Especialista em varejo indica estratégias que podem alavancar resultados de vendas, mesmo em negócios que não têm seus produtos voltados ao público infantil
Comemorado no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças não é o período de maior faturamento no fim de ano, mas a data serve como um termômetro para o varejo medir suas potencialidades de venda, já que tem forte apelo comercial. E não são somente lojas de produtos infantis que podem aproveitar para aumentar as vendas. Outros nichos de negócio também podem entrar na onda.
Para fazer com que essa data tenha relevância no seu rendimento ao longo do ano, a sócia e diretora de produtos do Ecommerce na Prática, Babi Tonhela, elenca cinco dicas. Vale lembrar que são dicas importantes para todas as datas sazonais, por isso, não se prenda a uma específica!
1. Entre no clima do Dia das Crianças
Não é porque você não vende brinquedos, que não pode comemorar a data. Promova ações que despertem lembranças da infância em seus clientes. Invista em iniciativas relacionadas ao tema nas redes sociais e utilize esses canais para lembrar o seu público que o Dia das Crianças está chegando.
Vale falar de filmes antigos, brincadeiras e até alimentos que costumava comer quando era criança. Dessa forma, você gera engajamento com a sua marca, independentemente de vender produtos infantis ou não. “Ao investir em conteúdo com tema de infância, quando a data chegar, as pessoas terão a sua marca na cabeça, pois se lembrarão de algo que podem ter visto nas redes sociais ou recebido por e-mail do seu negócio”, explica Babi.
2. Se seus produtos são para o público infantil, fique atento às tendências e ofereça benefícios
Se você vende brinquedos, roupas infantis, calçados, jogos e livros, há várias formas de aproveitar o Dia das Crianças para dar um “boom” nas vendas. Fique atento ao que é tendência e ofereça promoções, descontos, brindes, frete grátis, etc.
Se você não trabalha com esse segmento, pode pensar em oferecer um bombom de brinde como forma de engajar o público com a data, por exemplo, já que doces são uma memória da infância.
3. Não deposite todos os seus esforços em descontos
No Dia das Crianças, as pessoas não estão procurando, necessariamente, descontos. Afinal, a data comemorativa que tem esse foco acontece no mês seguinte: a Black Friday.
Babi alerta que os empreendedores não devem basear toda a sua ação para vender mais somente nos descontos. “Eles são importantes e podem ajudar a aumentar o faturamento, mas não podem ser a única estratégia”.
Entre outras ações possíveis, a diretora sugere condições diferenciadas, como a venda de kits. Aí sim, vale a pena a aplicação de descontos progressivos e funciona para atrair pessoas que precisam comprar mais do que um único presente. “É muito mais fácil comprar tudo de um mesmo e-commerce, do que ficar procurando produto por produto em diferentes lojas”, reforça Babi.
4. Ofereça frete grátis e frete expresso
Não pagar nada no frete sempre vai ser interessante para o cliente, seja em data comemorativa ou não. Mas sabemos como nós, brasileiros, sempre gostamos de deixar tudo para a última hora. Por isso, oferecer o frete expresso é uma ótima maneira de vender mais no Dia das Crianças, já que as pessoas podem estar dispostas a pagar um pouco mais caro, com a promessa de receber o produto antes.
Para oferecer o frete expresso, busque parceria com alguma transportadora ou companhia de motoboys que tenha condições de fazer a entrega no tempo estipulado.
5. Pense em influenciadores
As crianças hoje assistem a muitos conteúdos na internet, o que estimula o acompanhamento de influenciadores digitais. “É importante estar antenado no que as crianças estão assistindo. E nada melhor que se aproveitar dessa audiência já estabelecida para divulgar uma marca e seus produtos. Dessa forma, vários possíveis clientes estarão sendo expostos à ela”, explica a diretora.
Estude a sua persona, identifique algum influenciador que se comunique com ela e ofereça algum tipo de parceria, como no caso daStartup Valeonque tem um site que é a sua Plataforma Comercial mais acessada do Vale do Aço, uma verdadeira Máquina de Vendas.
Assim, você conseguirá atingir mais pessoas e, consequentemente, aumentará suas chances de vender.
A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.
Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.
A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.
Diferenciais
A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
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A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.
Missão:
Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.
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O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli decidiu arquivar os pedidos de investigação contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre as offshores abertas pelos dois em paraísos fiscais. As informações são do colunista Josias de Souza, do UOL.
O caso foi revelado pela série de reportagens Pandora Papers, produzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. A ações contra Guedes e Campos Neto foram movidas pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e pelo PDT.
A ação pedia para que o Supremo requisitasse ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a abertura de investigação contra os dois, porém Toffoli decidiu determinar o arquivamento sem ouvir o PGR.
Em seu despacho, Toffoli diz que a PGR “detém, privativamente, a atribuição de promover a ação penal pública em face dos alegados crimes praticados por autoridades com foro por prerrogativa de função, caso de ministros de Estado”.
Segundo o magistrado, “não há como o Judiciário substituir a atividade” do Ministério Público Federal, “exercendo juízo valorativo sobre fatos alegadamente criminosos”, pois essa seria uma “atribuição exclusiva” da Procuradoria.
A ministra do STF Cármen Lúcia| Foto: Nelson Jr./STF
“Os efésios começam a lapidar sua vítima com tal fúria que acabam vendo nela o que Apolônio pede que vejam: o autor de todos os seus males, o ‘demônio da peste’, que deve ser eliminado para curar a cidade” (René Girard, “O horrível milagre de Apolônio de Tiana”, em Eu via Satanás cair como um relâmpago)
“O Céu é justo, todo o subterfúgio é inútil; ali os nossos atos são justamente avaliados e os nossos crimes conhecidos. Que devo fazer? Nada me resta. Tentemos o arrependimento.” (William Shakespeare, Hamlet, Ato III, Cena 3)
Em artigo publicado na Gazeta em 23 de agosto, analisei o requerimento da “CPI da pandemia” que pedia a quebra do meu sigilo fiscal por conta de minhas opiniões. Mostrei então o absurdo do pedido, que apresentava como supostas provas do meu delito “contra a ciência, a saúde pública e a vida” três postagens minhas no Twitter. A primeira lamentava a cobertura desonesta de parte da imprensa sobre manifestações contra o lockdown na Espanha. A segunda criticava a censura que aquela rede social estava praticando em postagens favoráveis ao tratamento precoce da Covid-19. A terceira condenava o caráter de obrigatoriedade da vacina, não a vacinação em si.
Quem me lê sabe que minhas opiniões se lastreiam em informações e referências públicas e notórias, mas que são frequentemente ignoradas, ou mesmo deliberadamente ocultadas, por parte da assim chamada grande imprensa, informações e referências que faço questão de compartilhar com o público, que, assim, na condição de indivíduos autônomos, pode formar sobre elas o seu próprio juízo. É isso que, em sociedades tidas por democráticas, chamamos de debate público, que só se realiza plenamente com liberdade de expressão e direito ao contraditório.
A CPI, desde o início, pretendeu instaurar à força no país um pensamento único sobre a pandemia. Com frequência, desrespeitou, intimidou e assediou moralmente todos os depoentes com visões contrárias ao esperado
Ao contrário do que consta no requerimento para a minha quebra de sigilo, não pratico e nunca pratiquei “desinformação”. Desde sempre, o meu trabalho em jornal e nas mídias sociais cuida de elaborar criteriosamente a minha visão sobre a realidade em que vivemos, com base em fatos e dados reais, mesmo que descredenciados por aqueles que se arvoram o papel de donos da verdade. Nesse mister, naturalmente, faço análises que agradam a uns e desagradam a outros. Esforço-me constantemente para lapidar os argumentos, e, sempre que novos fatos o exijam, mudo de opinião com tranquilidade.
Ainda que os debates nas mídias sociais sejam muitas vezes acalorados, ou até mesmo agressivos, sua vantagem é a de não serem desleais, nem desequilibrados em poder, precisamente por neles se engajarem cidadãos livres, de forma voluntária. O mesmo não se pode dizer da referida Comissão Parlamentar de Inquérito, ora em vias de encerramento no Senado Federal. Essa é uma CPI que, desde o início, pretendeu instaurar à força no país um pensamento único sobre a pandemia. Com frequência, desrespeitou, intimidou e assediou moralmente todos os depoentes com visões contrárias ao esperado, até mesmo médicos que tratam pacientes acometidos pela Covid-19. Daí para fazer com que minhas opiniões divergentes assumissem ares criminosos foi um passo até natural.
Natural, mas não justo. E menos justo ainda foi acusar-me levianamente de “atentar contra a ciência, a saúde pública e a vida”, de integrar uma “rede de desinformação” e de receber dinheiro público para dizer o que penso. Como se o que penso, aliás, fosse alguma extravagância perigosa, uma subversão do cânon científico da CPI, que, dentre outras coisas, decretou peremptoriamente que “essa coisa de imunidade natural não existe” (desconsiderando mais de um século de ciência imunológica, e, no caso específico da Covid, um estudo israelense recente que compara a eficácia da imunidade natural com a da imunidade vacinal), ou que medicamentos utilizados no tratamento precoce são “comprovadamente ineficazes” (e é uma lástima que vários membros da CPI tenham se retirado deselegantemente no dia do depoimento de médicos que recomendam o tratamento precoce, representantes dos milhares de colegas que os utilizam e prescrevem, incluindo aqueles que, por medo de represálias, se recusam a admiti-lo em público).
Orgia sanitária Posto que mal fundamentado, mal redigido, e sem apresentar indício algum do cometimento de crimes tipificados em lei – afora o “crime de opinião”, não previsto no ordenamento jurídico de um Estado Democrático de Direito –, o requerimento foi, contudo, julgado plenamente satisfatório pela ministra Cármen Lúcia, que, no último dia 1.º de outubro, indeferiu o mandado de segurança que meu advogado havia impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal e manteve a quebra do meu sigilo fiscal. Além disso, a magistrada concordou com a justificativa da CPI quanto à inusitada abrangência temporal da quebra, que se estende no passado até janeiro de 2019, mais de um ano antes do início da pandemia. De resto, restringiu a guarda dos dados sigilosos ao presidente da comissão e demais senadores, determinação perfeitamente inócua, considerando o histórico recente de vazamentos ligados à CPI, que, em vez de um inquérito propriamente dito, transformou-se, em conluio com uma imprensa parcial e desonesta, numa máquina de assassinato da reputação de quem quer que os seus comandantes tenham por desafetos políticos.
Antes de justificar o seu endosso ao requerimento, a ministra Carmem Lúcia ponderou que “para decretarem, legitimamente, por autoridade própria, a quebra do sigilo bancário, do sigilo fiscal e/ou do sigilo telefônico, relativamente a pessoas por elas investigadas”, as CPIs “devem demonstrar, a partir de meros indícios, a existência de concreta causa provável que legitime a medida excepcional (ruptura da esfera da intimidade de quem se acha sob investigação)”. Ressaltou ainda que “os direitos e garantias fundamentais, a todos assegurados e que têm de ser respeitados nos termos constitucionalmente estabelecidos, não são biombos impeditivos da atuação legítima e necessária do poder estatal, no desempenho de suas atividades legítimas, necessárias e exercidas nos limites juridicamente definidos”.
Em seguida, citou textualmente a desonrosa e destemperada justificativa apresentada pelo requerente, o senador petista Humberto Costa (a qual já respondi detalhadamente na coluna do dia 23 de agosto): “(…) A disseminação massiva de conteúdos favoráveis ao chamado tratamento precoce e contrários às medidas de distanciamento social e à vacinação pode ter contribuído sobremaneira para agravar a pandemia e a mortalidade derivada da pandemia no Brasil. Faz-se urgente e necessário, portanto, analisar o Relatório de Inteligência Financeira – RIF do Sr. Flávio Gordon, de modo que a responsabilidade por milhares de mortes evitáveis seja devidamente apurada por esta Comissão Parlamentar de Inquérito. Para tanto, é fundamental que a CPI siga o caminho do dinheiro, analisando se a disseminação de desinformação foi financiada e por quem foi financiada, se houve a participação de agentes públicos ou envolvimento de dinheiro público, de modo que a medida ora proposta é necessária para o bom andamento dos trabalhos desta CPI. O Relatório de Inteligência Financeira – RIF elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras – Coaf se revela instrumento adequado para identificar movimentações atípicas da pessoa física em tela. Caso o resultado das análises indique a existência de fundados indícios de ilegalidades, esta CPI poderá avançar na quebra dos sigilos bancários e fiscais da pessoa física investigada”.
Em vez de um inquérito propriamente dito, a CPI transformou-se, em conluio com uma imprensa parcial e desonesta, numa máquina de assassinato da reputação de quem quer que os seus comandantes tenham por desafetos políticos
Em referência à justificativa da CPI, afirmou a ministra, em palavras já mais que acusatórias, condenatórias: “Pelos elementos acima apresentados, tem-se motivação idônea, a dizer, com indicação da necessária ‘causa concreta provável’ a validar a deliberação parlamentar pela transferência das informações sigilosas do impetrante… Apura-se a participação do impetrante na disseminação de notícias falsas, conduta gravíssima, mais ainda em período pandêmico, no qual a vida das pessoas depende de informações corretas e que se conjuga com o objeto da Comissão Parlamentar de Inquérito”.
Ao acatar a justificativa constante no requerimento, talvez por partilhar da orientação política e das opiniões pessoais dos requerentes, a ministra Cármen Lúcia chancela as acusações falsas, não provadas, que me foram dirigidas, inclusive a mais injusta e aviltante de todas, que atribui a mim, um colunista de opinião sem qualquer poder de ditar políticas públicas, uma putativa “responsabilidade por milhares de mortes evitáveis”. Essa, sim, me parece uma conduta gravíssima em se tratando de uma representante do Judiciário, que, destarte, autoriza a mobilização do aparato estatal contra um indivíduo presumivelmente inocente, sem que prova alguma de crime tenha sido apresentada, exceto suas opiniões particulares manifestas em três postagens nas redes sociais, e que, num Estado de Direito, jamais poderiam ser criminalizadas, por mais criativa que seja a hermenêutica adotada para tanto.
Diante de decisões como essa, não surpreende que, como mostrou uma pesquisa do instituto Paraná Pesquisas, quase 60% dos brasileiros acreditem que o STF decide de maneira política, e não técnica. Decerto, não pode haver maior ataque à credibilidade da instituição do que o comportamento militante e parcial de alguns de seus ministros. Como afirmou recentemente Francisco Rezek, ministro aposentado do Supremo e juiz da Corte Internacional de Justiça da ONU: “Uma das principais queixas dos advogados a respeito da Justiça brasileira, mas especialmente do STF, neste momento, é a de que há um excesso de autoridade convivendo com a escassez de leitura”. Rogo aos leitores deste texto, em especial aos versados em direito, que confiram o requerimento e a minha resposta, para, em seguida, formar a sua própria opinião sobre a decisão da ministra.
Ora, a CPI não se interessou em apurar a “responsabilidade por milhares de mortes evitáveis” para o caso de prefeitos e governadores corruptos, que, por meio de contratos fraudulentos, se aproveitaram da situação emergencial da pandemia para desviar dinheiro destinado à construção de hospitais de campanha, compra de respiradores, insumos hospitalares, testes etc. Nem, tampouco, para o caso de autoridades que defenderam a catastrófica política do “só procure um hospital em caso de falta de ar” – o tipo de política que, ela sim, foi responsável por mortes desnecessárias, e que, segundo uma declaração assinada por mais de 10 mil médicos mundo afora, pode muito bem constituir “um crime contra a humanidade”. Mas não se vexou de atribuí-la a mim, única e exclusivamente por causa das opiniões que expresso.
Note-se que todas as acusações que a mim dirigem são invariavelmente expressas sob forma de frases feitas pretensamente autoevidentes, reforçadas pelos estigmas (“blogueiro bolsonarista”, “terraplanista”, “negacionista” etc.) que a parcela mais estridente da imprensa reproduz sem cessar, a fim de criar a imagem de cidadãos de segunda classe, previamente culpados e merecedores de toda acusação, para os quais as garantias constitucionais normais devem deixar de valer. Quanto aos acusadores, dizem genericamente que dissemino “notícias falsas”, mas não especificam qual notícia falsa disseminei, nem, muito menos, demonstram a sua falsidade. Afirmam sem corar que atento contra a ciência, mas não explicam como, nem submetem ao escrutínio público o seu rudimentar conceito de ciência. Acusam-me de integrar uma rede – “estruturada ou não”, fazem questão de acrescentar, para garantir maliciosamente a abrangência ilimitada da acusação – para a prática de “desinformação”, mas não provam a desinformação praticada, e não mostram indício qualquer do pertencimento à tal rede, a não ser que o fato de ter opiniões similares a de outras pessoas, bem como de compartilhá-las, sirva como prova, caso em que os meus acusadores também seriam integrantes de suas próprias redes de opinião.
O fato é que os detratores não aceitam jamais debater o mérito de opiniões específicas, e colocarem-se em posição de explicar racionalmente as suas acusações, rebatendo meus argumentos e as fontes nos quais se baseiam. Ao contrário, valem-se abusivamente de sua posição de poder para neutralizar e objetificar o acusado, projetando nele tudo aquilo que desejam, sem que a ele nunca seja concedida voz própria, direito à defesa e à autorrepresentação. Parecem convictos de que o acusado, visto como adversário político, deverá ser aquilo que quiserem que seja, uma tela vazia sobre a qual se esmeram em pintar um retrato o mais assustador e monstruoso possível. Note-se que, em todo esse processo, a relação com quem tem opinião contrária jamais é de intersubjetividade, mas de sujeição e objetificação. Para falar como o filósofo Martim Buber, trata-se sempre de uma relação Eu-Isso, nunca de uma relação Eu-Tu.
Cármen Lúcia chancela as acusações falsas, não provadas, que me foram dirigidas, inclusive a mais injusta e aviltante de todas, que atribui a mim, um mero colunista de opinião, uma putativa “responsabilidade por milhares de mortes evitáveis”
A referida CPI cansou de dar provas de seu caráter afrontoso e injurioso, nos muitos episódios em que os depoentes não alinhados à narrativa pré-fabricada, fossem convocados ou convidados, não podiam sequer responder ao que lhes fora perguntado, e, quando o faziam, eram solenemente ignorados, como se não houvessem respondido. E também constantemente lembrados, de maneira grosseira, que o seu papel ali era apenas figurativo ou, pior ainda, o de bode expiatório, responsável – como na velha mitologia sacrificial pagã, tão bem esmiuçada por René Girard – por trazer a peste. Sobre esses bodes expiatórios, os senadores de oposição, sempre com ajuda da mídia cativa, descarregaram toda sorte de esconjuros e imprecações.
Para quem, como eu, é alvo de um tal processo kafkiano, o mais angustiante não é nem a acusação falaciosa em si, mas o fato de, nesse embate desigual, não poder jamais ocupar a posição de sujeito e responder diretamente às autoridades acusadoras, que fazem o que fazem justamente respaldados por essa impossibilidade. Gostaria, por exemplo, de dirigir à ministra Cármen Lúcia perguntas como estas:
Onde exatamente, no requerimento, V. Exa. enxergou indícios de que incorri em “conduta gravíssima”? Quais foram as “notícias falsas” que disseminei, e por que são falsas? O que V. Exa. entende por ciência, e por que eu teria atentado contra ela? V. Exa. afirmou que, no contexto da pandemia, a vida das pessoas depende de “informações corretas”, mas por que lhe compraz atender os comandantes da CPI no direito de ter a palavra final sobre a correção ou incorreção de uma informação, e mais ainda de uma opinião? Terá V. Exa. levado demasiado a sério a sugestão de um de seus pares, segundo quem os representantes do Judiciário devem agir como “editores de um país inteiro”? Por que devo crer no seu juízo antes que, por exemplo, no dos médicos e infectologistas que se dispuseram a comparecer na CPI para apresentar dados concorrentes, tendo sido ostensivamente ignorados, quando o relator e vários outros senadores – inclusive o signatário do requerimento para a quebra do meu sigilo – se retiraram do recinto? O que há de científico nessa postura, que, se universalmente adotada no passado, teria simplesmente inviabilizado o progresso da ciência, quem sabe até ostracizando um Albert Einstein como negacionista da gravidade newtoniana? “O senhor sabe dizer a diferença entre espaço e tempo?” – talvez perguntasse ao físico alemão algum furibundo senador.
O tirano cordial Big Tech is watching you: a cruzada mundial contra a liberdade de expressão e a autonomia médica Desde o início, as minhas opiniões sobre a pandemia giraram em torno de quatro eixos principais:
A hipótese de o vírus ter vazado de um laboratório era consistente, e, ao contrário do que afirmava categoricamente a grande mídia, nunca foi mera “teoria da conspiração”.
É falsa a afirmação de que os medicamentos usados no tratamento inicial da Covid-19 são “comprovadamente ineficazes”. Há, sim, vários estudos sugerindo a sua eficácia, e muitos médicos atestando-a na prática clínica. A autonomia médica deve ser assegurada.
As vacinas são, sim, experimentais, desenvolvidas em prazo recorde, a título de emergência. Nesse caso, a sua obrigatoriedade, sobretudo para crianças e adolescentes, é inaceitável.
Os lockdowns, tal como implementados indiscriminadamente em várias cidades brasileiras, não tiveram nada de científicos. Além de ineficientes, violaram direitos individuais fundamentais e arrasaram a economia, gerando desemprego, miséria e fome.
Terá Cármen Lúcia levado demasiado a sério a sugestão de um de seus pares, segundo quem os representantes do Judiciário devem agir como “editores de um país inteiro”?
Sobre o primeiro ponto, gostaria de lembrar que também essa opinião foi, durante muito tempo, estigmatizada como fake news e teoria da conspiração. Depois, graças ao esforço e à resiliência de internautas e investigadores amadores, que fizeram o trabalho que a imprensa dita profissional se recusou a fazer, a teoria passou a ser seriamente considerada por eminentes cientistas, tornando-se objeto de uma investigação no Congresso americano, e chegando, finalmente, aos grandes veículos de comunicação. Mas não duvido que, caso essa minha opinião restasse minoritária e marginalizada por mais tempo, talvez eu tivesse sido incluído no rol de investigados de um inquérito anômalo qualquer, tendo o meu sigilo fiscal quebrado por “atentar contra a ciência”.
Sobre o ponto 2, remeto os leitores a esse meu artigo sobre o tema, bem como a esse outro, em que menciono a Declaração dos Médicos, assinada por mais de 10 mil médicos e cientistas de todo o mundo, decididos a “confrontar os donos do poder com verdades sobre a pesquisa e o tratamento da doença” e “resgatar e sustentar a dignidade, a integridade, a arte e a ciência da medicina”. Pergunto: em que artigo, de qual lei brasileira, está tipificado o crime de ter essa opinião em particular?
Sobre o ponto 3, lembro que tratados internacionais de direitos humanos – a exemplo do Código de Nuremberg, de 1947, e da Declaração de Helsinque, de 1964 – respaldam a minha opinião contra a obrigatoriedade da vacina experimental, opinião que coincide com a da OMS, até outro dia tida por autoridade máxima no assunto pandemia. Pergunto novamente: em que artigo, de qual lei brasileira, está tipificado o crime de se manifestar contrariamente à vacinação obrigatória?
Quer tenha sido feita por um senador da República, quer por uma ministra do Supremo, a acusação contra mim continuará sendo falsa, pois poder terreno algum pode transformar uma mentira em verdade
Sobre o quarto ponto, a minha opinião também coincide com a de representantes da OMS. Daí que insista na pergunta: que artigo, de qual lei brasileira, tipifica como crime o cidadão pagador de impostos se posicionar contra uma política pública que o afeta diretamente, bem como todos ao seu redor?
A resposta é simples: não há essa tipificação. Não existe crime de opinião num país que se afirma democrático. É inequívoco o sentido do inciso IV do artigo 5.º da nossa Constituição Federal: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Portanto, não aceito a acusação de que minhas opiniões “atentam contra a ciência, a saúde pública e a vida”. Essa é uma opinião subjetiva dos comandantes da CPI e, por acatamento, da ministra Cármen Lúcia. É, sobretudo, uma imputação absurda, irresponsável e altamente injuriosa, que não foi provada, e nem poderia sê-lo. Quer tenha sido feita por um senador da República (cargo público não raro brandido como uma espécie de título nobiliárquico), quer por uma ministra do Supremo, a acusação continuará sendo falsa, pois poder terreno algum pode transformar uma mentira em verdade. E, como diz o provérbio latino, a verdade é filha do tempo – não do Senado, não do STF, não da imprensa militante.
Pelo que se vê do presente comportamento de Cármen Lúcia, parece que “cala-boca já morreu” só vale para si própria, seus aliados políticos e companheiros de ideologia
Por fim, lamento especialmente que a chancela a um tal abuso de autoridade tenha vindo logo da ministra Cármen Lúcia, que, não faz muito tempo, foi aclamada por ter dito, em referência à liberdade de expressão, que “o cala-boca já morreu”. Pelo que se vê do presente comportamento da magistrada, parece que a fórmula só vale para si própria, seus aliados políticos e companheiros de ideologia. Para os demais cidadãos, sobretudo os que ela despreza por motivos de divergência politico-ideológica, o cala-boca vive e passa bem.
Contando agora com o respaldo da representante da nossa suprema corte, os meus acusadores hão de seguir, então, o tal “caminho do dinheiro”, a fim de verificar se “a disseminação de desinformação foi financiada e por quem foi financiada, se houve a participação de agentes públicos ou envolvimento de dinheiro público”. Mas, ao cabo desse processo despiciente, constatando que não recebi dinheiro público algum, que minhas opiniões não estão à venda, e o quão infundada foi a acusação contra mim dirigida, que outro caminho seguirão os acusadores? Espera-se que o caminho da dignidade, da justiça e, quiçá, o do arrependimento. Afinal de contas, se, como ensina a literatura clássica, até mesmo os reis, os imperadores e os sacerdotes mais possuídos pela húbris do poder político foram, por vezes, agraciados com o dom temperante do remorso, por que não também os nossos servidores públicos, apenas momentaneamente confusos quanto ao papel que lhes cabe desempenhar numa República democrática moderna?
Pandemia de coronavírus fez com que a ciência passasse a ser tratada como dogma, sem perguntas.| Foto: UEM/Divulgação
O neurologista que me tratou quando bati a cabeça no chão, há alguns anos, dr. Régis Tavares, me contou que ensinava seu filho de quase cinco anos o que é combustível: a gasolina que faz o carro andar, o sol que dá vida às plantas, o gás que produz calor no fogão, o alimento que faz a pessoa se mover. O menino o interrompeu e perguntou qual é o combustível do cérebro. Antes que o pai neurologista falasse em livros, foi surpreendido com a genial resposta do próprio filho:
O combustível do cérebro são as perguntas.
A resposta fez o dr. Régis recordar quantas perguntas modificaram o mundo e constatar que nesses dois anos de pandemia o que se viu foi o contrário: não questione a ciência, obedeça a ciência, não pergunte. Pobre ciência. Foi transformada pela mídia, pela CPI, em dogma, só com certezas, sem dúvidas, sem perguntas. O que não admite experiência, contraponto, dúvida, perguntas, não é ciência, é questão de fé, como se demonstra na repetição de jaculatórias na mídia e de autos de fé nas inquisições da CPI.
Dizer que um conhecimento é inquestionável é ser menos científico do que duvidar dele – conclui o neurologista, estudioso dos neurônios, das sinapses e do comportamento humano que é gerado no cérebro. O humano limitado, diante do universo infinito, tem a arrogância de querer limitar a verdade. Ainda há infinitas perguntas a serem perguntadas ao nosso cérebro, para que ele pense e busque. Quem tem a verdade definitiva, parou de perguntar, parou de descobrir, parou de evoluir. Parou. Sem combustível. Pane seca.
E isso tem a ver com a política, porque sofremos uma campanha para aceitarmos o pensamento pronto, verdade pronta – infelizmente desde a universidade, onde deveriam estar as luzes que nos levariam a buscar mais luzes no horizonte infinito. O lobo totalitário pode estar camuflado de cordeiro da ciência. A conspiração do não-pensar, não-perguntar é a conspiração do domínio, do totalitarismo, porque o pensar, o perguntar, faz cada um de nós um mundo – e querem que cada um de nós seja apenas um servidor, ou escravo, de um mundo único, do consenso, com resposta única, sem perguntas. Você, leitor, se pergunte, se o que você pensa é mesmo seu ou o estão algemando em respostas sem que você possa duvidar e perguntar. Não dispense o combustível de seu cérebro.
Essa é uma daquelas peças que a vida nos prega: nunca imaginei que um dia escreveria um texto sobre absorventes.| Foto: Bigstock
O absorvente higiênico feminino está na moda. Tudo porque uma deputada ingenuamente acreditou numa pesquisa que dizia que 25% das meninas faltam às aulas por não terem dinheiro para comprar o produto. A deputada, ela própria uma consequência da política-de-slogans que faz a cabeça dos jovenzinhos, passou a ser uma ativista de uma causa improvavelmente batizada de “pobreza menstrual”.
O assunto tomou conta das redes sociais. E o presidente Jair Bolsonaro, antes vilão por causa de um sem-número de declarações infelizes (outro dia mesmo ele disse “bom dia”. Veja só que absurdo!), agora também é vilão por vetar uma lei proposta pela deputada (que, curiosamente, não é filiada ao PCdOB) que previa a distribuição de absorventes a meninas pobres, para que elas não faltassem às aulas.
(Aliás, me permita abrir um parêntese aqui para contar que outro dia vi uma matéria daquelas bem sentimentais, mas bem sentimentais mesmo, com pianinho deprimente e tudo, e que mostrava a miséria em algum rincão do país. Por insondáveis motivos, o jornalista decidiu incluir o termo “pobreza menstrual” na matéria. De tão absurdo, o termo chamou minha atenção. Ergui os olhos para a TV e encontrei na tela a figura de uma moça muito pobre, numa favela. Com os braços cheios de tatuagem e o indefectível celular na mão, ela reclamava da falta de comida e absorventes).
Nessa balbúrdia toda envolvendo absorventes, o antibolsonarismo psicótico deu as caras, provando ser um vírus social que não poupa nem mesmo os mais liberais. Pois não é que teve libertário defendendo a distribuição de absorventes – e ainda por cima dizendo que essa distribuição é gratuita? Na hora de ir contra o presidente, os liberais de ocasião passam por cima de Mises sem a menor vergonha. Afinal, se julgam livres também para isso.
Absorventes e líquido azul O resultado é que agora todo mundo tem uma opinião sobre menstruação. Até eu, que nunca tive opinião sobre o assunto e sempre me resignei a passar o pacote de absorventes alheio pelo caixa do supermercado com aquele constrangimento típico dos homens nessa situação. De repente, não menos do que de repente, me vi aqui pensando até no vocábulo que, não sabem os novinhos e novinhas, é bem recente.
“Absorvente”, para mim, sempre foi sinônimo de Modess. Ou melhor, modess – a letra minúscula indicando a transição da marca ao vernáculo popular, como acontece com a gilete. Modess era palavra dita entre sussurros, pelas mulheres, e entre o riso e a ignorância constrangida, pelos homens. Era aquela coisa que eu, criança, sabia que existia, mas não tinha a menor ideia de para que servia. Até uma fatídica aula de ciências na escola, quando tudo então ficou mais ou menos esclarecido.
Aliás, a própria palavra “menstruação” é algo que escrevo constrangido. E não porque me falte lugar de fala. Não estou nem aí para lugar de fala. Não acredito em lugar de fala. Enquanto eu tiver coordenação motora para escrever e o São STF permitir, pretendo poder escrever sobre tudo. Nem que seja para falar bobagem. E, se for bobagem, ao menos que desperte o riso em alguém. Mas eu falava sobre o constrangimento de escrever a palavra “menstruação”. O que mesmo eu pretendia falar sobre isso?
Sei lá. Só sei que outro dia mesmo estava me lembrando de uma das poucas aulas que tive na faculdade de Comunicação. Se não me falha a memória falha, era uma aula de Teoria da Comunicação e o professor falava sobre as propagandas de absorventes, digo, modess, que naquela época usavam sempre um líquido azul para demonstrar o poder de absorção do equipamento. “Eles jamais usariam um líquido vermelho, porque as pessoas teriam nojo disso”, disse o professor. Que pode muito bem ter sido uma professora. Realmente não lembro. Qual não foi minha surpresa, então, ao descobrir que em 2017 uma empresa britânica mandou às favas os escrúpulos menstruais e passou a veicular um comercial que usava sangue?!
Deixando as questões cromáticas de lado, resta-nos rir do comunismo ginecológico de Tabata Amaral. Rir do fato de ele se basear em estatísticas suspeitas. Rir da premissa falsa de que o Estado deve prover tudo, inclusive artigos de higiene pessoal. Rir da ideia de que o Estado é capaz de fazer isso de uma forma minimamente eficiente. Rir até da “generosidade” da indústria, sempre disposta a colaborar com causas sociais, desde que elas envolvam dinheiro público. E, por fim, rir da sinalização da virtude dos oportunistas de sempre – os mesmos que correrão para dizer que não tenho lugar de fala para escrever sobre o assunto.
O procurador da República Deltan Dallagnol.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
No ritmo atual de demolição de todas as conquistas obtidas pela Operação Lava Jato, não demoraria muito para que os bandidos fossem formalmente transformados em vítimas e os defensores da lei terminassem no banco dos réus, condenados. É o que o Tribunal de Justiça de Alagoas acaba de fazer ao determinar que o procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da (agora extinta) força-tarefa da Lava Jato, indenize o senador Renan Calheiros (MDB-AL) em R$ 40 mil por danos morais, devido a tuítes de Dallagnol publicados antes da disputa pela presidência do Senado, no início de 2019.
O Judiciário do estado onde Calheiros fez sua carreira política não é a primeira arena onde o procurador e o senador se enfrentaram. O mesmo episódio já havia levado o alagoano a reclamar ao Conselho Federal do Ministério Público, que em setembro de 2020 aplicou uma vergonhosa pena de censura a Dallagnol, endossando uma série de falácias defendidas pelo relator do processo no CNMP. Aquele julgamento chegou a ser suspenso em uma decisão exemplar do então ministro do STF Celso de Mello (depois revertida por Gilmar Mendes, aproveitando-se de licença médica do colega de corte), cujas palavras precisam ser repetidas neste momento triste para a liberdade de expressão no Brasil.
Um servidor de trajetória exemplar é condenado por simplesmente exercer um direito constitucional, por ter apenas emitido opiniões que irritaram um senador que, mesmo sem ter estatura moral alguma, ainda é um dos “donos do poder” da República
Celso de Mello lembrou que a liberdade de expressão “destina-se a proteger qualquer pessoa cujas opiniões possam, até mesmo, conflitar com as concepções prevalecentes, em determinado momento histórico, no meio social ou na esfera de qualquer instituição, estatal ou não”. Tal garantia impede que essa pessoa sofra “qualquer tipo de restrição de índole política, de caráter administrativo ou de natureza jurídica, pois todos hão de ser igualmente livres para exprimir ideias, ainda que estas possam insurgir-se ou revelar-se em desconformidade frontal com a linha de pensamento dominante”.
O decano, entretanto, não parou por aí: lembrou que “a crítica dirigida a pessoas públicas (como as autoridades governamentais, os candidatos ou titulares de mandatos eletivos), por mais acerba, dura e veemente que possa ser, deixa de sofrer, quanto ao seu concreto exercício, as limitações externas que ordinariamente resultam dos direitos de personalidade” e, tratando especialmente da liberdade de expressão dos membros do Ministério Público, deixou muito claro que “qualquer medida que implique a inaceitável proibição ao regular exercício do direito à liberdade de expressão dos membros do ‘Parquet’ revela-se em colidência com a atuação independente e autônoma garantida ao Ministério Público pela Constituição de 1988”.
As acertadíssimas palavras de Celso de Mello mostram claramente o absurdo da decisão tanto do CNMP (que se encaixaria na “restrição de caráter administrativo”) quanto da Justiça alagoana (na definição de “restrição de natureza jurídica”). Afinal, Dallagnol nada mais fez que, em um primeiro tuíte, defender o voto aberto na eleição para a presidência do Senado e, em outra mensagem, afirmar que, “se Renan for presidente do Senado, dificilmente veremos reforma contra corrupção aprovada”, pois o alagoano “tem contra si várias investigações por corrupção e lavagem de dinheiro” – o que é a mais pura verdade, tanto sobre os processos e investigações contra Calheiros (fato público e notório) quanto sobre a possibilidade real de retrocesso no combate à corrupção caso o Senado caísse nas mãos de um dos grandes patrocinadores da Lei de Abuso de Autoridade.
O fato fundamental é que, objetivamente, não existe nenhum tipo de injúria nos tuítes de Dallagnol. Trata-se, única e exclusivamente, de crítica motivada pelo interesse público, já que centrada no futuro do combate à corrupção no Brasil. Confundir crítica com injúria é erro primário que revela extremo desconhecimento tanto da lei quanto da jurisprudência brasileiras, que jamais viram em críticas como as feitas por Dallagnol algo ilícito ou que desse margem a indenizações por dano moral. E, se estamos apenas diante de uma manifestação de opinião sem injúria alguma, todo o resto se torna completamente irrelevante, incluindo a própria veracidade ou não das opiniões, já que não cabe ao Judiciário aferi-la, e o alegado dano à reputação de Calheiros “perante terceiros, notadamente seus eleitores”.
Após a derrota de Calheiros naquele fevereiro de 2019, a Gazeta do Povo afirmou que, quando ele perde, o Brasil ganha. Pois o inverso também é verdadeiro: o país perde quando Calheiros ganha. Neste caso, perde porque um servidor de trajetória exemplar, que contribuiu de forma decisiva para desmontar o maior escândalo de corrupção da história do país, é condenado por simplesmente exercer um direito constitucional, por ter apenas emitido opiniões e lembrado verdades que irritaram um senador que, mesmo sem ter estatura moral alguma, ainda é um dos “donos do poder” da República. A “vingança dos corruptos”, na certeira expressão de Luís Roberto Barroso quando votou contra a suspeição de Sergio Moro, continua.
Plenário do Senado: governo quer a aprovação da reforma do Imposto de Renda (IR), da privatização dos Correios, da PEC dos precatórios e negocia emendas parlamentares para essas votações| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
A reforma administrativa não é a única pauta que pode obrigar o governo a negociar com a base governista emendas parlamentares não impositivas — as chamadas emendas extras, que não são de execução obrigatória no Orçamento. Outras matérias listadas como prioritárias também estão no radar, a exemplo da chamada PEC dos precatórios, a privatização dos Correios e a reforma do Imposto de Renda (IR).
A privatização dos Correios e a reforma do IR são duas pautas impopulares que tramitam no Senado, onde o governo está em “débito” com a base, que é menos sólida em relação à construída na Câmara. Para aprovar as duas matérias, o Planalto foi avisado que teria de quitar compromissos pendentes.
Para a privatização dos Correios, um emissário do governo se reuniu com senadores esta semana para pedir o apoio à aprovação e avisar que emendas seriam destravadas. E a expectativa de senadores é que o mesmo ocorra em relação à reforma do IR, onde a rejeição também é grande.
Dos R$ 16,9 bilhões previstos no Orçamento de 2021 às emendas de relator, R$ 6 bilhões de recursos empenhados — a etapa que abre o caminho para o pagamento às bases eleitorais — foram liberados até a última sexta-feira (1º), segundo revelou o jornal O Estado de São Paulo. A Gazeta do Povo confirmou a informação com senadores.
Na Câmara, a PEC dos precatórios, a 23/2021, que permite o parcelamento das dívidas do setor público reconhecidas pela Justiça e abre espaço orçamentário para a ampliação do Auxílio Brasil, é outra que deputados da base vão tentar tirar alguma fatia do Orçamento justamente sabendo da resistência da oposição e do quanto ela é cara para as aspirações políticas e eleitorais do governo.
Como o governo ficou tão dependente da liberação de emendas parlamentares A cobrança da base governista pelas emendas parlamentares extras é atribuída por lideranças político-partidárias no Congresso e até por interlocutores do governo como um sinal de fragilidade. Aliados entendem que o presidente Jair Bolsonaro ficou muito dependente do Centrão e calculam que, para apoiar um governo politicamente debilitado em um ano pré-eleitoral, terá que ser por um bom “preço”.
O cálculo feito por congressistas da base mais fisiológica e menos fiel a Bolsonaro é que, além do desgaste no combate à pandemia, o governo também se mostra fragilizado pela alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do gás de cozinha e dos combustíveis. Para parlamentares, isso corrói o capital político e social de Bolsonaro.
A análise feita por lideranças partidárias é de que o presidente da República estagnou em uma taxa de popularidade de 20% e 22%, segundo as mais recentes e diferentes pesquisas eleitorais. A faixa, explicam, não é muito diferente do que tinha Bolsonaro antes do atentado sofrido nas eleições de 2018.
Com a leitura de que Bolsonaro ficou preso ao eleitorado bolsonarista e não consegue mais absorver os votos do eleitor médio, integrantes da base entendem que o momento é oportuno para barganhar emendas e cargos. Sobretudo diante das articulações pela construção de uma terceira via e pelo surgimento do União Brasil, o partido que nasce da fusão entre o DEM e o PSL.
A fragilidade de Bolsonaro ficou ainda mais evidente na opinião de parlamentares após o recuo na crise entre poderes, dias após as manifestações de 7 de setembro. Os partidos políticos começaram a se mobilizar para discutir a abertura de um pedido de impeachment. “O governo entregou toda a articulação e dependência para aprovar qualquer coisa para o PP e PL”, sustenta uma liderança do governo no Parlamento.
“E não existe plano B. Eles vão deixar o Bolsonaro refém até o último dia”, complementa a fonte. A leitura é endossada dentro do governo. “Quanto mais frágil e mais colado ao Centrão um governo fica, mais alto fica o preço [por liberação de emendas] da governabilidade. E já estamos na metade de outubro. A partir de julho de 2022 não libera mais nada”, analisa um interlocutor palaciano. A lei eleitoral veda até mesmo a liberação de recursos impositivos do Orçamento três meses antes do pleito.
Como o governo vai liberar as emendas parlamentares A articulação pela aprovação de pautas com deputados e a liberação de emendas não impositivas é negociada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários, com anuência do ministro-chefe da Casa Civil. Para essas negociações, a proposta é destinar as verbas às bases eleitorais por meio de recursos das emendas do relator do Orçamento de 2022, Hugo Leal (PSD-RJ).
Um deputado da base que integra a Comissão Mista de Orçamento (CMO) confirma as articulações pela liberação de emendas e alerta que o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi avisado por Lira do custo que sairia aprovar tanto a reforma administrativa, que pode custar R$ 6,16 bilhões, quanto a PEC dos precatórios.
“A reforma administrativa é até melhor o Guedes desistir, porque não tem como aprovar. A PEC dos precatórios o Centrão vai querer negociar alto justamente porque a oposição é contrária e abre espaço para o governo aprovar o Auxílio Brasil”, diz o deputado. “O governo se encontra em uma situação que, ou adere ao jogo, ou ‘roda’ no Orçamento. E eles conseguem tirar dinheiro de onde nem poderia. É uma luta inglória que vai custar caro”, complementa.
Já no Senado, o custo orçamentário para destravar a reforma do IR e a privatização dos Correios virá ainda no Orçamento deste ano. Deputados e senadores aprovaram na quinta-feira (7) em sessão conjunta do Congresso o remanejamento de R$ 690 milhões. O valor seria destinado de forma integral ao Ministério de Ciência e Tecnologia, mas o governo remanejou para atender os ministros da Educação, Saúde e Desenvolvimento Regional.
Fontes da CMO dizem que os recursos são para destravar emendas parlamentares extras. Para 28 de outubro, está prevista uma outra sessão do Congresso, onde devem ser votadas outras pautas de remanejamento de recursos para atender às liberações de recursos. Serão votados dois Projetos de Lei do Congresso (PLNs) que, se aprovados, destravarão R$ 4,22 bilhões para realocação orçamentária em diferentes estruturas da máquina pública.
Quais os desafios para o governo aprovar as pautas econômicas Mesmo com a negociação de emendas extras, o governo vai encontrar dificuldades para aprovar as pautas na Câmara e no Senado, avaliam parlamentares. Um dos motivos apontados é a desconfiança sobre o Planalto honrar, de fato, com os acordos desta vez. “O governo oferece os acordos e depois não os cumpre”, critica um senador da base do governo.
Outra reclamação feita por senadores da base é que, na prática, o governo apenas tenta postergar as dívidas. O discurso é de que as emendas que serão destravadas com os remanejamentos orçamentários negociados para as sessões do Congresso pagam apenas parte dos acordos anteriores.
Ou seja, para aprovar a privatização dos Correios e a reforma do IR, o Planalto precisaria se comprometer com negociações futuras, argumentam senadores, e não postergar as dívidas. “Até porque a privatização e a reforma do Imposto de Renda não são matérias fáceis de passar”, alerta um segundo senador da base. Na reunião em que foi tratada a desestatização, um interlocutor do governo disse aos senadores que seriam liberadas emendas ainda dentro do Orçamento deste ano em apoio aos votos pela matéria.
Senadores alertam, ainda, para a falta de articulação do governo em convencer os parlamentares. “Emenda não compra todo mundo. A grande maioria não se vende por emenda”, alerta. O Planalto alega, contudo, que apresentou materiais com defesas à reforma do IR e um contendo “10 razões para privatizar os Correios”.
O argumento no Planalto é de que pautas com potencial de ampliar a arrecadação receberão atenção prioritária. No caso da PEC dos precatórios, a redação limita pagamento ao valor pago em 2016, com correção pela inflação, e reduz de R$ 89 bilhões para R$ 40 bilhões a serem pagos dentro do teto de gastos.
Outro ponto de resistência apontado por parlamentares é o constrangimento de apoiar pautas impopulares apoiadas por Guedes, sobretudo a reforma do IR, que tributa lucros e dividendos. Isolado pelo Congresso, o ministro da Economia foi convocado pela Câmara para prestar informações sobre manter US$ 9,55 milhões na conta de uma sociedade offshore controlada por ele.
“Não há clima para votar a reforma do IR. O projeto é polêmico, esse negócio de cobrar dividendos já não interessava a muitos senadores e agora, com essa história de offshore, não tem como votar”, critica um senador. A análise feita por outro é que o Planalto vai ficar dependente da liberação de emendas para aprovar a matéria.