segunda-feira, 31 de outubro de 2022

CAMINHONEIROS PROTESTAM NAS RODOVIAS CONTRA A VITÓRIA DO LULA

 

Foto: Redes sociais

Por João Scheller, Gustavo Queiroz, Levy Teles, Julia Affonso, Denise Luna e Renée Pereira – Jornal Estadão

Manifestações ocorrem em ao menos 11 Estados, segundo informações da PRF; líderes de setores da categoria falam em casos pontuais

Após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caminhoneiros organizaram bloqueios em diferentes estradas pelo País em protesto contra os resultados das urnas neste domingo, 30. A Polícia Rodoviária Federal informou nesta segunda-feira, 31, que há 47 pontos de bloqueio ou aglomeração em 11 Estados e no Distrito Federal. A corporação disse ainda estar analisando se cada um dos casos está ligado ao resultado das eleições presidenciais.

Por volta das 9h40, a PRF havia registrado 70 pontos de bloqueio ou aglomeração. Às 10h10, o número havia caído para 47.

A vitória de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno foi declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pouco antes das 20h. Até as 10h desta segunda-feira, Bolsonaro se pronunciado ou reconhecido a vitória de seu adversário.

Vídeos publicados em redes sociais desde a noite de domingo, 30, mostram caminhoneiros fechando pontos de estradas. Nos grupos de WhatsApp, eles afirmam que as manifestações têm apoio de empresários do agronegócio e também do comércio. Vários vídeos mostram carretas paradas nas estradas, pneus queimados e caminhões jogando terra nas rodovias para interditar as vias. Eles aguardam um comunicado de Jair Bolsonaro, como se esperassem um comando para agir. Há opiniões para todos os gostos: alguns não acreditam que o presidente vá tomar alguma providência. Outros dizem que é questão de horas.

Mas, alguns líderes que já participaram de outras manifestações, disseram ao Estadão que isso é só “fogo de palha de reacionários”. Sobre o apoio de empresários, dizem que todas as manifestações têm a participação deles nos bastidores.

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Carros paralisaram a BR-101 em frente à loja Havan, em Palhoça (SC)
Carros paralisaram a BR-101 em frente à loja Havan, em Palhoça (SC) Foto: Reprodução

O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, disse nesta manhã, em vídeo, que não é hora de parar o País. Ele criticou as paralisações pontuais que estão sendo feitas em algumas localidades nesta segunda-feira. “Quero reconhecer, através da Abrava, a eleição, a democracia desse País, parabenizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua vitória”, disse o líder caminhoneiro, informando que tem sido procurado nesta manhã sobre as paralisações que estão ocorrendo em alguns pontos do País.

“Não é o momento de parar esse País, vamos aceitar, isso é democracia”, afirmou. Ele disse que pretende ter um alinhamento com o próximo governo e que vai continuar lutando pelo segmento de transporte e destacou o Projeto de Lei 1.205, do senador Lucas Barreto, que dispõe sobre o transporte de cargas. “Isso sim vai trazer um ganho para a categoria. Nesse momento, parar o País vai prejudicar muito a economia, precisamos ter reconhecimento da democracia desse País, a vitória do presidente, muito apertada sim, mas se fosse ao contrário a esquerda também teria que entender e aceitar a vitória ao contrário “, ressaltou.

Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, também vê os protestos como pontuais. “Eu acredito que tenham o direito de protestar, só que eles têm que aceitar a democracia e não ficar travando a pista, porque está atrapalhando a vida de todo mundo. Assim como aceitamos a vitória do Bolsonaro em 2018, agora eles têm de aceitar a vitória do Lula”, disse. “Se for uma paralisação para reivindicar algum direito da classe, a classe terá meu apoio. Se for uma paralisação política, para atrapalhar o governo do Lula, não terá o meu apoio. Acho que autoridades têm de tomar providências porque não pode cercear o direito de ir e vir das pessoas que estão na via. É assim que os bolsonaristas falavam quando a gente ia reivindicar alguma coisa contra o governo Bolsonaro.”

Diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias disse que não há indício de paralisação ampla de caminhoneiros autônomos. “Vi alguns vídeos e são pessoas desconhecidas e acho que também nem são caminhoneiros”, apontou.

Bloqueio na Rodovia Presidente Dutra.
Bloqueio na Rodovia Presidente Dutra. Foto: PRF

Pontos

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“Até o momento, foram registradas situações bloqueio/aglomeração nos seguintes Estados: RS, SC, PR, MG, RJ, MT, MS, RO, PA, GO, SP e no DF”, informou a PRF em nota.

“A PRF segue atenta, monitorando todas as ocorrências e com efetivo empregado na tarefa de garantir fluxo viário normal a todos os cidadãos.”

Ontem, em Santa Catarina, a Polícia Militar Rodoviária e a concessionária Arteris confirmaram bloqueios em diferentes pontos da BR-101, em cidades como Joinville, Itapema, Palhoça e em São Bento do Sul. No Rio Grande do Sul, comerciantes relataram protestos em Ijuí, na BR-285. Já no Paraná, a Polícia Rodoviária Federal não especificou cidades onde ocorreram protestos.

Em Mato Grosso, a concessionária Rota do Oeste confirmou interdições na BR-163 nos municípios de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop.

Por volta das 1h51 da madrugada de segunda-feira, 31, os caminhoneiros fecharam também os dois sentidos de um trecho da Rodovia Presidente Dutra, mais conhecida como Via Dutra, que liga a cidade de São Paulo ao Rio de Janeiro. De acordo com a CCR RioSP, concessionária responsável pela gestão da via, a manifestação afeta um trecho entre os KM 279 e 281 da BR-116, nas proximidades do município de Barra Mansa, no sul do Estado do Rio de Janeiro.

“Atravessaram os carros na BR. Não aceitaram a decisão da eleição e trancaram tudo”, afirma uma pessoa, em vídeo gravado em frente a loja da rede Havan, do empresário Luciano Hang – um fervoroso apoiador de Bolsonaro, na cidade catarinense de Palhoça. “Não vai passar mais nada”, completa.

Ligada a Bolsonaro, a categoria já protagonizou ações do tipo nos últimos anos. Durante as manifestações de 7 de setembro de 2021, caminhoneiros paralisaram estradas da região Sul, em especial em Santa Catarina, tendo como um dos principais articuladores o caminhoneiro Zé Trovão, que chegou a ser preso por ordem do ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e foi eleito deputado federal em Santa Catarina nas eleições deste ano.

JOVENS PULAM DE EMPREGO COM FACILIDADE

 

Psicólogo Lucas Freire

Um estudo feito no Brasil apontou que quase um quarto dos jovens entre 18 e 24 anos (2,47 milhões) permanece no emprego por pouco menos de três meses. Em torno de 2,40 milhões ficam de um a pouco menos de dois anos.

Esse fenômeno ganhou o nome “job hopping” – em português, pular de emprego. Nos Estados Unidos, a geração Z fica, em média, 2 anos em um mesmo local de trabalho.

Para as gerações passadas, que permaneciam mais de uma década na mesma empresa, isso pode representar um retrocesso. No entanto, existem razões sociais, econômicas e comportamentais para a mudança de cenário.

Quem pode falar mais sobre os novos modelos de trabalho é o psicólogo organizacional, Lucas Freire.

Trabalho não deveria ser sinônimo de sofrimento. Este é o ponto de partida para Playfulness, lançamento literário de autoria do psicólogo especializado no desenvolvimento de lideranças, Lucas Freire. Além de abordar as constantes mudanças no ambiente corporativo, a obra apresenta ferramentas para transformar a maneira como o trabalho é encarado.

Termos como burnout, estresse, depressão e ansiedade são associados à exaustão ao universo de carreiras na atualidade. Como é possível então encarar o ofício como algo que gera felicidade e traz recompensas emocionais? Ancorada em quatro bases, a metodologia criada pelo autor auxilia o leitor na busca por uma vida mais leve e criativa mesmo em um cenário de pressão e exigências.

Com a “Teoria do flow”, por exemplo, trabalhadores, lideranças e profissionais da área de gestão de pessoas entenderão não apenas como realizar aquilo que desejam, mas também o que fazer para se sentir realizado. Freire apresenta ainda o conceito de “Tensão criativa” e revela que as ideias inovadoras costumam surgir em situações de adversidades.

Ao contrário do que muita gente pensa, a criatividade é uma característica intrínseca a todo e qualquer ser humano […].

Ela é fruto do emprego da paixão, da curiosidade e da determinação, em quantidades absurdas, para resolver problemas e fazer a diferença.

(Playfulness, pg. 53)

Em Playfulness, Lucas Freire resgata os benefícios das brincadeiras de criança que caem em desuso na vida adulta, quando tudo é sério demais. Ele reforça, porém, que brincar não significa não levar a vida e o trabalho a sério, mas sim estimular a criatividade, as relações interpessoais, o sentimento de pertencimento, a satisfação com as atividades executadas e muito mais.

Com exemplos práticos e histórias reais, o psicólogo ensina maneiras de usar a ludicidade na vida e no trabalho. O livro Playfulness reúne ferramentas para responder, com leveza e originalidade, as incertezas, as contradições e as ambiguidades da hipermodernidade. A obra conta com ilustrações, gráficos como linhas do tempo, playlists para cada capítulo, exercícios de reflexão e QR Codes para inserir o leitor no universo play.

Sinopse

Playfulness é muito mais do que uma brincadeira. É criar, atuar, tocar, encenar, jogar, agir e muitas outras coisas. Inspirada nos diversos significados da palavra play, a metodologia criada pelo psicólogo Lucas Franco Freire é uma resposta às incertezas, contradições e ambiguidades da hipermodernidade, que desencadearam uma onda de adoecimento psicológico dentro e fora do mundo corporativo. Para minimizar o sofrimento e toda conotação negativa que o trabalho ganhou ao longo das últimas Revoluções Industriais, o autor convida o leitor a refletir, construir e transformar sua rotina, sua carreira, sua vida, sua comunidade e até o mundo com leveza e criatividade.

                   O “não” do cliente a uma proposta. Por quê?                  

Moysés Peruhype Carlech

Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”, sem nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de resto todas as lojas dessa cidade no Site da nossa Plataforma Comercial da Startup Valeon.

Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?

Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a sua localização aí no seu domicílio? Quais os produtos que você comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu WhatsApp?

Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para ficarem passeando pelos Bairros e Centros da Cidade, vendo loja por loja e depois fazendo a decisão de compra, como antigamente.

A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para enfrentar a crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos hábitos para poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar pelos corredores dos shoppings centers, bairros e centros da cidade, durante a crise maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar por lojas virtuais como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que tinham receio de comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa barreira. Se os consumidores estão na internet, é onde seu negócio também precisa estar para sobreviver à crise e continuar prosperando.

É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda do Site da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim um investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu processo de vendas fica muito mais profissional, automatizado e eficiente.  Além disso, é possível a captação de potenciais compradores e aumentar o engajamento dos seus clientes.

Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu certo, porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer”. – Se você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um grande obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe você até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o próximo nível de transformação.

O que funcionava antes não necessariamente funcionará no futuro, porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas como os negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo aquilo que é ineficiente.

Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de pensar e nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos justamente por entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer e aprender com o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde queremos estar.

Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a absorver novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que você já sabe.

Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo por meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na internet.

Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a sua carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar você para o próximo nível.

Aproveite essa oportunidade para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.

Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

domingo, 30 de outubro de 2022

PROPOSTAS DE BOLSONARO E LULA

 

Promessas de campanha
Por
Wesley Oliveira
Brasília


O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro durante o debate da TV Band do segundo turno.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Os brasileiros vão às urnas neste domingo (30) para escolher quem será o presidente do Brasil pelos próximos quatro anos. Disputam o segundo turno o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além do plano de governo protocolado pelas campanhas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro e Lula apresentaram diversas outras propostas em discursos, debates e entrevistas.

Veja abaixo as principais promessas de Bolsonaro e de Lula por temas:

Economia 
Para um eventual segundo mandato, o plano de governo de Jair Bolsonaro prevê redução do papel do Estado na economia, realização de reformas estruturantes, simplificação do ambiente de negócios, redução da carga tributária e compromisso com a estabilidade fiscal. Por outro lado, Lula destaca a revogação do teto de gastos, renegociação de dívidas das famílias e aumento dos investimentos públicos.

PRIVATIZAÇÕES

No plano de Jair Bolsonaro, há o compromisso de “prosseguir com o reordenamento do papel estatal na economia, por meio de desestatizações e desinvestimentos de empresas estatais, para focalizar a participação do Estado em atividades essenciais e na promoção do desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil.” O plano de governo, no entanto, não indica quais estatais poderiam ser privatizadas.

Diferente de Bolsonaro, o ex-presidente Lula já se posicionou contra a privatizações das estatais como Petrobras, Correios, Caixa Econômica Federal e outras. No caso da Petrobras, por exemplo, o candidato do PT já indicou que, se eleito, pretende acabar com a política de preços internacionais da estatal. “A gente refinava 100%. Com a privatização da BR [Distribuidora, ex-subsidiária da Petrobras], dizendo que a BR tinha monopólio, hoje temos 392 empresas importando gasolina dos Estados Unidos sem pagar imposto e com o preço dolarizado. Sou contra a privatização, é uma loucura”, disse Lula no debate da TV Band.

REFORMA TRIBUTÁRIA  

Em um segundo mandato, Bolsonaro já indicou a intenção de aprovar uma reforma tributária No Congresso Nacional. O plano de governo fala em “simplificar a arrecadação, aumentar a progressividade [dos impostos] e torná-lo concorrencialmente neutro”. 

Na mesma linha, o ex-presidente Lula indica como prioridade uma reforma tributária como foco na simplificação do sistema tributário. “Reforma tributária solidária, justa e sustentável, que simplifique tributos e em que os pobres paguem menos e os ricos paguem mais. Essa reforma será construída na perspectiva do desenvolvimento, simplificando e reduzindo a tributação do consumo”, diz o plano do PT.

AUXÍLIO BRASIL 

Programa social criado nos moldes do antigo Bolsa Família, o Auxílio Brasil será mantido pelo presidente Jair Bolsonaro em um segundo mandato. Apesar de o pagamento de R$ 600 estar garantido só até dezembro, Bolsonaro prometeu manter o valor mais elevado a partir de 2023. A proposta orçamentária enviada pelo governo ao Congresso Nacional, no entanto, prevê apenas o valor de R$ 405 a partir do ano que vem.

Assim como Bolsonaro, o ex-presidente Lula também disse que vai manter o valor de R$ 600 para os beneficiários do programa, que voltará a se chamar Bolsa Família. Além desse valor, o candidato do PT prometeu um adicional de R$ 150 para cada criança de até seis anos das famílias beneficiadas. Cerca de 9 milhões de crianças poderão receber esse valor.

IMPOSTO DE RENDA 

Assim como em 2018, o presidente Jair Bolsonaro promete atualizar a tabela do Imposto de Renda caso seja reeleito. Em agosto, ele afirmou que a medida só não foi tomada antes por causa da pandemia e assegurou a alteração. “Não corrigimos a tabela do Imposto de Renda em anos anteriores por causa da pandemia. A economia, realmente, era uma incógnita, o que poderia acontecer, e não tínhamos margem. Agora, está garantido com a equipe econômica”, afirmou. A promessa de Bolsonaro é isentar do IR quem ganha até cinco salários mínimos (R$ 6.060 atualmente).

Na mesma linha, o ex-presidente Lula também indicou que pretende fazer a atualização a partir de 2023. Em campanha, Lula prometeu isentar da taxação quem recebe até R$ 5 mil por mês caso seja eleito.

Atualmente, a isenção vale para quem ganha até R$ 1.903,98, pouco mais do que um salário mínimo, hoje em R$ 1.212.

SALÁRIO MÍNIMO

A discussão sobre o reajuste do valor do salário mínimo foi uma das que dominou a agenda dos dois candidatos nos últimos dias da campanha do segundo turno. Lula, que em seu governo deu ganho real ao mínimo, se comprometeu a retomar a política de concessão de reajustes acima da inflação. Bolsonaro, que nas leis orçamentárias que elaborou não promoveu aumento além do índice inflacionário, disse que vai dar ganho real porque agora “a casa está arrumada”.

TETO DE GASTOS 

Bolsonaro disse em entrevistas que, se reeleito, pretende promover mudanças no atual arcabouço fiscal do país, que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior. Ele não detalhou quais seriam essas mudanças. Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez críticas à âncora fiscal, e justificou os sucessivos rompimentos do teto de gastos ao longo do governo Bolsonaro e criticou a forma como o teto de gastos foi concebido durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). 

Na mesma linha, o ex-presidente Lula também tem como base de suas propostas a revogação do teto de gastos a partir de 2023. O petista não indicou qual âncora fiscal pretende adotar, mas prometeu construir, juntamente com o Congresso Nacional, uma proposta alternativa mantendo a responsabilidade fiscal . Além disso, o candidato do PT indicou que a regra fiscal precisa ser factível e que privilegie investimentos.


Saúde 
No campo da saúde, o presidente Bolsonaro indicou em seu plano de governo que a atenção primária vai continuar sendo um foco importante, sem que se deixe de lado outros programas e iniciativas. O presidente prometeu ainda fortalecer o programa da Saúde Digital, que visa a integrar todo o sistema de saúde de forma digitalizada. O candidato do PL também se comprometeu em estabelecer parcerias com a rede privada como forma de aumentar a eficiência da rede de saúde.

O ex-presidente Lula promete fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e retomar políticas como o programa Mais Médicos (que trouxe profissionais de Cuba ao Brasil). Também fazem parte das promessas o fortalecimento do programa Farmácia Popular e a reconstrução e fomento ao que chama de “complexo econômico e industrial da saúde. O plano de governo do PT também diz: “É urgente dar condições ao SUS para retomar o atendimento às demandas que foram represadas durante a pandemia, atender as pessoas com sequelas da covid-19 e retomar o reconhecido programa nacional de vacinação”.

Educação 
Na educação, o plano de governo de Bolsonaro elenca como prioridade os investimentos na educação básica, aliando ensino presencial e a distância. Também indica a democratização da internet nas escolas e a construção de novas creches e ampliação de creches no contraturno escolar. Também há o compromisso de recuperação do ensino das crianças e jovens que foram prejudicados durante a pandemia de Covid-19.

Lula também traz como prioridade o fortalecimento da educação básica, da creche à pós-graduação, coordenando ações articuladas e sistêmicas entre a União, estados, Distrito Federal e municípios, retomando metas do Plano Nacional de Educação e revertendo o que considera ser “desmontes” do atual governo. O plano de governo, no entanto, não apresenta propostas detalhadas de como pretende superar o “grave déficit de aprendizagem”. O texto cita apenas princípios norteadores e qual é a visão de governo para a educação.

Combate à corrupção
O combate à corrupção não teve propostas concretas de ambos os candidatos, a não ser por meio de declarações mais genéricas ou de acusações de um contra o outro.

Apesar de ter exaltado em diferentes momentos da campanha o fato de seu governo ter iniciado a prática de seguir a lista tríplice do Ministério Público Federal (MPF) na nomeação do Procurador-Geral da República (PGR), Lula não quis se comprometer com o modelo na campanha. Em sabatina ao Jornal Nacional, da TV Globo, o petista disse que queria deixar “uma pulguinha atrás da orelha” dos procuradores. A possibilidade de indicar um aliado para a PGR é vista como uma forma de controlar a atuação do MPF em casos de corrupção envolvendo o governo.

Bolsonaro, por sua vez, nomeou o atual Procurador-Geral da República, Augusto Aras, fora da lista tríplice. Na campanha, ele disse que “acabou com a Lava Jato” porque “não ter mais corrupção”.

Relação com o Congresso Nacional
Bolsonaro tem afirmado, ao longo da campanha do segundo turno, que vai ter mais facilidade de aprovar suas propostas no Congresso Nacional se for reeleito porque os parlamentares que estarão na Câmara e no Senado a partir de 2023 têm um perfil mais conservador e de direita do que os atuais legisladores.

O presidente também tem sido questionado se vai manter o pagamento das emendas de relator – apelidadas de “orçamento secreto” devido à dificuldade de rastrear os “padrinhos” dessas emendas. O pagamento dessa verba a indicações de parlamentares foi um dos pilares da relação do presidente com o Congresso Nacional nos últimos anos.

No debate da TV Band, Bolsonaro, disse que não tinha nada haver com esse mecanismo de pagamento das emendas. “Eu não tenho nada a ver com esse orçamento secreto. Posso até entender que o parlamento trabalha melhor na distribuição de renda do que nós, do lado de cá”, disse. Mais recentemente, em entrevista ao Podcast Inteligência Ltda., Bolsonaro sinalizou que pode vetar o orçamento secreto previsto no Orçamento de 2023. Contudo, alegou que a manutenção do veto depende do Congresso Nacional. “Veto só se eu for reeleito presidente no próximo ano. A gente veta de novo. Vai sentir o novo Parlamento se vai derrubar o veto ou não. Se não derrubar, vale por mais três anos”, disse Bolsonaro.

Já o ex-presidente Lula vem dizendo que irá negociar com o Congresso para ter governabilidade, mas indicou que pretende acabar com o orçamento secreto. “Eu vou confrontar essa história do orçamento secreto com a criação do orçamento participativo, que foi uma coisa que nós criamos nos estados durante minha gestão.”, disse Lula no debate da TV Band.

Relação com o STF
Com uma relação marcada por diversos embates com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo de seu governo, o presidente Bolsonaro sinalizou que trará Poderes para dentro “das quatro linhas” da Constituição se for reeleito. Bolsonaro sinalizou que poderia discutir com o Congresso a ampliação do número de ministros da Corte, o que lhe permitiria indicar mais nomes para obter no STF o que ele chama de “equilíbrio” entre as indicações dos governos de esquerda e do dele. Apesar disso, posteriormente Bolsonaro recuou da proposta. “Da minha parte está feito o compromisso: não terá nenhuma proposta [de aumentar o número de ministros do STF], como nunca estudei isso com profundidade [o assunto]”, disse no debate da Band do segundo turno.

Lula, por sua vez, tem defendido que, se eleito, “o Brasil vai voltar à normalidade” com cada Poder cumprindo o seu papel de acordo com a Constituição. Ao longo do debate da Band, o petista sugeriu que uma mudança na composição só poderá ser feita caso haja a convocação de uma nova Constituinte.

Forças Armadas e militares
Apesar da presença de diversos militares inativos e da ativa no governo, o presidente Bolsonaro não fez grandes sinalizações para as Forças Armadas em um eventual segundo mandato. Em seu plano de governo, o presidente promete o aumento e a continuidade dos investimentos nos órgãos de segurança pública e nas Forças Armadas, assim como o aperfeiçoamento dos planos de carreira e remuneração e da continuidade da melhor capacitação de seus quadros.

Por outro lado, o ex-presidente Lula já indicou que pretende nomear um civil para o Ministério da Defesa, além de retirar integrantes das Forças Armadas que hoje tem cargos no governo. Para isso, Lula pretende rever um decreto do presidente Bolsonaro que liberou militares da ativa para ocupar cargos públicos por tempo indeterminado. A ideia é determinar um período máximo em que o fardado possa ocupar uma vaga de natureza civil, sob pena de ter de ir para a reserva caso queira permanecer na função.

Agenda de costumes
Na agenda de costumes, Bolsonaro reforçou ao longo da campanha sua oposição a temas como a legalização do aborto e das drogas e a chamada ideologia de gênero. “Temos valores, cultura, religião. Acreditamos em Deus. Não aceitamos falar sobre aborto. O outro lado quer legalizar o aborto, nós somos contra. Defendemos crianças em sala de aula e não queremos nossas filhas no mesmo banheiro dos meninos. Nós somos contra a ideologia de gênero”, afirmou Bolsonaro em referência ao ex-presidente Lula.

Já Lula, que na pré-campanha chegou a defender a legalização do aborto, acabou recuando sobre o tema ao longo da disputa. Recentemente, em uma carta direcionada aos evangélicos, o candidato do PT disse ser pessoalmente contra o aborto, e que a discussão sobre o tema cabe ao Congresso Nacional. Ele também disse ser contra banheiros unissex nas escolas.

Regulação da mídia
O presidente Bolsonaro diz defender a liberdade de expressão e nunca propôs a regulação da mídia – ao contrário, diz ser contra. O presidente criticou ainda tentativas também de reforçar leis e proibições de publicações nas redes sociais. “Os senhores nunca vão me ver vir aqui neste parlamento pedir a regulação da mídia e da internet. Eu espero que isso não seja regulamentado por qualquer outro Poder. A nossa liberdade acima de tudo”, disse Bolsonaro recentemente.

Por outro lado, Lula defende a regulação da mídia, mas vem tentando dizer que isso não seria uma forma de tentar censurar críticas ao governo se ele for eleito. Durante entrevista ao podcast Flow, afirmou que é preciso “chamar a sociedade para discutir” a regulação da mídia, mas disse ser “inimigo da censura”. “Tem canal de televisão que só fala asneira, grosseria, só ofende. Tem que ter uma regulamentação, a última regulamentação de mídia eletrônica foi em 1962. A gente pode fazer como a legislação inglesa, a americana; ninguém quer uma regulamentação como em Cuba”, disse.

Segurança pública 
Na área da segurança pública, o presidente Bolsonaro defende a redução da maioridade penal. “No ano que vem, vamos aprovar a redução da maioridade penal”, disse Bolsonaro durante um ato no Rio de Janeiro. Além disso, o plano de governo do presidente indica que ele pretende preservar e ampliar o direito fundamental à legítima defesa e à liberdade individual, fortalecendo institutos legais que assegurem o acesso à arma de fogo aos cidadãos. 

Na contramão de Bolsonaro, o ex-presidente Lula promete “retomar o Estatuto de Desarmamento”, tornando mais difícil a posse de armas para cidadãos. O petista também pretende fazer acordos com países vizinhos para o combate ao tráfico de drogas. Ele também disse que pretende recriar o Ministério da Segurança Pública, atualmente vinculado ao Ministério da Justiça, além de criar um Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). “A gente vai criar o comitê científico para estruturação da segurança pública com planejamento, metas e avaliações”, disse Lula.

Meio ambiente 

Na pauta ambiental, Bolsonaro diz em seu programa de governo que pretende fomentar o desenvolvimento da “indústria verde”, por meio da preservação do meio ambiente e estímulo do desenvolvimento sustentável, possibilitando o crescimento socioeconômico e a redução das diferenças regionais. Se reeleito, o presidente prometeu ainda a defesa, proteção e promoção do desenvolvimento sustentável da Amazônia, abrindo novas possibilidades de empreendedorismo individual e coletivo na região. 

Já o ex-presidente Lula se comprometeu a promover a transição ecológica das cidades com investimentos em transporte público, habitação, saneamento básico e equipamentos sociais. Além disso, o petista diz que uma das prioridades será a liberação de recursos do Fundo Amazônia de forma rápida. O plano de governo do PT prevê ainda o combate ao crime ambiental.

Infraestrutura 
Para o setor de infraestrutura, Bolsonaro diz que pretende construir usinas eólicas no Nordeste e exportar energia verde para o mundo. O presidente também indicou o “Programa Pro Trilhos”, que visa ampliar a malha ferroviária nacional, a partir de investimentos privados. As empresas devem investir cerca de R$ 224 bilhões e agregar 19 mil quilômetros à malha brasileira, cruzando pelo menos 16 estados. 

O ex-presidente Lula prometeu resgatar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para retomar obras de infraestrutura que estão paradas em todo o país. “O PAC foi construído com empresários, com governadores e com prefeitos. É o que eu pretendo retomar a partir do dia 1.º de janeiro se a gente ganhar as eleições”, disse Lula. O petista indica ainda que pretende assegurar internet de qualidade em todo território.

Política externa

Na política externa, Bolsonaro tem como prioridade para um segundo mandato a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) – o clube dos países desenvolvidos. O ingresso na OCDE é visto como um atestado de boas práticas econômicas, e isso pode atrair investimentos externos ao Brasil. Na mesma linha, Bolsonaro pretende fechar acordo comercial com a EFTA (sigla em inglês para Associação Europeia de Comércio Livre), composta por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.

O plano de governo também fala em estímulo à participação do Brasil em outros organismos internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC), dentre outros. Além disso, Bolsonaro pretende participar de acordos e operações internacionais, notadamente os que busquem a paz, como as missões da ONU. Também é esperado que o Brasil mantenha sua aliança diplomática em defesa da vida e da família, em fóruns internacionais, com outros países que tenham governos conservadores.

Já o ex-presidente Lula traz em seu plano de governo a proposta defender a soberania nacional “ao recuperar a política externa ativa e altiva que nos alçou à condição de protagonista global”. Durante a campanha, Lula defendeu a integração regional com países da América Latina, principalmente por meio do fortalecimento do Mercosul, e o diálogo com os Estados Unidos, a União Europeia, a África e os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O petista diz ainda que vai trabalhar pelo fim da guerra na Ucrânia. Sobre as ditaduras latino-americanas de esquerda, Lula indicou ao longo da campanha que “cada país cuida do seu nariz” – indicando que não vai se opor a esses regimes ditatoriais.


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O PRESIDENTE ELEITO TEM QUE GOVERNAR PARA TODOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


| Foto: Otavio Souza Junior/Pixabay

Independentemente de quem saia vencedor do segundo turno, no próximo domingo, ele terá vencido um pleito que, mais uma vez, mostra uma nação profundamente dividida. A diferença de 10 milhões de votos que separou Jair Bolsonaro de Fernando Haddad em 2018 não deve se repetir – as perspectivas são de um resultado bem mais apertado. Além disso, haverá dezenas de milhões de brasileiros que não consideraram nenhum dos dois candidatos dignos de seu voto. Mas Bolsonaro ou Lula terão de mostrar que são capazes de governar também para todos os que não lhes deram seu voto em 30 de outubro.

A vitória de um candidato nas urnas lhe concede a legitimidade para levar adiante o programa político que ele apresentou ao eleitor durante a campanha, o que inclui uma escala de prioridade entre diversos temas e certas escolhas a respeito de como tratar esses assuntos e os inúmeros desafios de um país como o Brasil. Isso não significa, no entanto, que o programa derrotado não tenha seus méritos, nem que os assuntos nele tratados não mereçam ser contemplados pelo governo vencedor. As preocupações de quem não votou no candidato eleito não podem ser simplesmente ignoradas; a democracia não é uma “tirania da maioria” em que à minoria cabe simplesmente se calar e aguardar a próxima eleição.

Governar para todos é trabalhar pelo bem comum para a totalidade dos brasileiros, independentemente de classe socioeconômica, região onde vivem, características ou preferências pessoais

Um governo que priorize o protagonismo da iniciativa privada no setor econômico não pode, por exemplo, fechar os olhos ao drama da miséria e da fome, esperando que a geração gradual de emprego traga sustento aos mais pobres; é preciso atuar diretamente em bons mecanismos de transferência de renda para suprir as necessidades imediatas enquanto a melhora da economia não alcança todos os brasileiros. Da mesma forma, um governo que priorize a assistência social não pode descuidar da liberdade econômica que facilitará às empresas prosperar e criar mais emprego. Um governo que rejeite excessos da militância identitarista não pode fechar os olhos a situações de preconceito, e um governo que tenha o identitarismo como plataforma jamais pode sacrificar liberdades democráticas, como a de expressão e a religiosa, diante do altar das minorias étnicas ou comportamentais.

O Chile recente é o melhor exemplo do que ocorre quando os eleitos se preocupam em governar apenas para os seus e não para todos. O enorme esforço de elaborar uma nova Constituição para o país naufragou retumbantemente e terá de recomeçar porque a maioria de esquerda na Assembleia Constituinte eleita em 2021 simplesmente ignorou a outra parcela do país. O texto redigido pelos constituintes reinventava o país do zero, desprezava todos os avanços socioeconômicos do modelo liberal anterior e dava vazão às plataformas de esquerda em sua forma mais radical, com direitos ilimitados e aceitando todo tipo de reivindicação identitarista. No plebiscito de setembro, o “rejeito” venceu com avassaladores 25 pontos porcentuais de vantagem sobre o “aprovo”.


Não se trata, obviamente, de diluir ou renegar as plataformas vencedoras para acomodar desejos do lado derrotado, mas simplesmente de compreender que o vencedor neste domingo será presidente de um país inteiro, não apenas daqueles que o elegeram. O bem comum pelo qual é obrigação do governante trabalhar não é um “bem da maioria” de corte utilitarista, mas “um estado de coisas que facilita – ou pelo menos não dificulta – a cada indivíduo a possibilidade de perseguir, se assim o desejar, o próprio desenvolvimento integral e sua realização por meio da busca da excelência”, como definimos em nossas convicções. Aqui, a ênfase está em “cada indivíduo”: governar para todos é proporcionar esse “estado de coisas” à totalidade dos brasileiros, independentemente de classe socioeconômica, região onde vivem, características ou preferências pessoais. Só um estadista será capaz disso, reconstruindo as pontes quebradas neste Brasil altamente polarizado.

ELEIÇÕES 2022
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LULA E BOLSONARO DISCUTEM CORRUPÇÃO NO GOVERNO

 

Segundo turno
o que eles pensam e propõem em 7 temas econômicos

Por
Cristina Seciuk


Rumo ao segundo turno: confira quais os planos de Bolsonaro e Lula para alguns dos principais temas relacionados à economia.| Foto: André Coelho/EFE

Em discurso logo após a confirmação do segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou claro que a economia seria a tônica seguinte da campanha. A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto isso, passou a ser pressionada para detalhar suas propostas, consideradas vagas, sem indicação clara de qual será sua eventual política econômica.

Confira a seguir o que aparece nos planos de governo entregues pelos dois candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o que o Lula e Bolsonaro têm dito sobre sete temas relevantes para o mercado e o dia a dia do brasileiro.


Jair Bolsonaro
O plano de governo do presidente e candidato do PL à reeleição indica que um eventual segundo mandato deve prosseguir com desestatizações e desinvestimentos de empresas estatais, dando seguimento ao “reordenamento do papel estatal na economia”. Conforme o plano, o objetivo do caminho escolhido é focar a participação do Estado em atividades essenciais e na promoção do desenvolvimento econômico, social e sustentável do país.

A proposta, neste sentido, é deixar a cargo do Estado aquilo que somente ele pode realizar, em função de altos custos de investimento e complexidades inerentes à gestão, ou concentrando esforços em exercer “função estabilizadora” a fim de controlar, por exemplo, choques econômicos sobre a renda e o consumo. Para além disso, o programa prevê ampliação do processo de desestatização que, segundo o documento, trará benefícios diretos e indiretos ao cidadão e permitirá ao Estado focar em questões como saúde, educação, segurança e bem-estar.

O documento não menciona expressamente a privatização da Petrobras – que segundo Bolsonaro ficaria para um segundo mandato – ou dos Correios, incluída no atual Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).

Junto das desestatizações e privatizações, Bolsonaro defende a concessão de ativos de infraestrutura e de serviços à iniciativa privada e a assinatura de parcerias público-privadas para investimentos.

Para o funcionalismo, o programa de Bolsonaro fala em aperfeiçoamento dos planos de cargos e salários, qualificação dos servidores por meio da criação de oportunidades para capacitação técnica e aperfeiçoamento profissional. Durante a campanha, Bolsonaro também afirmou que vai conceder reajuste salarial aos servidores em 2023, ainda que não haja previsão orçamentária para isso.

Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente e candidato petista à Presidência fala em proteger o patrimônio do país e recompor o “papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais para que cumpram seu papel no processo de desenvolvimento econômico e progresso social, produtivo e ambiental” no país. O plano apresentado aponta oposição expressa às privatizações de Petrobras, Pré-Sal Petróleo (PPSA), Correios e da Eletrobras – esta última já não está mais sob controle do governo brasileiro.

Lula também defende mais atuação do governo para promover modernização e ampliação da infraestrutura de logística de transporte, social e urbana . O caminho indicado é a recriação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com foco na ampliação do investimento público para induzir a retomada econômica e a redução dos custos de produção. O investimento privado também é classificado como “parte importante da reconstrução do Brasil” e, segundo o plano do petista, “será estimulado por meio de créditos, concessões, parcerias e garantias”.

Para a máquina pública, o petista prometeu, em discursos, a criação ou recriação de ministérios. Durante a campanha, falou em criar o Ministério dos Povos Originários e uma pasta dedicada às pequenas e médias empresas, além da recriação dos ministérios da Cultura, Igualdade Racial, Fazenda, Planejamento e Segurança Pública, extintos nas últimas gestões.

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Teto de gastos

Bolsonaro
O atual presidente já indicou que pretende mudar o controle fiscal partir do ano que vem. Uma das ideias em discussão no Ministério da Economia é a adoção de uma meta de dívida pública em substituição ao teto de gatos, que limita o crescimento das despesas da máquina pública à inflação do ano anterior.

O programa de governo do candidato à reeleição indica intenção de aprimorar o sistema de planejamento e orçamento público a fim de reduzir a rigidez do orçamento, aumentar a previsibilidade da execução e a transparência dos gastos públicos. Como medidas fiscais, o documento fala em consolidar o ajuste fiscal no médio e longo prazo, de forma a reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB.

Lula

O programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva prevê textualmente a revogação do teto de gastos e uma revisão do regime fiscal brasileiro, classificado como “disfuncional e sem credibilidade”. Segundo as diretrizes apresentadas pelo PT, um novo modelo fiscal deve ser construído seguindo premissas de credibilidade, previsibilidade e sustentabilidade. Em documento divulgado às vésperas do 2º turno, o candidato prometeu política fiscal responsável com compromissos plurianuais, sinalizando um planejamento de mais longo prazo.

Em atos de campanha Lula chegou a defender o retorno de um regime de superávits fiscais, mas não há confirmação se essa linha será seguida. O economista Guilherme Mello, assessor econômico do PT, diz que as linhas do novo arcabouço fiscal serão discutidas com a nova composição do Congresso, após as eleições.

Reformas
Bolsonaro

A reforma trabalhista realizada na gestão do ex-presidente Temer Michel Temer será mantida, conforme o plano de Jair Bolsonaro. As novas normas são defendidas como garantia de “segurança jurídica, ajudando a combater abusos empresarias e de sindicatos”. O presidente também pretende prosseguir nos avanços da legislação para facilitar as contratações.

Com relação à Previdência, a proposta é por “continuar e fortalecer o aprimoramento do sistema previdenciário”, com o objetivo de garantir a sustentabilidade financeira e a justiça social.

Para uma reforma tributária, o plano de Bolsonaro propõe um aprimoramento do “sistema tributário brasileiro, com a meta de simplificar a arrecadação, aumentar a progressividade e torná-lo concorrencialmente neutro”. A simplificação na legislação e carga tributária é apontada como forma de garantir emprego e renda e a retomada do crescimento econômico.

Lula

As diretrizes apresentadas pela campanha de Lula falam na proposição de uma nova legislação trabalhista, com a revogação de “marcos regressivos da atual legislação”. A proposta menciona normas de “proteção social a todas as formas de ocupação, emprego e relação de trabalho, com especial atenção aos autônomos, aos que trabalham por conta própria, trabalhadores e trabalhadoras domésticas, teletrabalho e trabalhadores em home office, mediados por aplicativos e plataformas”. Na sua “Carta para o Brasil do Amanhã”, o candidato propõe um debate entre governo, empresários e trabalhadores para “construir uma Nova Legislação Trabalhista que assegure direitos mínimos – tanto trabalhistas como previdenciários – e salários dignos, assegurando a competitividade e os investimentos das empresas”.

O programa do petista aponta ainda a intenção de “restabelecer acesso gratuito à Justiça do Trabalho”, incentivar iniciativas de reestruturação sindical “que democratizem o sistema de relações de trabalho”, além do respeito à autonomia sindical, “visando incentivar as negociações coletivas, promover solução ágil dos conflitos, garantir os direitos trabalhistas, assegurar o direito à greve e coibir as práticas antissindicais”.

Em eventual governo, Lula traça ainda uma revisão da reforma da Previdência. O plano indica uma “reconstrução da Seguridade e da Previdência Social para ampla inclusão de trabalhadores por meio da superação das medidas regressivas e do desmonte promovido pelo atual governo”, diz o texto. A promessa é da criação de um modelo previdenciário que concilie o aumento da cobertura com o financiamento sustentável do Regime Geral de Previdência Social.

Por fim, a campanha petista defende uma reforma tributária por meio de estrutura de impostos mais simples e progressiva, focada em IR mais caro para os mais ricos, redução da tributação do consumo e outras políticas que suavizem a carga para os mais pobres.

Imposto de Renda
Bolsonaro
O plano de Bolsonaro traz proposta de correção de 31% na tabela do Imposto de Renda para Pessoa Física, isentando todos os trabalhadores celetistas que recebam até R$ 2,5 mil mensais. Sem a pandemia e com crescimento econômico, o programa do candidato do PL avalia que será possível perseguir o objetivo de isentar os trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos até 2026.

Lula

O candidato do PT prometeu, em campanha, reajustar a tabela do Imposto de Renda em seu primeiro ato oficial. A intenção é aumentar a faixa de isenção para R$ 5 mil mensais. Atualmente, o imposto é cobrado de quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 por ano.

Ainda no que se refere a IR, o plano de Lula prevê taxação dos “muito ricos”, utilizando os recursos arrecadados para investir em programas e projetos com alta capacidade de induzir o crescimento, promover a igualdade e gerar ganhos de produtividade.

Benefícios sociais
Bolsonaro

O candidato do PL afirma que um dos seus compromissos, caso reeleito, será a manutenção do Auxílio Brasil no patamar mínimo de R$ 600 a partir de janeiro de 2023. O valor foi majorado por meio da PEC dos Benefícios, que prevê a cifra apenas até o mês de dezembro.

Após o primeiro turno, Bolsonaro também prometeu o pagamento de 13º para mulheres que recebem o Auxílio Brasil e falou ainda num benefício de R$ 200 para beneficiários que conseguirem emprego formal – adicional que já estava previsto na legislação que criou o programa, mas nunca foi implementado.

Ainda no que se refere políticas públicas e programas sociais, a campanha de Bolsonaro fala em dar prioridade a determinados grupos, como crianças, adolescentes, idosos, pessoas com deficiência e mulheres. O programa cita ainda “ampliar ações de promoção de acesso a direitos humanos”, sem mais detalhes.

Lula

O programa de Lula defende a manutenção dos R$ 600 do Auxílio Brasil, e o candidato também mencionou um adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos. O plano retoma o nome Bolsa Família (substituído na gestão Bolsonaro), com a promessa de ampliá-lo e renová-lo para garantir renda compatível com as atuais necessidades da população.

O petista defende ainda uma “necessária ampliação de políticas públicas”.

Emprego e renda
Bolsonaro

Para a geração de empregos, o plano de governo apresentado por Jair Bolsonaro fala em estímulo ao empreendedorismo, mas também em fortalecer programas de qualificação profissional de acordo com as vocações regionais e locais. Promete ainda investir em iniciativas voltadas à atração de jovens em situação de risco social e no fortalecimento da educação profissional e tecnológica e da educação superior.

Um dos pontos destacados é conectar empregabilidade com educação, a fim de preparar as pessoas para os novos desafios e propiciar a elas a migração segura de empregos que estão se tornando obsoletos para os novos postos de trabalho.

Promete, ainda a criação de políticas para redução da taxa de informalidade no mercado de trabalho brasileiro, inclusive com políticas de formalização. Isto deve ser buscado, conforme o plano apresentado, “por meio de contratos de trabalho específicos para esta população e que permitam a oferta de trabalho formal em estados onde a informalidade ainda é dominante”.

O programa de governo de Jair Bolsonaro não menciona o salário mínimo, mas em declaração recente à revista Veja, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo estuda outras formas de conceder um aumento real no próximo ano, além do reajuste mínimo vinculado à inflação.

Lula
O ex-presidente afirma que as oportunidades de emprego e trabalho serão criadas por meio de avanços mais amplos. Neste cenário, menciona o retomada dos investimentos em infraestrutura e habitação, a reindustrialização nacional em novas bases tecnológicas e ambientais a reforma agrária e o estímulo à economia solidária, à economia criativa e à economia verde, baseada na conservação, na restauração e no uso sustentável da biodiversidade. Também deve estender o apoio ao cooperativismo, ao empreendedorismo e às micro e pequenas empresas.

O plano petista propõe ainda retomar a política de valorização do salário mínimo, com o objetivo de recuperar o poder de compra do brasileiro. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), um dos coordenadores da campanha do ex-presidente Lula na área econômica, disse que o salário mínimo deve ter aumento real de 2% em 2023, caso o petista seja eleito em 30 de outubro.

A última vez que o mínimo teve aumento real foi em 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, quando o reajuste estabelecido considerou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC, calculado pelo IBGE) mais a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) registrado dois anos antes, conforme diretrizes implantadas na gestão de Dilma Rousseff (PT).

A partir de 2020, o cálculo feito pelo governo federal ficou restrito à estimativa do INPC, que faz a recomposição de perda inflacionária, mas não garante ganho real. A promessa de Lula é de criação de um novo modelo de reajuste, ainda não divulgado.

Ambiente de negócios
Bolsonaro
O programa de Bolsonaro fala em consolidação e avanço das reformas estruturantes e modernização dos processos de governança da condução da política econômica, “alinhando o país às melhores práticas internacionais”. O objetivo, conforme o texto, é “facilitar as contratações, desburocratizar e desregular as normas para favorecer a criação de empresas e o empreendedorismo, prosseguir na abertura comercial, com a redução da tributação das empresas nacionais e também dos impostos de importação, criando um ambiente de concorrência e competitividade que reduzirá os preços e melhorará a oferta e a qualidade dos produtos e serviços, beneficiando o cidadão”.

Ainda conforme o plano do candidato à reeleição, um eventual segundo mandato pretende “retirar da população o peso do Estado e deixar cada cidadão, com o apoio necessário do governo, exercitar sua criatividade, capacidade gerencial, visão empresarial e liberdade”.

Lula
As propostas de Lula falam em implantação de medidas de desburocratização, redução do custo do capital, ampliação de acordos comerciais internacionais, além de avanço na digitalização e estímulo ao investimento privado e fortalecimento da estrutura produtiva nacional.

Também prevê fortalecer e modernizar a estrutura produtiva por meio da “reindustrialização”, do fortalecimento da produção agropecuária e do estímulo a setores e projetos inovadores. “Devemos fortalecer a empresa nacional, pública e privada, com instrumentos como financiamento, compras governamentais, investimento público, ampliando e agregando valor à produção, com ênfase em inovações orientadas para a transição ecológica, energética e digital”, diz o texto.

A agenda do petista prevê estímulo ao crédito, com incentivo à ampliação da oferta e redução do custo, além da promoção de um cenário mais favorável à renegociação de dívidas (tanto para empresas de pequeno e médio portes, quanto para famílias, com a criação de um fundo garantidor para renegociação), de modo a reaquecer a economia.


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MILITARES CONTINUARÃO CHECANDO O SISTEMA DE VOTAÇÃO E APURAÇÃO

 

Fiscalização da votação
Divulgarão dados 30 dias após análise

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília


Boletim de urna: Forças Armadas vão verificar se dados das seções eleitorais batem com a totalização do TSE.| Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE

As Forças Armadas vão repetir, neste segundo turno das eleições, a fiscalização realizada na votação de 2 de outubro. Os militares visitarão seções eleitorais espalhadas pelo país ao final da eleição, tirarão fotos dos boletins de urna e enviarão as imagens para técnicos do Ministério da Defesa, que checarão os dados com o resultado oficial divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na totalização. Além disso, também vão acompanhar o teste de integridade com biometria de eleitores nos próprios locais de votação.

Assim como no primeiro turno, as Forças Armadas não vão divulgar publicamente o resultado dessa fiscalização. Um relatório será enviado para o TSE 30 dias após o fim da análise. A ideia é que cabe à Corte avaliar eventuais melhorias no sistema de votação. Até o momento, a Defesa não concluiu o trabalho realizado no primeiro turno. E a previsão é que o relatório final englobe várias outras atividades de fiscalização, a começar pela análise feita pelos militares, em setembro, do código-fonte das urnas eletrônicas.

Nas últimas semanas, porém, o Ministério da Defesa e a Controladoria-Geral da União (CGU), órgão de fiscalização do governo que também averigua o funcionamento do sistema de votação eletrônica, apresentaram ao TSE várias sugestões de melhorias com base no que foi verificado no primeiro turno. A Defesa e a CGU consideram que algumas falhas detectadas, relativas tanto aos boletins de urna, quanto ao teste de integridade, não comprometem a eleição em si, mas poderiam ser corrigidas para aumentar a confiança da população no sistema.

O boletim é um extrato impresso pela urna contendo a soma dos votos em cada candidato naquela seção eleitoral. Uma versão digital é transmitida para o TSE para compor o resultado final da eleição, e cada um é publicado no site oficial do Tribunal. A Defesa fez e novamente fará a conferência de centenas de boletins – no primeiro turno, os militares fotografaram 442 unidades e enviaram à Defesa para verificar se correspondem aos divulgados pelo TSE. O Tribunal de Contas da União (TCU), que também fiscaliza o TSE e sempre avalia de forma positiva o sistema, também está fazendo esse tipo de verificação, mas com 4.161 boletins de urna.

Já o teste de integridade retira da seção, no dia da eleição, determinada urna que seria usada na eleição. Votos previamente preparados são digitados na máquina e inscritos em cédulas. Ao final, os dois resultados são comparados. O uso da biometria, dentro da seção, formato pedido pelos militares, é uma forma de aproximar a urna, na maior medida possível, da condição normal de uso – o objetivo é evitar que ela perceba que é testada e se comporte de forma diferente. A própria Defesa já cogitou, publicamente, a hipótese de um código malicioso, inserido por invasores externos ou um agente interno da Justiça Eleitoral, alterar os votos. Ao aproximar o teste da votação real na maior medida possível, o objetivo é flagrar se há desvio.

Depois do primeiro turno, a Defesa não divulgou qualquer conclusão sobre o que observou no teste. O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, celebrou o resultado durante uma sessão, dizendo que, como sempre, não foram encontradas divergências entre a soma dos votos eletrônicos e os de papel – tanto no modelo tradicional, sem biometria e operado por servidores, realizado em 583 urnas; quanto no formato novo, chamado “projeto-piloto”, com biometria de eleitores voluntários, realizado em 58 urnas em 19 estados e no Distrito Federal.


Quais melhorias a Defesa sugeriu ao TSE para o segundo turno
Defesa e CGU, porém, consideraram baixo o número de eleitores que participaram do projeto-piloto. Aceitaram testar a urna com biometria 2.044 eleitores voluntários – o que corresponde a 12,9% do total de eleitores que compareceram às seções selecionadas para o teste. Para os ministérios, o ideal seria que participassem ao menos 82%. Isso porque a própria resolução do TSE que regulamenta o teste de integridade diz que devem ser digitados nas urnas algo entre 75% e 82% de votos previstos nelas em suas respectivas seções, a fim de aproximar da média de uma votação real – a ideia, novamente, é aproximar o máximo o funcionamento da urna testada de uma que funciona na eleição real.

A hipótese por trás dessa sugestão de aumentar o número de eleitores é driblar um suposto código malicioso que detecte que a urna é testada ao registrar algo entre 75% e 82% dos votos, como prevê a resolução. A suspeita é que recebendo votos acima desse percentual a máquina poderia desviar votos. Assim, se o teste for feito em mais que 82% dos votos previstos, ele poderia captar essa suposta fraude.

Em resposta já enviada à Defesa, o TSE informou que, como a participação dos eleitores é voluntária, não há como forçá-los a fazer o teste. Militares, no entanto, observaram que nem todos os eleitores da seção foram convidados para participar porque, em geral, apenas um ou poucos servidores naquela seção anunciavam essa oportunidade. A ideia da Defesa é de divulgar melhor e deixar mais servidores disponíveis, para que todos os eleitores sejam convidados.

Quanto aos boletins de urnas, a sugestão é garantir que todas as seções de fato afixem e os deixem visíveis na porta da seção eleitoral. No primeiro turno, militares constataram que em 20 seções o documento não foi afixado ou não pôde ser conferido porque o acesso ao local foi fechado ao fim da votação. A Defesa propõe reforçar, junto aos servidores e mesários, a necessidade de exibir o boletim.

Declarações de Bolsonaro causam desconfiança no TSE
Desde o início do ano, a fiscalização dos militares é motivo de apreensão Nas Cortes superiores de Brasília em razão de repetidas insinuações do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que só aceitará uma eventual derrota na disputa presidencial caso se assegure que as eleições foram limpas. Por isso, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE têm sinalizado que não aceitarão qualquer contestação que possa tumultuar o processo, especialmente após as eleições. Para isso, mobilizaram também o TCU, cujo presidente, o ministro Bruno Dantas, tem cobrado da Defesa explicações sobre o objetivo e os critérios usados para a fiscalização das urnas feita pelos militares.

O discurso já externado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, é que, como as Forças Armadas foram convidadas pelo TSE para fiscalizar o sistema, os militares querem realizar um trabalho sério e profundo. Nos bastidores, militares acreditam que outras entidades fiscalizadoras, como a maioria dos partidos, não examinam tecnicamente e a fundo os programas e equipamentos. A Defesa sustenta, porém, que seu objetivo nunca foi atacar o sistema, para contestar resultados. Mas sim aperfeiçoar o sistema.

Especialistas externos, principalmente ligados a universidades, também entendem que é possível melhorar o sistema de votação eletrônica. Há tempo se cobra, por exemplo, que o TSE publique de forma permanente os códigos-fonte das urnas, de modo que todos os especialistas possam inspecioná-lo a qualquer momento para tentar achar falhas. É algo que o Tribunal promete fazer nos próximos anos.


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LIVRO DO ECLESIASTES E SEUS ENSINAMENTOS EM CASO DE VITÓRIA

 

                                                                 O QUE O LIVRO DO ECLESIASTES NOS ENSINA 

Fumaça

Por
Paulo Polzonoff Jr.


Rei Salomão, considerado o autor do Eclesiastes, em ilustração de Gustave Doré.| Foto: Reprodução/ Wikipedia

MINISTÉRIO DA SABEDORIA
SECRETARIA DE DILEMAS ETERNOS
GABINETE DO REI SALOMÃO (DIZEM)
PORTARIA Nº XXII, de 30 de outubro de (20)22

ARTIGO ÚNICO: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

§ 1º. – Coincidentemente, antes de começar a escrever este texto me deparei com a capa antiga de uma revista esquerdista reclamando que a Bíblia teria suplantado a Constituição. Primeiro pensei em dizer ao Mino Carta que todas as Constituições do mundo Ocidental são influenciadas pela Bíblia. Mas é difícil ensinar obviedades a comunistas velhos. Depois, tive essa ideia maluca aí de escrever sobre o Eclesiastes como se fosse um documento oficial. Como se fosse uma lei, uma portaria, um decreto. Enfim.
                I – É bem provável que a formação esteja em desacordo com as regras da ABNT e, sinceramente, não estou nem aí. Aliás, não tô nem aí.
                II – Pensei: “Já que estamos vivendo sob uma juristocracia de forte inspiração positivista, nada melhor do que um texto que pareça um documento desses que os tecnocratas leem com indisfarçável prazer”. Mas não é.

§ 2º. – Antes de entrar no assunto propriamente tido, convém acatar a sugestão do editor e explicar que não, não está faltando nada ao título. Não escrevi “ou derrota” porque numa eleição está implícito que, se alguém ganha, outro alguém tem que perder. Tampouco escrevi ali o nome do vencedor porque o Eclesiastes serve tanto para a vitória quanto para a derrota do nosso candidato preferido.
                I – Seria patético bancar o isentão aqui. E ainda mais numa hora dessas. E num dia como hoje. Todo mundo sabe qual o meu candidato preferido.

§ 3º – Sobre o Eclesiastes, teve uma época em que eu o lia todos os meses. Mesmo. É um livro duro. Árido. É preciso caminhar muito por ele até encontrar algum alívio, alguma esperança. Para os que não temem a insolação ou as bolhas no pé, a recompensa é uma avassaladora sensação de pequenez que, percebo agora, dialoga bem com os versos de João Filho que servem de epígrafe neste espaço: “Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha”.

§ 4º. – Ah, sim. Você quer saber o que o Eclesiastes ensina. Pois bem. A mensagem mais óbvia do livro (o oásis mais próximo do errante sedento) é a de que tudo neste mundo é transitório. Inclusive essa felicidade ou tristeza que você está sentindo neste momento. O Eclesiastes nos dá a dimensão exata da nossa finitude, em comparação com a Eternidade de Deus.
                I – Vaidade das vaidades, portanto, é um alerta de que a nossa tendência contemporânea a nos importarmos demais com as alegrias ou infortúnios terrenos não passa de um eco da soberba que deu origem ao pecado.
                II – Escrevi bobagem. Essa tendência não tem nada de “contemporânea”. É uma tendência mais velha do que andar para frente. Ou para trás. Ou para os lados.
                III – Faz sentido falar de soberba para um esquerdista? A razão diz que não. Afinal, o marxismo progressista é pura soberba. É se achar capaz de criar um mundo melhor do que o de Deus. Mas a fé diz que sim, faz sentido e vale a pena. Sempre existe uma possibilidade de alguém realmente ouvir. Ou, no caso, ler.

§ 5º. – Uma curiosidade: um grande amigo e talvez a pessoa mais inteligente que já conheci diz que há por aí traduções diferentes para o célebre adágio “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Algumas versões preferem “vacuidade” ou “futilidade”. Mas a tradução literal, acho que do grego, seria… “fumaça”.
                I – Fumaça das fumaças, tudo é fumaça. Taí. Gostei.
                II – E combina bem com a atmosfera das eleições que motiva esta crônica.

§ 6º. – Outra coisa interessante é que o Eclesiastes é o livro preferido dos… ateus. Aliás, conheci um ateu que jurava por tudo quanto é mais sagrado que o Eclesiastes provava a inexistência de Deus. Isso é que eu chamo de vaidade. De soberba.
                I – De fumaça.

§ 7º. – Reconhecer que tudo é vaidade, que tudo é transitório e que não há nada de novo sob o Sol muitas vezes é confundido com apatia ou resignação. Prefiro interpretar o ensinamento como um chamado à contemplação e à humildade. E, já que este texto tem a ver com política, dá para ler o Eclesiastes como um chamado aos princípios conservadores da prudência e da temperança.
                I – Nada mais soberbo do o espírito revolucionário. Nada mais destruidor. Nada mais transitório.
                II – Um dia até o mais supremo dos ministros voltará ao pó. E não há decisão do TSE capaz de mudar isso.

§ 8º. – O que quero dizer, mas ainda não disse, é que independentemente de quem seja eleito presidente do Brasil, é bem provável que nos próximos dias estejamos aqui discutindo, analisando, antecipando cenários, despertando sentimentos insondáveis uns nos outros, elogiando, xingando e, principalmente, esfregando na cara do amiguinho derrotado: “Eu tenho razão!”. Ou seja:

§ 9º. – Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Já dizia Salomão e incontáveis sábios depois dele. É uma verdade que teimamos em esquecer. Mas que, de vez em quando, vale a pena lembrar. Hoje, por exemplo.

Publique-se. Reaja-se. Comente-se.


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BOLSONARO CRÊ NA SUA REELEIÇÃO

 

Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Por Marcelo Godoy e Pedro Venceslau – Jornal Estadão

Presidente encerra campanha com reveses na Justiça e um pouco atrás de Lula nas pesquisas, mas com a certeza de que será reeleito

Era noite de 2 de outubro quando Jair Bolsonaro (PL) deixou o Ministério da Defesa, onde acompanhara a fiscalização paralela dos militares da apuração de votos feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que acabou com ele em segundo lugar, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente decidiu dar uma entrevista, a primeira aparição após saber que voltaria às urnas neste domingo, 30. O que disse a seguir definiu a estratégia em busca da virada no segundo turno.

Por seis minutos, afirmou que o voto fora em grande parte motivado pelo aumento dos preços dos produtos da cesta básica. Não contestou o resultado. Procurou explicá-lo e compreendê-lo, sem jogar a toalha. “Entendo que tem vontade de mudar, mas tem certas mudanças que podem ser para pior.” Bolsonaro se esforçou para mostrar as dificuldades e para alertar que a alternativa seria perigosa.

“Vamos mostrar a Argentina e a Venezuela também.” Buscava mobilizar o medo da mudança, que os cientistas políticos dizem ajudar o candidato à reeleição. Para tanto, sabia que tinha de mostrar resultados do governo, pois este é outro fator que o eleitor leva em consideração: o que o presidente que busca a reeleição fez?

“Temos dados positivos”, disse o presidente. Para exibi-los, tinha prazo de quatro semanas. Sabia que a tarefa não seria fácil. “Existe o sentimento na população de que a vida dela não ficou igual ao que estava antes da pandemia. Ficou pior. E a tendência é buscar o responsável; e o responsável é o chefe do Executivo.”

ATAQUES

Bolsonaro criticou as pesquisas, que, no primeiro turno, registravam menos intenções de voto do que o resultado obtido nas urnas. “Elas estão desmoralizadas”, afirmou. Nos dias seguintes, seus aliados tentaram aprovar um projeto de lei que criminaliza as “pesquisas erradas”. Por fim, o presidente enumerou o que sua candidatura representava: família, legítima defesa e a defesa da liberdade. “E, do outro lado, a negação disso tudo.”

Bolsonaro apostava em uma campanha que uniria os métodos tradicionais – comícios, propaganda na TV e apoios políticos – com a atuação nas redes sociais, a parte digital que seus apoiadores consideram ser a mais importante razão de sua vitória em 2018. Havia a expectativa de que a virada se concretizaria. Afinal, a diferença para Lula nas urnas fora só de cinco pontos porcentuais.

Em quatro anos, o capitão reformado do Exército e ex-deputado federal deixara de ser, para a oposição, o fantasma que rondava o Planalto. Contra ele se uniram adversários das últimas décadas, como Fernando Henrique Cardoso e Lula. Mas, no começo da campanha do segundo turno, os adversários pareciam desorientados.

Já o núcleo duro da campanha de Bolsonaro esbanjava confiança. Foi integrado à comunicação o marqueteiro Alan Barros, que passou a atuar ao lado de Duda Lima, nome de confiança de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Desafetos nos tempos de governo, Fabio Wajngarten e Fábio Faria consolidaram uma aliança e, nas semanas finais, assumiram com mão de ferro a estratégia de comunicação.

Queriam reformular a campanha no rádio e na TV. O tom “propositivo” e moderado soou elitizado no momento em que os adversários usavam “artilharia pesada”. A campanha optou pela ofensiva ao mesmo tempo que o candidato se mantinha moderado. Chegou a brincar com os jornalistas que o entrevistavam.

CLIMA

O que ninguém previa é que a oposição aprendera a usar as mesmas armas de Bolsonaro nas redes sociais. Entre os dias 15 e 16 de outubro, surgiu em perfis lulistas o primeiro golpe: um vídeo no qual o presidente dizia a frase “pintou um clima”, ao tratar de jovens venezuelanas de 14 anos, que avistara na periferia de Brasília.

Bolsonaro supunha que elas estavam se prostituindo. Em pouco tempo, o deputado federal André Janones (Avante-MG) e a presidente do PT, Gleisi Hoffman, espalhavam a história – eram meninas que participavam de uma ação social patrocinada por uma entidade.

A campanha acusou o golpe. Bolsonaro fez uma live na madrugada do dia 16, um domingo, para desmentir o assédio às garotas. “O PT recorta pedaços como se eu estivesse atrás de programas. Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia.” O caso atingiu a base bolsonarista mais leal: os evangélicos. E ampliou a rejeição entre as mulheres. A campanha convocou a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) para defender o candidato.

Depois, veio o momento de maior desgaste, segundo integrantes da campanha: o vazamento da intenção do ministro da Economia, Paulo Guedes, de desatrelar o salário mínimo da inflação. O caso foi classificado como “desastroso”. O presidente, ainda, mostrava-se sorridente e confiante. Seu humor só mudou com os tiros e granadas lançados pelo ex-deputado Roberto Jefferson em direção aos agentes federais que foram prendê-lo. Bolsonaro tentou evitar o estrago com um vídeo, chamando o aliado de bandido.

No dia seguinte, Fábio Faria convocou uma entrevista para denunciar que rádios não estariam exibindo a propaganda eleitoral de Bolsonaro. Dias depois, reconheceu que era obrigação do PL fiscalizar as rádios, não a Justiça. E revelou que bolsonaristas tentaram usar o caso para adiar as eleições. O TSE arquivou a denúncia e abriu investigação para apurar crime eleitoral.

O presidente chegou às urnas com esse revés na Justiça e atrás nas pesquisas – apesar das sondagens apertadas. Mesmo assim, Bolsonaro mantém a crença de que vencerá.

DEPOIS DESSA ELEIÇÃO E PANDEMIA NUNCA MAIS SEREMOS OS MESMOS

 

Eleições

Por
Jean Marques Regina
e

Por
Thiago Rafael Vieira – Gazeta do Povo


Detalhe de estátua da Justiça diante do prédio do STF.| Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

Sempre que há grandes acontecimentos, tendemos a dizer que as coisas nunca mais serão as mesmas. O que é uma grande verdade, pois estamos sempre em movimento. Afinal, quem de nós estará por aqui dentro de 50 anos?

A pandemia foi um desses grandes “pontos de virada”. Incluiu as pessoas (há quem diga forçosamente) na dimensão digital da vida. Para o bem ou para o mal, atingimos outro patamar na maneira de convívio humano. Temos literalmente uma vida on-life: um hibridismo entre atividades presenciais e virtuais.

Neste contexto também se inauguram conflitos crescentes na “arena pública digital”. Afinal, onde há gente normalmente há encrenca. E ali, no espaço cibernético, levamos as mesmas marcas que carregamos na vida analógica. Porém com um alcance maior, e poder (relativo) de influência, contido não pela opinião dos outros, mas pelos algoritmos. Nossa vida é editada não apenas pelos atores de novela e apresentadores de jornais, mas por sofisticados programas computacionais e pela própria inteligência artificial, que analisa e “aprende” com nossos hábitos e comportamentos frente ao computador.

Em um curto espaço de dois anos, todo o sistema jurídico baseado em liberdades fundamentais parece ter sido abalado de maneira estrutural

Vimos ainda as arbitrariedades cometidas por gestores de toda ordem. Em um curto espaço de dois anos, todo o sistema jurídico baseado em liberdades fundamentais parece ter sido abalado de maneira estrutural. Rachaduras em lugares estratégicos, parece até que calculadas, e com desdobramentos que estamos vendo neste momento tão surreal em meio à maior disputa eleitoral da história brasileira.

Como já dissemos algumas vezes nesta coluna, a liberdade religiosa é, historicamente, reconhecida como a primeira das liberdades. Consagra a dimensão espiritual – o impulso natural pela adoração e conexão com algo que transcenda esta nossa existência biológica tão frágil e rápida. Também estrutura e ordena uma escala de valores comuns que determinará até onde os outros podem interferir na minha vida privada, e qual o conjunto de obrigações pelo bem comum que sou obrigado a contribuir. Quando esta liberdade é colocada em xeque, o sistema todo sofre. E quando ela é violada, o abalo põe realmente a perigo todo o edifício chamado “democracia”.


Uma carta para quais evangélicos?
Pois foi justamente isto que aconteceu em 2021, quando o STF julgou (na ADPF 811) que as igrejas deveriam permanecer fechadas no meio da pandemia. Nós avisamos, gritamos dos outeiros, fizemos a nossa parte, inclusive participando da sessão de julgamento. Foi uma “lavada” de 9 a 2, com as honrosas exceções dos ministros Nunes Marques e Dias Toffoli à ocasião. Porém atravessou-se o Rubicão. Foi um estopim para se acelerar a degradação das liberdades fundamentais, gerando as distorções que agora testemunhamos.

Assim como jamais sairíamos ilesos da pandemia, tampouco sairemos ilesos deste processo eleitoral de 2022. Este dia 30 marcará o fim da batalha mais desequilibrada – de maneira descarada – e do maior aparelhamento do Estado para o favorecimento de um projeto de poder, como jamais visto em minha geração, ao menos. E, obviamente, se a “liberdade-fim”, que é a religiosa, poderia ser torcida pelos “supremos”, a “liberdade-meio”, que é a de expressão, não poderia também sair ilesa.

Desde o início do processo até agora, o que se viu nas cortes eleitoral e suprema foi o absoluto vilipêndio aos axiomas constitucionais que juraram defender. Em nome do “combate à desinformação”, chegaram ao cúmulo de obrigar veículos a mentir a respeito da (des)condenação do candidato para o qual pendeu fortemente a balança de Themis; para quem ousou discordar, a espada não só foi alerta, mas fez vários cortes e decepou algumas cabeças, no bom estilo francês. Afinal, no dizer do atual “supremo dos supremos”, “basta prender um ou dois que eles param”.

As marcas deste processo serão difíceis de se apagar do sistema, pois elas passarão a ter o nome de “precedentes”

Não, senhores, não sairemos ilesos deste processo. As marcas serão difíceis de se apagar do sistema, pois elas passarão a ter o nome de “precedentes”. E é justamente este tipo de abuso que marca a derrocada do “rule of law”, do império da lei, pilar essencial de uma democracia. Tristemente, mas, para confirmar a teoria, tudo começa mesmo (e parece que termina também) na liberdade religiosa.

Que o resultado das urnas nos permita a oportunidade de continuarmos a buscar o aprimoramento das instituições – não apenas do Estado, posto que corolário das demais –, quais sejam, a família, a propriedade privada, a Igreja, e tudo o que possa servir de contenção à sanha de controle de alguns daquilo que somente pertence a Deus: nossos corpos, nossa mente e nossa alma.


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