Com a estreia de A Tragédia de Macbeth, listamos longas considerados obras-primas, inspirados em peças do inglês
Luiz Zanin Oricchio, O Estado de S.Paulo
Para Harold Bloom, William Shakespeare é o centro do cânone ocidental. Descontado o viés anglo-saxônico da afirmação, o fato é que se deve creditar Shakespeare como um dos construtores da sensibilidade ocidental moderna. Com suas peças de feitura inigualável e inspirada e temática que não se esgota, tornou-se um sucesso de público e crítica através dos séculos. Dessa forma, era previsível que se tornasse um dos (senão o mais) adaptado dos autores para o cinema.
Aproveitando o lançamento de A Tragédia de Macbeth que parece ser histórico, com Joel Coen na direção, e Denzel Washington e Frances McDormand nos papéis principais, convém recordar algumas das principais adaptações do Bardo para a tela grande. Só da peça “maldita”, existem várias versões:PUBLICIDADE
‘Macbeth’, de Roman Polanski (1971)
Jon Finch é Macbeth e sua esposa é vivida por Francesca Annis. Macbeth é convencido pelas bruxas de que pode tomar a coroa do rei Duncan e assumir o poder. Um crime leva a outros. Uma das adaptações mais sombrias desse texto já tétrico de Shakespeare, por um Polanski atormentado pelo assassinato de sua esposa, Sharon Tate. Disponível na HBO Maxhttps://www.youtube.com/embed/Ysd5gwHfG1w?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Romeu e Julieta’, de Franco Zeffirelli (1968)
Uma das peças mais populares de Shakespeare, ganha aqui adaptação bastante literal. Romeu (Leonard Whiting) e Julieta (Olivia Hussey) apaixonam-se apesar de pertencerem a famílias que se detestam, os Montecchio e os Capuleto. Assista no YouTubehttps://www.youtube.com/embed/gvCpDknV6Ps?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Amor Sublime Amor’ (West Side Story), de Jerome Robbins e Robert Wise (1961)
Um Romeu e Julieta em formato musical, ambientado nos Estados Unidos. Em um bairro pobre de Nova York, ferve a rivalidade entre os grupos de imigrantes porto-riquenhos e norte-americanos de origem anglo-saxônica. Maria (Natalie Wood) e Tony (Richard Beymer) se amam, mas, como pertencem a grupos rivais, seu destino será trágico. O enredo foi agora retomado por Steven Spielberg (2021), com mesma música (Leonard Bernstein) e letras (Stephen Sondheim), reproduzindo o conflito básico da versão anterior, apenas acirrado pelas tensões atuais. Assista na Amazon Prime Video.https://www.youtube.com/embed/NF1L3NorO3E?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Macbeth – Reinado de Sangue’, de Orson Welles (1948)
Com o próprio diretor no papel principal. A ambiciosa Lady Macbeth é interpretada por Jeanette Nolan. Como de hábito, Welles empresta tom gótico a essa tragédia da busca insana pelo poder. Uma obra-prima.https://player.vimeo.com/video/122713781?h=8239396f7d
‘Trono Manchado de Sangue’, de Akira Kurosawa (1957)
A figura marcante de Toshiro Mifune assume o papel do rei assassino. Asaji Washizu é a mulher ambiciosa, que arma a mão do marido para o crime. Harold Bloom considera a melhor adaptação da peça para o cinema. Venceu o Festival de Veneza. Ator e atriz também foram premiados no festival italiano.https://www.youtube.com/embed/TLTVSqwhChE?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Otelo’, de Orson Welles (1951)
Welles pinta o rosto para interpretar o mouro ciumento, que mata a esposa Desdêmona (Suzanne Cloutier) instigado pelo intrigante Iago (Michéal MacLiammóir).https://www.youtube.com/embed/fCZ0obRJa08?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Che Cosa sono le Nuvole’, de Pier Paolo Pasolini (1968)
Vale a pena destacar essa criativa (e comovente) adaptação de Otelo feita por Pier Paolo Pasolini. O centro da ação parte de Iago (o cômico Totò), que conduz a intriga num simulacro de teatro de marionetes. Ninetto Davoli encarna o boneco que representa Otelo. É um dos episódios do longa-metragem Capricho à Italiana.https://www.youtube.com/embed/orYVPH7_kXE?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘A Última Tempestade (Prospero’s Book)’, de Peter Greenaway (1991)
Talvez a mais complexa adaptação de uma obra de Shakespeare. A peça em si já é complicada, com suas várias vozes e o recurso da “peça dentro da peça”, usado por Shakespeare em outros trabalhos, como Hamlet, Sonhos de uma Noite de Verão e Medida por Medida. John Gielgud encarna as vozes múltiplas em meio ao barroquismo de Greenaway, facilitado pelas novas tecnologias audiovisuais.https://www.youtube.com/embed/rp6ZYCSiPhA?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Ran’, de Akira Kurosawa (1985)
É uma adaptação livre do Rei Lear. Um chefe de clã no Japão medieval avisa que pretende dividir o reino entre seus três filhos. O cerne da tragédia é a rivalidade e também os impasses da divisão do poder.https://www.youtube.com/embed/Dd-k9URvO0Q?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘Hamlet’, de Grigory Kozintsev (1964)
A versão soviética é tida como das mais fiéis, e possivelmente, a melhor já feita da peça famosa. O príncipe (Innokenty Smoktunovsky) retorna à casa, aprende que o pai morreu e sua mãe casou-se com seu tio. Clássica, neste texto, a hesitação de Hamlet em vingar-se, mesmo instigado pelo espectro do pai. A peça influenciou até Freud, que via nessa postergação do ajuste de contas um sintoma do Complexo de Édipo (inconsciente) do príncipe.https://www.youtube.com/embed/OvssXTX2tuw?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fcultura.estadao.com.br
‘A Herança’, de Ozualdo Candeias (1970)
É, talvez, a melhor aclimatação de Shakespeare ao Brasil. O príncipe da Dinamarca, atormentado pela morte do pai, aqui se torna o filho de um fazendeiro assassinado que procura se vingar. Ao mesmo tempo, a realidade brasileira, com o sertão e os seus despossuídos, insinua-se na trama. Filme brilhante, provavelmente o melhor de Candeias.