quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

COMBATE À CORRUPÇÃO VAI TER RETROCESSO EM 2022

 

Ação de políticos

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

Câmara ainda não desistiu de propostas que podem inibir atuação do Ministério Público| Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

Como se não bastassem os retrocessos no combate à corrupção levados a cabo em 2021, Congresso, Judiciário e Executivo poderão, em 2022, avançar com projetos, julgamentos e medidas com potencial de dificultar ainda mais a investigação e a punição de desvios.

Mesmo num ano eleitoral – pretexto usado por políticos para paralisar reformas econômicas e propostas de impacto social – essas ideias ainda permanecem em alta na agenda de Brasília, principalmente porque podem ajudar a blindar os próprios parlamentares.

Entidades da sociedade civil comprometidas com o tema estão atentas, principalmente pela forma com que vários desses projetos passaram a tramitar nos últimos anos: são redigidos de forma fechada num grupo de trabalho formado por “juristas” (em geral, advogados ligados à classe política) e depois colocados em votação de forma acelerada na Câmara.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o projeto do novo Código Eleitoral, e o que se tentou na revisão da Lei de Lavagem de Dinheiro (o grupo, neste caso, acabou extinto antes da apresentação do anteprojeto de lei).

“Possíveis retrocessos que podem ser votados no curto prazo atingem a causa de maneira indireta. Um grande risco é a criação de grupos de trabalho, modelos menos transparentes de discussão legislativa, para discutir temas sensíveis que afetam a corrupção. Esses GTs podem propor projetos de lei que devem ser votados direto em plenário, como tem acontecido na gestão Arthur Lira (PP-AL)”, alerta a Transparência Internacional Brasil, em recente levantamento sobre propostas com potencial de prejuízo à agenda anticorrupção.

Para piorar, matérias na direção oposta, que fortalecem o enfrentamento da criminalidade, continuam sob impasse – o exemplo mais significativo é a PEC da prisão em segunda instância, cuja votação na comissão especial da Câmara, em dezembro, foi sabotada por líderes de nove partidos, que substituíram, no colegiado, deputados que eram a favor por outros contrários.

Outra proposta que não avançou é a que acaba com o foro privilegiado. Aprovada em 2018 no Senado, está parada na Câmara dos Deputados desde então. Parte do boicote se dá pelo temor de que a candidatura do ex-juiz Sergio Moro (Podemos) à Presidência no ano que vem alavanque o apoio popular e force os deputados a aprovar as duas propostas.

Confira, abaixo, os retrocessos que podem avançar:

“PEC da vingança”
O presidente da Câmara, Arthur Lira, ainda não desistiu de aprovar uma proposta de emenda à Constituição que altera a composição e as competências do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), órgão disciplinar que se notabilizou nos últimos anos por fechar o cerco contra procuradores que integravam a Lava Jato.

Em outubro, a proposta foi rejeitada no plenário da Casa (faltaram 11 votos), mas Lira disse que ainda poderá colocar em votação o texto original, considerado mais brando que a versão derrotada. “O jogo só termina quando acaba”, disse o presidente da Câmara em outubro.

A versão rejeitada aumentava o número de conselheiros indicados pelo Congresso e previa a possibilidade de o conselho derrubar investigações abertas por procuradores e promotores.

O texto que sobrou mantém 14 conselheiros no órgão, mas tira do MP do Distrito Federal o direito de indicar um membro, que passa a ser escolhido pelo Congresso. O corregedor, responsável pela apuração de má conduta dos procuradores e promotores, poderá ser alguém de fora do MP, selecionado por deputados e senadores.

Arthur Lira tenta articular apoio entre os deputados para colocar a PEC novamente em votação em fevereiro de 2022, na volta do recesso parlamentar.


Código Eleitoral

Aprovado em setembro pela Câmara, o novo Código Eleitoral, ainda pendente de apreciação pelo Senado, pode reduzir drasticamente o poder do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fiscalizar as contas partidárias. O texto aprovado pelos deputados diz que, em vez de terem suas despesas verificadas por técnicos da Corte, as legendas poderão contratar empresas privadas de auditoria para atestar a regularidade dos gastos.

Especialistas e servidores apontam um claro conflito de interesses: os partidos usariam dinheiro público para pagar uma empresa que fiscalizaria esses mesmos recursos, oriundos do fundo partidário. Hoje, a prestação de contas é feita num sistema eletrônico, considerado mais transparente porque é feito dentro de um mesmo padrão. Todos os anos, o TSE julga essas contas em sessões transmitidas ao vivo com os autos divulgados na internet.

O texto aprovado na Câmara diz que, se a auditoria privada identificar algum desvio, o partido só será punido se o gasto irregular for superior a 20% do total recebido via fundo partidário. A punição máxima é uma multa de R$ 30 mil, valor irrisório.

Até novembro de 2021, os 23 partidos com direito às verbas do fundo partidário haviam recebido um total de R$ 802,5 milhões (os que receberam menos foram PV e Cidadania, cada um com R$ 14,8 milhões). No mesmo período, as multas aplicadas pelo TSE ao conjunto das legendas (por meio de descontos no repasse do fundo) somaram R$ 17,9 milhões. Se o novo Código Eleitoral for aprovado, a estimativa é que essas penalidades caiam drasticamente.

Outra novidade trazida pela proposta é a quarentena para que juízes, procuradores, promotores, militares, policiais e guardas civis possam se candidatar. A partir de 2026, eles vão ter que deixar o cargo que ocupam quatro anos antes de se candidatarem. Membros dessas categorias dizem que é também uma forma de impedir avanços no combate ao crime, uma vez que partem deles, como eleitos, o esforço no Congresso para aprovar leis com essa finalidade.

Novo Código de Processo Penal
Ainda em discussão na Câmara, o projeto de lei do novo Código de Processo Penal é alvo de duras críticas por parte do Ministério Público, que perderia seu poder de investigação. O texto diz que ele só poderia apurar crimes “quando houver fundado risco de ineficácia da elucidação dos fatos pela polícia, em razão de abuso do poder econômico ou político”.

Além disso, a proposta limita a dois anos o prazo de um inquérito policial – atualmente, não há uma “data de validade” da investigação, mas o juiz pode avaliar caso a caso, junto com o MP, a possibilidade de dar continuidade ou não às diligências necessárias para elucidar um crime.

O texto também não diminui as inúmeras possibilidades de recurso atualmente possíveis ao longo do processo, uma das maiores causas da impunidade. Com dinheiro para pagar bons advogados, um réu pode recorrer indefinidamente até a prescrição do crime.

O novo CPP ainda contempla a criação do “juiz de garantias”, um magistrado que teria como função atuar na fase de investigação para zelar pelos direitos do investigado e ficaria impedido de proferir a sentença final para absolvê-lo ou condená-lo. A maioria dos magistrados diz que isso vai tumultuar os processos e arrastá-los até a prescrição.

O juiz de garantias foi aprovado no final de 2019 pelo Congresso dentro do pacote anticrime, mas foi suspenso pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá ao plenário do STF, em 2022, declarar ou não sua constitucionalidade. O ministro, no entanto, ainda não marcou a data do julgamento sobre o tema no plenário.

Ficha Limpa
Está previsto para o início de fevereiro, no STF, um julgamento que pode afrouxar a aplicação da Lei da Ficha Limpa, reduzindo, na prática, o prazo de inelegibilidade de políticos condenados em órgãos colegiados. Desde a aprovação da lei, em 2010, até 2020, os oito anos fora das eleições contavam a partir do término do cumprimento da pena, como manda a lei.

Em dezembro de 2020, no entanto, Kassio Marques decidiu que o prazo passaria a contar a partir da condenação. Ou seja: o político não cumpre a pena, porque pode continuar recorrendo, mas ganha o direito de se candidatar depois de oito anos. O julgamento que poderá restabelecer a regra anterior está marcado para o dia 3 de fevereiro.

O ministro atendeu a um pedido do PDT, que argumentou que os políticos estavam ficando inelegíveis por tempo indefinido, por causa da demora para o trânsito em julgado (esgotamento dos recursos que eles mesmos apresentam para evitar a punição).


Coaf no Ministério da Justiça
Está em estudo no Palácio do Planalto a possibilidade de transferir de volta para o Ministério da Justiça o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Em 2019, ele foi retirado da pasta, então sob o comando do ex-juiz Sergio Moro, para ficar sob o guarda-chuva do Banco Central.

Os políticos temiam que Moro usasse o órgão para uma devassa em suas contas e exigiram, na época, a dispensa de Roberto Leonel, auditor da Receita que havia sido escolhido por Moro para comandar o órgão, que repassa ao Ministério Público transações suspeitas identificadas por bancos.

Agora que o Ministério da Justiça está sob a chefia de Anderson Torres, delegado da PF próximo de Bolsonaro, o presidente cogita deixar o Coaf debaixo de sua supervisão. Ele sempre reclamou da atuação do órgão na investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho mais velho, no caso das “rachadinhas”.

Foi o Coaf que, em 2018 e 2019, forneceu ao MP do Rio relatórios sobre saques e transferências que apontavam para a suspeita de desvio nos salários de ex-funcionários de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.


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APOIO DO CENTRÃO AO GOVERNO EXIGE BARGANHAS

Partidos da base
O preço do Centrão: como PP e Republicanos barganham apoio à reeleição de Bolsonaro

Por
Rodolfo Costa – Gazzeta do Povo
Brasília

Presidente Jair Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, em audiência no Palácio do Planalto: presidente do PP enfrenta resistências internas para selar apoio à reeleição.| Foto: Marcos Correa/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) pode sair candidato à reeleição sem o apoio formal do PP e do Republicanos. Ambos os partidos enfrentam resistências internas para se coligarem com a chapa presidencial. A hipótese de uma federação partidária com o PL é uma hipótese ainda menos provável.

Integrantes da base governista no Congresso, as duas legendas têm representantes no primeiro escalão do governo federal. O PP com Ciro Nogueira, presidente nacional da sigla, no comando da Casa Civil. Já o Republicanos tem o ministro da Cidadania, João Roma, como representante.

A presença de Nogueira e Roma na Esplanada não é, contudo, garantia de que Bolsonaro contará com PP e Republicanos nas eleições de outubro deste ano. A presença de seus representantes sequer tem evitado o governo de se tornar alvo de lideranças de ambos os partidos nos bastidores.

A ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, deputada licenciada do PL, entrou na mira de lideranças de PP e Republicanos, além de parte do PSL e até de sua própria sigla. Eles cobram a demissão da ministra alegando o descumprimento de acordos. Bolsonaro defendeu Flávia e disse que não pretende demiti-la, mas o discurso interno no PP e no Republicanos é de que a fritura dela é apenas o início de um processo de pressão político-eleitoral.


O que PP e Republicanos querem de Bolsonaro e o governo
Os ruídos na base governista contra Flávia Arruda estão diretamente relacionados a cobranças por recursos não liberados referentes a emendas parlamentares prometidas ao fim de 2021. Contudo, também estão indiretamente associados a demandas políticas e eleitorais deste ano.

Até 2 de abril, 11 ministros podem desembarcar do governo para a disputa das eleições. A legislação eleitoral determina que ministros se desincompatibilizem dos cargos seis meses antes do primeiro turno das eleições, previstas este ano para 2 de outubro. Flávia está entre os ministros que deixarão o cargo.

Com a saída de ministros do governo, PP e Republicanos querem ser ouvidos no processo de definição dos próximos ministros e ter aval na escolha dos sucessores a fim de ampliar sua influência no cenário político nacional. Entretanto, a cessão de ministérios a ambos os partidos não será o suficiente para levá-los a apoiar a reeleição de Bolsonaro.

Além da demanda por emendas parlamentares, cargos e ministérios, lideranças e dirigentes partidários de PP e Republicanos cobram de Bolsonaro apoio para as pré-candidaturas de aliados a disputas, sobretudo no Senado, onde o presidente da República não abre mão de ter a palavra final para a indicação de aliados.

Como resistências internas distanciaram o PP de Bolsonaro
Diferentemente do PL, partido presidido a punhos de ferro por Valdemar Costa Neto, o PP tem seu poder mais descentralizado. É um partido com diversos “caciques” e lideranças políticas com influência. Por isso, mesmo que Ciro Nogueira seja o presidente do partido e ministro da Casa Civil, a possibilidade de não apoiar a reeleição de Bolsonaro é real.

O deputado federal André Fufuca (PP-MA), vice-líder da legenda na Câmara, pensa em entrar com uma ação na Justiça para que o tempo de TV do partido seja usado pelos estados, apurou a Gazeta do Povo. Fufuca submeteu a ideia a diretórios estaduais, que teriam de arcar com as despesas nas emissoras estaduais. A reportagem procurou o posicionamento do parlamentar, mas não obteve resposta.

A defesa capitaneada por Fufuca foi interpretada no PP como uma forma de pressionar a legenda para “liberar” seus diretórios estaduais a fim de que possam construir alianças ao bel-prazer. “O movimento do Fufuca é a maior coerência de que o PP não vai apoiar Bolsonaro”, pondera uma liderança do partido em caráter reservado.

Existe uma divisão interna no PP acerca da ideia de apoiar Bolsonaro, sobretudo na região Nordeste e em São Paulo. Uma parte dos dirigentes e demais lideranças já era contrária à ideia de filiar o presidente da República e se mantém contra uma coligação com a chapa presidencial, principalmente com a possibilidade de adesão em uma federação partidária com PL, Republicanos, PTB e PROS.

“Não vejo o PP indo com Bolsonaro, até porque acho que ele não vai ganhar”, pondera uma liderança da sigla no Congresso. “Muitos estão loucos para ficar mais longe do Bolsonaro”, complementa. Mesmo o acordo para que o partido indique o vice de Bolsonaro pode ser revisto dadas as resistências internas, pondera um segundo influente congressista da legenda.

“Sem ele [filiado] não vão botar o vice se o Lula realmente estiver em primeiro nas pesquisas. Não tenho dúvida que o partido vai ‘ser governo’ de quem ganhar”, sustenta. “O PP não decide nada antes de abril. Vai trabalhar muito na janela partidária [para filiar outros deputados e evitar debandas], então, o cenário de abril que vai permitir saber se apoiará Bolsonaro ou não”, acrescenta.

O veto de Bolsonaro à nomeação do ex-deputado Alexandre Baldy (PP-GO) para ocupar um posto de articulação política no Ministério da Economia é outro motivo que irritou o partido. Aliado de Nogueira, ele é pré-candidato ao Senado por Goiás, mas deseja disputar o posto na mesma chapa do atual governador, Ronaldo Caiado (DEM), que irá à reeleição. Porém, Bolsonaro decidiu apoiar o líder do PSL, deputado Vitor Hugo (GO), que irá se filiar ao PL na janela partidária.

O que está por trás das críticas do Republicanos a Bolsonaro

A mágoa no PP após Bolsonaro vetar o apoio a Baldy no Senado também ecoa no Republicanos, onde a pressão é tão grande quanto ou até maior. Dirigentes e outras lideranças do partido — que tem uma ligação estreita com a Igreja Universal do Reino de Deus — se sentem desprestigiados pelo governo.

Nos bastidores, o partido entende que o governo não se esforçou o suficiente para bancar a nomeação do ex-senador Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), bispo licenciado da Universal, à embaixada do Brasil na África do Sul. O governo sul-africano não deu aval para a indicação e Bolsonaro retirou o pedido de designação.

A expectativa da igreja em Crivella ser embaixador na África do Sul tinha como um dos intuitos ampliar as investidas diplomáticas sobre Angola, onde a Universal é acusada de desviar dinheiro. Crivella é sobrinho de Edir Macedo, fundador e líder da Universal. A igreja afirma ser “vítima de uma trama elaborada por um grupo de ex-oficiais que foram expulsos da Igreja em decorrência de graves desvios de conduta”.

Sem a indicação de Crivella para a embaixada da África do Sul, o Republicanos esperava, ao menos, que Bolsonaro o apoiasse como seu candidato ao Senado. Nos bastidores, o presidente sinalizou, contudo, que apoiará a reeleição do senador Romário (PL-RJ). Em Goiás, como Bolsonaro vetou o apoio a Alexandre Baldy, o partido espera contar com o apoio ao deputado federal João Campos (Republicanos-GO), que disputará o Senado. Entretanto, dirigentes seguem sem sinalizações de que o apoio virá.

Mesmo com João Roma como representante do Republicanos no primeiro escalão do governo e em um ministério politicamente relevante, como o da Cidadania, Bolsonaro é criticado por não ter consultado seus representantes da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) antes da escolha. “Tanto que o nome não é alguém do meio evangélico”, sustenta uma liderança do partido.

Sem apoio de Bolsonaro para alianças nos estados, sem um evangélico indicado pelo partido no ministério e pouco ouvido pelo governo, o Republicanos é um dos partidos que lidera a pressão contra a ministra Flávia Arruda. Seu atual líder, Hugo Motta (PB), tem feito críticas a ela na imprensa e ameaçado romper com o governo.

A recente pressão exercida pelo Republicanos é reconhecida internamente como uma forma de chamar a atenção do governo a, ao menos, ouvir o partido na reforma ministerial que virá até abril, embora lideranças ligadas à Universal não queiram a indicação de um político ligado à igreja. “É mais importante que fiquemos nos bastidores fortalecendo o voto evangélico do que desgastá-lo dentro do processo eleitoral”, destaca uma liderança da legenda.

O líder do partido é quem negocia com o governo. “O Republicanos está conversando, Hugo é uma pessoa em ascensão, mas o segmento do partido que é da Igreja Universal prefere não se colocar na frente para ter cargos no Executivo, queremos evitar desgastes para preservar o voto evangélico. Estamos preferindo não ventilar nomes como o do próprio Marcos Pereira [presidente do partido], ou [os deputados] Vinícius Carvalho, João Campos, Márcio Marinho ou o Aroldo Martins”, diz outra liderança.

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Quais as chances de PP e Republicanos não apoiarem a reeleição
A demanda por emendas, cargos, ministérios e por apoio de Bolsonaro a aliados nos estados é a forma que PP e Republicanos encontraram para oferecer seu capital político em 2022 e evitar que o presidente perca poder de fogo eleitoral na campanha presidencial. Com essas duas legendas, a chapa à reeleição teria mais minutos de tempo de TV e recursos do fundo eleitoral.

Apesar das resistências e mágoas a Bolsonaro, não está descartado que ambos os partidos apoiem a reeleição. “O PP não quer ficar muito perto do governo, só que não tem outra alternativa. Doria não tem força e Moro vai bater num teto e não vai empolgar”, pondera uma liderança. “Para o PP, o que vale é a bancada de deputados, por isso o Ciro queria a filiação do Bolsonaro. Ele vai ver a melhor forma de manter a bancada [de deputados], está administrando [o partido] e trabalhando para eleger mais”, complementa.

O cálculo feito por Ciro Nogueira é que o apoio a Bolsonaro pode ajudar o partido a ampliar a bancada na Câmara. Embora o presidente nacional do PP não comande a legenda com mãos de ferro, alguns parlamentares lembram que ele é quem controla os recursos dos fundos partidário e eleitoral e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), comanda a liberação das emendas de relator. Juntos, os dois terão peso determinante na decisão do partido sobre se coligar ou não com Bolsonaro.

O deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS) é um dos parlamentares que não descarta o apoio do partido à reeleição. “Por uma questão de coerência, por estar ajudando o governo, o PP tende a seguir o caminho da aliança com Bolsonaro, pelos espaços que têm e influência que tem”, diz. “Mas não dá para deixar de levar em conta as características regionais que, ao longo das últimas eleições, têm pesado muito e dificultado, inclusive, a unidade dos diretórios estaduais com relação à candidatura nacional”, alerta.

O Republicanos é outro que pode seguir o mesmo caminho do PP em avaliar os prós e contras e optar pelo apoio a Bolsonaro. “Nós não podemos ser oposição, é muito difícil para nós”, analisa uma liderança da Câmara ao ressaltar que a grande maioria do eleitorado evangélico é de direita.

Outro deputado pondera, no entanto, que o partido não pode ser oposição a nenhum candidato. “A gente fica mais na retaguarda, não assume o nome, lideranças da igreja conversam mais nos bastidores, não podemos levantar bandeira A, B, C ou D, porque temos sempre que levantar a da Igreja [Universal] e da Record”, justifica.

O parlamentar acrescenta, ainda, que existe um movimento de esquerda em buscar apoio dentro de outras igrejas evangélicas. “A gente sabe que existe um movimento lulista dentro de outras igrejas, muito voltada para a pauta social, não necessariamente o PT. Mas uma aproximação para Lula está sendo criada em meio a essa polarização”, sustenta o deputado.

O deputado federal Aroldo Martins (Republicanos-PR), vice-líder da legenda na Câmara, evita colocar o partido em um lado ou outro no xadrez eleitoral. “O Republicanos é um partido que tem identidade, prefere não estar na mesa do jogo para dar ou receber cartas e ver quem é que vai ganhar, porque nós não somos assim”, destaca.

“Estamos atentos ao que está acontecendo na atualidade, nas mudanças políticas e naquilo que o Brasil necessita. Estamos abertos para conversar naquilo que for melhor para a sociedade brasileira, mas não somos um partido que tem preço a ponto de comprometer os nossos princípios”, complementa Martins.

O que o governo pensa sobre a pressão de PP e Republicanos

O governo federal encara com sobriedade a pressão exercida pelos partidos da base. Há um entendimento de que PP e Republicanos não deixarão a base e que os movimentos adotados pelas legendas não impedem a construção de uma aliança de apoio à reeleição de Bolsonaro em 2022.

Mesmo a pressão sobre a ministra Flávia Arruda não é exercida com o intuito de desgastar diretamente o governo. “Alguns líderes fizeram questão de dizer que essa repulsa a ela não tem a ver com o governo, mas especificamente com ela”, assegura um interlocutor governista.

Aliados governistas da base ‘raiz’ de Bolsonaro no PSL dizem, contudo, que o presidente não está fechado para negociar eventuais apoios a lideranças do PP ou Republicanos nos estados. “O presidente não está fechado para ouvir os partidos caso a caso. Em Goiás, por exemplo, ele não tem problema em conversar com o João Campos. Agora, o Baldy não tem como, ele se inviabiliza por ele próprio, foi secretário do Doria, foi preso, foi ministro do Temer e parceiro do Maia”, sustenta uma liderança.

Em Goiás, Bolsonaro assegura a aliados, contudo, que pretende manter o apoio à candidatura de Vitor Hugo ao governo estadual. A despeito de Caiado ser considerado favorito à reeleição, o presidente entende que, no passado, outros candidatos conseguiram surpreender nas eleições no estado, a exemplo dos ex-governadores Alcides Rodrigues (Patriota) e Marconi Perillo (PSDB).

O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), vice-líder do partido na Câmara, acredita que PP e Republicanos irão compor a coligação de Bolsonaro e não teme em debandada da base. “Tem partidos que não têm pra onde correr. Eles vão ficar reféns do presidente, quais são as candidaturas a presidente que podem vingar? Não tem. É claro que existem brigas internas, mas são atritos por conta de espaços no governo”, pondera.

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AGRONEGÓCIO VAI BEM OBRIGADO

 

Safra de grãos

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção de 284,4 milhões de toneladas de grãos na safra 2021/22.| Foto: Wenderson Araújo/CNA

O agro brasileiro continua trabalhando de domingo a domingo, de sol a sol, dia e noite, 24 horas por dia. A produção de grãos na próxima safra vai crescer 12,5%. Serão 284 milhões de toneladas. Isso que o clima não ajudou, sem chuva em dezembro no Rio Grande do Sul, principalmente, mas também em Santa Catarina e Paraná. Não ajudou a soja nem o milho.

Mesmo assim, a soja cresceu 3,8% em área e a colheita esperada é de 140 milhões de toneladas. Milho, 113 milhões de toneladas. O trigo para o nosso pão, 8 milhões de toneladas. Eu lembro que quando eu cobria economia pelo Jornal do Brasil a meta era chegar a 1 milhão de toneladas. Algodão, que é leve, pois é só pluma, 2,7 milhões toneladas. Já o arroz, 11 milhões de toneladas, e o feijão, 3 milhões de toneladas.

Essa é a resposta do agro, que tem sido vítima de muito preconceito de gente que, de certo, não quer a mesa cheia, não quer que haja abundância de comida para que o preço dos alimentos seja mais barato. O agro brasileiro dá segurança, inclusive, para uma boa parte do mundo, capaz de alimentar 1,6 bilhão de pessoas.

A previsão sobre a produção de grãos é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que faz todos os anos essa estimativa. É uma previsão que foi refeita, inclusive, porque a previsão anterior não estava contando com a quebra que houve pela falta de chuva.

Ponte carcomida
Eu vi imagens de uma ponte no interior de São Paulo cujos pilares estão carcomidos pela corrosão. Uma coisa horrorosa, dá um pânico porque parece que a ponte vai cair a qualquer momento. Curioso é que a última inspeção feita na ponte diz que não há danos estruturais.

No entanto, pela imagem que eu recebi no Twitter, é possível ver através dos pilares. Dá para ver o esqueleto da armação em ferro, que está enferrujada também. Essa ponte fica na Raposo Tavares, uma rodovia paulista, sob administração do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). É a ponte Jurumin sob o rio Taquari, em Piraju (SP).

É bom que haja um alerta sobre isso, inclusive em relação aqueles que usam frequentemente essa ponte.

Energia pressiona a inflação
Como eu havia previsto, a inflação oficial do país, o IPCA, realmente encerrou 2021 na casa dos 10%. Superou e muito o centro da meta, que era de 3,75%, com um teto admitido de até 5%. Ou seja, a inflação final foi o dobro do que seria aceitável.

É a terceira vez em que há uma inflação alta nesse século. A primeira vez foi em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com 12,5%. Depois, na transição Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), em 2015, com 10,67%.

E adivinhem quais as causas principais para uma inflação tão alta? O que mais subiu? Primeiro, etanol; segundo, gasolina; terceiro, diesel; quarto lugar, gás; e depois, eletricidade. Ou seja, energia. É o que está “matando” a economia dos europeus.

A Alemanha teve neste ano a maior inflação dos últimos 30 anos. Já os Estados Unidos está fechando a inflação de 2021 como a maior dos últimos 31 anos. É o preço da energia.

Gasolina mais cara
E mais: está aumentando nesta quarta-feira (12), nas refinarias, os preços da gasolina entregue às distribuidoras, com R$ 0,11 centavos a mais o litro, e do diesel, com R$ 0,24 centavos a mais o litro.

Enquanto a gente fica sabendo que o pré-sal está cada vez mais recordista em produção de petróleo e gás. O que parece uma contradição, porque pela lei da oferta e da procura quanto mais abundante é a matéria prima, mais baratos são os derivados. Mas não é isso que acontece porque tem a dependência do dólar e do preço internacional do petróleo.

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ENERGIA ELÉTRICA NÃO VAI BAIXAR O PREÇO

Volume de chuva desde outubro afasta o País do quadro da maior crise hídrica em 91 anos, mas ainda é cedo para assumir postura de ‘tranquilidade’; comitê avalia hoje situação

Marlla Sabino, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – As chuvas registradas em diversas regiões desde meados de outubro já refletem no nível de armazenamento dos principais reservatórios do País, mas ainda é cedo para assumir uma postura de “tranquilidade” para o setor elétrico, dizem especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. Já para os consumidores, a melhora não deve ser perceptível nos próximos meses, pois não resultará em um alívio imediato nas contas de luz. A previsão é que as tarifas vão continuar pesando no bolso dos brasileiros.  

Em 2021, o País vivenciou a pior escassez nos últimos 91 anos. A situação mais grave foi no subsistema das regiões Sudeste e Centro-Oeste, considerado a “caixa d’água” do setor elétrico. Em janeiro do ano passado, o nível dos reservatórios era de 23,36% da capacidade total, e chegou a cair para 16,75% em setembro. Agora, pelos dados mais recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a projeção é que cheguem ao fim de janeiro com 40% de capacidade.

Com previsão de melhora nas chuvas, governo limita geração de energia por usinas térmicas

Ilha Solteira
Represa de Ilha Solteira, em SP: nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste caiu para 16,75% em setembro. Foto: Douglas Cossi/Ilha de Notícias/Estadão – 16/9/2021

A previsão também é positiva para outras regiões. A expectativa é que no fim deste mês os reservatórios atinjam 73,2% de capacidade no Norte e 70,2% no Nordeste. Já no Sul, as projeções indicam um nível menor do que o registrado nos últimos meses (veja ao lado).

“Os reservatórios estão subindo, como sabemos está chovendo em várias regiões do País. Mas temos que esperar o final do período úmido, março ou abril, para termos essa tranquilidade. Por hora, podemos dizer que os reservatórios estão se recuperando bem”, avalia o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.https://datawrapper.dwcdn.net/kOVrg/3/

Apagão fora do mapa

Na mesma linha, o chefe do centro de análise e previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco Diniz, avalia que é cedo para uma análise, mas que os reservatórios tiveram uma boa recuperação. Ele explica que deve haver uma estiagem nos próximos dias em regiões onde há reservatórios que atendem o setor elétrico, mas que não se prolongará por muito tempo, e as chuvas devem voltar a acontecer no fim de janeiro e se intensificar ao longo do próximo mês. “Creio que vai ter um favorecimento melhor para frente para as regiões que têm reservatórios”, afirmou.

professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, afirma que a situação é melhor do que no ano passado, e, considerando o cenário atual, não há risco de desequilíbrio entre oferta e demanda de energia. Contribui para isso, segundo ele, as chuvas, a ampliação da capacidade instalada de geração de energia, com o início da operação de novos projetos, que vão injetar mais energia para atender os consumidores, e o nível fraco da atividade econômica.

“A oferta de energia cresceu. Em questão de armazenamento, pois está chovendo, e pela ampliação da capacidade instalada do sistema, com novas plantas, principalmente eólica e solar. Por outro lado, a demanda não vai crescer, por conta da crise econômica. Do ponto de vista do equilíbrio, o risco de apagão saiu do mapa. O problema agora é o custo”, afirma. “Está chovendo bastante, essas tragédias que aconteceram no País indicam isso, e essa chuva é tão volumosa que é suficiente para atender a demanda e sobra água nos reservatórios.”

As condições de atendimento do sistema elétrico serão analisadas nesta quarta-feira, 12, pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), colegiado presidido pelo ministro de Minas e EnergiaBento Albuquerque. Na última reunião, em dezembro, o grupo manteve algumas medidas excepcionais para garantir o atendimento da população em 2022. Contudo, optou por limitar a geração de energia por térmicas e a importação de energia a 15 mil megawatts médios (MW médios) ao longo de dezembro. A decisão, segundo o governo, prioriza o acionamento de usinas mais baratas.

Em relação aos próximos meses, o comitê já sinalizou projeções de melhorias para os armazenamentos de água até maio de 2022 e o pleno atendimento de energia sem o uso da “reserva operativa”, ou seja, das usinas térmicas acionadas, mas sem injetar energia na rede. “Projeta-se que o armazenamento do subsistema Sudeste/Centro-Oeste em maio de 2022 estará em cerca de 55,9% – ou 12,9 pontos percentuais acima do nível verificado em 31 de maio de 2021, considerando a repetição do cenário crítico de chuvas verificado no período chuvoso de 2020/2021”.

Veja a situação dos reservatórios no País:

  • 16,75% era, em setembro passado, o porcentual de água armazenada em relação à capacidade total dos reservatórios
  • 23,36% era o nível de um ano atrás, em janeiro de 2021
  • 40% é quanto o ONS projeta que os reservatórios cheguem ao final de janeiro de 2022
  • 73,2% é a expectativa para o Norte, pouco acima do Nordeste (70,2%)

Com previsão de melhora nas chuvas, governo limita geração de energia por usinas térmicas

Ilha Solteira
Represa de Ilha Solteira, em SP: nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste caiu para 16,75% em setembro. Foto: Douglas Cossi/Ilha de Notícias/Estadão – 16/9/2021

A previsão também é positiva para outras regiões. A expectativa é que no fim deste mês os reservatórios atinjam 73,2% de capacidade no Norte e 70,2% no Nordeste. Já no Sul, as projeções indicam um nível menor do que o registrado nos últimos meses (veja ao lado).

“Os reservatórios estão subindo, como sabemos está chovendo em várias regiões do País. Mas temos que esperar o final do período úmido, março ou abril, para termos essa tranquilidade. Por hora, podemos dizer que os reservatórios estão se recuperando bem”, avalia o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.https://datawrapper.dwcdn.net/kOVrg/3/

Apagão fora do mapa

Na mesma linha, o chefe do centro de análise e previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco Diniz, avalia que é cedo para uma análise, mas que os reservatórios tiveram uma boa recuperação. Ele explica que deve haver uma estiagem nos próximos dias em regiões onde há reservatórios que atendem o setor elétrico, mas que não se prolongará por muito tempo, e as chuvas devem voltar a acontecer no fim de janeiro e se intensificar ao longo do próximo mês. “Creio que vai ter um favorecimento melhor para frente para as regiões que têm reservatórios”, afirmou.

professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, afirma que a situação é melhor do que no ano passado, e, considerando o cenário atual, não há risco de desequilíbrio entre oferta e demanda de energia. Contribui para isso, segundo ele, as chuvas, a ampliação da capacidade instalada de geração de energia, com o início da operação de novos projetos, que vão injetar mais energia para atender os consumidores, e o nível fraco da atividade econômica.

“A oferta de energia cresceu. Em questão de armazenamento, pois está chovendo, e pela ampliação da capacidade instalada do sistema, com novas plantas, principalmente eólica e solar. Por outro lado, a demanda não vai crescer, por conta da crise econômica. Do ponto de vista do equilíbrio, o risco de apagão saiu do mapa. O problema agora é o custo”, afirma. “Está chovendo bastante, essas tragédias que aconteceram no País indicam isso, e essa chuva é tão volumosa que é suficiente para atender a demanda e sobra água nos reservatórios.”

As condições de atendimento do sistema elétrico serão analisadas nesta quarta-feira, 12, pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), colegiado presidido pelo ministro de Minas e EnergiaBento Albuquerque. Na última reunião, em dezembro, o grupo manteve algumas medidas excepcionais para garantir o atendimento da população em 2022. Contudo, optou por limitar a geração de energia por térmicas e a importação de energia a 15 mil megawatts médios (MW médios) ao longo de dezembro. A decisão, segundo o governo, prioriza o acionamento de usinas mais baratas.

Em relação aos próximos meses, o comitê já sinalizou projeções de melhorias para os armazenamentos de água até maio de 2022 e o pleno atendimento de energia sem o uso da “reserva operativa”, ou seja, das usinas térmicas acionadas, mas sem injetar energia na rede. “Projeta-se que o armazenamento do subsistema Sudeste/Centro-Oeste em maio de 2022 estará em cerca de 55,9% – ou 12,9 pontos percentuais acima do nível verificado em 31 de maio de 2021, considerando a repetição do cenário crítico de chuvas verificado no período chuvoso de 2020/2021”.

Veja a situação dos reservatórios no País:

  • 16,75% era, em setembro passado, o porcentual de água armazenada em relação à capacidade total dos reservatórios
  • 23,36% era o nível de um ano atrás, em janeiro de 2021
  • 40% é quanto o ONS projeta que os reservatórios cheguem ao final de janeiro de 2022
  • 73,2% é a expectativa para o Norte, pouco acima do Nordeste (70,2%)

 

A FOME É A MESMA DESDE AS CAVERNAS

 

  1. Cultura 

Quando o sistema do resort é all inclusive, a orgia das refeições desce ao nível paleolítico

Leandro Karnal, O Estado de S. Paulo

Há duas ocasiões ricas para observar nossa espécie: quando estamos completamente sozinhos e quando estamos em situações de alimentação em grupo. 

Vou me deter no segundo momento. Tudo muda quando fazemos parte de uma tribo em busca de comida. Ali falam nossos instintos mais antigos, nosso cérebro reptiliano. Milhões de anos lutando contra o mundo hostil em busca de algo para saciar o vazio do estômago, enfrentando animais maiores, perdendo para quase todos: nossa tradição mais arraigada é o medo da fome. 

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Ilustração de Gustav Doré para o livro ‘Pantagruel’  Foto: Biblioteca Nacional da França

Você já presenciou a cena: o casamento é elegante, os convidados estão bem-vestidos e parecem bem alimentados. É dada a largada da festa: começa a busca de lugares à mesa. Os olhos de todos acompanham a logística. “Por que começaram a servir do outro lado?” ou “aqueles lá não estão respeitando a fila” e ainda “será que teremos camarões, quando chegar a minha vez?”. Muita angústia em rostos que parecem nunca ter passado pela terrível experiência da fome. 

Quem já pegou um cruzeiro grande sabe que o ataque ao bufê é quase selvagem. A civilização se encerra ali diante da comida exposta. Surgem passageiros felizes com pratos colossais, equilíbrios inverossímeis e desafios à lógica das leis de Newton.

Para garantir, testemunhei com frequência, depois de construir um pequeno Everest de alimentos sobre a circunferência do prato sempre insuficiente, o indivíduo já traz junto um sortimento de doces para garantir que os possa comer em paz. E, ainda assim, atulhado de tudo que serviria para alimentar uma pequena tropa, ainda repara que seu vizinho de mesa pegou muito filé e pouco purê, uma violação das regras implícitas do bufê. 

Quando o resort à beira-mar usa o sistema all inclusive, ou seja, comida “a rodo”, deveria reinar uma paz profunda na inquietude tribal da disputa alimentar. 

Mesmo ali, ou talvez principalmente naquele lugar, a orgia das refeições desce ao nível paleolítico. Grita a fome, morre a polidez. 

Expulsem a natureza pela porta, ela voltará fortalecida pela janela. É a nossa fome ancestral desde as cavernas.

E, para quem acha que sou um crítico do festim alheio, quero informar que minha primeira pergunta no lobby do hotel ao me registrar é: “A que horas começa o café da manhã?”. Temos esperança de, um dia, civilizar o apetite infinito e vedar o buraco que a caverna abriu em nós?

MUNDO DOS NEGÓCIOS UNS PROSPERAM OUTROS NÃO

A FORD VAI PARAR DE FABRICAR AUTOMÓVEIS NO MUNDO. JÁ FOI UMA GRANDE MONTADORA. A KODAK FOI A MAIOR CONSUMIDORA DE PAPEL NO MUNDO E HOJE ALGUÉM SE LEMBRA DELA OU DELA JÁ SE OUVIU FALAR?

William Horta – Jornalista

A Ford é uma empresa que visa lucro. No Brasil nao vende mais carro Ford, ou se vende é muito pouco, e isso ocorre há  muito tempo.

A “Toyota investe 1 Bilhão de reais na produção  no Brasil” e o  “Grupo Caoa investe 1,5 Bilhão e anuncia nova marca”, eis algumas manchetes que se lê.  “GM vai investir 10 Bilhões no Brasil”Isso pra ficar só em três nomes de montadoras.

O Capitalismo é assim. Uns vindo e outros indo. Isso se chama business. E a Ford vai embora com seus carros quadrados e ultrapassados. Ela não vai embora somente do Brasil, ela deixará de fabricar carros em todo o mundo.

O resto é tudo “conversa pra boi dormir”, até  porque a Ford não  irá  fabricar mais automóveis no mundo, só  camionetes.

A  Ford virou a Kodak das montadoras, em pleno Século XXI do ano 2.021. A Kodak, você certamente lembra dela ou já ouviu falar, foi a maior consumidora de papel do mundo e tinha mais de 100 mil empregados. E hoje? Quem se lembra dela?A Ford  e seus líderes foram incapazes de perceber que a era digital não seria apenas mais um produto, mas sim uma mudança profunda no mercado das montadoras,  que estava sendo digitalizado pela tecnologia, e que o mercado tradicional seria praticamente destruído pelo modelo digital.

O mercado automobilístico mundial é dominado por empresas  que sabem que o modelo de negócio se transformou, é o que chamamos de disrupção tecnológica, onde o novo chega e torna o tradicional obsoleto.

A empresa Ford se tornou  lenta, nessas mudanças  e confusa em suas estratégias de retomar seu mercado. Não conseguiu ser ágil o suficiente e adequar-se às mudanças do mercado. Todas as empresas estão sujeitas ao “efeito Kodak”, que chegou a dominar o mundo no consumo de papel e fotografias e ter 100 mil empregados, mas  a digitalização da economia é um caminho sem volta e vai afetar a todos, cada vez mais rápido e de forma mais intensa.

O interessante é observar que quando uma revolução está em andamento, existe pouca percepção pela maioria das pessoas ou empresas, pois os efeitos ainda são pequenos, mas quando o novo modelo se estabelece a mudança é rápida e atinge a todos. É a “uberização” dos negócios.

A companhia Ford  tinha um discurso de ser imbatível e nunca se preparou para enfrentar qualquer dificuldade. A Kodak fundada em 1.880, parece que usou o mesmo discurso,  fechou em 2.012, portanto 132 anos depois , e a Ford do Brasil encerra suas atividades  em 2.021, após 102 anos quando aqui foi instalada em 1.919.

 

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...