terça-feira, 19 de outubro de 2021

EX-PRESIDENTE DA PETROBRAS CRITICA O PRESIDENTE BOLSONARO

Em sua primeira entrevista sobre o período em que esteve à frente da estatal, Roberto Castello Branco diz que sofreu pressões políticas para segurar os preços dos combustíveis e que Bolsonaro defendia os interesses dos caminhoneiros

José Fucs, O Estado de S.Paulo

O economista Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras, decidiu enfim, romper o silêncio sobre o período que passou no comando da empresa, entre janeiro de 2019 e abril de 2021, quando foi demitido por interferência do presidente Jair Bolsonaro

Passada a “quarentena” de seis meses imposta a executivos de estatais e ocupantes do alto escalão do governo que deixam os cargos, durante a qual preferiu não se manifestar, Castello Branco, de 77 anos, falou ao Estadão sobre as críticas feitas por Bolsonaro à sua atuação na Petrobras e sobre as pressões políticas que sofria para segurar os preços dos combustíveis. “O governo se acha o dono da Petrobras, o presidente da República diz que é o dono da empresa e quer proceder como tal, desobedecendo regras e regulações”, afirma. “O presidente tem os caminhoneiros autônomos como seus apoiadores e defendia os interesses do grupo.”

Ainda morando em sua casa de campo em Petrópolis (RJ), onde está recolhido desde o início da pandemia, Castello Branco hoje é membro do conselho de administração da Vale, posto para o qual foi eleito no início de maio, e deverá assumir também a vice-presidência do conselho da Omega Energia, após a efetivação da listagem da empresa no novo mercado da B3. Além disso, ele conta que está “alinhavando” um livro que pretende publicar sobre a sua passagem na Petrobras, que inclui um período como integrante do conselho de administração, em 2015 e 2016, no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. PUBLICIDADE

Nesta entrevista, Castello Branco também analisa a gestão da economia no governo Bolsonaro e fala sobre a “militarização” da Petrobras, a privatização da empresa, a alta de preços dos combustíveis e do gás e a concessão de subsídios aos consumidores. 

Roberto Castello Branco
Para Roberto Castello Branco, cabe ao governo, com apoio do Congresso, estruturar um programa para aliviar efeito da alta do gás para os mais pobres. Foto: Wilton Júnior/Estadão – 15/10/2021

Olhando retrospectivamente, como o sr. avalia os acontecimentos que levaram à sua saída da Petrobras, as críticas que sofreu do presidente Jair Bolsonaro, relacionadas à alta dos preços dos combustíveis, às demandas dos caminhoneiros e até ao seu trabalho em home office na pandemia?

Eu percebo que estava mesmo na hora de sair, porque, com o Brasil com tanta incerteza política, com tanta instabilidade, a presidência da Petrobras seria um lugar em que não me sentiria mais à vontade. Teria perdido o prazer de dirigir a companhia, coisa que tive durante o tempo em que fiquei lá. Se você perde o prazer de fazer uma coisa, não vai conseguir fazer bem. Também comecei a ser alvo de mentiras absurdas. As milícias digitais (bolsonaristas) passaram a me atacar, a inventar mentiras a meu respeito. Os sindicatos, também.

A que mentiras o sr. se refere?

Diziam que eu estava vendendo diesel para o Paraguai pela metade do preço. Era uma mentira clara. A Petrobras não vende diesel para o Paraguai desde 2017. Eu nem estava na companhia. E por que eu venderia diesel pela metade do preço? Qual seria o meu interesse nisso? Falavam também que eu teria nomeado como gerente executivo da Petrobras uma nora minha. Eu não tenho noras. Só tenho genros. Tenho duas filhas e duas enteadas. Depois, teve essa história de dizer que eu não trabalhava há 11 meses, porque estava em home office. Só na Petrobras 20 mil pessoas ficaram em home office na pandemia, além de outras milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo. Eu devo ser um mágico, então, porque a companhia na qual diziam que eu não trabalhava estava batendo recorde de produção, recorde de exportação, tendo uma performance excelente e conseguindo reduzir o endividamento na crise. A Petrobras sozinha gerou mais fluxo de caixa livre do que a soma das cinco maiores petrolíferas do mundo. O lucro no último trimestre de 2020 foi o maior de uma empresa brasileira na B3 em todos os tempos. 

Na sua gestão, houve muitas tentativas de interferência política na Petrobras?

Houve alguns pedidos relacionados a gastos com publicidade e à nomeação de pessoas, que eu rejeitei. Comuniquei não só aos meus diretores, mas ao conselho de administração. No fundo, essas coisas contribuíram para me desgastar junto ao governo, mas não me arrependo um milímetro do que fiz. Acredito que fiz a coisa certa, para proteger a integridade da companhia. 

Na questão de preços em particular, havia muita pressão de Brasília?

As pressões se acumularam no primeiro trimestre de 2021, mas também não foram atendidas. Em relação aos políticos, eu tive a oportunidade de ir três vezes ao Congresso, duas à Comissão de Minas e Energia da Câmara e uma vez à Comissão de Infraestrutura do Senado, e expliquei didaticamente, detalhadamente, as políticas da Petrobras. Acho que os parlamentares ficaram satisfeitos com as minhas exposições. Agora, o presidente tem os caminhoneiros autônomos como seus apoiadores. Então, ele defendia os interesses do grupo (leia mais sobre os preços dos combustíveis e as reclamações dos caminhoneiros na 2ª parte da entrevista).

Chegavam recados para o sr. do Ministério da Economia, do ministro Paulo Guedes ou do ministro da Minas e Energia, Bento Albuquerque, relacionados à questão de preços dos combustíveis?

De vez em quando, havia sinais de descontentamento, mas o que eu podia fazer? Eu sempre fiz questão de cumprir com a minha responsabilidade. Não podia abrir mão de forma nenhuma dos meus princípios, da minha responsabilidade como administrador, fosse quem fosse o autor do pedido. Tenho respeito pela minha biografia. O maior ativo que eu tenho é minha credibilidade como pessoa, como profissional. Se eu perder isso, quem é que vai me recompensar? Não existe recompensa suficiente para isso.O dono da Petrobras não é o governo. É o Estado brasileiro, a sociedade, somos todos nós

O sr. é um dos representantes dos chamados “Chicago oldies”, o grupo que reúne os primeiros brasileiros graduados pela Universidade de Chicago, referência global do liberalismo, na qual o ministro Paulo Guedes também estudou. Como o sr. vê a gestão da economia no governo Bolsonaro?

Acredito que faltaram duas coisas muito importantes para o sucesso. Primeiro, a convicção do presidente da República acerca do que deveria ser feito. Isso nunca houve. Ao contrário. Em alguns episódios, acho até que ele trabalhou contra as reformas. Em segundo lugar, creio que houve uma falha de organização. O Ministério da Economia deveria ter se preparado para lançar um ataque em massa nos primeiros dias do governo. Para um programa de reestruturação ser bem-sucedido, seja numa empresa, seja num país, a terapia de choque é a mais indicada. Ao longo da história, temos várias evidências de fracassos quando se escolhe um tratamento gradualista, porque quem se beneficia do status quo vai se organizando, vai aumentando a reação contra as mudanças e dificulta enormemente a realização de reformas. Ou, então, utiliza as reformas para criar mais distorções e mais benefícios em interesse dos grupos envolvidos. O mais recente exemplo disso foi o governo Macri na Argentina, que levantou grandes esperanças de mudança e acabou fracassando. Acredito que, no Brasil, no atual governo, aconteceu um fenômeno semelhante. Agora, alguma coisa foi feita. Eu destacaria a reforma da Previdência, a autonomia do Banco Central, o marco regulatório do saneamento e a abertura para maior competição no mercado financeiro. Mas ficou muito por fazer e nós estamos diante de um ambiente de inflação alta, que o Banco Central acertadamente vem combatendo, e de desaceleração de crescimento. O Brasil deve crescer menos em 2021 e 2022 do que a economia global e menos do que as economias emergentes, e em 2022, menos do que a América Latina como um todo, o que é sem dúvida um resultado muito pobre.

O sr. se declarou várias vezes em favor da privatização da Petrobras. Continua com a mesma posição?

Sem dúvida nenhuma. Mantive a minha convicção. Uma sociedade de economia mista é um modelo híbrido inviável. No caso da Petrobras, o Estado brasileiro detém cerca de 37% do capital. A iniciativa privada, milhares e milhares de investidores privados, detém 63%. Mas o governo se acha o dono da Petrobras, o presidente da República diz que ele é o dono da empresa e quer proceder como tal, desobedecendo regras e regulações. Esta é uma confusão que políticos fazem, que o dono da Petrobras é o governo. Não, não é o governo. É o Estado brasileiro, a sociedade, somos todos nós. Por isso, não faz sentido tirar dinheiro da Petrobras para subsidiar o consumo de combustíveis por determinados grupos. Aliás, isso é até antidemocrático, porque é uma política pública praticada sem aprovação do Congresso Nacional. Além de equivocado do ponto de vista econômico, fere a democracia.

Muitos políticos e até alguns economistas dizem que a Petrobras deveria praticar outro tipo de política de preços, para aliviar o impacto das variações internacionais no mercado interno. Como o sr. analisa esta questão?

Na minha opinião, isso é algo completamente equivocado. Me surpreende que economistas tenham essa visão, porque no jardim de infância da economia, como se diz de brincadeira, eles aprendem um conceito que é muito importante, que é o custo de oportunidade. Quando a Petrobras vende o combustível, ela tem de olhar para o custo de oportunidade, que é dado pelo preço no mercado internacional. Se ela fosse exportadora, o custo de oportunidade seria o preço de exportação. Mas, como ela é importadora de combustíveis, porque o Brasil não tem autossuficiência, o custo de oportunidade é o custo de importação, que é um pouco mais caro que o de exportação. Esta é a realidade. Eu lembro do Evo Morales (ex-presidente da Bolívia) dizendo: “É “um absurdo ter de gastar quase US$ 30 para encher o tanque de um carro na Bolívia. Nós somos donos do petróleo e dono não paga”.  Não dá para pensar desta forma. Para complementar a oferta doméstica, nós temos de importar, e para fazer isso temos de pagar o preço do mercado internacional. Este é o conceito correto usado universalmente. No Brasil, essas pessoas acham que abaixo da linha do Equador é diferente. Infelizmente, não é. A Petrobras já teve experiência suficiente para aprender. Entre 2011 e 2014, usaram expedientes do gênero para segurar os preços dos combustíveis no País e o resultado foi que a Petrobras perdeu US$ 40 bilhões. O general Silva e Luna levou a sério aquele ditado popular de que em time que está ganhando não se mexe

Em que medida as investigações da Lava Jato, que levaram à descoberta do petrolão, mudaram a gestão da Petrobras?

A operação Lava Jato teve o grande mérito de estancar o processo de corrupção na Petrobras. De outra forma, a Petrobras caminhava a passos largos para se tornar uma companhia semelhante à PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.), uma empresa que, em 2003, produzia 3 milhões de barris de petróleo por dia e hoje produz menos de 500 mil. Este seria o destino da Petrobras. A operação Lava Jato restituiu para a Petrobras R$ 4,6 bilhões em dinheiro roubado que foi devolvido por alguns dos corruptos que foram presos. Agora, algumas pessoas dentro da Petrobras exageraram nesta questão. Por falhas da direção anterior, criou-se um regime de desconfiança entre os funcionários. Procurei combater isso e acho que tive sucesso.

Depois da sua saída, houve uma “militarização” da cúpula da Petrobras. Além do almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, presidente do conselho, que já estava lá na sua época, o general Joaquim Silva e Luna se tornou presidente da companhia e trouxe vários militares para trabalhar com ele. Qual a sua visão sobre a “militarização” da Petrobras?

Minha convivência com o almirante Leal Ferreira, que foi comandante da Marinha e é o presidente do conselho de administração, foi muito boa. É um homem ponderado, que tem experiência em comando, sempre procurou aprender, me apoiou muito. Nós mantivemos um diálogo franco, transparente, sem nenhum problema, e acho que ele contribuiu positivamente. A Marinha é bem mais próxima da Petrobrás. A Petrobrás é uma empresa marítima, tem muitos trabalhos em cooperação com a Marinha, inclusive na área de pesquisa. Então, para um almirante, a Petrobrás não é algo tão desconhecido. A mesma coisa não posso dizer em relação a um general do Exército. O Brasil tem executivos muito bons que poderiam ter me substituído. É difícil você colocar na direção de uma grande companhia petrolífera como a Petrobras uma pessoa que não tem conhecimento de como funciona uma grande empresa, não tem vivência na gestão de negócios, não conhece nada a respeito de petróleo, gás ou combustíveis. Agora, até reconheço mérito no general Silva e Luna, porque ele não procurou mudar nada. Ele olhou tudo que estava dando certo e levou a sério aquele ditado popular de que “em time que está ganhando não se mexe”, até porque seria arriscado da parte dele. Ele preferiu não correr riscos para não ser responsável por nenhum desastre. 

Em relação à política de preços dos combustíveis e do gás praticada pela nova gestão, qual a sua posição? Apesar da escalada dos preços, há uma percepção no mercado financeiro de que a Petrobras está segurando um pouco os aumentos. 

Tem pessoas do mercado que me falam isso. A associação de importadores de combustíveis também reclama bastante. Além disso, especialistas no assunto apresentaram dados que evidenciam que a Petrobras precisa dar reajustes maiores. O fato é que a participação da Petrobras no mercado tem aumentado, às custas de importações. Os importadores têm recuado e concedido mais espaço para a Petrobras. Quando isso acontece, é um indicador de que os preços dos combustíveis estão abaixo do nível internacional, porque os importadores não querem correr o risco de ter prejuízo. Então, a situação é a seguinte: a Petrobras está represando preços para evitar repercussões políticas, cedendo a pressões do presidente da República. Mas eu não tenho dados, não fiz nenhuma conta e não farei, para checar isso. Estou transmitindo opiniões de terceiros, de analistas de mercado, de especialistas no mercado de petróleo, e a evidência trazida pelo comportamento das importações. O governo tem de estruturar um programa, que deve ser aprovado pelo Congresso, para colocar uma dotação no orçamento para subsidiar o gás

Como o sr. avalia a decisão da Petrobras de destinar R$ 300 milhões para lastrear um programa de venda de gás a preços menores para os mais pobres?

O pano de fundo de tudo isso é a pobreza. Muitas famílias estão com dificuldades para adquirir o botijão de gás pelo preço atual, e estão migrando para lenha, para outras combustíveis, que são danosos à saúde, porque são pobres. Agora, como eu falei, a solução para isso não é o subsídio de preços pela Petrobrás. Este papel cabe ao governo. Ele é que tem de estruturar um programa, que deve ser aprovado pelo Congresso, para colocar uma dotação no orçamento para subsidiar o gás, como se faz nas nações democráticas, em vez de pressionar a Petrobrás, que é uma empresa em que os acionistas privados controlam a maior parte do capital, para fazer algum tipo de política social. A Petrobras não pode contribuir dando subsídio, que, aliás, não resolve coisa nenhuma.

Apesar de a Petrobras ter anunciado em agosto a venda da refinaria Isaac Sabá, no Amazonas, há uma percepção dos analistas de que houve uma desaceleração na venda das refinarias, que era uma prioridade em sua gestão. O sr. tem a mesma percepção?

Eu acredito que, nos ativos como um todo, o processo tem sido muito lento. Deixei mais de 50 ativos em processo de venda, mas poucos foram vendidos. No caso das refinarias, creio que houve lentidão, mas o que deve explicar muito mais a falta de sucesso nos desinvestimentos até agora é todo esse debate sobre preços dos combustíveis, que assusta o comprador. As pessoas reclamam de um suposto poder de monopólio exercido pela Petrobras, mas ao discutir isso empurram a Petrobras para o monopólio. Os importadores fogem, os compradores de refinarias da Petrobras também fogem e ela fica sozinha no mercado. É uma situação paradoxal. 

Ao divulgar o balanço do 2º trimestre de 2021, a Petrobras anunciou um lucro extraordinário, de R$ 42,9 bilhões. Não é um indicador de que a atual gestão está conseguindo entregar bons resultados?

O período é muito curto. A atual gestão assumiu em meados de abril e teve apenas um pouquinho mais de dois meses até o fechamento do balanço. Sem nenhum demérito, acho que esse resultado ainda foi um reflexo do que aconteceu até o 1º trimestre de 2021, beneficiado por um alto nível de preços internacionais. A Petrobras está preparada para repetir esse resultado e ganhar muito dinheiro, a não ser que existam ações que levem à sua deterioração.O que mais me incomoda na área de petróleo é a existência de uma regulação que afasta investidores

Pouco antes de sua saída, houve a apresentação de uma denúncia sobre uma operação de venda de opções da Petrobras na Bolsa, que o sr. teria feito por meio de sua secretária, após saber que deixaria a empresa, e com a qual teria obtido um lucro de R$ 11 milhões. O que o sr. pode dizer sobre isso?

Foi aberta uma investigação interna na Petrobras, a partir de uma denúncia que foi feita no conselho de administração, e ficou claro que não fiz nada disso. No dia em que o conselho se reuniu para decidir sobre a venda da refinaria Landulfo Alves, na Bahia, em março de 2021, chegou uma carta anônima fazendo uma denúncia totalmente vazia, inclusive nominando o banco em que teria sido feita a operação. É ridículo. Se quisesse fazer uma operação do gênero e me beneficiar às custas da minha própria demissão, teria condições de fazer isso de outra forma. Sou uma pessoa que conhece dezenas de grandes portfolio managers, de operadores, não só em bancos brasileiros como estrangeiros. Teria dado uma dica para eles e ganho milhões de dólares e não R$ 11 milhões. Mas essa acusação não foi para a frente. Podem investigar à vontade. A minha secretária é uma pessoa honesta. Trabalhou 30 anos na Vale, foi secretária do presidente, foi minha secretária, e hoje é secretária do presidente de Furnas. É uma pessoa supercompetente e não se prestaria a um papel desses, e eu tampouco. Isso faz parte daquela guerra de mentiras que eu mencionei. É a arma dos radicais, neste caso de radicais de extrema esquerda, que queriam bloquear a venda da refinaria Landulfo Alves. O bloqueio da venda foi tentado de todas as maneiras através da Justiça, inclusive no Supremo, sem resultado. Em dois julgamentos no Supremo, as teses contra a privatização de ativos da Petrobras, mais especificamente das refinarias, foram derrotadas. Então, recorreu-se ao banditismo de querer acusar pessoas inocentes, sem nenhuma prova, nenhuma indicação. Não foi apresentada nenhuma evidência. A prática do denuncismo, lamentavelmente, faz parte da Petrobras. Eu vi várias denúncias deste tipo envolvendo outras pessoas, com coisas como “o fulano de tal criou um esquema criminoso”. Que esquema? Criminoso por que? Qual a base da denúncia? Zero. Eram todas denúncias vazias.

A denúncia feita contra o sr. chegou a ir para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários, o xerife do mercado acionário)?

Não, não é do meu conhecimento que tenha sido aberto processo na CVM.

Houve também uma outra denúncia, contra o ex-gerente executivo de RH da Petrobras, Cláudio Costa, e ele até acabou sendo demitido por causa disso. O que aconteceu neste caso?

Cláudio Costa tinha dado uma ordem à corretora em que tinha conta para que vendesse as suas ações da Petrobras quando as cotações batessem em R$ 30. Isso foi em janeiro. Mas ele deu muito azar, porque o preço chegou a R$ 30 em 18 de fevereiro, exatamente no dia em que a minha saída foi sugerida pelo presidente da República em sua live, quando ele disse que algo iria mudar na Petrobras. Eu não sabia dessa operação e me foi comunicada posteriormente, em março, pela área financeira, com a evidência de que ele tinha vendido as ações naquele dia. Além disso, o dia em que foi feita a venda coincidiu com o período de vedação por parte de executivos da empresa, que antecede a divulgação de dados do balanço e outras informações relevantes para a companhia. Então, imediatamente eu o demiti. Levei o caso para a diretoria executiva, que aprovou a decisão que eu tomei, e o processo depois foi para a CVM, que ainda não se pronunciou sobre o caso. Houve o cumprimento de uma regra administrativa interna, mas não há nenhuma evidência de que ele tenha agido com dolo, de que tinha informação privilegiada de que eu seria demitido para tomar a decisão de vender as ações, até porque a decisão sobre a minha demissão só foi tomada horas antes de o presidente comentar o assunto em sua live, quase um mês depois de ele dar a ordem de venda de suas ações. Tanto que, no dia seguinte, foi feito efetivamente o pedido do meu afastamento à direção da Petrobras, que teve como consequência uma queda de 21% no preço das ações da companhia, na segunda-feira. Mas eu fui rigoroso, porque, como ele se reportava diretamente a mim, tinha de dar o exemplo para o resto da empresa, embora fosse uma pessoa de minha confiança. Não só ele, mas também outro gerente foi demitido, por infringir uma norma administrativa. 

Como foi a sua convivência com os sindicatos e as organizações de petroleiros, que historicamente têm uma atuação muito inflamada e politizada?

A principal arma que eu usei contra o sindicato foi a transparência, a democracia, abrindo o diálogo com todos os empregados da companhia. Eu sabia que era uma guerra de narrativas. No começo de 2020, nós enfrentamos uma greve de vinte dias, da qual saímos vencedores, porque fechamos uma empresa, a Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), no Paraná, que a Petrobras havia comprado e que só deu prejuízo. Eu falava que era um relógio suíço em termos de prejuízo. Todo ano dava prejuízo. Tentamos vender a empresa, mas não tivemos sucesso, não apareceram interessados, e optamos pelo seu fechamento. Durante a greve, houve muita violência, intimidação dos empregados que se propuseram a trabalhar, mas nós não deixamos de produzir. Nenhum barril de petróleo deixou de ser processado nas nossas refinarias por causa disso. O que fortalece os sindicatos, além da tibieza e das falhas de dirigentes que não esclarecem os empregados e não agem com transparência e honestidade com eles, prometendo coisas que não entregam, são certos setores da Justiça do Trabalho, certos sindicalistas de toga que desrespeitam a legislação trabalhista em benefício de sindicalistas. 

O sr. pode dar um exemplo em que a Justiça do Trabalho atuou em benefício de sindicalistas e trabalhadores da Petrobras?

Durante a greve de 2020, apresentamos evidências de assédios e ameaças físicas a colegas que se recusaram a entrar em greve e demitimos alguns empregados, mas a grande maioria retornou ao trabalho por determinação da Justiça. Nós tivemos também um caso em que um funcionário foi demitido por assédio sexual a dez mulheres, suas colegas de trabalho. Um mês depois ele teve de ser readmitido no emprego, porque apresentou um atestado de um psiquiatra na Justiça afirmando que estava em tratamento. Isso não é justificativa, um passe livre para assediar colegas de trabalho. Mas a Justiça do Trabalho achou que não havia problema nenhum. O empregado da Petrobras é contratado segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ele não tem estabilidade garantida. O fato de entrar por concurso na empresa não lhe dá imunidade contra a demissão, mas a Justiça acaba entendendo que sim. É um assunto que está no Supremo Tribunal Federal e ainda deve ser julgado. 

O que mais o incomodou em sua passagem pela Petrobras?

O que mais me incomoda nesta área de petróleo, não só como presidente da Petrobras, mas como economista e como brasileiro, é a existência de uma regulação que afasta investidores. A herança geológica é uma condição necessária para atrair investimentos para a área mineral, de mineração ou de petróleo – e o Brasil é muito favorecido neste aspecto. Mas o ambiente institucional na área de petróleo é muito ruim. Tem ainda a questão do regime de partilha de produção no pré-sal, que tem objetivos muito mais políticos do que econômicos. Ele concede à Petrobras o privilégio de manifestar meses antes de acontecer o leilão se vai exercer a opção e ficar com no mínimo 30% do campo a ser leiloado, o que é um absurdo. Isso cria incertezas, custos maiores, desincentiva os ganhos de eficiência, gera uma complexidade que não existe no regime de concessão. O regime de conteúdo local, apesar de ter sido mitigado com as melhorias que ocorreram em 2017 e 2018, ainda é um problema, embora tenha se tornado um problema de segunda ordem. Temos uma Agência Nacional de Petróleo extremamente burocratizada, lenta, intervencionista, que prejudica muito a indústria do petróleo. Finalmente, há a questão dos preços de os combustíveis serem assunto de capa dos jornais, de manchetes, assumindo uma relevância que de fato não tem.

 

NOVO AUXÍLIO EMERGENCIAL DO GOVERNO

 

  1. Economia 

Em ano eleitoral, o governo agora estuda pagar duas parcelas adicionais de R$ 100 para os beneficiários do Auxílio Brasil, programa que substitui o Bolsa Família

Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Sob pressão para definir como ficarão as políticas sociais a 13 dias do fim do auxílio emergencial, o governo tem agora na mesa uma nova proposta de arranjo dos benefícios, que incluiria o Auxílio Brasil (nome do novo Bolsa Família) e duas parcelas complementares, pagas uma dentro e outra fora do teto de gastos, a regra que limita o avanço das despesas à variação da inflação.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, essa alternativa levaria os beneficiários a receber em média R$ 400 em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro buscará a reeleição.

A ideia se soma a um leque de opções que têm sido analisadas pelo Palácio do Planalto, num ambiente de muita tensão e informações desencontradas de autoridades do governo e de políticos. Nesta segunda-feira, 18, o presidente chegou a falar na possibilidade de prorrogar o auxílio emergencial, que hoje paga R$ 150 a R$ 375 a 39 milhões de brasileiros.PUBLICIDADE

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes
Arranjo ajudaria Jair Bolsonaro em ano eleitoral, mas Paulo Guedes ainda é contra. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A equipe econômica tenta resistir a qualquer pagamento fora do teto, mas a ala política tem atuado para enfraquecer a posição do ministro da EconomiaPaulo Guedes. Nas últimas semanas, Guedes foi alvo de uma convocação ao plenário da Câmara para explicar a existência de recursos em um paraíso fiscal – o ministro afirma que o dinheiro é declarado. A convocação teve apoio até mesmo de parlamentares governistas.

Guedes desembarcou no último sábado dos Estados Unidos e teve uma reunião com Bolsonaro e o ministro da CidadaniaJoão Roma. Diante da tentativa da ala política de emplacar uma parcela da despesa fora do teto de gastos, surgiram rumores de que o ministro da Economia ameaçou deixar o cargo, mas interlocutores de Guedes negam que isso tenha ocorrido.

Desde sábado, as conversas em torno de uma solução para as políticas sociais se intensificaram. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o que está ficando claro nos bastidores é um desenho de um auxílio temporário, a ser pago de forma complementar ao Auxílio Brasil.

A nova alternativa na mesa seria pagar o Auxílio Brasil no valor médio que cabe dentro do Orçamento atual do programa (R$ 35 bilhões). Como revelou o Estadão/Broadcast, esse valor é estimado em R$ 194,45, conforme parecer de mérito elaborado pelo Ministério da Cidadania obtido por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Segundo uma fonte, além dessa parcela, haveria duas parcelas adicionais de cerca de R$ 100 cada, pagas ao mesmo público que receberá o Auxílio Brasil – o governo almeja alcançar 17 milhões de famílias. Roma chegou a defender repasses a um público mais amplo, mas isso tem forte oposição da equipe econômica.

Uma dessas parcelas adicionais temporárias seria paga dentro do teto de gastos, com o espaço aberto por meio da aprovação da PEC dos precatórios, que vai limitar o pagamento de dívidas judiciais da União e permitir que parte desses débitos seja quitada fora do limite de despesas. Com isso, a parcela do teto chegaria a R$ 300, a começar a partir de novembro.

A outra parcela, que faria o benefício total chegar a R$ 400, seria paga fora do teto de gastos, segundo interlocutores da ala política do governo. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a busca é para convencer o ministro da Economia, já que “apenas parte” do novo benefício ficaria fora do limite de despesas. Essa segunda parcela de R$ 100 seria paga a partir de dezembro, para dar tempo de incluir na PEC dos precatórios uma autorização para essa despesa ficar fora do teto.

Reajuste maior

Por diversas vezes, Bolsonaro manifestou o desejo de que o valor médio do Auxílio Brasil chegasse a R$ 400, mas esbarrava na resistência de técnicos do Ministério da Economia, que afirmavam não haver dinheiro para pagar esse valor. Esses técnicos também se opõem à abertura de crédito extraordinário (fora do teto) para bancar parte do gasto com programas sociais, uma vez que a vacinação tem ajudado a controlar o número de casos e mortes por covid-19.

O argumento da ala política, por sua vez, é que as consequências econômicas e sociais da pandemia ainda não acabaram. Por isso, na avaliação desse grupo, há justificativa técnica para a abertura desse tipo de crédito, destinado a situações urgentes e imprevistas.

O governo migrou para um desenho composto por um benefício temporário, sem uma ampliação definitiva do Bolsa Família, porque, mesmo com espaço no teto de gastos, não há receitas para servir de fonte de financiamento ao aumento permanente de despesa, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essa fonte seria a taxação de lucros e dividendos, mas a reforma do Imposto de Renda ainda não tem data para votação no Senado Federal.

Com um benefício temporário, o governo não precisa atender às exigências da LRF. Além disso, ganha tempo para definir como ficará o desenho definitivo da política social.

Em meio à indefinição, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta segunda-feira, 18, que não se pode “pensar só em teto de gastos e responsabilidade fiscal” em detrimento da população, que tem sofrido com a disparada de preços e os efeitos econômicos e sociais da pandemia de covid-19.

“Todo aspecto social nos preocupa muito. Não podemos pensar só em teto de gastos, responsabilidade fiscal – e a Câmara tem feito isso, o Congresso tem feito isso – em detrimento de uma população que está muito machucada com o rebote da pandemia, com o processo inflacionário, que é mundial, com a questão da energia. Isso tem machucado muito a população que está abaixo da linha da pobreza”, disse Lira em entrevista à revista Veja.

A declaração de Lira surpreendeu agentes do mercado financeiro, que até agora contavam com o presidente da Câmara para “frear” qualquer irresponsabilidade fiscal.

SUA EMPRESA ESTÁ PREPARADA PARA ATENDER ÀS EXIGÊNCIAS DOS CLIENTES?

 

Para existir na nova realidade do varejo, toda empresa deve ter sistemas construídos para atender plenamente o consumidor, em qualquer plataforma, do início ao fim da jornada de compra

Por Enéas Rodrigues

Com certeza você chegou até este texto porque já ouviu falar em omnicanal, omnichannel ou omnicanalidade. O conceito existe há cerca de duas décadas e, como toda teoria, funciona que é uma beleza no papel. Colocá-la em prática, no entanto, levanta desafios em todas as frentes de uma empresa.

Omnichannel, grosso modo, é o reconhecimento de que o contato entre o cliente e a empresa se dá em múltiplas frentes. A um varejista, não importa somente o momento em que o comprador entra no estabelecimento. Importa se a vitrine o atraiu; se ao entrar ele ficou; se ao escolher um produto, foi direto ao caixa; se foi bem atendido; se recebeu o produto na hora ou dias depois. Se a entrega chegou depois, interessa saber o estado em que foi recebido, se o entregador se portou de forma adequada e por aí vai.

Acontece que hoje em dia quem tem loja tende a ter e-commerce. O cliente não entra na loja, acessa. O cliente não circula pelo ambiente, navega. O cliente não coloca o produto num carrinho físico, mas virtual.

A quantidade de obstruções de um site – o número de cliques para que o consumidor feche negócio – traça um paralelo ao atendimento humano em uma loja física. Na hora que bem entende, o consumidor se dirige ao caixa. Se brigar com o caixa, abandona o carrinho e nunca mais volta.

Quando o cliente entra no estabelecimento procurando camiseta branca, o vendedor sabe que não deve trazer camiseta colorida. No ambiente virtual, por que em buscas por camiseta branca, os resultados insistem em trazer peças coloridas? Há uma quebra de expectativa em relação ao site, o que afeta negativamente a jornada do cliente.

Jornada de expectativas

Esta expressão é muito interessante. Jornada pressupõe uma trajetória, um caminho percorrido. Na jornada do cliente, o caminho para fechar a compra, mesmo que não seja longo, contém marcos que determinam a trajetória do comprador. No omnichannel, esses marcos se multiplicam, cruzam-se, conversam entre si.

Quem começa uma compra no site da Valeon pode retirá-la em uma loja física. Quem entra numa livraria e não encontra no estoque o título buscado pode pedir para o vendedor encontrar em outra unidade e solicitar a entrega em casa, por meio do sistema interconectado da rede.

A omnicanalidade ganha muito com a tecnologia, que pode facilitar a jornada. Mas é uma arquitetura complexa que precisa ser construída e mantida por gente dedicada. Profissionais com visão holística dos processos, com o objetivo de reduzir o atrito com o cliente sempre.

É importante melhorar os processos internos e separar o que é core business e o que é acessório. O estoque é um canal, de sua agilidade depende a localização do produto e a entrega. Será que não há formas mais ágeis para geri-lo do que planilhas?

Posso citar algumas tecnologias que fazem toda a diferença. E se não existe uma ferramenta pronta, ela pode ser desenvolvida, o que deve começar a acontecer com mais frequência, já que as empresas vão colocar cada vez mais sua cultura, seu jeitão, nos próprios sistemas.

Com um Barramento de Integração, é possível conectar, em menor tempo, diferentes tecnologias que geram oportunidades para aumentar as vendas e reduzir o atrito de atendimento. Soluções para otimizar estoque e a assertividade de alocação de produtos cuidam da precisão de vendas e da gestão de mercadorias. São ferramentas que utilizam conceitos de machine learning e inteligência artificial para, com base no que falta nas lojas ou no que o cliente pesquisa no site, sugerir compras e reposições fora do cluster padrão. Esses programas integram o varejo físico e o virtual.

Logicamente, se eu tiver ferramentas capazes de reduzir o atrito do atendimento e promover meus produtos, alinhando-os ao desejo do cliente, venderei mais e trarei mais satisfação para minhas marcas. Aí o passo seguinte é saber a melhor ferramenta para gerenciar as entregas. Enquanto o cliente não recebe um produto, dificilmente compra outro na mesma loja. Quanto mais cedo algo for entregue, mais cedo uma nova compra poderá ser realizada. Para isso, é preciso um WMS, que gerencia todo o processo logístico.

E tem ainda o backoffice: CRM e ERP para administrar dados pessoais e transacionais com sigilo e integridade.

Hoje não existe um único sistema dorsal para gerenciar a omnicanalidade e fazer a venda acontecer. O que existe é uma arquitetura de solução, gerenciada por métodos de integração, que permite a convergência entre o meio físico e o virtual. O omnichannel não é um comando central, mas um conjunto de processos que fluem de forma transparente por meio de uma rede de sistemas integrados que gerenciam o negócio, e que precisa ser tratado com atenção por uma equipe dedicada.

QUEM SOMOS

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

Diferenciais

  • A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
  • A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
  • A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
  • A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

Missão:

Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.

Visão:

Ser uma empresa de referência no ramo de prestação de serviços de Tecnologia da Informação na região do vale do aço e conquistando relacionamentos duradouros.

Valores:

  • Ética e Transparência
  • Profissional, ambiental e social
  •  – Busca pelo melhor

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CÂMARA GASTA MILHÕES COM SEGURANÇA DE DEPUTADOS

 

Por
Lúcio Vaz – Gazzeta do Povo

| Foto: Nova TV

A Câmara dos Deputados já gastou R$ 8 milhões nesta legislatura para fazer a segurança do presidente da casa e dos deputados que correm risco de vida. As diárias e passagens de policiais que fazem a escolta do presidente e de deputados consumiram R$ 5 milhões. Os gastos secretos com a segurança e a residência do presidente, pagos com cartões corporativos, já batem nos R$ 3 milhões.

E ainda falta contar os R$ 7 milhões torrados com os jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportam o presidente em missões oficiais e, principalmente, em deslocamentos para casa nos finais de semana. O campeão de gastos nesse quesito é Rodrigo Maia (DEM-RJ), com R$ 6,2 milhões. Ele fez 364 voos em dois anos, sendo 147 para a sua casa. Mas as despesas com os voos de Arthur Lira já chegaram a R$ 1 milhão em oito meses de mandato, com 99 horas de voo.

Além da proteção ao presidente da casa, a Câmara faz também a escolta policial do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República; dos deputados David Miranda e Talíria Petrone, ambos do PSOL e ameaçados de morte; e de outros deputados em missões de risco. Essa logística já consumiu R$ 2,4 milhões em pagamentos de diárias e R$ 2,5 milhões em passagens aéreas. Ao todo, foram 4,3 mil diárias, no valor total de R$ 5 milhões, como mostra levantamento feito pelo blog até setembro deste ano.

Nos dois últimos anos, não é possível apontar com precisão os gastos com diárias e passagens dos policiais que fazem a escolta do presidente da Câmara e de outros deputados. As despesas são registradas, mas não são apontados os nomes dos parlamentares protegidos. Mas é possível distinguir as escoltas policiais das demais missões oficiais.


Transparência tornou-se opaca
No primeiro ano da atual legislatura, esses dados eram mais transparentes. Era possível identificar nos relatórios de viagem dos policiais legislativos o nome do deputado escoltado. A transparência ficou opaca depois de fevereiro de 2020. Os dados disponíveis mostram que os gastos de Talíria somaram R$ 324 mil, sendo R$ 190 mil com passagens aéreas para os policiais. As despesas com Miranda chegaram a R$ 340 mil – R$ 197 mil com passagens.

Eduardo Bolsonaro gerou despesas de R$ 216 mil com 438 diárias e R$ 437 mil com passagens para seus seguranças, num total de R$ 650 mil. A sua proteção deveria ser feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Mas o GSI fez um acordo com a Câmara e o Senado, transferindo a tarefa para as Polícias Legislativas das suas casas. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) é escoltado por policiais do Senado. O Senado gastou R$ 3,8 milhões com a segurança do presidente e deputados em risco de vida na atual legislatura.

A escolta maiscara de Arthur Lira aconteceu no recesso parlamentar deste ano. De 16 a 26 de julho, duas equipes de policiais legislativos se revezaram na proteção ao presidente da Câmara, gerando uma despesa de R$ 31 mil, sendo R$ 20 mil com diárias – em média 5,5 por policial. Lira voou para Alagoas no dia 17 e retornou a Brasília dia 25, sempre em jatinho da FAB. No dia 23, uma sexta-feira, reuniu 45 prefeitos num hotel em Maceió para discutir um nome de consenso para a disputa do governo do estado em 2022. Ele afirma que será candidato à reeleição.

Mas a maior gastança foi feita pelo então presidente Rodrigo Maia, um total de R$ 1,1 milhão, sendo R$ 474 mil com passagens e R$ 630 mil com 710 diárias pagas aos policiais. No seu caso, as despesas com passagens são menores porque parte dos agentes viaja no jatinho da FAB junto com o presidente, como fica registrado nos relatórios de viagem.


Roma, Londres, Madri, Paris
Maia contou com escolta policial até no exterior. Em abril de 2019, o presidente esteve em Beirute e em Baku, no Azerbaijão, acompanhado de três seguranças, que receberam um total de R$ 43 mil em diárias. Eles fizeram a proteção pessoal e escolta motorizada de Maia.

Em 13 de outubro de 2019, ele esteve Roma, acompanhado de assessores e de dois policiais legislativos, para acompanhar a cerimônia de canonização da Irmã Dulce. As diárias dos dois agentes custaram R$ 25 mil. No final do mês, esteve em Londres e Dublin, acompanhado de dois policiais legislativos, que fizeram a segurança pessoal, escolta motorizada e os serviços de missão precursora. Os policiais receberam um total de R$ 25 mil com diárias e gastaram R$ 24 mil com passagens aéreas.

Mas a escolta mais cara foi para a missão Madri/Paris, de 22 de fevereiro a 2 de março de 2020. Três policiais legislativos que fizeram a segurança de Maia receberam R$ 90 mil por 34,5 diárias e gastaram mais R$ 34 mil com passagens. Uma despesa total de R$ 124 mil. O deslocamento do jatinho da FAB custou mais R$ 240 mil. A comitiva foi estudar modelos para a profissionalização dos clubes de futebol no Brasil e direitos de imagem.


Ameaças de morte
Os períodos analisados pelo blog não são iguais para todos devido à falta de informações completas. Para Maia, foram 12 meses, de fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020 – o mesmo período computado para Eduardo Bolsonaro. No caso de Miranda, as despesas aparecem a partir de junho de 2019. Para Talíria, desde julho de 2019.

A assessoria da deputada afirma que ela passou a andar com escolta policial a partir de abril de 2019, quando recebeu ameaças de morte. Ela chegou a suspender a proteção durante a sua gravidez, mas a Polícia Federal apurou novas ameaças, além de um plano para eliminar a deputada, com a participação de milícias do Rio de Janeiro. Miranda também é escoltado por ter recebido ameaças de morte.

Os policiais legislativos também acompanham o trabalho de comissões da Câmara. A Comissão de Direitos Humanos, por exemplo, teve a proteção dos policiais legislativos durante a visita ao complexo prisional de Manaus, 5 de junho de 2019.

Na próxima edição, o blog trará os detalhes das escoltas mais caras entre os deputados.


Sigilo por até 100 anos
Desde o início da atual legislatura, os presidentes da Câmara consumiram R$ 2,9 milhões com a verba secreta dos cartões de “suprimentos de fundos”, que pagam despesas extraordinárias. Essas informações estão protegidas por sigilo, nos termos do Ato da Mesa Diretora Nº 45/2012. Arthur Lira já gastou R$ 625 mil, numa média mensal de R$ 78 mil; enquanto Maia torrou R$ 2,3 milhões, com média mensal de R$ 95 mil.

Esses cartões corporativos pagam despesas relativas à segurança dos deputados e familiares e também gastos com a residência oficial da Presidência da Câmara.

O Ato da Mesa diz que as informações consideradas “imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado” podem ser classificadas como ultrassecreta, com 25 anos de sigilo; secreta, com 15 anos de sigilo; e reservada, com 5 anos. São classificadas como reservadas, e ficam sob sigilo até o término do mandato as informações que possam colocar em risco a segurança dos deputados e respectivos cônjuges e filhos.

O blog solicitou à Câmara a liberação dos dados anteriores a 2016. A Câmara negou atendimento ao pedido, alegando que as informações solicitadas foram “reclassificadas” para o grau “secreto”, as quais deverão ser mantidas em sigilo pelo período de 15 anos, conforme o disposto na Lei de Acesso à Informação.

Já o Ato da Mesa 246/2018 estabelece que as informações pessoais, quando relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem, “terão acesso restrito”, independentemente de classificação de sigilo, observado o prazo máximo de 100 anos, a contar da data de produção.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/camara-gasta-r-8-milhoes-com-seguranca-do-presidente-e-deputados-ameacados/
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O POVO SAIU GANHANDO COM A DISTRIBUIÇÃO DE VACINAS

 

Covid-19
Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

| Foto: AEN

Já foram distribuídos 300 milhões de doses de vacinas. Se a gente calcular 10 dólares por dose – e, dependendo da vacina, o preço sobe para 15 dólares por dose -, a gente vai chegar aí a 3 bilhões de dólares. Ou seja, nós teremos R$ 20 bilhões aplicados em vacinas.

Tem muita gente se queixando que quebrou sua empresa, que ficou desempregado, que não tem mais renda, que não vende mais. Mas tem uma atividade que está florescendo neste planeta: são os laboratórios produtores de vacina.

Não vou entrar no mérito sobre eficácia e sobre segurança porque isso só o tempo dirá. Mas digo que foi um belo negócio o da produção das vacinas.

Passaporte da vacina é totalitarismo
A partir de hoje, no Rio Grande do Sul, que é um estado politizado, o passaporte da vacina se torna obrigatório para entrar nos lugares públicos. E a obrigação foi imposta por uma pessoa. Um único gaúcho impôs essa obrigação para todos os gaúchos: o governador do Estado através de um decreto. Apenas um decreto – não foi para a Assembleia Legislativa, não fez um referendo.

Interessante é que esse governador é um dos pré-candidatos à presidência da República e já está se mostrando um totalitário, por causa desse decreto. Muito estranho.

Tem uma vereadora e um integrante do Ministério Público que entraram no Supremo Tribunal Federal alegando que a Constituição está sendo desrespeitada. Porque todo brasileiro é igual perante à lei, sem distinção de qualquer natureza. Então não há distinção entre vacinado e não vacinado. Está no artigo quinto da Constituição, parágrafo único. O mesmo artigo também diz que todo mundo pode circular livremente em território nacional.

Então o passaporte da vacina contraria a Constituição. É um totalitarismo que se impõe. E as pessoas baixam a cabeça. As pessoas aceitam, não se dão conta que estão sendo testadas por uma grande ditadura mundial, só pode ser isso.

Fiasco da CPI: do começo ao fim
Outra coisa incrível é a CPI da Covid e a briga dos opositores ao presidente Bolsonaro. Dizem que aconteceu um vazamento do relatório do senador Renan Calheiros (MDB) – eu não vi o relatório, porque protejo as minhas vísceras, e não acompanho essas coisas. Mas dizem que saiu por aí. Agora ele está voltando atrás. Diz que não é bem assim, que está mudando algumas coisas, que a CPI não vai terminar mais nesta semana, que talvez semana que vem…

Ela está terminando como sempre foi, um desastre: como diz o general Sergio Etchegoyen, em um artigo, “o que se testemunhou foi uma desconcertante demonstração de maus modos, o constrangimento moral de depoentes, com perversa técnica de interrogatório, vis ataques pessoais, chiliques descabidos, cenas de boçalidade e grosseria explícita, intimidação de testemunhas chamadas a depor e a arrogância dos que interrogam; eventuais culpados serão os maiores beneficiados, pelo festival de incoerências, descalabros, parcialidade, desfaçatez, falta de respeito, e muito mais, conduzidos pelos próprios encarregados de investigar”.

O general Etchegoyen, que foi ministro do governo Temer, ainda recomenda que a gente pense mil vezes antes de votar em algum desses na eleição do ano que vem.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/comentario-alexandre-garcia-18-10-2021-quem-mais-saiu-ganhando-com-as-vacinas/
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STF DIZ SIM QUANDO PODERIA DIZER NÃO

 

Artigo
Por
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. – Gazeta do Povo

Detalhe da estátua da Justiça na frente do Supremo Tribunal Federal.| Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

A atual postura institucional do Supremo Tribunal Federal está reforçando sua autoridade pública ou representará uma banalização da alta jurisdição constitucional, fragilizando o sentimento de justiça no seio da sociedade brasileira? A pergunta posta toca em questão republicana sensível e absolutamente fundamental ao equilibrado funcionamento das instituições, possibilitando uma riqueza de análises e pertinentes ponderações.

Sim, é fato público e notório que a suprema corte atua em franca hipertrofia de funções, atraindo para si âmbitos de decisão que, em tese, exigiriam prévia deliberação e prioritária escolha política do Legislativo ou do Executivo. Ocorre que, no chão da vida, a apatia de alguns e a covardia parlamentar de outros, associadas a uma aguda fragmentação do poder governamental administrativo – marcado pela ausência de lideranças referenciais, pela inabilidade de construção de maiorias estáveis (a decadência dos partidos) e pela falta de comunicação social eficaz –, reduzem o espaço de consolidação estrutural da política democrática, substituindo a arte da negociação pela facilidade do litígio.

Tal deslocamento de perspectiva garante certa praticidade ao jogo político, pois, uma vez provocado, o Supremo irá decidir, encerrando, bem ou mal, a controvérsia estabelecida. Todavia, a solução prática pode ser um mero paliativo ocasional; anestesia-se a dor, mas não se cura a infecção. E mais: a subversão das instituições da Justiça em palco de debates políticos cotidianos desvirtua a essência formativa do voto, aliviando a classe política de realizar trabalhos democráticos indelegáveis com consequente desmedida exposição do STF.

Sem cortinas, determinados vícios profundos da política, em uma democracia autêntica, se resolvem unicamente pelo voto, não por litígios judiciais.

Ora, sentenças judiciais resolvem casos jurídicos, mas não pacificam problemas políticos. Logo, o relevo corrente do STF não deixa de representar uma espiral crescente de microentrechoques difusos que impossibilitam à corte atuar nas macrossoluções vinculadas aos preceitos de segurança jurídica e estabilidade social da República.

No descortinar dos acontecimentos, a realidade é categórica: o Supremo Tribunal Federal precisa aprender a dizer “não”. A consciência e responsabilidade de uma corte constitucional é medida pelos limites de sua atuação institucional, evitando a extravasão de competências ou o aviltamento da suprema jurisdição. Portanto, o Supremo não pode mais assumir problemas que não são seus; a corte não é uma UTI legislativa nem um divã executivo.

Sabidamente, a Constituição é dotada de densidade normativa complexa, portando regras de competência jurídica (Judiciário) e normas de competência política (Legislativo e Executivo). Tais âmbitos de competência não são melhores nem piores reciprocamente considerados, mas possuem obrigatória distinção de titularidade, iniciativa e discernimento. Frisa-se que a linha que separa o universo da política do mundo jurídico traduz discussão constitucional antiga, tendo natural maleabilidade à luz das circunstâncias concretas do jogo do poder. Em norte seguro, a clássica lição de Pedro Lessa, escorada na inteligência superior de Bryce, Thayer e Hitchcock, pontifica que “as questões puramente políticas não cabem na competência dos tribunais”.


Alteração de ocasião da Constituição Federal
Em complemento, a sabedoria de Gustavo Zagrebelsky, após ver e viver os desafios da Corte Constitucional italiana, externou que a Constituição “é o que não se vota; ou melhor, é o que já não se vota, porque já foi votado de uma vez por todas, na sua origem”. Portanto, quando a efetividade material da Constituição não se realizar em si mesma e, por assim ser, depender de um ato de deliberação ou votação política, não cabe aos tribunais assumirem jurisdicionalmente encargos prematuros, cuja competência é exclusiva dos demais poderes republicanos. Em tempo, as técnicas excepcionais de inconstitucionalidade por omissão não apagam a velha máxima de que o Supremo pode muito, mas não pode tudo.

Sem cortinas, determinados vícios profundos da política, em uma democracia autêntica, se resolvem unicamente pelo voto, não por litígios judiciais. A maturidade política de um povo também se realiza na consciência dos seus erros. A experiência vivida demonstra que nem sempre acertamos ao votar; nem sempre o ganhador é um bom governante; nem sempre elegemos parlamentares dignos. Nas democracias, o erro – embora indesejado – é possível, pois só as ditaduras acertam sempre.

Saber dizer motivadamente “não”, além de prudência, demonstra o exato conhecimento de si. São os limites da ação consciente que estabelecem a responsabilidade da conduta praticada. Na busca da otimização constitucional do possível, o equilíbrio ponderado faz lembrar: competências ilimitadas, supremo arbítrio.

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado e conselheiro do Instituto Millenium.


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CRISE DO AUMENTO DOS COMBUSTÍVEIS PERSISTE

 

Artigo

Por
William Baghdassarian – Gazeta do Povo

combustivel – gasolina –

Postos de combustíveis.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo

A elevação dos preços dos combustíveis entre 2020 e 2021 já começa a ter impactos políticos em Brasília, trazendo o receio da adoção de soluções heterodoxas de controle de preços por meio da intervenção dos poderes Executivo e Legislativo. É preciso compreender que a cadeia de produção e distribuição de combustíveis possui vários elos e que a solução do problema é complexa e requer a compreensão do funcionamento desses diversos elos e suas inter-relações, sem o qual as possíveis soluções podem contribuir para aprofundar os problemas e trazer novos elementos de tensão para esse mercado.

A composição de custos da gasolina considera diversos elementos, como a evolução do barril de petróleo; a dinâmica de preços do álcool anidro; os custos operacionais de refino da Petrobras; a taxa de câmbio utilizada na aquisição do petróleo; os tributos federais como PIS, Cofins e Cide; o ICMS, de responsabilidade estadual; os custos operacionais; e as margens de lucro dos postos de gasolina.

A gasolina comercial vendida no Brasil é composta por 73% de gasolina tipo A e 27% de álcool anidro. De certa forma, os preços de ambos os combustíveis são reajustados pelo dólar americano, já que tanto o petróleo quanto o álcool são cotados nessa moeda. Além disso, tanto o preço do barril de petróleo quanto o litro do álcool apresentam dinâmica própria ao longo do tempo.

Embora o preço do litro do álcool anidro para o produtor tenha um preço médio de US$ 0,5040 entre 2010 e setembro de 2021, desde março deste ano o valor do litro vem superando essa média, tendo atingido US$ 0,6089 no começo de outubro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, em função da crise hídrica que atinge o Brasil. Já o barril de petróleo sofreu um reajuste próximo a 40% desde o começo de 2021, tendo superado os US$ 80 em outubro, em função do reaquecimento da economia mundial e de a retomada da produção ainda não ter se equilibrado com o consumo.

A variação da taxa de câmbio explica também parte significativa do problema. Segundo dados do Ipeadata, a cotação da moeda americana ao fim de 2019 era de R$ 3,9451, enquanto a cotação ao final de setembro de 2021 foi de R$ 5,4394, uma elevação de 38% no período. Como ilustração do efeito do câmbio, o barril de petróleo já atingiu mais de US$ 125 em 2011, mas a taxa de câmbio era da ordem de R$ 1,65 na época, totalizando valores próximos a R$ 206,25 o barril, enquanto que, considerando uma taxa de câmbio de R$ 5,4394 e um barril de petróleo a US$ 80, o valor supera os R$ 435,15 – um crescimento de 111% no período.

É preciso compreender que a cadeia de produção e distribuição possui vários elos e que a solução do problema é complexa e requer a compreensão do funcionamento desses diversos elos e suas inter-relações.

Em termos tributários, os tributos federais sobre gasolina representam R$ 0,8925 por litro e os que incidem sobre o etanol anidro, R$ 0,1309; pode-se dizer são “inelásticos” com relação às demais variáveis, ou seja, não são afetados por variações de preços do petróleo e álcool anidro, dentre outros. Já o ICMS é um tributo calculado sobre o preço do combustível e é impactado pela variação de preços na distribuidora. Por outro lado, diferentemente das margens dos postos de gasolina que sobem ou descem a partir da decisão dos donos de postos, o valor do ICMS é calculado a partir da aplicação de uma alíquota, de âmbito estadual, sobre o “preço médio ponderado ao consumidor final” (PMPF), apurado a cada 15 dias pelas secretarias de Fazenda dos estados.

A apuração do PMPF é um processo que poderia ser mais transparente e que contribui para a elevação sistemática dos preços, por um efeito inercial. Por exemplo, suponha que tenha havido uma elevação média do preço do litro da gasolina em um estado, entre dois períodos, de R$ 6 para R$ 6,30 – elevação de cinco pontos porcentuais. Neste caso, o PMPF também subirá os mesmos cinco pontos porcentuais, fazendo com que o valor nominal do ICMS a ser pago pelos postos suba. Ou seja, ainda que os custos com o combustível na distribuidora caiam, o efeito líquido pode ser nulo, já que a queda seria compensada pela elevação do valor do tributo.

Outro fator interno que também contribui para o encarecimento do preço da gasolina são as margens de lucro dos distribuidores e postos de combustível. A gasolina é uma commodity e seu preço final é sempre determinado por uma composição entre oferta e demanda. Na medida em que o consumo de combustível tem características “inelásticas” com relação ao preço, ou seja, um aumento nos preços causa apenas uma pequena queda no consumo, muitas vezes há um incentivo para que haja um repasse para os consumidores finais de quaisquer aumentos de custos ocorridos nas etapas anteriores da cadeia dos combustíveis.

Ou seja, o que determina o preço final ao consumidor acaba sendo o próprio valor que os consumidores estão dispostos a pagar por aquele combustível. Apenas uma maior concorrência entre postos de combustível é que pode forçar os preços para baixo. Por essa razão, soluções que simplesmente reduzam os custos do produto ou dos tributos nas etapas anteriores podem não ser eficazes, já que os postos de gasolina se apropriariam de parte desses ganhos.

Em função da elevação do preço da gasolina observada nos últimos meses, a questão deixou de ser econômica para se tornar política. O Poder Executivo vem afirmando que parte do problema são os tributos estaduais (o ICMS) e que deve encaminhar proposta para que esse tributo seja alterado para um valor fixo por litro de combustível, a exemplo da Cide/PIS/Cofins. Como isso representaria uma potencial queda de arrecadação para os estados e municípios, já que estes últimos recebem 25% da arrecadação do ICMS, já há reações no Congresso Nacional contra essa possibilidade. Por um lado, o ICMS sobre combustíveis representa uma importante fonte de receita para os estados, que já estão com sua situação fiscal desbalanceada. Por outro, a medida pode se tornar inócua na medida em que os postos de combustíveis podem se apropriar da redução de custo para aumentar ainda mais as suas margens.

Há outras soluções heterodoxas que foram apresentadas, como a criação de um fundo para equilibrar o preço dos combustíveis ou a adoção de tributos em etapas da produção do petróleo. Aparentemente, ambas as alternativas também são tecnicamente inadequadas. A adoção de tributação adicional sobre etapas da produção de petróleo irá simplesmente aumentar os custos de produção e deverá ser integralmente repassada para os preços na distribuidora, onerando ainda mais os consumidores. Deve-se lembrar que isso tornaria a gasolina brasileira menos competitiva com a produzida internacionalmente, o que poderia ter um efeito ainda maior sobre a rentabilidade da Petrobras.


Já a criação de um fundo estabilizador é impraticável pelos volumes de combustível envolvidos. Utilizando a demanda anual de 35,824 bilhões de litros de gasolina e de 2,02 bilhões de litros de óleo diesel, um subsídio federal da ordem de R$ 0,50 iria ter um custo fiscal de quase R$ 19 bilhões, ou cerca de dois terços do volume empregado no programa Bolsa Família. Essa política teria de ser implementada por emenda constitucional, já que estaria sujeita às limitações da EC 95, de 2016, que estabeleceu o teto dos gastos.

Então, diante dos argumentos apresentados, qual seria a solução para essa questão? No curto prazo, quaisquer iniciativas que tragam uma redução na taxa de câmbio contribuem para a redução do preço dos combustíveis. Políticas que vão desde uma maior flexibilidade para a entrada de capital estrangeiro até uma iniciativa do chefe do Poder Executivo de demonstrar estabilidade institucional e econômica podem afetar o preço do câmbio e contribuir para baixar custos.

Além disso, o fomento a uma maior concorrência entre as distribuidoras pode também ajudar a baixar os preços nas bombas de combustível. O governo poderia, por exemplo, aumentar a intensidade e a aplicação de multas sobre postos de combustível que atuassem como cartel.

Uma terceira possibilidade é um aperfeiçoamento na metodologia de cálculo da PMPF para que se reduza o efeito inercial do impacto do ICMS no custo dos combustíveis, o que também poderia ajudar a baixar o preço desse produto.

Já no médio prazo, políticas públicas que ajudem a trazer maior estabilidade para o setor sucroalcooleiro podem ajudar a reduzir os preços médios, em dólares americanos, e diminuir a volatilidade do preço da gasolina. A abertura de mercado para outras empresas explorarem a prospecção e refino dos combustíveis e a abertura para a importação de petróleo pode também trazer reduções adicionais de preços.

William Baghdassarian, Ph.D., é professor de Finanças do IBMEC.


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