segunda-feira, 8 de agosto de 2022

MARKETPLACES E FIDELIZAÇÃO DOS CLIENTES

 

Visão do cliente
Por
Mateus Pestana* – Gazeta do Povo


Marketplaces, dados e as melhores estratégias para fidelizar clientes| Foto: Unsplash, Igor Miske/Reprodução

A cultura de Sucesso do Cliente surgiu inicialmente nas empresas de tecnologia, porém essa visão se expandiu e hoje se adapta a todas as empresas que desejam estar mais próximas dos seus clientes, incluindo marketplaces. Para trazer a visão do cliente como o ponto central das estratégias, iremos abordar algumas ações que podem ser aplicadas no setor, trazendo renovação e maior satisfação para seus compradores.

Dados como base de todas as estratégias com clientes
Clientes são difíceis de conseguir e mais ainda de se manter. Atualmente, é possível cancelar compras, trocar de fornecedores e testar produtos diferentes com facilidade, deixando cada vez mais desafiador aumentar índices de novas vendas e recompra. Para vender mais para clientes atuais, é necessário conhecer melhor seu comportamento, estreitar relacionamentos e oferecer produtos interessantes, no momento certo, de acordo com cada perfil para gerar maior engajamento. Para que isso aconteça, é necessário ter estratégias focadas na análise de dados.

Dados e indicadores são os grandes norteadores de ações, eles indicam hábitos de clientes, além de trazer uma melhor consciência sobre a saúde do negócio. A partir desses dados, é possível identificar as estratégias que trouxeram crescimento, aumentaram vendas ou as que tiveram resultados negativos. Olhando para dados do passado é possível ter uma previsão de resultados futuros, por isso utilize sempre todos os seus indicadores para permear ações com clientes.

Ações e estratégias de Customer Success para Marketplaces
Elencamos algumas ações que podem ser criadas para o sucesso dos clientes de marketplaces, aproximando o relacionamento com compradores. Separamos de acordo com as fases da estratégia de CS algumas jornadas de evolução de compras.

No Sucesso do Cliente, dividimos as comunicações por fase, de acordo com sua evolução pós-contratação. Estas fases são: onboarding, engajamento, retenção e expansão. Iremos definir a seguir ações de acordo com estes momentos, voltadas sempre para o público e aspectos dos compradores de marketplaces.

1 – Onboarding

Nesta etapa o objetivo é firmar um relacionamento inicial, atingindo os primeiros objetivos do cliente, assim eles poderão experimentar valor e começar a construir confiança na sua marca. Crie ações como:

Boas vindas – Inicie o contato com o seu cliente trazendo informações importantes sobre o cadastro e agradecendo pelo interesse no seu marketplace. Aqui é a primeira impressão que fica, então é importante construir um relacionamento pautado na confiança e segurança, direcionando sempre o cliente para o próximo nível, a compra.

Primeira compra – Após a primeira compra é importante deixar o cliente informado sobre a evolução e confirmação do pedido, além de avisar sobre atualizações na entrega até a finalização e recebimento. Vale aqui utilizar canais diversos de comunicação como e-mail, SMS ou Whatsapp. Não esqueça de agradecer pela preferência.

2 – Adoção e Engajamento

Após a primeira compra é importante manter o relacionamento com o cliente, para que ele esteja sempre engajado e conhecendo as novidades do seu marketplace. Acompanhe os dados comportamentais para identificar os produtos que o cliente possui interesse, antecipar intenções de compras e gerar vendas futuras.

Promoções – Envie informativos de promoções de produtos que o clientes já mostrou interesse ou itens similares, utilizando diversos canais de comunicação. Aproveite também datas comemorativas e queimas de estoque para manter o desejo de compra ativo.

Programa de fidelidade – Outra oportunidade para manter o engajamento é a criação de programas de fidelidade que trazem benefícios exclusivos para membros, favorecendo clientes que são fiéis a sua marca e incentivando-os a comprarem mais e indicarem sua empresa.

3 – Retenção

É importante manter a atenção a obstáculos que podem surgir durante o processo de vendas, algumas ações de retenção podem fazer a diferença entre a evolução da compra ou o seu cancelamento. Pensando nisso, elencamos ações de retenção para marketplaces:

Carrinho abandonado – Utilize os dados de carrinho para enviar comunicações sobre abandono e incentivar clientes a finalizarem as suas compras para não perder vendas.

Régua de cobrança – Formatos de pagamento como boleto, necessitam de maior estruturação na comunicação para manter o cliente engajado, envie o título após a finalização da compra e informe claramente o prazo de pagamento.

Ações com clientes detratores – Envie pesquisas de pós-compra, de acordo com as notas tente entender se houveram problemas e entre em contato com clientes detratores, demonstrando interesse e a busca de uma solução para a situação. Se a experiência ruim for alterada para positiva o cliente pode voltar a comprar no futuro.

4 – Expansão
Fortaleça ainda mais o relacionamento com clientes, enviando mensagens personalizadas que apresentam produtos que já tenham comprado para que possam voltar a adquirir, indique também outras opções similares ou novos produtos de interesse de acordo com dados de comportamento.

Recompra – Utilize dados de interesse do cliente para aumentar o índice de recompra de pedidos, enviando comunicações automáticas que apresentam diferenciais, promoções e incentivos a uma nova compra.

Cupons de desconto – Envie por diversos canais de comunicação cupons de desconto em datas comemorativas, ou para categorias de produtos específicos que o clientes já possa ter demonstrado interesse, incentivando novas compras.

O acompanhamento de indicadores de Marketplaces
Analise seus indicadores de perto, verificando sempre a sua evolução. Essas informações devem nortear as ações, desde a criação até a avaliação da sua efetividade, colhendo os resultados no comparativo de tempo. Por este motivo é necessário que a gestão possua acesso a indicadores de forma simplificada a ágil, para que a tomada de decisões seja pautada na consolidação dos resultados de vendas, informações de comportamento de clientes, dados de pedidos e estoque.

Alguns indicadores principais são:

Produtos adquiridos
Performance vendas no marketplace
Frequência de Compra 
Variedade de cesta 
Quantidade de SKU’s distintos 
Estoque
Quantidade de fornecedores/indústrias
Inadimplência
NPS

A importância do Customer Success para Marketplaces
A revisão da cultura empresarial, aderindo ao Customer Success pode não ser a decisão mais simples para gestores de marketplaces, porém é esta visão que irá aproximá-los dos clientes, ajudando na compreensão de comportamentos, hábitos e necessidades.

A utilização de dados de clientes permite criar uma visão mais ampla sobre o que é importante para eles, trazendo a oportunidade de adaptar a operação da empresa para entregar melhores experiências e maior valor a cada venda. Veja alguns benefícios que a cultura do Sucesso do Cliente e a utilização de uma plataforma específica podem trazer para sua empresa:

Automatização da jornada – Crie uma jornada do cliente personalizada e automatizada, para orientar clientes a uma melhor experiência, deixando-os mais engajados e gerando mais vendas.
Engajamento no programa de benefícios – Gerencie um programa de fidelidade para entregar benefícios exclusivos aos clientes fiéis da sua marca.
Escala do time de relacionamento – Automatize as comunicações com clientes para ganhar maior escala com seu time de relacionamento, entrando em contato somente com clientes que realmente precisam de atenção.
Aumento da base de clientes – Ganhe destaque com comunicações personalizadas, baseadas no comportamento e necessidade de cada cliente, gerando mais vendas.
Aumento da frequência de compra – Evolua as ações com clientes a partir de dados, enviando lembretes sobre produtos de interesse na frequência ideal para a recompra.
Aumento da retenção dos clientes – Fortaleça o relacionamento para ter clientes mais satisfeitos e engajados com a sua empresa, que se tornam verdadeiros promotores da sua marca.

*Mateus Pestana é CEO e Co-fundador da SenseData, primeira plataforma de Gestão de Customer Success da América Latina. Está entre os 100 principais estrategistas sobre o tema no mundo. Apaixonado por clientes e tecnologia, Mateus sempre esteve envolvido com Customer Success e já ministrou mais de 200 eventos entre palestras e workshops. 


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/gazzconecta-colab/marketplaces-dados-melhores-estrategias-fidelizar-clientes/
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GERAÇÃO "Z" NO MERCADO DE TRABALHO

 

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Outro dia, enquanto eu estava lendo os comentários na newsletter, encontrei esse:

“Mais conteúdos sobre a Geração Z, por favor. Preciso conhecê-la”

Todos nós precisamos, já que os nascidos no final de 1990 ao início de 2010 chegaram ao mercado de trabalho.

Isso significa que essa geração (da qual eu não faço parte e, possivelmente, você também não), é a nova integrante dos times na firma — e promete revolucionar o mercado de trabalho.

Entenda 🔎

Agora começa a acontecer o chamado choque geracional, onde pessoas de diferentes visões e comportamentos trabalham juntas. Para as empresas, é importante conhecer esse novo perfil para atrair e reter os melhores talentos.

Por exemplo, a Geração Z traz uma visão que antes era pouco comum no mundo corporativo: a de equilibrar a vida pessoal e a profissional. Para ela, é o fim da era workaholic.

O que vale é a experiência e a busca pela verdade. Rejeitam rótulos e são altamente analíticos e pragmáticos ao tomar decisões e relacionar-se com empresas. É o que mostra uma pesquisa feita pela McKinsey.

Não acreditam em jornada fixa de trabalho, mas sim na qualidade das entregas e em passar menos tempo na empresa. Algumas companhias já entenderam isso e implementaram modelos de trabalho diferentes na rotina, como semana mais curta, horário flexível e contratação de nômade digital — pessoas que trabalham enquanto viajam.

Mas não para por aí. Saúde mental também é um ponto importante para a GenZ. A título de curiosidade, foram publicados 111% mais podcasts sobre o assunto no primeiro trimestre de 2022 quando comparado com o mesmo período em 2021, segundo dados do Spotify. Não à toa, programas de bem-estar e cuidado com a saúde mental foram implementados em empresas.

Além disso, os valores e propósito são importantes para essa geração, e se o seu produto não se enquadra a eles, sinto dizer: o talento não vai trabalhar para a sua empresa.

Viu só como o comportamento da GenZ tem mudado o mercado de trabalho? 😉

O que fazer? 🤯

O primeiro passo é entender o perfil dessa geração. Se você leu o bloco acima já eliminou esta etapa.

Depois, vale criar estratégias corporativas de acordo com o comportamento. Por exemplo, vai entrevistar candidatos à uma vaga da GenZ? Que tal apostar em entrevista no metaverso, já que essa geração é nativa digital? Por mais que possa parecer surreal (eu sei, o novo assusta) pode ser uma boa opção para criar uma conexão com esses profissionais.

A mesma análise vale para o equilíbrio pessoal e profissional: o que a sua companhia poderia criar ou reformular para atrair e reter o trabalhador da GenZ?

Outro ponto: capacite a sua equipe. Ela deve ter soft skill necessária para lidar com uma geração diferente da deles. Afinal, a diversidade, incluindo a geracional, é uma das formas de criar novas ideias, de inovar.

Resumindo:

A Geração Z chega no mercado de trabalho com comportamento diferente das anteriores. Por isso, para atrair e reter o talento da GenZ, é importante conhecer o perfil dela e criar modelos de trabalho e benefícios corporativos que atendam às suas necessidades. Afinal, quanto mais diverso o time — incluindo geracional — mais inovações o seu negócio pode ter.

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

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domingo, 7 de agosto de 2022

BOLSONARO NÃO É OBRIGADO A RESPONDER ÀS INTERPELAÇÕES DO STF

 

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil – 28/6/2021

Por Weslley Galzo

De 13 processos em andamento na Corte, presidente desrespeitou o limite de tempo em 11 ações e não se manifestou em duas delas

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BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro ignorou todos os prazos de pedidos de explicações dados a ele pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 13, dos 150 processos contra o governo que tramitam na Corte, os ministros deram entre cinco e 15 dias para manifestação da defesa. Levantamento do Estadão mostra que, na maioria das vezes, Bolsonaro descumpriu o limite de tempo. Também há casos em que ele ignorou a Corte.

De 13 pedidos de explicações, governo respondeu atrasado em onze e ignorou dois.
De 13 pedidos de explicações, governo respondeu atrasado em onze e ignorou dois.  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Desde o início do mandato, Bolsonaro mantém uma relação conflituosa com os magistrados, a quem acusa de ativismo judicial. O presidente já ameaçou inúmeras vezes descumprir decisões da Suprema Corte. No caso dos pedidos de explicações, ele não é obrigado a responder. Segundo juristas, porém, isso significa que as ações serão julgadas sem que o chefe do Executivo tenha apresentado seus esclarecimentos.

Das 13 solicitações, 11 foram respondidas fora do prazo e duas foram ignoradas. Um dos casos segue sem resposta há mais de um mês após o fim do limite de tempo determinado.

Na última sexta-feira, a ministra Cármen Lúcia fez mais um pedido de explicações ao presidente. Deu cinco dias para ele expor os motivos da mudança do desfile de 7 de Setembro do centro do Rio para Copacabana. Ação proposta pela Rede sustenta que a alteração no local da parada militar teria motivação política. O prazo de resposta começa a contar quando a Presidência da República for notificada.

Não é raro ministros estenderem “prazos irrevogáveis” para aguardar respostas de Bolsonaro. No dia 3 de dezembro do ano passado, a ministra Rosa Weber determinou que o presidente se manifestasse em até 15 dias sobre a acusação pela CPI da Covid do Senado de que praticou charlatanismo ao defender medicamentos sem eficácia para a covid-19.

Passados dois meses e 20 dias do prazo, o presidente não havia se manifestado. Em 23 de fevereiro deste ano, a ministra, então, estabeleceu novo “prazo improrrogável” para que Bolsonaro apresentasse sua versão. A resposta só veio, enfim, 19 dias depois do segundo limite de tempo.

Os prazos curtos visam atender o contraditório, garantir o diálogo institucional entre os Poderes, evitar decisões monocráticas sem a escuta do outro Poder.”

Wallace Corbo, professor de Direito Constitucional da FGV-Rio

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Depois de ignorar a ministra, Bolsonaro respondeu que suas declarações públicas em defesa de tratamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da covid-19 foram feitas no “exercício da liberdade de expressão” e argumentou que “a opinião política eventualmente divergente não pode ser interpretada como fruto de ilícitos criminais”. Com base na explicação, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, pediu, em julho, o arquivamento do caso.

Bolsonaro também ignorou questionamentos do Supremo mais de uma vez. No início de junho, o ministro Dias Toffoli deu cinco dias para que o governo explicasse a ordem de reajuste de 15,5% nos preços dos planos de saúde, anunciada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O presidente nunca respondeu.

A ANS, também questionada, apresentou uma explicação da sua parte oito dias depois do prazo. O processo foi encaminhado para a Procuradoria-Geral da República apresentar parecer e deve retornar ao gabinete de Toffoli, que terá de tomar a decisão sem as justificativas do presidente.

O presidente adotou o mesmo comportamento quando foi cobrado a explicar ataques a adversários políticos. Foi notificado por críticas ao então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Só respondeu 17 dias após o prazo. Quando o alvo foi a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Bolsonaro tinha 15 dias para se justificar. Manifestou-se seis dias após o prazo.

Além dos 13 procedimentos em que houve solicitação de respostas, os demais processos no Supremo não avançaram e nem chegaram à fase de pedido de esclarecimentos ou mais informações.
Além dos 13 procedimentos em que houve solicitação de respostas, os demais processos no Supremo não avançaram e nem chegaram à fase de pedido de esclarecimentos ou mais informações.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Além de não cumprir os prazos da Justiça, Bolsonaro, quando se manifestou, deu respostas evasivas na maioria dos casos. Em junho, o ministro André Mendonça estabeleceu prazo de dez dias para que o governo explicasse o sigilo imposto aos registros de visitantes do Palácio do Planalto e a outros atos do governo.

As respostas da Presidência chegaram cinco dias após o prazo determinado e repetiram dados veiculados pela imprensa, como o número de vezes em que os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos estiveram na sede do governo.

Como revelou o Estadão, os dois foram os pivôs do gabinete paralelo montado no Ministério da Educação (MEC) na gestão do então ministro Milton Ribeiro. Segundo relatos de prefeitos, os pastores cobravam propina em troca da intermediação com o ministro de recursos para educação. O caso segue em aberto com investigações na Polícia Federal, mas o Executivo conseguiu contornar o STF.

Além dos 13 procedimentos em que houve solicitação de respostas, os demais processos no Supremo não avançaram e nem chegaram à fase de pedido de esclarecimentos ou mais informações.

O STF tem o poder de pedir explicação com base no sistema de freios e contrapesos, até porque essas explicações vêm por meio de processos e representações que partidos políticos têm feito contra atos de gestão do presidente.”

Renato Ribeiro, professor de Direito da USP

O professor de Direito Constitucional Wallace Corbo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio), disse que o presidente pode ignorar os pedidos de explicação do Supremo, mas isso tem consequência: a Justiça terá de decidir sem saber o que o Executivo tem a dizer. Além de, segundo ele, expor a falta de deferência do presidente em relação à Corte.

Os pedidos de informação estão previstos em três leis diferentes que organizam a tramitação de algumas das principais ações que chegam ao Supremo. “Prazos curtos visam atender o contraditório, garantir o diálogo institucional entre os Poderes, evitar decisões monocráticas sem a escuta do outro Poder afetado por isso”, afirmou.

PRERROGATIVA

Professor de Direito da USP, Renato Ribeiro disse que o pedido de informações está previsto na legislação e avalia que não há abuso da Corte. “O STF tem o poder de pedir explicação com base no sistema de freios e contrapesos, até porque essas explicações vêm por meio de processos e representações que partidos políticos têm feito contra atos de gestão do presidente. O STF tem, portanto, a prerrogativa de pedir informações e pode decidir sem elas, caso não sejam apresentadas pelo presidente”, afirmou.

O levantamento do Estadão identificou que boa parte dos pedidos de explicação ocorreu durante a pandemia de covid-19. Em março do ano passado, Bolsonaro disse que “tiranos” estavam esticando a corda ao determinar medidas restritivas. Na ocasião, o presidente afirmou a apoiadores que poderiam “contar com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade”.

O caso chegou ao STF e ficou sob a relatoria do então ministro Marco Aurélio Mello. Ele pediu explicações, mas Bolsonaro solicitou que o caso fosse arquivado, sob o argumento de que as declarações tinham “cunho político, sem destinatário certo e específico”. Foi atendido.

ROUBOS DE CELULARES FACILITA GOLPES BANCÁRIOS

 

Foto: Redação

Por Guilherme Guerra

De boleto falso a Pix de emergência: vítimas de golpe contam como foram enganadas

Atenção ao smartphone é fundamental: ele é o principal alvo de bandidos que querem tirar dinheiro do consumidor

Celulares tornaram-se o centro de nossas vidas, reunindo em um único aparelho informações pessoais, de trabalho e também financeiras. Exatamente por isso, bandidos visam esses smartphones em furtos ou roubos. Proteger o aparelho para evitar que os criminosos tenham acesso a dados sensíveis, como e-mail ou contas bancárias, tornou-se primordial para garantir a segurança no mundo digital.

Abaixo, listamos algumas dicas de proteção, classificadas por complexidade. O nível básico, por exemplo, é mais simples de realizar, mas também consegue ser contornado mais facilmente por bandidos. Já o nível avançado dá mais trabalho para executar, mas oferece barreiras maiores.

Aprenda como ter mais segurança no celular e se proteger se furtos acompanhados de golpes financeiros.
Aprenda como ter mais segurança no celular e se proteger se furtos acompanhados de golpes financeiros.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Independentemente do nível de dicas que você adotar, é sempre bom ter em mente que não existe solução mágica contra crimes digitais. O importante é ter atenção máxima e exigir de autoridades e instituições investimento no combate a fraudes no ambiente online.

Nível básico de segurança

1) Use senhas alfanuméricas (incluindo símbolos e combinando letras minúsculas e maiúsculas) diferentes para cada cadastro, como em redes sociais e e-mail;

2) Use sequências numéricas aleatórias em instituições financeiras, como senhas de cartões ou credenciais em aplicativos bancários (nada de datas comemorativas ou números sequenciais óbvios);

3) Ative a verificação em duas etapas com número de celular ou e-mail;

4) Coloque senha no chip (SIM) da operadora, o que irá impedir que ladrões insiram o cartão em outro aparelho e tenha acesso ao seu número;

5) Desconfie sempre: não clique em links duvidosos ou dê informações pessoais, mesmo que o pedido parta de um contato conhecido – esses podem ser casos de “phishing”, quando o criminoso tenta extrair informações de você;

6) Ative todas as biometrias do seu aparelho, como leitores de digitais e de rosto, que ajudam a criar uma camada a mais de segurança.

Nível intermediário de segurança

1) Tenha senhas aleatórias, complexas e impossíveis de decorar: use apps específicos (1Password, Last Password) ou ferramentas nativas de navegadores (Google Chrome e Safari), que criam senhas completas e as colocam em um “cofre” na nuvem;

2) Ative senhas de uso único como outra etapa de verificação. Essas senhas são números aleatórios que funcionam como um segundo código para fortalecer a conta. Elas são criadas por apps próprios (Google Authenticator, Microsoft Authenticator, Authy, 1Password). Redes sociais, e-mails e outras plataformas permitem ativar o recurso;

3) Entre em contato com a sua instituição financeira e diminua limites diários de transferência (DOC, TED e Pix), saques e empréstimo pré-aprovado; em alguns casos, essas funções podem ser alteradas via aplicativo;

4) Considere incluir um contato de confiança em sua família iCloud (Apple), permitindo que familiares possam apagar o dispositivo à distância rapidamente em caso de roubo — Android (Google) não tem o recurso.

Nível avançado de segurança

1) Comprar uma chave de segurança física para recuperação de senha e logins, como Titan (do Google), Yubico e OnlyKey — os preços, no entanto, podem ser salgados, ultrapassando a faixa dos R$ 800. Esses objetos são pequenos e podem ser guardados em chaveiros, por exemplo;

2) Gere e imprima códigos de backup alternativos, que são uma série de senhas criadas automaticamente pelo próprio cadastro dos serviços. Esses códigos devem ser guardados em casa em local seguro, de modo que o acesso seja facilitado para recuperar as contas como última tentativa quando todos os outros métodos de proteção e recuperação de conta falham. Google, Facebook e Microsoft possuem esse recurso e ensinam a fazer o passo a passo;

3) Caso tenha adotado um app do tipo gerador de senhas (Google Autenticathor, Microsoft Autenticator, Last Password, 1Password), apague todas as senhas salvas dos navegadores (como Google Chrome e Safari) para evitar brechas. Aqui, a ideia é concentrar todas as suas senhas em um lugar mais seguro;

4) Crie um “e-mail secreto” a que só você tem acesso: essa conta não pode estar salva em nenhum dispositivo do cotidiano, deve ter senhas fortes e autenticação em dois fatores ativada. Será por esse e-mail que você fará recuperação das contas mais importantes, como Google, Apple e Facebook;

5) Deixe um dispositivo em casa (como um tablet ou celular velho) para ser o local por onde você acessa seu e–mail “secreto”, apps próprios de senhas ou até de instituições financeiras que são menos utilizadas, por exemplo.

TIKTOK AMEAÇA O GOOGLE

 il e Mundo TikTok e Google

TikTok ameaça reinado do Google em buscas com algoritmo afiado

Byvaleon

Ago 7, 2022

Foto: Shiho Fukada

Por Guilherme Guerra

Pela primeira vez desde que se consolidou como gigante da internet, empresa americana vê domínio ser colocado em xeque

“Como limpar o vidro do box do banheiro?”, “receitas com sassami de frango” e “formas de dobrar roupas” são algumas das perguntas para as quais Amanda Alt, 31, já procurou respostas na internet. Até bem pouco tempo atrás, o lugar óbvio para fazer isso seria o Google, mas a gerente de projetos optou por um caminho aparentemente inusitado: o TikTok.

Popular entre os mais jovens, já faz algum tempo que o app chinês deixou de ser um “aplicativo de dancinhas”. Com vídeos curtos e espertos, o serviço passou a ser um repositório de conteúdo sobre praticamente qualquer assunto: de culinária e limpeza doméstica a autoajuda e conselhos para adolescentes desiludidos no amor. Em pouco tempo, a nova vocação do serviço passou a desafiar o Google naquilo que tornou a companhia em um gigante: buscas na internet.

“Um dia, percebi que estava indo primeiro ao TikTok para fazer buscas. Funciona muito bem para dicas domésticas ou receitas”, diz Amanda, que utiliza o app desde 2019. “O Google tem sido menos utilizado nesses casos, porque os primeiros resultados trazem informações repetidas ou são de conteúdos patrocinados que não me interessam.”

A estudante Sabrina Rocha, 23, concorda. “O Google traz muitas respostas contraditórias. Já no TikTok, eu posso ver vídeos e postagens de pessoas ‘comuns’ respondendo minhas dúvidas de forma direta”, conta ela.

Os criadores de conteúdo do app, claro, perceberam a tendência e passaram a recomendar serviços e produtos e a dialogar diretamente com o usuário, sem links e ou resultados patrocinados. “O maior diferencial entre o Google e o TikTok é a troca de experiências entre os usuários”, observa Sabrina.

Fundado em 1998, o Google é a empresa líder em buscas na internet, à frente do Bing (da Microsoft) e Yahoo!
Fundado em 1998, o Google é a empresa líder em buscas na internet, à frente do Bing (da Microsoft) e Yahoo! Foto: Noah Berger/AFP – 26/7/2022

Ameaça

É uma mudança de paradigma que pode estar tirando o sono dos executivos do Google. O novo hábito afeta diretamente o negócio da companhia, que se consolidou nos últimos 24 anos como o lugar favorito da internet para realizar qualquer pesquisa.

A empresa já reconheceu os novos ventos, vindos principalmente da Geração Z, os nascidos depois dos anos 2000. “Em nossos estudos, cerca de 40% dos jovens não vão ao mapa ou à ferramenta de busca do Google quando procuram onde almoçar. Eles vão ao TikTok ou ao Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, executivo da gigante da tecnologia na área de conhecimento e informação, em evento organizado pela revista americana Fortune em julho passado. Segundo ele, as gerações mais novas querem conteúdo imersivo, com formatos “ricos”, como vídeos.

“Essa não é a primeira vez que uma companhia desafiou a ferramenta de buscas do Google”, explica ao Estadão Nikhil Lai, analista da consultoria americana Forrester. O Yahoo! e o Bing (da Microsoft) também estão na corrida, mas o líder permanece com mais de 85% da fatia do mercado há 10 anos. “Mas eu não considero esses nomes como desafiantes, e sim o TikTok.”

Briga de titãs

Nascido há 6 anos, o TikTok já é um gigante, com 755 milhões de usuários ativos mensais, segundo a consultoria eMarketer — a firma exclui da contagem perfis falsos e de marcas, por isso número é inferior ao 1 bilhão de contas comemoradas pela ByteDance (dona do TikTok) em setembro de 2021. Em dezembro de 2021, o aplicativo chinês foi o site de maior acessos no mundo naquele mês e superou o Google.

“O aumento do tráfego mostra como o TikTok continua se adaptando e fornecendo maneiras para os consumidores descobrirem produtos”, diz à reportagem o analista Greg Carlucci, da consultoria americana Gartner. “Mas ainda é muito cedo para avaliar o impacto direto que o app vai ter em todos os mecanismos de busca.”

De fato, os números indicam que o TikTok ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir o mesmo patamar do Google. A plataforma chinesa soma quase US$ 6 bilhões em receita de publicidade no mercado americano, segundo a eMarketer. O valor é inferior aos mais de US$ 20 bilhões anuais que o YouTube, do Google, recebe em anúncios.

O Google não pode se dar ao luxo de perder a batalha contra o TikTok

Nikhil Lai, analista da Forrester

Isso, porém, não significa que o Google não esteja se movimentando para conter os avanços do novato. Em julho de 2021, o YouTube lançou o Shorts, serviço de vídeos curtos, verticais e rápidos — a inspiração no rival é clara. A ideia é que youtubers tenham as duas possibilidades no momento da criação, seja algo mais rápido, seja algo com minutagem mais longa. Vai caber ao usuário escolher o que deseja.

“Como o TikTok tem conteúdos menores e rápidos, não costumo fazer buscas no YouTube, apenas no caso de o app trazer um resultado insatisfatório”, comenta Sabrina.

Amanda faz uso semelhante. “Vou ao YouTube quando preciso de mais detalhes, como uma aula mais complexa ou algo que possua um passo a passo mais longo”, diz ela, que ainda não foi convertida ao Shorts.

Outra manobra do Google é a inclusão de vídeos de outras plataformas na ferramenta de buscas, e não só o YouTube. Agora, conteúdos do TikTok e Instagram começam a aparecer nos resultados de pesquisas da companhia.

A luta se justifica. “Buscas são a propriedade mais lucrativa do Google, representando 58% do total da receita da Alphabet (controladora da empresa) no primeiro trimestre deste ano”, aponta Lai, da Forrester. “O Google não pode se dar ao luxo de perder essa batalha.”

LUA DE MEL DA ESQUERDA LATINA DEVE DURAR POUCO

 

Foto: Agustín Marcarian / Reuters

Por José Fucs – Jornal Estadão

Incertezas em relação à economia global reduzem espaço para cumprir promessas de campanha e já afetam popularidade de governantes do grupo na região

Com a ascensão em série de líderes de esquerda na América Latina, um sentimento de euforia tomou conta de políticos, intelectuais e militantes do grupo espalhados pela região e pelo mundo.

Não apenas pelas derrotas impostas às forças de direita e de centro-direita que estavam no poder em vários países, como ColômbiaChilePeruBolívia e Honduras. Mas pela expectativa de que um novo tempo, supostamente mais favorável, estaria se anunciando.

Na miragem da turma, que enxerga florestas exuberantes onde só existe a areia escaldante dos desertos, os mandatários de esquerda conseguirão tirar a economia regional do marasmo em que se encontra e reduzir a desigualdade e a pobreza – um mal crônico que está presente, em maior ou menor grau, em toda a América Latina. No limite, acredita-se que os “ungidos” conseguirão promover o desenvolvimento econômico em ritmo chinês e garantir uma qualidade de vida sueca aos cidadãos.

Aqui no Brasil, onde a esquerda permaneceu no poder sob o comando do PT por quase 14 anos, entre 2003 e 2016, a esperança do pessoal é de que, nas eleições de outubro, com uma eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o eterno candidato do partido à Presidência – será possível reviver os “anos dourados” que ele teria propiciado aos brasileiros em seus dois mandatos (2003-2010).

A realidade, porém, impõe outra narrativa, que contrasta com a que prospera no imaginário da esquerda latino-americana e se propaga por aí em ritmo de bate-estaca. No mundo real, nem o passado da esquerda na América Latina foi róseo como eles dizem nem o presente sugere que o futuro, será.

Nesta reportagem, que complementa o ‘pacote” de apresentação da série sobre as experiências de governo da esquerda na América Latina, o Estadão mostra que os líderes do grupo não terão vida fácil, como tiveram seus correligionários nos anos 2000, quando houve uma primeira onda de esquerda na região.

“Os fatores que estão levando a esquerda a ganhar as eleições são os mesmos que vão dificultar a capacidade de governar, restringindo o que eles podem entregar e fazer”, diz o cientista político Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da Eurasia, uma consultoria internacional especializada em avaliação de riscos.

Classe média emergente

No início dos anos 2000, durante a “primeira onda”, a situação era muito mais favorável. Sobrava dinheiro no mundo. As taxas de juro nos países desenvolvidos estavam em queda. A China crescia na faixa de 10% ao ano, alavancando a economia mundial, e a globalização impulsionava o comércio internacional numa escala sem precedentes.

Com isso, a demanda por alimentos e matérias primas explodiu, levando os preços de produtos como petróleo, minérios, soja e carnes à estratosfera – um fenômeno que se tornou conhecido como “boom das commodities”. Uma enxurrada de dólares inundou os países latino-americanos, que estão entre os maiores exportadores de commodities do planeta.

Foi isso e não a ideologia dos governantes que estavam no poder na região, segundo os analistas ouvidos pelo Estadão, que viabilizou os tempos de bonança, marcados pela expansão da classe média emergente, pelo crescimento da economia, pela redução do desemprego e pelo aumento da renda dos trabalhadores.

Foi esse quadro também, em essência, que criou as condições para que governos de esquerda no Brasil, na Argentina e em outros países latino-americanos se reelegessem, onde a reeleição é permitida, e ficassem longos períodos no poder. Foi um ciclo economicamente tão favorável que a colheita política se deu, de certa forma, independentemente da capacidade de gestão de quem estava no governo. “É claro que os governantes ganharam muito com isso”, afirma Garman.

Promessas generosas

Alguns analistas falam também que as reformas liberalizantes realizadas em alguns países nos anos 1990, antes da chegada da esquerda ao poder, também deram a sua contribuição para a decolagem da economia, ao reduzir a intervenção do Estado, privatizar estatais e buscar o equilíbrio das contas públicas.

“Eles herdaram as reformas dos anos 1990, que abriram a economia da região, gerando uma dinâmica muito propícia ao crescimento e ao investimento. O boom de commodities impulsionou um fenômeno que já estava acontecendo”, diz o escritor e historiador Alvaro Vargas Llosa. Apesar de ser mais conhecido como coautor dos livros Manual do Perfeito Idiota Latino-americano e A volta do idiota, ele também incursiona pelo mundo das finanças – é autor do livro Todo amador confunde preço e valor, sobre investimentos.

Posse de Boric, do Chile, em março: festa durou pouco
Posse de Boric, do Chile, em março: festa durou pouco Foto: ESTADAO / undefined

Hoje, de acordo com quem acompanha de perto os acontecimentos na América Latina, o cenário político e econômico regional e global está bem mais hostil do que o da primeira onda de esquerda. Isso deverá dificultar muito o cumprimento mínimo das promessas generosas de campanha feitas pela esquerda.

Agora, embora os preços das commodities também estejam em alta, turbinados pelos desarranjos provocados na cadeia produtiva global pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, nuvens carregadas pairam sobre a economia mundial.

A inflação deu um salto em todo o mundo – e a América Latina não é uma exceção. Na Argentina, governada pelo peronista Alberto Fernández, as taxas estão na faixa de 65% ao ano, trazendo de volta o fantasma da hiperinflação, que assombrou o país nos anos 1980 e 1990. No Chile, agora governado pelo esquerdista Gabriel Boric, a taxa anual, estimada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em 7,5% para 2022, já está em 12,5%, a maior desde 1994.

Na Venezuela, a alta de preços em 2022 deve ficar em torno de 500%, conforme as previsões do FMI (Fundo Monetário Internacional), com base nas poucas informações divulgadas pelo governo sobre a economia do país. Em Cuba, um dos países mais fechados do mundo, cujo “espírito revolucionário” ainda alimenta o imaginário de boa parte da esquerda latino-americana, inclusive no Brasil, os trabalhadores perderam quase um quarto de sua renda nos 12 meses encerrados em maio, segundo os dados disponíveis (veja o quadro).

Margem de manobra

Além da alta generalizada de preços, a economia global desacelerou. A Europa e os Estados Unidos estão no limiar de uma recessão. Os juros, que registraram recordes de baixa no boom das commodities, agora estão em alta na maioria dos países, para domar a disparada dos preços, afetando de forma negativa a atividade econômica e o fluxo de recursos para as economias emergentes como a América Latina. Trata-se de um quadro típico do que os economistas costumam chamar de “estagflação”, a combinação perversa de inflação alta com estagnação econômica.

“É um cenário que não se vê desde os anos 1970, quase meio século atrás”, afirma Llosa. “O cenário atual não é mais aquele de meados do ano 2000, quando houve um superciclo de commodities. Hoje, não há muita margem para fazer política social, política fiscal, política econômica no sentido amplo”, diz Pedro Mendes Loureiro, professor associado na área de estudos latino-americanos da Universidade Cambridge, na Inglaterra.

Mesmo que a alta das commodities continue por algum tempo e ajude a engrossar a arrecadação de impostos, em decorrência do aumento da inflação e da base de cálculo das contribuições, isso só deve atenuar os problemas. “É claro que a alta dos preços das commodities pode ajudar no curto prazo, mas a inflação vai levar ao aumento dos juros e isso obviamente vai machucar a região”, diz Vargas Llosa. “Isso será também um desafio muito grande para esses governos de esquerda.”

Há também dificuldades políticas pela frente. Vários governantes de esquerda latino-americanos não têm maioria parlamentar, nos países em que a democracia existe, para poder aprovar medidas de seu interesse.

É o que acontece, por exemplo, no Chile, de Boric e na Colômbia, onde o ex-guerrilheiro Gustavo Petro está assumindo a Presidência. No Brasil, se Lula realmente ganhar as eleições de outubro, como apontam as pesquisas, é provável que ele também não consiga maioria parlamentar só com a esquerda e tenha de compor com o centro político, para governar. “Os governos de esquerda estão com as mãos amarradas”, afirma Garman, da Eurasia.”Agora, o potencial de estrago da esquerda é mais limitado.”

Desapontamento

Ao mesmo tempo, com o elevado grau de desalento existente hoje na América Latina, conforme as pesquisas, a tolerância está baixa, o que deve afetar a popularidade do grupo. “A lua de mel dos governantes com a população vai ser curta”, diz Garman. “As condições de governabilidade hoje são menores e a capacidade de eles se reelegerem vai diminuir estruturalmente.”

O que está acontecendo com o novo presidente do Chile, Gabriel Boric, ilustra com perfeição o estado de espírito predominante na região. Há apenas cinco meses no governo, Boric, que defende a criação de estatais e o aumento de impostos, está tomando uma ducha precoce de realidade. Sua taxa de aprovação já caiu para cerca de 35%, uma das mais baixas da região. Ele tentou contornar o problema aumentando o salário mínimo, mas a estratégia não funcionou. Na avaliação de Garman, Petro, da Colômbia, deve enfrentar um problema semelhante.

“Há um desapontamento com o Boric. Muita gente do centro político que votou no Boric está vendo que ele não era tão moderado quanto se imaginava”, afirma o historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann, autor do livro O capitalismo não é o problema, é a solução, lançado recentemente no Brasil. “O Chile alcançou um grande progresso econômico, em termos de PIB (Produto Interno Bruto) per capita e também de outros indicadores, nas últimas décadas. Só que as pessoas votaram num candidato socialista. Elas esqueceram a razão que os levou a ser bem-sucedidos.”

Bruxarias

Neste cenário já tão complicado, as ideias tradicionais da esquerda para a economia, como o uso de anabolizantes para turbinar artificialmente o crescimento, o aumento de tributos, que desestimula os investimentos privados, o intervencionismo estatal, que limita a liberdade dos empreendedores, e o protecionismo, que reduz a concorrência internacional, acabam atrapalhando ainda mais.

Nicaraguenses, na fila para fazer pedido de asilo em San Jose, na Costa Rica: êxodo para o mundo livre
Nicaraguenses, na fila para fazer pedido de asilo em San Jose, na Costa Rica: êxodo para o mundo livre Foto:

Num primeiro momento, esse receituário pode até dar a ilusão de que as coisas estão melhorando, mas depois a situação fica pior do que era antes. Quem acaba sofrendo mais são os mais vulneráveis, a quem a esquerda diz representar. “Tudo isso gera mais incerteza em relação à gestão macroeconômica”, afirma Garman. “Você acaba tendo um aumento na taxa de risco, que afeta a confiança do setor privado e exacerba dificuldades políticas.”

É uma situação que os brasileiros conhecem bem. Quando o boom das commodities passou, em meados da década passada, chegou a conta dos excessos cometidos nos tempos de vacas gordas. O custo foi pesadíssimo. Ao deixar o governo, com o impeachment, em 2016, a ex-presidente Dilma Rousseff entregou o País mergulhado na maior recessão de que se tem notícia.

Mas, talvez, não haja exemplo mais emblemático para os estragos que o receituário da esquerda causa na economia do que o da Argentina, sob o governo Fernández. O país está mergulhado no caos econômico. Para tentar conter a escalada da inflação, que também está acima da previsão do FMI para o ano, o governo recorreu a velhas bruxarias heterodoxas, como o congelamento de preços de produtos essenciais. A medida, porém, em vez de ajudar os consumidores, levou a um desabastecimento generalizado, com o desaparecimento de produtos com preços controlados das gôndolas dos supermercados. Até papel higiênico está em falta.

As restrições impostas pelo governo argentino às exportações de carne, para tentar aumentar a oferta no mercado interno, desestimulou os produtores e comprometeu o esforço que eles haviam empreendido durante décadas, para conquistar trincheiras comerciais no exterior.

Com menos divisas internacionais ingressando no país e muitas incertezas no ar, a cotação do dólar disparou. A dívida externa está batendo recordes históricos e as reservas internacionais do País está na faixa de US$ 40 bilhões, cerca de 40% a menos do que em 2018. O rombo nas contas públicas, abaladas pelos gastos sem limite do governo, não para de crescer.

“A Argentina é um caso típico de um governo que é incapaz de parar de gastar. Eles estão além de quebrados, estão quase na hiperinflação”, diz o cientista político Nicolás Saldías, analista para a América Latina e o Caribe da Economist Intelligence Unit (EIU), ligada ao grupo que publica a revista britânica The Economist. “Eles têm que imprimir dinheiro, que não vale nada, para pagar pelos seus programas sociais, cujos eventuais possíveis efeitos serão corroídos pela inflação.”

Do jeito que a coisa vai, a Argentina parece estar caminhando a passos largos para se transformar numa Venezuela, ao menos na economia. A Venezuela, que já foi um dos países dos mais prósperos da América Latina, levou essa receita ao extremo e sofreu consequências dramáticas.

Desde que o “socialismo bolivariano” assumiu o poder, em 1999, o PIB (Produto Interno Bruto) venezuelano caiu em torno de 80%, para cerca de US$ 46 bilhões. Hoje, a renda per capita da Venezuela, medida pela paridade do poder de compra (PPP), é de apenas US$ 5,4 mil. Só é maior na América Latina que a do Haiti, de US$ 3,1 mil, o país mais pobre da região.

“Paraíso socialista”

Apesar de tudo isso, nada parece simbolizar tão bem o fracasso das esquerdas na América Latina quanto o desejo de milhões de pessoas de deixar seus países, principalmente nos casos de Cuba, Venezuela e Nicarágua, as três ditaduras da região, para ir para os Estados Unidos e outros locais do mundo livre.

“Os imigrantes sempre vão sempre de países com menos liberdade econômica para países com mais liberdade econômica”, afirma Rainer Zitelmann. “Na época do comunismo, ninguém falava que queria ir da Alemanha Ocidental para a Alemanha Oriental. Hoje, ninguém vai dizer que quer ir de Miami para o “paraíso socialista” da Venezuela ou para Cuba. Talvez para passar umas férias, por umas duas semanas, e olhe lá.”

SE O LULA PEDISSE PERDÃO E SAÍSSE DA VIDA PÚBLICA

 

E agora, leitor?

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Chorando, confessando, se arrependendo, pedindo perdão e prometendo sair da vida pública Você perdoaria?| Foto: Reprodução/ Twitter

Antes de respirar fundo e começar este texto, quero avisar os leitores mais afoitos que. Não. Pode parar! Não quero nada. Acabei de lembrar que não escrevo para leitores afoitos, muito menos para aqueles que leem apenas o título. Agora vou incluir aqui as palavras-chaves “Lula” e “arrependimento” porque o algoritmo é burro e não entende estilo nem firula literária.

[RESPIRA FUNDO] Agora, sim. Este artigo ou crônica ou artinica ou crotigo nasceu no dia em que Lula foi preso e os mais tolos entre nós (eu incluído) acreditaram que finalmente estávamos diante de um Momento Histórico e Definidor: o dia em que um ex-presidente foi em cana. Tudo bem que fosse um xilindró de luxo. Nos contentamos com pouco. Já era alguma coisa.

(E, antes que me perguntem, vou me prolongar um pouco nesta parte para lembrar a alguns esquecidinhos que Lula é um ex-presidiário e não, ele não foi inocentado. Já disse que Lula é um ex-presidiário que não foi inocentado? Caramba, devo estar com Alzheimer, porque juro que já tinha dito que Lula é um ex-presidiário e que ele nunca foi inocentado).

Na ocasião, peguei uma cervejinha e um salaminho para acompanhar toda a epopeia. Lula chega ao sindicato. Lula sobe ao palco. Lula fala de groselhas & jararacas. O Tião Galinha também fala. Corta para o helicóptero. Camburão com o agora ex-presidiário chega ao aeroporto. Senhores passageiros, aqui é o comandante Sergio Moro. Sejam bem-vindos ao voo 13 da Polícia Federal Airways com destino a Curitiba. Nosso tempo estimado de voo é de 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Etc.

(Mal sabia o comandante que esse voo teria uma escala não-prevista, causada por problemas técnicos [uma falha na rebimboca do fachin] no Supremo Tribunal Federal).

Naquele dia, jamais poderia imaginar que hoje, 7 de agosto de 2022, estaria trabalhando na Gazeta do Povo e publicando uma crônica (“uma crônica é o que eu digo que é crônica”) numa coluna com meu nome e até minha foto. Oi, mãe! Olha eu na Gazeta! Uma crônica que daqui a pouquinho, no parágrafo seguinte mesmo, vai falar que Lula, sim, aquele democrata amigo de ditadores, o Lula, não tá lembrado, não?, o do Bessias, da Odebrecht, da Dilma, dos irmãos Batista, do MST e do Palocci… Pois esse Lula é candidato à Presidência em 2022. E tem gente dizendo que ele pode ganhar no primeiro turno (toc, toc, toc).

Como prometido no parágrafo anterior, Lula é candidato à Presidência em 2022. Mas isso não vem ao caso. Ainda. E tomara que nunca. O fato é que naquele dia, ou melhor, naquela noite fui dormir atormentado por uma imagem improvável. Improbabilíssima. E se Lula, em vez de falar de jararaca & falsos salamaleques, tivesse subido ao palco naquele dia e dito que (atenção porque vou usar negrito, itálico e sublinhado para enfatizar as premissas) sua prisão era justa, que ele se arrependia, que pedia perdão a todos, que cumpriria a pena e doaria até o Sítio de Atibaia para as autoridades, e que sairia da vida pública para sempre.

Talvez isso seja literatura fantástica demais para a sua cabeça. Entendo. Para mim às vezes também é. Mas nos permitamos o exercício extremo da imaginação de alto desempenho. Vai, tenho certeza de que você consegue. É só se concentrar. Talvez ajude trocar a voz rouca de Lula por uma voz mais amena. Aquela mesma voz que todos usamos nos nossos arrependimentos mais sinceros. Nos nossos mais desesperados pedidos de perdão.

Se isso acontecesse, você estaria disposto a perdoar Lula? Calma! Não corra ainda para a caixa de comentários. Pense novamente. É um homem pedindo perdão. Mas é o Lula. É o Lula. Mas é um homem pedindo perdão. Se sua resposta for “sim”, oquei, estamos conversados. O perdão nem sempre requer grandes justificativas. Se sua resposta for “não”, tudo bem também. Senão terei que lhe fazer perguntas adicionais e… não dá. O texto está chegando ao fim e, no mais, meu objetivo não é sugerir que, nas condições propostas dois parágrafos acima, você deva ou não deva perdoar Lula. (Antes de encerrar o texto, acende um cigarro Free e pensa: “cada um na sua, mas com alguma coisa em comum”).

O texto era para ter terminado com essa imagem noir do cigarro, mas voltei. Só porque acho que faltou um arremate para minha história. Naquela noite, atormentado pela dúvida louca, corri para a Internet (moro num palacete e o celular estava na Ala Norte) e cometi a ousadia de fazer a pergunta nas redes sociais. A reação e o tom das respostas não me surpreenderam. Como, tenho certeza, tampouco vai acontecer agora. Um pouco mais aliviado, me deitei. E foi assim, com a consciência me cobrando uma resposta à minha própria hipótese fantástica, que adormeci.


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ENSINO TRADICIONAL BRASILEIRO PERDE 40% DO POTENCIAL DAS CRIANÇAS

 

15/07/2022Henri Navesuh
Educação & Capacitação   

Modelo nórdico pode aprimorar resultados da educação formando pessoas e profissionais mais felizes e capazes.

40% do potencial das crianças é desperdiçado no ensino tradicional brasileiro

O ensino tradicional brasileiro corre o risco de se tornar obsoleto. De acordo com o Relatório de Capital Humano Brasileiro, estudo inédito do Banco Mundial, uma criança brasileira nascida em 2019 deve alcançar em média apenas 60% do seu capital humano potencial ao completar 18 anos. O objetivo do levantamento é alertar governos sobre a necessidade de investir em pessoas, e a educação é parte fundamental desse processo, por isso é preciso criar alternativas.

Diante disso, Luciana Pinheiro, mestre e doutora em linguística e uma das diretoras da Winsford Global Education, destaca a importância de adotar um novo modelo de ensino que faça com que as crianças se tornem boas em aprender, mas também em viver. “As aprendizagens que acontecem dentro da sala de aula devem ter muita conexão real com o mundo das crianças. Fazer essa ligação é fundamental para que o aprendizado tenha significado real para elas”, pontua.

Isso é confirmado por dados do relatório The Future of Jobs (O futuro dos empregos), do Fórum Econômico Mundial. No futuro, é estimado que 65% das crianças que estão começando os estudos hoje realizarão trabalhos que ainda sequer existem. 

Modelo finlandês
Os esforços para corrigir os resultados da educação nacional devem começar de imediato e, para isso, o modelo pedagógico finlandês é uma ótima opção do que se seguir. Dados mostram que o ensino do país nórdico alcança o primeiro lugar em rankings como o de melhor educação primária, melhor educação para o futuro, maior letramento e bem-estar e felicidade.

Esse formato tem registrado crescimento em todo o mundo e defende um ensino menos padronizado em relação a avaliações que alimentam a competitividade, como as provas, e mais focados na cooperação e na adoção de novas tendências para o desenvolvimento de habilidades.

Dentre as principais mudanças no formato estrangeiro está a transformação na arquitetura das salas de aula, que não possuem fileiras de cadeiras voltadas para uma lousa, e no fim do foco na competitividade e no controle para favorecer o aprendizado mútuo.

Fonte: Plena Estratégias Criativas

Brasil desperdiça 40% do talento de suas crianças, diz estudo inédito do Banco Mundial

Antes da pandemia, seriam necessários 60 anos para país atingir nível de capital humano dos países desenvolvidos, diz estudo inédito; crise sanitária agravou ainda mais esta situação.

Por BBC

04/07/2022 07h31  Atualizado há um mês


Banco Mundial estima que PIB do Brasil poderia ser 158% maior, se crianças desenvolvessem todo seu potencial e país chegasse a pleno emprego — Foto: Getty Images via BBC

Banco Mundial estima que PIB do Brasil poderia ser 158% maior, se crianças desenvolvessem todo seu potencial e país chegasse a pleno emprego — Foto: Getty Images via BBC

O que uma criança vivendo nas ruas e fora da escola em São Paulo e uma jovem negra formada na universidade que não consegue emprego em Salvador têm em comum?

Ambas fazem parte do contingente de talentos que são desperdiçados todos os dias no Brasil.

Uma criança brasileira nascida em 2019 deve alcançar em média apenas 60% do seu capital humano potencial ao completar 18 anos, calcula estudo inédito do Banco Mundial, ao qual a BBC News Brasil teve acesso.

Isso significa que 40% de todo o talento brasileiro é deixado de lado, na média nacional.

Nos rincões mais vulneráveis, o desperdício de potencial superava os 55% antes da pandemia, estima a instituição. Com a crise sanitária, a situação se agravou e, em apenas dois anos, o Brasil reverteu dez anos de avanços no acúmulo de capital humano de suas crianças.

“Agora, mais do que nunca, as ações não podem esperar”, alerta o banco, no Relatório de Capital Humano Brasileiro, que deverá ser lançado nesta semana.

O estudo é parte do Human Capital Project do Banco Mundial, iniciativa lançada em 2018 para alertar governos quanto à importância de se investir em pessoas. O relatório brasileiro é o primeiro focado em um país específico.

O banco estima que o PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos por um país) do Brasil poderia ser 2,5 vezes maior (158%), se as crianças brasileiras desenvolvessem suas habilidades ao máximo e o país chegasse ao pleno emprego.

Capital humano e potencial desperdiçado

Capital humano é o conjunto de habilidades que os indivíduos acumulam ao longo da vida, explica Ildo Lautharte, economista do Banco Mundial e um dos autores do estudo.

Essas habilidades acumuladas determinam, por exemplo, o nível de renda e as oportunidades de trabalho que uma pessoa vai ter em sua vida. E impactam a produtividade, o tamanho do PIB e a capacidade de gerar riqueza de um país.

Índice de Capital Humano é mais baixo no Norte e Nordeste, mas há também desigualdades significativas dentro dos Estados e das regiões — Foto: Banco Mundial

Índice de Capital Humano é mais baixo no Norte e Nordeste, mas há também desigualdades significativas dentro dos Estados e das regiões — Foto: Banco Mundial

Para comparar esse potencial acumulado nos diferentes países e nas diversas regiões, Estados e municípios em cada país, o Banco Mundial desenvolveu o ICH (Índice de Capital Humano), um indicador que combina dados de educação e saúde, para estimar a produtividade da próxima geração de trabalhadores, se as condições atuais não mudarem.

Os dados que compõem o ICH são: taxas de mortalidade e déficit de crescimento infantil; anos esperados de escolaridade e resultados de aprendizagem; e taxa de sobrevivência dos adultos.

Com base nesse conjunto de dados, o indicador varia de 0 a 1, sendo 1 o potencial pleno — ou seja, não ter déficit de crescimento ou morrer antes dos 5 anos, receber educação de qualidade e se tornar um adulto saudável.

Aplicando essa metodologia ao Brasil, o banco chegou a um ICH de 0,60, que significa que uma criança brasileira nascida em 2019 deve atingir apenas 60% de todo seu potencial aos 18 anos. O país está abaixo de países de desenvolvidos como Japão (0,81) e Estados Unidos (0,70) e de pares latino-americanos como Chile (0,65) e México (0,61), mas acima de outros países em desenvolvimento mais pobres como Índia (0,49), África do Sul (0,43) e Angola (0,36).

“O Brasil precisaria de 60 anos para alcançar o nível de capital humano alcançado pelos países desenvolvidos ainda em 2019”, estima o Banco Mundial. “Não há tempo a perder.”

‘Muitos Brasis’

A instituição financeira internacional alerta, porém, que a média nacional é apenas uma parte da história e que há muitas desigualdades dentro do país.

Por regiões, por exemplo, em 2019, o ICH do Norte e do Nordeste era de 56,2% e 57,3%, enquanto para Sul, Centro-Oeste e Sudeste variava de 61,6% a 62,2%.

“60% a 70% dessa desigualdade regional é explicada pela educação”, afirma Lautharte. “Isso inclui tanto os anos que a criança fica na escola, como a qualidade da educação, isto é, se ela consegue aprender aquilo que deveria ter aprendido na escola.”

“Mas além dessa desigualdade regional, que já é esperada por quem conhece o Brasil, chama atenção a desigualdade dentro de um mesmo Estado ou uma mesma região”, observa.

Por exemplo, enquanto o município de Ibirataia na Bahia tem um ICH de 44,9%, similar a países africanos muito pobres como Gana e Gabão, Cocal dos Alves no Piauí, com um ICH de 74%, está mais próximo dos índices da Itália e da Áustria.

Embora todas as regiões tenham melhorado seu ICH ao longo dos anos — o estudo analisa o período de 2007 a 2019 —, a desigualdade persiste com o passar do tempo.

Por exemplo, o Índice de Capital Humano médio das regiões Norte e Nordeste em 2019 era similar ao das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2007 — ou seja, uma lacuna de 12 anos.

Índice de Capital Humano das regiões Norte e Nordeste em 2019 era similar ao das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2007 — Foto: Banco Mundial

Índice de Capital Humano das regiões Norte e Nordeste em 2019 era similar ao das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste em 2007 — Foto: Banco Mundial

Desigualdade racial crescente

O Banco Mundial chama atenção também para a desigualdade racial no desenvolvimento do potencial dos brasileiros.

Segundo o estudo, a produtividade esperada de uma criança branca em 2019 era de 63% do seu potencial, comparado a 56% para uma criança negra e 52% para uma indígena.

Mas, ainda mais grave, é que essa desigualdade está aumentando ao longo do tempo.

Isso porque o ICH das crianças brancas avançou 14,6% entre 2007 e 2019, enquanto o índice para crianças negras variou 10,2% e o das indígenas ficou praticamente estável (0,97%).

Para Ildo Lautharte, a explicação aqui novamente está nas desigualdades educacionais.

“O Brasil teve muito sucesso em termos de acesso à educação, conseguimos fazer com que a quase totalidade das crianças esteja na escola. A grande questão agora é a qualidade dessa educação e isso tem um componente racial muito elevado”, diz o economista.

Diferença de potencial entre brancos, negros e indígenas aumentou ao longo do tempo — Foto: Banco Mundial

Diferença de potencial entre brancos, negros e indígenas aumentou ao longo do tempo — Foto: Banco Mundial

Lautharte observa que essa diferença nos resultados de aprendizagem está ligada tanto à qualidade do ensino, quanto às condições das crianças, que partem de bases muito desiguais.

Mercado de trabalho e o talento desperdiçado das mulheres

O Banco Mundial analisa também o que acontece quando todo esse potencial chega ao mercado de trabalho. E aqui, o quadro é ainda mais preocupante.

O ICHU (Índice de Capital Humano Utilizado) pondera o ICH com a taxa de emprego nos mercados de trabalho formal e informal. O objetivo é analisar quanto do capital humano é de fato aproveitado pelo mercado de trabalho.

No Brasil, o ICHU é de 39%, estima o Banco Mundial, o que significa que o mercado de trabalho brasileiro desperdiça boa parte dos seus talentos devido à baixa ocupação.

Aqui, chama a atenção também a desigualdade entre homens e mulheres.

Olhando para o ICH, as mulheres chegam aos 18 anos com potencial acima dos homens. Elas tinham um Índice de Capital Humano de 60% em 2019, contra 53% para eles. A diferença se explica por fatores diversos. Por exemplo, as mulheres tendem a abandonar menos a escola para trabalhar e, por isso, acumulam em média mais tempo de estudo do que os homens. Além disso, elas tendem a viver mais, tanto por questões de saúde, como da maior propensão dos homens (particularmente dos negros) a morrer por causas violentas.

No entanto, apesar de as mulheres terem acúmulo de capital humano acima dos homens aos 18 anos, elas são menos aproveitadas no mercado de trabalho.

Enquanto o ICHU delas é de 32%, o deles é de 40%. Isso se deve a fatores que vão desde profissões que ainda hoje são entendidas como predominantemente masculinas, até a desigualdade no trabalho doméstico e no cuidado dos filhos.

“Só política pública pode fazer com que essa diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho diminua”, diz Lautharte.

“Esse é um ponto onde o Brasil ainda engatinha, outros países já estão fazendo muito mais, com políticas muito mais ativas para aumentar a inserção da mulher no mercado de trabalho. Esse desperdício é particularmente grave entre mulheres negras, são talentos desperdiçados.”

Pandemia fez Brasil andar dez anos para trás

Se o Brasil já desperdiçava o potencial de suas crianças antes da pandemia, a crise sanitária só agravou essa situação, destaca o Banco Mundial.

“Em termos de saúde infantil, por exemplo, mais 3,5 em cada 10 mil crianças não sobreviveram até os 5 anos de idade em 2021, em comparação a 2019, no Sudeste do Brasil”, cita o banco, no relatório. “Além disso, cerca de 80 mil crianças podem sofrer déficit de crescimento no Brasil devido à pandemia.”

Na educação, as escolas ficaram fechadas por 78 semanas, um dos fechamentos mais longos do mundo. Consequentemente, a parcela de crianças que não sabem ler e escrever saltou 15 pontos percentuais entre 2019 e 2021, observa a instituição financeira internacional. Com tudo isso, o Índice de Capital Humano do Brasil caiu de 60% para 54% entre 2019 e 2021, estima o Banco Mundial, voltando ao nível de 2009. “Em dois anos, a pandemia de Covid-19 reverteu o equivalente a uma década de avanços do ICH no Brasil”, observa o Banco Mundial.

O caminho para a recuperação será longo, diz a instituição.

“Considerando-se a taxa de crescimento antes da pandemia, o ICH levará de 10 a 13 anos para retornar ao patamar de 2019 no Brasil. Ou seja, o Brasil chegaria novamente ao ICH de 2019 somente em 2035.”

Para Lautharte, reverter esse quadro passa por um grande esforço de políticas públicas, com recomposição da aprendizagem, que deve ser combinado com a agenda de combate à fome, de fortalecimento dos programas de transferência de renda e de políticas de saúde pública.

Além disso, diz o economista, o Brasil precisa aprender consigo mesmo. Por exemplo, a bem sucedida experiência educacional do Ceará pode ser replicada em outros Estados e municípios.

“Mesmo antes da pandemia, o Brasil tinha 52% das crianças com 10 anos que não conseguiam ler um parágrafo adaptado para a idade delas. Então nosso objetivo não deve ser voltar para o pré-pandemia, mas avançar para um cenário melhor”, diz Lautharte.

“Temos agora uma oportunidade para repensar algumas coisas e fortalecer outras. Então conhecer os ‘muitos Brasis’ é fundamental para saber onde investir e quem precisa de mais ajuda.”

Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62018496

RECOMENDAÇÕES PARA VIAGENS COM CACHORROS

 

Camilli Chamone – Geneticista

Olá! Em viagens em família, é recomendável levar o cachorro? Camilli Chamone, consultora sobre bem-estar e comportamento canino e editora de todas as mídias sociais “Seu Buldogue Francês”, traz recomendações importantes para ajudar nesta decisão.

Viagem em família: levar ou não o cachorro?

Geneticista traz recomendações que prezam pelo bem-estar do peludo e, consequentemente, de seus donos

Viagem em família pode ser uma ótima oportunidade para relaxar e recarregar as energias. Com programação fechada, hospedagem e transporte garantidos, vem a dúvida: e o cachorro? Levar ou não? E, se ficar, qual a melhor opção?

Segundo Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino, editora de todas as mídias sociais “Seu Buldogue Francês” e, também, criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, são muitas as variáveis para responder a estas questões, mas todas giram em torno de um foco: prezar pela segurança e pelo bem-estar do animal. E isso passa por, obrigatoriamente, conhecer suas particularidades e necessidades.

“Para tomar essa decisão, tente responder: sair de casa será melhor, para o meu cachorro, do que ficar? Só leve se a resposta for positiva”, enfatiza.

Alguns pontos importantes para esta decisão envolvem logísticas, como duração da viagem, meio de transporte e local de destino.

“Cães não devem ser transportados em bagageiros de ônibus, pois são pouco ventilados. E, no avião, só se, além de tolerarem calor, já serem habituados a usar a caixa de transporte. Já para viagem em cabine, precisam ser calmos e educados, até para não incomodarem as outras pessoas”, pontua a geneticista.

Além disso, se já apresentam comportamentos agressivos, o ideal é não arriscar uma mudança de ambiente, pois isso poderá causar mais transtornos do que benefícios – para eles e para seus donos.

Caso a escolha seja por inserir o peludo na viagem, é fundamental que o lugar seja condizente com suas necessidades naturais, incluindo, por exemplo, contato com sol, terra, mato e cachoeiras, permitindo que fareje prolongadamente as árvores e brinque tranquilo. Por isso, destinos que envolvam a natureza, com passeios, são boas opções. “Se o local não for apropriado e ele ficar trancado, sozinho, em quarto de hotel, melhor não submetê-lo a esse estresse”, pontua.

E, se a escolha for por não levá-lo, Chamone aponta três caminhos com foco em seu bem-estar: hospedar em um hotel para cães, com supervisão contínua de profissionais; manter em casa, com uma pessoa de confiança; ou deixar na casa de familiar ou amigo.

Em todos os casos, se o animal não conhece as pessoas ou o ambiente no qual ficará neste período, é imprescindível passar por uma adaptação – algo a ser feito com, no mínimo, 30 dias de antecedência.

“O desenvolvimento cognitivo de um cachorro é o mesmo que o de uma criança de dois anos de idade. Logo, o que faríamos se precisássemos deixar nosso filho de dois anos na casa de alguém? Com certeza, não seria com um desconhecido”, exemplifica.

Segundo a geneticista, os cães não têm noção da impermanência. Com isso, entendem que o cenário vivido no momento é definitivo. “Eles não têm a percepção de que o dono vai voltar; por isso, é comum que, ao serem colocados em locais totalmente desconhecidos, entrem em luto e em um quadro grave de sofrimento. Eles entendem que foram abandonados ali”, pontua.

Por isso a necessidade da adaptação gradual, ou seja, levar o cachorro no local que vai ficar aos poucos, bem antes da viagem ocorrer. “Comece deixando-o ali por algumas horas. Depois, por um período; dali mais uns dias, por mais tempo, e assim sucessivamente. Com isso, ele já vai se habituando ao novo ambiente”.

No caso de hoteizinhos, é preciso identificar os que entendem de comportamento canino, pois recebem outros animais por ali e precisam saber gerenciar o convívio entre eles.

Caso a opção seja por deixá-lo na casa de amigos ou familiares na qual ele já está habituado a ir, esse cuidado pode ser dispensado, pois já é um lugar seguro e conhecido. A mesma lógica serve para o animal que permanecer em sua própria casa.

No entanto, seja qual for a opção, Chamone aponta a importância de manter a rotina, pois cães são muito apegados a ela – se muda de uma hora para outra, pode gerar estresse, afetando até o funcionamento do seu sistema imunológico.

“Não raro, cachorros afastados de forma abrupta de casa e das pessoas nas quais convivem desenvolvem doenças de pele, otite, infecção intestinal e vômitos. Manter rotina e fazer adaptação gradual (quando necessário) são ações que evitam o sofrimento desse baque emocional e, consequentemente, não compromete o funcionamento do sistema imunológico”, ressalta.

Assim, se o animal passeia todo dia – algo, inclusive, ideal para sua saúde física e mental –, é recomendável, por exemplo, contar com um serviço de dog walker. “Também é essencial propiciar o enriquecimento do ambiente – além de passeios, brinquedos interativos ou um osso para roer; assim, o cão se mantém entretido e sem tempo ocioso”.

Com esses cuidados, é possível curtir plenamente a viagem em família, com ou sem o peludo, com a certeza de que, independentemente da escolha, o bem-estar e a segurança estarão garantidos.

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