sábado, 23 de setembro de 2023

INVESTIGAÇÃO CONTRA SERGIO MORO POR CAUSA DE DEVOLUÇÃO DE DINHEIRO ROUBADO DO CRIME

História por MÔNICA BERGAMO – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-juiz e senador Sergio Moro (União-PR) se manifestou em suas redes sociais sobre a decisão do corregedor Nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão de instaurar uma investigação contra ele e a juíza federal Gabriela Hardt, ex-titulares da Operação Lava Jato, parar apurar “graves” indícios de violações praticadas no âmbito da força-tarefa.

“No fantástico mundo da Corregedoria do CNJ, recuperar dinheiro roubado dos bandidos e devolver à vítima [Petrobras] é crime. Só mesmo no governo Lula”, escreveu Moro no X, antigo Twitter.

É a primeira vez que a conduta de Moro é investigada com maior profundidade. Caso punido, ele pode virar ficha suja e se tornar inelegível. Eventuais crimes serão investigados pelo grupo da Polícia Federal (PF) que o corregedor está criando com o ministro Flávio Dino, do Ministério da Justiça.

A decisão de Salomão se baseia em um relatório preliminar da correição realizada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na 13ª Vara Federal de Curitiba e na 8ª Turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). As cortes decidiam os casos da operação em primeira e em segunda instância, respectivamente.

De acordo com Salomão, Moro e Hardt podem ter promovido, entre 2015 e 2019, o repasse de R$ 2,1 bilhões à Petrobras sem critérios objetivos. O montante teria sido transferido antes mesmo do trânsito em julgado de parte das ações penais, em um processo instaurado de ofício que não incluiu a participação de réus e investigados.

Na decisão, Salomão cita um trecho da correição realizada que afirma o seguinte: “Em período compreendido entre o ano de 2015 e o ano de 2019, na cidade de Curitiba, Paraná, o então juiz federal Sergio Fernando Moro e a juíza federal substituta Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal de Curitiba, em atendimento aos interesses do então procurador da república Deltan Dallagnol, de procuradores da república da denominada força-tarefa da Lava Jato e de representantes da Petrobras, violaram reiteradamente os deveres de transparência, de prudência, de imparcialidade e de diligência do cargo ao promoveram o repasse de R$ 2.132.709.160,96” à estatal, “atribuindo a essa companhia a posição de vítima, conscientes de que a Petrobras estava sob investigação por autoridades americanas desde novembro de 2014, por conduta ilícita da empresa nos Estados Unidos da América”.

“O alegado combate à corrupção não pode servir de biombo para se praticar, no processo e na atividade judicante, as mesmas condutas que se busca reprimir”, afirma o magistrado.

Salomão segue: “Durante a operação titulada Lava Jato, foi adotado pelo então juiz federal Sergio Fernando Moro, juntamente com integrantes da força-tarefa que se formou para executar aquela operação, critério de destinação dos valores decorrentes dos acordos de colaboração e de leniência absolutamente distante do critério legal de decretação de perda”, afirma o corregedor Nacional de Justiça.

“A anuência do Juízo ao ímpeto de efetuar a execução imediata dos termos estabelecidos nos acordos firmados pela força-tarefa terminava por consolidar verdadeira dispensa do devido processo legal”, diz ainda.

Em sua decisão, Salomão destaca que a força-tarefa elegeu a Petrobras como a “vítima para todos os fins”, apesar de a empresa também ser alvo de investigação por fraudes cometidas em sua gestão.

Os repasses à estatal ainda teriam ocorrido num cenário de “vácuo informativo”, em que não foi apurado os prejuízos efetivamente sofridos pela petrolífera.

O corregedor afirma que, embora Moro não seja mais um juiz, a jurisprudência do CNJ busca impedir que magistrados deixem a carreira para se livrar de eventuais punições administrativa e disciplinar. Diz, ainda, que o senador respondia a cerca de 20 procedimentos administrativos quando deixou a magistratura.

Para o magistrado, Moro pode ter tentado burlar a lei ao pedir exoneração em meio aos processos.

“Os atos censuráveis sugerem, ademais, efetiva preparação ao ingresso na vida política, mediante a prática de condutas infracionais como meio de autopromoção, em confronto evidente aos deveres da magistratura e à imagem do Poder Judiciário”, afirma Salomão.

O corregedor pontua que o padrão de atuação da 13ª Vara Federal de Curitiba resultou em infrações “proibitivas” para a categoria. Salomão cita a Constituição, que afirma aos juízes “é vedado dedicar-se à atividade político-partidária”, e uma resolução do CNJ que versa sobre o mesmo tema.

“A integridade de conduta do magistrado e distanciamento de suas paixões e projetos pessoais contribui para uma fundada confiança dos cidadãos na judicatura, justificando-se, portanto, a imposição de restrições e exigências pessoais distintas das acometidas aos cidadãos em geral”, afirma o corregedor.

“É a vigência do Estado Democrático de Direito que faz nascer para o cidadão a confiança no Poder Judiciário. Na contramão disso, a conduta individual do magistrado com conteúdo político-partidário arruína a confiança da sociedade em relação à credibilidade, à legitimidade e à respeitabilidade da atuação da Justiça, atingindo o próprio Estado de Direito que a Constituição objetiva resguardar.”

 

BOLSONARO QUER QUESTIONAR NO STF VAZAMENTOS DA DELAÇÃO DE CID

 

História por Redação Itatiaia

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia instrumento jurídico para questionar o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo vazamento de partes da colaboração premiada do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cid.

Os advogados argumentam que o acordo de delação fechado por Cid com a Polícia Federal (PF) pressupõe o sigilo do conteúdo, porém partes das declarações têm sido publicadas pela imprensa nos últimos dias.

Em colaboração premiada, o tenente-coronel disse à PF que o ex-presidente se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder.

O então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se manifestado favoravelmente ao intento golpista, enquanto que o então comandante do Exército teria se colocado contrário ao plano.

O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na presidência, após as eleições do ano passado. A informação, divulgada primeiramente pelo UOL e pelo jornal O Globo, foi confirmada pela CNN.

A divulgação de trechos da delação de Cid tem incomodado o entorno do ex-presidente, que ainda não sabe a extensão das informações passadas pelo tenente-coronel.

Porém, advogados de Bolsonaro evitam confrontar o ex-ajudante de ordens e afirmam que jamais cogitaram partir para um ataque a Cid.

Em recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Bolsonaro se referiu ao antigo auxiliar como um “filho” e que ele é “decente e não inventará”.

Nos bastidores, pessoas próximas ao ex-presidente reforçam que não há motivo para desconfiar de Cid, que sempre foi leal e que se aterá aos fatos.

Ao fechar o acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, Cid fica à disposição para prestar novos depoimentos. Ou seja, pode seguir fornecendo mais informações sobre todas as investigações que envolvem o ex-presidente.

A defesa de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro já havia reclamado do vazamento para a imprensa. Na sexta-feira (15), os advogados ingressaram com um recurso para ter acesso ao depoimento do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid, à Polícia Federal no dia 31 de agosto.

Os advogados tentam reverter a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que negou no dia 11 a liberação das informações prestadas por Cid por causa do acordo de colaboração premiada firmado pelo militar.

As declarações do tenente-coronel foram prestadas no inquérito que investiga o suposto esquema de venda ilegal de joias recebidas pelo ex-titular do Palácio do Planalto durante viagens oficiais.

No agravo regimental, a defesa argumenta que o acordo de delação foi assinado após o depoimento prestado por Cid. Os advogados alegam ainda que a imprensa tem tido acesso a partes da colaboração firmada por Cid com Polícia Federal antes mesmo da defesa.

“Essa disparidade, longe de parecer mero acaso, expõe de maneira inquietante a realidade de um sistema legal suscetível a manipulações e inclinações, ao passo que a defesa se vê obrigada a repetidamente argumentar em busca de acesso completo aos autos.”

SENADO PRECISA APROVAR MARCO TEMPORAL DAS TERRAS INDÍGENAS PARA SE CONTRAPOR AO STF

História por Vera Rosa • Jornal Estadão

BRASÍLIA – A ameaça da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) de enfrentar o Supremo Tribunal Federal (STF) e obstruir votações no Congresso enquanto o marco temporal das terras indígenas não for aprovado no Senado conta agora com o apoio das bancadas evangélica e da bala. A aliança entre as três frentes provoca tensão entre os Poderes e preocupa o Palácio do Planalto.

O movimento que conta com apoio da maioria dos partidos do Centrão e pode unir mais da metade do Congresso contra o Supremo foi iniciado nesta quinta-feira, 21, depois que a Corte considerou inconstitucional o marco temporal das terras indígenas. Mas as articulações políticas abrangem outras pautas que opõem conservadores ao STF, como a descriminalização do aborto e do porte de drogas.

Dirigentes da FPA e das frentes parlamentares evangélica e da segurança pública vão se reunir na próxima semana, em Brasília, para definir uma estratégia conjunta. A ideia é pressionar o Senado a aprovar o marco temporal das terras indígenas e dar um “ultimato” ao Supremo.

A união de deputados e senadores tem potencial para prejudicar votações de temas prioritários para o governo Lula. Na lista estão a reforma tributária, novas regras de cobrança de impostos para fundos exclusivos e offshores e até a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Foto:© Fornecido por Estadão

“Nós vamos usar todos os instrumentos regimentais para obstruir as votações na Câmara e no Senado, com o objetivo de garantir o direito à propriedade”, disse o deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA.

O coordenador da Frente Parlamentar Evangélica, Silas Câmara (Republicanos-AM), afirmou que o Congresso não pode ficar de braços cruzados diante do protagonismo observado do outro lado da Praça dos Três Poderes.

“O Supremo atropela o Poder Legislativo e tenta implantar uma ditadura da toga. Não podemos aceitar isso”, reagiu Câmara, numa referência ao voto da presidente do STF, Rosa Weber, favorável à descriminalização do aborto nas 12 primeiras semanas de gestação.

A ação que trata do aborto começou a ser analisada na Corte pelo sistema eletrônico de votação, mas o ministro Luís Roberto Barroso – que assumirá a presidência da Corte no próximo dia 28, com a aposentadoria de Weber – transferiu o julgamento para o plenário físico. Não foi fixado prazo para a retomada do tema.

“O Supremo atropela o Poder Legislativo e tenta implantar uma ditadura da toga”, diz Silas Câmara, que comanda a bancada evangélica Foto: DIDA SAMPAIO/AGENCIA ESTADO/AE© Fornecido por Estadão

O STF também interrompeu, no último dia 25, o julgamento que vai decidir se o porte de maconha para uso pessoal é crime e trata da fixação de critérios para diferenciar o traficante do usuário de droga. O ministro André Mendonça pediu vista do processo, o que significa mais tempo para análise.

Pressão

Diante de um cenário de confronto frequente com a Corte, as bancadas do agro, da bala e evangélica decidiram iniciar o movimento de pressão pelo Senado. Motivo: é na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa que tramita o projeto de lei com a tese defendida pelo Centrão, segundo a qual a demarcação de territórios indígenas precisa respeitar a área ocupada até a Constituição de 1988.

O problema é que, caso seja aprovado na CCJ e passe pelo crivo do plenário do Senado, o projeto ainda terá de ser sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é contra. Há também duas propostas de emenda à Constituição (PECs) no Congresso que preveem a demarcação das terras indígenas.

“As nossas frentes parlamentares, juntas, têm condição de aprovar o marco temporal no Senado e as emendas constitucionais que estão na Câmara”, destacou o deputado Alberto Fraga (PL-DF), que preside a frente conhecida como bancada da bala. “Eu sempre digo que é melhor ser da bala do que da mala”, ironizou ele.

Para Fraga, a Câmara e o Senado precisam “tomar providências” para conter o “ativismo judicial” dos magistrados. “O Supremo ultrapassou todos os limites e está usurpando as funções do Congresso”, declarou. “Vamos até as últimas consequências para vencer essa batalha”, insistiu Lupion.

A ideia é que outras bancadas também se juntem ao movimento, como a Frente Parlamentar Católica Apostólica Romana, que se posiciona contra a descriminalização do aborto e reúne 193 deputados.

Na prática, muitos estão em mais de uma frente e, por isso, não é possível fazer uma conta exata do número de congressistas dispostos a enfrentar o Supremo: a FPA conta com 347 parlamentares; a bancada evangélica, com 236, e a de segurança pública, com 292.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse não ter recebido qualquer sinal de obstrução no Congresso. O Estadão apurou, no entanto, que o movimento das frentes fez acender o sinal amarelo no Planalto. Recentemente, Lula selou acordo com o Centrão, após a entrada na equipe dos ministros André Fufuca (Esporte), filiado ao PP, e Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do Republicanos. Ao que tudo indica, porém, o primeiro racha já está no horizonte.

“Temos a convicção de que o esforço que já existia no primeiro semestre para votar e aprovar a agenda prioritária do governo, a recuperação econômica do País e a recriação dos programas sociais não só vai continuar como se ampliar”, amenizou Padilha.

 

MERCADO FINANCEIRO CAI NA REAL COM LULA E HADDAD

José Marcio Camarco – Jornal Estadão

A Genial e a Quaest divulgaram mais uma pesquisa com o objetivo de conhecer como o mercado financeiro, ou seja, os investidores, está avaliando o governo do presidente Lula da Silva. Foi a quarta pesquisa com participantes do mercado financeiro divulgada pelas duas instituições em 2023. A avaliação positiva do governo voltou a cair, saindo de 20% em julho para 12% em setembro, enquanto a avaliação negativa, que havia caído de 86% para 44% entre maio e julho, subiu para 47% em setembro. Ao mesmo tempo, a avaliação positiva do ministro da FazendaFernando Haddad, caiu de 65% em julho para 46% em setembro, enquanto a negativa subiu de 11% para 23%. O descolamento entre a avaliação positiva do ministro da Fazenda e a do governo observado em julho desapareceu.

A política fiscal dominou o sentimento negativo. “A falta de uma política fiscal que funcione” é, segundo 57% dos investidores, o principal problema da economia brasileira, 95% dos entrevistados não acreditam que o governo vai conseguir zerar o déficit fiscal em 2024 e, para 86% deles, não será possível zerar o déficit mesmo que todas as medidas enviadas pelo governo ao Congresso forem aprovadas. Caso as medidas não sejam aprovadas, 37% dos investidores avaliam que as metas serão abandonadas. O novo PAC é considerado uma medida negativa por 71% dos entrevistados, 85% consideram o total de investimentos projetado como inadequado e 86% consideram que esses investimentos não serão eficientes para fazer o País crescer.

Lula durante o lançamento do novo PAC, ocorrido em agosto; medida foi mal avaliada
Lula durante o lançamento do novo PAC, ocorrido em agosto; medida foi mal avaliada Foto: Ricardo Moraes / Reuters

O único dado positivo é que 42% dos investidores avaliam que o governo está preocupado com o controle da inflação, um aumento significativo em relação a 34% de julho e 20% de maio, provavelmente devido à decisão de manter a meta para a inflação de 2026 em 3,0% ao ano. Porém, mais de 50% dos investidores ainda acreditam que o governo continua não preocupado com a inflação. A atuação do presidente do Banco Central (BC) é positivamente avaliada por 85% dos investidores, mas 68% se declararam muito preocupados em relação à futura indicação do presidente Lula para a presidência do BC.

O cenário é claro. O fiscal já preocupa seriamente os investidores. O comportamento dos preços dos ativos financeiros ao longo do mês de agosto, a desvalorização do real, a queda dos preços das ações e o aumento das taxas de juros já antecipavam esse resultado. Os investidores estão “caindo na real”.

 

NÃO CABE APLICAR SOLUÇÕES ANTIGAS PARA RELAÇÕES NOVAS DE TRABALHO NOS APLICATIVOS

Érika de Mello, Head de Direito Trabalhista do PG Advogados

Érika de Mello, Head de Direito Trabalhista do PG Advogados, defende que “não cabe aplicar soluções antigas para relações novas de trabalho”, e que essa decisão tende a causar desequilíbrio e retrocesso para a sociedade

Em uma decisão histórica, a Uber foi condenada a pagar R$ 1 bilhão por danos morais coletivos e obrigada a registrar todos os seus motoristas aplicando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para a relação. A sentença, proferida pelo juiz Maurício Pereira Simões, da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo, traz impacto significativo sobre a calorosa discussão já existente acerca dos direitos trabalhistas no setor de trabalho por plataformas do País.

A decisão reacendeu o debate sobre o que tem se chamado de regulamentação do “não emprego”. Enquanto alguns elogiam a sentença como um avanço na proteção dos direitos dos trabalhadores, outros temem que ela possa resultar em uma onda de desocupação incontrolável, impactando na renda das famílias e contribuindo com o empobrecimento da população, gerando impacto econômico e social brutal. “Não cabe aplicarmos soluções antigas para relações novas de trabalho, essa conduta pode causar desequilíbrio e retrocesso, inclusive do ponto de vista das leis trabalhistas”, acredita Érika de Mello, Head de Direito Trabalhista do PG Advogados.

A condenação da Uber e a obrigação de registrar os motoristas como empregados também podem ter implicações significativas para outras empresas de tecnologia e aplicativos que operam no Brasil, uma vez que levanta questões sobre a natureza das relações do trabalho nesses setores e a necessidade de regulamentações mais claras.

“Um primeiro ponto a se destacar é que essa sentença vai na contramão da grande maioria das ações que a precederam. Há muitas ações coletivas que já vinham sendo propostas no mesmo sentido e já haviam sido rejeitadas pela Justiça do Trabalho. Além disso, o próprio Superior Tribunal Federal já vem se posicionando no sentido de reconhecer que as novas relações de trabalho não se confundem com a relação de emprego. Mas não somente isso, a decisão também deve ser analisada sob a ótica social, uma vez que não estão sendo levadas em conta as novas formas de organização de trabalho e até mesmo os avanços tecnológicos que a humanidade vive”, esclareceu a especialista em Direito Trabalhista.

A decisão judicial foi anunciada na sexta-feira (15) após um processo que se arrastava por anos e envolvia ações de diversas entidades sindicais, organizações de defesa dos direitos dos trabalhadores e motoristas da Uber. O processo argumentava que os motoristas deveriam ser considerados como funcionários da empresa, tendo direito a benefícios e proteções trabalhistas previstos na CLT.

O juiz do caso, ao proferir sua sentença, destacou que a empresa de transporte por aplicativo não pode ser vista apenas como uma plataforma tecnológica, mas sim como uma empresa que exerce controle direto sobre seus motoristas. Ele argumentou ainda que, de acordo com a legislação brasileira, os motoristas devem ser considerados empregados da empresa e não prestadores de serviços autônomos, como a Uber alegava.

“A sentença pretende entregar algo que não está alinhado nem com o modelo de negócios da Uber e nem com a expectativa dos próprios profissionais”, mencionou Érika. Pesquisa recente do Datafolha com trabalhadores de plataformas apontou que três em cada quatro entrevistados não deseja trabalhar com carteira assinada e prefere manter a autonomia para escolher os horários e recusar corridas ou entregas, mesmo que isso tenha como consequência não ter direitos trabalhistas.

“O posicionamento faz sentido à medida que, além de muitas vezes essa atividade ser realizada como renda extra, ela acontece sem exclusividade e com a prestação de serviços para diversas empresas simultaneamente, cenário que não se sustentaria no caso da relação com vínculo de emprego”, avaliou a advogada.

Impacto social reverso

Para Érika de Mello, é preciso ponderar e mensurar o impacto reverso da decisão. “Precisamos refletir e responder as seguintes perguntas: o que acontecerá com milhares de profissionais e famílias caso a empresa decida encerrar as operações no Brasil? E qual o impacto de mercado e social se a decisão reverberar em outras plataformas que adotam esse modelo de negócio e trabalho?”, exemplificou.

A especialista do PG Advogados, plataforma de serviços jurídicos de São Paulo, defende a tese de que a matéria é multifacetada e exige uma análise mais abrangente, que não apenas do ponto de vista do Direito Trabalhista. “É claro que as leis trabalhistas devem ser respeitadas, mas a reflexão principal que proponho aqui é mais ampla: é preciso analisar o papel social e econômico que esta modalidade de trabalho se apresenta nos últimos anos, gerando impactos sociais e econômicos importantes para nosso País”.

O outro lado da moeda

Em resposta à decisão, a Uber anunciou que pretende recorrer com o argumento de que seus motoristas valorizam a flexibilidade oferecida pelo modelo de trabalho atual e que a decisão judicial pode prejudicar a renda de milhares de motoristas parceiros em todo o Brasil.

A empresa é uma plataforma que aproxima pessoas que procuram pelo transporte privado aos motoristas que oferecem esse serviço a condições muito acessíveis e práticas, o que parece atender a todos os agentes envolvidos no negócio. A pesquisa do Datafolha ouviu 2,8 mil motoristas de aplicativo e também revelou que esses profissionais pleiteiam mais garantias de proteção social desde que não comprometam a autonomia que o trabalho mediado por plataformas proporciona.

“É preciso educação para uma sociedade como a nossa que já tem um viés empreendedor e, muitas vezes, seus cidadãos acumulam duas ou três fontes de renda e assim querem permanecer. Balizar tudo de maneira simplória e sem analisar o atual contexto social e econômico de nosso país pode ser um retrocesso com sérias consequências, principalmente, para esses brasileiros. A discussão é muito mais sobre como garantir acesso a direitos sociais básicos nas novas formas de organização do trabalho do que sobre direitos inerentes ao vínculo de emprego que não é o que busca nem o contratante e nem o contratado”, finalizou Érika de Mello, Head de Direito Trabalhista do PG Advogados.

O caso da Uber continuará a ser acompanhado de perto, pois ele lança luz sobre a complexa interseção entre tecnologia, economia e direitos trabalhistas em uma era de transformação digital.

 

APENAS 35% DOS MICROEMPRESÁRIOS TÊM CURSO SUPERIOR NO BRASIL

 

Kályta Caetano, head de Contabilidade da MaisMei

Segundo especialista em gestão pública de ensino, há diversidade de vagas profissionalizantes disponíveis, porém muitas não contemplam as reais demandas do mercado

Um levantamento que analisou o perfil dos Microempreendedores Individuais (MEI) brasileiros mostra que cerca de 35% tiveram acesso à graduação de nível superior. Realizada pela MaisMei, plataforma especializada em abertura e gestão de MEIs, a pesquisa considerou, neste recorte, usuários que completaram ou não algum curso em universidades. Outros 20% disseram que não passaram do ensino fundamental, enquanto os demais, cerca de 45%, afirmaram ter parado os estudos no ensino médio, também considerando aqueles que não concluíram essa etapa. Ao todo, foram entrevistados 6.018 microempreendedores da base cadastral da MaisMei.

Perguntados, de forma aberta, qual área de conhecimento gostaria de desenvolver para auxiliar a gestão do seu negócio, 29% citaram “Gestão Financeira”; 18% responderam “Marketing” e 15% disseram, sem especificar, “Curso Técnico”. Os demais termos citados foram “Vendas” (11%); “Administração” (7%); “Planejamento” (6%); “Outros” (6%); “Criação de Conteúdo” (5%); “Comunicação” (2%) e “Contabilidade” (1%).

Kályta Caetano, head de Contabilidade da MaisMei, observa que, mesmo a questão permitindo respostas livres, os conteúdos clássicos do ensino profissionalizante de nível técnico foram os mais citados. “Deixando aberta, como imaginávamos, os cursos técnicos têm um peso importante. Não apenas considerando aqueles (15%) que responderam de forma genérica, mas levando em conta que as áreas de Gestão Financeira e Marketing também possuem uma grande oferta de cursos técnicos”, diz.

Prioridades versus realidade do mercado

De fato, há um interesse grande da população brasileira, especialmente entre mais jovens, por cursos profissionalizantes de nível técnico, de acordo com Francisco Borges, mestre em Políticas Públicas do Ensino e consultor da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT). Ele explica que nem sempre são priorizadas, por parte de quem oferta os cursos, as áreas com maior demanda de trabalho. 

“Existem mais de 19 milhões de vagas de cursos de graduação técnica presenciais e mais de 13 milhões de vagas para cursos EaD. Ou seja, não se trata de um problema de quantidade de vagas e sim para quais setores elas são ofertadas. Às vezes, as políticas educacionais priorizam cursos descolados da realidade do mercado”, diz.

Francisco Borges reitera que sem formação adequada às demandas da economia, muitas microempresas podem “travar” seu crescimento devido a fatores como má gestão de recursos ou perda de oportunidades para prestação de serviços. “Isso porque a profissionalização técnica se tornou um diferencial até mesmo em setores que, historicamente, não exigiam formação, caso dos pequenos comerciantes. Hoje, prestadores de serviços estão mais por dentro da necessidade de aprimorar sua capacidade de gestão”, explica.

O ESG SÃO OS PRINCÍPIOS AMBIENTAIS SOCIAIS E DE GOVERNANÇA PARA A TRANSPARÊNCIA E A SUSTENTABILIDADE

Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria

Num mundo em constante evolução tecnológica e social, uma transformação mais sutil, mas extremamente relevante, está a emergir nas corporações: o ESG (Environmental, Social, and Governance). Numa livre tradução, são os princípios ambientais, sociais e de governança. E, assim como a economia brasileira passou por um Plano Real, as empresas também estão numa jornada de realinhamento, priorizando o real, o tangível e o duradouro.

Mas por que, enquanto colaboradores, precisamos nos preocupar com isso? Porque, querido leitor, vivemos em uma era onde a transparência e a sustentabilidade não são apenas jargões, mas sim imperativos para o sucesso de qualquer organização. E, para ter destaque, é fundamental compreendermos a importância e a relevância do ESG. Vamos a isso:

1. Ambiental: o futuro é agora

Em tempos passados, temas como mudanças climáticas e conservação eram relegados ao segundo plano. Mas hoje, o custo da inação é demasiadamente alto. Empresas que ignoram suas responsabilidades ambientais enfrentam riscos financeiros, reputacionais e operacionais.

Compreender essa vertente é fundamental. Não se trata apenas de reciclar papel ou economizar energia. Trata-se de uma mentalidade, de reconhecer que nossos recursos são finitos e de que nosso dever como cidadãos corporativos é contribuir para um futuro mais sustentável. Nós, como empresa do setor de educação, também nos preocupamos. Não apenas as fábricas, mas todas as empresas.

2. Social: as relações que definem negócios

A dimensão social refere-se ao papel das empresas nas comunidades onde operam e como tratam seus funcionários, fornecedores e clientes. Aqui, o capital humano é essencial. Como tratamos uns aos outros e como valorizamos a diversidade e promovemos a inclusão são pontos que definem não apenas nossa cultura corporativa, mas também nossa resiliência e adaptabilidade.

Para o colaborador moderno, é vital compreender que o sucesso não é apenas medido pelo lucro. A maneira como impactamos a sociedade, como lidamos com questões complexas e controversas, como a desigualdade e os direitos humanos, é uma métrica de sucesso tão importante quanto qualquer outra. A velha máxima proferida por alguns artistas de fama que não se importam com seus seguidores caiu por terra.

3. Governança: o pilar da integridade

No Brasil, temos uma história rica, mas por vezes conturbada, de governança corporativa. E ainda que muitos possam ver com ceticismo, a boa governança é a base para qualquer empresa que pretenda ter longevidade e respeitabilidade.

Isso significa ter processos claros, líderes responsáveis e uma cultura de integridade que permeia todos os níveis da organização. Para o colaborador, isso se traduz em responsabilidade, em ter a coragem de agir com ética e em promover uma cultura de transparência.

O ESG como diferencial competitivo

Se antes o ESG era visto como uma “boa ação” ou uma maneira de “limpar” a imagem corporativa, hoje é um diferencial competitivo. Empresas que incorporam esses princípios são mais atraentes para investidores, clientes e, sim, para talentos.

Como colaborador, ao entender e promover o ESG, você não apenas se posiciona como um ator-chave no presente da sua organização, mas também molda o futuro dela. Trata-se de uma mentalidade de crescimento, de constante aprendizado e adaptação.

Concluindo…

O Plano Real transformou a economia brasileira. O ESG tem o potencial de transformar o mundo corporativo. Para colaboradores que desejam se destacar, a mensagem é clara: adapte-se, evolua e incorpore o ESG não apenas em suas funções diárias, mas também em sua mentalidade e visão de mundo.

E, assim como o real tornou-se mais do que apenas uma moeda, como também um símbolo de estabilidade e progresso, que o ESG se torne mais do que apenas um conjunto de princípios, mas uma representação de um futuro mais justo, equitativo e sustentável para todos nós.

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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

MARCO TEMPORAL INDÍGENA TOMA TERRA DE POSSEIROS E AS BENFEITORIAS COMO FICA?

 

História por Letícia Mori – Da BBC News Brasil em São Paulo 

O direito dos povos originários à terra é garantido pela Constituição© André Borges/EPA

O STF formou maioria nesta quinta (21/09) para rejeitar a tese do marco temporal, que delimitava a demarcação de terras indígenas somente para as regiões ocupadas no ano de 1988, data da promulgação da Constituição Federal vigente.

A decisão é vista como uma vitória pelo movimento indígena, pois evita um retrocesso, dizem, mas não significa que a disputa esteja encerrada e que os direitos dos povos originários aos territórios estejam livres de ameaças.

Isso pois ainda há possibilidade de o Congresso legislar sobre o tema.

“A rejeição do marco temporal pelo Supremo é uma grande vitória”, diz Kléber Karipuna, coordenador executivo da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).

“Mas a bancada ruralista está com uma cobiça nas terras indígenas e quer a todo custo aprovar [no Congresso] uma tese de marco temporal.”

Com um placar de 7 votos a 2, a Corte já tem maioria para entender que o direito dos povos originários a territórios tradicionalmente ocupados não depende da presença dos indígenas no local antes de 1988.

Diversos territórios indígenas que foram tradicionalmente ocupados e com os quais os povos possuem vínculos não estavam sob o controle dos indígenas ou em disputa na data da aprovação do texto constitucional, mas foram reocupados pelos povos originários em anos seguintes.

Para o ministro Luís Roberto Barroso, não existe um “marco temporal fixo e inexorável” para a ocupação dos territórios indígenas.

“A ocupação tradicional também pode ser demonstrada pela persistência na reivindicação de permanência na área, por mecanismos diversos”, afirmou Barroso.

Até agora, votaram pela rejeição da limitação temporal para oficializar territórios indígenas os ministros Edson Fachin, Luis Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Luiz Fux e Cármen Lúcia.

Votaram a favor do marco temporal os ministros Kássio Nunes e André Mendonça. Faltam votar os ministros Rosa Weber e Gilmar Mendes.

O ministro Kássio Nunes, que teve voto vencido a favor do marco temporal, disse que o limite de data cria segurança jurídica para as demarcações. Já o ministro André Mendonça afirmou que a inexistência de marco cria a possibilidade de exigência de demarcação de áreas ocupadas em tempos imemoriáveis.

A rejeição do marco temporal aconteceu na decisão sobre uma disputa entre o povo Xokleng e o Estado de Santa Catarina, mas tem repercussão geral, ou seja, afeta todos os casos similares.

Atualmente, estão em curso cerca de 300 processos de demarcação cujos resultados serão afetados pela decisão desta quarta.

“O alcance da decisão vai muito além do caso concreto”, afirmou o ministro Dias Toffoli em seu voto. Além disso, a decisão vale para inúmeros casos futuros de disputas sobre processos de demarcação.

Há hoje 1,69 milhão de pessoas indígenas no Brasil, o equivalente a 0,83% da população brasileira, segundo os dados já divulgados do Censo 2022 E a maior parte dos indígenas — cerca de 63% — vive hoje fora dos territórios indígenas oficialmente limitados.

Por diversas vezes, indígenas organizaram atos em Brasília contra o marco temporal© André Borges/EPA

Juristas indígenas: ‘Não é o fim da ameaça’

Apesar da decisão do Supremo, já foi aprovada na Câmara e tramita no Senado um projeto de lei para estabelecer o marco temporal via legislação – algo visto com preocupação pelos povos indígenas, apesar da vitória de hoje para eles.

“Eu não duvido que o Congresso Nacional queira continuar tirando uma queda de braço com o Supremo Tribunal Federal”, diz Maurício Terena, coordenador jurídico da Apib.

Caso o Congresso aprove uma lei estabelecendo um marco temporal, o mais provável é que o assunto volte ao Supremo.

A decisão de hoje fortalece a ideia de que uma lei comum não poderia tratar do tema, que é um direito garantido na Constituição.

Para mudar temas constitucionais, é necessária uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), que precisa de 3/5 dos votos dos parlamentares para ser aprovada.

“Ainda existe uma possibilidade forte de a bancada ruralista se movimentar e em resposta ao Supremo tentar trazer algo novo via PEC”, afirma Kleber Karipuna.

“Vamos continuar alertas em relação a isso para que não tenhamos nenhuma regressão aos direitos dos povos indígenas.”

Mesmo uma PEC poderia ser questionada na Justiça.

Se o Supremo entender que o direito aos territórios independentemente de limite de data para a ocupação é uma cláusula pétrea, o tema não poderia ser alterado nem mesmo por uma PEC.

Uma lei sobre marco temporal também poderia ser vetada pelo presidente, mas juristas indígenas acreditam que isso é improvável.

O que acontece após STF rejeitar marco temporal para terras indígenas© BBC

A questão da indenização

Mesmo com maioria contra o marco temporal, ainda há uma questão a ser decidida no julgamento desta quarta.

Estão em disputa duas visões sobre a possibilidade de indenização de não-indígenas que ocupam terras indígenas que venham a ser demarcadas.

A questão da indenização para os posseiros de terras não estava no caso concreto sendo julgado, explica o advogado Rafael Modesto, que defendeu os Xokleng no caso específico julgado pelo Supremo.

Ela foi trazida no voto do ministro Alexandre de Moraes, que defende que seja estabelecida uma compensação como condição prévia para as demarcações.

Segundo lideranças indígenas, a indenização nesses moldes tornaria inviáveis as demarcações, já que a União não teria orçamento para fazer as compensações em todos os casos de disputa.

Após o voto de Moraes, as organizações indígenas entraram com uma interpelação argumentando contra esse entendimento.

“Na época do fim da escravatura os senhores de escravos queriam ser indenizados por perderem as suas mãos de obra escrava. Talvez a gente esteja diante de um julgamento tão simbólico e civilizacional para o país que novamente se decide se os escravocratas invasores de terras públicas terão direito a sua indenização”, diz Maurício Terena.

A outra visão foi trazida pelo ministro Cristiano Zanin, que afirma que a oficialização das terras indígenas não pode depender de indenização prévia de posseiros.

O ministro defende que posseiros de boa-fé que ocuparam terras da União sem saber que se tratavam de áreas indígenas podem até ter direito a indenização, mas ela não estará vinculada à demarcação.

Ou seja, eles precisarão entrar com um processo judicial à parte para serem compensados pela União e a demarcação não depende da existência nem do resultado desse processo.

Para grupos do movimento indígena, esse seria um meio-termo aceitável.

Isso porque, nesse entendimento, os posseiros não teriam direito de propriedade sobre as terras indígenas e os eventuais títulos de propriedade que tenham recebidos foram atos ilegais.

A compensação seria pela atuação irregular da União ao conceder uma área que não poderia ser transferida. E também por eventuais benfeitorias (melhorias) no território feitas pelos invasores.

“Essa decisão traria um equilíbrio se viesse a beneficiar principalmente pequenos agricultores que ocupem área indígena de boa-fé”, explica o advogado Rafael Modesto, que defendeu os Xokleng.

“Então ele teria além do direito à indenização das benfeitorias feitas na área de uma indenização por ato ilícito do Estado ou da União. Mas essa compensação não seria dentro do processo de demarcação, mas seria necessário um processo administrativo próprio”, diz Modesto.

O que disseram os ministros

O relator do caso, ministro Edson Fachin, disse em seu voto que os “direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” não depende da existência de um marco temporal nem de um conflito ou controvérsia judicial na data da promulgação da Constituição.

Segundo ele, o processo demarcatório deve ser definido por tradicionalidade da ocupação, verificada por laudo antropológico, não por marco temporal.

Fachin afirma ainda que a ocupação tradicional indígena é diferente da propriedade civil, pois precisa abranger não só a terra habitada, mas a usada para atividades produtivas, a terra imprescindível à preservação dos recursos ambientais necessários para seu bem estar, além das necessárias à sua reprodução física e cultural.

“A função econômica da terra (indígena) se liga, visceralmente, à conservação das condições de sobrevivência e do modo de vida indígena, mas não funciona como mercadoria para essas comunidades”, afirmou o relator.

O ministro Dias Toffoli também entende que a Constituição não estabelece marco temporal para oficializar territórios indígenas e afirma que a Corte faz, com a votação, a “pacificação de uma situação histórica”.

O ministro Luis Roberto Barroso, que também votou contra o marco temporal, afirmou que, em casos em que a comunidade indígena foi forçada a se afastar da área de ocupação tradicional, ela pode comprovar o vínculo cultural com laudos antropológicos.

DEPUTADA PETISTA QUER O FIM DA JUSTIÇA ELEITORAL

História por Gabriel de Sousa • Jornal Estadão

BRASÍLIA – A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu o fim da Justiça Eleitoral na sessão da comissão especial que discute a PEC que anistia dívidas de partidos políticos. Hoffmann afirmou, nesta quarta-feira, 20, que a existência da instituição é um “absurdo” e que as multas aplicadas são “inexequíveis”, inviabilizando a existência das siglas. Após críticas, Gleisi disse, nesta quinta, 21, que o “funcionamento da Justiça Eleitoral está sujeito ao escrutínio da sociedade”.

Gleisi Hoffmann defendeu a extinção da Justiça Eleitoral na Câmara dos Deputados Foto: ViniLoures© Fornecido por Estadão

“Eu queria falar das multas dos tribunais eleitorais, que não são exequíveis e trazem uma visão subjetiva da equipe técnica do tribunal, que sistematicamente entra na vida dos partidos políticos, querendo dar orientação, interpretando a vontade de dirigentes, a vontade de candidatos, inviabilizam os partidos. Os partidos são a base da sociedade democrática. (…) Não pode ter uma Justiça Eleitoral, que aliás é um absurdo. Um dos únicos lugares do mundo que tem Justiça Eleitoral é no Brasil. O que já é um absurdo e custa três vezes mais do que o financiamento de campanha para disputa eleitoral”, disse a presidente do PT.

declaração de Gleisi ocorre no momento em que o nome dela é citado para assumir o comando do Ministério da Justiça, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indique Flávio Dino, atual chefe da pasta, para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Gleisi Hoffmann defendeu a troca das multas por sanções eleitorais aos partidos políticos. Uma das suas sugestões é a de substituir um homem eleito por uma mulher com menos votos caso a cota de 20% de participação feminina no Congresso não seja alcançada. De acordo com a deputada, esse tipo de punição seria “pedagógica”. Somados os valores de multa por irregularidades na conta partidária entre 2015 e 2017, o PT tem dívidas de pouco mais de R$ 23 milhões.

“Para realizar os 20%, um homem terá que ser substituído por uma mulher. Pode ser um homem eleito, mas será substituído pela mulher mais votada para que a gente possa cumprir a cota. Eu tenho certeza que, mesmo com as críticas que tivermos e com a realidade que a gente tem nos partidos, se aprovarmos essa PEC, nós vamos ter um grande avanço na história da participação de mulheres, de negros e negras com essas mudanças que a gente está sugerindo”, afirmou.

Gleisi diz que críticas são para abrir o debate

Na tarde desta quinta-feira, Gleisi se pronunciou nas redes sociais afirmando que a Justiça Eleitoral possui um “papel relevante”, mas que “o seu funcionamento está sujeito ao escrutínio da sociedade, como o de qualquer instituição”. Ao reiterar as suas críticas sobre as multas que são aplicadas ao partido pelo desrespeito às cotas de gênero e raça, a deputada disse que a sua fala teria dado “margem a interpretações em outro sentido”.

“Estas foram as críticas que fiz, no sentido de abrir o debate para que tudo seja aperfeiçoado, embora minha fala tenha dado margem a interpretações em outro sentido. Não tentem nos igualar aos que atacam a democracia e têm medo de eleições”, afirmou.

Lula destacou atuação da Justiça Eleitoral após vitória nas eleições

No dia 12 de dezembro do ano passado, na diplomação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a atuação da Justiça Eleitoral foi essencial para a garantia da lisura das eleições. Segundo Lula, a atuação dos tribunais eleitorais fizeram valer “a soberania do voto popular”.

“Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular. Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis”, disse o petista.

Moraes rebate declaração de Gleisi

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, criticou nesta quinta, a declaração de Gleisi. Sem mencionar o nome da parlamentar, o magistrado classificou as afirmações como “errôneas” e fruto de “total desconhecimento” sobre o funcionamento da instituição.

 

BOLSONARO DEFENDE DAS ACUSAÇÕES RECEBIDAS

 

História por admin3 • IstoÉ Dinheiro

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres,e o presidente da República, Jair Bolsonaro, falam à imprensa no Palácio da Alvorada

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) rompeu o silêncio que vinha adotando em relação ao acordo de colaboração premiada feito pelo seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cesar Barbosa Cid. Por meio de uma nota divulgada pelos seus advogados nesta quinta-feira, 21, o ex-presidente negou todas as suspeitas que pairam sobre ele e prometeu “medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça”.

O ex-ajudante de ordens fez um acordo de colaboração premiada que foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no último dia 9, no meio do feriado prolongado do 7 de setembro. A delação colocou Mauro Cid, que estava preso desde maio, em liberdade. Os termos do acordo, ajustado com a Polícia Federal (PF), estão em segredo de Justiça, mas alguns detalhes vieram a público.

Como mostrou o Estadão, Mauro Cid teria dito que entregou nas mãos de Bolsonaro dinheiro vivo oriundo da venda de joias que foram recebidas durante agendas oficiais da Presidência, confirmando a suspeita da PF de que o ex-presidente coordenava esse suposto esquema. Nesta quinta-feira, 21, outro trecho da delação foi revelado: Cid diz que, depois das eleições passadas, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas para avaliar a possibilidade de um golpe de estado.

Nessa última ocasião, o ex-presidente teria apresentado aos militares uma “minuta de golpe”, que teria sido entregue a ele por Filipe Martins, ex-assessor internacional da Presidência. Durante uma sessão do Senado, em março de 2021, quando acompanhava o então ministro das Relações Exteriores, Martins teria feito um gesto supremacista, gesto que lhe rendeu uma ação criminal.

Ele foi absolvido na primeira instância da Justiça Federal e o Ministério Público Federal (MPF) recorreu para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, onde o caso aguarda julgamento.

A nota divulgada pela defesa de Bolsonaro diz que o ex-presidente “jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal” – repetindo, no final desta frase, um dos jargões frequentes de Bolsonaro.

No final do texto, os advogados do ex-presidente reiteram que ainda não conseguiram ter acesso ao conteúdo da delação. Nesta terça, 19, Bolsonaro e sua esposa Michelle, que também é investigada no caso das joias sauditas, pediram ao STF para ter acesso ao conteúdo acordo de delação.

A declaração desta quinta muda o tom de Bolsonaro a respeito do seu ex-ajudante de ordens. Até o momento, o ex-presidente vinha argumentando que Cid agiu por conta própria e negou ter dado qualquer ordem para que o tenente-coronel cometesse crimes. A caminho de Abadiânia, no dia 18 de agosto, Bolsonaro disse ao Estadão que Cid “tinha autonomia” e que desejava “clarear o mais rápido possível” toda a situação.

O post Bolsonaro rompe silêncio, nega acusações e promete agir contra calúnias apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

ORAÇÃO PROFÉTICA DE UM PASTOR DOS EUA

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