segunda-feira, 15 de agosto de 2022

QUAIS SERÃO OS PRÓXIMOS PLANOS DE PUTIN NA GUERRA DA UCRÂNIA

 

BBC

Nem a Rússia nem a Ucrânia devem realizar qualquer ação militar decisiva na Ucrânia este ano, disse o chefe da inteligência militar do Reino Unido à BBC.

© AFPMoscou está redistribuindo tropas para o sul, onde está sob forte pressão das forças ucranianas

Falando em uma rara entrevista, o general Jim Hockenhull também disse que estava de olho em um eventual uso de armas nucleares pela Rússia.

  • Em 23 de fevereiro deste ano, Hockenhull recebeu um telefonema dizendo que havia alguns indicadores estranhos de atividade na fronteira ucraniana. Veio a confirmação de que a Rússia havia de fato invadido seu vizinho.

Minutos depois, ele informou o primeiro-ministro e o secretário de Defesa do Reino Unido sobre o início do maior conflito armado da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Como chefe de Inteligência de Defesa nos últimos quatro anos, Hockenhull trabalha nas sombras, administrando uma organização que lida com informações altamente secretas. A guerra na Ucrânia tornou seu trabalho mais importante.

Ele diz que ficou cada vez mais convencido de que a Rússia estava prestes a lançar sua invasão em novembro do ano passado. Foi quando pensou que “isso vai acontecer”, lembra.

Na semana anterior à invasão, ele tomou a decisão altamente incomum de publicar um mapa prevendo os prováveis ​​planos de invasão da Rússia no Twitter.

Foi uma decisão que ele diz não ter sido fácil, mas ele estava convencido de que havia a necessidade de divulgar as informações para o domínio público. “É importante divulgar a verdade antes que as mentiras venham”, diz ele.

Ele também defende a decisão do Ocidente de destacar o potencial da Rússia de usar armas químicas e biológicas. Ele acredita que isso ajudou a impedi-los de retratar os ucranianos ou o Ocidente como instigadores do conflito.

Raramente tanto material de inteligência foi compartilhado com o público. Desde então, a inteligência da Defesa publica atualizações diárias sobre a guerra.

A inteligência não é uma ciência – as previsões são feitas em uma escala de probabilidades, e há uma série de coisas que surpreenderam a inteligência de Defesa do Reino Unido.

Hockenhull diz que a força da unidade ocidental e a resistência ucraniana superaram as expectativas. Assim como os fracassos dos militares russos, cujo comando, controle e logística têm sido “pobres”, sugere ele. Também houve interferência política, do nível estratégico ao tático, acrescenta.

Houve uma falta de confiança entre a classe política e militar da Rússia – e Hockenhull diz estar surpreso que Moscou tenha sofrido todos esses problemas ao mesmo tempo.

Related video: Aliados de Putin discutem futuro da Ucrânia e os nomes peculiares dos bebés: análise de José Milhazes e Nuno Rogeiro

O que acontecerá agora?

Devemos ter cuidado ao pensar em termos binários – que os lados estão ganhando ou perdendo – ou pensar que é um impasse, diz Hockenhull.

A Rússia, afirma ele, está claramente tentando se recompor depois de sofrer perdas significativas. Também está tendo que redistribuir algumas de suas tropas de Donbass para o sul, onde está sob pressão significativa das forças ucranianas.

Mas Hockenhull diz ainda não ser realista esperar uma mudança decisiva no sul nos próximos meses.

Ele afirma que entende o desejo da Ucrânia de retomar o território, mas acrescenta que, embora haja contra-ataques e contra-ofensivas, ele não acredita que haverá ações decisivas tomadas este ano por nenhum dos lados.

Sua expectativa é de um longo conflito.

A opção nuclear

Isso levanta outra questão: o que o presidente russo, Vladimir Putin, fará se continuar enfrentando contratempos para cumprir seus objetivos militares? Ele poderia recorrer ao uso de armas nucleares?

Hockenhull diz que isso é observado de “muito, muito de perto”.

A doutrina militar russa, ao contrário da do Ocidente, inclui o uso de armas nucleares táticas ou de campo de batalha para operações militares.

Embora ele acredite ser improvável que armas nucleares táticas sejam empregadas em breve, ele diz que é algo que continuará observando.

A probabilidade de serem usadas ​​pode mudar se a dinâmica do campo de batalha se alterar, explica ele.

Preocupações com a China

Depois de quatro anos como chefe de Inteligência de Defesa, Hockenhull irá agora chefiar o Comando Estratégico da Defesa do Reino Unido – que inclui supervisionar as atividades no espaço, no ciberespaço e no uso de forças especiais.

Ele ainda vê a Rússia como a maior ameaça, mas também está cada vez mais preocupado com a China. Pequim vem fazendo demonstrações de força militar perante Taiwan nas últimas semanas.

Hockenhull diz que seria um equívoco não considerar uma “incrível modernização militar com um país determinado a resolver uma questão política” como um problema.

O trabalho da inteligência militar britânica não vai ficar mais fácil.

– Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62528193

AUXÍLIO-VIP DO JUDICIÁRIO EM PLENA PANDEMIA

 

O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Por
Lúcio Vaz – Gazeta do Povo


Fachada do TJMG, tribunal que mais gastou com indenizações| Foto: Robert Leal/TJMG

Enquanto o Congresso Nacional e o governo federal buscavam recursos para pagar o Auxílio Emergencial durante a pandemia da Covid-19, os cinco maiores tribunais do país gastaram R$ 1,4 bilhão em pagamentos retroativos e R$ 870 milhões em indenizações de férias. No Tribunal de Justiça de Minas (TJMG), pelo menos 10 juízes receberam pagamentos extras em torno de R$ 1,7 milhão, cada. Entre retroativos, indenizações de férias e férias-prêmio, o tribunal torrou R$ 1,2 bilhão. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) gastou R$ 800 milhões em retroativos e “venda” de férias.

Os retroativos são dívidas antigas pagas em parcelas quando há “sobra de caixa”. O blog questionou como os tribunais conseguiram essa verba extra num momento de escassez de recursos públicos. O TJSP, o maior do país, respondeu que “as medidas contingenciais adotadas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 foram detidamente analisadas e reavaliadas a todo tempo durante os anos de 2020 e 2021, refletindo na possibilidade de pagamentos de verbas retroativas para magistrados e servidores”.

No TJMG, os maiores pagamentos de retroativos foram feitos aos desembargadores Lauro Bracarense (R$ 1,75 milhão), Paulo Tinoco (R$ 1,75 milhão) e Lauro Pacheco Filho (R$ 1,74 milhão). Em março deste ano, o tribunal pagou R$ 94 milhões em retroativos. Os 357 maiores pagamentos tiveram valor médio de R$ 250 mil. Em agosto de 2021, já havia sido paga uma bolada de R$ 120 milhões. Naquele mês, o desembargador José de Anchieta recebeu R$ 319 mil. Os retroativos são dívidas antigas, pagas em parcelas. A maior parte para cumprir a equivalência de remuneração entre juízes e parlamentares.

O tribunal mineiro também pagou R$ 133 milhões em indenizações de férias no período da pandemia. Quando não podem tirar férias, por “necessidade do serviço”, os magistrados recebem o valor em dinheiro, sem desconto do imposto de renda, por se tratar de uma indenização, e com acréscimo de 1/3 da remuneração. Houve ainda o pagamento de R$ 133 milhões em “férias-prêmio”. O juiz João Rodrigues Neto recebeu R$ 544 mil em novembro do ano passado. Muitos magistrados deixam de gozar o benefício durante toda a carreira para receber o valor em dinheiro no momento da sua aposentadoria.


Pagamentos de “diferenças salariais”
O TJSP gastou R$ 445 milhões em pagamentos retroativos no período da pandemia. Em 2021, os retroativos somaram R$ 263 milhões. O tribunal afirmou ao blog que os pagamentos resultam de “diferenças salariais não recebidas à época em que foram reconhecidas”. Acrescentou que os pagamentos são efetuados de forma parcelada, “observando estritamente a condição orçamentária e financeira do Tribunal”, diz nota do TJSP.

As indenizações de férias do tribunal de São Paulo somaram mais R$ 355 milhões. Foram R$ 157 milhões em 2021. O TJSP afirmou que a indenização é permitida quando não ocorre o gozo efetivo deste direito, “dada a absoluta necessidade do serviço, o que se constatou no momento pandêmico registrado nos anos de 2020 e 2021, quando apenas foi alterada a forma de atuação, do trabalho presencial para o remoto, sem diminuir a carga do serviço de magistrados e servidores. Os pagamentos observam a condição orçamentária e financeira do tribunal”.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) gastou R$ 130 milhões com indenizações de férias e R$ 88 milhões com pagamentos retroativos. O tribunal não respondeu aos questionamentos enviados pelo blog.


“Por necessidade do serviço”
No Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) a maior despesa foi com indenização de férias, num total de R$ 200 milhões pagos no período da pandemia. A juíza Aline Passos recebeu R$ 245 mil de indenização em julho do ano passado. O tribunal afirmou que os pagamentos resultaram de “indenização de férias não usufruídas por necessidade do serviço”. Mais R$ 76 milhões foram gastos em pagamentos retroativos.

O TJPR ressaltou que todos esses pagamentos ocorreram utilizando o orçamento próprio do Poder Judiciário “como resultado da boa gestão financeira do TJPR”. Acrescentou que repassou aproximadamente R$ 130 milhões ao Poder Executivo (Funsaúde) em 2020 como contribuição ao combate à pandemia por Covid-19 no Paraná.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) consumiu R$ 83 milhões com indenizações na pandemia. Segundo o tribunal, esses pagamentos “são relativos à indenização em pecúnia de períodos de férias vencidos a magistrados, em decorrência de absoluta necessidade da continuidade da prestação dos serviços”.

O TJRS afirmou ainda que tem honrado seus compromissos com receitas próprias, “sem onerar o estado com suplementações, inclusive no período da pandemia, no foi possível contingenciar mais de R$ 300 milhões no orçamento em ajuda ao Executivo para o enfrentamento da crise”.

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PRECISAMOS DE UMA REFORMA TRIBUTÁRIA URGENTE

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


| Foto: Bigstock

Há um assunto presente o tempo todo nas discussões políticas e econômicas, que está permanentemente em pauta no Congresso Nacional e serve de bandeira a políticos e candidatos: trata-se da reforma tributária. As propostas de reforma do caótico sistema tributário são várias e nunca saem da lista de projetos em tramitação no Legislativo federal. A reforma tributária e a justiça social são tão presentes nas discussões nacionais quanto são ignoradas as teorias sobre o que ambas vêm a ser. Não está sendo diferente neste momento, em especial por ser ano de eleições gerais estaduais e federais, com candidatos cuja bandeira é a eternamente propalada reforma tributária.

Para fins de análise, os tributos (impostos, contribuições e taxas) podem ser chamados simplesmente de “impostos” – os termos específicos se diferenciam apenas em função de sua lógica de incidência e de distribuição entre os três entes federativos: municípios, estados e União. Os tributos têm em comum o fato de serem instrumentos para extração compulsória de dinheiro da sociedade – pessoas físicas e pessoas jurídicas. De início, o problema pode ser colocado em duas perguntas: Por que deve haver impostos? E por que se defende tanto a reforma tributária no Brasil?

A reforma tributária e a justiça social são tão presentes nas discussões nacionais quanto são ignoradas as teorias sobre o que ambas vêm a ser

Quanto à primeira questão, é preciso retroceder muito no tempo. Em um dado momento, as famílias humanas passaram a viver no mesmo espaço a fim de promover trocas de bens e serviços e desenvolver o relacionamento social. Assim, surgiram as comunidades rudimentares, espécies de tribos, que mais tarde deram origem às cidades, que por sua vez passaram a ser afetadas por eventos que demandavam solução coletiva, como ataques por comunidades estrangeiras ou catástrofes naturais (tempestades, inundações, epidemias etc.). Para enfrentar os problemas coletivos, os membros da comunidade tinham de contribuir com os recursos requeridos pelos atos de solução, como o caso da formação de grupos de soldados para resistir aos ataques estrangeiros.

A organização de um exército treinado e alimentado para lutar em defesa da comunidade foi uma das primeiras experiências a exigir contribuição dos membros da comunidade, uma espécie rudimentar de imposto, que também devia sustentar os líderes e comandantes, ou seja, uma estrutura de governo. A existência e a ampliação dos impostos residem na evolução da história humana; aos poucos, houve a expansão das tarefas atribuídas a uma organização representante da coletividade, e nisso está a origem do Estado, do governo e da ciência política. Como consequência, Estado e governo se tornaram estruturas formadas por recursos materiais, recursos humanos, bens e serviços de manutenção e gastos de funcionamento.


Para operar as funções pertinentes ao aparelho estatal, surgiram duas classes: os políticos (dirigentes) e os funcionários públicos (executores operacionais) submetidos às regras do Estado e do governo, entre elas a apresentação do orçamento de gastos pelas estruturas montadas e o sistema de contribuições compulsórias feitas pelos membros da comunidade, ou seja, os impostos. O tamanho do Estado, suas funções, as regras de funcionamento e o formato para constituição do Estado e escolha dos governantes e dos funcionários é o que informa se um país é democrático (com eleições e regras feitas pelo povo, diretamente ou por seus representantes) ou ditatorial (em que o Estado e seus comandantes determinam tudo e obrigam o povo a obedecer sob pena de severa punição).

Os impostos se tornam necessários e são maiores ou menores conforme o tamanho do setor estatal e a extensão de suas funções e tarefas, mas também dependem de como o Estado e o governo, com seus três poderes, gastam o dinheiro que tomam da comunidade. O aparato estatal será tão mais caro e oneroso quanto mais for contaminado por ineficiência, desperdício, corrupção, benefícios e privilégios concedidos a seus operadores – políticos e funcionários. Esses vícios do aparelho de Estado e dos governos existem em grande escala no mundo inteiro, qualquer que seja a orientação ideológica, política e econômica adotada pelo país, razão por que é comum a carga tributária ser alta como porcentual do Produto Interno Bruto (PIB) na maioria dos 193 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidos (ONU).

O Brasil tem um péssimo sistema de tributação e não tem conseguido mudanças que o transformem numa estrutura virtuosa e favorável ao desenvolvimento

Quanto à segunda pergunta, a reforma tributária somente é assunto permanente no Brasil por causa da alta carga tributária (34% do PIB, em termos efetivos arrecadados); do excessivo número de tributos (incluindo algumas taxas que vigoram somente em alguns estados, são 85 tributos); do excessivo número de leis e normas; das regas pouco claras e, ainda por cima, instáveis; da discordância quanto à distribuição entre os municípios, estados e União; da distorção econômica na incidência tributária (excessivos impostos indiretos e distorção na oneração segundo as classes sociais); e do elevado custo de obediência em relação ao PIB. Um caos tributário dessa magnitude tem efeitos óbvios: cria ônus e desestímulo à criação de empresas e negócios, freia o desenvolvimento econômico e dificulta a distribuição de renda, pois o sistema tributário brasileiro tem efeito distribuidor de renda ao inverso, isto é, transfere renda das classes baixas para as classes altas.

A tão falada “injustiça fiscal” começa com o custo do setor estatal e com a existência de remuneração, benefícios e privilégios na estrutura de recursos humanos (políticos e funcionários) nos três poderes bem acima dos equivalentes no setor privado, conforme já atestou o próprio Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea), órgão do governo federal. Se a isso somar-se a injustiça fiscal resultante de todos os vícios já citados do sistema tributário, está explicado por que o Brasil tem um péssimo sistema de tributação e por que não tem conseguido mudanças que o transformem numa estrutura virtuosa e favorável ao desenvolvimento. Resumidamente, é por esses aspectos que o tema da reforma tributária não morre e assim vai continuar, mesmo porque, em algum momento, o Brasil terá de enfrentar o manicômio tributário no qual se transformou o sistema de extração de dinheiro da sociedade para financiar o setor estatal e seus governos.


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AS EMPRESAS TÊM A FINALIDADE TORNAR O MUNDO UM LUGAR MELHOR?

 

Free Enterprise Project

Por
Bruna Komarchesqui – Gazeta do Povo


No ano passado, um membro do Free Enterprise Project esteve em uma reunião de acionistas da Coca-Cola, para questionar suas políticas identitárias, como um treinamento de diversidade que sugeria a funcionários “tentar ser menos brancos”; a foto é da planta de Málaga, em 2020| Foto: EFE/Jorge Zapata

Balizador da economia mundial por quase cinco décadas, o princípio do capitalismo acionário (aquele em que o propósito de uma corporação é gerar lucro para seus donos) vem sendo ameaçado por uma onda militante, cuja crença é a de que as empresas têm o dever moral de tornar o mundo um lugar melhor. Se, como dizem os progressistas, o capitalismo “acordou”, a verdade é que despertou consigo a reação de acionistas conservadores, que têm se organizado em iniciativas como o Free Enterprise Project (FEP, ou Projeto de Livre Empresa, em tradução livre). Fundado em 2007, pelo Centro Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas dos Estados Unidos, o programa compra ações de empresas de capital aberto, para fazer perguntas difíceis nas reuniões de acionistas. O objetivo é combater as políticas “woke”, para tirar as corporações americanas da política.

No ano passado, os alvos do FEP incluíam Warner Bros. Discovery, Comcast, Twitter e Coca-Cola. Entre as críticas à produtora do refrigerante mundialmente famoso estava uma lição do LinkedIn Learning (posteriormente removida), instruindo funcionários a “tentar ser menos brancos”, como parte de um treinamento de diversidade, além da oposição a um projeto de lei tido como discriminatório por exigir documento de identificação para eleitores na Geórgia. “Nós nos opomos a medidas que possam procurar diminuir ou restringir o acesso a voto. Defendemos o amplo acesso, a conveniência do eleitor, a integridade da eleição e a neutralidade política. Qualquer coisa que possa inibir estes princípios pode levar à supressão do voto”, disse na ocasião o CEO da Coca-Cola para a América do Norte, Alfredo Rivera.

Em uma reunião de acionistas do Bank of America, o diretor do Free Enterprise Project, Scott Shepard, pediu ao CEO Brian Moynihan que “explicasse especificamente como exigir que os eleitores mostrem identidade para evitar fraudes é racista”. A resposta, considerada por Shepard uma pequena vitória, foi que talvez o banco devesse ter uma comissão bipartite para decidir quando entrar em questões políticas.

“Todo o ativismo dos acionistas nos últimos 20 anos foi da esquerda e, cada vez mais, da extrema esquerda. Nosso objetivo não é que as empresas adotem posições políticas conservadoras de repente, mas que voltem ao negócio de vender refrigerantes”, argumenta Shepard.

Em uma reunião de acionistas da Progressive, terceira maior seguradora dos Estados Unidos, Ethan Peck, do FEP, questionou “a valorização das características superficiais em detrimento do mérito” e por que a companhia prioriza “cor da pele e órgãos reprodutivos” ao contratar funcionários. A CEO Tricia Griffith exaltou a Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), dizendo que a empresa deseja que sua força de trabalho “reflita os clientes que atendemos e que nossos líderes reflitam as pessoas que lideram”.

Questionada por Peck se isso supunha que “as pessoas com uma certa cor de pele pensam de uma certa maneira”, ela encerrou a conversa: “Você não pode se colocar no lugar de outra pessoa se não tiver uma organização representativa que represente o país como um todo. Você nunca poderia saber como é ser uma mulher, eu nunca poderia sentir como é ser um homem, então precisamos representar todos”.

Dificuldades 
A experiência de intervir em reuniões de acionistas tem encontrado uma resistência “criminosa” por parte dos executivos, segundo relata Ethan Peck. “As elites corporativas tomam todas as medidas possíveis para excluir e silenciar os acionistas que pagam seus salários multimilionários”, conta. As dificuldades encontradas por eles nas reuniões vão desde a permissão para entrar nas assembleias (mesmo sendo proprietários), até ter suas perguntas reformuladas ou ignoradas e suas propostas de acionistas omitidas. “Embora os acionistas de centro-direita sejam os mais discriminados, os executivos ainda os desprezam mais por serem acionistas do que por serem conservadores”, garante.

A hipótese levantada por Peck é que, longe de serem militantes progressistas ou sinalizadores de virtudes, os executivos estejam usando o “capitalismo de stakeholders” (em tradução livre, capitalismo das partes, ou seja, funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral), como eufemismo para um “golpe da cúpula contra os verdadeiros donos das empresas, os acionistas”. “Os executivos postulam que as corporações são responsáveis ​​não por seus acionistas, mas sim por ‘todas as partes’. Isso permite que a liderança corporativa confisque o poder dos acionistas sob o pretexto de ajudar os outros. Não é diferente do comunismo, na verdade: ‘Dê-me sua propriedade; É para um bem maior!’”, denuncia Peck.

Segundo ele, algumas corporações utilizaram os protocolos de combate à Covid-19 para fazer reuniões virtuais (que permitiram pré-selecionar, modificar ou omitir comentários e perguntas de acionistas) ou para exigir a vacinação (o que excluiu muitos acionistas). “Nossas perguntas foram totalmente ignoradas nas reuniões da Alphabet, Amazon, Meta, Twitter, BlackRock, JPMorgan, Visa, Starbucks, Coca-Cola, Pepsi, Exxon, Chevron e outros. Na Apple, Raytheon, Boeing, US Bancorp, Marriott, Nordstrom e outros, nossas perguntas foram estrategicamente reformuladas para perguntas fáceis por um moderador. A Pfizer e a Netflix não se deram ao trabalho de responder a nenhuma pergunta. American Express, Abbott Laboratories e AES nos negaram a entrada por completo”, enumera.

Na reunião da Lincoln Financial, Ethan Peck era o único acionista presente. Ao questionar o então presidente Bill Cunningham acerca do apoio de Lincoln à Human Rights Campaign (que participou do lobby contra a lei proibindo o ensino sobre identidade de gênero para alunos do jardim de infância até a terceira série na Flórida) ele teve sua pergunta blindada por um assessor e acabou sem resposta.

O Free Enterprise Project também denuncia que as eleições de diretores corporativos não são confiáveis. Das 57 reuniões em que seus membros estiveram presentes em 2022, nenhum candidato deixou de ser eleito, de acordo com Peck. “Na verdade, nunca vi um membro do conselho receber menos de 90% dos votos. Há uma explicação simples para isso: BlackRock, Vanguard, State Street e outros gigantes da gestão passiva votam em nome de seus clientes – que são os verdadeiros acionistas – para colocar no poder esses membros do conselho que desprezam os acionistas”, lamenta.

Acionistas engajados 
Investidores interessados em combater o capitalismo woke, podem se tornar acionistas engajados, juntando-se ao Free Enterprise Project. No site do programa, há uma série de orientações práticas, explicando como participar de uma assembleia de acionistas, fazer perguntas em uma assembleia virtual ou presencial, elaborar uma boa pergunta, votar e apresentar propostas em reuniões.

Contrário aos boicotes, que “são ineficazes e, francamente, um desperdício de tempo e energia”, o projeto acredita que o combate ao progressismo ocorrerá por meio do engajamento de acionistas ativistas conservadores. “Incentivamos fortemente os acionistas a se envolverem ativamente como proprietários da empresa. A melhor maneira de responsabilizar essas corporações é participar de assembleias anuais de acionistas, votar em seus procuradores, questionar executivos de negócios durante sessões de perguntas e respostas e votar em membros do conselho que abandonaram seus deveres fiduciários”, defende o FEP, em uma das “perguntas frequentes” do site.

Fórum de Davos 

O conceito “capitalismo de stakeholders” tem mais de cinco décadas, mas ganhou forças nos últimos anos, com a publicação do Manifesto de Davos 2020, assinado pelo fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab (que cunhou o termo ainda nos anos 1970).

“O propósito de uma empresa é engajar todos os seus stakeholders na criação de valor compartilhado e sustentado. Ao criar esse valor, uma empresa atende não apenas a seus acionistas, mas a todos os seus stakeholders – funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral. A melhor maneira de entender e harmonizar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é por meio de um compromisso compartilhado com políticas e decisões que fortalecem a prosperidade de longo prazo de uma empresa”, afirma o Manifesto.

O texto ainda defende que “uma empresa é mais do que uma unidade econômica geradora de riqueza. Ela cumpre as aspirações humanas e sociais como parte de um sistema social mais amplo. O desempenho deve ser medido não apenas pelo retorno aos acionistas, mas também pela forma como atinge seus objetivos ambientais, sociais e de boa governança”.

Iniciativa da Sala de Reuniões 

Em abril, o Free Enterprise Project e o 2ndVote (outra organização contra o ativismo corporativo), juntamente com o fundador do grupo conservador Job Creators Network, Bernie Marcus, firmaram uma parceria com o ex-CEO do McDonald’s Ed Rensi e o ex-CEO da Best Buy Brad Anderson para criar o The Boardroom Initiative (A Iniciativa da Sala de Reuniões, em tradução livre), uma ação em defesa da capitalismo.

“Servir a uma minoria vocal por ignorância é absolutamente inaceitável. Quando as empresas públicas tomam partido em debates políticos, é em detrimento dos acionistas da empresa. O capitalismo de livre mercado – um sistema responsável por tirar bilhões da pobreza e melhorar o padrão de vida mundial – está sob ataque e, em muitos casos, as corporações estão participando avidamente desses ataques por um senso de virtude equivocado”, defende Rensi, presidente executivo da Iniciativa.

O trabalho da coalizão pretende realinhar as corporações com seus principais objetivos, por meio de propostas de acionistas, da promoção da diversidade de pontos de vista nos conselhos das empresas e pela utilização de canais digitais para divulgar as ações. A ideia é dar aos acionistas as ferramentas necessárias para “vencer a luta”. O primeiro esforço da Boardroom Initiative foi uma proposta de acionistas na reunião anual do Bank of America, pedindo auditoria nas políticas de diversidade da empresa, de modo a garantir que nenhum grupo de raça ou gênero seja excluído em nome de equidade ou anti-racismo.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-e-o-projeto-que-reune-acionistas-para-salvar-a-america-da-militancia-corporativa/
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VARÍOLA DOS MACACOS E ARTIMANHAS POLÍTICAS NO JUDICIÁRIO

 

Ação no STF

Por
Alexandre Garcia


Ação de deputado do PSB no STF quer tornar obrigatória a vacina contra varíola dos macacos| Foto: Nelson Jr./STF

Os pequenos partidos, que não têm votos suficientes no plenário do Congresso para fazer valer suas vontades, continuam usando o Supremo Tribunal Federal como ferramenta política. O próprio presidente do STF, Luiz Fux, já fez um apelo sobre isso aos colegas da Corte: partido político tem que decidir essas questões no plenário político e não nos tribunais. Mas não adiantou nada.

Agora, um deputado do PSB do Distrito Federal entrou no STF contra o presidente Jair Bolsonaro por causa da varíola dos macacos. O ministro Alexandre de Moraes foi sorteado relator. E o que quer o deputado? Quer que a vacina contra a varíola dos macacos seja obrigatória.

Em primeiro lugar, quem já tomou vacina contra varíola está vacinado, segundo ouvi de especialistas em imunologia. Em segundo lugar, estão matando macacos, por envenenamento, imaginando que a doença vem deles, mas não vem. Basta que a gente se informe: essa varíola passa de homem para homem – não é de homem para mulher – em 98% dos casos.

Então deixem os macacos e quem não é grupo de risco e já tomou vacina contra varíola em paz. Essa história de vacina obrigatória virou mania.

Morte de delator
Paulo Roberto Costa, o primeiro a fazer um acordo de delação premiada com a Justiça na Lava Jato, morreu no sábado (13), de câncer, aos 68 anos. Ele foi diretor da Petrobras entre 2004 e 2012, indicado pelo líder do PP na Câmara, o deputado paranaense já falecido José Janene.

Naquele tempo, era isso que acontecia. Os líderes dos partidos decidiam sobre os rumos da Petrobras, o que ela podia comprar ou não. Eram os intermediários das negociatas, que resultava em dinheiro para partidos, empreiteiras, políticos.

Costa estava condenado a 70 anos de prisão, mas passou os últimos de vida em casa, beneficiado pelo acordo de colaboração premiada. Entrou para a história como o primeiro delator a dizer como funcionava o esquema do petrolão.

Processo arquivado
O juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Ricardo Leite mandou arquivar, por sugestão do Ministério Público, o processo contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, e o ex-ministro Aloizio Mercadante por suposta obstrução da Justiça. E por que foi para o arquivo? Porque Lula e Dima tem mais de 70 anos e o prazo de prescrição se reduz pela metade. O caso Lula na Lava Jato lá de Curitiba foi uma questão de CEP, agora foi uma questão de calendário.

São as artimanhas que os políticos põem na lei que fazem para se livrar quando chegar neles. A lei penal brasileira, com essas prescrições, audiências de custódia e etc, é feita para derrubar tudo aquilo que você, pai, mãe, mestre, pastor, padre…, diz quando ensina as crianças que o crime não compensa. A lei brasileira derruba isso, mostra que aqui no Brasil o crime compensa. Muito triste isso!


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CHINA TEM PROBLEMAS COM ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDER

 

Ásia

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo


| Foto: Pixabay

Numa entrevista em 2017 à prestigiada revista científica Science, o professor Scott Rozelle, do Instituto Freeman Spogli de Estudos Internacionais da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, fez um alerta: quase um terço da população da segunda maior economia do mundo está ficando para trás na formação escolar.

Naquela época, pesquisas realizadas pela equipe de Rozelle, coordenador do Programa de Ação de Educação Rural (Reap, na sigla em inglês), apontaram que mais da metade dos alunos da oitava série em áreas rurais pobres na China tinham QI abaixo de 90 e um terço ou mais das crianças nessas regiões não completava o ensino fundamental.

Acrescentando a essa conta os 15% ou mais de crianças moradoras de áreas urbanas chinesas que também apresentavam resultados ruins em avaliações de habilidades e aprendizado, Rozelle estimou à Science que cerca de 400 milhões de chineses corriam “o risco de se tornarem deficientes cognitivos”.

Uma proporção tão grande da população sem conseguir a formação escolar adequada seria um indicador ruim em qualquer país, mas é especialmente dramática para a China, que aposta na capacitação do seu povo para seguir crescendo a níveis superiores ao do resto do mundo e para aumentar sua classe média, com foco no crescimento da renda pessoal e do consumo.

“Este é o maior problema que a China está enfrentando e que ninguém nunca ouviu falar”, destacou Rozelle há cinco anos.

Tentando verificar se havia estratégias que poderiam reverter esse cenário preocupante, a equipe do pesquisador de Stanford monitorou nos últimos anos nove programas, abrangendo 11 intervenções, que contemplaram 47.480 alunos do ensino secundário (etapa que antecede o ensino médio no currículo escolar chinês) rural em 713 escolas chinesas.

Em maio, um relatório apontou o resultado dessas estratégias e ele foi desanimador: elas foram incapazes de gerar melhorias significativas de aprendizado na população estudantil atendida.

Esses programas e intervenções foram baseados em quatro eixos principais. O primeiro foi ajuda financeira, já que nas regiões rurais da China muitas famílias não conseguem pagar as mensalidades da educação básica, “que estão entre as mais altas do mundo em desenvolvimento”.

O segundo eixo foi incentivar a continuidade dos estudos por meio de aulas-extras em que os professores abordaram com os estudantes possibilidades de carreira, níveis salariais almejados e habilidades e formação necessárias para atingir esses objetivos, além de controle emocional e maneiras de lidar com a ansiedade – que é alta entre estudantes das áreas rurais da China.

Outro eixo foram treinamentos online suplementares e acompanhamento contínuo dos professores que atuam nessas regiões, além da introdução de um sistema de pagamentos em que os docentes receberam bônus salariais com base não no nível médio de desempenho de seus alunos, mas sim nos ganhos de desempenho de cada estudante em comparação com alunos em outras escolas que apresentavam nível semelhante quando o programa começou.

Por fim, o quarto eixo consistiu na entrega de óculos grátis para estudantes com problemas de visão.

Entretanto, quase cinco anos depois da entrevista de 2017, a equipe de Rozelle concluiu que nenhuma das 11 intervenções aplicadas foi capaz de melhorar o desempenho dos alunos monitorados no estudo.

“Uma interpretação disso é que o desempenho dos alunos no ensino secundário rural chinês não é suscetível a simples mudanças nas políticas”, apontou o relatório. “Depois de explorar algumas hipóteses, encontramos evidências sugestivas de que a natureza da política chinesa de matrícula no ensino médio e o currículo do ensino secundário são as melhores possibilidades para explicar a falta de ganhos de desempenho.”

O estudo de Stanford apontou que o sistema de educação imposto pela ditadura comunista, altamente centralizado, impede que estudantes com mais dificuldades ou aprendizado mais lento sejam atendidos satisfatoriamente – e acabam sendo deixados para trás.

“Devido à importância do exame de admissão ao ensino médio, o currículo no ensino secundário é altamente estruturado, difícil e acelerado. Também é regulamentado em um nível superior de administração (por exemplo, o condado, a prefeitura ou a província), de modo a ser justo para todos os alunos da jurisdição”, destacou o relatório da equipe de Rozelle.

“Como todos na jurisdição fazem o mesmo exame, todos precisam cobrir o mesmo material para o exame no mesmo período e com a mesma profundidade. Como resultado, o ritmo da aula muitas vezes escapa ao controle de professores e diretores – e não considera as diferenças de habilidade entre os alunos”, descreveram os pesquisadores americanos.

Nos últimos anos, o ditador Xi Jinping colocou a educação como um dos pilares para a transformação da China em uma “nação socialista moderna” até 2035 e em uma grande potência “próspera” e “forte” até 2049, ano do centenário da vitória comunista na Guerra Civil chinesa.

Entretanto, assim como o Partido Comunista defendeu no ano passado que a China é uma “democracia que funciona”, a diferença entre discurso e prática segue o padrão local de gigantismo e o alerta de que 400 milhões de chineses podem ser atropelados pela história segue válido.


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FUNKEIROS FAZEM MÚSICAS COM APOLOGIA AO CRIME

 

Sem medo da polícia
Por
Gabriel de Arruda, especial para a Gazeta do Povo


Clipe da música “Carro Forte”.| Foto: Reprodução/Youtubr

As letras de duplo sentido são coisa do passado no mundo do funk. Com cada vez mais frequência, crime, drogas e sexo têm sido tratados de forma crua para uma audiência de milhões de pessoas e com a simpatia do chamado mainstream cultural. Além dos perigos da influência nociva sobre os mais jovens, o fenômeno traz à tona a relação entre facções criminosas e artistas do mundo do rap — ou dos seus subprodutos funk e trap.

A existência dos chamados funk “proibidões”, que exaltam o crime, não é nova. A novidade é que a apologia à atividade criminosa deixou de ser algo amador, quase secreto, para atingir um público gigantesco e ganhar a legitimação de parte do establishment cultural — sem serem incomodados pelo Judiciário e das plataformas como o YouTube, que costumam ser mais ágeis ao sancionar quem questiona a eficácia das vacinas ou a confiabilidade da urna eletrônica.

Os exemplos se multiplicam
O carioca Marlon Brendon Coelho Couto da Silva, conhecido como MC Poze do Rodo, é um dos principais nomes do rap nacional. Poze é amigo do jogador Gabigol, tem 7,6 milhões de seguidores no Instagram e, em 2021, participou até mesmo do jogo das estrelas de fim de ano, organizado pelo ex-jogador Zico e transmitido pelo canal Sportv. Acontece que, para a polícia do Rio, Poze do Rodo é mais do que isto: ele é um porta-voz do Comando Vermelho.

E não é difícil dar credibilidade a esta tese. Não só porque ele já apareceu, de fuzil em punho, ao lado de criminosos da facção, ou porque ele faça apresentações em áreas onde o tráfico de drogas detém o monopólio dos bailes funk, mas porque o próprio Poze do Rodo faz questão de proclamar sua ligação com o crime.

E uma de suas músicas mais populares, “Cara do Crime”, os versos iniciais são estes:

“Ela fala que quer crime e eu sou criminoso. Ela é da Zona Sul e eu sou cria do Rodo”

Na letra, assim como faz em boa parte de suas músicas, Poze do Rodo também pede “liberdade aos amigos”, em referência aos aliados que estão na prisão.

O videoclipe da música tem 258 milhões de visualizações no YouTube. O sucesso levou Poze do Rodo a lançar duas partes para a música, em parceria com outros rappers. Na parte 3 (que teve 36 milhões de visualizações até agora), as referências ao crime organizado são ainda mais diretas.

No videoclipe, o rapper Bielzin aparece no alto do morro, em uma laje, com um radiocomunicador nas mãos e uma mochila nas costas. É o estereótipo do soldado do tráfico. Ele canta:

“É a melhor gestão
Complexo dominando o alto igual falcão
Fazendo a ronda com os crias”

“Gestão” é como os defensores das facções criminosas se referem ao grupo de traficantes que controlam uma área específica. Nesse caso, o Complexo do Alemão, cuja “gestão” é do Comando Vermelho.

A poesia segue:

“Fazendo a ronda com os cria
Na atividade dobrada
Mil e duzentas no porte do homem
Se tentar contra nós, tu se f.”

A canção também tem a participação de Filipe Ret, que acabou de lançar uma música com a cantora Anitta. Ele aparece entoando os seguintes versos:

“Queimando um no meio-fio
Desse perfume eu vendo quilo”

Os versos se referem ao uso e tráfico de maconha. Para quem tem alguma, Filipe Ret faz questão de deixar claro:

“A cara do chefe do crime perfeito
Fala o que quiser, nós é exemplo mermo”

O que talvez seja ainda mais chocante é que o vídeo tem o patrocínio da Blaze, um site de apostas que, além de youtubers, é o principal patrocinador da equipe do Botafogo. No videoclipe, entre ameaças aos inimigos e versos de exaltação própria, os artistas aparecem utilizando o aplicativo da Blaze.

“A Cara do Crime” foi produzido pela Mainstreet, uma gravadora que tem perfil verificado no YouTube. A empresa foi criada pelo rapper Orochi e apresenta um longo catálogo de músicas com apologia ao crime — todas elas com grande audiência no YouTube.

Em uma canção batizada de “Quebra Osso”, por exemplo, é possível encontrar ameaças aos “pilas” — aparentemente, uma referência à polícia.

“Eu tô de glockada, com a mochila cheia de pente
Dois ar e os cobertura na cautela, nós foi pela linha amarela
Da janela eu vi os pila, mas o carro não é blindado
Se eles vim tentar dar bote é duas pra baixo, eu largo o aço”

Outra produção da gravadora, “Carro Forte”, descreve um assalto a um carro forte de forma detalhada.

“É só pitbull de raça
Se reagir nós te passa” (mata).

O vídeo tem mais de 45 milhões de visualizações. O clipe exibe exatamente o que a letra descreve: armas e mais armas, seguranças sendo feito reféns e os criminosos celebrando o assalto. Assim como quase todas as músicas que exaltam a atividade criminosa, a letra de “Carro Forte” inclui menções pouco lisonjeiras às mulheres, que são apresentadas como interesseiras e descritas em termos vulgares.

A Mainstree não é uma gravadora marginal. O canal do grupo no YouTube tem 2,2 milhões de inscritos e o selo de verificação da plataforma. Em março deste ano, o jornal O Globo fez uma reportagem elogiosa à Mainstreet com o título de “Gravadora carioca faz sucesso unindo trap dos EUA com o funk da favela”.

A tolerância com a apologia ao crime parece estar se tornando cada vez maior. Em 2019, a cantora Ludmilla fez uma música exaltando maconha – não só o uso, mas o comércio da droga – e isso não tirou dela o espaço como atração na TV Globo. A letra de “Verdinha”, que não exige maiores explicações:

“Eu fiz um pé lá no meu quintal
Tô vendendo a grama da verdinha a um real
(…)
Fiquei loucona, chapadona
Só com a marola da ‘juana”

Ludmilla teve a oportunidade de entoar estes versos em rede nacional, no programa Encontro com Fátima Bernardes. Talvez o interesse comercial explique as vistas cegas à apologia ao crime. Segundo o Spotify, o funk foi o segundo estilo mais ouvido entre os brasileiros em 2021, atrás apenas do sertanejo.

Relações criminosas
Para João Henrique Martins, cientista político especializado em economia ilícita e controle do crime, o rap brasileiro está profundamente ligado à urbanização acelerada e desordenada na segunda metade do século 20. Ele diz que, em sua forma original, o estilo falava sobre o crime, que era parte da realidade das periferias, mas não exaltava o crime. Isso mudou a partir dos anos 1990, por dois motivos. Em primeiro lugar, a expansão do poderio econômico das facções criminosas, que passaram a financiar diretamente a indústria do rap e do funk. Em segundo lugar, o avanço do relativismo cultural, promovido de diversas formas, mas sempre retirando a responsabilidade moral dos indivíduos.

Na opinião de Lucas Azambuja, doutor em sociologia e professor do Ibmec, o que se vê no rap brasileiro e no funk, que tem uma gênese parecida, também precisa ser visto como um eco das suas versões originais, vindas da cultura de periferia americana —- onde referências ao crime são comuns.  “São estilos nascidos nos Estados Unidos e lá também cantores desses estilos abordaram esses temas de modo semelhante ao que vemos no Brasil. Então, há uma influência da absorção do próprio estilo e ao mesmo tempo a sua adaptação à realidade social brasileira”, diz ele.

Azambuja afirma não haver elementos suficientes para se falar em uma “cultura pró-crime” impulsionada pelo rap e o funk. “A música tem sido uma forma de expressão que muitas vezes visa chocar e causar algum tipo de impacto. E de fato, a questão da criminalidade perpassa toda a sociedade, seria estranho que nenhum estilo musical expressasse essa questão”, diz ele.

Mas Martins, que também é oficial da reserva da Polícia Militar de São Paulo e foi pesquisador do Núcleo de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), afirma que de fato existe um discurso que justifica a atuação dos criminosos e a promoção de uma cultura à margem da lei. Ele explica que a corrente teórica chamada de Criminologia Crítica, popular nas faculdades de sociologia, sustenta um discurso que legitima a atuação dos criminosos. “Os adeptos das teorias críticas não têm nenhum compromisso com a realidade ou com valores sociais, como a defesa da vida e a proteção das vítimas. Desta forma, crimes como racismo e homofobia devem ser punidos com prisão, pois as vítimas coletivas (negros e homossexuais) são politicamente importantes. Já os autores de crimes como tráfico de drogas ou roubo, não devem ser punidos porque foram primeiro vítimas da sociedade”, ele explica.

Para Luiz Fernando Ramos Aguiar, especialista em segurança pública e Major na Polícia Militar do Distrito Federal, o interesse das facções criminosas ao promover os bailes funk e financiar os artistas do gênero vai além do aspecto financeiro. “O financiamento de artistas e de eventos é fundamental para o fortalecimento da imagem dos traficantes como defensores de suas comunidades. Na ausência de opções de lazer e de eventos culturais, sejam financiados pela iniciativa privada ou promovidos pelos governos locais, os marginais firmam sua posição como benfeitores”, diz ele. “Dessa forma, eles criam um ambiente cultural que acaba fazendo com que muitos moradores acabem se tornando defensores das quadrilhas”, complementa. Além disso, esses eventos acabam servindo para recrutar jovens para as fileiras do tráfico.

Martins concorda: “Criminosos que exercem controle territorial, especialmente traficantes de drogas, têm custos econômicos e sociais para manter um território sob controle, pois o caos pode ser útil para tomar um território, mas não para mantê-lo. Para isso eles precisam “imitar o papel do Estado, como garantidor do contrato social’ em alguma medida”, ele afirma, antes de prosseguir: “Isso significa que não basta controlar formalmente, no caso deles pelo crime e o terror, é preciso estabelecer algum nível de soft power, ou controle informal, aquele exercido pelo compartilhamento de valores e regras sociais”. A diferença é que, com a internet, a exaltação do tráfico foi além das áreas comandadas pelo crime.

Na opinião de Aguiar, a solução para o problema não depende apenas da ação policial, mas também de uma mudança cultural e educacional — o que não é simples. Ainda assim, diz ele, uma legislação mais rigorosa alteraria o cálculo de custo-benefício feito por quem cogita ingressar nas fileiras do crime organizado. “Mudanças legislativas que levem a punições mais severas aos criminosos são imprescindíveis para que os jovens que estão tentados a aderir às quadrilhas entendam que as consequências desse estilo de vida não compensarão as vantagens”, diz ele. Martins tem a mesma opinião: “Cometer crimes, ainda que seja limitado a apologia, não pode valer a pena”, ele defende.


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ANITTA UMA EMPREENDEDORA DE SUCESSO

Por Fabio Milnitzky – CEO da Consultoria Estratégica IN

De cantora a empresária, artista é um case de sucesso para o Marketing

Definir Anitta tem sido quase que um desafio. A carioca de apenas 28 anos surgiu como funkeira em meados de 2013. Nove anos depois, contrariando as apostas de muitas pessoas, que a julgaram como mais uma artista de carreira meteórica, além de ser a primeira cantora brasileira a conquistar o topo da parada global do Spotfy com o hit Envolver, Larissa de Macedo Machado faz parte do conselho administrativo do Nubank, é chefe de criatividade da Beats, marca da Ambev, lançou recentemente um curso de empreendedorismo em parceria com a Estácio e anunciou no fim de maio ter se tornado sócia investidora da Fazenda do Futuro, startup que fabrica proteínas a base de vegetais (plant based).

Se no passado Larissa enfrentou alguma dificuldade por falta de dinheiro, Anitta passou por cima disso com maestria. Ela aparece na lista da revista Forbes entre os cantores mais ricos do mundo, com uma quantia estimada em R$ 550 milhões. “É muito claro como o marketing pessoal pode elevar um artista ao patamar de marca cultuada (cult brand).

Anitta é militante de muitas causas e se expõe em negócios dos quais se identifica com o propósito e valores. Ela estudou marketing e usa isso muito bem a seu favor. Consistência, autenticidade e relevância”, explica Fábio Milnitzky, CEO e fundador da iN, empresa de gestão de marcas. 

Para Fábio, o fato de Anitta criar estratégias que expandem sua exposição, evidencia o fato de grandes empresas buscarem incluir a artista em seus negócios. “Anitta passou a ser conhecida no mundo inteiro através de músicas gravadas com artistas populares de outros países. Ela chamou isso de ‘co-branding’ e essa fórmula foi bastante assertiva. Sua formação em administração aliada a uma carreira em ascensão mostra o quanto ela é competente no que faz e que sabe traçar planos para alcançar seus objetivos. Quem não quer uma colaboradora de sucesso?”, pontua.

Nomear artistas para cargos estratégicos tem sido mais recorrente, o que mostra uma ruptura da visão de que apenas executivos ocupem tais cadeiras. “As organizações precisam acompanhar o mercado, inovar, trazer mentes brilhantes para formarem seus times. Se determinado artista possui conhecimento profundo de um setor, entende o que os consumidores querem e conhece o mercado, por que não? Além de serem ótimos influencers, pois conversam com o público”, diz Milnitzky.

Para chancelar o poder da marca Anitta, ela recentemente foi homenageada com uma estátua no museu de cera de Nova York, sendo a primeira cantora brasileira a ser eternizada pelo Madame Tussauds.

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.

Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem completo para a nossa região do Vale do Aço.

Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 150.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/ também tem sido visto por mais de 2.250.000 de pessoas, valores significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos. Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a sua empresa.

Temos a plena certeza que o site da Startup Valeon, por ser inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da região capaz de alavancar as suas vendas.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

 

domingo, 14 de agosto de 2022

A RÚSSIA ESTÁ MAIS CAUTELOSA NA GUERRA DA UCRÂNIA

 

Conflito na Ucrânia

Por
Luis Kawaguti


O presidente russo, Vladimir Putin, tem optado pela estratégia de conquistar território pouco a pouco, porém, de forma sistemática| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL KLIMENTYEV/KREMLIN

Longe de ser um lunático prestes a usar o maior arsenal nuclear do mundo, o presidente russo Vladimir Putin parece estar sendo “cauteloso” em suas ações recentes na guerra da Ucrânia. Não por ética ou benevolência, mas sim porque Putin aparenta ter medo da capacidade militar da OTAN (aliança militar ocidental), de uma eventual reviravolta na opinião pública na Rússia e de que o país seja “engolido” pela economia chinesa.

O indício mais recente dessa cautela foi a resposta da Rússia às explosões na base aérea russa em Saky, na Crimeia. A instalação militar russa foi devastada por 12 detonações na terça-feira (9). Elas acabaram com armazéns de munições e combustíveis, teriam deixado ao menos 60 mortos e destruído oito aviões de combate – o maior número de caças russos liquidados de uma só vez desde o início da guerra.

A Ucrânia negou responsabilidade publicamente. Mas jornais americanos, entre eles o New York Times, publicaram entrevistas de oficiais ucranianos afirmando que as explosões teriam sido fruto de um ataque ucraniano.

Essa possibilidade foi reforçada por analistas ocidentais que avaliaram imagens de satélite da base, fornecidas pela empresa norte-americana Planet Labs. O think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) disse à rede britânica BBC que dois edifícios usados para estocar munições podem ter sido atacados com o objetivo de causar o máximo de danos possível a aviões de caça guardados fora de hangares.

Após os vazamentos de informações ao New York Times, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky repreendeu seus oficiais e os aconselhou a não dar informações à imprensa sobre táticas de guerra.

Assim, não se sabe que tipo de armamentos poderiam ter sido usados no suposto ataque. A posição militar da Ucrânia mais próxima de Saky fica a 160 quilômetros de distância – e os mísseis e foguetes mais potentes que os ucranianos possuem, projetados para ataques contra alvos terrestres, têm alcance máximo de 80 quilômetros.

Um eventual bombardeio também poderia ter sido realizado por aviões de caça ou helicópteros ucranianos. Mas esse cenário é pouco provável, porque a base tinha fortes defesas antiaéreas.

Uma das hipóteses que vem ganhando força é a de que os ucranianos tenham adaptado mísseis nacionais antinavio Neptune para atacar alvos terrestres. Eles têm alcance de 280 quilômetros.

A segunda possibilidade é que equipes de comandos (forças de infantaria leve altamente treinadas) tenham invadido a base com ajuda de partisans (guerrilheiros da resistência ucraniana) e dinamitado os depósitos de munições.

Apesar dessas especulações, a reação da Rússia foi afirmar que as explosões não foram causadas por um ataque ucraniano, mas sim por um acidente. O ministro da defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, afirmou: “Eu acho que os soldados russos dessa base desrespeitaram a regra mais básica: não fumar em locais perigosos”.

Em outras palavras, Moscou minimizou o evento e também eventuais baixas – dizendo inicialmente que apenas uma pessoa morreu. A conduta foi a mesma adotada em abril, quando a Ucrânia atacou e afundou o navio capitânia da armada russa no Mar Negro, o cruzador Moscou.

A embarcação foi localizada por meio de informações de inteligência fornecidas pelas potências do Ocidente e destruída por uma provável combinação de ataques de drones e mísseis Neptune.

Mas o Kremlin atribuiu a perda do navio a um incêndio acidental em um depósito de munições. A resposta russa foi dada por meio de uma série de ataques de precisão a instalações militares ucranianas em Kyiv, como depósitos de combustíveis e munições e fábricas de blindados e mísseis.

Mas por que Moscou não responde à altura suas perdas militares?

Em linhas gerais, a doutrina militar russa autoriza a retaliação com o uso de armas nucleares em caso de ataque contra território nacional, segundo o think tank americano ISW (sigla em inglês do Instituto para o Estudo da Guerra). A Crimeia foi anexada à Rússia em 2014 em um referendo que não foi reconhecido pela comunidade internacional.

Mas uma retaliação russa de grandes proporções às explosões na base de Saky poderia provocar também uma reação de grande intensidade da OTAN. Ela poderia acontecer por meio do aumento da ajuda militar à Ucrânia, fornecimento de equipamentos de ataque mais potentes – como aviões de caça, por exemplo – ou mesmo poderia significar a entrada da OTAN no confronto por meio da implantação de uma zona de exclusão aérea.

Putin parece estar tentando evitar quaisquer desses cenários. Isso porque a escala atual da guerra tem permitido à Rússia conquistar território pouco a pouco, porém, de forma sistemática. Ou seja, Moscou trava uma guerra de atrito, na qual a superioridade de sua artilharia vem conquistando cidade após cidade no leste da Ucrânia.

Mas o Kremlin pode usar armas nucleares, certo?

Em tese, sim. Mas isso poderia provocar uma resposta nuclear da OTAN e uma consequente escalada sem limites do conflito.

Ou ainda: se Moscou detonasse uma bomba nuclear tática de pequenas proporções (com um décimo da potência da bomba de Hiroshima, por exemplo), o cenário mais provável seria uma retaliação não nuclear de grandes proporções por parte da OTAN. Segundo analistas ocidentais, a Rússia não tem condições de vencer a aliança ocidental em uma guerra convencional.

Além disso, uma escalada na intensidade da guerra da Ucrânia exigiria que o Kremlin mobilizasse mais tropas e equipamentos. Por enquanto, a necessidade de tropas adicionais, decorrente das baixas no campo de batalha, vem sendo suprida em grande parte pela empresa militar privada Wagner Group.

Mas se a Rússia precisasse aumentar significativamente seu poder ofensivo, necessitaria para isso declarar mobilização nacional. Mesmo com todo o aparato de repressão e controle das mídias, o recrutamento massivo de soldados russos poderia abalar os altos índices de popularidade de Putin.

Em outras palavras, a Ucrânia luta uma guerra absoluta de sobrevivência da nação. Ou seja, uma guerra na qual todos os esforços do Estado e do povo estão voltados para o conflito. Uma guerra sem limites.

Já a Rússia encara a ação na Ucrânia como um conflito que tem grande importância estratégica, mas que por ora não tem potencial para determinar o destino da Rússia. Entre outros motivos, é por isso que Putin chama a guerra de “operação militar especial”.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus tampouco estão interessados em entrar em uma guerra absoluta e, assim como Putin, temem uma escalada do conflito. Talvez por isso, com medo de perder apoio, o governo de Zelensky não cantou vitória abertamente sobre o suposto ataque a Saky.

A China é a salvação ou uma ameaça à Rússia?
Outro temor que influi no raciocínio russo em relação à guerra na Ucrânia é o papel da China na esfera econômica do conflito.

Putin e o ditador chinês Xi Jinping firmaram em 4 de fevereiro, antes da guerra, uma “parceria sem limites” – que foi interpretada por analistas ocidentais como um pacto de momento contra a hostilidade dos Estados Unidos e seus aliados.

A curto prazo, Pequim se tornou um grande fornecedor de produtos e comprador de energia de Moscou – substituindo parceiros comerciais europeus que aderiram às sanções internacionais capitaneadas pelos Estados Unidos e destinadas a isolar a economia russa.

Para se ter ideia, as vendas de petróleo e gás natural da Rússia para a China chegaram a 8,4 milhões de toneladas em maio – 55% a mais do que no mesmo período do ano anterior, segundo a Administração Geral de Alfândegas da China. Assim, a Rússia desbancou a Arábia Saudita (7,8 milhões de toneladas) como o maior fornecedor de hidrocarbonetos para a China.

Mas a salvação econômica tem um preço. Na medida em que o tempo passa e as sanções continuam, a Rússia terá que aceitar condições desfavoráveis em negociações comerciais com a China, segundo artigo do analista Alexander Gabuev, do think tank Carnegie Endowment for International Peace, publicado na revista Foreign Affairs.

De acordo com o pesquisador, no campo diplomático, a China pode obrigar Moscou a abrir mão de parcerias de defesa com a Índia e com o Vietnã, além de apoiar Pequim em suas demandas sobre Taiwan e a região marítima ao sul da China. O Kremlin também terá que fazer negociações e construir reservas financeiras baseadas na moeda chinesa.

No campo dos armamentos, a China poderá se beneficiar da compra de tecnologia russa. Na exportação de maquinário pesado, os chineses devem tentar substituir os alemães como grandes fornecedores para a Rússia.

Nesse processo, Xi Jinping terá que se preocupar em evitar as sanções americanas por conta da ajuda a Moscou. Mas não pode forçar seu novo parceiro a ponto de fragilizar demais o governo de Putin – pois a queda do russo e sua substituição por um líder menos hostil ao Ocidente podem prejudicar os interesses chineses.

Isto é, Moscou deve receber o apoio econômico que precisa para continuar lutando na Ucrânia. Mas, se não souber lidar com os chineses, a longo prazo a Rússia pode perder muito de sua autonomia estratégica – tornando-se uma espécie de “parceiro júnior” da China, cuja economia pode ultrapassar a americana por volta de 2030. Essa dependência é outro medo que tem estimulado o exercício da cautela por parte de Putin.

Ameaça de catástrofe nuclear

As Forças Armadas da Rússia têm capacidade para atingir, a distância, praticamente qualquer alvo na Ucrânia. Até agora, a despeito de toda a destruição causada, elas vêm poupando centros de grande concentração populacional, como a capital Kyiv.

Mas a atitude cautelosa na estratégia de guerra como um todo não está acontecendo em relação à usina nuclear de Enerhodar, em Zaporizhzia, no sul da Ucrânia.

A maior usina nuclear da Europa foi tomada pelos russos no dia 4 de março. Na ocasião, tropas russas bombardearam e provocaram um incêndio em uma parte da planta – que não resultou em vazamento de radiação. Na época, o Kremlin tentou culpar a Ucrânia pelo incêndio.

Nos últimos dias, a usina voltou a ser bombardeada, nos dias 6 e 11 de agosto. Segundo os ucranianos, a Rússia posicionou peças de artilharia entre os reatores nucleares. O objetivo é atirar contra posições ucranianas nas proximidades, sem correr o risco de receber fogo em retaliação.

Os ucranianos têm tentado então atingir os russos fora da usina, no momento em que soldados entram e saem do complexo em trocas de turnos.

Já a Rússia acusa tropas ucranianas de serem as responsáveis pelos ataques à usina. Kyiv, por sua vez, diz que jamais bombardearia as instalações nucleares, pois um vazamento de radiação colocaria em risco a sua população e contaminaria o território do país por décadas.

Não é possível verificar de forma independente quem foram os responsáveis pelos recentes bombardeios. Mas essa é a primeira vez que uma usina nuclear é palco de uma guerra de alta intensidade.

Um disparo de artilharia que atinja uma estrutura crítica da usina pode resultar em dois cenários. No mais grave, a destruição dos sistemas de resfriamento do núcleo de um reator nuclear poderia levar ao seu derretimento e explosão. Nesse caso, uma nuvem de radiação equiparável às dos desastres de Chernobyl, em 1986, ou Fukushima, em 2011, poderia atingir não só a Ucrânia, mas a Rússia ou países da Europa, dependendo das condições do vento.

O outro cenário possível seria um vazamento de radiação mais limitado, mas que também poderia afetar a Ucrânia e os países vizinhos. Em ambos os casos, o número de vítimas seria contado aos milhares, grandes áreas ficariam inabitáveis por décadas e o dano ambiental seria de magnitude catastrófica.

A ONU e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) vêm pedindo que os combates na região cessem imediatamente e que a Rússia permita o acesso de técnicos internacionais à planta e crie uma zona desmilitarizada ao seu redor. A Ucrânia tem apoiado os pedidos internacionais para que toda a área seja excluída da zona de conflito, mas todos esses apelos por ora não têm sido atendidos.

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LÍTIO É MUITO UTILIZADO NA FABRICAÇÃO DE BATERIAS PARA CARROS ELÉTRICOS

Lítio

Por
Cristina Seciuk


Após 25 anos de restrição, o lítio brasileiro tem caminho aberto para exportação e pode se beneficiar da crescente demanda pelos carros elétricos.| Foto: EFE/EPA/Rungroj Yongrit


O governo federal pretende posicionar o Brasil como produtor mundial de lítio ao retirar limitações impostas desde 1997 ao comércio exterior do minério. Em decreto assinado no mês passado, o presidente Jair Bolsonaro revogou medidas anteriores que por 25 anos mantiveram a obrigatoriedade de autorização prévia da Comissão Nacional de Energia Nuclear para a realização de exportações do material.

Então considerado “de interesse para a energia nuclear” (conforme texto do decreto dos anos 1990), o lítio ganhou novos usos com o passar das décadas e hoje é estratégico para a transição energética, com destaque para sua ampla utilização na fabricação de baterias para carros elétricos.

O desenvolvimento do segmento é acelerado e a perspectiva é de que a dinamização do mercado brasileiro de lítio melhore as condições de competitividade para garantir ao país boa fatia dessa cadeia.

Dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) apontam que 2021 foi de recorde nas vendas de carros elétricos, que chegaram a 6,6 milhões de unidades – o dobro do ano anterior. Além do paralelo já consolidado, as vendas globais continuam subindo fortemente em 2022, “com 2 milhões [de veículos elétricos] vendidos no primeiro trimestre, um aumento de 75% em relação ao mesmo período de 2021”, frisa a IEA.

O avanço dos elétricos se dá globalmente, ao sabor de incentivos a tecnologias limpas e restrições esperadas para os próximos anos, como o banimento da venda de novos carros a combustão na Europa a partir de 2035.

Ao ganhar mais espaço, a indústria automotiva dos eletrificados puxa também a busca pelos minérios utilizados na fabricação das baterias. Números da consultoria S&P Global indicam que a demanda pelo lítio deve atingir 2 milhões de toneladas até 2030; até 2040 a demanda deve crescer mais de 40 vezes, projeta a IEA, um prato cheio para os produtores.

Para o Ministério de Minas e Energia (MME), o decreto pode viabilizar mais de R$ 15 bilhões em investimentos até 2030, concentrados no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, uma das regiões mais pobres do país. É lá que fica a maior parte das reservas conhecidas no país.

É esperada ainda geração de sete mil empregos diretos apenas na mineração e mais de 84 mil postos de trabalho diretos e indiretos ao longo das cadeias produtivas do lítio. Pelos cálculos da pasta, os pagamentos de salários devem somar R$ 440 milhões por ano e a arrecadação anual de royalties deve passar de R$ 100 milhões, distribuídos, na maior parte, aos municípios produtores.

Para a pasta, o fim das restrições à exportação do lítio brasileiro promove abertura que pode “posicionar o Brasil de forma competitiva na cadeia global e atrair investimentos para pesquisa e produção mineral”, além de fazer avançar nossa capacidade produtiva em processamento e produção de componentes e baterias.

“A medida também representa um passo fundamental para ampliar o olhar da indústria automotiva e atrair investimentos para a produção de veículos elétricos no Brasil”, diz comunicado do MME.


Qual o tamanho das reservas e a produção de lítio no Brasil
Comparativamente aos “vizinhos” de América Latina, as reservas brasileiras conhecidas – de aproximadamente 500 mil toneladas – são enxutas. O continente concentra a maior parte das reservas mundiais do mineral, com destaque para Bolívia, Argentina e Chile (com 21 milhões, 19,3 milhões e 9,6 milhões de toneladas de lítio, respectivamente).

Devido à exploração contínua do minério, entretanto, os recursos identificados vem crescendo em todo o mundo, o que pode levar a novas descobertas. Em 2021, havia 86 milhões de tonelada de lítio conhecidas globalmente, conforme o Serviço Geológico dos Estados Unidos.

Ainda conforme dados do órgão norte-americano, a produção brasileira em 2019 foi de 2,4 mil toneladas. Em comparação, a Austrália, maior produtor, extraiu 45 mil toneladas no mesmo ano.


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