sábado, 20 de novembro de 2021

PROBLEMAS ENFRENTADOS POR MORO NO SEU PARTIDO PODEMOS

 

Raio-X do partido
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

Ex-ministro Sergio Moro assina a ficha de filiação ao lado da presidente do Podemos, Renata Abreu, e de lideranças do partido.| Foto: Podemos/Divulgação

Partido escolhido por Sergio Moro para disputar a Presidência da República, o Podemos é uma legenda que vai impor desafios políticos para o ex-juiz e ex-ministro. A legenda não tem capilaridade em todo o país – o que exigirá que Moro negocie com outros partidos para ampliar seus apoios. Além disso, a legenda que ele escolheu tem divisões internas. Embora o ex-juiz conte com a sustentação da cúpula do Podemos e de grande parte de seus principais nomes, a legenda ainda abriga apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT).

O Podemos originalmente se chamava Partido Trabalhista Nacional (PTN). Mas, em 2016, a legenda decidiu se modernizar e decidiu mudar de nome – decisão que foi oficializada pela Justiça Eleitoral em 2017. Até então, era uma legenda pouco expressiva.

“Há pouco mais de quatro anos lançávamos a pedra fundamental da obra partidária chamada Podemos. Hoje aqui nos reunimos para fincar um marco de um novo rumo para esse país”, discursou o líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR), durante a cerimônia de filiação de Moro.

Rebatizado como Podemos, o partido começou a atrair mais lideranças políticas. O próprio Alvaro Dias foi um deles. E, ao menos no Senado, a legenda é forte: tem a terceira maior bancada, com nove senadores. Mas, na Câmara, a sigla ainda é pequena, com apenas 11 deputados federais.

Essa bancada na Câmara é um retrato da falta de capilaridade do Podemos. Ou seja, o partido não está estruturado em todo o país. Por isso, aliados de Moro afirmam que a viabilidade de sua candidatura vai depender da adesão de outras legendas para que haja construção de palanques principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

“A construção da candidatura de Sergio Moro à Presidência passará pela interlocução com diferentes partidos e lideranças do centro”, reconhece o deputado José Nelto (Podemos-GO). “Ele será o candidato do Brasil.”

Sergio Moro, antes mesmo de oficializar sua filiação, já estava buscando alianças com lideranças de outros partidos. Nessas conversas estão, por exemplo, representantes do União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL. E sua cerimônia de filiação ao Podemos contou com lideranças do Novo, PSDB, MDB e Cidadania, por exemplo.

Você concorda com o ministro Dias Toffoli de que o STF é o poder moderador no Brasil?
Sim, porque só o STF é capaz de conter abusos dos outros poderes.
Não, porque esse poder inexiste na Constituição Federal.

Legenda conta com apoiadores de Bolsonaro e Lula 
Apesar da busca pelo apoio ao nome de Moro em outros grupos políticos, o Podemos conta com apoiadores de outros pré-candidatos ao Palácio do Planalto em 2022, como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado José Medeiros (MT), por exemplo, já sinalizou que pretende disputar uma cadeira ao Senado em 2022 com apoio de Bolsonaro.

Na Bahia, o Podemos comanda a Secretaria Estadual de Turismo do governo de Rui Costa (PT). Para o deputado Bacelar (Podemos-BA), o nome de Moro “é um belo quadro, mas ainda é preciso saber suas posições quanto à economia e às desigualdades”.

Já em Pernambuco, o deputado Ricardo Teobaldo mantém interlocuções com Lula. E, na disputa pela prefeitura de Recife em 2020, o Podemos apoiou a candidatura de Marília Arraes (PT) no segundo turno. Para 2022, o líder do partido no estado também não descarta está no palanque do ex-presidente Lula na disputa pela Presidência.

A presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), no entanto, já começou a levantar os possíveis diretórios que possam apresentar resistências em apoiar o nome de Sergio Moro em 2022. Já o senador Alvaro Dias sinaliza que a “porta de saída” do partido está aberta para quem não for apoiar o ex-juiz da Lava Jato. “A nossa causa é outra. Dentro do Podemos temos um projeto”, diz o senador.

Integrantes da executiva do Poemos têm sinalizado aos diretórios que não haverá resistência aos quadros que desejarem sair do partido. Nos cálculos, a cúpula da legenda acredita que a candidatura de Moro terá força para atrair potenciais candidatos tanto para a Câmara quanto para o Senado em 2022.

Moro foi contra, mas Podemos rachou na votação da PEC dos Precatórios

Já com a filiação encaminhada ao Podemos, o ex-ministro Sergio Moro chegou a se manifestar publicamente contra a aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados. Instantes antes da votação em si, a liderança do partido se manifestou contrária à aprovação da proposta. Mesmo assim, cinco deputados do partido votaram a favor da proposta defendida pelo governo Bolsonaro; e outros quatro foram contrários. O deputado Ricardo Teobaldo (PE) estava ausente da votação.

Já no segundo turno da votação da PEC, a “traição” à orientação partidária foi menor, e apenas três deputados votaram pela aprovação da matéria, entre eles José Medeiros e Ricardo Teobaldo. A PEC abre caminho para que o governo garanta o pagamento do Auxílio Brasil, uma das principais bandeira de Bolsonaro para seu projeto de reeleição. Mas, como só garante um benefício mais robusto apenas em 2022 e abre espaço no orçamento para outros programas, é vista pela oposição como eleitoreira e um risco às contas públicas. A PEC, no entanto, ainda precisa passar pelo Senado.

Diferentemente da Câmara, os senadores do Podemos já sinalizam que irão votar contra o texto aprovado pelos deputados. O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), inclusive, chegou a apresentar uma outra proposta para instituir o programa social.

“É possível, sim, estabelecer um auxílio de R$ 400 por mês, permanente, não um auxílio eleitoral que vai acabar daqui a um ano, não. Um auxílio permanente, uma política de Estado, e não uma política de um governo”, diz Oriovisto.

Com Moro, Podemos espera dobrar de tamanho em 2022
Líderes do Podemos estimam que irão pelo menos dobrar o número de deputados federais caso a candidatura de Sergio Moro ao Palácio do Planalto seja confirmada. Além disso, o partido espera ter em seus quadros outros puxadores de voto ligados ao combate à corrupção, como o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol. Ele também já sinalizou que deverá se filiar ao partido e disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.

“O convite está feito, o projeto detalhado. Agora, vamos aguardar o tempo dele para fazermos a filiação”, afirma Alvaro Dias sobre a filiação de Deltan. A expectativa é de que o ex-coordenador da Lava Jato assine a ficha de filiação em dezembro, em cerimônia prevista para ocorrer no Paraná.

O partido deve receber também a filiação do general Santos Cruz, que foi ministro do governo Bolsonaro. Santos Cruz é um dos principais entusiastas da candidatura de Moro. “Recebi convites de vários partidos, mas devo me filiar ao Podemos. Ainda não decidi qual cargo devo me candidatar, mas vamos discutir se será para deputado ou senador”, admite Santos Cruz.

A estratégia, segundo líderes do partido, é manter o crescimento que o Podemos passou a ter nos últimos anos. Em 2019, a sigla de Sergio Moro incorporou o PHS, que não havia superado a cláusula de barreira em 2018.

A fusão fez com que o Podemos dobrasse o montante do fundo eleitoral a que tem direito, passando de R$ 36 milhões em 2018 para R$ 77 milhões em 2020. Esse dinheiro extra ajudou o Podemos a triplicar o número de prefeitos que elegeu em 2020: foram 100 eleitos, sendo um em uma capital – Eduardo Braide, em São Luís (MA).

Números do Podemos

9 senadores 
11 deputados federais  
24 deputados estaduais e distritais
100 prefeitos eleitos em 2020 
1.524 vereadores
Fundo Partidário 2021: R$ 29 milhões
Fundo Eleitoral 2020: R$ 77,9 milhões 

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TETO DE GASTOS É O AJUSTE FISCAL PARA TODOS OS TEMPOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco afirmou que, em um cenário de crescimento do PIB e da arrecadação, seria possível pensar em uma revisão do teto de gastos.| Foto: Pedro Gontigo/Senado Federal

Defender o ajuste fiscal em tempos de vacas magras, quando falta dinheiro, é mera questão de bom senso, embora ainda haja muitos irresponsáveis, às vezes em posições de destaque, que sigam pedindo mais e mais gastança. Muito mais difícil é defender o ajuste fiscal quando as coisas vão bem. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), demonstrou essa dificuldade ao falar do teto de gastos, cuja regra de cálculo é alterada pela PEC dos Precatórios. “Temos o desafio da manutenção da rigidez fiscal e da responsabilidade fiscal no Brasil. Naturalmente que, em algum momento, quando tivermos uma boa perspectiva de crescimento, de boa arrecadação, se um combate mais eficaz à erradicação da pobreza, nós poderemos rediscutir o teto de gastos públicos e, eventualmente, termos a condição de flexibilizá-lo até. Mas não é este o momento atual”, afirmou Pacheco na segunda-feira, dia 15, no Fórum Jurídico de Lisboa, em Portugal.

Em outras palavras, o que Pacheco diz é que é impróprio “rediscutir” ou “flexibilizar” o teto de gastos não pelas virtudes do mecanismo, mas apenas porque a situação não permite: o cobertor é curto, o país ainda patina na recuperação de dois desastres sucessivos – a recessão lulopetista de 2015-2016 e a pandemia de Covid-19 –, a inflação assusta e as perspectivas de crescimento para 2022 são pouco animadoras. Mas, em outras circunstâncias mais favoráveis, por que não? Este raciocínio ignora que o teto de gastos é medida tão importante nos tempos bons quanto nos tempos ruins – ao menos por algum tempo.

Em épocas de maior crescimento e arrecadação, o teto de gastos evita que a dinâmica da gastança se repita, garantindo que o governo volte a ter superávits e possa, por exemplo, reduzir a dívida pública

O teto de gastos, é preciso sempre recordar, foi uma resposta do governo Michel Temer à gastança que marcou o fim da era Lula e a passagem de Dilma Rousseff pelo Palácio do Planalto. Vários desses anos foram de crescimento forte, incluindo o “PIBão” de 7,53% em 2010. Ao avanço na economia correspondeu elevação igual ou maior no gasto público, criando obrigações que pressionariam o Orçamento de forma permanente, independentemente do desempenho futuro do país – e a conta não demorou muito a vir. Em épocas de maior crescimento e arrecadação, impedir que a despesa pública total suba acima da inflação tem a finalidade de evitar que a dinâmica da gastança se repita, garantindo que o governo volte a ter superávits e possa, por exemplo, reduzir a dívida pública, que avançou muito como proporção do PIB no passado recente e está bem acima da média dos países emergentes.

O problema atual não está no teto em si, mas no fato de ele não ter sido acompanhado de outras reformas com efeito no orçamento, especialmente sobre as duas rubricas mais pesadas: Previdência e funcionalismo. Sem reformas previdenciária e administrativa robustas, estes dois gastos tendem a subir mais que a inflação e absorver parcelas cada vez maiores do orçamento, tomando espaço de outras despesas, também obrigatórias ou de livre escolha do governo. Temer planejava realizar a reforma da Previdência logo após aprovar o teto de gastos, mas o “escândalo Joesley” o forçou a gastar todo o seu capital político para sobreviver às denúncias da Procuradoria-Geral da República. No fim, a reforma só foi realizada em 2019, já no governo de Jair Bolsonaro, e ainda assim ficou aquém do ideal. A reforma administrativa está parada, mas caminha para destino semelhante: um texto desfigurado que não contribuirá de forma significativa para um verdadeiro ajuste no gasto com pessoal.


O teto, portanto, não tem apenas a finalidade de conter o gasto público, mas de torná-lo mais racional. Ele “obrigaria” governo e Congresso a realizar reformas dignas do nome, a desinchar o Estado, a eliminar gastos desnecessários, ineficazes ou imorais – como o financiamento público de partidos e campanhas eleitorais, para ficarmos apenas em um exemplo mais evidente –, a rever subsídios e renúncias fiscais que já se mostraram ineficientes ou não cumpriram seus objetivos, a desengessar um Orçamento repleto de obrigações e vinculações que deixam migalhas para o governo executar o programa consagrado nas urnas.

No entanto, este roteiro, que poderia colocar o Brasil em uma rota de crescimento, vem sendo quase que completamente ignorado. E uma “revisão” ou “flexibilização” do teto depende justamente da concretização deste programa, não da chegada de um novo tempo de vacas gordas. Com gasto público controlado, superávits consolidados, dívida pública reduzida, Estado mais enxuto e eficiente, Orçamento desengessado e desperdícios eliminados – em outras palavras, quando a racionalidade na despesa pública se tornasse hábito consolidado –, seria muito mais fácil “desapertar o cinto”. Mas, do ponto de vista político, realmente é muito mais fácil não fazer o que precisa ser feito, esperar até que os gastos não caibam mais no orçamento, colocar a culpa de tudo no teto e contorná-lo, flexibilizá-lo ou simplesmente aboli-lo. E qualquer afrouxamento sem as reformas, seja em tempos bons ou ruins, será apenas pretexto para mais gastos, que voltarão a cobrar seu preço mais adiante, assim como ocorreu em 2015-2016.


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MINISTRO TARCÍSIO PIVÔ DE BOLSONARO COM O PL

Eleições

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

Bolsonaro deseja lançar Tarcísio de Freitas, a cargos majoritários em São Paulo, mas o ministro da Infraestrutura pode acabar na disputa pelo Senado em Goiás| Foto: Alberto Ruy/MInfra

Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas virou uma espécie de “coringa” político do presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Mesmo sem nunca ter disputado um cargo eletivo, Tarcísio é visto como alternativa para a disputa de governos estaduais ou ao Senado em quatro estados: São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Tocantins.

O principal desejo de Bolsonaro é lançá-lo candidato ao governo de São Paulo. A opção, contudo, enfrenta resistências dentro do PL, partido em que o presidente da República pode se filiar, e no PP, legenda presidida pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. A leitura feita por PL e PP, ambos partidos do Centrão, é que Tarcísio teria os votos dos eleitores mais fiéis a Bolsonaro, mas dificilmente conquistaria votos do chamado eleitor “médio”, que tem um perfil menos ideológico e mais pragmático.

Apesar do alerta feito pelas cúpulas dos partidos aliados, Bolsonaro mantém vivo, ao menos no discurso, o desejo de ter Tarcísio como candidato ao governo de São Paulo. Não à toa o ministro virou um dos pivôs do impasse que motivou a suspensão da data de filiação de Bolsonaro ao PL.

O partido presidido pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto deu “carta branca” para ceder a algumas exigências de Bolsonaro a fim de convencê-lo a se filiar. Mas, nos bastidores, é dito que o chefe do Planalto sabe que não terá apoio para lançar uma candidatura do ministro da Infraestrutura a um cargo majoritário em São Paulo.


Por que Bolsonaro quer tanto Tarcísio como candidato em São Paulo
A ambição de Bolsonaro em ter Tarcísio de Freitas como candidato em São Paulo segue um cálculo político do núcleo-duro do presidente da República. Bolsonaro quer ter um palanque forte para seu projeto de reeleição e, ao mesmo tempo, ampliar sua base política no estado, que detém o maior colégio eleitoral do Brasil.

Os aliados do Centrão entendem, contudo, que a candidatura de Tarcísio não ampliará a base eleitoral de Bolsonaro em São Paulo além do tamanho existente. As cúpulas de PL e PP tentam convencê-lo de que seria mais estratégico lançar o ministro em outro estado onde ele possa ter maior favoritismo e agregar mais votos à chapa presidencial.

Embora não seja o cenário ideal para Bolsonaro, o presidente está convencido de que possa ser melhor ter Tarcísio disputando o Senado em Goiás, o 11º maior colégio eleitoral, com 7,2 milhões de habitantes. Essa possibilidade foi dialogada e negociada entre Bolsonaro e Valdemar Costa Neto na reunião que ambos tiveram na última semana.

A candidatura do ministro da Infraestrutura ao Senado por Goiás está dentro dos acordos tratados entre Bolsonaro e Costa Neto envolvendo a filiação ao PL. Esse é um cenário trabalhado nos bastidores pelo Centrão junto ao presidente da República há pelo menos dois meses.

Em outubro, aliados da base ideológica e do Centrão informaram à Gazeta do Povo que o cenário traçado era ter Tarcísio na disputa pelo Senado em Goiás. E que, em São Paulo, a indicação de Bolsonaro para a vaga estaria entre a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) e o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB).

Em setembro, o próprio Tarcísio comentou sobre a possibilidade de sair candidato a senador por Goiás em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “Vou caminhar junto com o presidente. Não sei se exatamente num governo de estado, não sei se exatamente em São Paulo. De repente no Parlamento, de repente em Goiás. Por exemplo, por que não o Senado em Goiás?”, indagou o ministro, que também citou a possibilidade de disputa ao cargo por Mato Grosso.

Entre agosto e setembro, Tarcísio recebeu sondagens de partidos da chamada terceira via e admitiu que poderia disputar o cargo por Goiás. “Fiz o convite à época, mas ele recusou. Senti dele disposição e entusiasmo em disputar o Senado por Goiás, mas ele também tem ofertas para sair candidato [ao mesmo cargo] em Tocantins e Mato Grosso”, diz uma liderança de um partido independente ao governo.

Quais as chances de Tarcísio sair candidato ao Senado e por que em Goiás
O possível ingresso de Bolsonaro no PL pode sacramentar também a filiação do ministro Tarcísio de Freitas — o convite, inclusive, já foi feito, afirma a deputada federal Magda Mofatto (PL-GO) à Gazeta do Povo.

“O ministro Tarcísio de Freitas realmente demonstrou vontade de sair senador por Goiás. O presidente Bolsonaro também gostaria que ele saísse por Goiás e nós formulamos o convite, mas ele ainda não deu resposta se aceita ou não”, diz Magda. “Ele escolheu Goiás porque tem muita afinidade com o estado e realmente, se ele assim decidir, será muito bem vindo”, complementa.

A parlamentar confirma que Bolsonaro e Tarcísio sondaram, contudo, a candidatura ao governo de São Paulo, mas ela explica que não há uma decisão fechada. “Eles gostariam [da candidatura], mas são conscientes de que precisariam viabilizar a candidatura [ao governo paulista]”, afirma Magda.

“Ainda têm arestas a serem aparadas e ficou por conta do presidente Valdemar Costa Neto apará-las. Não há uma decisão com relação a São Paulo, mas, de qualquer forma, o partido segue de braços abertos a ambos”, acrescenta a deputada do PL.

Deputados próximos de Tarcísio sustentam, contudo, que a sondagem por São Paulo está pacificada e que o ministro está, de fato, convencido a sair candidato ao Senado por Goiás. “Por tudo o que ele fez, pela intimidade que tem com a bancada goiana [no Congresso], por ser um estado colado com Brasília, há toda uma logística política e também territorial que o agrada”, diz um deputado aliado.

“O Tarcísio não quer sair candidato pelo governo [de São Paulo]. Ele quer ir ao Senado por Goiás porque acha que é uma ‘guerra’ mais provável de ser vencida”, pondera um deputado da base governista. “Mas não está descartado ele sair candidato por São Paulo a pedido do presidente, caso consiga um acordo [com o Centrão]. O presidente quer que ele seja um calo no sapato dos opositores e garanta a ele um palanque fortíssimo”, acrescenta o parlamentar.

Embora tenha nascido na capital fluminense, Tarcísio sentiu da bancada goiana o respaldo para lançar sua candidatura pelo estado. “Foi a melhor gestão para Goiás de um ministro dos Transportes”, diz um deputado goiano independente ao governo. Vários feitos são citados por aliados, a exemplo das obras da Ferrovia Norte-Sul, da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), do leilão da BR-153, da construção da ponte sobre o rio Araguaia, na BR-080, da nova concessão da BR-060 e a inauguração do Anel Viário de Aparecida de Goiânia (GO).


Os desafios que rondam a potencial candidatura do ministro ao Senado
Embora seja um nome com respaldo da bancada goiana no Congresso, Tarcísio terá desafios políticos pela frente se confirmar o desejo de ser candidato ao Senado pelo estado. O mesmo vale caso cogite uma candidatura por Mato Grosso, Tocantins ou mesmo São Paulo.

Em todos os estados, o principal obstáculo é a construção de um palanque. Em Goiás, por exemplo, Tarcísio precisaria compor com o governador Ronaldo Caiado (DEM/União Brasil), que tentará a reeleição em 2022. Favorito para vencer as eleições, ele se distanciou do governo federal e, à cúpula de seu partido, afirma ter cinco pré-candidatos ao Senado.

Ou seja, para ampliar suas chances de vitória ao Senado em uma eleição que terá apenas uma vaga em disputa em cada um dos 26 estados, além do Distrito Federal, Tarcísio e seu futuro partido precisarão trabalhar a composição de uma chapa com Caiado ou se unir a um candidato de peso.

Aliados de Caiado na Câmara afirmam que o governador poderia vir a apoiar Tarcísio, apesar de resistências a Bolsonaro. Contudo, o discurso no PSL — que se fundiu com o DEM no União Brasil (que ainda aguarda homologação) para lançar uma candidatura nacional de terceira via — é de não liberar as candidaturas majoritárias nos estados e manter uma coesão nacional.

Outra obstáculo em Goiás é o desejo do deputado federal João Campos (Republicanos-GO) lançar sua pré-candidatura ao Senado. Aliado do governo, ele espera ter o apoio de Bolsonaro. Seu partido, que pode apoiar a candidatura do presidente, quer discutir as chapas majoritárias nos estados com PP e PL.

Uma alternativa apresentada a Tarcísio é o lançamento de candidatura por Tocantins, onde a senadora Kátia Abreu (PP-TO) irá à reeleição apoiada pelo PT. Outro conflito é o apoio dado a ela pelo diretório do PL no estado. Como o partido presidido por Ciro Nogueira pode ocupar a vice-presidência na chapa presidencial, Bolsonaro quer impedir qualquer candidato de uma legenda da coligação em ser apoiado pela esquerda.

Em Mato Grosso, o Centrão deve apoiar a candidatura do senador Wellington Fagundes (PL-MT) à reeleição. Em São Paulo, além da candidatura ao governo seguir indefinida, PL e PP também não fecharam a candidatura a ser lançada ao Senado, mas entendem que Tarcísio não é o nome ideal.

O que Bolsonaro acha da ideia de Tarcísio ser candidato ao Senado
Ter o ministro da Infraestrutura como candidato ao Senado não desagrada Bolsonaro. Tanto o presidente quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm como estratégia ampliar sua base aliada na “casa revisora” do Congresso.

Como senador, Tarcísio poderia retomar o cargo de ministro da Infraestrutura caso Bolsonaro seja reeleito. O presidente gosta do ministro e não abre mão de tê-lo na disputa de um cargo eletivo majoritário, pois o considera um quadro técnico, discreto, mas que sabe ser combativo com a oposição quando necessário.

E na hipótese de não vencer as eleições, Bolsonaro também trata Tarcísio como um quadro político estratégico. O presidente entende que seu auxiliar é alguém que pode ser trabalhado e fortalecido na direita e no centro político como seu sucessor à Presidência da República em 2026.

Caso não seja reeleito, Bolsonaro também espera que Tarcísio possa compor sua “tropa de choque” como um senador que seja opositor ao governo vigente, defenda pautas conservadoras e mesmo propostas polêmicas, como reformas no Supremo Tribunal Federal (STF).


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A REPÚBLICA TROUXE MUITAS MAZELAS AO ESTADO BRASILEIRO

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Bandeira do Brasil, Centro Cívico. tags: curitiba, governo, paraná, nacionalismo, Fotos: André Rodrigues

Bandeira do Brasil: país relembrou nesta semana a proclamação da República.| Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo

O plebiscito de 1993, previsto cinco anos antes pela Constituição, mostrou que 86,6% dos eleitores preferiam o sistema republicano e 13,4% a monarquia. Na última segunda-feira (15), quando o presidente em exercício Hamilton Mourão postou nas redes um texto comemorativo à Proclamação da República, a reação não veio na mesma proporção do resultado do plebiscito. Talvez metade das manifestações, ou perto disso, culpa a República pelos nossos males e defende que a monarquia teria evitado muitas de nossas mazelas. No plebiscito de 1993, todos os eleitores só haviam vivido numa república e nenhum em regime de monarquia parlamentar; e não havia redes sociais para debater sistemas de governo.

Antes que se alegue que a proclamação da República foi um golpe militar tramado por uma elite intelectual e apoiado por escravistas furiosos com a Abolição; antes que se lembre que Deodoro era amigo e admirador do Imperador e o derrubou depois que Benjamin Constant o fez sair do leito de enfermo com a fofoca que Pedro II chamara Gaspar Silveira Martins para ser chefe do governo – logo ele, Gaspar, de quem Deodoro tinha ciúmes por causa de Maria Adelaide, a “baronesa” do Triunfo; antes que se argumente que a família real amava mais o Brasil que os políticos da República – vamos ponderar se a responsabilidade pelas mazelas deste país não é do sistema de governo, mas dos que operam as instituições do Estado brasileiro.

Quem quer que leia as biografias dos grandes do império – políticos do parlamento e ministérios e das províncias, empresários, senhores de terras, generais, juristas -, vai encontrar muita semelhança com deputados, senadores, ministros, governadores, juízes, empresários que vieram depois de 1889. Antes e depois tivemos leis a serviço de interesses individuais e de grupos, ações de governantes, legisladores e juízes em defesa não do bem comum, mas de setores mais próximos do poder. O Império, a República Velha e a Nova República conservaram os maus hábitos, sempre em defesa dos interesses dos que se apropriam do estado que, por sua vez, defende a sua burocracia administrativa e jurídica, como se fossem mais do que guardiões – verdadeiros donos do governo.

Assim, temos uma cultura que persiste, seja qual for a forma de governo. Essa cultura escreveu, no único parágrafo do primeiro artigo da Constituição, que todo poder emana do povo, que o exercerá diretamente ou por seus representantes eleitos. Essa mesma cultura escreveu na Constituição que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Que não haverá censura, que é livre a manifestação do pensamento, que é livre a locomoção no território nacional, que a casa é o asilo inviolável, que deputados e senadores são invioláveis por quaisquer opiniões, que o Ministério Público é essencial à Justiça. A cultura que escreveu isso é a mesma que mudou de monarquia para república, para o bem do país – e para se manter. São amarras centenárias enraizadas, que resistem e reagem quando sentem a ameaça de mudança real. No Brasil de hoje, cumprir a Constituição já será uma boa mudança.


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REDUÇÃO DE ESTIMÚLOS À ECONOMIA AMERICANA AFETA A ECONOMIA BRASILEIRA

 

“Tapering”

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo

Redução de estímulos e perspectiva de elevação de juros nos EUA deve provocar saída de recursos de países emergentes, como o Brasil.| Foto: Pixabay

A decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, de reduzir o programa de estímulos à economia a partir deste mês deve trazer consequências para países emergentes, agravando ainda mais a situação do Brasil. Às projeções de estagnação do PIB e de alta inflacionária, devem se somar uma tendência de valorização ainda maior do dólar e a necessidade de elevação da taxa básica de juros, avaliam economistas.

O programa de estímulos foi adotado em resposta à pandemia do novo coronavírus e já injetou cerca de US$ 4,3 trilhões na economia norte-americana. Consiste basicamente na compra mensal de US$ 120 bilhões em títulos de bancos, fundos de investimentos e outros investidores. Com o aumento da demanda, o valor desses títulos sobe e os juros caem, tornando o crédito mais barato e estimulando o consumo.

A decisão do Fed, anunciada em comunicado na semana passada, é de reduzir as compras mensais de títulos em US$ 15 bilhões por mês, até que o programa seja encerrado em junho de 2022, caso não haja mudanças nessa dinâmica. O processo, chamado de “tapering”, retira liquidez do mercado, o que faz com que os juros subam, atraindo o capital de investidores que estão aplicados em países emergentes.

“É natural que no curto e médio prazo, os Estados Unidos mudem de um país onde se gasta muito, por causa dos estímulos, para um país que olha a renda fixa de longo prazo, porque sabe que os juros vão ser corrigidos a qualquer momento, e começa a ter menos liquidez no mercado”, explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. “O dólar vai ficar mais escasso, e vai se valorizar perante as outras moedas, principalmente as emergentes.”

No primeiro momento, a decisão do Fed não chegou a gerar grande impacto na economia global. O coordenador do departamento econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier classifica o anúncio como um “não evento”, pois o desfecho e as sinalizações que dele decorreram vieram em linha com o que já vinha sendo sinalizado pela autoridade monetária.

“Foi muito bem-sucedido, no contexto atual, sob o ponto de visa da condução de expectativas e preços de mercado e teve assim efeito apenas marginal nas moedas de países emergentes”, diz Xavier, que classifica o processo como um “boring tapering”, como descreveu o presidente da distrital do Fed na Filadélfia, Patrick Harker.

A retirada dos estímulos já vinha sendo sinalizada pelo Fed diante de uma economia com problemas na oferta, em que a medida não é mais necessária. O programa é visto como um dos fatores que permitiu aos Estados Unidos enfrentar a pandemia com previsão de crescimento de 6% em 2021 e de 5,2% em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Efeitos devem aparecer ao fim do tapering
“Toda normalização de juros é, de alguma maneira, também uma elevação no valor global do dólar e isso atrai investimentos [aos EUA]”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

“Em um contexto de dólar mais alto, ou seja, de retorno melhor de investimentos nos Estados Unidos, você tem, por parte dos investidores globais, um fluxo de capitais para o país, o que obviamente é um problema para os emergentes”, explica Vieira. “Mas não foi bem o que aconteceu; o mercado gostou de como o Fed promoveu o tapering e não desanimou muito. A primeira reação não foi tão ruim quanto se esperava.”

Para Vieira, o impacto nos países emergentes deve acontecer em médio prazo, a partir do momento em que o Fed efetivamente aumentar a taxa básica de juros, o que deve ocorrer ao fim do tapering. “É quando vamos ver a segunda reação”, prevê. Há uma expectativa do mercado de que a primeira alta ocorra a partir de julho de 2022, embora alguns analistas projetem o início do ciclo apenas para 2023.

O economista-chefe da Infinity considera, por outro lado, que o Brasil já tem afastado o investidor estrangeiro em razão de assuntos internos, como a mudança no arcabouço fiscal e a instabilidade política. “Se compararmos o Brasil com outros mercados emergentes, o único impacto ruim do tapering para a gente é o dólar. O resto, tanto faz quanto tanto fez”, opina.

“Neste momento, a questão local está se sobrepondo, senão nós estaríamos com bolsa subindo e aquela coisa toda. Estamos na contramão do globo neste momento. É chegar lá na frente para ver como vai estar a situação política no Brasil, no meio de um segundo turno eleitoral”, diz Vieira.

Xavier, do Banco ABC Brasil, prevê um aumento da taxa de juros norte-americana ao ritmo de 0,25 ponto porcentual, em reuniões intercaladas, a partir do quarto trimestre de 2022.

“Ainda assim, ressaltamos que o balanço de riscos em torno da inflação, caso piore, pode motivar ações mais antecipadas por parte do FOMC [Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed], tendo em vista os seus apontamentos recentes. Este caso pode implicar em pressões adicionais para a depreciação da nossa moeda, principalmente se o cenário fiscal seguir sob risco”, diz.

Para atrair o capital estrangeiro, países emergentes também acabam se vendo forçados a elevar as taxas. “A bem da verdade, você tem que ajustar um pouco antes”, diz Franchini, da Monte Bravo. “Não adianta subir juros depois dos Estados Unidos se nós já não somos atrativos.”

A consequência de subir os juros, por outro lado, é uma redução na busca por crédito, o que desestimula o consumo e consequentemente o crescimento econômico. O relatório Focus divulgado pelo Banco Central (BC) na última terça-feira (16) mostra que a projeção mediana de bancos e consultorias para a taxa Selic em dezembro de 2022, que há quatro semanas era de 8,75%, chegou a 11%. No mesmo intervalo, a expectativa do mercado para o PIB do ano que vem caiu de 1,5% para 0,93%, com alguns economistas prevendo estagnação e até mesmo retração.

“Vamos ter um crescimento menor do que o apurado e menor do que o esperado, até porque as empresas listadas na bolsa também vão crescer menos, já que o lucro operacional delas diminui”, diz Franchini. “Com a alta de juros, as companhias têm dificuldade de colocar novas vagas no mercado de trabalho, então naturalmente você ainda vai ter o porcentual de desemprego elevado, diminuição na renda ou um aumento mais lento do que deveria ser a realidade e, em consequência, a manutenção do programa assistencialista no médio prazo.”


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SEGREDOS DA LONGEVIDADE

 

Microrganismos que habitam o intestino podem explicar o envelhecimento

  1. Saúde 

Longevidade é resultado de uma combinação de fatores, como constituição genética, alimentação, hábitos de vida, estresse e até poluição

Fernando Reinach*, O Estado de S.Paulo

Por que algumas pessoas vivem mais de 100 anos? A longevidade se deve a uma combinação de fatores. Eles vão da constituição genética à sorte, passando pela alimentação, hábitos de vida, estresse e até poluição. Agora foi descoberta mais uma possível explicação para a longevidade: os tipos de microrganismos que habitam o intestino.

Possuímos centenas de tipos de microrganismos no sistema digestivo. É o que chamamos de microbioma intestinal. Nas últimas décadas, com métodos rápidos de sequenciamento genético e caracterização de moléculas, essa mistura de seres vivos tem sido estudada em detalhe. Descobrimos que os bichinhos que lá habitam mudam ao longo da nossa vida, dependem de nossa alimentação e podem ser alterados pelos remédios que ingerimos. Esses microrganismos destroem e modificam os alimentos que ingerimos, facilitam a absorção dos alimentos e produzem moléculas benéficas. Elas são parte de nosso corpo e tem uma função importante em nossa vida.

Cientistas estão comparando o microbioma de japoneses de diferentes idades. Um grupo inclui 160 pessoas com mais de 100 anos: os centenários. Outro grupo inclui 112 idosos (entre 85 e 89 anos) e um terceiro grupo 47 jovens (entre 21 e 55 anos). O objetivo do trabalho é descobrir se existe algo de diferente no microbioma de pessoas centenárias que explique a longevidade. Ao fazer a lista dos microrganismos presentes nas pessoas dos três grupos, os cientistas descobriram que os centenários possuem uma quantidade muito maior de um conjunto específico de bactérias. O genoma de cada uma dessas bactérias foi sequenciado para entender seu papel no intestino dos centenários. Sessenta e oito tipos de bactérias foram estudados em detalhe.

Idosos
Homem idoso caminha em São Paulo Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Foi descoberto que essas bactérias possuem um conjunto de genes capazes de modificar os ácidos biliares presentes no intestino. Ácidos biliares são moléculas produzidas pelo nosso fígado, estocados na vesícula biliar, e injetados no intestino durante o processo digestivo. Eles têm um papel importante e bem conhecido em nossa digestão. O que os cientistas descobriram é que as bactérias presentes nos centenários produzem enzimas capazes de transformar parte desses ácidos biliares em outras moléculas. Uma delas é o ácido isoalolithocolico. (ILCA). Nosso genoma não possui os genes para produzir o ILCA e ele é produzido nos centenários por um conjunto de enzimas presentes nos microrganismos que vivem no intestino dessas pessoas. O interessante é que os cientistas descobriram que o ILCA é um potente antibiótico capaz de matar bactérias prejudiciais à saúde como a Clostridioides difficile e a Enterococcus faecium.

Esses resultados demonstram que no microbioma de pessoas centenárias (e não em pessoas mais jovens) existem bactérias capazes de transformar componentes da nossa bile em poderosos antibióticos. Falta saber se a presença desses antibióticos é parte da explicação para sua longevidade. Se isso for comprovado, talvez um dia seja possível colonizar o intestino das pessoas com esses microrganismos e, talvez, alongar nossa vida.

Mais informações: Novel bile acid biosynthetic pathways are enriched in the microbiome of centenarians. Nature

*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

METAVERSO - MERGULHO NO MUNDO DIGITAL

A ideia de pessoas fazendo amigos ou encontrando seus parceiros de vida enquanto olham para uma tela em seus quartos teria soado tão improvável há 35 anos para qualquer pessoa quanto o metaverso é para nós agora

 Por Steven Zeitchik – The Washington Post

Avatar de Mark Zuckerberg no metaverso; Facebook apresentou projeto de universo virtual em evento em outubro

Avatar de Mark Zuckerberg no metaverso; Facebook apresentou projeto de universo virtual em evento em outubro

Em 2007, um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford decidiu explorar uma nova questão: que efeito a escolha de avatares online de uma pessoa teria em seu comportamento? Suas descobertas foram surpreendentes: não apenas o usuário operaria o avatar de uma forma consistente com sua aparência no mundo digital, mas as características do avatar moldariam o comportamento do usuário de volta ao mundo real. Esse fenômeno poderia de repente se tornar amplamente relevante com o advento do metaverso, o ideal de um mundo virtual persistentemente fantasiado, que permite a um número ilimitado de usuários perambular, brincar, aprender, trabalhar e, sim, comprar.

Uma pessoa que opta por ser mais alta digitalmente torna-se um negociador mais agressivo na vida diária. Alguém que veste o jaleco de um inventor online é mais criativo em reuniões do mundo real. A adoção de um personagem digital, descobriram os pesquisadores, pode essencialmente mudar uma personalidade, em uma virada que ficou conhecida como Efeito Proteu.

Em outubro, Mark Zuckerberg delineou sua visão para o metaverso – e o compromisso da recém-batizada controladora do Facebook, a Meta, de gastar bilhões na próxima década –  para construir esse mundo. A empresa possui um nível de investimento e de alcance do consumidor, que nem mesmo empresas de mundo virtual altamente bem-sucedidas, como Roblox ou Fortnite possuem.

Alguns receberam o anúncio com justificável ceticismo – tanto pela falta de uma plataforma de hardware no Facebook como pela resolução dos desafios técnicos e corporativos que a empresa enfrenta. Mas se o Facebook – ou, nesse caso, uma série de outras pessoas que vêm visualizando um metaverso há anos – pudesse de fato fazer isso, essa jogada traria dramáticas mudanças na maneira como vivemos. Um metaverso totalmente concretizado intensificaria nitidamente as tendências existentes, abriria novas oportunidades e, da mesma forma crítica, criaria um novo conjunto de problemas.

“Quando se trata do metaverso, o título deveria ser ‘Os haters vão odiar'”, disse Rabindra Ratan, professor associado do Departamento de Mídia e Informação da Universidade Estadual de Michigan, que pesquisou interconectividade virtual em larga escala. “A realidade é que existem todos os tipos de razões para ser otimista sobre esse mundo”, disse ele. “Haverá maldade também”, acrescentou. “Só acho que será um novo tipo de maldade.”

Ouvir sobre o metaverso pode parecer absurdo. É uma reação compreensível e pode ser em parte devida a ouvir alguém nos vender um mundo inteiro em vez de simplesmente falar sobre uma parte dele ou construir esses elementos um de cada vez. Afinal, quando os feudos atuais da Internet foram construídos, bilhões de nós não foram submetidos a uma explicação meticulosa a respeito, com 10 anos de antecedência.

“Começar a construir o metaverso não é realmente a melhor maneira de acabar com o metaverso”, disse John Carmack, executivo que se tornou consultor da divisão Oculus do Facebook, na mesma apresentação que Zuckerberg. Em vez disso, ele foi a favor de lidar silenciosamente com as peças que nele se aglutinariam.

Mas isso não significa que um potencial grande resultado deva ser ignorado. Afinal, a ideia de pessoas fazendo amigos, fazendo fortunas ou encontrando seus parceiros de vida enquanto olham para uma tela em seus quartos teria soado tão improvável há 35 anos para qualquer pessoa quanto o metaverso é para nós agora. No mundo digital, a implausibilidade presente raramente é um indicador de viabilidade futura.

“A própria ideia do Metaverso significa que uma parte cada vez maior de nossas vidas, trabalho, lazer, tempo, gastos, riqueza, felicidade e relacionamentos estarão dentro de mundos virtuais, ao invés de apenas estendidos ou auxiliados por dispositivos digitais e software”, afirmou Matthew Ball, especialista digital que recentemente publicou um livro sobre o assunto, em um e-mail para o The Washington Post.

Trabalho virtual

Aqueles que apoiam o metaverso, incluindo Zuckerberg, defendem seu potencial para a criação de escritórios virtuais. Mas nem todo mundo vê isso como uma melhoria, para se dizer o mínimo. “Então, em vez de enviar uma mensagem no Slack em 2D, vejo um avatar em 3D de mim mesmo sentado em meu monitor virtual olhando para a mesma mensagem do Slack? O que isso causa?” questionou Clay Shirky, executivo de Educação Tecnológica da Universidade de Nova York, cronista de longa data sobre tecnologia e seus efeitos na sociedade.

Shirky disse que o escritório baseado no metaverso ignora uma verdade oculta sobre o trabalho remoto. “O zoom faz tanto sucesso precisamente porque reduz a presença”, disse ele. “Você não sente que está no escritório, e é por isso que podemos gastar tanto tempo nisso. Não queremos sentir como se estivéssemos mais tempo no escritório”.

Mas Ratan observa que o metaverso produziria uma gama de ferramentas impossíveis no atual trabalho remoto, como um desenvolvedor de software com três enormes monitores que não se poderia ter em casa ou um trabalhador da indústria automotiva capaz de consertar um carro inteiro. As reuniões podem ser ainda mais equilibradas.

“Muitos dos preconceitos superficiais que temos agora que podem fazer uma pessoa não ser ouvida ou ter medo de falar podem ser diminuídos se aparecermos nas reuniões como avatares baseados mais em nossas ideias e realizações”, disse ele. (Ratan está em negociações com o Facebook para receber financiamento para seu laboratório).

As transformações do trabalho podem ir ainda mais adiante. Perguntar como o metaverso mudará o mundo corporativo é aplicar o paradigma errado, dizem os especialistas em metaverso. É a própria economia de trabalho que pode mudar e falar sobre isso em termos de videoconferência mais imersiva. É como focar na chave que conserta o motor do metrô em vez daquilo que o metaverso realmente é: o sistema inteiro dos trilhos.

“Novas empresas, produtos e serviços surgirão para gerenciar tudo, desde o processamento de pagamentos até a verificação de identidade, contratação de anúncios, criação de conteúdo, segurança”, escreveu Ball em seu site. Ele também descreve no artigo inovações como “profissionais que decidem viver fora das cidades (que) serão capazes de participar da economia de ‘alto valor’ por meio do trabalho virtual”.

Uma das maiores oportunidades pode vir com a educação. Qualquer pessoa que tenha tentado garantir que uma criança de 10 anos aprenda em casa sem distração nos últimos 20 meses anseia por um novo modelo. A imersão do metaverso forneceria ao professor mais ferramentas e aos alunos menos razões para desligarem o computador.

Contato

Os defensores do metaverso, que existe tanto em aplicações fictícias quanto em toscas aplicações do mundo real desde pelo menos a década de 1990, enfatizaram como ele facilitará as oportunidades sociais –  permitindo, digamos, um zap de nossas salas para um jogo de futebol e, em seguida, para a comemoração conjunta de um feriado em todo o país.

Mas, por mais que a rede social possa parecer como algo vazio em comparação com uma amizade real, o metaverso pode acabar simulando inadequadamente a vida real. “Claro, você pode sentir que está na reunião familiar de Ação de Graças do seu sofá”, disse Janet Murray, diretora do Centro Interativo Digital de Artes Liberais do Instituto de Tecnologia da Geórgia e uma pioneira no estudo da conectividade digital, em uma entrevista. “Mas você não iria querer poder experimentar o peru?”

Ela também se preocupa, no caso do Facebook, com uma espécie de capitalismo de vigilância em que as corporações se infiltram cada vez mais no metaverso, como começaram a fazer no Roblox.

“Há algo de empolgante em uma tecnologia de representação de coisas que não estão fisicamente presentes”, disse ela. “Mas isso é diferente de uma empresa que possui uma única plataforma que se tornará um constante pesadelo de vendas ao consumidor.” E nosso funcionamento regular como avatares poderia ser um campo minado de privacidade, com muito mais conhecimento sobre nossas preferências e movimentos do que na atual Internet sem corpo.

A situação sobre a desinformação, um flagelo das redes sociais atuais, também não está clara neste novo mundo.

Há alguma esperança entre os especialistas de que a virtualidade irá resolver essa questão, exigindo ou provocando um evento mais concreto do que, digamos, um conspiratório tuíte de duas frases.

Mas a persistente confusão de um mundo virtual com o real também pode aumentar a falsidade. Se afirmações incorretas parecerem convincentes como simples palavras escritas em uma tela, elas serão ainda mais persuasivas se forem incorporadas em 3D. Como Ethan Zuckerman, professor da Universidade de Massachusetts em Amherst, que criou um metaverso em meados dos anos 90 perguntou à Revista Atlântico do Facebook: “De que modo uma empresa que consegue bloquear apenas 6% do conteúdo de ódio em árabe lido com discurso perigoso agirá quando este é usado na camiseta de um avatar ou revelado no final de uma exibição virtual de fogos de artifício?”

Um dos maiores efeitos pode ser uma distorção maior da realidade, com usuários batalhando para distinguir o real do irreal. O Second Life, outro mundo virtual, já tem rendido muitos relatos nesse sentido, uma vez que as pessoas negligenciam as partes físicas de suas vidas ou tratam as duas como intercambiáveis.

A possibilidade de mergulhar ainda mais fundo em uma existência digital chama a atenção de observadores de tecnologia como Julian Dibbell, cujo livro “My Tiny Life – Crime and Passion in a Virtual World” (Minha Pequenina Vida – Crime e Paixão em um Mundo Virtual) rastreia a sedução de tal paralelismo virtual e como ele prejudicou seu próprio relacionamento na vida real.

“Sempre foi uma questão avassaladora: onde se traça o limite entre o que é e o que não é imersão no mundo virtual?” Dibbell disse em uma entrevista. “Todos nós seremos canalizados para esses mundos ainda mais duramente. E já estamos muito bem encaminhados nessa direção”./ TRADUÇÃO DE ANNA MARIA DALLE LUCHE