quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

COLABORAÇÃO PREMIADA É O TERMO TÉCNICO DA DELAÇÃO PREMIADA

 

Acordo

Por
Thaméa Danelon – Gazeta do Povo


| Foto: Agência Petrobras

O nome técnico da delação é colaboração premiada, embora o termo delação tenha se popularizado, e será utilizado nesse texto. A delação está prevista na Lei 12.850/2013, que trata das Organizações Criminosas, e essa delação nada mais é do que um acordo feito entre o réu, ou investigado, e os órgãos de investigação – a Polícia ou o Ministério Público.

O investigado é aquela pessoa que não foi processada criminalmente, pois ainda não há uma ação penal aberta contra ela. Por outro lado, o réu é aquele indivíduo que já está respondendo uma ação penal, uma vez que já foi processado criminalmente pelo Ministério Público perante o Poder Judiciário. Diante disso, constata-se que a delação pode ser realizada tanto na fase de investigação como durante a ação penal (processo criminal).

São obrigações do delator confessar todos os seus crimes; indicar outras pessoas que estão envolvidas; fornecer provas de suas alegações; e, de forma primordial, que ele ressarça a vítima.

O primeiro passo para dar início ao acordo de delação é sempre dado pelo investigado, através de seus advogados. Assim, na prática, o defensor de um indivíduo poderá contatar o representante do Ministério Público (MP), ou o delegado de Polícia, para iniciar as tratativas para o acordo de colaboração. Nesse contato preliminar, o advogado deverá elencar todos os crimes – em tese praticados pelo investigado – na delação. Cada tópico, ou seja, cada crime, será narrado em um documento específico, denominado “anexo”, onde serão narradas todos os ilícitos em que haja participação ou apenas conhecimento do delator.

Além disso, deverão ser indicadas todas as pessoas envolvidas nesses crimes, sendo narrada a participação especificada de cada uma delas. O delator, além de discorrer por escrito sobre todos os fatos, deverá trazer provas que demonstram a ocorrência destes. O não oferecimento de evidências da prática dos crimes irá obstaculizar a celebração do acordo de Colaboração Premiada.

Em um segundo momento, o MP (ou o delegado) irá ouvir presencialmente o delator, para que tenha certeza sobre a voluntariedade da delação, sendo esse requisito essencial para a assinatura do acordo. Outro ponto essencial é que a delação deve ser ampla e irrestrita, pois o delator não poderá selecionar quais fatos serão trazidos ao MP e quais ele pretende ocultar. Sendo descoberto que o réu omitiu determinados crimes ou protegeu certas pessoas, o acordo de delação poderá ser rescindido.

Na delação, o delator se compromete a não praticar novos crimes, e, caso isso venha a se concretizar, o acordo será rescindido, e todas as provas oferecidas pelo réu poderão ser utilizadas pelo MP.

Assim, são obrigações do delator confessar todos os seus crimes; indicar outras pessoas que estão envolvidas; fornecer provas de suas alegações; e, de forma primordial, que ele ressarça a vítima, seja ela uma pessoa física – como exemplo em um crime de extorsão mediante sequestro – ou a pessoa jurídica lesada – como ocorreu nos crimes apurados na Operação Lava Jato onde a Petrobras foi a empresa mais lesada.

No acordo de delação, além de estar especificados todos os crimes que serão indicados e provados, também estará prevista a premiação do réu, ou seja, os benefícios que o criminoso receberá em troca da colaboração. Geralmente, é concedido ao réu colaborador uma diminuição da pena, e também poderá ser negociado o período em que o delator ficará preso, e o momento em que for autorizado, por exemplo, a prisão domiciliar com a utilização de uma tornozeleira eletrônica. Outro tipo de premiação será a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, como entrega de cestas básicas, ou prestação de serviço à comunidade. Em casos pontuais – e dependendo do nível da colaboração e de suas consequências – o MP poderá deixar de processar o investigado, sendo esta uma espécie de imunidade.

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Importante pontuar que o instituto da colaboração premiada configura-se um instrumento extremamente importante, pois será útil e relevante tanto para acusação como para o réu delator. Por um lado, o Ministério Público terá uma confissão, a indicação de outras pessoas envolvidas no crime, e também o ressarcimento das quantias subtraídas dos cofres públicos, e, por outro, o delator poderá ter sua pena diminuída, e reduzido seu tempo na prisão.

Todas as tratativas entre as partes serão sigilosas, sendo assinado um termo de confidencialidade pelo MP e o colaborador. Concluídos os termos da delação, e sendo essa devidamente assinada, o documento deverá ser homologado pelo juiz da causa. Na delação, o delator se compromete a não praticar novos crimes, e, caso isso venha a se concretizar, o acordo será rescindido, e todas as provas oferecidas pelo réu poderão ser utilizadas pelo MP. A delação não impede que as investigações e o processo criminal caminhem. Ao final da ação penal, no momento de prolatação da sentença, o juiz observará se o réu cumpriu os termos da colaboração, e, em caso positivo, aplicará os benefícios previstos no acordo de delação.

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FLAMENGO FRACASSA NO MUNDIAL DE CLUBES

Metade do Rio está em festa, sogra de Vítor Pereira ‘piora’ e Flamengo decepciona sua gente

Gostaria de ter uma explicação convincente para o fracasso do time brasileiro diante do Al-Hilal na semifinal do Mundial de Clubes no Marrocos, mas não tenho

Por Robson Morelli – Jornal Estadão

Não tenho uma explicação convincente para o torcedor do Flamengo após a derrota do time por 3 a 2 para o Al-Hilal. Gostaria de apontar a expulsão de Gerson e o pênalti marcado no mesmo lance, mas houve erro antes e depois da jogada. Ou então o gol logo de cara do adversário também em falta crucial dentro da área. Mas não foi só isso em uma derrota de três gol. Foi mais uma péssima partida do Flamengo na temporada, a exemplo de algumas outras no Campeonato Carioca. Não digo nem que o Fla jogou mal diante do Palmeiras na derrota de 4 a 3 da Supercopa. Porque jogou bem. Mas faltou aos craques do elenco o apetite que todos esperavam no Mundial.

Metade do Rio está em festa. Vascaínos, botafoguenses e tricolores estão rindo até agora. Os memes tomaram conta das redes sociais, tamanha torcida contrária que o Fla tinha lá no Marrocos. Pior para o técnico Vítor Pereira, que entrou na dança das brincadeiras na internet após o fracasso com a notícia da ‘piora’ do estado de saúde de sua sogra, motivo que tirou o treinador do Corinthians e o levou para a Gávea.

Jogadores do Flamengo parecem não acreditar na derrota do time para o Al-Hilal na semifinal do Mundial de Clubes
Jogadores do Flamengo parecem não acreditar na derrota do time para o Al-Hilal na semifinal do Mundial de Clubes Foto: Andrew Boyers / REUTERS

O fato é que os jogadores são muito responsáveis pela derrota diante do Al-Hilal. São eles que deveriam oferecer mais competitividade na primeira partida do torneio. Estavam pensando muito no Real Madrid e não jogaram com a fome que o futebol cobra dos vencedores. O treinador errou em algumas posições, em tirar Arrascaeta, que não se tira por nada de jogo nenhum a não ser que o atleta se machuque, o que não aconteceu. Nem mesmo a torcida foi vista como se esperava dela no estádio, com muitos espaços vazios.

O Al-Hilal pode até ser um time bem montado, comandando por um treinador argentino, Ramón Diaz, mas isso não pode dar a ele qualquer favoritismo diante do badalado Flamengo. Ou ex-badalado Flamengo. A máquina de propaganda falhou. O time é muito mais cantado e bajulado do que mostra em campo nesta temporada. É preciso dizer isso. Não vi estratégia do time brasileiro. Vi jogadores jogando sem muita tática, na base do talento que muitos deles poderiam dar durante os 90 minutos. É claro que perder Gerson tem peso e pesou. Mas o time jogou de forma bagunçada.

Cá entre nós, a diretoria poderia muito bem ter mantido Dorival Júnior no comando do time para o Mundial e até para o fim do Estadual no Rio. Era o certo a se fazer. Dorival tinha um esquema e, a não ser que apareça uma bomba no relacionamento das partes, o presidente do Flamengo tem muita responsabilidade na derrota. Era sonho do torcedor repetir a conquista do time de 1981 frente ao Liverpool. Não chegou nem perto disso.

E não chegou por culpa da estrutura do time em campo, dos erros do treinador, da falta de futebol dos atletas, das mudanças feitas pela diretoria na comissão técnica sabendo do pouco tempo de preparação para a principal competição do clube no ano. Os jogadores falaram do trabalho novo no time com a nova comissão. Então, errou a diretoria quando fez a troca. Não pensou nas conquistas do início do ano e do jogo rápido que seria essa preparação. Errou por não entender de futebol. Faltou malandragem e logo para a turma do Fla, olha que ironia.

As brincadeiras vão continuar por mais alguns dias nas redes. Como disse, metade do Rio está em festa com o fracasso do time no Marrocos. Não haverá aeroFla na chegada da delegação. O voo será longo e silencioso, tanto da comissão e dos jogadores quanto da torcida. As cobranças vão aumentar na temporada. Disso não tenho dúvidas. O Flamengo fez feio no Mundial de Clubes.f

 

ERROS DE LIDERANÇA

 

André Kaercher mostra a diferença entre um líder e um chefe quando o assunto é desenvolver pessoas

Você já ouviu falar na diferença entre um chefe e um líder? Enquanto um chefe exerce uma posição de hierarquia dentro de uma empresa, isto é, uma figura autoritária que exerce poder sobre os seus subordinados, o líder é aquela figura preocupada em inspirar e fazer com que sua equipe cresça junto com ele. Uma pessoa que lidera, ao contrário daquela que chefia, tem a capacidade de inspirar as pessoas a fazerem o que é necessário e as suas vontades independentemente de pressão ou de situações externas.

“Um líder precisa se capacitar para ser um treinador de pessoas: profissionais completos que sempre pretendem melhorar a forma com que os colaboradores convivem e executam o seu trabalho, alcançando metas, gerando resultados e sempre valorizando e respeitando as singularidades de cada um. Não se trata de uma padronização, e sim de uma convivência pacífica que incentiva e aceita a divergência de pensamentos para se chegar a uma resolução coletiva de problemas e questões que possam aparecer”, explica André Kaercher, especialista em treinamentos comportamentais  e fundador do Instituto Kaercher de Desenvolvimento Humano, que já conquistou notoriedade internacional com atuação  em países como Itália, Inglaterra, Estados Unidos, Peru e Angola.

Apesar disso, um líder é um ser humano e está passível de acertos e erros. Por ser uma figura de extrema importância na empresa e na carreira dos colaboradores do negócio, ele precisa estar sempre atento e preparado para apoiar e ajudar. “Ser um líder treinador é servir. É dar o melhor de si sem pensar em si, tendo a responsabilidade com o desenvolvimento humano e o desenvolvimento do próximo. É caminhar para a evolução e aprofundamento por meio das pessoas, como também saber tomar decisões. E só se caminha, caminhando”, completa o Kaercher, treinador com mais de 20 anos de experiência no mercado  e agora compartilha os principais erros de uma liderança e como evitá-los, veja:

Não dar feedbacks construtivos

Um bom líder precisa estabelecer parâmetros construtivos para dar feedbacks para sua equipe sem ofender ou que possam mais prejudicar que ajudar. Um líder que treina pessoas precisa entender como apontar erros e soluções para que o colaborador consiga colocar em prática e evoluir na sua carreira.

Não saber ouvir e ter empatia

Liderar é lidar com pessoas. Para isso, é preciso ouvir todos os inúmeros lados de uma mesma história, com empatia, sabendo se colocar no lugar do outro com uma escuta ativa, de forma a manter sempre a justiça no ambiente de trabalho, principalmente em casos de possíveis conflitos.

Não valorizar o talento de cada um

Cada pessoa é única e tem o seu talento. Um bom líder precisa entender como cada um dos seus colaboradores lida com o trabalho do dia-a-dia, o que eles têm mais facilidade e o que eles têm mais dificuldade. Assim é possível desenvolver novos talentos enquanto se utiliza as aptidões já existentes para uma melhora constante.

Não planejar estrategicamente

Para não gerar ansiedade na equipe, um líder precisa de um planejamento coeso em parceria com todas as figuras da sua equipe, de preferência, que tenha sido montado levando em conta as opiniões e visões de todos, na medida do possível. Ser um líder aberto e empático é uma boa forma de encontrar um denominador comum na estratégia de crescimento da equipe. Nesses momentos, faz muita diferença ter uma formação em treinamento comportamental, pois a metodologia validada ajuda o líder a alavancar os resultados .

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 204.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 4.600.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

Temos a plena certeza que o site da Startup Valeon, por ser inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da região capaz de alavancar as suas vendas.

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

GOVERNO LULA OFERECE MENOS PICANHA E ELEVAÇÃO DE PREÇOS

 

Política monetária
Rever meta de inflação, como quer Lula, pode elevar os preços

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo


Presidente Lula pode editar medida provisória para ampliar faixa de isenção do IR antes da reforma tributária| Foto: André Borges/EFE

A recuperação do poder de compra do brasileiro, traduzida na promessa de acesso à picanha, foi um dos motes da campanha de 2022 de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. Mas algumas de suas ideias para a economia podem dificultar o alcance desse objetivo. A possibilidade de revisão da meta de inflação, que ele deu a entender estar em cogitação, por exemplo, pode resultar em um círculo vicioso de alta de preços, segundo especialistas.

O mercado já estima que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2023 deve ficar em 5,78%, segundo a edição desta segunda-feira (6) do Boletim Focus, do Banco Central (BC), que todas as semanas consolida projeções de dezenas de analistas financeiros. A meta de inflação estabelecida para o ano é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos – ou seja, uma faixa entre 1,75% e 4,75%.

O BC, cuja autonomia foi formalizada por lei sancionada em 2021, é o órgão responsável por garantir a estabilidade do poder de compra da moeda. O principal instrumento de política monetária para controle da inflação é o aumento da Selic, a taxa básica de juros, utilizada como referência para as instituições financeiras.

Juros mais altos reduzem o acesso a crédito e ao consumo, o que leva à desaceleração da economia, por um lado, e à redução da inflação, por outro.

Nos últimos dois anos, em decorrência da pandemia de coronavírus e da guerra na Ucrânia, o governo de Jair Bolsonaro (PL) também enfrentou dificuldades para lidar com a variação de preços: as metas anuais, respectivamente de 3,75% e 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo, foram descumpridas – o IPCA fechou em 10,06% em 2021 e em 5,79% em 2022.

Para segurar a variação de preços ao consumidor, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, responsável pela definição da Selic, fez sucessivos aumentos na taxa de juros, que saiu de 2%, em março de 2021, para 13,75%, em agosto de 2022, patamar em que se mantém até o momento.

Os juros elevados são um dos fatores que fazem com que o mercado veja pouca possibilidade de crescimento econômico este ano. A mediana de projeções para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) é de 0,79%, segundo o último boletim Focus.

“Por que o Banco [Central] é independente, e a inflação, os juros estão do jeito que estão? Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7% [em 2021]. Quando você faz isso, é obrigado a ‘arrochar’ mais a economia para atingir aqueles 3,7%”, disse Lula em entrevista à Globonews no dia 18 de fevereiro.

“Por que precisava fazer os 3,7%? Por que não fazia 4,5%, como nós fizemos? O que precisamos nesse instante é saber o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer. E nós precisamos fazer distribuição de renda, nós precisamos fazer mais políticas sociais”, prosseguiu.

Nos últimos dias, Lula voltou a criticar a política monetária, retomando seus ataques à autonomia do BC. “Quero saber do que serviu a independência do Banco Central. Eu vou esperar esse cidadão [Roberto Campos Neto, presidente do BC] terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação do que significou o banco central independente”, disse Lula à RedeTV na última quinta-feira (2).

Na véspera, quando manteve os juros em 13,75%, o Copom deu a entender que pode sustentá-los nesse nível por um bom tempo – talvez até o fim do ano, na interpretação de parte do mercado.

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Metas para inflação já foram revistas no passado
O regime de metas para inflação foi criado em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Desde 2018, o centro da meta é reduzido em 0,25 ponto a cada exercício fiscal, saindo de 4,5% naquele ano até chegar em 3% em 2024, patamar considerado ideal por diversos economistas para economias emergentes. Para 2025, foi estabelecida a manutenção do alvo em 3%.

As metas são definidas com uma antecedência de três exercícios pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado atualmente pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Em junho, está prevista uma reunião para o estabelecimento do alvo para 2026.

Para que as metas já definidas possam ser revistas, o governo não teria maiores dificuldades. Seria necessário apenas um decreto presidencial autorizando a medida e a aprovação pelo CMN, onde bastam os votos favoráveis dos dois ministros de Estado.

Há precedentes. Em 2003, no início do primeiro mandato de Lula, o CMN estabeleceu um sistema de metas ajustadas de 8,5%. Anteriormente, em junho de 2002, ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o alvo do ano seguinte já havia sido elevado de 3,25% para 4%, em meio a um cenário de crise de racionamento de energia, disparada na cotação do dólar e choque do preço do petróleo.

Em junho de 2003, o CMN anunciou uma nova revisão na meta para 2004, que passou de 3,75% para 5,5%. À época, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, justificou a alteração em razão de o mercado já estar precificando uma inflação de 5,5% para o período.

Nesta semana, ao jornal O Globo, no entanto, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que a possibilidade de mudança no atual regime de metas de inflação não está em discussão na pasta.

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Para quem defende uma flexibilização da meta, o problema da política monetária atual é o patamar de juros adotado para segurar a elevação de preços dentro dos limites impostos. Quanto mais altas as taxas de juros, menor é a circulação de crédito no mercado e, portanto, menor o consumo e o crescimento econômico, refletido no PIB.

A perseguição à meta da inflação, nesse contexto, exige uma desaceleração da economia. As contas públicas, por sua vez, são impactadas em duas frentes: com perda de arrecadação por meio de impostos e com um aumento de despesas a serviço da dívida pública, em razão do aumento de juros nominais.

Um dos formuladores do regime de metas de inflação no fim dos anos 1990, o economista Sergio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC, é um dos poucos que defendem publicamente uma meta de inflação maior para os próximos anos. Ao jornal Folha de São Paulo, ele argumentou que um alvo baixo “desmoraliza o sistema”.

“Você acaba botando um número que não é factível, que força que o BC seja muito conservador, eleve muito a taxa de juros. E, mais que tudo, mesmo fazendo isso, muitas vezes ele erra”, disse Werlang.

Bráulio Borges e Ricardo Barboza, ambos pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), defendem um aumento da meta para um patamar que consideram “mais realista”, próximo de 4% a partir de 2024.

Em artigo, eles afirmaram que o custo da desinflação para atingir a meta de 3% em 2024 exige “que a Selic seja mantida bem acima do nível neutro e que a economia volte a operar abaixo do potencial por quase dois anos, o que, por sua vez, exacerba o quadro de fragilidade das contas públicas”.

Entre economistas mais ortodoxos, no entanto, essa revisão não pode ser encarada como uma solução, especialmente diante de um Estado que tem elevado suas despesas, desrespeitando o próprio arcabouço fiscal. “A política fiscal e a política monetária devem andar juntas para que haja de fato um controle de preços ao consumidor”, diz Tatiana Nogueira, economista sênior da XP Investimentos.

Emendas constitucionais que elevaram as despesas acima do previsto pela regra do teto de gastos, como a PEC dos Benefícios (ou “PEC Kamikaze”), aprovada no governo de Jair Bolsonaro (PL), e a PEC da Transição (a “PEC fura-teto”), patrocinada por Lula, são exemplos dessa política fiscal expansionista.

“Maiores gastos significam maior consumo e mais dinheiro na economia. Via demanda agregada, a gente tem um impulso que acaba também pressionando os preços”, diz a economista. “Se a política fiscal faz um trabalho de expansão, exige-se da política monetária mais juros ainda.”

Além disso, o abandono do teto de gastos sem uma definição clara de qual será a âncora fiscal a ser adotada no lugar contribui para gerar incerteza no mercado. As expectativas de analistas econômicos no boletim Focus, do BC, registram esse efeito: as projeções para o IPCA de 2023 vem subindo há oito semanas consecutivas.

“Mudar artificialmente a meta, sem ter esse novo arcabouço, sem uma previsibilidade da política fiscal, de nada adianta. No curto prazo, pode até haver espaço para um corte de juros, mas as expectativas vão responder rapidamente a isso”, diz Tatiana.

“Enxergando o BC mais tolerante com inflação alta, a gente vive a chamada profecia autorrealizável: os agentes econômicos, do dia a dia, prevendo uma inflação mais alta, usam esses dados para reajustar seus preços e salários hoje, o que acaba contaminando os preços e gerando mais pressão inflacionária”, afirma.

Nesse cenário, ela explica, a população mais pobre acaba sofrendo mais, uma vez que fica exposta à alta de preços sem ter acesso a instrumentos financeiros de hedge (proteção), como a compra de títulos públicos atrelados ao IPCA.

Analistas do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco já veem efeito das declarações do presidente em um relatório sobre o aumento contínuo das projeções do IPCA. “As razões para o descolamento das expectativas de inflação podem ser várias, incluindo a maior inflação global, mas a possibilidade de uma alteração nas metas e uma maior expansão fiscal aparecem como candidatas.”

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Na quarta-feira (1º), ao justificar a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, o Copom sinalizou que se opõe à revisão das metas. “A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”, diz trecho de comunicado da instituição.

“O Comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, afirma o documento. A manutenção da taxa básica de juros estaria baseada, entre outros fatores, na perseguição desse objetivo.

Mais adiante, o Comitê reforça que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”.

“O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, avisa o texto.


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TERREMOTOS VÃO DESTRUIR CIDADES DESPREPARADAS

 

Artigo
Em um mundo cada vez mais urbanizado
Por
Claire Berlinski – Gazeta do Povo
City Journal


Equipes de emergência procuram sobreviventes entre os escombros de um prédio desabado, nesta segunda-feira (06) em Diyarbakir, na Turquia.| Foto: EFE/ Refik Tekin

A mitigação do risco sísmico é o maior desafio de política urbana que o mundo enfrenta hoje. Se você considera essa afirmação muito forte, tente imaginar outra maneira pela qual uma má política urbana poderia matar um milhão de pessoas em 30 segundos. No entanto, a política dos terremotos raramente é discutida e, quando discutida, é amplamente mal compreendida. Veja o Grande Terremoto no Leste do Japão em 11 de março de 2011 [Nota do Tradutor: Este texto foi escrito em 2011 para a revista do City Journal, mas é incrivelmente presciente: a autora do texto inclusive alerta sobre Istambul], que liberou 600 milhões de vezes a energia da bomba de Hiroshima. O subsequente colapso parcial do reator de Fukushima gerou histeria internacional sobre a energia nuclear, mas poucos pareciam perceber que uma ameaça muito mais mortal havia sido evitada. Como o sismólogo Roger Bilham colocou apropriadamente, as casas em zonas sismicamente ativas são as armas de destruição em massa não reconhecidas do mundo — e as armas de destruição em massa do Japão não explodiram. Seus edifícios — pelo menos aqueles que não foram varridos pelo tsunami que o acompanhou, uma força da natureza contra a qual ainda somos indefesos — permaneceram de pé e as pessoas dentro sobreviveram.

O fato de tão poucos prédios terem desabado no terremoto foi um triunfo humano de primeira ordem. Mostrou que os países podem fazer grandes progressos na mitigação do risco sísmico; no terremoto de Kobe em 1995, 200.000 prédios desabaram. Mas as cidades ao redor do mundo parecem felizes em ignorar a ameaça de terremoto — uma ameaça que só cresce à medida que as próprias cidades ficam cada vez maiores.

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Em janeiro de 2010, um terremoto atingiu o Haiti e destruiu cerca de 100.000 edifícios. Hospitais, escolas, prédios do governo, prisões, hotéis, igrejas, bairros inteiros — tudo desmoronou, enterrando todo mundo lá dentro. Após o terremoto, recebi um e-mail de um estudioso de relações internacionais. “É estranho que os terremotos tendam a ocorrer com frequência em países que menos têm dinheiro para enfrentá-los”, escreveu ela.

Você só poderia escrever tal frase se nunca tivesse pensado muito no assunto. Não é estranho; para ser preciso, não é verdade. A Mãe Natureza não tem uma predileção pelos pobres. Em vez disso, os terremotos chamam nossa atenção apenas quando são desastres, e são desastres apenas quando atingem densas áreas urbanas cheias de prédios mal construídos. Em 2010, houve uma série de terremotos maiores do que aquele que arrasou Porto Príncipe, mas eles não foram notícia porque aconteceram no meio do nada. O terremoto de Loma Prieta, na Califórnia, o “superterremoto” de 1989, foi tão grande quanto o de Porto Príncipe. Ele matou tão poucas pessoas em comparação — apenas 63 — porque os prédios e a infraestrutura de São Francisco eram bem projetados e fortes.

Após o terremoto de Kobe, engenheiros japoneses tomaram medidas extensas para reforçar edifícios e infraestrutura. Eles instalaram blocos de borracha sob as pontes. Eles espaçaram os edifícios mais distantes para evitar quedas no estilo dominó. Eles introduziram órtese extra, almofadas de isolamento de base, amortecedores hidráulicos. Um minuto antes do terremoto de março de 2011, sistemas automáticos de monitoramento sísmico enviaram alertas para os celulares dos japoneses. Os elevadores deslizaram obedientemente até o andar mais próximo e se abriram. As cirurgias foram interrompidas. Vídeos de Tóquio mostram arranha-céus balançando graciosamente, como pés de milho ao vento. Nenhum caiu.

Da mesma forma, o tremor secundário que atingiu Christchurch, na Nova Zelândia, em fevereiro de 2011 foi mortal, mas a parte surpreendente dessa história não é que vários prédios da cidade desabaram; é que a maioria deles não. O pico de aceleração do solo — uma medida de quanto o solo treme — foi imenso, um dos mais altos já registrados. Algo assim teria arrasado a maioria das cidades. Os códigos de construção estritos e bem aplicados da Nova Zelândia salvaram Christchurch da aniquilação.

Mas muitas das maiores cidades do mundo são construídas mais como Porto Príncipe do que como Christchurch, e muitas correm um grande risco sísmico. Oito das dez maiores cidades do mundo foram construídas sobre falhas geológicas. Há uma razão para isso: as pessoas gostam de viver perto da água e do solo fértil. Ao longo dos milênios, a atividade sísmica criou costas, vales que canalizam a água, microclimas temperados. A mente humana não funciona no tempo geológico, então as pessoas raramente se perguntam como exatamente essas atrações surgiram.

As chances de mais destruição na escala do Haiti estão crescendo a cada dia porque o mundo está se urbanizando. Duzentos anos atrás, Pequim era a única cidade do mundo com uma população de um milhão de pessoas. Hoje, quase 500 cidades são tão grandes, e muitas são muito maiores. Isso explica por que o número de mortes causadas por terremotos na primeira década deste século (471.015) foi mais de quatro vezes maior do que na década anterior, segundo estatísticas compiladas pelo Centro Nacional de Informações sobre Terremotos dos Estados Unidos. Se a tendência de fatalidade continuar subindo — e vai continuar, porque a tendência de urbanização continua subindo, assim como a tendência de abrigar populações migrantes em armadilhas mortais — não demorará muito para vermos uma manchete anunciando 1 MILHÃO DE MORTOS EM UM TERREMOTO ENORME. De fato, teremos sorte de não vê-lo em nossas vidas.

Assim como sabemos construir aviões que não caem, sabemos construir prédios que não desmoronam. Se você quiser aprender como fazê-lo, pegue algumas bolinhas de gude e uma assadeira de Teflon e siga o plano de aula da sexta série no Discovery Online. Também sabemos quais cidades estão em maior risco: Bogotá, Cairo, Caracas, Dhaka, Islamabad, Istambul, Jacarta, Karachi, Katmandu, Lima, Manila, Cidade do México, Nova Delhi, Quito e Teerã. Los Angeles e Tóquio são os principais candidatos a um grande terremoto, mas provavelmente sobreviverão, pois são bem construídos — embora LA pudesse se sair melhor. Nova York está em maior risco do que as pessoas imaginam. Em 2008, pesquisadores do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia publicaram um artigo no Boletim da Sociedade Sismológica da América observando, entre outras coisas, que a usina nuclear de Indian Point estava localizada no topo de duas zonas sísmicas ativas. As chances de um terremoto grande o suficiente para causar um desastre semelhante ao de Fukushima são pequenas. As chances de um terremoto grande o suficiente para derrubar casas construídas sob códigos de construção anteriores a 1995 não são. Se você mora em um prédio antigo — e principalmente se mora perto da Rua 125, onde passa a linha de falha — você pode notar isso.

Oito das dez maiores cidades do mundo foram construídas sobre falhas geológicas

Portanto, entendemos o suficiente sobre sismologia para ter certeza de que certas cidades enfrentam um alto risco de terremotos com um enorme número de mortos, e entendemos o suficiente sobre engenharia e gerenciamento de desastres para dizer exatamente o que deve ser feito para proteger os moradores dessas cidades. O que não entendemos — ou melhor, o que raramente estamos dispostos a dizer claramente — é por que alguns governos levam o risco a sério e tomam medidas agressivas para mitigá-lo, enquanto outros encolhem os ombros e dizem: O que tiver de ser, será.

É tentador pensar que as pessoas em certos países são indiferentes ao risco porque são pobres. O argumento é o seguinte: casas seguras custam mais para construir do que as baratas. O cimento regado com areia rende mais. As pessoas nas cidades pobres não têm dinheiro para construir casas seguras; ou se o fazem, decidiram usá-lo para mitigar riscos mais imediatos. Antes do terremoto no Haiti, certamente não era possível dizer que as chances de um terremoto catastrófico eram de 100%; as chances, no entanto, de que uma porcentagem substancial da população morreria prematuramente de desnutrição e doenças infantis evitáveis eram de 100%. Ninguém ali poderia ter sido persuadido, antes do terremoto, a priorizar a construção sólida de prédios em detrimento da alimentação.

Se a riqueza fosse tudo, a solução para o problema seria, se não simples, pelo menos óbvia. Para se preparar para um terremoto, promova o desenvolvimento econômico e cruze os dedos. Quando seu país ficar rico o suficiente, o problema se resolverá sozinho. Se seguíssemos esse argumento até seu fim natural, concluiríamos que a melhor estratégia de redução do risco sísmico é a liberalização do mercado, a redução do setor estatal e uma política econômica voltada para o crescimento que visa expandir a classe média o mais rápido possível. Em uma economia diversificada e desenvolvida, segue essa lógica, os atores privados promoverão a segurança contra terremotos e o farão com mais eficiência do que o governo. As seguradoras não irão segurar edifícios adaptados indevidamente. As empresas protegerão seus investimentos exigindo que sejam alojados em edifícios estruturalmente sólidos. E as pessoas de classe média terão o bom senso de exigir, construir e morar em prédios devidamente reformados, pois ninguém quer morrer em um terremoto. Seguir-se-iam outras recomendações de política: por exemplo, não pressione por leis de zoneamento pesadas ou mais regulamentação da indústria da construção porque a regulamentação, como todo economista sabe, impõe custos econômicos, e qualquer obstáculo ao crescimento é a última coisa que você precisa em uma corrida econômica contra o tempo.

Essa teoria foi expressa em Istambul, onde moro. Mustafa Erdik, presidente do Departamento de Engenharia de Terremotos da Universidade Boğazici, sugeriu que a maior esperança da Turquia é o rápido crescimento econômico. Se isso acontecer rápido o suficiente, ele reza, os proprietários poderão substituir o pior estoque de moradias antes que o solo comece a tremer. Se olharmos desta forma, vemos a redução do risco sísmico como um paradoxo: a melhor forma de reduzir o risco é ignorá-lo.

A ideia é tentadora e elegante. Mas está errado.

A riqueza, por si só, não é suficiente para fazer as pessoas levarem os terremotos a sério. Aqui está a evidência. Em 27 de fevereiro de 2010, um terremoto de magnitude 8,8 na escala Richter ocorreu perto da cidade de Concepción, no Chile. Embora o epicentro não tenha ocorrido no centro da cidade, esse terremoto foi 100 vezes maior do que o que destruiu Porto Príncipe. Era tão grande que encurtou a duração do dia em 1,26 microssegundo e moveu a Terra em seu eixo em oito centímetros. Quando acabou, toda a cidade de Concepción havia sido movida três metros para o oeste.

O número de mortos por esse monstro foi de 521. Cada morte em si é um desastre, é claro, mas o número foi surpreendentemente pequeno para um terremoto que, pela extensão, deveria ter destruído o Chile como um todo. O dano foi tão mínimo que os chilenos rejeitaram todas as ofertas de ajuda externa; eles não precisavam disso. O Chile se saiu bem porque seus códigos de construção estão entre os mais rígidos e avançados do mundo e porque não existem apenas no papel — eles são colocados em prática.

Não há um geólogo vivo que duvide da probabilidade de um grande terremoto atingir Istambul em breve

Agora considere a Turquia. Como o Chile, a Turquia não é estranha a terremotos. Em 1509, um terremoto matou entre 5 e 10 por cento da população de Constantinopla. Os otomanos o chamavam de Kıyamet-i Suğra, o Dia do Juízo Menor. Desde então, a cidade sofreu sérios danos causados por terremotos 11 vezes, mais recentemente no final do século XIX. Além disso, em 1939 ocorreu o primeiro dos sete terremotos ocorridos na falha geológica da Anatólia, cada um excedendo 7 na escala Richter. Cada vez que ocorre uma grande ruptura na falha, ela transfere a tensão ainda mais ao longo da linha, tornando mais provável um terremoto subsequente. Os terremotos estão marchando para o oeste do leste da Turquia em direção a Istambul. A mais recente ocorreu em 1999, perto de Izmit, cidade a cerca de 100 quilômetros de Istambul; morreram certa de 45 mil pessoas e 600 mil ficaram desabrigadas.

Não há um geólogo vivo que duvide da probabilidade de um grande terremoto atingir Istambul em breve. Em 2000, o U.S. Geological Survey colocou as chances de isso acontecer dentro de 30 anos em 62 por cento; outras equipes de pesquisa dão 70 por cento. Erdik estimou que matará entre 200.000 e 300.000 pessoas. O custo da limpeza — US$ 50 bilhões seria uma estimativa otimista — certamente atrasará a economia da Turquia em décadas. Será um cataclismo político, com ramificações massivas para toda a região.

Todos os dias, passo por edifícios em Istambul que são claramente insalubres. Vejo andares térreos, por exemplo, com paredes ou colunas removidas para dar lugar a vitrines de lojas, violando um dos princípios mais importantes da construção resistente a terremotos. Existem vastos bairros cheios de estruturas frágeis e ilegais chamadas gecekondu, que significa “desembarcou durante a noite”. Os gecekondu, que variam de barracos toscos a blocos de apartamentos de vários andares de concreto, abrigam centenas de milhares de migrantes rurais que vieram a Istambul em busca de trabalho na última década. Gecekondu não são construídos por engenheiros. Eles tendem a ser construídos em solo ruim. Eles estão lotados de crianças.

Mesmo os edifícios aprovados por engenheiros, alertou um estudo recente da Câmara Turca de Engenheiros Civis, em grande parte não são construídos de acordo com o código; apenas metade é à prova de terremotos. A câmara também alertou que 86% dos hospitais da cidade correm alto risco. As maiores construtoras da Turquia admitiram livremente o uso de materiais de má qualidade, como areia do mar e sucata de ferro, em edifícios feitos de concreto armado. Na verdade, os padrões de construção aqui são tão ruins que os prédios desabam regularmente sem a ajuda de um terremoto.

É por que a Turquia é pobre? O PIB per capita no Chile em 2011 foi de US$ 15.867. Na Turquia, de US$ 14.077. A diferença não é grande.

A questão fica ainda mais clara se considerarmos a “mitigação não estrutural do risco sísmico” — as pequenas coisas, além de construir casas melhores, que as pessoas podem fazer para se proteger. Essas etapas não são caras. Por exemplo, de acordo com estudos feitos pelo Projeto de Preparação e Mitigação de Riscos Sísmicos de Istambul, um terremoto do tamanho amplamente previsto romperia 30.000 linhas de gás natural. Após um evento estressante, as pessoas fazem uma coisa previsível: elas fumam. Fumar perto de uma linha de gás rompida é uma boa maneira de iniciar um incêndio. Mas acho que nunca vi uma placa ou comercial de TV em Istambul dizendo: “Se isso acontecer, não acenda o isqueiro”.

Também não vi mais do que um punhado de comerciais ou anúncios de serviço público lembrando às pessoas o que mais deveriam fazer em um terremoto — agachar-se, cobrir-se e esperar. No ano passado, fiquei em um hotel em Palo Alto, na Califórnia (EUA). A primeira coisa que notei no meu quarto foi um cartão na mesa, rotulado DICAS DE SEGURANÇA PARA VISITANTES EM TERREMOTOS, com instruções em espanhol e inglês, além de diagramas. Também forneceu o número de telefone do Escritório de Serviços de Emergência em Palo Alto, caso eu tivesse alguma dúvida. Nunca vi nada assim em um quarto de hotel turco.

Embora seja muito caro derrubar e substituir, ou reforçar, habitações inadequadas, não é nada caro parafusar mercadorias pesadas nas paredes ou mover móveis pesados para longe das camas. Raramente isso é feito em Istambul. O estranho é que todos temem o terremoto que se aproxima. No ano passado, uma pequena sacudida deixou a cidade em pânico e colocou a palavra turca para terremoto, deprem, no topo dos trending topics do Twitter, mas quase ninguém sabe o que fazer se isso acontecer, ou se importa em saber. Conheço muitas pessoas em Istambul que são ricas o suficiente para morar em prédios mais seguros, mas não.

Eles estão totalmente cientes do risco. Quando perguntados por que eles não fazem nada a respeito, eles encolhem os ombros. Eles são fatalistas. A maioria dos turcos pensa dia a dia, não a longo prazo.

Compare a Turquia com o Japão, onde “não existe erro honesto”, como diz um americano que mora lá há anos. “Todo erro é uma falha moral. Em outras palavras, você deveria ter trabalhado mais, deveria ter se preparado melhor, deveria ter sido mais cuidadoso. Portanto, até mesmo os exercícios práticos [de emergência] precisam ser ensaiados. Todo mundo já praticou.” Após o terremoto de março, o jornalista Kirk Spitzer, que mora no Japão, escreveu sobre a cultura de preparação para terremotos: “Nossas prateleiras são forradas com material emborrachado para evitar que copos e pratos deslizem; nada caiu e quebrou, nem mesmo as delicadas taças de champanhe que trouxemos de Paris. Em outros lugares, as travas montadas no chão impediam que as portas do quarto e do corredor batessem ou se soltassem. Trilhos de quadros embutidos no teto evitam que até molduras pesadas caiam no chão.”

Japoneses comuns de classe média tomam essas medidas para proteger seus copos. Muitos museus em Istambul não adotam medidas semelhantes para proteger esculturas, cerâmicas e tábuas cuneiformes de valor inestimável. Eles se sentam inseguros em pedestais ou embaixo de luminárias que cairiam sobre eles com fortes tremores. Os depósitos, segundo os que neles trabalham, são uma zona de risco. Esta não é uma questão de riqueza comparativa; é uma questão de cultura.

Você vê uma falha semelhante em transformar preocupação em ação no nível governamental. Autoridades locais no município de Beşiktaş elaboraram planos para terremotos — eles os mostraram para mim em uma apresentação em PowerPoint. Mas eles existem apenas no PowerPoint, onde existem desde 2008 sem nenhum progresso na implementação. Isso é característico da grande maioria dos planos de terremoto elaborados na Turquia desde o terremoto de 1999. Ninguém sabe sobre eles — certamente não o público; eles parecem bastante completos, mas não se traduzem em ação. Ninguém parece ter autoridade para agir de acordo com os planos. Ninguém parece ter autoridade para liberar quaisquer fundos necessários para implementá-los. Ninguém parece sequer saber quem teria essa autoridade. Os fundos e subsídios concedidos por várias agências internacionais de desenvolvimento para modernização e preparação para terremotos simplesmente desaparecem.

O fatalismo mata. O pensamento de curto prazo mata. Mas, acima de tudo, a corrupção mata. No aniversário do terremoto no Haiti, Nicholas Ambraseys e Roger Bilham publicaram um estudo extraordinário na Nature. Usando dados do Índice de Percepção de Corrupção da Transparency International, eles calcularam que 83% de todas as mortes por desabamento de prédios em terremotos nos últimos 30 anos ocorreram em países que eram “anormalmente corruptos” — isto é, em países que eram considerados mais corruptos do que você poderia prever a partir de sua renda per capita.

O estudo definitivo de 2007 do economista Charles Kenny argumenta persuasivamente que a indústria da construção é o setor mais corrupto da economia mundial. E quanto mais corrupção houver na construção — quer consista em empresas que usam materiais abaixo do padrão ou em governos concedendo permissão para construir em zonas impróprias para habitação — mais provável é que você morra. Na China, os prédios que desmoronam durante os terremotos são escolas e hospitais, enquanto a sede do Partido e as casas de seus funcionários permanecem de pé. Na Turquia, os inspetores de construção trabalham na folha de pagamento dos empreiteiros, criando um enorme conflito de interesses. Mudar esse sistema pode salvar inúmeras vidas. Mas as construtoras, por razões óbvias, não querem que isso aconteça — e todos os principais partidos políticos da Turquia funcionam com dinheiro da construção.

A ausência de corrupção total não é suficiente para manter os países seguros; também é essencial ter em vigor um tipo particular de regime legal. Uma lei de responsabilidade civil forte é a chave, e o Chile também é um modelo aqui. Durante o recente terremoto, um novo prédio em Concepción desabou. Seus habitantes sobreviventes levaram os construtores ao tribunal, acusando-os de fraude e, em alguns casos, de assassinato. A lei chilena responsabiliza o proprietário original de um edifício por qualquer dano causado pelo terremoto durante sua primeira década, mesmo que a propriedade tenha mudado durante esse período. Por causa dessa lei, os proprietários geralmente excedem as disposições dos já rígidos códigos de construção do Chile em sua ânsia de evitar responsabilidades. E a responsabilidade no sistema jurídico chileno vai para o topo. Em fevereiro, um tribunal chileno se recusou a rejeitar um processo contra a ex-presidente Michelle Bachelet e outros altos funcionários por falhas no sistema de alerta de tsunami do país.

Na China, como seria de esperar, a responsabilidade civil é uma piada. Após o terremoto de Sichuan em 2008, que deixou quase 90 mil mortos ou desaparecidos, os tribunais chineses rejeitaram uma ação movida por pais de crianças esmagadas até a morte em escolas que desabaram. Aqueles que protestaram foram presos. E na Turquia, o cidadão médio não quer saber do sistema judiciário, acreditando que ele é intimidador, incompreensível, manipulado e muito caro e demorado para usar — o que fato é. Falo por experiência própria, tendo ajuizado uma construtora que derrubou a parede do prédio onde eu morava, tornando-o inseguro para habitação. Eu os processo há anos sem problemas. Em outubro passado, as acusações contra os funcionários que aprovaram a construção de uma escola que desabou em um terremoto de 2003, matando 64 alunos e um professor, foram retiradas, devido à expiração do estatuto de limitações. O valor que custa abrir uma ação judicial representa uma parte substancial da renda anual média de um turco.

Quando ocorreu o terremoto no Haiti no ano passado, tive um motivo pessoal para ficar alarmado: meu irmão e sua família moravam em Porto Príncipe. Eles sobreviveram, mas muitos dos colegas de trabalho da minha cunhada morreram esmagados. De Washington, DC, traduzi mensagens de texto enviadas para um número de emergência criado para ajudar as equipes de busca e resgate a localizar as vítimas. As mensagens eram terríveis: “Para qualquer pessoa na área de MontJoli-Turgeau…

Jean-Olivier Netuno é pego sob os escombros de sua casa caída… Ele está vivo, mas em estado grave.” “Por favor, alguém me avise se meu tio, Dr. James Plantin, que mora em Jacmel, está bem… Ele não atende o telefone”. “O Hotel Montana na Rue Franck Cardozo em Petionville desabou. 200 podem estar presos.” “Minha mãe faz parte de uma equipe médica que acaba de chegar a Porto Príncipe. Recebemos uma mensagem informando que ela e outras duas pessoas estão presas sob os escombros.”

Um quarto de milhão de pessoas foram mortas no Haiti, e Deus sabe quantas mais foram mutiladas, física e emocionalmente, por prédios que desabaram. Isso acontecerá de novo e de novo, em números cada vez maiores, com teletons de celebridades cada vez mais chorosos para acompanhar a carnificina. Mas você não verá apelos para salvar o mundo das práticas corruptas de construção. Ninguém vai sugerir que o governo americano celebre tratados de redução de risco sísmico com outras nações.

Gire a roda: Bogotá, Cairo, Caracas, Dhaka, Islamabad, Istambul, Jacarta, Karachi, Katmandu, Lima, Manila, Cidade do México, Nova Delhi, Quito, Teerã. Será um deles. Não é tarde demais para salvá-los. Mas precisamos dizer a verdade sobre por que eles estão em risco em primeiro lugar.


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CRISE DIPLOMÁTICA POR CAUSA DE UM BALÃO

 


EUA alegam respaldo em direito internacional para derrubar balão chinês
Agência EFE – Gazeta do Povo


Enquanto a China continua a alegar que o balão fazia parte de uma missão civil para obter dados meteorológicos, os EUA argumentam que têm provas suficientes de que o balão se destinava a espionar locais sensíveis de segurança nacional.| Foto: EFE

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, defendeu nesta segunda-feira (06) a decisão do governo americano de derrubar o balão espião chinês que ficou vários dias sobrevoando o país e ressaltou que ela foi tomada com base no direito internacional.

Em entrevista coletiva, Kirby reiterou que os EUA têm provas suficientes de que o balão era usado para espionar locais estratégicos, mas afirmou que, apesar do incidente, “não há motivos” para que as tensões na relação com a China “levem a algum tipo de conflito”.

“Os Estados Unidos agiram de acordo com o direito internacional e em defesa de nossa pátria e de nosso espaço aéreo soberano”, disse ele em uma entrevista coletiva dois dias após a derrubada do balão com um míssil perto da costa do estado da Carolina do Sul.

O disparo, ainda segundo Kirby, foi feito “a cerca de seis milhas da costa dentro de nosso espaço aéreo territorial para que pudéssemos cumprir a lei internacional, ao contrário dos chineses, que não cumpriram a lei internacional sobrevoando o espaço aéreo soberano dos EUA”.

“Estamos absolutamente dentro de nossos direitos de tirar o balão deles e vamos recuperar o máximo que pudermos para aprender sobre sua missão”, enfatizou.

Kirby fez a declaração após o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, acusar os EUA de exagerar e “violar seriamente o espírito do direito internacional” com um “uso indiscriminado da força”.

Xie acrescentou que a China protegerá os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas e “defenderá os interesses e a dignidade do país”, uma declaração que lançou sinais de alerta sobre um possível conflito entre as duas potências.

Entretanto, Kirby tentou minimizar o incidente, assegurando que “não há motivos” para que as tensões na relação bilateral “levem a algum tipo de conflito”.

Por esta razão, de acordo com ele, a visita do secretário de Estado Antony Blinken à China, que deveria ter sido realizadda no último fim de semana, “não foi cancelada, mas adiada”.

Enquanto a China continua a alegar que o balão fazia parte de uma missão civil para obter dados meteorológicos, os EUA argumentam que têm provas suficientes de que o balão se destinava a espionar locais sensíveis de segurança nacional.

“Eles querem que acreditemos que este foi algum tipo de balão meteorológico inocente que estava apenas flutuando no ar. Sabemos que eles tinham controle sobre sua velocidade e direção e acreditamos que ele estava conduzindo vigilância em locais militares hipersensíveis dentro dos Estados Unidos”, disse.

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PETISMO QUER O CONTROLE ESTATAL DA ECONOMIA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o futuro ministro do Trabalho, Luiz Marinho, durante anúncio de novos ministros que comporão o governo.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, durante anúncio dos novos ministros.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Entre as inúmeras plataformas que a maioria da população brasileira considera bastante razoáveis, mas que para o petismo e seus partidos e entidades satélites são verdadeiros anátemas, está a da liberdade econômica. Aos olhos dos estatistas que agora governam o país, é inaceitável que os brasileiros decidam por si mesmos o que fazer com o seu dinheiro e como devem regular suas relações de trabalho, ressalvadas as garantias constitucionais e respeitados os princípios da dignidade humana. Daí todos os ataques feitos já durante a campanha eleitoral à reforma trabalhista de 2017 e outras promessas vindas especialmente do ministro do Trabalho, Luiz Marinho.

A pasta trata como prioritária, por exemplo, a regulamentação do trabalho por aplicativos, um dos campos em que a negociação entre trabalhadores e empresas se dá sem as amarras tradicionais impostas pela legislação trabalhista, apesar das constantes batalhas judiciais em torno do reconhecimento de eventual vínculo empregatício – mesmo no Tribunal Superior do Trabalho, turmas diferentes têm tomado decisões opostas a esse respeito. Uma regulamentação razoável, que traga segurança jurídica para a atividade enquanto respeita a liberdade de motoristas, motociclistas e empresas decidirem em que termos se dará a prestação do serviço, até seria uma solução bem-vinda; o problema está na constante tentação da hiper-regulação, que é ainda mais evidente quando o regulador tem o viés estatizante característico da esquerda.

Lula e o PT abominam que as escolhas econômicas sejam feitas não pelo governo, mas pelos indivíduos e pelas empresas; que sejam feitas com critérios técnicos e não políticos

E, como na cabeça da esquerda a solução para absolutamente tudo é mais Estado, o ministro Luiz Marinho antecipou: caso a regulamentação petista seja tão engessadora que inviabilize o modelo de negócio dos aplicativos, ele já tem a solução. “Me falaram: ‘E se o Uber sair?’ Problema do Uber. Não estou preocupado. Cria outro [aplicativo]. Posso chamar os Correios, que é uma empresa de logística, e dizer para criar um aplicativo e substituir”, afirmou o ministro em entrevista ao jornal Valor Econômico. A julgar pelo “problema do Uber. Não estou preocupado”, o destino das centenas de milhares de brasileiros que deixariam de ter uma fonte de renda se os aplicativos de transporte subitamente deixassem de existir aparentemente não preocupa o ministro cuja responsabilidade inclui a implementação de políticas públicas que fomentem a geração de emprego.

Na mesma entrevista, Marinho voltou a tratar do possível fim do saque-aniversário do FGTS, um dinheiro que pertence ao trabalhador, mas que ele é obrigado a deixar que seja usado pelo governo, que o remunera de forma bastante pífia em comparação com outros investimentos. Justiça seja feita, o petista já teve um discurso bem mais agressivo sobre esse tema, e que agora vem moderando. Se o faz por convicção própria ou por força das circunstâncias, não se sabe, até porque Marinho ainda afirma que acha a modalidade “um erro” e não descarta o seu fim definitivo, embora mais recentemente suas críticas sejam mais voltadas aos casos de empréstimos bancários que têm como garantia o saque-aniversário e a regras como a que proíbe temporariamente o saque integral do FGTS em caso de demissão de quem optou pelo saque-aniversário.

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Aplicativos e vínculo empregatício (editorial de 12 de fevereiro de 2020)
J.R. Guzzo: Um Banco Central lotado de militantes obedientes é a nova obsessão de Lula
O asco de Lula com o setor produtivo (editorial de 21 de janeiro de 2023)


Fato é que o saque-aniversário abriu a possibilidade de muitos brasileiros usarem esse dinheiro para finalidades diversas daquelas em que a legislação permite a retirada integral do valor depositado; o saque-aniversário, por exemplo, pode tirar uma família do endividamento. Na opinião do ministro, “essa modalidade [o saque-aniversário] enfraqueceu o fundo”, como se o fundo fosse uma finalidade em si mesma, quando na verdade ele existe, em primeiro lugar, para o trabalhador cujo dinheiro está sendo retido e administrado pelo governo. Não negamos o papel importante que o FGTS tem como meio de ajudar uma família a se manter por algum tempo em caso de desemprego, nem ignoramos a possibilidade real de alguém, por impulso ou por educação financeira deficiente, fazer um mau uso do saque-aniversário e ficar desguarnecido no momento de dificuldade. Mas trata-se de reconhecer que, se alguém, depois de ponderar cautelosamente as opções, julga haver um destino melhor para o seu FGTS que deixá-lo nas mãos do governo, deveria continuar a ter a possibilidade de administrar tais recursos por conta própria.

Por certo, tanto no caso dos aplicativos como no do FGTS, pode haver meios de aperfeiçoamento, corrigindo-se regras mal elaboradas ou coibindo abusos. Mas tudo indica que, para o petismo, a questão não é de melhoria, mas de controle. Lula e o PT abominam que as escolhas econômicas sejam feitas não pelo governo, mas pelos indivíduos e pelas empresas; que sejam feitas com critérios técnicos e não políticos – daí a ânsia por remover as proteções legais à influência política nas estatais e acabar com a autonomia do Banco Central. Por mais que o governo prometa grupos de trabalho e comissões tripartites, não é exagero algum imaginar que os eventuais resultados deixem o Brasil mais distante de um ideal de liberdade econômica que já parecia difícil de atingir antes de o petismo voltar ao poder.


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LULA QUER O BANCO CENTRAL LOTADO DE COMPANHEIROS

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


| Foto: Agência Senado

O governo Lula, desde a eleição, tem mostrado que o seu principal propósito administrativo é a demolição, e não a construção. Em vez de fazer alguma coisa, quer desfazer o que está feito, e principalmente o que está bem feito – não importa o que. Veio do tempo de Bolsonaro? Então tem de ser destruído. Pode ser o programa de alfabetização, ou um departamento do Itamaraty que dava apoio no exterior ao agronegócio, ou qualquer outra coisa; a meta é não deixar de pé nada que tem origem no governo anterior. A grande obsessão do presidente, no momento, é eliminar a independência do Banco Central, em vigor desde 2021; quer ocupar a presidência e os cargos de diretoria com militantes políticos que obedeçam a suas ordens. O resultado concreto disso é que decisões essenciais para a ordem na economia, como taxa de juros, emissão de moeda ou câmbio, voltariam a ficar subordinadas à vontade do presidente da República.

Todas as democracias sérias do mundo, sem nenhuma exceção, têm bancos centrais independentes do Poder Executivo. Será que fazem isso por algum capricho – ou por que acham que a estabilidade da moeda é um elemento essencial para a existência de uma sociedade democrática? Mas no Brasil de hoje tudo é diferente. Lula e o seu Sistema dizem a cada quinze minutos que ele salvou a democracia neste país – só que a sua democracia inclui cada vez menos os fundamentos dos regimes democráticos, e cada vez mais o aparato das ditaduras de Terceiro Mundo, ou dos governos fracassados em geral. Uma das marcas mais evidentes de umas e de outros é, justamente, o controle do Banco Central por quem está ocupando a presidência da República. Nunca deu certo, em lugar nenhum.

Todas as democracias sérias do mundo, sem nenhuma exceção, têm bancos centrais independentes do Poder Executivo

A única autoridade pública nacional que ainda tem alguma credibilidade no Brasil é o Banco Central; é a âncora que está segurando, por enquanto, a inflação, o dólar e outros índices-chave da economia. Isso acontece porque o BC faz o que é necessário, e não o que Lula quer – e, pela lei, aprovada pelo Congresso e confirmada por 8 a 2 pelo STF, num julgamento sobre a sua constitucionalidade, tem o direito e o dever de fazer isso pelos próximos dois anos, quando termina o mandato da atual diretoria. Lula, pelo que diz e repete com voz cada vez mais alta, não quer esperar até lá. Afirma, nos discursos, que o BC não pode ter autonomia porque não “combate a pobreza”, não “faz o país crescer”, não “controla a inflação” e uma porção de outros disparates. No caso da inflação, o que o presidente diz não é apenas uma estupidez. É uma mentira frontal, dessas que o seu governo quer punir como “fake news”, ou “desinformação” – a inflação do Brasil, que fechou 2022 abaixo dos 6% ao ano, é inferior à dos Estados Unidos e à de quase todos os países ricos da Europa.

Lula, na verdade, está pouco ligando para a pobreza, o desenvolvimento ou o equilíbrio econômico do país; o que quer é transformar o BC, o único órgão importante da administração pública no qual ainda não manda, num serviço de atendimento aos interesses políticos do governo. Nada poderia demonstrar isso de maneira mais objetiva do que as declarações de uma das ativistas radicais mais eminentes do seu ministério – a ministra da Ciência e Tecnologia, que acaba de exigir, também ela, o fim da autonomia. Que diabo o Banco Central tem a ver com ciência, ou com tecnologia? O fato é que a ministra, no mundo das realidades, não cuida de nenhuma das duas coisas. O que está fazendo é política extremista e subdesenvolvida – cumpre instruções de um presidente obcecado com a ideia de obter poderes absolutistas sobre a economia do Brasil.

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FUNCIONALISMO PÚBLICO E UBER

 


“Salário-esposa” é exemplo de distorção no serviço público

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

fachada STF


Sede do STF em Brasília.| Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF/Arquivo

Volta e meia se fala de um “cidadão de primeira classe” no Brasil: o servidor público, que tem benesses, prerrogativas, férias diferentes, aposentadoria diferente, horário diferente. Os funcionários públicos reagem dizendo que também ganham pouco, que trabalham demais, que isso é uma injustiça. Mas vejam só: está chegando agora ao Supremo, dois anos depois da denúncia da Procuradoria-Geral da República, o tal “salário esposa”, que existe no estado mais importante do país.

O funcionário estadual paulista cuja mulher não tenha renda, não tenha salário, ganha um “salário esposa”: um adicional para sustentar a mulher que está em casa. É o tipo de coisa que provavelmente veio da Assembleia Legislativa, para “estimular” a dona de casa que está cuidando dos filhos; a justificativa deve ter sido essa. Mas não há isonomia nisso: o procurador-geral da República alegou que não pode haver diferença de salário por causa do estado civil, já que o servidor solteiro não vai ter direito a isso. Além de tudo, é um pagamento que atenta contra a moralidade; é o dinheiro do público, do contribuinte, de todo mundo.

A PGR fez a denúncia há mais de dois anos e a relatoria ficou com o ministro Luís Roberto Barroso; durante esse tempo todo, foram pagando o benefício. O município de São Paulo tinha isso – era até pouco o valor –, mas cancelou em 2020. Outros municípios paulistas, como Amparo, ainda oferecem esse pagamento para os funcionários municipais. É um péssimo exemplo, que esperamos ver derrubado no STF.

Perfis de Carla Zambelli são desbloqueados pelo Supremo
O que o Supremo já derrubou foi o bloqueio das contas nas redes sociais da deputada Carla Zambelli. Mas a denúncia feita pela PGR a respeito do uso da arma permaneceu. Ela tem porte de arma, mas mesmo quem tem porte sabe que não tem de estar exibindo a arma em público em lugares onde há risco para outras pessoas. Esse caso segue no Supremo.

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E o chefe de Estado do Brasil, o presidente da República, continua criticando uma instituição independente, autônoma, que é o Banco Central. Lula foi ao Rio de Janeiro empossar Aloízio Mercadante no BNDES, e de novo desancou contra o Banco Central por causa da taxa Selic de 13,75% – que, aliás, é pouco mais da metade da taxa Selic do primeiro ano do primeiro mandato de Lula, com Henrique Meirelles no Banco Central, quando os juros eram de 26,5%.

O antigo diretor internacional do Banco Central deu uma entrevista ao Estadão dizendo que não há a menor chance de a Selic baixar neste momento, quando ainda há expectativa de inflação. E acrescentou que essa expectativa existe porque o slogan deste governo é “vida é gasto”, “vamos gastar”. Se vamos gastar, vamos nos endividar, e nos endividando teremos de botar papel do mercado, e os juros vão subir, bem como a inflação. Aliás, Alexandre Schwartsman também aproveitou para criticar o ministro da Fazenda, dizendo que seu pacote é de um amadorismo que ruboriza qualquer pessoa que entenda do assunto, ao ter coisas até exóticas, como essa conversa de moeda única com a Argentina.

Falando em questão exótica, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, em entrevista ao Valor Econômico, foi questionado sobre a regulamentação da relação de trabalho do sujeito que trabalha com Uber, por exemplo, e que poderia levar a Uber a sair do país. Marinho disse que pode sair, que ele bota os Correios para fazer o serviço. Então vou chamar os Correios: “carteiro, vem aqui, me leva para tal lugar”, é uma coisa meio primária.

Lula não se cansa do “nós contra eles”

Por fim, um registro que me dá pena, porque, enquanto desejamos pacificação nacional, o presidente faz declarações que estimulam a luta de classes. Como essa, de que o movimento que desbordou no 8 de janeiro é a “revolta dos ricos que perderam a eleição”.


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COMPORTAMENTO FUTEBOLÍSTICO

 


Contra a beleza cristalina dos fatos

Por
Francisco Razzo – Gazeta do Povo


O técnico Abel Ferreira, do Palmeiras, durante partida da Copa Libertadores em agosto de 2022.| Foto: Yuri Edmundo/EFE

Não é fácil vencer o estereótipo do professor de humanas. O lugar-comum sentenciou: doidão, esquerdista e militante. Dou aulas há muito tempo no ensino médio para saber o que a sociedade pensa – como se a sociedade pensasse alguma coisa – do valor do professor de humanas. Digo isso sem vitimismo e ressentimentos.

A despeito de todo desenho exagerado e algumas extravagâncias de colegas de profissão, as ciências humanas não pretendem outra coisa senão ser ciência, rigorosa e clara. Noutras termos: conhecimento verdadeiro justificado metodologicamente. Ou seja: para além de impressões pessoais e tolices poéticas, oferecer compreensão objetiva acerca da vida humana.

De fato, opinar sobre a experiência humana parece ser mais flexível do que sustentar uma tese sobre a estrutura molecular, a física dos buracos negros ou sobre qualquer assunto sério envolvendo cálculos e laboratórios. Quer ver um exemplo de opinião sem fundamento científico? Pois bem, sem clubismo. A jornalista Milly Lacombe, ao analisar o comportamento social dentro de campo do técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, propôs uma tese sociológica para lá de duvidosa. Ela escreveu o seguinte:

“Abel Ferreira é um dos maiores treinadores do mundo, mas precisa se colocar em seu devido lugar. Uma mulher se comportando dessa forma seria massacrada. Um homem negro talvez também. Futebol tem que ter responsabilidade social. Em dias de jogo, violência doméstica cresce no Brasil. Mulheres apanham e morrem mais. Não me incomoda Abel falar palavrão, mas acho estranho ele chutar microfone e se aproximar furiosamente de Edina Alves, colocando a mão em seu ombro.”

Dar opinião sociológica é algo sério e exige rigor científico. Infelizmente, há quem não faça ideia do processo metodológico e corre lançar amargas assertivas sobre coisas que não domina

Obviamente, a jornalista não tem pretensões científicas. No entanto, deveria ser a primeira a respeitar os fatos. Se for só um artigo de opinião, então podemos dizer que se trata, no mínimo, de uma opinião sem pé nem cabeça, ou seja, opinião estúpida.

Não quero pensar qual seria o “devido lugar de Abel Ferreira”. Em termos de conquistas no futebol, os fatos falam por si – reafirmo, nobre leitor, falo isso sem clubismo. O que chama atenção no artigo são as associações alucinantes. Abel tem um temperamento explosivo na beira do campo, geralmente motivado por erros de arbitragem. Quem acompanha futebol deveria saber que mobiliza todas as paixões humanas. Revela nossa grandeza e, ao mesmo tempo, nossa miséria. É um espetáculo catártico tão trágico e empolgante quanto Édipo perfurando os olhos ao descobrir seu destino.

Agora, cá entre nós aqui, em nome da beleza cristalina dos fatos: qual a relação objetiva entre o comportamento intempestivo de Abel Ferreira diante de uma suposta injustiça da arbitragem contra seu time num jogo decisivo e o crescimento da “violência doméstica”? Pergunta sincera: de onde essa pessoa tirou tal informação capaz de sustentar tamanha inferência? Fora as frases de efeito: “uma mulher se comportando dessa forma seria massacrada” e “um homem negro talvez também”.

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No atual imaginário social, sensível e identitário, usar “mulher” e “homem negro” pode até produzir algum efeito. Mas só no imaginário ideológico, porque cientificamente falando não diz absolutamente nada.

Querem ver? É só transcrever a frase nos seguintes termos: Abel Ferreira é um dos maiores treinadores do mundo, mas precisa se colocar em seu devido lugar. No lado oculto da Lua há unicórnios que, se se comportassem dessa forma, seriam massacrados. Um tailandês talvez também. Futebol tem que ter responsabilidade social e blablablá. A diferença, aqui, é que não somos socialmente sensíveis a unicórnios na Lua e a tailandeses.

Dar opinião sociológica é algo sério e exige rigor científico. Infelizmente, há quem não faça ideia do processo metodológico e corre lançar amargas assertivas sobre coisas que não domina. Quando você aponta erros, alega que era só um artigo de opinião. Tudo bem ser só um artigo de opinião, as pessoas ainda vivem num mundo livre para opinar sobre tudo – ou quase tudo, desculpem a ironia. Porém, desrespeitar os fatos diz mais a respeito do caráter de quem escreve que propriamente dos fatos.


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