Rodrigo Pacheco e Ricardo Lewandowski durante entrega do
anteprojeto para uma nova lei do impeachment no Senado.| Foto: Roque de
Sá/Agência Senado
Ao estabelecer os poderes da República, o
segundo artigo da Constituição começa pelo Legislativo. Depois vem o
Executivo e, por fim, o Judiciário. Escritos assim, com inicial
maiúscula, numa ordem que não é a alfabética, mas de importância.
Portanto, já mostrando que quem faz e desfaz leis e até muda a própria
Constituição, é o Parlamento dos representantes do povo. Depois vem o
Poder Executivo, cujo chefe é também eleito, com mais votos que qualquer
parlamentar. Por fim, o Judiciário, composto por juízes que não têm
voto, mas votam em julgamentos em que interpretam as leis e as aplicam.
No dia de Natal, a editora do Wall St. Journal, Mary O’Grady, alertou
para uma inversão dessa ordem constitucional no Brasil. A Suprema Corte
estaria emasculando o Legislativo e beneficiou Lula com seu ativismo
político. O título, na página de opinião, resume tudo: “A Volta de Lula e
a Ameaça Judicial à Democracia no Brasil”.
O devido processo legal deixou de existir quando passou a haver um
interminável inquérito sem o promotor da ação, que é o Ministério
Público e, pior, em que a suposta vítima é que investiga, julga e pune.
Está totalmente dentro dessa visão do Journal, a proposta de mudar a
Lei do Impeachment, entregue neste mês pelo ministro do Supremo Ricardo
Lewandowski ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Pelo anteprojeto,
ministros do Supremo não podem ser condenados por interpretação da
Constituição; pedaladas fiscais não são motivo de impeachment, mas o
presidente criticar o Supremo ou o TSE pode ser crime de
responsabilidade.
O que vê, segundo o maior jornal americano em tiragem, não tem sido
notado por boa parte do noticiário brasileiro em relação às ações
inconstitucionais, contra direitos fundamentais, contra cláusulas
pétreas. E contra mandatos do poder que está em primeiro lugar na
Constituição: invioláveis “por quaisquer palavras”. Triste comparar com
dezembro de 1968, quando um discurso em plenário da Câmara, pelo
deputado Márcio Moreira Alves, provocou o AI-5.
A partir de 1º de janeiro haverá outro chefe de Poder Executivo; um
mês depois, haverá outra legislatura na Câmara e no Senado. A eleição do
primeiro turno resultou em 73% de centro-direita na Câmara e 67% no
Senado. Como lembrou a editorialista do Journal, o ministro Gilmar
Mendes se antecipou a dificuldades futuras do novo governo, garantindo
um fura-teto para programas sociais. No dia seguinte, o Supremo alterou
até hábitos internos do Legislativo, interferindo nas emendas de
relator.
VEJA TAMBÉM: Na dança de cadeiras de Lula, Simone Tebet arrisca acabar sentando no chão Está chegando mais um “saidão” de Natal para alegria dos presidiários Prepare-se que alguém terá de bancar o teto de gastos furado
Quando o deputado Daniel Silveira foi preso houve silêncio geral,
concordando que o mandato não é absolutamente inviolável, como manda a
Constituição. O devido processo legal deixou de existir quando passou a
haver um interminável inquérito sem o promotor da ação, que é o
Ministério Público e, pior, em que a suposta vítima é que investiga,
julga e pune.
Agora já há mais prisões por crime de opinião, de um jornalista e um
humorista – que deveriam estar na primeira instância, se fossem
denunciados pelo Ministério Público – do que por, digamos, crime de
injúria ou calúnia. Espalha-se o medo de ser preso pelo arbítrio ao
abrir a boca e expressar o pensamento, a despeito do inciso IV da
Constituição, se criticar o Supremo.
Se criticar o presidente, ou jogar futebol com um clone de cabeça
presidencial, não haverá problema, pois o comandante supremo das Forças
Armadas se mantém dentro das quatro linhas. Mas se alguém criticar um
ministro do Supremo, não há a quem recorrer, como teria dito Ruy
Barbosa. O Legislativo teria a solução; é o maior poder, mas o medo o
apequena.
É a gente mais fofa do
mundo, mais amorosa, mais compreensiva, solidária e empática. É a gente
mais espirituosa, divertida, mais bem-humorada. Um mais charmoso do que o
outro, um mais inteligente do que o outro. Condutas irrepreensíveis
sempre. São todos dignos, honestos, virtuosos. Detonam os canastrões,
com toda a classe. São de primeira classe, são o suprassumo do
suprassumo. É mesmo uma gente fofa, fofa, fofa.
Essa é a turma que conhece as emoções de verdade, os sentimentos
genuínos, sinceros. São pessoinhas especiais, quase guias espirituais.
Nossas emoções são direcionadas por elas, as sete emoções: alegria,
tristeza, medo, nojo, surpresa, raiva e desprezo. Estamos autorizados a
sentir as mesmas emoções que elas, exatamente as mesmas, na hora em que
elas determinarem, com a intensidade e do jeitinho que elas permitirem.
Essa gente não erra, não comete equívocos, tem certeza de tudo, é
certeira, precisa. Essa gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a
obrigação de acreditar no mundo dos fofinhos
É uma gente linda construindo o mundo ideal, sem problemas. Gente
moderna, revolucionária, apresentando soluções para tudo. O que tem
importância para os fofinhos é o que tem importância. A causa é da
galerinha descolada? É legítima, inquestionável. Não pode haver quem não
pense como eles, não pode haver quem não goste deles.
Discutir com a turma é mais do que inútil, é um desrespeito, uma
petulância. Presunçosos e vaidosos somos nós, rebeldes sem causa. Os
protagonistas são eles. Vamos reconhecer. Eles têm os sorrisos mais
lindos, as lágrimas mais sinceras, as melhores atuações, as melhores
piadas, o mais incrível boa-noite. Tudo neles, até o deboche, é
respeitoso e bem-intencionado.
VEJA TAMBÉM: A nova democracia Do que posso falar? Os campeões de mentiras
Essa é a turma da verdade, a dona dos fatos. Essa gente não erra,
não comete equívocos, tem certeza de tudo, é certeira, precisa. Essa
gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a obrigação de acreditar
no mundo dos fofinhos. Eles são o bem, o caminho único e correto. O que
dizem é tão lindo, tão perfeitinho. Vamos abandonar nossa arrogância,
essa ideia louca de pensar, de sentir e falar livremente.
Eles têm o poder das estrelas, das superestrelas. São únicos,
elevados, especiais, são tudo de bom. Usam figurino, maquiagem, brilham.
São artistas, jornalistas, apresentadores de tevê, seres infalíveis e
mágicos. Eles têm pó de pirlimpimpim… Luz, câmera, ação!
As fantasias deles não são fantasias. O mundo real é o que eles
quiserem. São professores, mestres, doutores. Amam como ninguém, de
múltiplas formas. Amam todo mundo, exceto quem eles decidiram que não
merece ser amado. Amam, sobretudo, o ódio, mas o ódio deles é o mais
engraçadinho e fofinho do mundo.
Você já preparou seus planos, resoluções
ou objetivos de ano novo? Talvez queira ser mais saudável, fazer
exercícios, comer melhor, reunir economias ou fazer trabalho voluntário?
Será que faz sentido estabelecer metas no ano novo? E como tirá-las do
papel?
Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário
ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas
vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos. Falta aquele
empurrãozinho, aquele momento propício para romper com o passado e
construir um futuro diferente.
Pesquisadores apontam que o início de ciclos são marcos temporais que
geram um efeito do novo começo, o “fresh start effect”. É como se
recebêssemos mais uma página do livro da nossa história para começar a
escrever um novo capítulo. Temos uma motivação renovada para iniciar
novos planos e estabelecer objetivos.
O ano novo é o rito de passagem por excelência ao qual atribuímos um
significado compartilhado de sonhar e traçar planos e metas. Isso, mais
do que uma tradição de ano novo, é uma excelente oportunidade para mover
a vida na direção dos nossos propósitos.
Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário
ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas
vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos
Muita gente embarca na tradição de formular objetivos do ano novo –
nos Estados Unidos, perto de metade dos participantes de pesquisas
repetidas ao longo de três anos. As metas mais frequentes se relacionam
com saúde física e mental, perda de peso, mudanças de hábitos
alimentares e crescimento pessoal.
Contudo, um outro estudo mostrou que dentre os 41% dos americanos
que, naquela pesquisa, estabeleceram metas de ano novo, apenas 9% se
sentiram bem-sucedidos em alcançá-las, e a taxa é baixa assim mesmo
quando metade das pessoas se sentem confiantes de que as alcançarão.
No mesmo sentido, uma pesquisa feita pelo YouGov com cerca de 1.200
americanos em 2018 apontou que apenas 12% cumpriram todas ou a maioria
de suas resoluções. Levantamento similar feito em 2019 indicou que 7%
cumpriram todas as resoluções e 19% cumpriram algumas delas.
O cumprimento dos compromissos de ano novo cai bastante rápido.
Segundo um estudo de Norcross e Vangarelli, que acompanhou 200 pessoas,
só 55% mantinham suas resoluções depois de um mês, 43% depois de três
meses e apenas 19% após dois anos.
Dentre as razões do fracasso, estão a escolha de objetivos poucos
realistas ou de muitos objetivos, não registrar metas e o progresso,
abandonar tudo diante das primeiras escorregadas e não considerar as
rotinas e as exigências do dia a dia.
Então, como aproveitar este momento para fazer mudanças com sucesso?
Não há receita única, mas aqui vão as cinco melhores sugestões que
encontrei, tiradas de uma pesquisa ampla sobre resoluções de ano novo
publicada na revista Plos One e do livro Get it Done de Ayelet Fishbach.
Primeiro, estabeleça objetivos orientados a “fazer algo”, como fazer
exercícios três vezes por semana, em vez de “não fazer algo”, como
deixar de ser sedentário. A taxa de sucesso em fazer algo é maior do que
em evitar um comportamento – na pesquisa divulgada pela Plos One, a
diferença foi de cerca de 12%.
Segundo, escolha objetivos fortes ou apaixonantes, que tenham a ver
com seu propósito de vida, e faça eles específicos. Um método que pode
ser usado é o SMART, segundo o qual os objetivos devem ser específicos
(specific), mensuráveis (mensurable), atingíveis (achievable),
relevantes (relevant), e com prazo definido (time-bound).
Terceiro, encontre diversão nas suas metas. Pedale ou corra ouvindo
sua música ou podcast favorito ou programe uma recompensa a você mesmo
sempre que realizar seu objetivo.
Quarto, e muito importante, convide alguém para acompanhar sua
jornada rumo aos objetivos e marque um encontro periódico com essa
pessoa para compartilhar como está indo o processo.
Por fim, cuidado com o maior obstáculo: o meio da jornada. Nele a
motivação é menor do que no começo, quando largamos cheios de energia,
ou perto da linha de chegada, quando temos uma tendência de dar nosso
melhor – é o “goal gradient effect”.
Por isso, não estabeleça apenas um objetivo final, mas objetivos
intermediários, mensais ou semanais, usando em seu favor marcos
temporais ao longo da jornada que deem uma sensação ou motivação de novo
começo. E não tenha vergonha de recaídas, mas seja resiliente e
recomece quantas vezes for preciso.
Eu já escolhi meus objetivos para o ano novo. E você, que tal avançar
para aquela mudança de vida que faz tempo que está programando? Como
disse Fernando Pessoa, “feche a porta, mude o disco, limpe a casa,
sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.” Esta é
a hora.
Eu desejo a você que acompanha minhas colunas um feliz ano novo e,
mais do que isso, um ano novo em que você possa crescer e alcançar seus
objetivos.
Se tem uma dúvida recorrente na cabeça de muitos empreendedores e
líderes de negócios certamente é “como destacar minha marca?”. A
pergunta por trás da pergunta em geral se desdobra em duas: como vender
mais e como fidelizar melhor meu cliente?
Essas são as dores, mas a solução está na marca. Marcas fortes atraem
mais. Marcas fortes engajam e convergem mais. Marcas fortes duram por
mais tempo. Por isso, vivem um ciclo virtuoso. E como tornar sua marca
forte? Como destacá-la da concorrência?
Cuidado da tríade PBR – People, Branding, Revenue. People, em inglês, quer dizer, pessoas, branding, marca, revenue, receita.
Parece óbvio mas não é: a marca é o alicerce sobre o qual a receita
se constrói. Você pode estar se perguntando “mas eu só queria vender
mais”. Explico: pessoas são a matéria prima sobre a qual a marca se
alicerça. São as pessoas que executam as entregas que transformam suas
promessas de marca em tangíveis que são usufruídos pelo mercado
consumidor, gerando receita.
Se você não cuida das pessoas, não dá a elas um norte claro, uma
estratégia clara, seus números vão denunciar dispersão de energia e
perda de oportunidade. E isso tudo impacta negativamente a geração de
novas vendas.
Foque nas pessoas. Alicerce sua marca nelas. Deixe que elas façam seu
trabalho, inspire-as a impactarem a economia, a se envolverem com a
comunidade que se interessa e que precisa da sua solução, e aí, colha
rentabilidade sustentável. Porque pessoas autênticas formam times
fortes, que advogam pela sua marca porque se identificam legitimamente
com a mudança que ela faz, e suportam as intempéries do mercado e as
volatilidades do cotidiano – se, é claro, sua marca for de verdade
verdadeira.
Uma vez que as pessoas estejam bem direcionadas, é hora de olhar para
o mercado e entender: “o que o meu concorrente faz melhor que eu?” –
Uma pergunta que, quando bem elaborada, pode trazer inovação no seu
jeito de oferecer seu produto ou serviço. E novas oportunidades de se
comunicar melhor e vender mais.
Retorne para as pessoas! Seus clientes. Clientes são pessoas que
podem se tornar advogados e embaixadores da sua marca. É possível
co-criar com seus clientes? Não perca a oportunidade. O senso de
comunidade é o novo cartão fidelidade. Abrace essa causa. Pessoas, marca
e receita: três elementos voláteis, orgânicos, mutáveis. E exatamente
por isso, belos, desafiadores, apaixonantes.
É possível fazer algum tipo de sucesso cuidando apenas de um? Sim,
claro. Este sucesso é sustentável a longo prazo? Não, com certeza não.
*Sobre a Ana Meneguini
Fundadora e estrategista em Branding, Geração de Demanda e Receita na
ITM. Possui mais de 20 anos de experiência e com especialização em
Branding, Growth, trade marketing, vendas, comunicação interna e
institucional. O alto nível de especialização nestes temas, deve-se ao
fato de ser visionária dos lugares que pode alcançar como empreendedora e
com um perfil de liderança movido por desafio e voltado a resultados.
Mindset correto é o que vai fazer você alcançar (ou não) o sucesso
Junior Borneli, co-fundador do StartSe
Mulher negra e sorridente segurando um IPad e olhando para frente (Fonte: Getty Images)
Mindset é a sua programação mental, é como você encara tudo que está ao teu redor
Mindset. Você já ouviu essa palavinha algumas vezes aqui no StartSe.
Ela é importante, talvez uma das coisas mais importantes para “chegar
lá” (seja lá onde for que você quiser chegar).
É sua habilidade de pensar o que você precisa para ter sucesso. E
como a maioria das coisas que você possui dentro de você, ela é uma
espécie de programação do seu ser. Tanto que é possível que você adquira
outro mindset durante a vida, convivendo com as pessoas corretas,
conhecendo culturas diferentes.
Algumas pessoas dizem que é isso das pessoas que faz o Vale do
Silício ser a região mais inovadora do mundo. Eu, pessoalmente, não
duvido. Fato é: você precisa de ter a cabeça no lugar certo, pois a
diferença entre um mindset vencedor e um perdedor é o principal fator
entre fracasso e sucesso.
Para isso, é importante você começar do ponto inicial: um objetivo.
“Todo empreendedor precisa ter um objetivo. Acordar todos os dias e
manter-se firme no propósito de fazer o máximo possível para chegar lá é
fundamental”, diz Junior Borneli, co-fundador do StartSe e uma das
pessoas mais entendidas de mindset no ecossistema brasileiro.
De lá, é importante você fazer o máximo que puder e não perder o
foco, mantendo-se firme. “Não importa se no final do dia deu tudo certo
ou errado. O importante é ter a certeza de que você fez tudo o que foi
possível para o melhor resultado”, avisa.
Com a atitude certa, é capaz que você sempre consiga canalizar as
coisas como positivas. “Você sempre tem duas formas de olhar um a mesma
situação: aquela em que você se coloca como um derrotado e a outra onde
você vê os desafios como oportunidades. Escolha sempre o melhor lado das
coisas, isso fará com que sua jornada seja mais leve”, alerta o
empreendedor.
Esses tipo de sentimento abre espaço para uma característica
importantíssima dos principais empreendedores: saber lidar com grandes
adversidades. “Um ponto em comum na maioria os empreendedores de sucesso
é a superação”, destaca Junior Borneli.
Saber lidar com essas adversidades vai impedir que você pare no
primeiro problema (ou falência) que aparecer na sua frente. “São muito
comuns as histórias de grandes empresários que faliram várias vezes,
receberam diversos ‘nãos’ e só venceram porque foram persistentes”,
afirma.
É importante ter esse mindset resiliente, pois, nem sempre tudo será
fácil para você – na verdade, quase nunca será. “Empreender é, na maior
parte do tempo, algo muito doloroso. Até conseguir algum resultado
expressivo o empreendedor passa por muitos perrengues. A imensa maioria
fica pelo caminho”, diz.
É como uma luta de boxe, onde muitas vezes, para ganhar, você terá
que apanhar e apanhar e apanhar até conseguir desferir o golpe (ou a
sequência) certo. “Na minha opinião, não há melhor frase que defina a
trajetória de um empreendedor de sucesso do que aquela dita por Rocky
Balboa, no cinema: ‘não importa o quanto você bate, mas sim o quanto
aguenta apanhar e continuar. É assim que se ganha’”, ilustra.
O problema talvez seja que alguns aspectos do empreendedorismo tenham
glamour demais. “Empreender não é simplesmente ter uma mesa com
super-heróis e uma parede cheia de post-its coloridos. Você vive numa
espécie de montanha russa de emoções, onde de manhã você é ‘o cara’ e à
tarde não tem dinheiro pro café”, salienta.
Vale a pena, porém, perseverar neste caminho. “Para aqueles que são
persistentes e têm foco, a jornada será difícil, mas o retorno fará
valer a pena!,” destaca o empreendedor.
DERROTA TAMBÉM ENSINA
Um ponto importante do sucesso é saber lidar com o fracasso e, de lá,
tomar algumas lições para sair mais forte ainda. “Toda derrota nos
ensina algumas lições e assim nos tornamos mais fortes a cada nova
tentativa. A cultura do fracasso, aqui no Brasil, é muito diferente dos
Estados Unidos”, afirma Junior.
No Vale do Silício, falhar é encarado algo bom, na verdade – e
aumenta suas chances de sucesso futuro. “Por lá, empreendedor que já
falhou tem mais chances de receber investimentos porque mostrou
capacidade de reação e aprendeu com os erros”, conta o empreendedor.
Mas ao pensar sobre fracasso, você precisa ter o filtro correto para
não deixar a ideia escapar. “Encarar os erros como ensinamentos e
entender que falhar é parte do jogo torna as coisas mais fáceis e
suportáveis”, salienta.
Foco é a palavra de ordem para você conseguir alcançar os objetivos
traçados no caminho, mesmo que em alguns momentos pareça que está tudo
dando errado. “Por fim, buscar o equilíbrio mental e o foco são
fundamentais. Nas vitórias, tendemos a nos render à vaidade e ao
orgulho. E nas derrotas nos entregamos ao desânimo e a depressão.
Mentalize seus objetivos, foque nos caminhos que vão leva-lo até eles e
siga firme em frente”, afirma.
É importante que você tenha noção de que para ser uma exceção, você
não pode pensar da maneira comodista que a maior parte das pessoas. “Se
você quer chegar onde poucos chegaram, precisará fazer o que poucos têm
coragem e disposição para fazer”, completa.
O “não” do cliente a uma proposta. Por quê?
Moysés Peruhype Carlech
Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”, sem
nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de
resto todas as lojas dessa cidade no Site da nossa Plataforma Comercial
da Startup Valeon.
Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer
pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as
minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais
uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?
Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a sua
localização aí no seu domicílio? Quais os produtos que você
comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online
com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu
WhatsApp?
Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para ficarem
passeando pelos Bairros e Centros da Cidade, vendo loja por loja e
depois fazendo a decisão de compra, como antigamente.
A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao mundo dos
negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para sobreviver a
um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em Marketplace
como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para enfrentar a
crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de isolamento
social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos hábitos para
poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar pelos corredores
dos shoppings centers, bairros e centros da cidade, durante a crise
maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar por lojas virtuais
como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que tinham receio de
comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa barreira. Se os
consumidores estão na internet, é onde seu negócio também precisa estar
para sobreviver à crise e continuar prosperando.
É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda do Site
da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim um
investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu processo
de vendas fica muito mais profissional, automatizado e eficiente. Além
disso, é possível a captação de potenciais compradores e aumentar o
engajamento dos seus clientes.
Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu certo,
porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer”. – Se
você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um grande
obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe você
até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o
próximo nível de transformação.
O que funcionava antes não necessariamente funcionará no futuro,
porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas como os
negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos
consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas
tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo
aquilo que é ineficiente.
Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de pensar e
nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos justamente por
entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer e aprender com
o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde queremos estar.
Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a absorver
novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que você já
sabe.
Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo por
meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na internet.
Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a sua
carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar você
para o próximo nível.
Aproveite essa oportunidade para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.
Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.
Pelé, além dos gols e dos inúmeros títulos ganhos, ajudou a
recuperar a autoestima do futebol brasileiro.| Foto: Jonathan
Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
“Rei do Futebol”, “Atleta do Século”. Bastam esses dois epítetos
para nos darmos conta das dimensões da perda que o Brasil e o mundo
esportivo choram nesta quinta-feira, com a morte de Pelé, aos 82 anos. O
menino que, em 1950, consolava um pai em prantos após o Maracanazo,
prometendo dar-lhe um dia a alegria de ver o Brasil campeão do mundo,
fez muito mais que isso: tornou-se uma lenda do esporte, uma referência a
ponto de dar um novo significado ao número 10 que vestiu no Santos e na
seleção brasileira. E, com isso, mostrou a todos até onde o Brasil
poderia chegar e deu-nos uma lição que transcende o esporte.
Se a camisa canarinho tornou-se um símbolo de nossa nação, facilmente
reconhecida aonde quer que se vá mundo afora, Pelé tem uma parte
fundamental nisso. A conquista de 1958 foi essencial para a recuperação
da autoestima do brasileiro, fragilizada pelo fracasso de 1950 a ponto
de Nelson Rodrigues ter cunhado a expressão “complexo de vira-latas” na
última crônica que escreveu antes da estreia brasileira na Suécia. A
vitória naquela Copa do Mundo mostrou a nós mesmos e ao mundo todo que
sim, éramos capazes de coisas grandiosas, éramos capazes de excelência –
algo que Pelé perseguiu e atingiu em grau máximo dentro dos gramados,
como bem demonstram vídeos que viralizam nas redes sociais, mostrando
que ele já realizava todo tipo de jogada magistral que hoje admiramos
quando feitas por outros grandes nomes do esporte. Por mais que o país
caminhe para um jejum de 24 anos sem o campeonato mundial, continuamos a
ser reconhecidos como celeiro de craques, onde as principais ligas do
mundo vêm buscar talentos abundantes, como bem demonstra o número de
brasileiros nos maiores times da Europa. O Brasil jamais deixou de ser
“o país do futebol” e não deixará de sê-lo por um bom tempo.
Arte, esporte e ciência muitas vezes dependem de talentos ou
características específicas. Treino e estudo intensos suprem muitas
lacunas, mas a genialidade é reservada para poucos. Já a excelência na
virtude, esta pode ser atingida por todos
A excelência tem uma série de dimensões, embora todas elas tenham em
comum a admiração que despertam. Ela pode ser individual, mas também
pode se tornar um fenômeno coletivo quando uma sociedade lhe dá valor e
incentiva seus talentos. Foi o que ocorreu com o futebol brasileiro, e
que poderíamos muito bem levar a outros campos, não só os esportivos: um
ambiente propício para a arte ou para a ciência, por exemplo, permite
que uma sociedade ou um país como um todo se beneficiem – tanto de forma
material quanto imaterial – com as realizações de cada vez mais pessoas
talentosas que são “empurradas” a buscar o seu melhor por um clima que
favorece sua atividade e reconhece seu esforço. O Brasil não precisa,
nem deve ser apenas o “país do futebol”: pode se tornar referência em
muitas outras realizações humanas, mas para isso precisará valorizar sua
importância. Quantos grandes cientistas brasileiros, por exemplo, não
acabam deixando o país todos os anos em busca de outras nações onde
tenham mais condições de desenvolver sua atividade?
Mas existe ainda um outro aspecto da excelência que deveria falar
ainda mais alto em cada um de nós. Arte, esporte e ciência muitas vezes
dependem de talentos ou características específicas. Treino e estudo
intensos suprem muitas lacunas, mas a genialidade é reservada para
poucos. Já a excelência na virtude, esta pode ser atingida por todos – e
quem se empenha em ser excelente em um campo específico pode ou não dar
atenção a isso: gênios da arte, da ciência e do esporte podem tanto ser
boas pessoas quanto ter falhas graves de caráter, e não raro só depois
da morte de tais gênios o público toma conhecimento do que eles faziam
de bom ou mau – não devem ser poucos, por exemplo, os brasileiros que
jamais souberam do trabalho humanitário de Pelé ou de seu apoio à
educação e à saúde por meio da fundação que leva seu nome.
VEJA TAMBÉM: Convicções da Gazeta: Ética e a vocação para a excelência Em busca da excelência (editorial de 26 de julho de 2012) A excelência que devemos buscar (editorial de 9 de agosto de 2015)
Fato é que a excelência moral é algo muito mais amplo: não se
trata de ser o melhor atleta, o melhor cientista, o melhor artista, mas
sim a melhor pessoa que se puder ser. E não nos deixemos enganar pela
carga “religiosa” que às vezes se atribui ao conceito de virtude: a
busca por essa perfeição não é exclusividade de nenhuma fé, pelo
contrário: é algo que a filosofia antiga já exaltava. Trata-se de ser o
mais generoso, o mais sincero, o mais honesto, o mais trabalhador, o
mais dedicado à família, o mais fiel que se puder ser. Isso não exige
nenhuma habilidade específica, apenas força de vontade. Para quem for
capaz de exercer essas virtudes em alto grau, a recompensa será ainda
maior que o aplauso dos fãs de um atleta ou artista: será a felicidade,
como a definiam os antigos gregos. E ainda mais venturosa que uma
sociedade que valoriza a arte ou a ciência será uma sociedade que
valorize o exercício de qualidades como a honestidade, a generosidade e a
laboriosidade.
Aquilo que Pelé fez em campo precisa servir de lição para todos nós,
individualmente e em sociedade. A maioria de nós jamais terá uma fração
do talento que ele teve com a bola nos pés, mas precisa ter o mesmo
afinco que ele teve quando se tratar de desenvolver nossos talentos para
outras atividades e, especialmente, para o exercício das virtudes que
estão ao alcance de todos. E que o Brasil possa um dia ser reconhecido
mundialmente não só pela excelência do seu futebol, mas por muitas
outras excelências, especialmente aquelas que nos farão um país melhor,
de gente admirada por suas qualidades humanas.
O que acontecerá com os inquéritos abertos contra Bolsonaro no STF após o fim do mandato
Por Renan Ramalho – Gazeta do Povo Brasília
O presidente Bolsonaro entre Alexandre de Moraes, Ricardo
Lewandowski (ministros do STF) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado):
fim do foro privilegiado| Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE
Com o
encerramento de seu mandato, no próximo sábado, dia 31, o presidente
Jair Bolsonaro (PL) perderá o foro privilegiado no Supremo Tribunal
Federal (STF). Em tese, desceriam para a primeira instância da Justiça
os quatro inquéritos que ainda tramitam contra ele na Corte, conduzidos
pelo ministro Alexandre de Moraes. Mas, entre observadores e assessores
dos ministros, cogita-se a possibilidade de que, seguindo a lógica
singular aplicada pelo ministro nessas investigações, Moraes mantenha os
casos sob estrito controle em seu gabinete.
Um indicativo disso foi a declaração de Moraes, no dia da diplomação
do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Tribunal
Superior Eleitoral, de que quem questionou o resultado da disputa
presidencial, já foi identificado e será responsabilizado.
“Essa diplomação atesta a vitória plena e incontestável da democracia
e do estado de direito contra os ataques antidemocráticos, contra a
desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos
organizados que, já identificados, garanto serão integralmente
responsabilizados. Para que isso não retorne nas próximas eleições”,
afirmou o ministro no último dia 12.
Não é apenas no STF que Bolsonaro pode continuar enfrentando
problemas. No âmbito do próprio TSE, que continuará comandado por Moraes
até 2024, o presidente é alvo de um inquérito administrativo, por
lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas numa transmissão ao vivo em
julho de 2021; e ainda de outras 16 ações de investigação judicial
eleitoral (Aijes) apresentadas por opositores em razão de atos durante e
antes da campanha eleitoral.
A maioria delas questiona o suposto uso da máquina do governo para
promover a candidatura de Bolsonaro. Nesse grupo estão, por exemplo,
ações sobre as comemorações do Bicentenário da Independência; sobre as
viagens a Londres e Nova York para eventos oficiais; o uso dos Palácios
do Planalto e da Alvorada para encontros com aliados e entrevistas; e a
formação de uma suposta “rede de desinformação” para espalhar mentiras
contra Lula.
Todas essas ações no TSE estão sob relatoria do ministro Benedito
Gonçalves, que ocupa o cargo de corregedor nacional da Justiça
Eleitoral. Diferentemente das investigações criminais do STF, essas
ações não levam à prisão, mas podem tornar Bolsonaro inelegível e
interromper qualquer tentativa de voltar à Presidência. Embora não seja o
relator, Moraes tem a responsabilidade de pautar as ações quando elas
estiverem prontas para serem julgadas no plenário da Corte.
VEJA TAMBÉM: STF deixa casos que causariam tensão com Bolsonaro para depois que ele sair do governo Lula terá oposição dupla: no Congresso e nas ruas. Saiba qual é a força delas Já
no âmbito do STF, os inquéritos de que o presidente é alvo foram
abertos por iniciativa do próprio ministro ou são mantidos por ele à
revelia do Ministério Público. Dois deles – o inquérito das fake news e o
das milícias digitais – têm como alvos pessoas que também não têm foro
privilegiado; nesses casos, só tramitam no STF porque os próprios
ministros seriam as “vítimas”, em razão de supostas ameaças e ofensas
recebidas nas redes sociais.
PF concluiu que Bolsonaro cometeu crime na pandemia Em outro
inquérito, aberto a pedido da CPI da Covid, Bolsonaro é investigado por
associar o vírus da aids à vacina contra a Covid-19, uma “fake news” na
visão de Moraes, o que justificaria sua condução do caso. Na última
quarta-feira (28), a Polícia Federal encaminhou ao ministro do STF o
relatório final da investigação, que concluiu que Bolsonaro cometeu
crime durante a pandemia ao disseminar informações falsas a respeito da
doença.
Por fim, Moraes herdou de Celso de Mello o inquérito sobre a suposta
interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, em razão da troca na
direção da corporação em 2019. Nesse caso, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) pediu o arquivamento, mas Moraes mantém o inquérito
ativo. Em todos esses casos, o ministro mantém interlocução direta com
delegados de sua confiança da PF que sempre buscam, por ordem do
ministro, abrir novas linhas de apuração, sobre suspeitas que
inicialmente não faziam parte do objeto original da investigação.
No inquérito das fake news, Bolsonaro passou a ser investigado em
razão da mesma live de julho de 2021 que questionou as urnas eletrônicas
– a investigação tinha por objetivo inicial, quando de sua abertura em
2019, desvendar “ataques” à “honorabilidade” dos ministros.
Para Moraes, Bolsonaro teria se posicionado de forma “criminosa e
atentatória às instituições”, imputando aos ministros do STF a intenção
de fraudar a eleição deste ano para favorecer Lula, além de dizer que o
voto eletrônico é fraudado e não é auditável. A ligação com o inquérito
das fake news estaria no fato de que essas “afirmações falsas” fariam
parte de uma “narrativa” que deslegitima as instituições, incluindo o
STF, para destituir as pessoas que as representam e substituí-las por
outras alinhadas a Bolsonaro.
Posteriormente, porém, Moraes passou a investigar Bolsonaro pelos
mesmos fatos no inquérito das milícias digitais, aberto também em 2021
com o objetivo de apurar o financiamento da disseminação, nas redes
sociais, de “ataques” às instituições, ao estado de direito e à
democracia – escopo semelhante ao que se tornou o inquérito das fake
news.
Também sob a relatoria de Moraes tramita outro inquérito para
investigar Bolsonaro em razão da divulgação, em agosto de 2021, de uma
investigação da PF sobre um ataque hacker ao TSE em 2018. A PGR já pediu
o arquivamento do caso por considerar que a investigação não era
sigilosa, mas Moraes estendeu a duração do inquérito para vasculhar as
trocas de mensagens do presidente com seu ajudante de ordens, o militar
Mauro Cid.
Embora não constituam inquéritos, existem ainda no STF outras
“apurações preliminares” contra Bolsonaro abertas a partir das
investigações da CPI da Covid. No total, foram abertos dez procedimentos
do tipo, e a PGR já pediu o arquivamento de nove. Um dos casos, sob a
condução de Luís Roberto Barroso, foi prorrogado por 60 dias no início
de dezembro. Caberá ao ministro decidir se ele descerá para a primeira
instância ao fim desse prazo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).| Foto: Carolina Antunes/PR
Prestes
a se encerrar, o governo de Jair Bolsonaro (PL) trouxe avanços na
economia, como a melhoria do ambiente de negócios, uma série de
concessões de ativos de infraestrutura, uma agenda de privatizações,
além da aprovação da reforma da Previdência, da autonomia formal do
Banco Central e de importantes marcos regulatórios, como do saneamento e
das ferrovias.
Por outro lado, os conflitos com o Judiciário, o Congresso,
governadores e prefeitos, ministros e até mesmo dentro do próprio
Planalto limitaram o legado positivo do atual mandatário. E a gestão
fiscal ao longo dos últimos quatro anos divide opiniões de analistas. Há
quem veja melhoras nessa área, evidenciadas pelos números das contas
públicas. De outro lado, há quem relembre a série de burlas na principal
âncora fiscal do país.
Tendo Paulo Guedes como “Posto Ipiranga” desde a campanha de 2018 e
como superministro da Economia a partir do início do mandato, Bolsonaro
foi eleito com um plano de governo que se vendia “conservador nos
costumes e liberal na economia”. A expectativa do setor produtivo e do
mercado financeiro era de uma continuidade da pauta econômica de seu
antecessor, Michel Temer (MDB).
VEJA TAMBÉM: O que a gestão Bolsonaro fez para facilitar a vida do empreendedor, e onde é preciso avançar Em quatro anos, Bolsonaro contratou R$ 116 bilhões em investimento privado em transportes Enxurrada de reajustes para políticos, ministros e servidores custará R$ 2,5 bilhões em 2023 O
governo deu indícios de que seguiria nesse sentido, principalmente nos
dois primeiros anos. Mas já na tramitação da reforma da Previdência,
única grande reforma estrutural que conseguiu aprovar, Bolsonaro cedeu
pontos importantes para o Congresso, como o regime de capitalização, que
acabou descartado na versão final da emenda constitucional. Na mesma
reforma, o capitão reformado articulou para beneficiar as Forças
Armadas, que, em troca de regras previdenciárias um pouco mais rígidas,
ganharam uma “contrarreforma” que ampliou outros benefícios.
“Uma parte do mérito da reforma da Previdência, que é um ganho dos
últimos quatro anos, me parece mais associado às lideranças legislativas
do que ao núcleo político e ao diagnóstico da equipe econômica”, diz
Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria.
Gestão fiscal do governo Bolsonaro divide opiniões A gestão fiscal do governo Bolsonaro está longe de ser uma unanimidade entre os observadores da área.
Quem vê legado positivo recorre aos números. Após a explosão de
gastos durante a pandemia, a dívida bruta do governo passou a cair
praticamente sem trégua, e caminha para fechar o ano no menor nível
desde 2017, segundo projeção da equipe econômica. Em paralelo, a União
deve fechar o ano no azul pela primeira vez desde 2013, com um superávit
primário estimado em pouco mais de R$ 34 bilhões pelo Ministério da
Economia.
Parte desses resultados, porém, tem a ver com fatores não
recorrentes. Um dos motivos para a queda da dívida foi a devolução
antecipada, pelo BNDES, de recursos que haviam sido repassados pelo
Tesouro. E o resultado primário positivo de 2022, além de conquistado
com três anos de atraso (Guedes o prometia para 2019), contou com a
ajuda de receitas extraordinárias – tanto que o próprio Ministério da
Economia preparou para 2023 um Orçamento prevendo a retomada do déficit
primário, estimado em quase R$ 66 bilhões.
Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre/FGV) e sócio da Julius Baer Family Office (JBFO), argumenta que o
resultado primário estrutural – que exclui fatores cíclicos – melhorou
muito nos últimos anos, chegando próximo de zero em 2021 e,
possivelmente, 2022.
“Para termos uma ideia da melhora que tem ocorrido na área fiscal,
basta lembrar que a União apresentou em 2014 um déficit primário
estrutural de 2,4% do PIB, e, em 2018, déficit de 1,6% do PIB. Aos
trancos e barrancos, com muitas idas e vindas, desde 2015 temos arrumado
a política fiscal. Muito há ainda por fazer”, escreveu Pessôa em artigo
recente.
Ele também considera que o Orçamento de 2023 preparado pela atual
gestão – muito criticado por especialistas e pelo governo eleito por não
prever recursos suficientes para o Auxílio Brasil e outros benefícios
sociais – era exequível com pequenas adições.
Em contraste com a melhora dos números, existe a avaliação de que a
gestão de Paulo Guedes foi dribladora contumaz do teto de gastos.
Em quatro anos, o governo abriu cinco exceções ao teto, que
permitiram despesas de quase R$ 840 bilhões acima do limite
constitucional. Mesmo excluindo os gastos com a pandemia, ainda assim
foram R$ 300 bilhões acima do teto. Parte desse valor foi gasto neste
segundo semestre de 2022, quando o governo contou com a ajuda do
Congresso para mudar a Constituição, criando alguns benefícios sociais e
turbinando outros em plena época eleitoral.
“Foi o governo que será lembrado como o que desmontou a regra do teto
de uma forma irreversível. E isso aconteceu todos os anos, não foi só
uma consequência da pandemia”, diz o economista Sérgio Vale, da MB
Associados. “O legado infelizmente não é positivo. Entrega uma herança
bastante complicada para o próximo governo, que já teria suas
dificuldades inerentes ao tipo de governo do PT”, diz.
Ambiente de negócios melhorou com agenda microeconômica do governo Bolsonaro Para
Cortez, os acertos do governo Bolsonaro estão ligados principalmente a
uma agenda microeconômica, com a modernização de instituições que
ajudaram a melhorar o ambiente de negócios no país.
Ainda em 2019, foi aprovada a Lei de Liberdade Econômica, que reduziu
a burocracia nas atividades empresariais. O marco legal do saneamento
atraiu mais investimentos da iniciativa privada em infraestrutura,
enquanto a lei da independência formal do Banco Central ajudou a atrair
investimentos estrangeiros ao gerar mais segurança ao investidor. “A
ideia de que flutuações políticas e eventuais decisões populistas não
afetam a condução da política monetária é sempre um ponto favorável”,
diz Cortez.
O programa de concessões de ativos de infraestrutura de transporte
também é visto como um avanço. Com o governador eleito de São Paulo
Tarcísio Gomes de Freitas à frente da pasta de Infraestrutura, o governo
garantiu nos últimos quatro anos R$ 116,4 bilhões em investimentos
privados para o setor.
Além disso, com o novo marco legal das ferrovias, que criou o modelo
de autorização para construção de novos trilhos pela iniciativa privada,
32 projetos já foram viabilizados, com potencial de R$ 149,6 bilhões em
investimentos nas próximas décadas.
“A gente viu avanços em portos, aeroportos e rodovias, começamos a
ter um processo maior de concessões”, diz Sergio Vale, da MB Associados.
“Agora, tinha que ter. Em um governo que se vendeu liberal de início,
pelo menos as concessões tinham que andar”, avalia.
Agenda de privatizações avançou, mas ficou muito abaixo do prometido A
agenda de privatizações, que teve como ponto alto a capitalização da
Eletrobras, deixou a desejar, em especial se comparada à promessa de
Paulo Guedes de levantar R$ 1 trilhão com essas operações (e mais R$ 1
trilhão com a venda de imóveis do governo).
Ficaram no papel desestatizações de grandes empresas, como Correios e
Petrobras, enquanto a maior parte das vendas foi de subsidiárias, como a
BR Distribuidora e a TAG, ambas da Petrobras.
“A privatização da Eletrobras foi bastante ruim, porque foi mal
feita, houve uma tentativa de acelerar o processo e, dado que o governo
estava muito fraco no Congresso, acabou aprovada uma medida que, no fim,
vai implicar em custos mais altos para a população”, explica o
economista-chefe da MB Associados.
“A empresa vai arcar com custos de distribuição de energia que vão
acabar aumentando as despesas, que vão acabar sendo repassadas para o
consumidor final. Não tem muito jeito. Eu diria que nas concessões houve
um grande avanço, mas nas privatizações foi bastante aquém do que se
desejaria”, diz Vale.
Relação com Congresso dificultou implantação de agenda econômica
Uma das grandes dificuldades de Bolsonaro para levar adiante suas
propostas na área econômica teve a ver com a relação que estabeleceu com
o Congresso Nacional. “A tentativa de implementação de uma agenda de
política econômica sem o tratamento adequado do ponto de vista político,
seja na relação com a base aliada, seja na relação com a sociedade e
com os grupos de interesse, deixou muito a desejar no governo
Bolsonaro”, diz Cortez.
Bastante enfraquecido na relação com o Congresso, Bolsonaro assistiu a
parlamentares avançarem sobre o Orçamento, especialmente a partir da
criação das emendas de relator, o que passou a dificultar ainda mais a
execução de políticas públicas. “Isso é reforçado quando o presidente
constrói uma base aliada para sobreviver ao mandato, e não tanto para
organizar uma agenda positiva”, afirma o sócio da Tendências.
Os conflitos do presidente não se restringiram à relação com outros
Poderes. “Foram várias as oportunidades em que o presidente publicamente
foi no sentido contrário ao diagnóstico e às agendas levantadas pela
própria equipe econômica, gerando uma superexposição do ministro Paulo
Guedes”, lembra Cortez.
Para ele, a agenda tributária foi a que mais sofreu com essas
inconsistências dentro do governo, uma vez que enfrentava resistências
do próprio presidente. A reforma tributária acabou então sendo dominada
pela Câmara e pelo Senado por meio das propostas de emenda à
Constituição (PECs) 45 e 110, que, por sua vez, não foram encampadas
pela equipe econômica.
O governo optou por uma “reforma fatiada”. Primeiro, mandou um
projeto para fundir PIS e Cofins em uma Contribuição sobre Bens e
Serviços (CBS), mas pouco fez para que ela avançasse no Congresso.
Depois, mandou ao Legislativo um projeto de lei de mudanças no Imposto
de Renda, com tributação de lucros e dividendos, que a própria equipe
econômica acabou abandonando. O texto foi aprovado na Câmara, mais por
esforço do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e ficou parado no
Senado desde então.
Outro exemplo de reforma estrutural que não avançou, e nesse caso por
desinteresse do próprio governo, é a mudança nas regras do serviço
público. A reforma administrativa foi enviada à Câmara dos Deputados em
setembro de 2020 e chegou a ser aprovada um ano depois pela comissão
especial da Casa, mas não se moveu desde então. Arthur Lira disse que
faltou esforço do governo, e Paulo Guedes afirmou que o “entorno do
presidente bloqueou” o andamento da reforma.
O que o governo fez nesse campo foi o que Guedes chamou de “reforma
administrativa invisível”, com iniciativas que não dependiam do aval do
Legislativo para conter os gastos com pessoal. Entre elas, a redução na
taxa de reposição de servidores aposentados, o avanço da digitalização
de serviços públicos e o congelamento de salários da maioria do
funcionalismo durante toda a gestão. O resultado foi que a despesa com
pessoal, em comparação ao PIB, caiu ao menor nível em pelo menos 25
anos.
Os acertos e erros de Bolsonaro na economia em reação à pandemia
Alguns indicadores econômicos negativos, como a recessão em 2020 e os
índices recordes de inflação em 2021 e 2022 – em alguns meses os
maiores desde a criação do real –, estão diretamente associados ao
impacto da pandemia de Covid-19. “Mas o grande problema da pandemia foi o
modo como o governo, especialmente o presidente, reagiu”, diz Vale. “De
uma forma extremamente negativa, inadequada. Demorou a dar as respostas
e com incompetência em relação à política econômica”, avalia.
Segundo ele, a discussão com o Congresso em relação ao Auxílio
Emergencial foi uma amostra da dificuldade do governo em lidar com os
efeitos econômicos da crise sanitária. A proposta original da equipe
econômica era de um benefício de R$ 200 mensais, valor que foi
modificado para R$ 500 na Câmara dos Deputados. No fim, para ter a
última palavra, Bolsonaro disse que aceitava pagar R$ 600.
“Foi um governo que, do ponto de vista da pandemia, não foi o mais
eficaz no começo, porque não soube administrar os conflitos que existiam
com o Congresso e fazer a análise correta do que seriam os recursos
necessários naquele momento. E teve o efeito no final de, também por
causa de conflito político com governadores e com o Congresso, atrasar
as medidas em relação às vacinas, o que acabou atrasando o processo da
própria recuperação da economia do país”, diz o economista.
Para Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, o destaque positivo do
governo durante a pandemia foram os programas de proteção ao emprego,
com flexibilização da jornada de trabalho com subsídio do governo, e
políticas de crédito, como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas
e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
“Do ponto de vista das transferências de renda, essas respostas
vieram com a contribuição dos legisladores. Um volume maior do benefício
médio do Auxílio Emergencial veio, na verdade, como uma pressão
política dos legisladores, mas, independentemente dessa origem, do ponto
de vista do Estado brasileiro, foram políticas exitosas. Trouxeram uma
resposta bastante generosa de proteção social nesse momento da
pandemia”, considera.
Números positivos de Bolsonaro na economia também têm a ver com fatores externos, dizem analistas Durante
a campanha eleitoral de 2022, Bolsonaro destacou números positivos,
afirmando que o Brasil se saiu melhor do que a maior parte dos outros
países no campo econômico. Após crescer 1,1%, 1,2% e 0,4% nos três
primeiros trimestres deste ano, o país deve ver seu Produto Interno
Bruto (PIB) subir acima de 3% este ano, segundo projeção de economistas
captada pelo Boletim Focus, do BC.
Após as estatais apresentarem lucro líquido de R$ 187,7 bilhões em
2021, mais que o triplo do ano anterior e maior resultado desde 2008, o
Ministério da Economia trabalha com a possibilidade de encerrar 2022 com
superávit primário, o primeiro em oito anos. Contam para o resultado os
montantes históricos de dividendos pagos pelas estatais e a venda do
controle acionário da Eletrobras, que rendeu ao Tesouro R$ 26,6 bilhões.
Mas parte desses números é resultado de fatores externos ao governo,
como a retomada da economia pós-pandemia e a valorização das
commodities, que beneficiaram países produtores como o Brasil. “Tem o
efeito da saída da pandemia, tem um efeito do gasto fiscal que foi dado
no período e tem o efeito ainda mais forte das commodities”, diz Vale.
“Lógico que a gente tem que comemorar números positivos agora, mas a
questão da responsabilidade fica um pouco dúbia: foi o governo de fato,
ou foram elementos externos ao governo que ajudaram isso a acontecer?
Acho tem mais elementos externos”, diz o economista.
Apesar do crescimento econômico mais robusto em 2021 (quando o PIB
nacional avançou 5%) e 2022, o país manteve nos últimos quatro anos a
rotina – quem vem desde a década de 1980 – de crescer abaixo da média
mundial.
Para Vale, o saldo final do governo Bolsonaro na área econômica é
negativo. “Um governo que, mesmo que tivesse sido responsável pelo
crescimento de 5% no ano passado e de 3% este ano, ainda perdeu a
reeleição, é um sinal de que, de fato, agiu de forma equivocada em
várias frentes”, diz.
Samuel Pessôa, do Ibre/FGV e da JBFO, faz avaliação mais favorável.
“O legado de crescimento do quadriênio de Bolsonaro parece melhor do que
imaginávamos há pouco tempo”, escreveu em artigo.
“A taxa de desemprego fechou outubro em 8,3%, o menor valor desde
maio de 2015. Os salários crescem acima da inflação desde julho e
encontravam-se, em outubro de 2022, 5% acima do valor do mesmo mês de
2021. A massa salarial real em outubro de 2022 foi 11,6% superior à do
mesmo mês de 2021”, enumerou o economista. “A inflação está em queda e,
mesmo com a reversão das desonerações em 2023, se houver, nada impede
que o Banco Central atinja a meta em 2024, antes, provavelmente, das
demais economias emergentes.”
Barracas e tendas de manifestantes no QG do Exército em Brasília.| Foto: Leonardo Desideri/Gazeta do Povo
Domingo é a posse. Está tudo incerto ainda quanto à segurança. Há
muita preocupação e a programação pode ser alterada. Mas vamos lembrar
aqui: Jair Bolsonaro levou uma facada no dia 6 de setembro de 2018; no
dia 1.º de janeiro ele estava lá no carro aberto. E a facada era para
matar. Se ele não estivesse na Santa Casa de Juiz de Fora em poucos
minutos, estaria morto. Mas agora, não sei se é para justificar uma
possível falta de público, o fato é que vai ter muita segurança.
Na manhã desta quinta, os fiscais do governo do Distrito Federal
tentaram retirar, com furgões e caçambas, as pessoas que estavam
acampadas em frente ao QG do Exército. A Polícia do Exército se
interpôs, fez uma linha (embora desarmada) e impediu que os fiscais
invadissem e derrubassem as tendas e barracas, onde as pessoas estão
abrigadas há quase dois meses.
Último anúncio de ministros é tentativa de conquistar apoio no Congresso
O restante do ministério saiu. O filho de Renan Calheiros ganhou um
ministério, o filho de Jader Barbalho ganhou outro. O relator da PEC da
gastança ganhou um ministério. O dono do PDT, Carlos Lupi, que foi
queridinho do Leonel Brizola, ganhou ministério. Ganhou ministério,
também, um deputado do União Brasil. É o Lula tentando arranjar apoio no
Congresso. Segundo o site Poder 360, Lula teria hoje 181 apoiadores de
513 deputados, e 29 dos 81 senadores, o que dá 35% de apoio ao governo
na Câmara e 36% no Senado. Isso é pouco e deve estar preocupando
bastante o novo presidente.
VEJA TAMBÉM: O silêncio de quem jurou defender a Constituição brasileira Prepare-se que alguém terá de bancar o teto de gastos furado Há os que se empenham pela justiça, e os que transformam a Justiça em outra coisa
PT já mostrou que não quer reconciliar o país Muita gente se
pergunta se haverá alguma tentativa de conciliação, porque o Brasil está
dividido ao meio. Mas, pelo jeito, não. A julgar pelas declarações de
Lula e de Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, que praticamente
chamam os manifestantes bolsonaristas de criminosos, de terroristas –
até um ministro do STF já fez um pré-julgamento usando esses adjetivos
–, dificilmente eles vão querer pacificar. Vão é agregar mais problemas
de um lado e de outro. Até porque um lado já estava chutando a cabeça do
atual presidente, chamando de genocida. Então, tudo isso já estava
plantado.
E depois virá o ingrediente da economia. A parir do dia 1.º, a
gasolina e o diesel já ficam mais caros. Os caminhoneiros certamente não
vão gostar, quem votou em Lula não vai gostar. Num segundo governo
Bolsonaro, a isenção de PIS/Cofins sobre combustíveis seria mantida, mas
Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, já pediu para não renovar a
medida, porque precisa de mais arrecadação para bancar a gastança. O
novo governo só pensa em gastar, não em cortar. Nada de cortes; vão
gastar com picanha, com cerveja, e alguém tem de pagar. E quem vai pagar
é o contribuinte direto ou indireto, aquele que paga por meio da
inflação ou dos impostos embutidos naquilo que ele compra. E é claro que
os preços vão subir: se encarecer o diesel, vai encarecer o transporte,
o frete e tudo o que é transportado. Isso é uma consequência óbvia já
esperada.
Preconceito contra o agro trava o avanço ambiental que já temos à disposição Vi
no canal AgroMais uma entrevistada brilhante lembrando do crédito de
carbono, uma coisa que ninguém entende; ela disse que a soja, o milho e a
cana produzem fotossíntese o dia inteiro e fixam carbono na terra,
absorvem o carbono. Nós somos os maiores produtores do mundo de açúcar e
de álcool; a cana produz o etanol que vai para o combustível, que não
agride do meio ambiente, além do açúcar, que nos dá divisas. O bagaço
produz energia elétrica e o que sobra disso tudo ainda é usado como
adubo. Então, Deus do céu, temos isso nas mãos, mas há tanto preconceito
contra o agro que resolvem inventar outras coisas.
O ex-presidente Lula, seus amigos e os amigos
dos amigos se preparam para voltar ao governo no meio de um clima ruim. O
dia da posse, em vez de ser um momento de celebração, está sendo, pela
ação deles mesmos, um momento de angústia. Lula, segundo dizem em seu
redor, pode usar colete à prova de bala durante a cerimônia. O percurso
do desfile pode ser mudado. Deve haver o mínimo possível de povo e o
máximo possível de polícia. Lula tem de ficar longe, tem de ficar
protegido, tem de estar cercado de guarda-costas com metralhadora. Há
sete presos políticos nas celas do STF e do ministro Alexandre Moraes;
mais dois estão com ordem de prisão decretada, por “atos
antidemocráticos” que estariam colocando em risco a posse do novo
presidente. O Sistema Lula e seus parceiros no Supremo querem tirar de
onde estão os manifestantes que continuam nas portas dos quarteis –
exercendo o direito constitucional de manifestarem sua opinião, e sem
provocar até agora o mínimo incidente.
Fabricaram uma “ameaça terrorista”, para justificar a escalada da
repressão. Em vez de chamar o povo brasileiro para a posse, chamaram a
tropa de choque. Falam o tempo todo em prender, proibir, multar,
censurar, castigar. Que “festa da democracia” é esta?
O “Brasil Feliz” de Lula começa com uma cara infeliz. Foi para isso,
“fazer um Brasil feliz”, que ele disputou a presidência da República,
segundo passou a campanha inteira dizendo; agora, antes mesmo de seu
primeiro minuto no governo, os novos proprietários da máquina do Estado
já estão sob ataque de nervos. A festa da posse vai ser a portas
fechadas, e reservada exclusivamente a militantes e à multidão de
aproveitadores que gira em torno deles: empreiteiros de obras,
banqueiros com problemas na justiça, advogados criminalistas de
corruptos milionários, mandarins do Judiciário, a politicalha em peso. O
povo brasileiro está de fora. As bandeiras do Brasil, o verde-amarelo e
o Hino Nacional estão longe de lá – estão diante das guarnições
militares, em protesto contra eleições que consideram roubadas, um
governo que não reconhecem como legítimo e uma dupla STF-TSE que fez
todo o esforço possível para os manifestantes acharem as duas coisas.
Nunca houve no Brasil um presidente que assumisse o cargo com o país
tão dividido como está agora. Na primeira vez que chegou ao governo,
Lula dava a impressão de que reconhecia e admitia a existência de
posições diferentes das suas. Parecia disposto a governar para todos, ou
pelo menos para a maioria; o Brasil, segundo dava a entender pela
maneira como montou a sua equipe, era maior que o PT. Não há nada disso
hoje. Lula escolheu um ministério e um primeiro escalão de gueto. É puro
“nós” contra “eles”. Quem não votou em Lula não é um adversário – é
inimigo, e tem de ser destruído. Não se admite que os 50% dos votos, ou
quase isso, que o TSE registrou para o adversário sejam a expressão de
um direito; são apenas uma tara de “direita”, que deve ser reprimida
como caso de polícia. Ser contra o Sistema Lula, e sobretudo dizer isso
em público, em voz alta, é “antidemocrático”. Não se trata mais de
reformar o que havia antes, na política, na economia e na sociedade.
Trata-se de destruir o Brasil que vem existindo até agora – e colocar em
seu lugar a partir do dia 1º. de janeiro de 2023, de preferência para
sempre, um regime no qual só existe lugar para quem serve Lula e se
serve dele.
Jogo de amarelinha Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo
| Foto:
Antes de começar, eu me pergunto se vai dar certo.
Se não é muito ousado. Ou talvez até muito pretensioso. Talvez, talvez.
Mas é o que dá viver sob a máxima de que o importante é tentar, sem se
ater demais às consequências. De qualquer forma, o pior que este texto
pode causar no leitor é enfado. Então vamos ver se a brincadeira
funciona. Os que não estiverem a fim de brincar podem ler o texto em sua
versão linear logo abaixo. [Vá para o § 8]
[2] (Como este, talvez?) [Vá para o § 7]
[3] Em seu livro mais recente, Breaking Bread With the Dead [algo
como “Comungando com os mortos], Alan Jacobs, autor que vivo citando por
aqui, discorre sobre essa relação de generosidade que precisamos
fomentar com os textos que nos propomos a ler. Ele fala dos textos de
autores mortos, sobretudo de autores que são racistas, antissemitas,
homofóbicos e machistas, mas, como estou vivinho da silva e não sou nada
dessas coisas, decidi me apropriar. Jacobs, sempre muito generoso,
sugere que levemos esse exercício às últimas consequências, nos expondo
sobretudo a textos que nos desagradam. [Vá para o § 2]
[4] Enquanto houver leitores generosos como você, dispostos a brincar
de amarelinha na noite de sábado só pelo prazer da brincadeira,
escrever vai continuar valendo a pena. Até porque, neste jogo jogado
desde que saímos da cama até a hora de dormir, o objetivo é nobre e um
só: o Céu. [Você chegou ao Céu]
[5] A ideia, aqui, é falar um pouco sobre a generosidade do leitor.
Advogo em causa própria, reconheço. Não só eu, mas todos nós que lidamos
com a palavra escrita precisamos da generosidade do leitor para nos
fazer compreendidos. Não é um esforço que se compare a levantar uma
parede ou roçar uma plantação de feijão no semiárido, mas ainda assim é
difícil. A atenção e generosidade do leitor nunca estiveram tão
escassas. E a vida nesse garimpo é para lá de insalubre. [Vá para o § 9]
[6] Viver de escrever é um privilégio pelo qual sou extremamente
grato. E espero que este e todos os meus textos futuros deixem clara
essa gratidão. Nem sempre consigo me fazer compreendido como gostaria,
aqui e ali tenho ideias malucas como esta e às vezes uso uma palavra só
para acordar no meio da noite e pensar noutra melhor. Mas isso é próprio
do ofício. [Vá para o § 4]
[7] O objetivo é justamente substituir a hostilidade muito própria do
nosso tempo pela curiosidade genuína e o embate saudável. Um embate que
pode se dar publicamente ou nas entranhas da alma, ao gosto do freguês.
E ele vai além, sugerindo que, de vez em quando, exercitemos a defesa
de pontos de vista flagrantemente contrários aos nossos. Só para que
percebamos como, no fundo, é fácil defender qualquer ideia, por mais
absurda que ela pareça. [Vá para o § 6]
[8] Claro que me inspirei em O Jogo da Amarelinha, o impagável
romance de Cortázar no qual o leitor é convidado a avançar pelos
capítulos numa ordem incomum. Influenciado pelo jazz, Cortázar escreveu o
livro numa época em que a graça era explorar novas formas de liberdade e
improviso. Escrevo este texto numa época em que as pessoas se recusam a
ler qualquer coisa com mais de dois parágrafos e que tumultue a visão
de mundo delas. Azar o meu. [Vá para o § 5]
[9] Se você chegou até aqui, ótimo. Me sinto mais do que satisfeito. E
o venero, leitor, porque você é uma raridade. As muitas métricas
proporcionadas pelos sistemas de análise me mostram que a maioria dos
leitores jamais avança até o último parágrafo. Que, neste caso, só é o
último para a brincadeira fazer sentido. Boa parte dos leitores, aliás,
se contenta apenas com o título. Quando consigo fazer alguém chegar até a
metade de um texto, me dou por satisfeito e até abro um espumante. [Vá
para o § 3]
VERSÃO LINEAR
Antes de começar, eu me pergunto se vai dar certo. Se não é muito
ousado. Ou talvez até muito pretensioso. Talvez, talvez. Mas é o que dá
viver sob a máxima de que o importante é tentar, sem se ater demais às
consequências. De qualquer forma, o pior que este texto pode causar no
leitor é enfado. Então vamos ver se a brincadeira funciona.
Claro que me inspirei em O Jogo da Amarelinha, o impagável romance de
Cortázar no qual o leitor é convidado a avançar pelos capítulos numa
ordem incomum. Influenciado pelo jazz, Cortázar escreveu o livro numa
época em que a graça era explorar novas formas de liberdade e improviso.
Escrevo este texto numa época em que as pessoas se recusam a ler
qualquer coisa com mais de dois parágrafos e que tumultue a visão de
mundo delas. Azar o meu.
A ideia, aqui, é falar um pouco sobre a generosidade do leitor.
Advogo em causa própria, reconheço. Não só eu, mas todos nós que lidamos
com a palavra escrita precisamos da generosidade do leitor para nos
fazer compreendidos. Não é um esforço que se compare a levantar uma
parede ou roçar uma plantação de feijão no semiárido, mas ainda assim é
difícil. A atenção e generosidade do leitor nunca estiveram tão
escassas. E a vida nesse garimpo é para lá de insalubre.
Se você chegou até aqui, ótimo. Me sinto mais do que satisfeito. E o
venero, leitor, porque você é uma raridade. As muitas métricas
proporcionadas pelos sistemas de análise me mostram que a maioria dos
leitores jamais avança até o último parágrafo. Que, neste caso, só é o
último para a brincadeira fazer sentido. Boa parte dos leitores, aliás,
se contenta apenas com o título. Quando consigo fazer alguém chegar até a
metade de um texto, me dou por satisfeito e até abro um espumante.
Em seu livro mais recente, Breaking Bread With the Dead [algo como
“Comungando com os mortos], Alan Jacobs, autor que vivo citando por
aqui, discorre sobre essa relação de generosidade que precisamos
fomentar com os textos que nos propomos a ler. Ele fala dos textos de
autores mortos, sobretudo de autores que são racistas, antissemitas,
homofóbicos e machistas, mas, como estou vivinho da silva e não sou nada
dessas coisas, decidi me apropriar. Jacobs, sempre muito generoso,
sugere que levemos esse exercício às últimas consequências, nos expondo
sobretudo a textos que nos desagradam.
(Como este, talvez?)
O objetivo é justamente substituir a hostilidade muito própria do
nosso tempo pela curiosidade genuína e o embate saudável. Um embate que
pode se dar publicamente ou nas entranhas da alma, ao gosto do freguês. E
ele vai além, sugerindo que, de vez em quando, exercitemos a defesa de
pontos de vista flagrantemente contrários aos nossos. Só para que
percebamos como, no fundo, é fácil defender qualquer ideia, por mais
absurda que ela pareça.
Viver de escrever é um privilégio pelo qual sou extremamente grato. E
espero que este e todos os meus textos futuros deixem clara essa
gratidão. Nem sempre consigo me fazer compreendido como gostaria, aqui e
ali tenho ideias malucas como esta e às vezes uso uma palavra só para
acordar no meio da noite e pensar noutra melhor. Mas isso é próprio do
ofício.
Enquanto houver leitores generosos como você, dispostos a brincar de
amarelinha na noite de sábado só pelo prazer da brincadeira, escrever
vai continuar valendo a pena. Até porque, neste jogo jogado desde que
saímos da cama até a hora de dormir, o objetivo é nobre e um só: o Céu.