João Doria comemora vitória nas prévias tucanas, após um sistema de votação conturbado.| Foto: Divulgação / PSDB
O governador de São Paulo, João Doria, é enfim o candidato do PSDB para presidente da República – falta a decisão oficial da convenção, é claro, mas o jogo já acabou. Partindo desse ponto, a pergunta seguinte é e daí?
Um observador neutro, e que contasse só com números para basear sua opinião sobre a cena eleitoral do Brasil, poderia não se impressionar muito. Afinal, o PSDB perdeu cinco eleições presidenciais seguidas, uma depois da outra, numa sequência de quase 20 anos: perdeu em 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, quando conseguiu a proeza de ficar com só 4% dos votos. Se é esse o currículo de realizações que o partido tem a apresentar para 2022, por que todo esse barulho em torno da candidatura Doria?
A visão convencional da política brasileira de hoje mostra dois candidatos de verdade, o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula – e depois, numa salada de nomes que inclui Doria, uma penca de candidatos disputando a medalha de bronze. Essa é, naturalmente, a situação como ela aparece hoje, um ano antes da eleição. A experiência mais elementar exige que se considere todos os cenários eleitorais de hoje como momentos de um filme que está em realização. Um ano, para uma eleição, é tempo demais – quem sabe o que vai acontecer até lá? Cuidado, portanto.
Nessa briga pelo terceiro lugar – ou, talvez, coisa mais gorda do que isso –, Doria parece ser o que tem mais volume de jogo, como dizem os locutores de futebol. Precisa ver, é claro, se tem voto, e voto do Oiapoque ao Chuí – é isso o que resolve, e não papagaiada na mídia.
Mas, por estar no governo de São Paulo, Doria tem chances de apresentar um bom show para o público no ano que vem – obras dignas de um Cirque du Soleil, por exemplo, e mais uma avalanche de comerciais mostrando as máquinas do Instituto Butantan em plena explosão produtiva da vacina. Seus adversários não têm nada parecido – só conversa. Doria vai fazer, também, o número clássico na política brasileira dos últimos anos: “ou eu ou o Lula”. Não vai deixar esse filé só para Bolsonaro.
O problema de Doria, como candidato, é o seu opaco lugar nas pesquisas, como elas estão hoje; se ficar nisso que tem agora, sua candidatura não ganha musculatura e os que disputam o bronze com ele tendem a se firmar como a “alternativa” a Bolsonaro e a Lula – a tal “terceira via” da qual você já se cansou de ouvir. É trabalho duro. Para alcançar seu competidor Sergio Moro, por exemplo, Doria tem de aumentar umas 10 vezes de tamanho.
O resto não parece interessar muito – é uma tiriricada do “Centrão”, com essa tal de “União Brasil” que pretende juntar numa candidatura só as piores figuras do Congresso e as centenas de milhões de reais que vão faturar com o fundo eleitoral. Disso aí, possivelmente, vai sair muita gente rica – mas presidente, mesmo, não sai.
Doria e Moro, portanto, é a corrida a acompanhar – quer dizer, para quem acha que vai haver uma outra corrida que não seja Bolsonaro x Lula.
Projeto na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado interfere na política de preços da Petrobras.| Foto: Agência Petrobras
A sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado de André Mendonça, indicado pelo presidente da República para a vaga em aberto no Supremo Tribunal Federal, foi marcada para amanhã, quarta-feira (1º), finalmente. Ele foi indicado no dia 13 de julho, o primeiro do mês do semestre, e vai ser sabatinado agora, no início do último mês do semestre e do ano.
A sabatina é importante porque destrava o processo de nomeação de Mendonça. O Supremo deve ter 11 ministros, mas atualmente conta com apenas dez. Isso vem causando empates em julgamentos na Corte, inclusive de ações penais. O ministro Luiz Fux, presidente do STF, decidiu que nem todo empate irá beneficiar o réu, como já aconteceu na Segunda Turma.
O julgamento do ex-deputado André Moura, que foi líder na Câmara do governo Temer, deu empate de 2 x 2. A turma deveria ter cinco ministros, mas está com uma a menos. No plenário, novo empate, agora por 5 x 5. Por isso, Fux decidiu que tem que esperar que o novo ministro chegue e desempate esse julgamento, entre outros, dando o voto de minerva.
E vamos ver se os senadores sabatinam logo também três novos conselheiros indicados do Conselho Nacional de Justiça, que está com três cadeiras vagas. Tudo por causa de uma vontade pessoal do senador David Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ.
Interferência na política de preços da Petrobras O senador Otto Alencar (PSD-BA), que vocês conhecem da CPI da Covid, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, vai examinar e votar um projeto de lei que interfere na política de preço da Petrobras. Eu acho isso muito fascista, comunista.
Isso interfere no planejamento estatal e faz imposição numa empresa de capital aberto, que tem ações no mercado e não apenas na bolsa de São Paulo (B3), mas no mundo inteiro. Tudo bem que a maioria das ações com voto são do governo federal, o que dá o direito ao governo de nomear o presidente da empresa, por exemplo. Agora, não se pode interferir em algo que compete à companhia definir de acordo com sua planilha de custos e operações. Eu acho muito estranho.
E tem mais: o projeto cria um imposto sobre exportação de petróleo. É uma enorme interferência, que não dá certo. É uma mania nesse país, dos socializantes, que na verdade agem como fascistas ou comunistas, em que o Estado manda em tudo. E aí reprime a liberdade. Os cidadãos que deveriam ser os patrões do Estado, que deveria existir para servir aos contribuintes, têm que assistir situações absurdas como essa.
Por sinal, estava lendo uma carta de Raul Pilla para o então general Olímpio Mourão Filho e ele dizia que não é justo que haja centralização de planejamento econômico numa democracia. Porque se trata de dinheiro do público, que tem que ser aplicado de acordo com a vontade do público. E não de acordo com a vontade do Estado.
TSE conclui testes com urna eletrônica O Tribunal Superior Eleitoral anunciou o resultado da experiência de 29 tentativas de entrar e violar a votação da urna eletrônica. Cinco foram exitosas. Uma delas, da Polícia Federal, chegou a entrar na rede do TSE, mas não alterou o resultado de eleição. Outra conseguiu violar o sigilo do eleitor na urna eletrônica. E outra conseguiu pôr um bluetooth que transmitiu os votos da urna para um hacker.
Segundo o ministro Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, nenhuma delas alteraria o resultado de uma eleição, mas levantou pontos fracos que terão de ser resolvidos.
Ação contra garimpeiros Eu vi imagens e o depoimento de famílias de garimpeiros do Rio Madeira, e fico me perguntando: será que era necessária tanta violência? Queimaram balsas que serviam de moradia para os garimpeiros com suas famílias. Queimaram roupa de cama, roupas, dinheiro guardado, tudo. Eles saíram só com a roupa de corpo e sem a comida para o dia.
Esse tipo de ação choca bastante. Não vou entrar no mérito sobre o garimpo. Acho que há outras formas de se cumprir as leis quando não se trata de bandidos perigosos. Era gente que estava trabalhando, inclusive para o país, retirando a riqueza do solo que, teoricamente, é da União.
Em “Lula, volume 1”, o biografado é um herói abnegado, um ungido vítima de uma injustiça e investido da missão de provar sua inocência e, mais uma vez, salvar o país do jugo das elites.| Foto: Reprodução/ Twitter
Terminei de ler “Lula, volume 1”, de Fernando Morais, há uma semana. Abandonei o Kindle sobre o criado-mudo e, sei lá, fui viver a vida. Não fiz anotações, não dei estrelinhas no Goodreads. Sabendo que teria de escrever sobre o assunto, o máximo que consegui concatenar ao virar a última frase foi o título que encima esta coluna. E que, por puro milagre, não esqueci.
Foi necessária uma bronca do meu editor para que eu me lembrasse da leitura do calhamaço inútil. “Quero o texto sobre a biografia do Lula sobre a minha mesa até as 17h!”, exigiu ele. Me prontifiquei a fazer o que fosse possível. E, assim, os dias foram passando sem que eu fosse capaz de escrever sobre um livro que nada mais é do que um razoável fenômeno editorial oportunista de uma época corrompida pela estupidez ideológica.
Meu trabalho de Hércules tinha um complicador: o fato de eu escrever, em tese, para uma maioria de leitores que não nutre exatamente admiração pelo biografado. Nem pelo biógrafo. Ora, eu mesmo não nutro admiração ou simpatia por eles. Se Lula desperta em mim alguma coisa além de asco é só porque se trata de uma figura de inegável importância histórica. Quanto a Fernando Morais, eu agradeço pelo prazer que senti ao ler “Chatô” na adolescência. Fora isso, que pena, Fernandinho. Que pena!…
Aí se impõe o primeiro desafio ao leitor: como consumir com “neutralidade”, ou melhor, com honestidade intelectual um produto que se sabe de antemão contaminado por desonestidades político-intelectuais de toda sorte? A meu ver, é impossível. E olha que eu tentei, hein? Ah, se tentei. Linha por linha dos primeiros capítulos eu li dando todos os tipos de descontos para o autor e o objeto de sua obra. Mas o que fazer se, também linha por linha, me deparava com adjetivos e advérbios malandramente planejados para compor uma peça de propaganda muito distante de se passar por documento histórico?
É isso o que “Lula, volume 1” faz: torna o leitor cúmplice de uma farsa político-intelectual. Político-editorial? Político-historiográfica? Enfim, uma farsa. Como se o simples ato de ler 600 páginas chancelasse a falsa narrativa épica do herói descalço que virou imperador dos pobres, foi preso injustamente por um juiz malvado e ressurgiu das cinzas nos braços do povo, em meio a um regime fascista. Olha só esse trecho aqui (um dos poucos que anotei) em que Fernando Morais fala da violência das delações premiadas que culminaram com a prisão de corruptos e corruptores: “Nem todos, porém, se deixaram vergar à violência. Isso não ocorreu apenas entre militantes do PT, como o bancário João Vaccari Neto…”
Em resumo, se eu lesse “Lula, volume 1” no ônibus, teria que ficar balançando negativamente a cabeça, só para mostrar aos outros passageiros que não concordo com nada daquilo. O que, por lógica, me faz crer que a biografia tenha sido escrita justamente para que os militantes exibam a sua fidelidade ao líder petista, numa triste (mas provável) sinalização de desvirtude. Curiosamente, só senti uma espécie de prazer intelectual ao ler “Lula, volume 1” depois que comecei a imaginar como um militante petista estava lendo aquele troço. Digo, tudo o que eu lia levemente indignado o petista deveria estar lendo com um prazer escandaloso.
A começar pela opção do autor de contar a vida de Lula partindo de sua prisão. Veja só. O homem governou o país por 8 anos; durante esse tempo, falou e fez o que quis; se deixou de fazer alguma coisa, não foi por falta de oportunidade; teve o apoio (comprado) do Congresso, do Judiciário, da maioria da população; deixou o cargo com recordes estratosféricos de aprovação. E ainda assim o biógrafo tem a pachorra de me dizer que Lula estava sendo preso para impedir a salvação do Brasil?
Sem falar nos muitos momentos, uns mais explícitos, outros até que sutis, de idolatria. “Lula aparentava tranquilidade” é uma descrição que, não por acaso, aparece trocentas vezes ao longo da narrativa da prisão. Que, por sinal, Fernando Morais introduz como um momento de ruptura na normalidade democrática. “A atmosfera era a de um modorrento fim de expediente como qualquer outro”, escreve Morais. Na primeira frase do livro!
Em “Lula, volume 1”, o biografado é sempre racional. Sempre carinhoso. Sempre compreensivo. Se Lula se zanga, sua ira é justificável. Afinal, ele é um herói abnegado, um ungido vítima de uma injustiça e investido da missão de provar sua inocência e, mais uma vez, salvar o país do jugo das elites. Não que eu, conhecendo o trabalho de Fernando Morais como conheço, esperasse dele uma “análise crítica” de Lula. Mas seria demais pedir um pouco de parcimônia? Um pouco de humanidade – no sentido até de se querer entender as motivações erradas de um personagem que é imperfeito por ser humano, e não só por ser petista, esquerdista, comunista, adorador de ditadores, mitômano, narcisista, messiânico, hipócrita, etc.
Felizmente para Morais, consta que o livro está vendendo bem, obrigado. Cinquenta mil cópias teriam sido vendidas na primeira semana. O que só prova que, entre os raros leitores deste país, Lula ainda é uma sereia de canto mortalmente sedutor. Isso sem falar nos que compraram o livro apenas para expô-lo na mesinha de centro, a fim de que ele sirva de tema de conversa. Ou provocação.
Infelizmente para Morais, e felizmente para quem resiste a se deixar seduzir pela sereia rouca, acintosos esforços de propaganda como “Lula, volume 1” tendem a perder força com o tempo, sobretudo depois que o biografado morre, o mito se decompõe e a verdade prevalece, senão nas estantes dos quartos-e-salas fedorentos da intelligentsia, nesse éter justo que chamamos de imortalidade.
Eleições Por Wesley Oliveira – Gazeta do Povo Brasília
Bolsonaro negociou diretamente os acordos para se filiar ao PL| Foto: Marcos Corrêa/PR
Depois de dois anos sem uma legenda, o presidente Jair Bolsonaro assina nesta terça-feira (30) sua filiação ao Partido Liberal (PL). Integrante do Centrão, a sigla tem a terceira maior bancada da Câmara com 43 deputados, atrás apenas do PSL (54) e do PT (53).
O evento de filiação vai ocorrer em Brasília na data em que se comemora o Dia do Evangélico na capital do país. Segundo aliados do Planalto, a ideia é que a filiação tenha um tom religioso e que lideranças evangélicas participem da cerimônia ao lado do presidente Bolsonaro, entre elas o deputado Marco Feliciano (PL-SP). Esse grupo é um dos principais aliados do Palácio do Planalto.
O evento de filiação deve contar ainda com parte da bancada do PSL, como a deputada Carla Zambelli (SP), Bia Kicis (DF), Hélio Negão (RJ) e Major Vitor Hugo (GO). A expectativa é de que cerca de 30 deputados que atualmente estão no PSL sigam o presidente para o PL durante a janela partidária do próximo ano.
Flávio Bolsonaro e Marinho também vão se filiar ao PL Além do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) também vai assinar sua filiação ao PL na mesma cerimônia. O parlamentar está filiado ao Patriota há cerca de seis meses, quando tentou acertar a entrada do pai na legenda, o que acabou não se concretizando.
Ministros do alto escalão do governo também devem marcar presença no evento, como a ministra Damares Alves (Mulher e dos Direitos Humanos); Tereza Cristina (Agricultura); Tarcísio Freitas (Infraestrutura), entre outros. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e demais parlamentares do Centrão também são esperados para a cerimônia.
Outro nome que pretende entrar no PL na mesma cerimônia é o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O chefe da pasta planeja disputar uma cadeira no Senado pelo estado do Rio Grande do Norte, onde disputa espaço com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que deve deixar o PSD para se filiar ao PP.
Filiação abre caminho para a construção de candidaturas de aliados Além da articulação da candidatura à reeleição de Bolsonaro, a filiação do presidente ao PL vai pavimentar a candidatura de aliados aos governos estaduais e ao Senado. Uma das exigências de Bolsonaro é indicar os nomes de candidatos ao Senado em todos os estados na disputa do próximo ano.
Até então o presidente vinha sendo pressionado por aliados para que a escolha de seu partido fosse feita ainda neste ano, para que eles tivessem tempo de construir alianças e palanques regionais. Além do PL, Bolsonaro deve contar com o apoio do PP, presidido pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O trio compõe o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso.
A expectativa é de que as filiações de aliados bolsonaristas sejam divididas entre os três partidos. A ideia, segundo aliados do Planalto, é que a construção dos palanques e as candidaturas a deputados federais e estaduais passem necessariamente pelas negociações conjuntas dos três principais partidos. A deputada Alê Silva (PSL-MG), por exemplo, deve ir para o Republicanos, enquanto a ministra Tereza Cristina deve ir para o PP.
Na Bahia, por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, pretende disputar o governo pelo Republicanos com apoio do Palácio do Planalto. Na Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pretende disputar uma cadeira do Senado, mas ainda não houve acordo para onde irá sua filiação.
No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo estadual e já encaminha sua filiação ao PL. A candidatura, no entanto, depende de uma composição com o senador Luiz Carlos Heinze, que é pré-candidato pelo PP. Lideranças dos dois partidos admitem que um acordo terá que ser construído nos próximos meses para que não haja uma divisão do grupo no estado.
Filiação de Bolsonaro ao PL deve provocar debandada de opositores A chegada do presidente Bolsonaro ao PL deve provocar uma debandada de alguns quadros do partido que fazem oposição ao Palácio do Planalto. Apesar disso, a expectativa é de que não haja retaliação por parte do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Entre as possíveis baixas estão o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), o deputado Tiririca (SP) e o ex-ministro Mauricio Quintella, que preside o diretório do PL em Alagoas e é aliado do governador Renan Filho (MDB).
Mesmo com as baixas, Costa Neto acredita que o saldo final da chegada de Bolsonaro será positivo e a bancada do partido será ampliada na próxima legislatura. Nos cálculos, integrantes do PL estimam eleger cerca de 65 deputados e ao menos 10 senadores apoiados pelo presidente.
Antes de acertar a filiação de Bolsonaro, o presidente do PL recebeu “carta branca” dos demais diretórios estaduais. “Todo mundo vai receber o presidente de braços abertos”, sinalizou o senador Jorginho Mello (PL-SC), um dos entusiastas da chegada do presidente ao partido.
Idas e vindas A concretização do acordo foi marcada por idas e vindas, e inicialmente a filiação de Bolsonaro estava prevista para ocorrer no dia 22 de novembro, pois a data faria alusão ao número do PL nas urnas. No entanto, Bolsonaro acabou recuando depois de entraves em diretórios como o de São Paulo, onde havia um acordo para que o partido apoiasse a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB), atual vice-governador, para a sucessão de João Doria em 2022. “A gente não vai aceitar, por exemplo, São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse o chefe do Planalto na ocasião.
Além disso, havia acordos do PL com aliados do PT em estados do Nordeste como Piauí e Pernambuco, por exemplo. Agora, tanto integrantes do PL quanto aliados do Planalto admitem que a situação está pacificada e que Bolsonaro irá participar da construção das chapas aos governos estaduais e indicar nomes para o Senado.
“Tudo certo para ser um casamento [com o PL] que seremos felizes para sempre. Acertamos São Paulo, alguns estados do Nordeste. No macro, foi tudo conversado com Valdemar, sem problema”, afirmou Bolsonaro na semana passada.
Empresas buscam ampliar a capacidade de produção de combustíveis menos poluentes para caminhões, carros e até aviões como forma de reduzir a emissão de carbono no País
Luciana Dyniewicz – Jornal Estadão
A 35 quilômetros de Assunção, capital do Paraguai, em uma cidade de pouco mais de 35 mil habitantes chamada Villeta, o grupo brasileiro ECB (dono da fabricante de biodieselBSBios) está investindo US$ 800 milhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) em uma usina que produzirá combustíveis do futuro. Serão fabricados no local diesel verde (HVO) e querosene de aviação renovável. A planta deve começar a operar apenas em 2025, mas toda sua produção até 2030 já está vendida para a Shell e a BP.
Se estivesse operando hoje, a unidade elevaria a receita anual do grupo ECB em US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões). Em 2020, o faturamento do grupo foi de R$ 5,3 bilhões e, para 2021, estão previstos R$ 8 bilhões. “O comprometimento da sociedade (com a redução de carbono) em 2030 vai ser ainda maior. Então, a expectativa é que o negócio fique ainda melhor depois disso”, diz o presidente do EBC, Erasmo Carlos Battistella.
O empresário pretende desenvolver um projeto semelhante no Brasil assim que o HVO for regulado no País – o assunto está em debate no Congresso. Adiantado-se a isso, a Brasil Biofuels, produtora de óleo de palma, anunciou na semana passada a construção da primeira unidade de HVO do País, que será instalada na Zona Franca de Manaus e receberá um aporte de R$ 1,8 bilhão.
O HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado) emite até 85% menos gás carbônico que o diesel comum e pode ser usado em veículos a diesel sem que os motores precisem ser adaptados. Ele é produzido a partir de óleo de cozinha, de óleos vegetais, como óleo de palma, soja ou girassol, e de gorduras animais, que reagem com o hidrogênio.
Apesar de haver só um projeto anunciado para o País até agora e de a regulação ainda estar indefinida, o HVO – e outros biocombustíveis – tem grande potencial no Brasil, além de um mercado promissor que deve surgir com a descarbonização da economia. “O País tem potencial de ser o maior e mais importante produtor de biocombustíveldo mundo em 2050. Só precisamos de políticas públicas para chegar lá”, diz Battistella, do grupo ECB. “Precisamos começar a pensar em rota tecnológica, implementação de mercado, diversificação de matéria-prima, certificação de cadeia produtiva. Se fizermos o dever de casa, temos um potencial gigante, mas dependemos de os líderes organizarem isso.”
A experiência do Brasil com o etanol e a possibilidade de a agricultura oferecer matéria-prima para a indústria são os fatores que podem impulsionar o setor de combustíveis avançados por aqui, alavancando também o agronegócio. “Os combustíveis são mais um canal de absorção de produtos agrícolas, o que vai exigir aumento da produção local. E a gente tem área já antropizada e tecnologia para produzir”, afirma Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.
O potencial é tão latente e a demanda por combustíveis de baixa emissão é tão alta que empresas estrangeiras estão incentivando a exploração da indústria no País. O diretor-geral da Boeing no Brasil, Landon Loomis, por exemplo, afirma que o Brasil pode ser um dos principais parceiros da indústria aérea na produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
O SAF é fabricado a partir de resíduos, como óleo de cozinha usado e gordura animal, e pode reduzir em até 80% as emissões de carbono da aviação comercial. Hoje, a produção global de SAF é de 100 milhões de litros por ano, o que representa 1% da demanda por combustível do setor.
“Estamos olhando para o mundo para tentar aumentar a produção de SAF. Para mim, o Brasil é um parceiro muito atraente. Tem a segunda maior indústria de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos EUA, e já criou uma indústria de biocombustível do nada. Fez isso com o etanol nos anos 70 em reação à crise do petróleo”, diz Loomis.
O executivo destaca que, para garantir que o SAF não tenha sua origem em produtos agrícolas cultivados em terras com desmatamento ilegal, a Boeing está trabalhando com parceiros para construir uma base de dados de uso da terra. “O Brasil tem uma capacidade enorme para elevar a produção de matéria-prima sem prejudicar a segurança alimentar. Quando se fala em SAF, o S é de sustentabilidade. E ser sustentável inclui se preocupar com todo o ciclo do combustível.”
Na usina no Paraguai que o grupo ECB está construindo, haverá produção também de combustível para aviação. O querosene renovável que será fabricado no local deve ser composto por 5% de óleo de cozinha reciclado, 35% de gordura animal e 60% de óleo vegetal. O presidente da empresa acredita que, até 2030, os aviões possam estar operando com uma mistura de 10% de SAF e 90% de querosene tradicional. Hoje, a participação do combustível sustentável é de 1%.
No Brasil, uma oportunidade na área seria utilizar uma tecnologia chamada ATJ (álcool para jato, na sigla em inglês), que transforma o etanol em combustível de aviação, diz o professor Gonçalo Pereira, da Unicamp. “Com essa tecnologia, o Brasil poderia se transformar em um celeiro do produto, que tem um valor alto e é um grande negócio.”
Pereira afirma acreditar que o etanol pode ser uma opção melhor para o setor aéreo quando comparado a combustíveis feitos a partir de óleo, que é mais demandado globalmente. “O preço do óleo de soja, por exemplo, pode acabar inviabilizando que ele seja uma saída. O etanol tem o caminho mais aberto”, diz.
ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO
Além da criação de combustíveis sustentáveis para o uso em caminhões, ônibus e aviões, a indústria também trabalha em uma tecnologia relativamente nova para os carros: o etanol de segunda geração (E2G). A Raízen, por exemplo, fabrica E2G em Piracicaba (SP) desde 2015 e, agora, está construindo sua segunda unidade do produto em Guariba (SP), que terá o dobro de capacidade da primeira.
Como é produzido a partir de resíduos da fabricação do etanol tradicional (palha e bagaço da cana-de-açúcar), o E2G não aumenta a necessidade de cultivo de cana. O vice-presidente comercial, de logística e distribuição da Raízen, Leonardo Pontes, destaca que o novo combustível é altamente atraente sobretudo na Europa, onde a produção de matéria-prima para biocombustíveis disputa espaço com a de alimentos.
Para uma excelente estruturação do marketing é necessário a coexistência de três funções fundamentais e específicas, que são: a pesquisa de mercado, a análise do marketing e a gestão de ferramentas, e que elas sejam praticadas por profissionais qualificados e específicos, voltados para uma determinada função, isso independente do porte estrutural da empresa.
Pesquisa de Mercado
O marketing estratégico tem como função básica a pesquisa de mercado para que se tenham análises aperfeiçoadas com gerenciamento de ações para um marketing coerentes e com fundamentados. Muitas companhias que praticam marketing operacional, raramente investem em pesquisas (mesmo internas), assumindo assim, riscos, pois se baseiam mais em opiniões que em fatos, sendo esse um dos principais motivos pelo fracasso dessas companhias.
Análise de Marketing
Analisar os resultados das pesquisas de mercado, bem como desenvolver métricas e medidas de desempenho, são atividades do marketing estratégico, desenvolvidas por profissionais habilitados e capaz de visualizar oportunidades de marketing e desenvolver a partir de então ações táticas para o mercado, buscando saídas, encontrando caminhos e soluções para enfrentar os desafios mercadológicos e para alcançar os objetivos pretendidos.
Gestão de Ferramentas
É comum as empresas desenvolverem projetos de marketing ligados às ações de comunicação, onde encontramos com frequência gestores específicos nessa função, onde estes são gerentes de comunicação ou de propaganda. Como a estrutura do departamento de marketing é realizada em etapas distintas, esse gerente deve buscar ferramentas para desenvolver um marketing eficiente e eficaz. As pesquisas de mercado bem como as análises de marketing são ferramentas utilizadas pelo gestor como estratégia possibilitando assim a realização dos objetivos pretendidos.
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Sozinha, a privatização da Petrobras não garante uma queda nos preços dos combustíveis, dizem analistas.| Foto: Agência Petrobras
Defendida de forma reiterada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas semanas, uma eventual privatização da Petrobras não apenas não ajudaria a baratear a gasolina e o óleo diesel como poderia levar a um aumento nos preços, de acordo analistas no setor.
A principal razão é que, com o controle estatal, a companhia ainda é capaz de absorver alguma volatilidade do valor do petróleo no mercado global e praticar preços abaixo da paridade internacional. É o que tem ocorrido nos últimos meses, segundo especialistas e concorrentes. Eles dizem que, apesar dos seguidos reajustes nas refinarias, a petroleira ainda não repassou ao mercado interno todo o aumento ocorrido no mercado do petróleo.
A esperada redução de preços dos combustíveis depende muito mais de outros fatores, como o fim do domínio da empresa no mercado de combustíveis – que dificulta a participação de empresas totalmente privadas, limitando a competição – e de mudanças na tributação.
Bolsonaro citou nesta terça-feira (23) uma outra possibilidade, tida como intervencionista por investidores: rever a política de preço de paridade de importação (PPI), que a empresa passou a seguir em 2016, no governo de Michel Temer.
Apesar do PPI, a Petrobras não aplica imediatamente todas as flutuações na cotação do barril do petróleo. Desde setembro de 2018, depois da greve dos caminhoneiros, as atualizações nos valores dos derivados praticados pelas refinarias deixaram de ocorrer na frequência quase diária como até então, passando a ser mais espaçadas.
Em 2021, foram 15 aumentos na gasolina e 12 no diesel, embora o preço do petróleo varie diariamente no mercado internacional. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) diz que, após a última atualização anunciada pela Petrobras, o valor da gasolina no mercado interno ficou 7% abaixo do praticado no exterior. Para o diesel, a defasagem é de 9%, segundo a entidade.
A Ativa Investimentos calcula uma diferença ainda maior para a gasolina – 17%. “A Petrobras tenta diferenciar movimentos conjunturais dos estruturais, e temos visto na nossa modelagem que, tanto para o diesel quanto para a gasolina, existe uma diferença de preços”, explica o economista Ilan Arbetman, analista de petróleo e gás da corretora.
“Digamos que a empresa fosse privatizada hoje: dificilmente a gente veria uma companhia de mercado absorvendo essa diferença. Se o objetivo é pensar em preços mais baixos na ponta, a verdade é que existem mecanismos muito mais inteligentes para se fazer isso”, afirma.
Para ele, no entanto, é fundamental que a Petrobras mantenha a PPI como forma de garantir segurança à operação da empresa. “É só ver as finanças da companhia em 2015 e 2016, quando foi feito o represamento de preços. Não há dúvida de que quando se lida com uma atividade internacional, que tem custos e a necessidade de se alavancar um posicionamento estratégico, faz-se necessário seguir uma órbita que é global”, afirma.
Conrado Magalhães, da Guide Investimentos, ressalta que a dinâmica de preços não tem necessariamente relação com o fato de a companhia estar sob controle estatal. Portanto, o repasse do controle a um acionista privado não teria o condão de baratear o combustível.
“Com o que está ocorrendo agora em relação à reabertura econômica pós-pandemia e o preço do barril subindo lá fora, [a venda do controle da empresa] não resolveria. A dinâmica que está elevando os preços não seria diferente com uma Petrobras privatizada”, diz o analista.
Na terça-feira, em entrevista à TV Jovem Pan, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, disse que a eventual privatização da empresa mudaria pouco suas operações, pois na visão dele o sistema de governança e conformidade da empresa dificilmente seria alterado.
“A modificação disso seria a redução daquilo que ela [União] recebe de dividendos e royalties, porque em termos de como ela trabalha a diferença é muito pequena”, disse Silva e Luna. “Ser uma empresa privada ou estatal, como ela funciona hoje, a diferença é muito pequena.”
Instituto ligado a petroleiros critica venda de ativos e aumento da importação O diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, defende que o Brasil, como grande produtor e explorador de petróleo, sobretudo a partir do pré-sal, precisa de instrumentos públicos para organizar toda a cadeia e abastecimento do país. O Ineep é ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP).
“Não só a venda da Petrobras não ajudaria a diminuir os preços, como eu vou além: os desinvestimentos que a empresa vem realizando estão diretamente relacionados à alta dos preços dos combustíveis que a gente vem assistindo no Brasil”, afirma.
Ele se refere à decisão tomada pela estatal em 2015 de reduzir o portifólio de ativos para concentrar a estratégia da empresa na exploração e produção de petróleo em águas profundas. Desde então, a estatal deixou ou diminuiu a participação nos segmentos de distribuição de combustível, energia renovável, gás natural, petroquímica e fertilizantes e anunciou, em acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a venda de oito de suas 13 refinarias.
Para viabilizar a operação, a Petrobras reduziu a carga de processamento das unidades. O fator de utilização das refinarias (FUT) caiu de 94% em 2014 para 76% em 2018, segundo relatórios de produção e vendas da companhia. “Nós passamos a importar mais derivados, sem que precisássemos”, diz Nozaki. “Isso significou a abertura do mercado nacional para a entrada de um número muito expressivo de importadores, o que trouxe a pressão para a operação da PPI.”
Das oito unidades de refino colocadas no mercado, três tiveram contrato de venda assinado até agora: a Isaac Sabá (Reman), no Amazonas, a Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, e a Superintendência da Industrialização do Visto (SIX), no Paraná.
“Os gestores do fundo árabe Mubadala, que comprou a Rlam, sinalizam que a refinaria vai ser destinada à produção de bunker oil [combustível para navio]. É um ativo que tem tido alta rentabilidade no mercado internacional, sobretudo neste momento de saída da pandemia e de retomada das atividades econômicas”, afirma o diretor do Ineep.
“Ou seja, em vez de produzir gasolina, diesel, GLP e outros insumos para abastecer o mercado interno, a unidade vai produzir bunker oil para exportação, o que traz mais insegurança sobre o abastecimento nacional de derivados”, diz.
Privatização da Petrobras é pouco provável antes das eleições De volta ao debate público de tempos em tempos, a privatização da Petrobras foi defendida nas últimas semanas por nomes como o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-presidente da estatal Roberto Castello Branco.
Governo prepara projeto de lei para a privatização da Petrobras Mas a venda da empresa não deve virar realidade tão cedo. No Congresso Nacional, por exemplo, críticos e defensores da privatização duvidam que ela possa ocorrer antes das eleições de 2022.
Para Magalhães, as declarações de Bolsonaro seriam principalmente fruto de uma frustração com a disparada dos preços – que respinga em sua popularidade – e um aceno ao mercado, mais do que a sinalização de um projeto concreto de venda do controle da estatal.
“Do ponto de vista político, a Petrobras tende a gerar mais dor de cabeça do que dividendos, apesar dos repasses volumosos que vem fazendo para o governo federal, como acionista da estatal”, diz. “O governo entende que o discurso da privatização é muito atrativo para o mercado e usa como uma espécie de moeda de troca, uma cortina de fumaça, para quando as coisas não estão indo muito bem.”
Para o analista, a privatização é uma promessa para um eventual segundo mandato de Bolsonaro, que, se confirmado, dispensaria o presidente de calibrar o discurso com vistas a uma eleição. “Estamos em modo eleitoral e tudo o que o governo faz já é visando fortalecer o presidente no ano que vem”, diz.
Arbetman, da Ativa, compara com o caso da Eletrobras, que figurou na lista de possíveis privatizações ainda nos início do período democrático, no governo de José Sarney (MDB).
“O tema voltou ao plano nacional de privatização com Fernando Henrique Cardoso [PSDB], em 1994, saiu com o Lula [PT], em 2007, voltou com o [Michel] Temer [MDB], em 2017, e agora possivelmente a gente pode estar vendo a finalização de um projeto que foi transformado e, na verdade, não é nem uma privatização, é uma capitalização, onde o governo vai deixar de ser majoritário para ter aproximadamente 40% ou 45% da companhia. Isso se der certo”, diz.
O que ajudaria a controlar os preços dos combustíveis
Analista do mercado financeiro, Arbetman considera que uma das formas de se reduzir o preço dos combustíveis para o consumidor final passa por uma mudança na tributação.
“Não entro no mérito se é no [tributo] federal ou no estadual; o fato é que a carga de impostos embutida no preço que chega na bomba é alta. E não tenho dúvida de que qualquer reforma perene na tributação dos derivados no país teria um efeito baixista muito maior do que uma possível privatização”, diz.
Outro ponto relevante na composição do preço dos combustíveis é o câmbio, uma vez que a paridade é praticada em dólar. “Então isso também envolve a forma como o Executivo se comunica com o mercado”, diz Arbetman, em referência às repercussões de atos e declarações do governo sobre as cotações do câmbio.
O economista entende ainda que a abertura do setor de refino ajudará a ter preços mais equilibrados. “Não há dúvida de que a estrutura quase que monopolista da Petrobras contribui para que a diluição de custos ao longo do processo seja mais fraca e no final a gente tenha um preço mais alto”, avalia.
Magalhães, da Guide, concorda. “A iniciativa privada é relutante em investir no mercado de refino porque tem uma empresa estatal que pode absorver lucro. O meu entendimento é que a quebra do que é um monopólio na prática ajudaria”, afirma. “Acabaria a necessidade de importar petróleo refinado lá de fora.”
William Nozaki, do Ineep, que diverge da estratégia de desinvestimento do parque de refino, entende que a PPI poderia ser revista. “É claro que nós do Ineep não defendemos que haja um congelamento de preços ou uma política de intervenção estatal desorganizada. Mas entre o congelamento e a livre flutuação, é possível achar um caminho intermediário que seja razoável tanto para acionistas quanto para consumidores”, diz.
Uma alternativa seria levar em consideração o custo de importação em consonância com o da produção local de derivados na definição do preço, diz. O raciocínio é de que não é preciso levar em conta 100% do preço internacional do petróleo, uma vez que boa parte do refino no Brasil usa petróleo produzido localmente, assim como a maior parte da demanda brasileira de derivados é atendida por produção nacional.
Tanto Arbetman quanto Nozaki concordam que uma saída seria a criação de um fundo de estabilização para amortecer o impacto da volatidade da cotação do petróleo. A ideia é discutida desde 2018, na esteira da greve dos caminhoneiros, provocada principalmente pela insatisfação da categoria com a escalada de preços do diesel.
“Qualquer política que siga mantendo a política de paridade da companhia e tire as pressões que sobre ela existem, a gente vê como benéfica para a Petrobras”, diz Arbetman.
Na Câmara dos Deputados, pelo menos cinco projetos de lei propõem a criação da reserva financeira. Nas diferentes versões, o fundo poderia ser abastecido com recursos de um imposto sobre exportação do petróleo em estado bruto; dividendos e juros sobre capital próprio distribuídos pela Petrobras em favor da União; alíquota da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide); royalties do pré-sal; dotações no Orçamento anual da União; entre outros.
Nozaki defende que seja criado um imposto sobre exportação do óleo cru para financiar o fundo. O tributo, acredita, ajudaria ainda a estimular a produção de derivados para o mercado interno.
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado na terça-feira, o presidente da Petrobras defendeu o uso dos dividendos pagos à União em um fundo para estabilizar os preços. “Nós entendemos que, em um momento de dificuldade, é uma solução interessante”, afirmou Silva e Luna.
Por outro lado, o executivo criticou o imposto sobre a exportação, que segundo ele provocaria insegurança jurídica e afastaria investidores do país. “Qualquer ação que fira a lei de mercado, primeiro vai de encontro à nossa legislação, ao nosso arcabouço jurídico. E ela assusta.”
A estratégia de voltar a atuação da Petrobras para a produção e exportação de óleo cru garantiu a recuperação financeira da companhia, disse Silva e Luna em setembro. No terceiro trimestre de 2021, a empresa registrou lucro de R$ 31,1 bilhões e decidiu ampliar a distribuição de dividendos aos acionistas.
Bolsonaro quer rever paridade internacional, que defendeu no programa de governo “O problema é que, do outro lado, temos os consumidores sendo impactados com o preço da gasolina, que em muitas cidades ultrapassa os R$ 7, e o preço do botijão de gás, que em muitas cidades ultrapassa os R$ 100”, diz Nozaki.
“É evidente que o mercado financeiro vai indicar que a PPI é o melhor caminho. A questão que fica é: o que é uma boa gestão da Petrobras: É uma boa gestão para os acionistas ou para o conjunto dos consumidores brasileiros?”, questiona.
O presidente Jair Bolsonaro tem manifestado incômodo com o PPI e seus efeitos sobre o preço na bomba. Embora o próprio presidente tenha prometido manter essa política em seu programa de governo, ele agora a classifica como um “problema”.
“[A Petrobras] é uma empresa também que eu não tenho domínio sobre ela, tem seu aparelhamento. Ela busca o lucro. Tivemos problema sério no passado, além da corrupção, a questão da paridade com o preço internacional. Estamos buscando rever essa questão”, disse o presidente ao Portal Correio, da Paraíba.