O último líder soviético, Mikhail Gorbachev, que morreu aos 91 anos.| Foto: EFE/EPA/STRINGER
A
morte de Mikhail Gorbachev, em meio ao alarido belicista de Vladimir
Putin, com sua guerra à destempo e revelia da civilização e da história,
repercutiu para além do mero obituário, evocado como louvado e
reconhecido estadista.
De fato, Gorbie, o último premiê soviético, entra para a galeria de
vultos a celebrar mais pelo que impediu que se fizesse, do que pelo que
de fato fez, no rearranjo da Rússia da glasnost (reforma política) e da
perestroika (liberalização).
Com a dissolução do império soviético, a par da derrocada do projeto
dirigista das utopias autoritárias, era necessário reposicionar a
Rússia. Encontrar saída aceitável para o gigante moribundo, que sobrava e
soçobrava, sem tolher-lhe a dignidade histórica de membro permanente do
Conselho de Segurança da ONU. O desmonte das oligarquias viciadas, a
par do esforço para construir a nova relação com os vizinhos e com o
mundo foi imenso desafio. Da mesma forma, a economia destroçada por
seguidos desgovernos não alentava.
Por um lado, como gestor da ruína, Mikhail Gorbachev foi
responsabilizado por ultranacionalistas por toda a derrocada da ex-União
Soviética, e por outro foi reconhecido na prevenção de tragédias
imensuráveis.
A busca de abertura como solução de choque, adotada como novo modelo,
que não permitiu ou ao menos adiou a virulência das guerras intensas,
mostrou-se providencial. Basta lembrar, como tristemente constatamos em
seguida, o que aconteceu na implodida e massacrada Iugoslávia. Ao evitar
banho de sangue imediato ao fim da URSS, também Gorbie foi admirável.
Se por um lado, como gestor da ruína, Mikhail Gorbachev foi
responsabilizado por ultranacionalistas por toda a derrocada da ex-União
Soviética – e até pelos muros que se dissolviam no ar – por outro, foi
reconhecido na prevenção de tragédias imensuráveis, ao agir no controle
de arsenais atômicos das sub potências que restavam do colapso
socialista.
O fim de século que se viveu, no rescaldo da Guerra Fria e no
apaziguamento das viúvas da Cortina de Ferro, levará nome e sobrenome.
Também no que concerne à revalorização da aura russa no ocidente, como
“constructo” de um possível pertencimento comum pelo compartilhar
cultural, que o premiê sorridente acabou por refazer despertar.
Nesse sentido, era o líder culto, educado e confiável a resgatar o
quê russo da alma clássica, tão marcante também no ocidente, seja pela
seja literatura imortal de Tolstói, Dostoiévski, Tchekhov, seja pela
música indelével de Tchaikovsky, Rachmaninov ou Stravinsky.
Eric Hobsbawm, o historiador da Guerra Fria por excelência, resumiu
de forma singela o perfil de Mikhail Gorbachev, como um dos homens
essenciais de seu e de todos os outros tempos. “Íntegro e notoriamente
bonachão, suas ações foram marcantes. Como secretário-geral do Partido
Comunista Soviético, a partir de 1985, suas escolhas condicionaram a
estabilidade regional e a ordem internacional. Ser seu contemporâneo é
um privilégio. A humanidade sempre estará em dívida com ele”, escreveu o
historiador.
Os novos trajes espaciais da Nasa para ir à Lua| Foto: Andrew CABALLERO-REYNOLDS/AFP
Após
um breve adiamento por conta de problemas no hidrogênio líquido de um
de seus motores, a missão Artemis 1 tem uma nova data para o seu
aguardado lançamento, segundo a Nasa, a agência espacial
norte-americana: sábado, dia 3 de setembro, caso as condições técnicas e
climáticas permitam.
Tudo em uma missão como a Artemis precisa ser realizado com o máximo
de diligência para que planejamentos de quase duas décadas e bilhões de
dólares investidos não sejam desperdiçados. Contudo, o lançamento da
Artemis 1, que não será tripulado, é apenas o primeiro passo de uma
série de testes até 2025, no qual veremos as capacidades e potenciais
riscos de um retorno ao solo lunar desde que estivemos lá pela última
vez, em 1972, com a Apollo 17.
De modo mais vital, os dois principais pontos de atenção para a Nasa
nesse primeiro lançamento da Artemis são o seu mega foguete e a cápsula
onde eventualmente estarão os astronautas da agência. Chamado de Space
Launch System ou SLS (em português, Sistema de Lançamento Espacial), ele
é o foguete mais potente já criado, e será capaz de lançar a Órion,
nave que terá astronautas um dia, para uma viagem ao redor da Lua, a
cerca 384 mil quilômetros, e retornar. O desafio será estabelecer uma
operação de lançamento e retorno que o torne reutilizável em suas
próximas missões, um total de seis nos próximos três anos.
Quanto à Órion, que estará representada na Artemis 1 por meio de
diversos sensores, as observações serão focadas no funcionamento da
integração do Módulo de Serviço Europeu (ESM), construído pela Airbus,
aos módulos de Serviço e Comando, feitos pela Lockheed Martin. Até o
momento, segundo a Nasa, a Órion tem muito de seus sistemas aviônicos e
eletrônicos já montados. Mas os testes ambientais e de ciclos térmicos,
sua capacidade estrutural de resistir à reentrada na Terra – aquecida a
milhares de graus Celsius e com perspectiva de um enorme impacto na água
– serão mostradas agora em condições reais.
A primeira missão de fato tripulada da Artemis com o intento de pisar
na Lua deve ocorrer apenas em 2025, mas a Nasa já aposta em uma
composição de equipe de até quatro tripulantes marcada pela diversidade.
Há um interesse real em tornar esse retorno humano à Lua mais alinhado
aos valores da Nasa e da sociedade do século XXI, promovendo uma visão
diversificada para o futuro da exploração espacial. Já é garantido,
conforme anunciado, que ao menos um dos astronautas da missão será uma
mulher e outro não será caucasiano.
Pisar na lua novamente, após 50 anos, será algo novo e com uma
perspectiva completamente diferente em uma era na qual a exploração
espacial tem aspectos comerciais, com empresas como SpaceX e Blue Origin
disputando novos domínios. O que a Artemis propõe, apesar de parecer
repetido, são novos capítulos da nossa jornada às estrelas, como colocar
um satélite na órbita da Lua e criar uma base para habitação humana,
coisas que serão essenciais para entender como avançaremos para outros
planetas no futuro.
Ex-juiz Sergio Moro disputa vaga do Senado pelo estado do Paraná| Foto: Reprodução/Facebook
Uma
operação da Policia Federal apreendeu na tarde deste sábado (3)
diversos materiais de campanha do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro
(União Brasil) por supostas irregularidades. Moro é candidato ao Senado
pelo estado do Paraná a ação foi autorizada pela Justiça Eleitoral.
De acordo com a juíza auxiliar Melissa de Azevedo Olivas, do Tribunal
Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), os materiais de campanha do
ex-juiz estavam com uma série de irregularidades. A decisão acatou um
pedido da federação formada por PT, PCdoB e PV e que apoia o
ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva.
Na decisão, a juíza afirma que nas redes sociais do Twitter,
Instagram e no site oficial, indicados na inicial, Moro “sequer menciona
o nome dos suplentes, em absoluta inobservância à legislação
eleitoral”. “É evidente a desconformidade entre o tamanho da fonte do
nome do candidato a senador relativamente a dos suplentes”, disse,
referindo-se aos banners publicados pelo candidato nas redes.
Além disso, a magistrada alegou que a palavra “MORO” está em
evidência e em tamanho “muito superior a 70% do nome dos suplentes,
sendo imperiosa a remoção dos conteúdos que veiculam propaganda
irregular, nas URLs indicadas no documento”.
Ainda de acordo com o TRE-PR, o material passível de apreensão é “tão
somente aquele indicado na presente decisão, arquivado em Secretaria e
comprovadamente em desconformidade com a legislação”. Se mantiver as
propagandas em desconformidade com a Lei Eleitoral, Moro será obrigado a
pagar uma multa diária de R$ 5 mil.
Moro criticou ação movida pelo partido de Lula A apreensão dos
materiais com a supostas irregularidades ocorreu na casa de Sergio
Moro, pois o endereço foi o informado por ele no registro de sua
candidatura como o do escritório da campanha. Entre os materiais
excluídos, estão todos os vídeos do canal de Sérgio Moro do YouTube,
inclusive aqueles com críticas ao ex-presidente Lula.
Pelas redes sociais, o candidato ao Senado criticou o partido do
ex-presidente Lula e afirmou que não será intimidado. “Imprimir
santinhos com letras dos nomes dos suplentes supostamente menores do que
o devido é nada comparável aos bilhões de reais roubados durante os
governos do PT e do Lula. Não me intimidarão. Repudio a tentativa
grotesca de me difamar e de intimidar minha família”, disse Moro.
Em nota, o PT criticou Moro e também o candidato do presidente Jair
Bolsonaro (PL) ao Senado no Paraná, Paulo Martins (PL). “A legislação
eleitoral deve ser cumprida. Os candidatos ao Senado no Paraná, Sérgio
Moro e Paulo Martins, não estão acima das regras eleitorais, assim como
qualquer outra candidatura. Reafirmamos nosso compromisso com a
democracia, com eleições justas e limpas. Seguimos vigilante no combate a
possíveis irregularidades”, disse o PT.
Polarização Eventos simultâneos ganham conotação política Por Leonardo Desideri – Gazeta do Povo Brasília
Grupo B-38 organiza manifestações de apoio a Bolsonaro para 7 de setembro em 2,9 mil cidades| Foto: Alan Santos/PR
Na
semana em que o Brasil comemora 200 anos de sua Independência, dois
grandes eventos simultâneos deverão traduzir o clima de polarização
política que o país vive hoje.
Para o dia 7 de setembro, estão marcadas manifestações nas ruas de
todo o país convocadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, com o
Rio de Janeiro sendo o palco principal. A data coincide com o período
do festival de música Rock in Rio, que começou na última sexta-feira (2)
no Parque dos Atletas, também no Rio de Janeiro, e vai até o dia 11 de
setembro.
Oficialmente, o festival não tem viés político, mas, a julgar pelo
que ocorreu em março no Lollapalooza, em São Paulo, e pelo viés
ideológico de grande parte dos artistas que estarão no Rock in Rio, é
difícil imaginar que não se veja nenhum tipo de manifestação política
contra Bolsonaro.
É provável que as demonstrações partam mais do público do que dos
músicos, já que houve um cuidado dos organizadores do evento para
orientar os artistas a estarem atentos à Lei Eleitoral durante o período
de campanha. “Não será autorizada a presença de nenhum candidato a
estas eleições em seus palcos”, disse a organização em um comunicado,
recomendando que “todas as empresas, instituições e artistas envolvidos
com o evento tenham conhecimento da Lei Eleitoral”.
Bolsonaro estará no Rio de Janeiro nos dias 7 e 8 de setembro, e o Rock in Rio terá shows dos dias 2 a 4 e dos dias 8 a 11.
Esta será a primeira vez em seus 37 anos que o festival acontecerá em
período eleitoral. Os organizadores têm buscado definir o evento como
apolítico e desassociá-lo de um dos lados da disputa eleitoral. Em
entrevista de julho à revista Veja, a chefe da organização do evento,
Roberta Medina, disse que “política não se faz em festival, nem com
torcida, e sim com debate”.
Para os eventos do 7 de setembro, a tendência de politização tem
preocupado as Forças Armadas, de acordo com a CNN. O Comando Militar do
Leste do Exército Brasileiro estaria estudando colocar as autoridades
presentes no desfile mais próximas do Forte de Copacabana e mais
distantes do hotel Copacabana Palace, perto de onde se deverão
concentrar atos pró-Bolsonaro. A ideia seria evitar dar um tom
politizado às comemorações oficiais.
O que pode e não pode ser feito nos eventos?
A preocupação com o teor das manifestações durante os eventos não é
por acaso: o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre
de Moraes, usou a palavra “implacável” para definir como será a atuação
da Justiça Eleitoral durante seu mandato.
O advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Constitucional,
diz que a liberdade de manifestação é assegurada pela lei mesmo durante o
período eleitoral. Todos têm o direito de expressar suas opiniões,
desde que não convertam os eventos em comícios – que, para ocorrerem,
precisam ser declarados à Justiça Eleitoral.
“Um comício difere de uma manifestação pública. Passeatas não
configuram, juridicamente, um comício. A liberdade de manifestação é
assegurada. Por mais que no Rock in Rio, por exemplo, um candidato não
possa se manifestar, o artista tem liberdade de expressão, desde que ele
a exerça dentro dos limites legais. Ele não pode transformar o show num
comício, mas pode manifestar a sua opinião”, explica.
Miranda reconhece que “isso carrega certo grau de subjetivismo”, mas
diz que há dois aspectos mais importantes: que os candidatos não
participem dos atos, e que o artista se expresse “dentro de um limite de
razoabilidade, manifestando a opinião, sem fazer campanha”.
A situação muda para eventos oficiais, nos quais não se admite
qualquer tipo de manifestação favorável a um lado político. Isso explica
por que o Comando Militar do Leste estaria tentando desassociar ao
máximo as celebrações oficiais dos 200 anos da Independência das
manifestações pró-Bolsonaro.
“Em um evento custeado com o dinheiro público, não se pode fazer
campanha, porque não se pode usar dinheiro público para campanha. Neste
contexto, caso alguém faça alguma manifestação, aí sim nós estaríamos
diante de uma ilegalidade”, diz Miranda.
Nas manifestações extraoficiais das ruas ou em um evento de caráter
privado como o Rock in Rio, há mais flexibilidade, mas, mesmo assim, há
certas restrições, em especial no que se refere à participação de
candidatos.
“O candidato não pode pedir votos, porque nós estaríamos equiparando
essa circunstância a um comício, e o comício depende de autorização da
legislação eleitoral, o que nós não teríamos neste contexto”, explica o
advogado. “Um comício deve ser divulgado antecipadamente como comício,
para que só compareçam, por livre e espontânea vontade, as pessoas que
estejam aderindo àquele candidato.”
O personagem desta crônica nasceu com um único propósito: exalar
arrogância e votar nulo ou em branco (ele não tem certeza ainda).| Foto:
Reprodução/ Senado
Este personagem se chama Rafael. Não é
nenhuma referencia indireta nem homenagem. Foi só o nome que ocorreu ao
escritor na hora em que estava escrevendo a primeira frase. Como todo
personagem que se preze, Rafael veio ao mundo com um único propósito e,
para isso, nasceu já todo vestido com sua roupa de domingo. É que ele
vai votar.
Como convém a um eleitor, pois, o personagem tem mais de 16 anos. O
escritor que o concebeu assim apressadamente lhe conferiu outros
atributos, a saber: orelhas pontudas como as de um elfo ou asno (por que
não?), cabelos abundantes (por que não?) e, no bolso, um cartão de
crédito sem limite (por que não?). Além disso Rafael é, para todos os
efeitos, um menino inteligente – ou pelo menos esforçado.
Uma vez nascido Rafael, vale dizer que ele acabou de tomar um café da
manhã reforçado a fim de participar da festa da democracia. [barulho de
um prato jogado contra a parede] Cuidado! Tá todo mundo bem aí? Esqueci
de avisar, mas Rafael é dado a ataques de violência quando escuta
falarem em “festa da democracia”. E esta é outra circunstância do
personagem que cabe ao escritor esclarecer: Rafael não acredita em
democracia, não gosta de democracia, talvez até odeie democracia. “Sim,
eu odeio a democracia”, esclarece ele. E, por isso, Rafael está saindo
de casa para votar nulo. Ou em branco – ele não tem certeza ainda.
A decisão de votar nulo/branco foi tomada há muito tempo. Antes mesmo
de Rafael nascer. O escritor não sabe precisar quando. E é neste
instante que o personagem se levanta para dar de dedo na cara de quem o
criou com tanto amor e carinho e dizer que foi no dia 25 de setembro de
2021, numa discussão entremeada por sarcasmos e chistes, durante a qual
Rafael percebeu que simplesmente era muito superior à ralé (palavras
dele!) que “fica nessa disputa aí entre Jair Bolsonaro e Lula”.
O escritor, com toda a paciência do mundo, cogita argumentar que em
2021 não tinha nem pensado na possibilidade de escrever esta crônica,
mas desiste. Seria perda de tempo. Vamos em frente com a história. E é
melhor correr, porque Rafael já está lááááá longe, quase entrando na
seção eleitoral. Repara, leitor, como o personagem empina o nariz e,
todo garboso, cumprimenta os desconhecidos. E sobe um, dois, três lances
de escadas até o salão nobre da escola Paulo Freire, onde, de dois em
dois anos, é convidado a depositar esperanças difusas em uma ou mais
pessoas com as quais ele jamais trocou uma só palavra. Rafael suspira.
“Esse aí não dá”, diz ele para o escritor – que nem lhe perguntou
nada. “Esse outro também não”, acrescenta, sem que o escritor precise
lhe pedir qualquer tipo de esclarecimento. “Pode botar aí na sua crônica
que eu não tenho político de estimação”, pede, ou melhor, manda Rafael a
um escritor que, na pressa, esqueceu o bloquinho de anotações. Além do
mais, quem esse personagem acha que é para sair dando ordens assim? Não
vou anotar porcaria nenhuma.
O escritor se perde nesse ressentimento inútil e, quando percebe, o
personagem já está diante da mítica e, você sabe, infalível urna
eletrônica. Sem ligar para os mesários, o escritor avança e se coloca ao
lado de Rafael. Para deputado federal ele vota 9999, vira-se para o
escritor e ri. “Quem se importa?”, pergunta. Para deputado estadual,
99999, a mesma risada e a mesma pergunta, resumida a um arquear
sarcástico de sobrancelha. Para Senador, 999. “Ops, resvalei no botão
aqui”, diz. Para governador, 99.
O personagem está prestes a votar para presidente quando é detido
pela mão firme do escritor. “Me deixa!”, pede ele com algo de desespero
na voz. Nessa hora, o escritor ainda tenta explicar que, neste exato
momento, deve ter leitor confuso, pensando que esta é uma crônica de
apologia à abstenção, de elogio ao voto nulo e em branco. “Duvido que
tenha gente que pense uma coisa dessas!”, diz um Rafael subitamente
surpreso. E, pela primeira vez desde que veio a este mundo, assustado.
O escritor, então, pede que o personagem explique ao leitor por que
ele pretende votar em branco. “Não está claro já?”, pergunta Rafael, um
tanto quanto impaciente. O escritor responde que não. Que o leitor quer
tudo mastigadinho. Ainda mais numa crônica de sábado. Suspirando,
revirando os olhos e fazendo biquinho, Rafael explica que vai votar em
branco só para poder dizer que votou em branco. “Preciso mostrar que
estou acima dos demais”, diz ele, com a honestidade sem filtros dos
homens inventados.
Rafael aperta o botão da prepotência, ouve a musiquinha e vai embora
se sentindo superior à ralé (palavras dele) que espera na fila. Já na
rua, antes de desaparecer nos labirintos da imaginação do escritor,
Rafael ainda tem tempo de perguntar se é verdade mesmo que alguns leriam
a crônica como uma exaltação ao voto nulo e branco. “Eles não vão
perceber como sou arrogante? Ridiculamente arrogante? Não captarão toda a
minha soberba?”, pergunta Rafael. O escritor não responde. Afinal, o
que nunca lhe faltou foi a esperança de ser compreendido.
Em conversa com o co-presidente da gestora General Atlantic, fundador
da XP reforça a importância da disposição a mudanças e exalta educação
financeira
Os empreendedores são os principais protagonistas da transformação do
Brasil em uma economia mais sólida e próspera, avaliou Guilherme
Benchimol, presidente executivo do Conselho de Administração da XP Inc.
“Quem vai mudar o Brasil são os empreendedores”, disse, em entrevista ao
podcast Breakthrough Labs, em episódio conduzido por Martín Escobari,
co-presidente da gestora norte-americana General Atlantic, e um dos
maiores investidores do mercado de private equity do mundo.
Um dos ‘sonhos grandes’ de Benchimol é continuar inspirando
brasileiros a empreender, por meio do exemplo da própria XP, que deve
seguir focada na melhoria constante de processos em todas as áreas.
“Temos um time insaciável, que coloca a barra cada vez mais alta. Nosso
sonho é seguir melhorando e avançando. Se mantivermos esse mindset, a
empresa vai continuar sendo maior e melhor ao longo do tempo.”
Após 21 anos desde a fundação, a companhia que funcionava em uma sala
de 25 metros quadrados, em Porto Alegre, com menos de uma dezena de
funcionários, se transformou em uma potência de 7 mil colaboradores e
mais de 3,6 milhões de clientes. Para Benchimol, um dos principais
alicerces que ajudou a sustentar a trajetória de sucesso foi a educação
financeira. “Se ajudarmos as pessoas a conhecerem coisas diferentes e
novas, isso gera uma empatia muito grande, além criar clientes fiéis e
uma marca mais forte”, disse. “Ajudar é uma palavra muito importante e
que gera uma felicidade genuína”, complementa.
A disposição ao erro é outro elemento importante, que apesar de ir de
encontro à cultura latino-americana, é fundamental no esforço de
atingir “metas impossíveis”, diz Benchimol. “Fazer uma empresa inovadora
é ter um time disposto a errar. Mas não errar na intenção de errar. É
errar a partir de fatos e dados, de forma pequena, para fazer com que a
empresa fique mais completa ao longo do tempo.” Segundo o fundador da
XP, um dos maiores méritos que teve em sua jornada profissional foi a
capacidade de não ter medo de mudar pessoas e cargos. “Se não
transformar a empresa num ser vivo, literalmente, dificilmente ela terá
longevidade.”
Atento ao novo momento da empresa, que abriu capital na Nasdaq em
2019, Benchimol conta que decidiu abrir mão do cargo de CEO, após 20
anos, para dar lugar ao então CTO Thiago Maffra. Motivaram a decisão a
transformação tecnológica que a empresa estava passando e a convicção de
que Maffra seria um CEO melhor. Atualmente, Benchimol defende uma
complementariedade entre os dois. “O Thiago se preocupa com os próximos
três anos, e eu olho a partir do terceiro até o décimo”, diz. “Todo
fundador e CEO que está há muito tempo no cargo deveria fazer uma
transição similar. Quando você está há muito tempo nesta posição,
percebe que outras pessoas fariam melhor. E também percebe que poderia
aproveitar o tempo disponível para fazer coisas ainda mais incríveis
pela empresa.”
O caminho a ser percorrido é proporcional às metas traçadas: no ano
passado o sistema financeiro do país teve receita de R$ 830 bilhões, dos
quais a XP capturou R$ 13 bilhões, ou apenas 1,5% do market share.
“Quando trago esses números fica evidente que estamos só começando.
Temos um time faminto, e continuo acreditando que nosso avião pode voar
muito mais alto e longe.”
Mesmo em meio ao crescimento exponencial da empresa, Benchimol
defende o valor da meritocracia, que, na sua avaliação, é formada por
performance e cultura. Para ele, performance é a capacidade de as
pessoas atingirem ‘metas impossíveis’ e cultura é o termômetro que mede o
quão aderente cada colaborador está aos valores da empresa. O
funcionário ideal é aquele que agrega essas duas variáveis. E
independente do tamanho e da proximidade dos líderes em relação aos
funcionários, o caminho é a consolidação de processos. “Cultura forte e
homogênea é baseada em processos”, defende.
Na entrevista, Benchimol também fala de como teve a ideia de
organizar a Expert, hoje o maior festival de investimentos do mundo,
inspirada no Impact, evento da corretora norte-americana Charles Schwab.
Este ano, o evento da XP aconteceu pela primeira vez de forma híbrida, e
reuniu, presencialmente, cerca de 15 mil pessoas, além de mais de 1
milhão de acessos online.
Sobre a XP Inc.
A XP Inc. é uma plataforma tecnológica de investimentos, serviços
financeiros e educação, dona das marcas XP, Rico, Clear, XP Educação,
entre outras. A XP Inc. tem mais de 3,6 milhões de clientes e R$ 846
bilhões de ativos sob custódia. Nos últimos 21 anos, a empresa vem
transformando o mercado financeiro brasileiro para melhorar a vida das
pessoas, garantindo relações mais transparentes entre os clientes e as
instituições financeiras. Para mais informações, acesse o site www.xpinc.com.
STARTUP VALEON UMA HOMENAGEM AO VALE DO AÇO
Moysés Peruhype Carlech
Por que as grandes empresas querem se aproximar de startups?
Se pensarmos bem, é muito estranho pensar que um conglomerado
multibilionário poderia ganhar algo ao se associar de alguma forma a
pequenos empresários que ganham basicamente nada e tem um produto recém
lançado no mercado. Existe algo a ser aprendido ali? Algum valor a ser
capturado? Os executivos destas empresas definitivamente acreditam que
sim.
Os ciclos de desenvolvimento de produto são longos, com taxas
de sucesso bastante questionáveis e ações de marketing que geram cada
vez menos retorno. Ao mesmo tempo vemos diariamente na mídia casos de
jovens empresas inovando, quebrando paradigmas e criando novos mercados.
Empresas que há poucos anos não existiam e hoje criam verdadeiras
revoluções nos mercados onde entram. Casos como o Uber, Facebook, AirBnb
e tantos outros não param de surgir.
E as grandes empresas começam a questionar.
O que estamos fazendo de errado?
Por que não conseguimos inovar no mesmo ritmo que uma startup?
Qual a solução para resolver este problema?
A partir deste terceiro questionamento, surgem as primeiras
ideias de aproximação com o mundo empreendedor. “Precisamos entender
melhor como funciona este mundo e como nos inserimos!” E daí surgem os
onipresentes e envio de funcionários para fazer tour no Vale e a rodada
de reuniões com os agentes do ecossistema. Durante esta fase, geralmente
é feito um relatório para os executivos, ou pelas equipes de inovação
ou por uma empresa (cara) de consultoria, que entrega as seguintes
conclusões:
* O mundo está mudando. O ritmo da inovação é acelerado.
* Estes caras (startups) trabalham de um jeito diferente, portanto colhem resultados diferentes.
* Precisamos entender estas novas metodologias, para aplicar dentro de casa;
* É fundamental nos aproximarmos das startups, ou vamos morrer na praia.
* Somos lentos e burocráticos, e isso impede que a inovação aconteça da forma que queremos.
O plano de ação desenhado geralmente passa por alguma ação
conduzida pela área de marketing ou de inovação, envolvendo projetos de
aproximação com o mundo das startups.
Olhando sob a ótica da startup, uma grande empresa pode ser
aquela bala de prata que estávamos esperando para conseguir ganhar
tração. Com milhares de clientes e uma máquina de distribuição, se
atingirmos apenas um percentual pequeno já conseguimos chegar a outro
patamar. Mas o projeto não acontece desta forma. Ele demora. São
milhares de reuniões, sem conseguirmos fechar contrato ou sequer começar
um piloto.
Embora as grandes empresas tenham a ilusão que serão mais
inovadoras se conviverem mais com startups, o que acaba acontecendo é o
oposto. Existe uma expectativa de que o pozinho “pirlimpimpim” da
startup vá respingar na empresa e ela se tornará mais ágil, enxuta,
tomará mais riscos.
Muitas vezes não se sabe o que fazer com as startups, uma vez
se aproximando delas. Devemos colocar dinheiro? Assinar um contrato de
exclusividade? Contratar a empresa? A maioria dos acordos acaba virando
uma “parceria”, que demora para sair e tem resultados frustrantes. Esta
falta de uma “estratégia de casamento” é uma coisa muito comum.
As empresas querem controle. Não estão acostumadas a deixar a
startup ter liberdade para determinar o seu próprio rumo. E é um
paradoxo, pois se as empresas soubessem o que deveria ser feito elas
estariam fazendo e não gastando tempo tentando encontrar startups.
As empresas acham que sabem o que precisam. Para mim, o maior
teste é quando uma empresa olha para uma startup e pensa: “nossa, é
exatamente o que precisamos para o projeto X ou Y”.
VOCÊ CONHECE A ValeOn?
A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO
TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode
moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é
colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn
possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o
seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Bandeira da Argentina: país tem uma das seis maiores inflações do mundo e está em crise| Foto: Pixabay
Como num tango, um velho parceiro volta a flertar com a
Argentina: a crise. Os ingredientes são os mesmos: déficits fiscais
sucessivos, que levam à ampliação da quantidade de moeda em circulação e
contribuem para a elevação da inflação. O problema foi agravado pela
Covid-19 e pela guerra na Ucrânia.
“O que para a maioria dos países foi a causa de uma crise, para a
Argentina foi o catalisador de uma nova”, destaca o economista-chefe da
Infinity Asset, Jason Vieira. Além do mais, ele cita que o país também
demorou a retirar os estímulos concedidos durante a pandemia.
Fatores conjunturais se somaram a problemas estruturais. “Os
argentinos vêm enfrentando ondas de crise há décadas e não dão um sinal
de estabilidade para o resto do mundo”, afirma Leonardo Paz, analista do
Núcleo de Prospecção em Inteligência Internacional da Fundação Getúlio
Vargas (NPII/FGV).
A isso, some-se a dificuldade permanente em atrair capitais. “São
sempre crises bem parecidas”, diz o analista de macroeconomia da hEDGE
point Global Markets, Alef Dias.
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que o cenário argentino traz algumas lições para o Brasil. Veja abaixo:
1) Pouco intervencionismo, ter metas de inflação e responsabilidade fiscal Uma
das principais lições que a Argentina deixa para o Brasil é a
importância de respeitar o tripé econômico formado por superávit
primário e não se endivide a longo prazo, ter metas de inflação
definidas e pouco intervencionismo, como no câmbio, aponta o analista
internacional da XP Investimentos, Francisco Nobre. “Isto dá mais
credibilidade.”
A Argentina vem apresentando sucessivos déficits primários – quando a
arrecadação não consegue dar conta das despesas, mesmo sem levar em
conta aquelas com juros. O problema se acentuou com a crise causada pela
pandemia da Covid-19, quando chegou a 6,5% do PIB.
O país tem uma meta estabelecida em acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) de 2,5% do PIB. O Ministério da Economia diz que a
Argentina vai perseguir esse objetivo, mas o mercado está reticente
quanto a essa possibilidade. O Itaú, por exemplo, projeta que o déficit
será de 3% neste e no próximo ano.
O analista da XP também destaca a necessidade de ter metas definidas
de inflação, que ajudariam a direcionar a política monetária. Ele aponta
que, para isso, é necessário ter um banco central independente, a
exemplo do que ocorre no Brasil.
Desde 2018, o país vizinho acabou com a estratégia de metas de
inflação e, de lá para cá, só não viu os preços aumentarem acima dos 50%
ao ano em 2020.
O cenário está piorando. Somente em julho, ela foi de 7,4%, segundo o
Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, na sigla em
espanhol e acumulou uma alta de 71% em 12 meses. Isto faz com que a
Argentina tenha a sexta maior inflação do mundo. À frente, segundo a
plataforma de informações econômico-financeiras TradingEconomics, estão
Zimbábue, Líbano, Sudão, Venezuela e Turquia.
As expectativas são de que o cenário possa piorar nos próximos meses:
o Itaú projeta que a inflação poderá chegar a 95% em 2022 e 2023. A XP
projeta menos: 84% para este ano. Mas aponta que a dinâmica
inflacionária, que já era complicada, vem se agravando com variações
mensais cada vez mais altas.
Outro fator importante, segundo Nobre, é deixar o câmbio quase que
flutuar livremente: “as consequências do intervencionismo podem ser
ruins no longo prazo”. A Argentina conta com várias taxas de câmbio e
limita o acesso da população aos dólares. Cada pessoa pode comprar US$
200 por mês e o que exceder é taxado em 75%. São, pelo menos, dois
impostos incidentes sobre a compra de moeda estrangeira.
2) Manter um sólido arcabouço institucional Outra lição que a
Argentina deixa para o Brasil é a necessidade de ter um forte arcabouço
institucional. “A situação atual da Argentina é um reflexo da
instabilidade política e econômica registrada nas últimas décadas”,
afirma Nobre, da XP.
São problemas de corrupção, excessivo intervencionismo do governo na
economia e instabilidade política. Paz, da FGV, cita que a Argentina tem
uma dinâmica político-partidária complicada que favorece a queda de
ministros, como ocorreu no início de julho, com Martín Guzmán, no
Ministério da Economia.
Mas a sua sucessora, Silvina Batakis, ficou só 24 dias no cargo. Ela
foi substituída por um político influente, o ex-presidente da Câmara,
Sergio Massa, que se comprometeu a reduzir subsídios, dar mais
estabilidade à economia e cumprir as metas do acordo firmado com o FMI.
Entretanto, os problemas são grandes. O atual presidente Alberto
Fernández, que tomou posse em dezembro de 2019, vive às turras com sua
vice, Cristina Kirchner, que também é presidente do Senado. Ambos são
potenciais candidatos à Presidência nas eleições do próximo ano.
Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam também que é
preciso manter uma política econômica coerente ao longo do tempo. “Não
dá para ficar mudando de uma hora para outra, como vem acontecendo”,
cita Nobre.
Viera, da Infinity Asset, destaca que falta à Argentina adotar uma
política econômica mais séria e ortodoxa. “A adoção de teses sem
comprovação efetiva só serve para acentuar os problemas. E dinheiro não
leva desaforo.”
Analistas também apontam que um dos erros cometidos pela Argentina é
focar em soluções de curto prazo. “Essas medidas geram alívio
temporário, mas, no médio e longo prazo, a situação degringola”, cita
Paz, da FGV.
3) Não criar empecilhos para o capital estrangeiro Seguir o
tripé macroeconômico e manter um sólido arcabouço institucional são
fundamentais para que a Argentina seja atraente para o capital
estrangeiro. Uma das maiores dificuldades do país é atrair esses
recursos, mesmo com elevadas taxas de juro.
O problema é reforçado pelas sucessivas moratórias para o pagamento
de compromissos internacionais. Desde a independência, em 1810, foram,
pelo menos, nove episódios. Três deles neste século: 2001, 2014 e 2019.
“Isto significa que há um risco muito grande em investir na Argentina”,
diz Paz, do NPII/FGV.
No início de agosto, o país subiu a taxa básica de juros (Leliq) para
69,50% ao ano, uma das mais elevadas no mundo. “Foi necessário numa
tentativa de conter a inflação e evitar a desvalorização cambial”, diz
Dias, de hEDGE Point Global Markets.
Uma das consequências da dificuldade em atrair o capital estrangeiro
são as baixas reservas internacionais. Elas estão em seu nível mais
baixo desde 2018, quando chegaram à marca de US$ 62,6 bilhões. No dia
26, segundo o Banco Central da República Argentina (BCRA), eram US$ 36,9
bilhões, uma queda de US$ 2,7 bilhões em relação ao início do ano. Elas
não pagariam um semestre de importações.
É uma situação diferente da do Brasil, um país que tem uma economia
quatro vezes maior e um volume de reservas mais de nove vezes superior.
Elas são suficientes para pagar 16 meses de compras no exterior.
Apesar desse cenário mais complicado, a Argentina tem lá seus
atrativos. Os ativos estão muito baratos e não é uma economia pequena.
São mais de 46 milhões de habitantes e é um dos maiores produtores
mundiais de alimentos.
Mas, mesmo assim, o investimento estrangeiro privado – aquele
aplicado no setor produtivo – corresponde a cerca de 1% do PIB. No
Brasil, esse percentual é de 3,45%, de acordo com o Banco Central.
4) Ter uma moeda nacional confiável Outro grande problema da
Argentina é a falta de confiabilidade da população no sistema financeiro
e na moeda local. Segundo a Bloomberg, em julho, cerca de 1,4 milhão de
pessoas, o maior número desde 2020, comprou dólares no mercado formal,
apesar dos fortes desincentivos.
Os argentinos sacaram pouco mais de US$ 1 bilhão de depósitos em
dólar dos bancos desde o início de julho, informa o Valor. Transações
rotineiras, como a compra de imóveis ou estabelecer um contrato de
aluguel, são feitas na moeda norte-americana.
Um dos termômetros dessa desconfiança está na acentuada
desvalorização do peso. E não é só frente ao dólar, como também ao real.
Em 2019, R$ 1 comprava aproximadamente 15 pesos. Atualmente, quase 27
pesos. “É um problema que já se tornou crônico”, diz o professor Marco
Antônio Rocha, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas (IE/Unicamp).
Outro fator que, segundo ele, ajuda a complicar os problemas
argentinos é a falta de mecanismos em moeda nacional para financiar a
economia. “É uma lição que o Brasil já fez”, diz o professor. Mas
Leonardo Paz, do NPII/FGV, lembra que o argentino é menos tolerante a
juros.
“Quando cresce, a Argentina se endivida em dólar. Aumenta a demanda
por esta moeda e se cria as condições para uma espiral perversa: há
escassez de divisas, o que leva a mais alta nos preços, causando novas
pressões de custos. Isto gera uma retroalimentação do problema
inflacionário”, explica o professor da Unicamp. E, para complementar, há
o problema de déficits.
Um dos caminhos para a Argentina, de acordo com ele, seria o de criar
mecanismos de financiamento interno, em pesos. E também de estimular o
desenvolvimento de cadeias produtivas locais que pudessem ser opções
quando há uma maior pressão cambial encarecendo os artigos importados.
Os argentinos não tem muita saída, dizem os especialistas. “Elas
obrigatoriamente terão de renegociar com o FMI e tentar atrair capitais
estrangeiros”, destaca Rocha. E promover mudanças estruturais. Só assim,
eles podem evitar perder espaços onde ainda são muito competitivos,
como na produção de óleo e de farelo de soja, afirma Dias.
Desde quando assumiu a presidência da Rússia, em 2000, Putin é
acusado de mandar envenenar opositores.| Foto: EFE/EPA/VYACHESLAV
PROKOFYEV/SPUTNIK/KREMLIN
Ravil Maganov, presidente da segunda
maior produtora de petróleo russa, Lukoil, morreu “após cair de uma
janela de um hospital” em Moscou nesta quinta-feira (01), segundo a
agência Reuters. A estranha causa da morte do administrador de 67 anos
cria mais suspeitas em relação ao governo de Vladimir Putin, porque a
Lukoil se posicionou contra a guerra na Ucrânia diversas vezes desde a
invasão russa.
Em comunicado no dia 3 de março, por exemplo, a diretoria da empresa
pediu o fim “imediato” dos combates, expressando solidariedade aos
atingidos pela tragédia.
Duas fontes próximas a Maganov afirmaram à agência de notícias ser
altamente improvável que o executivo tivesse cometido suicídio.
Questionada pela Reuters se investiga a morte como suspeita, a polícia
de Moscou disse ter encaminhado o caso ao Comitê de Investigação.
O Hospital Central de Moscou, onde Maganov estava, costuma ser
chamado de “Hospital do Kremlin”, por ter membros das elites políticas e
empresariais da Rússia entre seus pacientes.
Sequência de mortes desde a invasão russa à Ucrânia Maganov faz
parte de uma lista de executivos de energia que tiveram mortes suspeitas
desde o conflito na Ucrânia. Alexander Subbotin, de 43 anos, que também
foi diretor da Lukoil, companhia petrolífera russa, membro do conselho
de administração da Lukoil Trading House LLC, também irmão de Valery
Subbotin, ex-vice-presidente da empresa, foi encontrado morto após um
ritual de cura xamâmico.
Entre outros executivos que tiveram mortes suspeitas, esteve o
gerente de alto nível da Gazprom, Alexander Tyulakov, que foi encontrado
morto em sua casa em São Petersburgo, um dia após a invasão russa ao
país vizinho.
Em abril, Sergei Protosenya, oligarca multimilionário e
ex-vice-presidente da Novatek, a maior produtora de gás natural
liquefeito (GNL) da Rússia, foi encontrado sem vida com a esposa e a
filha na Espanha.
Além de muitos outros oligarcas russos que tiveram morte atípica, nas
últimas duas semanas três importantes figuras políticas morreram na
Rússia de Vladimir Putin. Pouco antes de Ravil Maganov, foi a vez de
Dmitry Litovkin.
O correspondente de guerra Dmitry Litovkin teve morte repentina
Segundo a imprensa russa, aos 51 anos, Litovkin “adoeceu
repentinamente e foi colocado em coma induzido”. Depois disso, ele
morreu no último domingo (28). Litovkin esteve ativamente envolvido em
atividades de propaganda nos últimos anos e era editor-chefe de uma
revista militar russa.
“Dmitry Litovkin estava profissionalmente conectado com a Marinha,
com a esfera de controle de armas, com os problemas no exército na
utilização de tecnologia. Além disso, ele tinha um conhecimento notável
em áreas como armas de mísseis de várias classes, sistemas de defesa
aérea e antimísseis, sistemas de mísseis antitanque e veículos aéreos
não tripulados”, relatou o periódico russo Nezavisimaya Gazeta.
Darya Dugina morre em explosão de automóvel que dirigia A
jornalista e cientista política Darya Dugina, de 30 anos, foi morta no
dia 20 de agosto, em Moscou, após uma explosão de bombas instaladas
debaixo do carro que ela dirigia.
“Um dispositivo explosivo foi colocado na parte de baixo do carro, no
lado do motorista. Darya Dugina, que estava ao volante, morreu no
local”, disse o Comitê de Investigação da Rússia, órgão federal ligado
diretamente à presidência.
Os russos trabalham com a hipótese de o incidente ter sido criado por
uma cidadã ucraniana que vive na Rússia, como represália pela guerra,
mas que teria a intenção de matar o pai de Darya – e dono do automóvel,
Alexander Dugin.
Analista e estrategista controverso, Dugin é conhecido por visões
ultranacionalistas. Ele defende o conceito de “mundo russo” e o envio de
tropas para a Ucrânia. O estrategista segue o eurasianismo – filosofia
que defende que a Rússia precisava se afastar dos ideais europeus e
criar um império russo-asiático.
A Ucrânia nega fazer parte do incidente. “Não estamos envolvidos na
explosão que matou essa mulher. É uma obra dos serviços secretos
russos”, disse o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional
da Ucrânia, Oleksii Danilov.
Histórico de envenenamento nos serviços secretos russos
Desde quando assumiu a presidência da Rússia, em 2000, Putin é
acusado de mandar envenenar opositores, uma prática centenária que teria
sido herdada dos tempos da extinta União Soviética. O presidente foi
oficial do serviço secreto soviético da KGB.
Um dos primeiros casos de envenenamento ocorrido durante o governo
Putin aconteceu em setembro de 2004, quando o candidato da oposição à
eleição presidencial ucraniana, Viktor Yushchenko, ficou gravemente
doente e teve seu rosto desfigurado, mas sobreviveu. A doença havia sido
provocada por uma substância tóxica que ele teria ingerido durante uma
refeição.
Em 2020, o principal líder da oposição russa, Alexei Navalny, foi
envenenado e passou por uma longa recuperação. No começo de 2021, depois
de meses fora da Rússia, ele voltou para o país pela primeira vez desde
seu envenenamento e foi preso.
De acordo com o governo alemão, Navalny foi envenenado por uma
substância conhecida como Novichok. A maior parte do agente químico
teria sido plantada na cueca dele. O Kremlin negou as acusações de
envolvimento.
Empresário Paulo Generoso é criador e coadministrador da página República de Curitiba na internet| Foto: Divulgação
Os
movimentos de rua acreditam que as manifestações convocadas para a
próxima quarta-feira, 7 de setembro, serão as maiores da história do
país. Em pauta, a celebração do Bicentenário da Independência do Brasil,
e a defesa das liberdades e de eleições transparentes. Os organizadores
também admitem que os atos de 7 de setembro serão um ato de apoio à
reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O empresário Paulo Generoso, criador e coadministrador da página
República de Curitiba na internet, assegura, porém, que os movimentos
estão atentos para não tornar as manifestações em um ato de campanha. Em
entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre a agenda de Bolsonaro nos
atos, a respeito da preocupação dos organizadores com a segurança, e
rechaça as acusações feitas por críticos que chamam as manifestações de
atos antidemocráticos.
Há algumas semanas no Brasil, o empresário, que mora nos Estados
Unidos, articula com organizadores de todo o país os atos para o
aniversário de 200 anos da independência. Segundo ele, há um esforço por
trás do trabalho voluntário. “Eu procuro me redimir. Eu sou avô já, e a
minha geração deveria ter entregue um país muito melhor para os nossos
filhos e nossos jovens, e não entregou. Então, uma forma de nos redimir é
fazendo esse trabalho de resgate dos nossos valores, da nossa
liberdade, da nossa democracia”, diz.
O empresário rejeita ser associado como um dos principais
coordenadores das manifestações e se diz como um dos “milhares de
brasileiros patriotas anônimos que têm ido às ruas” pelo país. “Nossas
ruas não têm dono, é uma nação, um povo lutando pela liberdade, pela
democracia, e por um país melhor e mais justo. E apoiando o nosso
governo, que está no caminho certo”, afirma Generoso.
Confira a entrevista completa abaixo:
Quais são as pautas das manifestações de 7 de setembro? Paulo
Generoso: Em primeiro lugar, o desejo de celebrar e fazer uma grande
festa democrática pelos 200 anos da Independência. Neste bicentenário,
continuamos lutando por nossa liberdade, outra pauta. Também
defenderemos a defesa das instituições, da nossa democracia e de
eleições transparentes, que não é pauta de direita, nem de esquerda,
acho que é de interesse de todo eleitor brasileiro que as eleições sejam
transparentes.
O que os brasileiros que forem às ruas podem esperar? Como todas
as manifestações democráticas de verde e amarelo até agora, será uma
manifestação para toda a família. Podem ir pessoas idosas, podem levar
crianças. Está todo mundo animado em fazer uma manifestação patriótica,
democrática, pacífica e ordeira em celebração aos 200 anos da
Independência do Brasil neste 7 de setembro. Então, podem reunir a
família, vestir sua camisa verde e amarela, pegar sua bandeira do
Brasil, essa bandeira linda, verde, amarela, azul e branca, e ir para as
ruas em todo o país.
O apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro será um tema a ser defendido nos atos? Com
certeza! Eu acredito que fica difícil desassociar essas manifestações
democráticas dos últimos anos, principalmente portando nossa bandeira
verde e amarela, do apoio ao governo e à reeleição do presidente. Por
coincidência, neste 7 de setembro estaremos no mês de uma campanha
presidencial e demonstrando toda nossa preocupação com o futuro do nosso
país. Com certeza, estaremos apoiando, sim, o presidente Jair Messias
Bolsonaro, e muitos discursos e palestrantes defenderão o voto nele.
A operação contra empresários ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes estimula mais pessoas a irem às ruas? Com
certeza, muita gente está muito mais motivada ainda e pensando em levar
muito mais pessoas e se mobilizando mais ainda por conta disso. Se a
gente não lutar por nossa liberdade hoje, estaremos lutando nas ruas por
um prato de comida depois. Não abrimos mão da nossa liberdade, este é
um dos motivos da nossa pauta de estar nas ruas neste 7 de setembro.
A decisão que embasou a operação é avaliada por alguns juristas como
inconstitucional. O senhor entende que foi uma medida abusiva e que os
manifestantes também irão às ruas protestar com essa percepção? Sim, e
inclusive tem um vídeo do [ex-procurador da Lava Jato] Deltan Dallagnol
e da procuradora Thaméa Danelon que colocam 12 pontos de ilegalidades
nesse inquérito contra os empresários. É típico de Cortes aparelhadas,
como na Venezuela e em Cuba, e não de uma democracia, como nós vivemos.
Pela primeira vez, além de dividir o STF, vimos muitos veículos de
imprensa condenando essa atitude do Alexandre de Moraes. Acho que já é
um começo e o Brasil começa a perceber o abuso do Judiciário através do
Alexandre de Moraes, que está chegando em um ponto exorbitante e
inaceitável.
Empresários investigados pela decisão de Moraes estão convidados a fazer uso da palavra nas cidades onde haverá atos? Os
empresários investigados no inquérito ilegal do Alexandre de Moraes são
muito bem vindos e, com certeza, estão convidados a subirem em qualquer
trio, a qualquer momento. São patriotas, nos orgulhamos deles, são
pessoas honestas e decentes que geram emprego em um país difícil para o
empreendedor até os dias de hoje, que está melhorando muito com o
presidente Bolsonaro. Com certeza serão muito bem vindos e recebidos
como heróis em qualquer manifestação no 7 de setembro.
Existe algum monitoramento sobre o engajamento da população nas manifestações? Sim,
há um monitoramento em grupos de WhatsApp, onde viraliza muita coisa,
até algumas coisas mais do que em plataformas como Facebook e Instagram,
e também nas redes sociais. A gente percebe uma movimentação grande.
Principalmente o pessoal “lavajatista”, e muita gente que estava até
desmotivada com a campanha e a reeleição do presidente está voltando a
apoiar Bolsonaro e se mobilizando para o 7 de setembro com o receio,
realmente, de que a esquerda volte e a gente tenha um Judiciário cada
vez mais aparelhado. É o que a gente está percebendo nesse movimento com
os contatos feitos.
Como será a participação do presidente no dia 7 de setembro? O
presidente vai estar em Brasília, às 9 horas, na parada militar. Pela
primeira vez, inclusive, haverá 28 tratores juntos participando do
desfile militar, sendo cada um dos 27 com uma bandeira de um estado, e
um liderando na frente. É uma deferência e uma honra, a convite do
presidente, ao agro, que tem sido fundamental não só para o Brasil, mas
para o mundo. É uma forma de honrar o nosso agro que tem feito um
excelente trabalho sempre, não é de hoje, apesar do candidato do PT
chamar de fascista e não gostar do agro, o agro tem sido honrado pelo
presidente e sido motivo de orgulho para nós.
E depois do desfile cívico-militar em Brasília? Depois da parada,
temos a manifestação. O pessoal do agro está colocando um trio na
Esplanada. O presidente vai passar lá, está convidado para passar no
nosso trio, a Esplanada estará lotada. Depois de Brasília, ele irá ao
Rio de Janeiro, onde haverá um grande movimento também em Copacabana,
com a Esquadrilha da Fumaça, mais Marinha e a Aeronáutica. De lá, vai
falar com o pessoal que estiver na [Avenida] Paulista por uma ligação.
Vai ser um vídeo gravado previamente ou uma ligação ao vivo feita no Rio de Janeiro? Será uma ligação ao vivo no Rio de Janeiro transmitida na Paulista.
Será transmitida só a voz ou terá imagem do presidente também? Olha,
é possível ter imagem, só que a gente sempre tem problema na Paulista
com a questão de sinal, até pela quantidade de pessoas lá. Não dá para
garantir que terá imagem também, mas a ligação dele ou uma fala para o
pessoal da Paulista é certa.
Essa transmissão será feita em um telão ou na caixa de som dos trios? Nos dois modelos. A gente vai passar em um telão e na caixa de som também nos trios.
A ida do presidente ao Rio de Janeiro não desestimula os participantes do ato na Paulista? Com
tudo o que vem acontecendo, os 200 anos da Independência, todos os
problemas que temos enfrentado para garantir a nossa liberdade nas ruas,
mais esse ato do Alexandre de Moraes contra os empresários
“bolsonaristas” sem prova nenhuma, mais a campanha pela reeleição do
presidente, o que está em jogo é o futuro do nosso país, das nossas
crianças, do nosso povo, da nossa nação. E o povo está consciente disso,
então, não vai desanimar. Vamos lotar a Paulista, as ruas de Copacabana
e a Esplanada [dos Ministérios], em Brasília.
Os organizadores preveem atos em quantos municípios? Temos
confirmadas manifestações em mais de 300 cidades no Brasil. Brasília,
São Paulo e Rio de Janeiro serão, com certeza, as maiores, mas teremos
atos também em Belo Horizonte, Recife, Vitória, Curitiba, Porto Alegre,
que sempre faz uma bela manifestação, Florianópolis… Não tenho a menor
dúvida de que o Brasil inteiro fará uma das maiores manifestações
patrióticas e democráticas da história do país.
Haverá manifestações em todas as capitais? Com certeza, todas as capitais farão grandes eventos neste 7 de setembro.
Há preocupação dos organizadores com relação a segurança? A gente
sempre tem preocupação com a segurança do evento em si. Não nos
preocupamos com quem participa do evento de forma democrática e ordeira.
Nunca tivemos problemas com o pessoal de direita. Mas, especificamente
nesta data, a preocupação é maior. Inclusive, passei para os órgãos de
inteligência [o nome de] um jornalista, não lembro o nome agora,
escrevendo uma matéria sugerindo que surja neste 7 de setembro mais um
mártir como foi, segundo ele, o Adélio [Bispo, que atentou contra a vida
de Jair Bolsonaro em 2018].
Por isso, a gente tem a preocupação com a segurança, sim, trabalhamos
muito próximos com as secretarias de segurança de cada estado para que a
gente não tenha problema nenhum. Mas, realmente, até por ser em período
de campanha, a gente tem uma preocupação um pouquinho mais elevada com a
segurança.
Qual tem sido o seu papel ao longo dessas últimas semanas na coordenação dos atos?
Olha, eu costumo dizer que as ruas não têm dono. E quem tentou se
apoderar das ruas argumentando que era dono delas já quebrou a cara.
Apesar de ajudar a organizar vários atos, principalmente em Curitiba,
São Paulo e Brasília, sou mais um de tantos voluntários e patriotas que
fazem isso de forma realmente voluntária.
O que Bolsonaro propõe contra a miséria e por que contesta que 33 milhões passam fome no país Ives Gandra Martins critica ativismo judicial no STF e diz que empresários não cometeram crime Alexandre de Moraes afirma que não há “absolutamente nada de secreto na Justiça Eleitoral”
Como começou sua trajetória junto aos movimentos de rua? Sempre
acompanhei muito de perto a política e meu primeiro voto foi no PT, no
Olívio Dutra, em 1988, em Porto Alegre [eleição municipal], na época que
a gente ia para as ruas com a bandeira de um partido de graça,
acreditando, realmente, que estava lutando por um país melhor, até ser
enganado. Mas meu maior engajamento político surgiu em 2016, quando o
ex-presidiário Lula falou que estava assustado com a “República de
Curitiba”.
Então, eu criei a página República de Curitiba. E teve um crescimento
gigante. A gente tem quase 2 milhões de seguidores. Depois fomos uma
das grandes e primeiras páginas a apoiar a eleição de Jair Bolsonaro em
2018, e continuamos trabalhando e apoiando o governo. Estou aí desde a
época do impeachment da [ex-presidente] Dilma [Rousseff], passando pelo
[ex-presidente Michel] Temer, e pela reeleição do presidente. Procuro
contribuir e fazer minha parte para construir um país melhor.
O que o senhor diria aos críticos que acusam essas manifestações de serem antidemocráticas? Em
primeiro lugar, acho que somos uma nação, somos um povo, nos
consideramos todos irmãos. E quando a gente vê uma senhora de 80 anos de
idade, uma criança, um pai, ou uma família inteira caminhando com uma
bandeira do Brasil nas ruas de São Paulo, em Brasília, em Curitiba,
enfim, em tantas cidades, saindo e ficando horas em uma manifestação de
graça, pagando e gastando para estar lá, e a gente vê isso sendo chamado
de manifestação antidemocrática, de um ato violento ou de um atentado à
ordem jurídica do país, é um absurdo.
Só nos motiva mais ainda a estar nas ruas de forma pacífica, ordeira e
lutando agora pela nossa democracia e liberdade para que a gente não
tenha que ser escravizado depois. A gente está consciente de que temos
um trabalho e uma missão de continuar lutando pela nossa liberdade.
Percebemos um agrupamento de todos contra o presidente e o nosso
governo, que teve mais de 57 milhões de votos na última eleição. A
imprensa e a esquerda nunca aceitaram a vitória do presidente, e me
parece que uma ala do Judiciário também não.
Como vocês atuam para evitar tons ou palavras que possam sugerir algo que os movimentos não defendam? Existe
uma comunicação constante e a internet nos possibilita isso. E desde
2018, se tu lembrar, tinha movimento pedindo intervenção militar e
fazendo campanha pelo presidente ao mesmo tempo. É algo que não combina,
e a gente combateu isso desde o início, não fazia o menor sentido. A
gente vem tentando conscientizar também uma ala da direita de que a
gente precisa lutar pela democracia dentro das leis, sem contrariar e
combater as instituições, a despeito da atitude de alguns ministros e de
algumas pessoas que tentam usurpar da sua função e estão exagerando na
dose.
A gente tenta conscientizar no sentido de que votamos errado durante
30 anos e a gente precisa de alguns anos votando certo, da forma
correta, para corrigir o que fez. Sempre culpamos a imprensa, o STF, o
PT, e a gente nunca assume nossa parcela de culpa. Então, temos tentado
fazer um trabalho nesse sentido de que votamos errado e em pessoas
erradas durante 30 anos e não dá para querer que, no primeiro ano, o
presidente Bolsonaro chegue lá e resolva todas as coisas.
Se a gente não tiver paciência, estratégia e sabedoria neste momento
para continuar trabalhando pelo nosso país, a gente acaba se
decepcionando muito fácil. Temos, sim, essa interação constante no
sentido de pacificar e fazer com paciência essa transformação que o
Brasil precisa rumo a uma democracia sólida, com instituições sérias e
pessoas sérias também.
Ou seja, os organizadores não apoiam qualquer manifestação de pessoas que venham a defender um golpe de Estado? De
forma alguma, não vejo nem do presidente, nem de nenhum organizador,
muito pelo contrário. O nosso objetivo é trabalhar pela democracia, e
quando falamos em democracia, a gente pensa em instituições fortes, pois
as pessoas passam. Bolsonaro passa, eu passo, qualquer líder e ministro
do STF passa. As instituições permanecem. Então, o nosso objetivo é
respeitar todas as instituições, o Legislativo, Executivo e Judiciário, e
principalmente, a nossa Constituição. O que a gente quer é que todos os
agentes de qualquer um desses três poderes respeitem a Constituição.
Não tem golpe nenhum, nunca fomos para a rua pedindo golpe e a
maioria tem uma parcela que, até por talvez desconhecer algumas regras,
algumas leis e a própria instituição, talvez possa pedir, mas é a
minoria da minoria. A maioria das pessoas que irão às ruas são moderadas
e procuram trabalhar por um país com democracia sólida, por nossa
liberdade e pelo nosso governo.
Bolsonaro durante entrega simbólica do cartão do Auxílio Brasil,
em fevereiro: programa é a principal aposta para o combate à fome e à
miséria.| Foto: Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PL)
tem sido confrontado com a informação de que 33,1 milhões de brasileiros
passam fome – tecnicamente, situação de insegurança alimentar.
Bolsonaro não reconhece esses dados; diz que são inflados. Mas, durante a
campanha, ele vem afirmando que a insegurança alimentar e a extrema
pobreza serão enfrentados com a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600
em 2023.
O projeto de lei orçamentária para 2023, apresentado na quarta-feira
(31) pelo governo, prevê R$ 405 para o Auxílio Brasil. Mas Bolsonaro
garante que o valor de R$ 600 será mantido. Em entrevista na
quinta-feira (1.º) à RedeTV, o presidente que pode haver taxação de
lucros e dividendos de quem ganha acima de R$ 400 mil mensais para
manter o valor mais alto. Também na quinta, numa live, disse que outra
possibilidade é estender a vigência do decreto de calamidade pública
caso a guerra da Ucrânia continue – isso abriria permitiria que a
despesa adicional sem ficar limitada ao teto de gastos determinado pela
Constituição.
Em entrevista na sexta-feira (26) ao programa Pânico, da Jovem
Pan, Bolsonaro respondeu que os 33 milhões de pessoas em situação de
fome “podem buscar o Auxílio Brasil” e associou os dados de insegurança
alimentar à extrema pobreza. Também sinalizou o pagamento do benefício
em R$ 600 como forma de enfrentar tais desafios.
Considera-se em situação de extrema pobreza o lar com rendimento
médio mensal inferior a R$ 105 per capita ou a pessoa com renda
individual diária menor que US$ 1,90 (atualmente, cerca de R$ 9,80 por
dia ou R$ 294 mensais). “O Auxílio Brasil paga, hoje, R$ 20 por dia”,
comentou Bolsonaro ao calcular que, em uma média diária, o beneficiário
do programa social recebe aproximadamente o dobro da faixa de renda de
alguém considerado extremamente pobre.
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que atua como um dos
coordenadores eleitorais da campanha de Bolsonaro, é outro a defender o
programa social como resposta aos mais pobres. Em aceno a esse grupo,
ele destacou o Auxílio Brasil e criticou o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). O ministro da Casa Civil diz que Lula falou a
palavra “pobre” uma única vez e “no minuto final” durante a sabatina
promovida pelo Jornal Nacional, no dia 25. “Esse é o ‘pai dos pobres’.
Bolsonaro não apenas fala: fez e faz. O maior programa social da
história do Brasil, o Auxílio Brasil, de R$ 600. Lula antes falava da
pobreza. Agora, nem isso faz. Prefere atacar o que está certo e elogiar o
que está errado. O futuro vai vencer o passado e o atraso”, disse.
A comunicação sobre o Auxílio Brasil faz parte da estratégia da
campanha de Bolsonaro em assumir a “paternidade” do programa social. O
benefício foi protagonista das primeiras propagandas do presidente no
horário eleitoral do rádio e da TV.
Em uma das propagandas, é veiculado um jingle que diz que o Bolsa
Família “não existe mais”. “Agora é Auxílio Brasil de no mínimo R$ 600”,
diz a propaganda. A referência ao “mínimo” é atribuída ao fato de que,
além benefício, as famílias ainda podem receber recursos de outros
programas sociais.
Em outra propaganda, Bolsonaro diz que o Bolsa Família pagava, em
média, R$ 192, e que, segundo ele, algumas famílias recebiam apenas R$
80 por mês. Ele comenta que, no fim do ano passado, foi criado o Auxílio
Brasil e que cada família passou a receber, no mínimo R$ 400. O
presidente ainda destaca na propaganda que, com o apoio do Congresso
Nacional, o valor do Auxílio Brasil foi elevado para R$ 600. E prometeu
manter esses recursos em 2023. “Esse valor será mantido a partir do ano
que vem dentro da responsabilidade fiscal”, diz Bolsonaro. O benefício
no patamar atual vai até dezembro.
Bolsonaro e Ipea contestam dado de que há 33 milhões de pessoas com fome O
presidente Jair Bolsonaro não reconhece os dados de que 33 milhões de
pessoas estejam em situação de fome no Brasil. Os 33,1 milhões de
pessoas em situação de fome foram apontados em junho pelo último
Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia
da Covid-19 (Vigisan), divulgado por uma ONG – a Rede Penssan (Pesquisa
em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
Ao programa Pânico, Bolsonaro foi informado que a presidenciável do
MDB, Simone Tebet, citou os dados sobre a fome no país. Em resposta, o
presidente disse que ela “falou besteira”. Ele admitiu, porém, “que deve
ter gente passa fome” e recomendou que se cadastrem no Auxílio Brasil
“quem, porventura, está na linha da pobreza, passando fome”.
Além de Tebet, Lula e o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, também tem falado sobre as 33 milhões de pessoas em situação de fome.
Em resposta, o coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste,
Gilson Machado, candidato ao Senado por Pernambuco, disse em publicação
no Twitter que é “desonestidade” usar o dado como base para falar sobre a
fome no Brasil. “Estudos fraudulentos encomendados por ONGs de esquerda
agora são sumariamente desmascarados. Mais uma narrativa que cai por
terra. A verdade é que os índices de pobreza caem no Brasil, enquanto
sobem no mundo”, comentou.
Machado usou dados divulgados do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) para rebater o dado de que 33 milhões de pessoas passam
fome. Segundo o Ipea, em função da criação do Auxílio Brasil e do
aumento do número de beneficiários em relação ao Bolsa Família e do
valor médio pago aos beneficiários, o país encerrará 2022 com 4,1% da
população brasileira em situação de extrema pobreza. O cálculo é baseado
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Confirmado o índice de 4,1% de pessoas extremamente pobres no Brasil
ao fim de 2022 – que seria o menor desde 2015, quando ficou em 3,3% –, o
Ipea estima que isso equivaleria a 2,9 milhões de famílias, ou
aproximadamente 8 milhões de pessoas. O dado ainda pode ser alterado à
medida em que mais pessoas sejam incluídas no Auxílio Brasil.
Pesquisador da área de pobreza desde 2003, o presidente do Ipea, Erik
Figueiredo, questiona os dados de 33 milhões de pessoas passando fome e
aponta a falta de transparência como uma justificativa. “Estaria tudo
certo se fossem divulgados os microdados da Vigisan, mas não divulgam.
Não há clareza sob o ponto de vista metodológico”, afirma à Gazeta do
Povo.
Sem o acesso aos microdados, Figueiredo questiona, por exemplo, como o
índice de insegurança alimentar da Penssan cresceu 3,2 pontos
percentuais entre 2018 e 2020, enquanto o indicador de extrema pobreza
divulgado pelo IBGE caiu 1,9 ponto percentual no mesmo período. “Os
dados se conflitam e se deslocam de um histórico amplamente documentado.
Como a extrema pobreza cai, é de se esperar que a insegurança alimentar
também esteja caindo”, diz.
Entre 2004 a 2018, existia uma diferença de 2,1 pontos entre o índice
de insegurança alimentar captado pela Penssan com o indicador de
extrema pobreza registrados pelo IBGE. Entre 2018 e 2021, a diferença
média salta para 13,8 pontos percentuais. Por esse motivo, Figueiredo
questiona a hipótese de 33 milhões de pessoas em situação de fome e
entende que o número não se confirma.
Em 2020, Figueiredo destaca ainda que foram gastos quase R$ 300
bilhões com o pagamento do Auxílio Emergencial, “em um valor sete vezes
superior ao gasto com o Bolsa Família na época”. “Se focarmos apenas nos
beneficiários do programa social da época, o Bolsa Família, esse gasto
propiciou um aumento na renda média recebida por essas famílias de mais
de 480%, passando de um tíquete médio de R$ 189 para R$ 908, o que pode
ser atestado pelos dados da PNAD Covid. Em resumo, a redução da extrema
pobreza e o ganho de renda propiciado pelo auxílio emergencial não são
compatíveis com o aumento da insegurança alimentar”, diz ele.
Em 2021, os dados da Penssan apontam um crescimento de 6 pontos
percentuais do índice de insegurança alimentar. Para Figueiredo, a alta
se desloca ainda mais dos indicadores de pobreza extrema. Para o
presidente do Ipea, chama ainda mais atenção os argumentos que sustentam
o crescimento da insegurança alimentar nesse período.
Relatório do Vigisan aponta que houve “piora significativa dos
índices” com o desemprego. Porém, Figueiredo destaca que, entre dezembro
de 2020 e dezembro de 2021, o desemprego apresentou uma trajetória de
queda, de 15% para 11,5% (atualmente, está em 9,3%). O presidente do
Ipea pondera que, no meio acadêmico, o questionamento a um resultado de
uma pesquisa faz parte do “dia a dia” e defende suas contestações.
“A conta não fecha e, curiosamente, a insegurança alimentar se
descolou da extrema pobreza justamente após 2018 sem correspondência com
outras estatísticas econômicas. Para um pesquisador, isso deveria
levantar dúvidas”, diz. “Não digo que a pesquisa está errada, mas
falamos de um salto médio de 2 pontos percentuais para 14 pontos entre
os índices de insegurança alimentar e pobreza extrema [em 2021]”,
complementa.
O relatório Vigisan fez a pesquisa em 12.745 domicílios fisicamente
com adultos nas 27 unidades federativas em regiões rurais e urbanas. A
coleta de dados ocorreu entre novembro de 2021 e abril de 2022, com a
utilização de questionário contendo a Escala Brasileira de Insegurança
Alimentar (Ebia). Há outros dados que apontam o aumento da pobreza. A
Fundação Getúlio Vargas (FGV) Social divulgou um relatório em junho que
aponta que a pobreza extrema subiu de 4,2%, em 2020, para 5,9%, em
2021. Os dados também são contestados por Figueiredo. O presidente do
Ipea diz que, quando se toma por base uma comparação de 2020, quando
havia o auxílio emergencial, com 2021, quando o principal programa
social era o Bolsa Família, é natural que os dados de pobreza sejam
puxados para níveis “muito baixos”. “Deveríamos ter uma comparação mais
honesta”, afirma.
Quais são as outras propostas para combater a extrema pobreza Embora
a manutenção do pagamento do Auxílio Brasil em R$ 600 seja o
“carro-chefe” da campanha de Bolsonaro para o combate à fome e a
miséria, o plano de governo apresenta outras medidas. Uma das medidas
destacadas é manter a Atenção Primária como um “foco importante” e
assegurar que nutrólogos e nutricionistas sejam ouvidos a fim de
contribuir na segurança alimentar da população.
O objetivo é que esses especialistas proponham alimentos “adequados” e
“compatíveis” com cada região do país, a fim de diminuir a pressão
sobre o sistema de saúde “na medida que a boa alimentação inibe o
aparecimento de doenças”.
Outra medida citada é o fortalecimento de programas como o Alimenta
Brasil, que se baseia nas compras públicas da produção do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e na doação
de alimentos adquiridos. O objetivo é contribuir de maneira paralela
para a “emancipação econômica” dos agricultores familiares e para a
segurança alimentar e nutricional de grupos socialmente vulneráveis.
O plano de governo de reeleição de Bolsonaro também assume o
compromisso de garantir a “integração das políticas de segurança
alimentar e a econômica, aumentando a eficiência da alocação de
recursos”. Para isso, é apontado como “atividade estratégica” a produção
de alimentos com o incremento do uso de “tecnologia de ponta, pesquisas
e respeito ao meio ambiente”.
O combate à pobreza também é destacado em diversos trechos do plano
de governo, principalmente na introdução. O texto diz que o modelo de
gestão implantado no Brasil favoreceu a “proliferação da pobreza” ao
mesmo tempo em que “impediu a implementação de um desenvolvimento
econômico seguro, próspero e sustentável a longo prazo”.
A proposta de reeleição fala que o “novo modelo de gestão” proposto
por Bolsonaro “produz e distribui riqueza” e “proporciona ao Brasil
bater recordes na geração de empregos” e “o aumento de benefícios
sociais para os mais vulneráveis”.
Também é destacada como prioridade a meta de ampliar e aprimorar “um
sistema de proteção social efetivo e sustentável”. Há ainda uma
referência sobre a água como “vetor de desenvolvimento econômico” para a
redução da pobreza, com um destaque para a conclusão das obras da
transposição do Rio São Francisco, um dos principais pontos explorados
pela campanha de Bolsonaro no Nordeste.
Outro ponto destacado no plano de governo é a liberdade como meio
para a “prosperidade individual e social”. “Ela é atingida ao se
integrar políticas públicas direcionadas às famílias, em especial
àquelas em situação de pobreza e extrema pobreza, com a transferência
direta e indireta de renda”, diz trecho do plano de governo.