de modo a compensar a inexistência do imposto sobre dividendos não encontra respaldo nos resultados obtidos.

“Se é verdade que o Brasil consolidou a tributação de lucro e dividendos nas empresas, você deveria esperar uma carga efetiva muito maior em relação aos outros países que separam essa tributação. E a gente encontra exatamente o contrário. Na verdade, a gente não está tributando lucro e dividendos em lugar nenhum”, afirma Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre.

Entre os países da OCDE, por exemplo, a soma das alíquotas do imposto sobre o lucro das empresas e dos dividendos supera 40%, na média.

Pedro Romero Marques, coordenador de Pesquisa do Made/USP, defende uma reforma do IR que inclua uma revisão de gastos tributários e outros tipos de benefícios fiscais, mas que também observe a capacidade de pagamento das empresas e a necessidade de arrecadação do Estado.

“Temos espaço para reduzir a alíquota nominal, aproximá-la daquilo observado em termos efetivos, garantindo que vai continuar arrecadando da mesma forma. E abrindo espaço também para considerar uma tributação na pessoa física de lucros e dividendos. Isso é fundamental, porque, nesse caso, a gente também está falando de redução de desigualdade na renda”, afirma Marques.

DISTORÇÕES SETORIAIS

Os autores afirmam que, quando a tributação de 34% com isenção de dividendos foi instituída, a carga sofrida pelas empresas brasileiras estava próxima da de outros países. Nas últimas décadas, no entanto, houve um movimento de redução de alíquotas em várias economias.

No Brasil, esse ajuste foi feito por meio dessas distorções do sistema. Esse é um processo que ainda está em curso, segundo os dados analisados, que levam em conta metodologia semelhante à utilizada pelo economista Aswath Damodaran, da NYU (Universidade de Nova York).

No caso brasileiro, foram utilizados dados dos balanços das 336 empresas que estiveram registradas na Bolsa de Valores no período de 2012 a 2022, o que inclui indústrias, varejistas e companhias do setor de serviços –excluindo apenas instituições financeiras.

Na comparação internacional, a tributação efetiva das empresas analisadas estaria abaixo do verificado nos EUA (21,2%) e nas amostras para Europa (25,7%) e países emergentes (26,4%) do estudo da NYU, que considera a média de 2016 a 2021.

A tributação média no Brasil está próxima também dos 18% verificados de 2019 a 2021, quando o governo Donald Trump (2017-2020), nos EUA, reduziu a carga sobre as empresas.

Esse benefício, no entanto, não é o mesmo para todos. Setorialmente, a alíquota média das empresas listadas na Bolsa varia de 14,29% a 21,6% de acordo com o setor.

A indústria de máquinas e equipamentos, as concessionárias de transporte e os setores de tecnologia aparecem entre aqueles relativamente menos favorecidos, com uma tributação em torno de 20%.

Entre os mais favorecidos, com tributação próxima de 15%, estão os chamados consumo cíclico e não cíclico, segundo a classificação da B3, que incluem empresas do agronegócio, do varejo, da construção e de alimentos e bebidas.

Um sistema cheio de distorções, segundo o estudo, pode dificultar o desempenho econômico das empresas que não se beneficiam dessas exceções e afastar companhias que poderiam operar no país.

“Arranjos dessa natureza podem resultar em uma série de lobbies que fracionam o sistema tributário para atender grupos específicos de empresas com menor produtividade”, afirmam os autores.

Todas as companhias analisadas são tributadas pelo lucro real, regime aplicado àquelas com faturamento anual superior a R$ 78 milhões. Empresas com resultado inferior a esse patamar estão em outros regimes que têm carga ainda menor, como Simples e lucro presumido, e que são tributadas com base no faturamento.

Foram calculadas seis medidas de carga efetiva (ETR – Efective Tax Rate), a partir de quatro fórmulas, combinando fatores como diferimento e utilizando amostras com todas as empresas ou apenas com aquelas que apresentaram lucro em determinado período -método também utilizado em estudos internacionais.

Um trabalho divulgado na última segunda-feira (23) pelo Observatório de Política Fiscal da União Europeia aponta uma tributação efetiva das empresas brasileiras próxima de 20% de 2012 a 2020, valor próximo do obtido em três desses cálculos realizados pelo estudo.

 

BOLSONARISMO VAI USAR AT ÉCNICA DA SUCURI ABRAÇAR E SUFOCAR OS ADVERSÁRIOS E DEPOIS ENGOLE

História por Rui Martins  • Correio do Brasil

O repórter ouve e vê muita coisa interessante nas suas andanças pelos sertões do Brasil. Na década de 80, quando comecei a fazer reportagens sobre o povoamento das fronteiras agrícolas brasileiras pelos agricultores gaúchos e seus descendentes, estava em um hotel de beira de estrada numa cidadezinha no Pantanal do Mato Grosso do Sul quando encontrei, durante o jantar, uma comitiva de deputados federais.

Por Carlos Wagner

Bolsonaristas utilizam a técnica da sucuri© Fornecido por Correio do Brasil

Técnica da sucuri é utilizada para impedir concorrência a Bolsonaro. Foi a primeira vez que ouvi falar na tal técnica da sucuri para sufocar e vencer um adversário político. Este é o assunto sobre o qual vamos conversar. Seguindo o manual do bom e velho jornalismo vamos contextualizar a nossa conversa, ou como diziam os editores dos tempos das barulhentas máquinas de escrever nas redações, mostrar o pano de fundo dos acontecimentos. É fundamental para a sobrevivência política do bolsonarismo que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) consiga descolar da sua imagem o quebra-quebra que os seus seguidores fizeram em 8 de janeiro nos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Essa imagem afasta do bolsonarismo os eleitores da direita comprometida com os valores democráticos, justamente a fatia do eleitorado que foi fundamental para a vitória do ex-presidente em 2018. Usando uma linguagem de boxeador, ele acusou o golpe que abalou sua imagem pública pela primeira vez no início de outubro, quando, acompanhado da ex-primeira-dama Michelle, foi a uma manifestação em Belo Horizonte (MG) contra a descriminalização do aborto nas primeiras 12 semanas de gravidez, cuja proposta tramita no STF. Esperava reunir 10 mil pessoas, mas apareceu bem menos gente. Justificou a ausência de público alegando que tinha medo que se repetisse o 8 de janeiro. Na quinta-feira (12/10), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), um ícone do bolsonarismo, foi proibida de subir no caminhão para discursar em ato contra a descriminalização do aborto realizado na Avenida Paulista, em São Paulo (SP). Uma das alegações dos organizadores foi que ela responde a processos no STF sobre crimes relacionados ao 8 de janeiro.

O ato foi organizado pelo deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), que é vice-líder na Assembleia Legislativa paulista do governador Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro. Zambelli não armou barraco com a proibição, saiu de fininho. Esses dois episódios mostram que deu errado a estratégia de conseguir vender para a opinião pública que o quebra-quebra de 8 de janeiro foi provocado por infiltrados da esquerda no movimento bolsonarista. Tentaram enfiar goela abaixo da população essa versão forçando a barra e conseguindo a realização da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre os atos de 8 de janeiro (CPMI do 8/1).

ACPMI do 8 de janeiro foi um tiro que saiu pela culatra – há material na internet sobre o assunto. Os depoimentos aumentaram a hemorragia do prestígio político do ex-presidente. E as duras sentenças a estão sendo condenados pelo STF os participantes do quebra-quebra desencorajam futuros acontecimentos semelhantes. Aqui é o seguinte. Os 30% de bolsonaristas raiz sempre vão votar no ex-presidente. O restante corresponde à direita que respeita os valores democráticos que ajudaram a eleger o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Se nesse segmento de eleitores surgir uma liderança nova que consiga rivalizar com a atual aliança política que governa o país, o bolsonarismo como conhecemos perde a relevância. E existe a chance real de que essa liderança surja entre os ex-bolsonaristas raiz. E que os líderes do círculo íntimo do ex-presidente comecem a usar a técnica da sucuri para impedir o surgimento de novos líderes. Antes uma explicação que julgo necessária. A técnica é simples e eficiente. A sucuri é uma cobra que pode ter até 10 metros de comprimento. Ela se enrola na sua vítima e a aperta até quebrar os ossos e a sufocar. Depois a engole.

É um espetáculo para quem tem nervos fortes. E virou histórias que passam de geração para geração entre as famílias sulistas que se estabeleceram nas fronteiras agrícolas – nome que davam para grandes áreas de terra escassamente povoadas. Por ser um animal em extinção, é protegida por lei. A primeira vítima da técnica da sucuri é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ex-ministro de Bolsonaro, ele se elegeu graças ao prestígio do ex-presidente.

Logo no início do seu mandato tentou colocar a sua marca pessoal na administração. Assim que passou a ocupar espaços nobres nas manchetes dos jornais começaram a enfiar-lhe garganta abaixo as pautas dos bolsonaristas raiz, como a questão do aborto e a proteção aos policiais violentos. Com a inelegibilidade do ex-presidente por oito anos, decretada em junho pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aumentou a pressão sobre o que Freitas pode e não pode fazer na sua administração no governo de São Paulo. O governador sabe que a sucuri está se enrolando ao redor do seu corpo. Seu destino político se decidirá nas eleições municipais de 2024. Ele ficará no abraço da sucuri, esperando ser indicado para concorrer a presidente da República. Caso contrário, terá que decidir o que irá fazer da sua vida política.

Além do governador paulista várias outras lideranças municipais e estaduais estão sendo vigiadas pelos três filhos parlamentares do ex-presidente, Carlos, vereador no Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. No atual momento da sua carreira política o que mais incomoda o ex-presidente é a sua ligação com as imagens do quebra-quebra de 8 de janeiro. Bolsonaro se diz de direita. Mas pelas pautas que têm e as suas ligações com golpistas, ele é de extrema direita.

Tanto que é reconhecido por outros líderes da extrema direita ao redor do mundo. O ex-presidente cometeu muitos crimes no exercício do seu mandato, como as mortes dos 700 mil brasileiros pela Covid, como demonstram as 1,3 mil páginas do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre a Covid, a CPI da Covid. Mas nenhum desses crimes colaram tanto na sua imagem como o quebra-quebra em Brasília. Ele mesmo reconhece. Todo o animal tem um predador, é a lei da natureza. A sucuri também tem alguns, os mais vorazes são as piranhas. (Publicado no Observatório da Imprensa)

Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social — habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul — Ufrgs. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora (RS, Brasil) de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

 

SINCERIDADE IRRESPONSÁVEL DE LULA COM O ORÇAMENTO

 

História por Notas & Informações  • Jornal Estadão

Em um surto de sinceridade, o presidente Lula da Silva afirmou que a meta de zerar o déficit fiscal no ano que vem não precisa ser cumprida. Segundo ele, o resultado dificilmente será atingido sem a realização de cortes orçamentários em investimentos e obras públicas, algo que ele não deseja fazer. “A gente não precisa disso”, disse o presidente, referindo-se à meta de déficit zero, em café com jornalistas no Planalto na sexta-feira passada.

Quem escolhe a vida pública sabe que existem muitas coisas que não devem ser ditas – não porque elas não sejam verdade, mas pelos efeitos indesejados que essas verdades podem gerar. Mas foi exatamente isso que o presidente fez na semana passada, ao jogar uma pá de cal sobre a meta a que o próprio governo se impôs.

Havia sido uma semana muito positiva no mercado financeiro. A prévia da inflação reforçou as apostas dos analistas sobre a manutenção do ritmo de redução da taxa básica de juros. Após a fala do presidente, o dólar voltou a romper o patamar de R$ 5,00, a bolsa caiu e os juros futuros dispararam, desancorando expectativas que guiam as decisões do Banco Central (BC) a menos de uma semana da reunião em que o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a taxa básica de juros.

Como esperado, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), saiu em defesa do chefe. Segundo ela, o mercado financeiro teve uma reação irracional, pois nunca acreditou de fato na meta do déficit zero. Hoffmann, no entanto, não é nenhuma amadora e sabe exatamente o impacto da mensagem que Lula da Silva passou.

Quando os economistas demonstram ceticismo em relação ao déficit zero, cumprem sua obrigação de alertar a sociedade quanto à solidez das contas públicas. Quando a oposição ironiza o compromisso, faz o jogo político que dela se espera. Quando o Congresso resiste à meta, tenta ampliar seu acesso ao Orçamento. Quando o presidente da República em pessoa menospreza a meta anunciada pelo seu próprio ministro da Fazenda, está sendo apenas irresponsável.

Ainda que inexequível, o déficit zero é sempre um objetivo defensável. Ele expressa uma disposição inicial ao acerto, o que já é muita coisa. Manter o objetivo inalterado significa caminhar em sua direção, o que implica pronta e imediata rejeição de medidas que abram mão de receitas ou aumentem gastos.

Sabe-se que o mundo real não é exatamente assim. A própria pandemia de covid-19 mostrou o quanto demandas inesperadas podem surgir sem aviso prévio e precisam ser acomodadas. Não há, no entanto, nenhum motivo, neste momento, para renunciar previamente à meta no primeiro ano em que ela seria testada.

Quando o presidente fala em “obras”, deputados e senadores entendem “emendas”. Ambas fazem parte da mesma rubrica de despesas não obrigatórias. A meta de déficit zero exige um corte na verba de gastos discricionários de até R$ 53 bilhões, de forma que as emendas não seriam poupadas. É disso que se trata: Lula está mais preocupado em saciar a fome de sua base fisiológica do que em bancar o compromisso de equilíbrio fiscal assumido pelo ministro Fernando Haddad.

O Legislativo se sente credor do governo e sabe que é essencial para que a agenda do Executivo continue a avançar. Depois de meses de negociações difíceis e custosas, a Câmara aprovou o projeto de lei que tributa fundos exclusivos e offshore. No Senado, a despeito das críticas, a reforma tributária caminha para ser aprovada com benefícios superiores aos custos.

Em troca, parlamentares querem a garantia de suas emendas, mesmo que elas comprometam o arcabouço a que eles mesmos deram aval. Afinal, se esse contexto piorar as expectativas a ponto de elevar a inflação e impedir a redução dos juros, Lula retomará as críticas ao Banco Central, isentando o Congresso e a si mesmo de qualquer responsabilidade.

O ministro Haddad sai derrotado do episódio e sem qualquer moral para cobrar alguma austeridade da Câmara e do Senado. Quem realmente perde, no entanto, é o País, sobretudo os mais pobres, que Lula diz defender.

30% DOS PRESÍDIOS BRASILEIROS AINDA NÃO TÊM BIBLIOTECA

História por admin3  • IstoÉ

Entre os 27 estados do Brasil, 23 não estabelecem número de vagas para as atividades de leitura em estabelecimentos prisionais. Em 15 estados a relação entre oferta e demanda não atingiu um nível satisfatório. Os dados fazem parte do Censo Nacional de Práticas de Leitura no Sistema Prisional.

Com média nacional de 2,4 livros dos acervos das bibliotecas por pessoa presa, restrições de acesso ao material foram relatadas em 39,3% das unidades prisionais. No próprio acesso às bibliotecas, 21,5% das unidades indicam que há critérios para que os detentos possam acessar os livros, tais como bom comportamento e participação em outros projetos da unidade.

O censo é uma das iniciativas do Programa Fazendo Justiça, parceria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

“Com a finalidade de estimular a universalização da leitura e a remição de pena, a pesquisa avaliou a estrutura e as condições que permitem atividades educativas e o acesso à leitura nas 27 unidades federativas, além de investigar aspectos como a existência de bibliotecas, iniciativas, práticas e atividades de leitura”, informou o CNJ. A equipe contou com cinco coordenadores regionais e 27 pesquisadores de campo.

Levantamento

Coordenadora geral da pesquisa, Christiane Russomano Freire informou que o trabalho foi realizado durante 1 ano e meio, em duas etapas e não se restringiu ao sistema prisional brasileiro, mas se estendeu ao sistema socioeducativo. Christiane é professora da Universidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e doutora em Ciências Criminais pela PUC-RS.

A pesquisa foi realizada em 1.347 estabelecimentos prisionais estaduais, que correspondem a 99,6% dos presídios no país. O 0,4% restante corresponde aos cinco estabelecimentos prisionais federais. Do total de estabelecimentos que participaram, 30,4% não têm bibliotecas ou espaços de leitura e 26,3% não realizam atividades educacionais.

“Isso é um dos calcanhares de Aquiles. Temos que resolver esta questão das bibliotecas, porque elas impactam diretamente nas ações de leitura”, afirmou Christiane Russomano Freire, durante a cerimônia de lançamento do Censo, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no centro do Rio, na última quinta-feira (26).

No campo da inclusão, os dados mostram que 53% das unidades com biblioteca não garantiam acesso ao espaço para pessoas sem alfabetização, e 92% não asseguravam o acesso de pessoas com deficiência. O censo revela que 53% das pessoas privadas de liberdade são analfabetas ou têm ensino fundamental incompleto.

Racismo

O mapeamento indicou que há 656.725 pessoas nos estabelecimentos estaduais prisionais. No entanto, ao comparar os dados com levantamentos por raça, cor e etnia há uma inconsistência, pois esse total somaria 560.209 pessoas, ou 85,4% do que indicou o censo. A explicação para essa diferença, sengundo o CNJ, é que muitos presídios não contam com essa informação e preencheram os questionários marcando NI (não informado).

“Nessa perspectiva, as inconsistências dos dados referentes às categorias raça/cor/etnia, identificadas no conjunto dos estabelecimentos prisionais brasileiros, devem ser abordadas e compreendidas como expressão contundente do racismo estrutural e institucional, que não apenas tangencia, mas, sobretudo, oculta uma das mais importantes e instrumentais características do sistema prisional brasileiro: a seletividade sociorracial”, apontou o documento.

O censo apontou ainda que a análise dos indicadores das variáveis de raça, cor ou etnia demonstram claramente a sobrerrepresentação de pessoas pretas (15,8%) e pardas (48,9%) no sistema prisional nacional.

Conforme os dados, a soma atinge a fração de 64,7% da população prisional, “fato que evidencia uma importante desproporção quando consideradas as estatísticas nacionais oficiais, que registram a representação desses grupos em aproximadamente 56,1% do total da população do país”, indicou, com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) – Características Gerais dos Moradores 2020-2021.

Gênero

A população privada de liberdade do gênero masculino soma 626.603 pessoas, o que correspondente a 96% do total. Já no gênero feminino são 28.700 pessoas, que representava 4% das pessoas privadas de liberdade.

Pessoas com deficiências

Entre as pessoas com deficiências (PCD), as respostas dos estabelecimentos prisionais ao censo indicaram há maior incidência de PCD mentais (3.939 pessoas), seguidos por pessoas com deficiência física (2.646 pessoas), deficiência visual (951 pessoas) e deficiência auditiva (572 pessoas).

Escolaridade

Conforme dados consolidados no Sistema de dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), de janeiro a junho de 2020, a população prisional em atividades educacionais alcançou 12,28% das pessoas encarceradas, ou 92.661 pessoas em número absolutos. 

Dentro deste grupo, 9.765 se dedicavam às atividades de alfabetização; 9.189 às atividades complementares; 31.066 faziam ensino fundamental; 15.180, ensino médio; 7.380, ensino superior; 3.195 frequentavam cursos profissionalizantes e 23.428 usufruíam do direito à remição pelo estudo e pelo esporte.

“Considerando a soma total de 701.401 pessoas aprisionadas naquele período, chama a atenção o irrisório percentual de aproximadamente 3,36% de pessoas que usufruíram o direito à remição pelo estudo e pelo esporte”, apontou o Censo.

Vagas

Dos estabelecimentos prisionais que responderam às questões, nota-se que há 1,5 pessoa por cada vaga. Isso corresponde a um déficit de 50% de vagas.

Nos estados de Minas Gerais, Ceará, Goiás e Paraíba, as médias de pessoas privadas de liberdade por vagas oferecidas são iguais à média nacional (1,5). Tocantins é o único estado brasileiros em que não há déficit, havendo uma pessoa para cada vaga existente.

Alguns estados, no entanto, têm déficits menores que a média nacional: Maranhão, Bahia e Alagoas tem 1,1 pessoa por vaga, seguidos por Roraima e Santa Catarina, com 1,2 pessoa por vaga; Paraná, Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo (1,3); Mato Grosso e Acre (1,4). 

Por outro lado, 11 estados brasileiros têm déficit prisional maior que a média nacional. São eles: Amapá (1,6 pessoa por vaga), Espírito Santo (1,6), Piauí (1,7), Sergipe (1,7), Distrito Federal (2,0), Amazonas (2,0), Roraima (2,1), Rio de Janeiro (2,1), Mato Grosso do Sul (2,3), Pernambuco (2,6) e Rio Grande do Norte (4,2), onde as médias são superiores ou muito superiores à média nacional.

Remição

Pela legislação brasileira, conforme o tempo de leitura, as pessoas em ambiente prisional conseguem remição das penas O objetivo mais mencionado entre as unidades que declararam possuir práticas e projetos de leitura, foi a garantia do direito à remição da pena, com 611 menções ou 82,9% da totalidade.

Na sequência aparecem a universalização do direito de acesso à leitura, com 488 (66,2%) menções; a ocupação do tempo das pessoas privadas de liberdade, 483 (65,5%); a promoção da cidadania, 474 (64,3%); a contribuição para o processo de educação formal, 459 (62,3%) menções; a preparação para a vida extramuros, com 448 (60,8%); promoção da autoestima, autonomia e pensamento crítico com 445 (60,4%) o desenvolvimento da criatividade com 372 (50,5%) menções; a interação social com seus pares, 315 (42,7%); e, por fim, a produção literária e artística com 260 (35,3%) menções dentre as unidades que responderam o levantamento.

Segundo o CNJ, o censo permitiu que o órgão elaborasse a proposta de um Plano Nacional de Fomento à Leitura nas Prisões.

“Parece evidente que a construção, implantação e consolidação de uma política nacional de leitura para o sistema penitenciário brasileiro exige, das gestões prisionais e das instituições do sistema de Justiça, um olhar atento para as particularidades e vulnerabilidades que marcam a população prisional, dentre elas as deficiências físicas, mentais, visuais e auditivas”, diz o documento.

 

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