domingo, 14 de novembro de 2021

LIÇÕES PARA EMPREENDEDORES TIRADAS DA CONTRUÇÃO CIVIL

 

Victor Gomes  –  CEO da Expertise Engenharia

O setor que se mantém estável depois do cenário de pós-pandemia é recheado de aprendizados que podem ajudar quem deseja empreender em 2022; especialista lista dicas.

Empreender não é uma tarefa fácil e requer muita coragem e esforço – seja em qualquer segmento. O setor de construção civil, no entanto, conseguiu pegar fôlego durante a pandemia e vê nessa mudança de perfil um aquecimento do mercado. E por sofrer tantas oscilações para se manter em pé, a construção civil pode trazer diversas lições e ajudar quem deseja empreender.

De acordo com Victor Gomes, CEO da Expertise Engenharia, na hora de empreender é preciso enfrentar diversos desafios, mas o principal é saber se planejar. “Alguns países dão show nisso, como Japão e Alemanha. Eles investem tempo no planejamento para a execução ser perfeita. Aqui no Brasil, geralmente, as pessoas não priorizam planejamento e as coisas acabam acontecendo em cima da hora, mesma coisa de trocar o ‘pneu com o carro andando’, mas infelizmente é comum”, explica Victor que tem 18 anos de experiência nesse mercado.

Abaixo, o executivo lista alguns conceitos importantes no setor da construção civil e que podem ajudar quem quer empreender em qualquer área. Confira:

Desafio Comercial: O primeiro desafio, segundo Victor, é o comercial. “Convencer as pessoas a confiarem um dinheiro alto na sua mão para fazer uma obra, não é fácil. Alguns dizem que precisa ter dom comercial. Tem muito engenheiro, por exemplo, que não consegue trabalhar porque não sabe ser comercial, ou seja, não sabe vender. Como estratégia para superar esse desafio, é saber ser uma pessoa voltada à solução, que resolve problemas, com uma postura profissional positiva, demonstrando evolução. Isso faz com que as pessoas criem uma confiança em você. Costumo dizer que na engenharia civil, conhecemos muita gente, fazemos muito networking e é uma lição essencial para quem deseja entrar para o mundo do empreendedorismo”, salienta.

Planejamento de controle da execução das atividades: “Na engenharia civil os três pilares que mandam são: preço, prazo e qualidade no serviço. Dominar e gerir toda a complexidade de uma obra, cumprindo com esses três requisitos, é um desafio. Isso acontece muito no dia a dia. Também é preciso ter sangue frio e clareza de pensamento para não perder a linha. Isso conquista o cliente e entrega a obra de forma adequada”, diz.

Ainda de acordo com ele, para qualquer empresa, a pessoa deve ter pé no chão, saber dar passo para frente e passo para trás. “Assim é possível planejar, pensar em cima dos problemas, tudo isso faz parte do planejamento. Se você conseguir dedicar um tempo adequado de planejamento para a execução de tarefas, quando iniciar as atividades, elas irão acontecer de forma natural, tudo por meio de um controle de atividades”, complementa Victor.

Seja o “Senhor da Situação“: Tem um pensamento na construção civil que é ser o ‘Senhor da Situação’, ou seja, saber dominar cada aspecto do projeto. “É preciso conhecer o cliente, a execução e saber como lidar com ele ao decorrer das atividades. Também ter em mente a antecipação, a cada tarefa, você deve pensar no melhor e no pior cenário, assim sabe lidar se algo der errado. Imaginar tudo do início até o fim faz com que você enxergue algumas antecipações, isso evolui com rapidez”, aconselha o especialista.

Conquiste o mercado: O maior desafio é conquistar o mercado, ter um produto ou serviço de qualidade que venda por si só. “Para quem começa do zero, precisará gastar saliva para conquistar o mercado, para conseguir ter um serviço ou produto que ande sozinho. Um fato é, quando começamos uma empresa não sabemos o que vai acontecer, então ter algo de qualidade já é um ótimo ponto de partida para te fazer crescer. Todo empreendedor precisa ser empresário, lidar com todas as situações chatas como contabilidade, jurídico, tem muitos assuntos burocráticos. Aprender a gostar da parte chata é necessário para o sucesso de um negócio”, comenta Victor.

Saiba lidar com todos os tipos de pessoas: “Na construção civil, lidamos com todos os tipos de pessoas – desde as mais simples até o grande empresário. Isso é muito bom para o crescimento pessoal e profissional de um empreendedor, de qualquer área, pois consegue se sintonizar com todos os tipos de perfis, isso me ajudou muito a entender que cada cliente é um cliente, cada fornecedor é um fornecedor, cada um tem um jeito de trabalhar. Entender o valor de cada um, todos têm valor e constroem para que saia conforme o planejado”, salienta.

Faça amigos: Tenha muitos amigos e todos os tipos de amigos. “Faça parte de clãs diferentes, conheça pessoas diferentes. A diferença complementa. Assim, uma hora cada um deles vai te salvar em algum ponto. Tem sempre alguém para recorrer, isso no empreendedorismo é base, porque sempre vai ter alguém sabendo lidar com os problemas”, finaliza Victor Gomes.

Vendas pela internet com o site Valeon

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sábado, 13 de novembro de 2021

PROPOSTAS DE MORO PARA A ECONOMIA SÃO MUITO BOAS PARA A SITUAÇÃO ATUAL

 

Discurso de filiação

Por
Isabelle Barone – Gazeta do Povo

Sergio Moro se filiou ao Podemos nesta quarta-feira (10): provável candidato nas eleições de 2022.| Foto: Joédson Alves/EFE

Em seu discurso de filiação ao Podemos na manhã desta quarta-feira (10), em Brasília, o ex-juiz Sergio Moro deu pistas do que poderia ser seu plano de governo para a economia caso se candidate à Presidência da República em 2022. Embora a fala tenha sido recebida em tom de pré-candidatura, Moro não afirmou oficialmente que vá disputar as eleições no próximo ano.

Mais reconhecido por temas como combate à corrupção e segurança pública, Moro deu ênfase à necessidade de acabar com a pobreza no país e defendeu ser possível fazê-la sem furar o teto de gastos — principal âncora fiscal do país — e ferir a responsabilidade fiscal. Uma das primeiras ações a serem feitas por ele caso chegue à Presidência será a criação de uma “força-tarefa de erradicação da pobreza”.

Pautado na defesa do livre mercado e da livre iniciativa, o ex-ministro da Justiça também criticou a morosidade das reformas econômicas e disse ser preciso privatizar estatais “ineficientes”.

Leia, abaixo, algumas declarações de Moro durante o evento de filiação:

Erradicação da pobreza
Uma das prioridades de seu projeto de governo será “erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria”, disse Moro. Ele acredita ser possível criar um mutirão para combater pobreza”, utilizando servidores e especialistas das estruturas já existentes.

“Será uma força-tarefa permanente e atuará como uma agência independente, sem interesses eleitoreiros. A missão: erradicar a pobreza no país. Muita gente pensa que isso é impossível, como diziam que era impossível combater a corrupção. Não é, e nem precisa destruir o teto de gastos ou a responsabilidade fiscal para fazê-lo. Nós podemos erradicar a pobreza, e esse é o maior desafio da nossa geração”, afirmou.

Para ele, é preciso atuar além do escopo de programas como Auxílio Brasil e Bolsa Família: “precisamos identificar o que cada pessoa necessita para sair da pobreza”, disse. “Isso já deveria ter sido feito anos atrás”.

“Isso muitas vezes pode ser uma coisa simples. Uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidade de trabalho. As pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio sustento. Precisamos atender a essas carências com atenção específica”, completou.


Privatizações

Moro também disse ser necessário “privatizar estatais ineficientes”, sem citar nominalmente as empresas. “Precisamos abrir e modernizar nossa economia, buscando mercados externos. O tempo é de inovação e não podemos ficar para trás nesse mundo cada vez mais dinâmico e competitivo”, disse.

Os “jabutis” — tópicos alheios ao tema central de uma proposta legislativa — na MP da Eletrobras também foram mencionados e criticados por Moro durante seu discurso. “Quando o governo resolve finalmente vender uma empresa estatal, como a Eletrobras, aprova junto uma série de jabutis, coisas que ninguém entende direito. Mas que na prática todo mundo sabe que significa que a conta de luz vai ficar mais cara para alguém ganhar mais dinheiro”, disse o ex-juiz, em referência à previsão de contratação de termelétricas movidas a gás na MP que autoriza a privatização da Eletrobras.

Segundo estimativa da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), os “jabutis” inseridos no texto e sancionados por Bolsonaro empurram uma conta de R$ 46,5 bilhões para os consumidores de energia elétrica.

Reformas econômicas

Moro também criticou a morosidade das gestões em fazer avançar as reformas econômicas. Disse que elas “nunca chegam” e, quando chegam, “são malfeitas”. “E o Brasil fica sendo esse país do futuro e nós nos perguntamos quando vai chegar o futuro do país do futuro”, afirmou. “Desde que me entendo por gente eu ouço as pessoas falarem que o Brasil é um país injusto, que precisamos fazer reformas, mexer nas leis para que o país melhore”.

“Precisamos reformar nosso sistema confuso de impostos. Há quanto tempo falamos em fazer uma reforma tributária, e isso nunca é feito?”, disse o ex-juiz. “E ao olharmos para reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é que ninguém está pensando nas pessoas”.

PEC dos precatórios
Ao fazer referência indireta à PEC dos precatórios, aprovada em segundo turno pelo plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (10), o ex-ministro disse que “mesmo quando se quer uma coisa boa, como o aumento do Auxílio Brasil ou do Bolsa Família, que são importantes para combater a pobreza, vem alguma coisa junto ruim, como o calote de dívidas, furo no teto de gastos e o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridade”.

Um dos principais objetivos do governo federal com a PEC é abrir espaço no teto de gastos a fim de drenar recursos para o programa Auxílio Brasil. Mas, além disso, o governo tem sido acusado de “comprar votos” à favor da PEC ao liberar até R$ 15 milhões em emendas parlamentares. A proposta também parcela as dívidas que a União tem com os credores.

“Mas nesse país que compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos um capitalismo cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça, os nossos valores cristãos e que são compartilhados pelas outras religiões, exigem que as grandes desigualdades econômicas sejam superadas”, disse.

Inflação, juros e desemprego
As altas taxas de juros e o desemprego também foram tópicos citados por Moro, para quem os números só devem piorar “neste governo”. “A inflação está muito alta. Os técnicos fala em um número, mas quem vai no posto de gasolina, quem vai na padaria, sabe que é muito mais. Os juros subiram, dificultando ainda mais a vida do empresário, do agricultor ou das pessoas comuns. E os juros ainda vão subir mais neste governo”, afirmou, acrescentando que não é “pessimista”, mas o país é que se encontra no “rumo errado”.

“E como exemplo é só olhar o número elevado de pessoas desempregadas e há quanto tempo essas coisas estão assim. Desde a época do governo do PT o desemprego começou a crescer e não parou mais. São atualmente mais de 14 milhões de desempregados, sem contar aqueles que já desistiram de procurar emprego, e não vemos perspectivas próximas de melhorar”, afirmou o ex-juiz.


Empreendedorismo
O ex-ministro ressaltou, em sua fala, a dignidade da pessoa humana e disse acreditar na capacidade empreendedora e inovadora de cada brasileiro. “Todo cidadão tem o potencial de se tornar uma versão melhor de si mesmo. Quero dizer aqui que essa é minha crença fundamental, que cada indivíduo tem a sua própria dignidade e tem a capacidade de se aprimorar continuamente”, afirmou ele.

“Por acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livre iniciativa, tudo isso sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas”.

Economia verde
Para além de ser o celeiro do mundo em termos de economia verde, “com sua pujante agricultura, pequenos e grandes proprietários”, o Brasil, na visão de Moro, também pode liderar e ser exemplo para o mundo na preservação das florestas, no fomento da exploração de energias limpas e na criação de uma economia verde, sustentável e de baixo carbono. “Nós somos detentores dessa enorme riqueza verde e, infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos anos”, disse.

“Isso não é assunto só para Glasgow. Isso é assunto para nós aqui, hoje, todo dia. Isso nos trará investimentos e nos fará orgulhosos de nosso país. O Brasil deve ser o líder e o orgulho do mundo na economia verde e sustentável”, afirmou Moro durante o evento.


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APESAR DOS MUITOS INCOVENIENTES AS EMENDAS DO RELATOR NÃO SÃO INCONSTIUCIONAIS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Ministros do STF chegam para sessão plenária: tribunal suspendeu, por maioria de votos, o pagamento das chamadas emendas de relator.| Foto: Nelson Jr./STF

Nada de solução intermediária: por oito votos a dois, o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu manter a liminar da ministra Rosa Weber e suspender completamente a execução das “emendas de relator” no Orçamento de 2021 – o que, na prática, as torna sem efeito também no Orçamento de 2022 –, além de exigir que o Congresso e o governo federal publiquem, em até 30 dias, todos os pedidos de parlamentares aos ministérios para liberação de recursos vinculados a essas emendas. Só não é possível ainda afirmar que o Supremo enterrou de vez as emendas de relator porque o julgamento realizado por plenário virtual nos dias 9 e 10 de novembro se limitou a decidir pela manutenção da liminar; o mérito do assunto será julgado em outra ocasião, ainda sem data definida.

A Constituição Federal não prevê – mas também não proíbe – o mecanismo das emendas de relator, que ganhou relevância apenas nos últimos anos, pois sempre teve valores relativamente baixos (nunca acima de R$ 5 bilhões) até 2019, quando foram infladas tendo em vista o Orçamento de 2020; na ocasião, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020, deputado Cacá Leão (PP-BA), previu inacreditáveis R$ 30 bilhões em emendas de relator, que ainda por cima teriam caráter impositivo. Após muita queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso, o valor das emendas foi reduzido e elas deixaram de ter execução obrigatória. O apetite, no entanto, permaneceu: nos orçamentos de 2021 e 2022, as emendas de relator, ou RP9, sempre aparecem em valor maior que o das emendas individuais e de bancadas estaduais.

De tudo o que se sabe sobre as emendas de relator e sua execução, e apesar de seus vários inconvenientes, o único ponto que viola frontalmente a Constituição é sua falta de transparência

Os problemas das emendas de relator se tornaram evidentes a partir do momento em que o instrumento ganhou destaque. Um único parlamentar – no caso, o relator do Orçamento – ganha enorme poder sobre a destinação de uma quantia igualmente grande. Além disso, as emendas RP9 funcionam na mais completa informalidade, pois elas são nominalmente atribuídas ao relator, embora o “pai da criança” seja, evidentemente, outro parlamentar, que permanece oculto do público (mas não do relator, ou do governo), e os pedidos para a inclusão dessas emendas também costumam ser feitos por vias totalmente informais. Isso leva à quebra da isonomia entre parlamentares, pois, se as emendas individuais têm limites definidos pela lei e iguais para todos, as RP9 tornam alguns deputados e senadores “mais iguais que outros”. Por fim, mas não menos importante, a execução das emendas ressuscita o balcão de negócios em que se troca a liberação de verbas por votos em projetos de interesse do governo.

Com a intervenção do Supremo, alguns parlamentares começaram uma sessão de autocrítica. “Houve um excesso, um exagero”, disse à Gazeta do Povo o senador Marcelo Castro (MDB-PI) – que deve ter conhecimento de causa, já que foi presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) em 2019 e 2020, justamente no período da explosão das emendas de relator. E essa admissão nos traz à pergunta principal: os problemas das emendas de relator justificam a resposta que foi dada pelo Supremo?


E aqui temos de dar razão aos parlamentares que consideraram a decisão uma afronta às prerrogativas do Congresso Nacional. Goste-se ou não – e, como acabamos de afirmar, há muitas razões para não se gostar –, o mecanismo das emendas de relator foi instituído pelos representantes eleitos da população, que são os encarregados de votar o Orçamento; apesar de seus muitos inconvenientes, não é inconstitucional per se. De tudo o que se sabe sobre as emendas RP9 e sua execução, o único ponto que viola frontalmente a Constituição é sua falta de transparência, que atenta contra os princípios da administração pública elencados no caput do artigo 37 da Carta Magna. Este é o ponto que o Supremo deveria ter se limitado a atacar, como fez ao exigir que se dê publicidade aos pedidos de parlamentares relativos às emendas já liberadas. Mas, ao suspender completamente a execução das emendas de relator, a corte mais uma vez interferiu nas atribuições dos demais poderes, um erro que ainda pode ser sanado quando o plenário debater o mérito das ações propostas por partidos de oposição contra as emendas.

“Se há algum equívoco, somos nós que devemos corrigi-lo”, disse o relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), incluindo na afirmação uma condicional bastante generosa, pois é bastante evidente que há equívocos, e muitos. Marcelo Castro foi um pouco mais direto: “Está na hora de a gente dar um freio de arrumação e fazer uma coisa mais razoável, mais transparente e mais compartilhada”. O grande problema é que são poucos os parlamentares dispostos a “corrigir equívocos” e a colocar um “freio de arrumação” na farra das emendas. Mas nem isso justifica que o Supremo se atribua a tarefa de sanar disfuncionalidades que agridem o bom senso, mas não a Carta Magna. Essa é tarefa dos parlamentares – que, assim esperamos, poderão receber um empurrãozinho em 2022, dos eleitores preocupados com as consequências da irresponsabilidade orçamentária na economia real.


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GOVERNO DIMINUI VERBAS PARA O FINANCIAMENTO DA CASA PRÓPRIA

Habitação

Por
Isabelle Barone – Gazeta do Povo

(Brasília – DF, 25/08/2020) Cerimônia de lançamento do Programa Casa Verde e Amarela. Foto: Marcos Corrêa/PR

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho: orçamento do programa Casa Verde e Amarela despencou nos últimos anos.| Foto: Marcos Corrêa/PR

Enquanto o governo federal concentra esforços para viabilizar o programa de transferência de renda Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, de outro lado o programa habitacional Casa Verde e Amarela (CVA), substituto do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), enfrenta forte limitação de orçamento.

O programa tem duas fontes de recursos: parte deles vem da União, e outra parte é oriunda do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ou seja, recursos do trabalhador. Os recursos destinados pela União beneficiam diretamente o grupo classificado como “faixa 1”, voltado a famílias de baixa renda que recebem até R$ 2 mil mensais.

O dinheiro destinado pela União ao programa habitacional despencou nos últimos dois anos. Caiu de R$ 4,8 bilhões em 2019 – quando ainda se chamava Minha Casa, Minha Vida – para R$ 2,7 bilhões em 2020, o menor valor desde 2012.

Para 2021, a dotação atualizada do Casa Verde e Amarela é de cerca de R$ 1 bilhão. E os desembolsos efetivos somaram R$ 772 milhões até 15 de outubro. No início deste ano, o presidente Jair Bolsonaro vetou uma verba de R$ 1,37 bilhão destinada ao programa.

Para 2022, a verba programada no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) que o governo enviou ao Congresso é de R$ 1,2 bilhão. No entanto, esse valor pode mudar ao longo da tramitação no Congresso e no momento da sanção ou veto presidencial. Foi o que ocorreu em 2021: o PLOA previa R$ 2,5 bilhões para o Casa Verde e Amarela neste ano, mas no fim a verba acabou reduzida a R$ 1 bilhão.

Em seu melhor momento, em 2015, o Minha Casa, Minha Vida recebeu R$ 20,8 bilhões em verbas do governo federal. O valor caiu para menos da metade no ano seguinte, e desde então ficou abaixo de R$ 5 bilhões por ano.

Todos os valores citados acima foram extraídos do Sistema Integrado de Informação Financeira (Siafi), principal instrumento de registro e controle da execução orçamentária do governo federal, e consolidados pela Associação Contas Abertas a pedido da Gazeta do Povo. Dentro do Orçamento, o nome formal do programa que engloba o Casa Verde e Amarela – e, antes, o Minha Casa, Minha Vida – é Moradia Digna.

Falta de dinheiro do governo sobrecarrega o FGTS
O pouco dinheiro que o governo destinou nos últimos anos ao Minha Casa, Minha Vida e agora ao Casa Verde e Amarela sobrecarrega o FGTS, que tem bancado a maior parte dos subsídios às faixas de renda mais baixas, conforme apontam os relatórios de gestão do Fundo de Garantia.

“As restrições orçamentárias da União têm dificultado a parcela de contribuição do OGU [Orçamento Geral da União], culminando com a dispensa dessa contrapartida em episódios recentes. Após o lançamento do programa Casa Verde e Amarela, por meio da Medida Provisória nº 996, de 25 de agosto de 2020, a contrapartida deixou de ser obrigatória”, aponta o relatório de gestão mais recente do FGTS, de 2020.

A sobrecarga havia sido apontada também no relatório de 2019: “Em meados de 2019, no auge da crise fiscal, o dispêndio do orçamento federal com subsídios às Faixas 1,5 e 2 do PMCMV foi limitado em cerca de R$ 450 milhões, menos da metade do que seria necessário para complementar o orçamento de R$ 9 bilhões aprovado pelo FGTS. Pelo restante do exercício, o Fundo teve de arcar com 100% dos subsídios direcionadas àquelas faixas de renda”, apontou o documento.

Questionado pela Gazeta do Povo, o Ministério do Desenvolvimento Regional respondeu que “os investimentos em produção habitacional, de 2019 a 2021, foram de mais R$ 130 bilhões, sendo mais de R$ 27 bilhões em repasses federais e mais de R$ 103 bilhões do FGTS para financiamentos a pessoas físicas”.

A pasta não comentou especificamente sobre o CVA nem deu detalhes sobre quais programas habitacionais receberam os citados R$ 27 bilhões em repasses federais de 2019 a 2021. Segundo os dados de execução orçamentária extraídos do Siafi, MCMV e CVA receberam um total de R$ 8,3 bilhões nesse período.

Segundo o Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas (CMAP), coordenado pelo Ministério da Economia, o Minha Casa, Minha Vida contou com R$ 223,1 bilhões em subsídios públicos entre 2009 e 2019, em valores corrigidos. Desse total, quase R$ 129,8 bilhões foram subsídios públicos (benefícios financeiros e tributários) e R$ 93,4 bilhões, privados (financiamentos do FGTS com descontos). Nesse período, o programa entregou mais de 4 milhões de unidades habitacionais.

Apesar disso, o déficit habitacional quantitativo – que mede a necessidade de novas moradias – continua elevado no país. Aumentou de 5,8 milhões de domicílios em 2011 para 6,4 milhões em 2015, e desde então oscilou em torno de 6 milhões até 2019, conforme o relatório.

Falta de recursos é problema antigo
Carlos Henrique, presidente da Comissão de Habitação de Interesse Social da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), afirma que o programa habitacional enfrenta falta de recursos há anos.

“A partir de 2014, nós passamos a enfrentar diversos problemas. Muitas de nossas empresas deixaram de receber em dia os recursos das obras contratadas, em decorrência do déficit público no Orçamento da União”, diz.

“De ano em ano, o programa sobreviveu a solavancos. O único ano que se sobressaiu foi 2015. Quando o ex-presidente Michel Temer assumiu o governo, teve o compromisso de investir recursos no programa”, diz.

Segundo o representante da CBIC, o programa voltou a sofrer com atraso de repasses no primeiro ano da gestão Bolsonaro. “O programa só fica em pé com recursos, e eles têm que vir do Orçamento da União. Sabemos que o Brasil enfrenta problemas de limitação de gastos, mas a distribuição do Orçamento faz parte de uma decisão política, tanto do Executivo como do Legislativo”, diz. “O acesso à casa própria deveria ser uma das prioridades das duas forças políticas.”

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Redução nas taxas de juros do Casa Verde e Amarela

Apesar da escassez de recursos, neste ano o governo flexibilizou algumas regras do programa, a fim de facilitar o acesso à moradia. As novas diretrizes entraram em vigor no último dia 28 de outubro. Entre as principais mudanças estão os descontos nas taxas de juros e o aumento do valor do imóvel a ser financiado, além de um incentivo a parcerias entre estados e municípios através das quais os entes podem ofertar um subsídio complementar ao do programa.

No caso de famílias do Norte e Nordeste com renda mensal de até R$ 2 mil, classificadas como “faixa 1”, e que são cotistas do FGTS, haverá um desconto no juro que incide sobre o valor das prestações do financiamento, ficando em 4,25% ao ano. Para as que não são cotistas, a taxa ficará em 4,75%.

Ainda com relação a famílias dessa faixa e que são cotistas do Fundo de Garantia, mas residentes do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, as taxas serão de 4,5% ao ano. Para as que não são cotistas do FTGS, o valor será de 5%.

Quanto às famílias com renda entre R$ 4 mil e R$ 7 mil, classificadas como “grupo 3”, a redução na taxa de juros será menor, de 0,5%. Isso é, as taxas passam a ser de 7,16% ao ano para os cotistas do FGTS, e de 7,66% para os que não são.

O governo decidiu mudar a regra do teto de gastos para ampliar o Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família. Qual a sua opinião sobre a decisão?
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Reajuste no preço dos imóveis
Na tentativa de compensar a alta de preços na construção civil, o governo também reajustou o preço dos imóveis que podem ser financiados pelo programa – aqueles considerados “habitação popular”. O preço final vai variar de acordo com as regiões.

Em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, por exemplo, o teto dos imóveis que poderão ser financiados passará de R$ 240 mil para R$ 264 mil.

Nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o valor dos imóveis populares passará de R$ 215 mil para R$ 236,5 mil. Nas outras regiões, o teto ficará em R$ 209 mil.

Nos municípios com população maior ou igual a 250 mil habitantes, os valores vão funcionar da seguinte maneira: em cidades do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo, o valor total do imóvel passará de R$ 230 mil para R$ 253 mil.

No ES, MG, PR, RS e SC, o teto saltará de R$ 190 mil para R$ 209 mil e, nas demais regiões do país, de R$ 180 mil para R$ 198 mil.

Nas cidades do DF, RJ e SP com o mínimo de 100 mil habitantes, o preço máximo passará de R$ 180 mil para R$ 198 mil. ES, MG, PR, RS e SC: de R$ 170 mil para R$ 187 mil. E nas demais regiões com o mesmo número de habitantes, saltará de R$ 165 mil para R$ 181,5 mil.

Parceria com estados e municípios
O governo federal também estabeleceu parceria com entes subnacionais para reduzir ou zerar o valor da entrada dos imóveis. Neste caso, isso será possível com a contrapartida de estados, que pode chegar a até 40% do valor da compra.

“Nós já damos o subsídio, que diminui a necessidade da entrada. A grande dificuldade de se ter acesso ao imóvel é ter recurso suficiente para a entrada, não é a prestação”, afirmou Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional, durante cerimônia de anúncio das mudanças, em 15 de setembro.

Até o momento, dez estados da federação participam do convênio. São eles Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rondônia, Bahia, Ceará, Pernambuco e Alagoas.

“Com essa parceria, estados se comprometem conosco para aumentar o subsídio inicial. A prestação do imóvel ficará bem menor e mais acessível para um conjunto maior de brasileiros”, afirmou ele.

Ainda segundo Marinho, “mais de 150 mil novas unidades habitacionais serão ofertadas, além daquelas que estão disponibilizadas dentro do programa”.

Unidades do Casa Verde e Amarela entregues
Apesar da redução do juros e aumento do leque de imóveis aptos ao financiamento, o governo ainda precisa concluir aproximadamente 1,8 mil obras que estão em andamento destinados à “faixa 1”. Durante o anúncio das mudanças, o governo não entrou em detalhes ou citou qualquer expectativa para a entrega dos imóveis.

Em 2021, segundo a pasta, o governo federal entregou 19.684 unidades habitacionais do Casa Verde e Amarela. Do total, 14,7 mil foram destinadas a famílias com renda mensal de até R$ 2 mil, da antiga “faixa 1”.

O governo também informou que vai ampliar o prazo de entrega das moradias contratadas por meio de ofertas públicas realizadas em governo anteriores, que deveriam ter sido entregues até 2018.

Serão retomadas as obras de cerca de 27 mil residências em municípios menores de 50 mil habitantes, informou o governo durante o anúncio das mudanças no programa.

Segundo o MDR, foram liberados nos primeiros seis meses do ano R$ 607,5 milhões para “garantir a continuidade das ações ligadas à produção habitacional do Programa Casa Verde e Amarela”. A equipe econômica também estuda enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei para abrir crédito e aumentar o financiamento do programa. Mas, até o momento, não há novidade sobre a proposta.

Em 13 de setembro, dois dias antes de anunciar as mudanças no Casa Verde e Amarela, o presidente Jair Bolsonaro editou medida provisória que criou o programa habitacional Habite Seguro, exclusivo para profissionais da segurança pública e seus pensionistas. As taxas de juros são similares às do CVA, e a Caixa oferece subsídio de R$ 13 mil para o pagamento da entrada no financiamento e despesas com cartório.

O governo estima movimentar cerca de R$ 100 milhões em financiamentos na primeira fase do programa, com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), vinculado ao Ministério da Justiça.


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RADICALISMO AMBIENTAL DEMONIZAM A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS

  1. Economia 

Radicalismo ambiental está afastando da mesa de negociação players como a China, produtores relevantes como a Rússia e a Opep

Adriano Pires*, O Estado de S.Paulo

O colapso no mercado de energia, com aumentos surreais dos preços do petróleo e do gás natural, poderá trazer importantes mudanças na geopolítica da energia.

A origem desses aumentos e, mesmo, a falta de energia em algumas regiões do mundo podem ser explicadas pela pandemia em 2020, que promoveu uma redução conjuntural da oferta de energia, e pela mudança estrutural que é a agenda ambientalista, gerando uma escassez de petróleo e de gás natural. Muitos afirmam que estes seriam os principais motivos para um racionamento de eletricidade na China e para a explosão do preço do gás natural na Europa.PUBLICIDADE

Petróleo
Plataformas de exploração de petróleo situadas na Baía de Guanabara; começa a se construir um novo mapa da geopolítica da energia Foto: Fabio Motta/ Estadão

Esta agenda ambiental, ao hostilizar as chamadas International Oil Companies (IOCs), fortalece as National Oil Companies (NOCs), provocando mudanças na geopolítica da energia. Os investimentos para exploração de petróleo e gás das IOCs caíram para a metade entre 2011 e 2021, segundo o Financial Times.

Essa demonização tem levado a uma redução dos investimentos das IOCs em petróleo e gás nos últimos cinco anos, bem como ao êxodo dos investidores nesses mercados. Tudo isso guiado por uma obsessão com as mudanças climáticas. Este radicalismo ambiental está afastando da mesa de negociação players como a China, produtores relevantes como a Rússia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as ICOs, que foram as grandes empresas de energia do século 20.

Diante deste cenário, começa a se construir um novo mapa da geopolítica da energia. Este novo mapa volta a dar poder aos países grandes produtores e exportadores de óleo e gás, como ocorreu na década de 70 com o primeiro e o segundo choques do petróleo. É o retorno do poder do cartel da Opep, já que esta nova realidade trará cada vez menos oferta de óleo e gás e, com isso, preços cada vez mais elevados e um aumento da inflação.

No caso da Rússia, grande exportadora de gás natural, o seu presidente se transforma numa espécie de czar da Europa, na medida em que o gás russo representa de 40% a 50% do consumo. Se o presidente Vladimir Putin fechar as válvulas dos gasodutos que atendem a Europa, a população morre de frio.

Diante deste quadro, não nos espantemos se voltarem a surgir nos países da Opep novos ditadores ao estilo Muamar Kadafi e Saddam Hussein.

Os desafios estão colocados. Se não conseguirmos uma transição equilibrada para a energia verde que evite a alta dos preços da energia, não vamos construir a solução de que o mundo precisa. Ao contrário, poderemos estar reforçando a criação de uma outra geopolítica – além de uma impopularidade em relação às propostas ambientalistas. Ou seja, perdemos todos. 

* DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE)

 

OS PROBLEMAS DA AMAZÔNIA LOCALIZAM NO NORTE DO PAÍS

 


  1. Política
     

A Amazônia foi assunto central na COP-26. Precisamos dela para ter alguma relevância no mundo

João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo

Uma campanha agressiva realizada em 2006 teve função civilizatória no Brasil. Na ocasião, o Greenpeace divulgou um estudo mostrando como a produção brasileira de soja contribuía para o desmatamento na Amazônia. Foi o ponto de partida para um pacto chamado “moratória da soja”, em que empresas produtoras de alimentos, como a Cargill, e cadeias de lanchonetes, como o McDonald’s, se comprometeram, respectivamente, a não desmatar e a não mais comprar insumos oriundos do desmatamento.

Deu certo. A agricultura brasileira da soja passou a crescer por aumento de produtividade. Quando precisou se expandir, segundo estudo da rede acadêmica Climate Policy Initiative, foi sobre pastagens, e não florestas. “A agricultura brasileira não precisa de novas terras, e ganhamos mais com a floresta em pé”, diz o economista Juliano Assunção, um dos autores do estudo. Ele é o entrevistado do minipodcast da semana.

Negacionistas usam fake news para atacar COP-26
A indígena brasileira Txai Suruí discursou na COP-26; Amazônia foi assunto central na COP-26 de Glasgow.  Foto: Kiara Worth/UNFCCC_COP26

Apenas em uma das cinco regiões do Brasil esse padrão não se verifica: o Norte, justamente onde se situa a maior parte da Amazônia. “Lá não se cortam árvores para instalar agricultura ou pecuária relevante. É crime mesmo, que tem que ser combatido”, diz Assunção. O estudo mostra que o desmatamento – que nesta semana bateu novo recorde, segundo dados do Inpe – não gerou nenhuma atividade econômica importante na região. “Na Indonésia se desmata para produzir óleo de palma. No Brasil, o criminoso coloca bois em áreas griladas para fingir que tem alguma atividade econômica, mas não gera riqueza nem emprego”, afirma Assunção.

O que fazer, então, para criar emprego e riqueza na região? Assunção é um dos coordenadores do projeto Amazônia 2030 – que pretende, entre outras coisas, responder a esta pergunta. O Amazônia 2030 acaba de lançar estudo – anexado à versão digital desta coluna – que lista perspectivas, por exemplo, na produção de cacau, mandioca e mel. Os autores olham para os imensos desafios de desenvolver atividades produtivas numa região isolada, e propõem soluções.

A Amazônia foi assunto central na COP-26 de Glasgow. Consolidaram-se algumas convicções anunciadas nos estudos. A devastação da floresta não gera riqueza. O agronegócio não precisa invadir a Amazônia para crescer. É possível criar atividades econômicas sustentáveis na região, embora seja desafiador. E campanhas ambientalistas agressivas ajudam a mover pactos que unem governos, setor produtivo e sociedade civil. Precisamos da Amazônia para ter alguma relevância no mundo, e só será possível mantê-la com a participação – mesmo que com uma parcela de conflito – de diversos atores.

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

ESTUDANTES AMERICANOS TÊM DIFICULDADE NO APRENDIZADO DE MATEMÁTICA

 

  1. Internacional 

Conservadores normalmente fazem campanhas pela matemática clássica: um foco em algoritmos, memorizações e aulas ministradas por professores; progressistas normalmente são favoráveis a uma abordagem conceitual da disciplina, com base em resolução de problemas e obtenção de consciência numérica

The Economist, The Economist

Estados Unidos têm problema com matemática. Os estudantes do país registram más pontuações em exames internacionais de matemática há décadas. Em 2018, adolescentes americanos de 15 anos ficaram em 25.º lugar no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países mais ricos. Adultos americanos ficaram na quarta última colocação no ranking de aptidões numéricas, quando comparados com adultos de outros países ricos. Até 30% dos adultos americanos se dizem confortáveis somente com a matemática simples: aritmética básica, contagem, ordenação e tarefas similares. 

Empregadores americanos estão desesperados atrás de habilidades em ciência, tecnologia, engenharia e matemática: engenheiros nucleares, desenvolvedores de software e operadores de maquinário estão em falta. E, ainda que as notas em matemática dos estudantes já estejam baixas demais, elas poderão piorar. Na Avaliação Nacional do Progresso Educacional (Naep), um exame nacional, as notas dos estudantes de 13 anos caíram 5 pontos em 2020, em comparação ao que seus colegas registraram em 2012. A conta atual não fecha. Mas professores e acadêmicos são incapazes de concordar a respeito de alguma maneira de mudar essa situação.

Os americanos têm problemas com a matemática há mais de um século, afirma Alan Schoenfeld, da Universidade da Califórnia, Berkeley. Em 1890, o ensino médio era um luxo das elites: menos de 7% dos adolescentes de 14 anos estavam matriculados em escolas; e eles recebiam educação rígida em matemática. No início da 2.ª Guerra, tempo em que recrutas do Exército tinham de aprender a matemática necessária para a burocracia e a artilharia, quase três quartos dos adolescentes com idades entre 14 e 17 anos frequentavam escolas de ensino médio. PUBLICIDADE

Escola reabre e estudantes sofrem com o coronavírus
Estudantes da escola de ensino médio norte-americana Greenfield Central Junior Foto: A J Mast/ The New York Times

Estratégica

A Guerra Fria desencadeou um segundo frenesi de matemática estratégica nos anos 50. Um novo currículo em matemática, com foco em compreensão conceitual no lugar de memorização mecânica, foi desenvolvido após o lançamento do satélite Sputnik pela União Soviética. Posteriormente, esse novo currículo foi rejeitado, em um movimento de retorno ao ensino básico, nos anos 70.

O ensino de matemática voltou a causar preocupação quando os EUA começaram a temer a possibilidade de serem superados pelo Japão. Em 1981, o Departamento de Educação nomeou uma comissão para avaliar o currículo, que produziu um relatório chamado “Um país em risco”. “Se uma potência estrangeira hostil tivesse tentado impor aos EUA o medíocre desempenho educacional existente”, afirmou o relatório, “poderíamos muito bem ter considerado isso um ato de guerra”.

Desde os anos 90, porém, a matemática entrou na política. Conservadores normalmente fazem campanhas pela matemática clássica: um foco em algoritmos (uma série de regras a ser seguidas), memorizações (de tabuadas e processos algorítmicos) e aulas ministradas por professores. Estudantes têm foco no básico, explorando conceitos após adquirir habilidades tradicionais, explica Bill Evers, do Independent Institute, um centro de pesquisa e pensamento de Oakland. 

Esses métodos são familiares a muita gente. Para adições de dois dígitos, os estudantes aprendem a fazer conta no papel. Na adição 27 + 45, o 27 é grafado sobre o 45. Some a primeira coluna (7 + 5 = 12). Escreva o 2 abaixo e suba o 1 para a coluna da esquerda. Some a coluna da esquerda (1 + 2 + 4 = 7). Escreva o número 7 abaixo. A resposta é 72.

Progressistas normalmente são favoráveis a uma abordagem conceitual da matemática, com base em resolução de problemas e obtenção de consciência numérica, com menos ênfase em algoritmos e memorizações. Em contraste à estratégia conservadora, os estudantes aprendem diferentes formas de resolver um problema, valendo-se de objetos e outros elementos, antes de aprender algoritmos. 

Para a adição 27 + 45, os estudantes somariam os dígitos em um lugar (7 + 5 = 12) e as dezenas em outro (20 + 40 = 60) – e depois somariam os resultados para chegar à resposta 72. Ou eles poderiam perceber que o 27 está a três dígitos de 30. Daí, poderiam adicionar 3 e chegar a 30. E depois adicionar 45 e subtrair 3 para chegar a 72. Estratégias conceituais de matemática estimulam os estudantes a encontrar várias respostas possíveis para um mesmo problema e adquirir consciência numérica, em vez de depender de um algoritmo.

Apesar de a maioria dos professores concordar que a educação em matemática é abaixo da média nos EUA, eles têm sido incapazes de concordar a respeito de maneiras de melhorar a situação. Copiar métodos usados nos países mais bem colocados nos rankings de matemática, como Cingapura, poderia ser um caminho. Mas isso necessitaria de um consenso a respeito do que realmente é ensinado nesses países. Segundo Evers, currículos asiáticos bem-sucedidos refletem a posição clássica. “Que país você acha que adotou totalmente métodos progressistas de educação e é bem-sucedido? Na China é grande a dependência em relação aos professores. A matemática em Cingapura é a melhor do mundo – e não é progressista”, explica Evers. Mas Schoenfeld reconhece que países como Japão e Cingapura implementam currículos conceituais.

Parte da confusão nos EUA advém da atrapalhada implementação do mais recente currículo em matemática, o Common Core. Adotado em 2010, sob o governo Barack Obama, 41 Estados e o Distrito de Colúmbia adotaram seus princípios. Texas, Flórida e vários outros Estados os rejeitaram. Apesar de inicialmente ter sido uma iniciativa bipartidária, o Common Core acabou finalmente criticado por ambos os lados. Alguns o consideraram um exemplo de educação progressista. Agora que resultados de testes estão chegando, muitos conservadores alegam que as notas em queda demonstram o fracasso do Common Core e dos professores progressistas. Mas apoiadores do atual currículo não estão dispostos a desistir. Ainda que as notas na Naep tenham caído entre os alunos de 13 anos, elas permaneceram estáveis entre as crianças de 9 anos que estudarão segundo o Common Core por toda a vida escolar.

Ativistas

Para atrapalhar ainda mais essa confusão, ativistas de extrema esquerda têm somado métodos da matemática conceitual a conceitos mais radicais. Muitos dos que se opõem à matemática conceitual acreditam que o Common Core – e a matemática conceitual, em geral – bane o aprendizado por memorização, como nas tabuadas de multiplicação. A proeminente estudiosa da educação matemática Jo Boaler, da Universidade Stanford, afirma que memorizar tabuadas é desnecessário. Conservadores se apegaram a essa ideia como um exemplo de ativismo progressista delirante. Mas Schoenfeld afirma que isso não se alinha com valores matemáticos progressistas.

Alguns ativistas também misturam a matemática conceitual com “matemática de justiça social”, o conceito de que a matemática deveria ser usada para ajudar estudantes a resolver problemas do mundo real e valorizar a realidade ao seu redor. Apelidado de “matemática da lacração” e tachado com frases como “Na Califórnia, 2 + 2 = 4 pode ser considerado racismo”, o movimento favoreceu bem pouco a matemática conceitual ao associá-la a si.

O debate da matemática nos EUA é polarizado e confuso. Enquanto outros países implementam currículos de matemática equilibrando memorização com aprendizado conceitual, os EUA continuam a oscilar entre um polo ou outro. Da mesma maneira que a política do país, em outras palavra. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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