sexta-feira, 8 de outubro de 2021

APAGÃO DA TECNOLOGIA ESSA SEMANA

 

  1. Cultura 

A segunda-feira, 4 de outubro de 2021, ficará na história como um novo 11 de Setembro?

Ignácio de Loyola Brandão, O Estado de S.Paulo

Para Laine Milan

Aí, um poder superior (qual?) disse: Haja apagão. E houve. E todos viram que o apagão era ruim. E o poder superior (qual?) dividiu o apagão entre WhatsApp e Facebook. E houve choro, convulsões e desespero. Todos perplexos, atemorizados, sacudiam seus aparelhos inertes. Sempre achamos que uma sacudidela resolve. Teria tudo acabado naquela segunda-feira? Morreu o WhatsApp? Como viver? Suportar? A própria pandemia pareceu uma gripezinha, como dizia o destemperado. As pessoas, estupefatas, murmuravam: isso é impossível. Tão absurdo como acabar com o desmatamento no Amazonas ou o ministro da Educação conseguir somar dois mais dois. 

Whats
A segunda-feira, 4 de outubro de 2021, ficará na história como um novo 11 de Setembro?  Foto: Dado Ruvic/Reuters

As pessoas sacudiam os celulares, batiam na mesa. Bater é outra esperança. Ligavam e desligavam. Olhavam com carinho, como se aos aparelhos faltasse amor. Ou contemplavam com ódio – porque o ódio explode fácil dentro de cada um – como se o aparelho fosse o culpado, estivesse se vingando de ser condutor de tantas palavras fúteis, mensagens, memes, msm, tuítes, idiotias, rancores, desamores. Ligavam, desligavam. É sempre uma esperança. Andavam para lá e para cá, crendo que era um problema de internet e procuravam um cantinho onde pudessem conectar. Não estar conectado, ai meu Deus, que horror, solidão! Andavam sem rumo buscando onde estava o sinal. Todos conhecemos esta investigação cheia de ansiedade. O sinal, o sinal…

A segunda-feira, 4 de outubro de 2021, ficará na história como um novo 11 de Setembro? Como a bomba sobre Hiroshima? Como a separação do Brad Pitt e da Angelina Jolie? Como um grupo de cafonas comendo pizza numa calçada? Como a Paolla Oliveira mostrando a calcinha em uma live? 

O sinal, cadê o sinal? Não pegava em lugar nenhum. Alguns pediam o celular da mulher (que negava), do marido (que negava, apavorado), da filha, do genro, do neto, da ex-mulher, do ex-marido, do guarda da esquina. Nada. Ainda existem guardas da esquina ou denunciei minha idade? Minha neta Stella me diz: agora é vigilante, vô! Não há mais netos sem celular. Não há netos que não orientem os avós, eu inclusive. Todos se indagavam: o que fazer? O que vai ser de mim? O que vai ser de ti? O que vai ser do meu trabalho? De minha família? De minhas relações? A quem invocar? A quem telefonar? Quem sabe o que está acontecendo? Como saber? Porque quem costuma nos dizer o que acontece é exatamente o celular. Não adianta perguntar: Google, me diga… Nem Siri, me diga… Uns foram ao vizinho e o vizinho não sabia. Desceram à rua e foram à padaria, ao supermercado, à praça, às lojas. Todos tinham nas mãos seus aparelhos inúteis. As marcas mais procuradas, sabe-se lá de quantos milhares de megabits – ou o que seja – indiferentes. 

O desespero começou a se espalhar. O grande comunicador estava calado, ninguém ligava ninguém recebia. Sensação de impotência crescendo. O pânico invadindo cada casa, escritório, departamento, repartição, empresa, igreja, bar, motel, armazém, banco, farmácia, consultório, banheiro, privada. As pessoas emudeceram também, porque não sabem mais conversar frente a frente, a comunicação só se faz pelo aparelho. Peste? Praga? Castigo de Deus? Houve quem dissesse: Deus não existe. Caíram de pau em cima. Como não?, vociferavam. Não sabem que a pátria está acima de tudo e Deus acima da pátria? Não. Nada disso. É um problema mecânico, celular é um ser muito novo, tem seus ataques, chiliques, momentos de mau humor, depressão, insatisfação. Ninguém se lembrou de algo que está relegado ao olvido. Demais esta, hein! Olvido. O fone fixo, o direto, aquele que hoje serve aos telemarketings. Quanto a mim, estive tranquilo. Não uso WhatsApp. Não sei. Aviso aos amigos. Não me mandem WhatsApp. Nem olho. Tem quem me diz: você não sabe o que está perdendo. Sei, todo mundo louco na segunda-feira, dia 4, menos eu, Calmo, calmíssimo. Já olhei por toda parte, todas as gavetas, armários, bolsos. Não falta nada. Mas li que nas contas de um sujeito chamado Zuckerberg estão faltando seis bilhões. Alguém ficou com pena, se chateou, ficou sem dormir? 

É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ZERO’ E ‘NÃO VERÁS PAÍS NENHUM’

DOIS JORNALISTA GANHAM O PRÊMIO NOBEL DA PAZ DE 2021

 

  1. Internacional 

Jornalistas foram premiados por ‘sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia’, o que é uma ‘precondição para a democracia e paz duradouras’, anunciou a Academia Real das Ciências da Suécia

Redação, O Estado de S.Paulo

OSLO – O Prêmio Nobel da Paz de 2021 foi concedido nesta sexta-feira, 8, para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela “contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países”.

A academia afirmou que Ressa e Muratov receberam o Nobel da Paz “por sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia” e que a liberdade de expressão “é uma condição prévia para a democracia e para uma paz duradoura”.

Ressa Muratov Nobel da Paz 2021
Ilustração mostra Maria Ressa e Dmitry Muratov, vencedores do Nobel da Paz de 2021  Foto: Reprodução/Prêmio Nobel

“[Os laureados] são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”, afirmou a entidade responsável pelo prêmio Nobel.

“O jornalismo gratuito, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra. O comitê norueguês do Nobel está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a garantir um público informado”, afirmou a instituição.

A academia sueca disse também que “esses direitos são pré-requisitos essenciais para a democracia e protegem contra guerras e conflitos” e que o prêmio para os jornalistas “visa sublinhar a importância de proteger e defender estes direitos fundamentais [a liberdade de expressão e informação]”.

“Ressa usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo em seu país natal, as Filipinas”, descreveu a academia sueca. Ela é cofundadora da Rappler, uma empresa de mídia digital de jornalismo investigativo. “Liberdade de expressão e de informação são fundamentais para o funcionamento da democracia e para evitar guerras e conflitos”, afirmou a Academia.

Dmitri Muratov é editor-chefe do jornal Novaya Gazeta, um dos poucos veículos na Rússia críticos do governo do presidente russo Vladimir Putin. Seis jornalistas que trabalhavam no Novaya Gazeta foram assassinados em situações suspeitas. 

O Kremlin saudou nesta sexta-feira a “coragem” e o “talento” do jornalista Dmitri Muratov , pela sua luta pela liberdade de expressão como chefe do principal diário da oposição russa.

“Felicitamos Dmitri Muratov. Trabalha incansavelmente seguindo os seus ideais, agarrando-se a eles. Ele é talentoso e corajoso”, disse o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, aos jornalistas.

Os dois jornalistas ajudaram a fundar veículos de comunicação independentes em seus países e vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões). PARA ENTENDERGuia para entender o prêmio Nobel da PazVeja como a honraria foi criada e os nomes cotados para este ano

Quem é Maria Ressa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2021

Jornalista há mais de 35 anos, a filipina Maria Ressa, de 58 anos, é conhecida por ser co-fundadora do Rappler, principal site de notícias que lidera a luta pela liberdade de imprensa nas Filipinas e combate à desinformação. À frente da Rappler, Maria Ressa tem enfrentado constante assédio político e detenções pelo governo populista de Rodrigo Duterte.

Em uma entrevista ao Rappler logo depois de ganhar o prêmio, Ressa afirmou que o mundo precisa se unir no combate à desinformação. “O mundo deve se unir como fez após a 2ª Guerra para resolver esse problema. O que eles fizeram? Eles criaram as Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este é o tipo de momento que requer isso, e não sei como nós, nas Filipinas, teremos integridade nas eleições se não forem colocadas grades de proteção em torno das plataformas de mídia social”, disse Ressa. 

Na entrevista, Ressa explica como as mídias sociais minaram a confiança das pessoas nos fatos: “Nada é possível sem fatos. Mesmo que os fatos sejam realmente enfadonhos, tudo começa com uma realidade compartilhada que é definida pelos fatos. O que vimos é que, à medida que os jornalistas perdiam seus poderes para as plataformas de tecnologia, tudo isso foi embora quando a tecnologia assumiu a função de guardiã das informações. Essa é uma crise existencial não apenas para jornalistas ou a democracia filipina, mas globalmente. O que aconteceu em nosso ecossistema de informação, esse vírus da mentira que foi introduzido por algoritmos de plataformas de mídia social, infecta pessoas reais e as muda, é como a explosão de uma bomba atômica.”

 “Desde 2016 eu digo que estamos lutando pelos fatos. Quando vivemos em um mundo onde os fatos são discutíveis, onde o maior distribuidor de notícias do mundo prioriza a disseminação de mentiras misturadas com raiva e ódio, e os espalha mais rápido e mais longe do que os fatos, então o jornalismo se torna ativismo”, disse Ressa. https://www.youtube.com/embed/zm3UvvyD2Xc?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Finternacional.estadao.com.br

“Essa é a transformação pela qual passamos no Rappler … Como fazemos o que fazemos? Como os jornalistas podem continuar a missão do jornalismo? Por que é tão difícil continuar contando à comunidade, ao mundo, quais são os fatos? Na batalha dos fatos, isso mostra que o comitê do Prêmio Nobel da Paz percebe que um mundo sem fatos é um mundo sem verdade e confiança. Se você não tem nenhuma dessas coisas, certamente não pode vencer o coronavírus, a mudança climática … Tenho repetido isso várias vezes, é como Sísifo rolando a rocha morro acima.”

Antes de fundar o Rappler, Maria tem no currículo quase uma década dedicada ao trabalho de repórter investigativa da CNN, com ênfase no terrorismo no Sudeste Asiático. Ela ainda fundou e dirigiu o escritório de Manila da CNN por 9 anos antes de abrir o escritório em Jacarta da rede, que dirigiu de 1995 a 2005. 

Maria Ressa se prepara para pagar a fiança da acusação de “difamação cibernética". “Paguei fianças mais caras que Imelda Marcos", disse ela.
Maria Ressa se prepara para pagar a fiança da acusação de “difamação cibernética”. “Paguei fianças mais caras que Imelda Marcos”, disse ela. Foto: Alecs Ongcal/EPA, via Shutterstock

Em 2018, Maria Ressa foi nomeada a Personalidade do Ano de 2018 pela revista Time Magazine, esteve entre as suas 100 Pessoas Mais Influentes de 2019, e foi também nomeada uma das Mulheres Mais Influentes do Século do Time, entre outros.

Entre os prêmios, Maria Ressa já recebeu o “Caneta de Ouro da Liberdade da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias”, o Prêmio Internacional de Jornalismo Knight do Centro Internacional de Jornalistas e o Prêmio Sergei Magnitsky de Jornalismo Investigativo.

A história de Ressa é contada em um documentário, Mil Cortes (A Thousand Cuts), da diretora Ramona S. Diaz, que narra a vida da repórter investigativa deesde sua passagem pela CNN no sudeste asiático até a fundação do Rappler, e sua luta para defender a liberdade de imprensa e a democracia nas Filipinas.https://www.youtube.com/embed/Gy_gWR0dEpY?enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Finternacional.estadao.com.br

Quem é Dmitri Muratov, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2021

Dmitry Muratov, de 59 anos, é o fundador e editor-chefe do Novaya Gazeta, jornal crítico ao governo e com influência nacional da Rússia.

Em 2007, Muratov ganhou um Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa do Comitê para Proteção dos Jornalistas. A honraria é atribuída a profissionais que demonstrem coragem na defesa da liberdade de imprensa face a ataques, ameaças ou prisões.

Muratov Nobel da Paz
Dmitri Muratov, editor do veículo de oposição a Putin, Novaya Gazeta  Foto: AP Photo/Alexander Zemlianichenko

Em 2010, o jornalista recebeu a ordem da Legião de Honra, a mais alta condecoração da França, no grau de Cavaleiro. 

Novaya Gazeta é reconhecido pelas investigações sobre questões sensíveis ao país, como a corrupção, violações dos direitos humanos e abuso de poder. Por esses motivos, tem pagado um preço muito caro na Rússia: três dos seus repórteres foram mortos desde a fundação, em 1993. A mais recente vítima foi a jornalista de investigação Anna Politkovskaya.

No início dos anos 90, Muratov e cerca de 50 colegas começaram o Novaya Gazeta com o objetivo de criar “uma publicação honesta, independente e rica” que iria influenciar a política nacional. 

O plano era ambicioso, considerando que o grupo tinha apenas dois computadores, uma impressora, duas salas e pouco dinheiro para salários. Um impulso inicial veio justamente do Nobel da Paz. Isso porque, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev, doou parte do seu prêmio de 1990 para pagar a compra de computadores e salários do jornal.

Outros premiados com o Nobel da Paz

No ano passado, o laureado foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, “por seus esforços para alcançar a paz e a cooperação internacional, principalmente por sua iniciativa decisiva destinada a resolver o conflito na fronteira com a Eritreia”.

Em 2018, a jovem yazidi Nadia Murad e o ginecologista congolês Denis Mukwege ganharam o Nobel da Paz por seus esforços contra o uso da violência sexual como arma de guerra. No ano anterior, ganhou a Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares, por chamar a atenção para as consequências do uso do armamento e chegar a um acordo pelo fim das armas nucleares. 

Em 2017, em razão de seus esforços para obter um acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos levou o prêmio.

Algumas das grandes surpresas incluem a paquistanesa Malala Yousafzai, que recebeu o prêmio em 2014, aos 17 anos, “pela luta contra a opressão das crianças e dos jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”. Ela se tornou a pessoa mais jovem a receber o Nobel.

Outra grande surpresa, muito contestada à época, foi a escolha, em 2009, do então presidente american Barack Obama, agraciado  por seus “esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos”. 

Desde a última segunda-feira, o Nobel já divulgou os laureados das categorias de Medicina,Física,Química e Literatura. 

 

Como funciona o Nobel da Paz

O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de se criador, o inventor sueco Alfred Nobel. Ele é lembrado como o patrono das artes, das ciências e da paz que, antes de morrer, no limiar do século 20, transformou a nitroglicerina em ouro.

O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel,  composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 5 milhões).

Indicar uma pessoa a um prêmio Nobel é relativamente simples. O comitê organizador distribui (e fornece em seu site) formulários para centenas de formadores de opinião.  PARA ENTENDERDe Hitler a Michael Jackson, veja alguns candidatos inusitados ao Nobel da PazEm seus quase 120 anos de existência a premiação tem sua cota de candidaturas pouco prováveis, exageradas ou claramente absurdas

As fichas com as sugestões são enviadas até o fim de janeiro de cada ano e então cada uma delas é avaliada até outubro, quando os vencedores são anunciados. Ao longo desse processo, a lista é reduzida para uma versão menor, com no mínimo cinco e no máximo 20 nomes, que são revisados. Os jurados debatem essa lista e buscam alcançar o consenso – quando ele não acontece, a escolha se dá por votação.

A entrega dos prêmios ocorre em dezembro. Mas pode acontecer de o comitê decidir que ninguém mereceu vencer o Nobel da Paz naquele ano – a honraria não foi entregue em 20 ocasiões, a mais recente delas em 1972.

Ate hoje, cinco vencedores não puderam participar da cerimônia em Oslo. Em 1936, o jornalista e pacifista alemão Carl von Ossietzky estava em um campo de concentração nazista. Em 2010, o dissidente chinês Liu Xiaobo foi preso e, portanto, sua cadeira, na qual o prêmio foi depositado, ficou simbolicamente vazia. Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prêmio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor./AP, AFP e REUTERS

PESSOAS INOVADORAS SÃO MUITO IMPORTANTES NAS EMPRESAS

 

*Por Renata Horta, Diretora de Inovação e Conhecimento da Troposlab

Existem diversos fatores que influenciam na capacidade de uma empresa gerar inovação. Um dos principais, se não o primordial, é o perfil de colaboradores presentes dentro da organização. Sabemos que, para inovar, é preciso diversificar. A diferença de backgrounds, experiências e tipos de pensamento não somente fomenta a criatividade, como cria um ambiente propício para se encontrar soluções disruptivas. Dentro deste cenário, um tipo de profissional vem cada vez mais chamando a atenção do mercado: os inovadores em série. Já bem conhecido no exterior, sob o termo de Serial Innovators, esses especialistas são capazes de trazer os diferenciais necessários para a inovação radical, criando e comercializando produtos e soluções repetidamente, o que leva à expansão de processos internos e otimização do intraempreendedorismo em companhias que buscam evoluir constantemente.

Ter esse tipo de especialista na empresa pode trazer benefícios a curto e longo prazo para o negócio. Isso porque a geração de inovações radicais trazem disrupção ao mercado, além da criação de diferencial competitivo, o que leva, consequentemente, ao aumento da performance financeira e o engajamento dos outros colaboradores a se dedicarem ao tema. Lembramos que tudo isso começa com uma ideia diferente e criativa, provavelmente uma iniciativa maluca ou fora da caixa, como costumamos ouvir em organizações ainda tradicionais.

Os inovadores em série são aqueles responsáveis por desenvolver novos processos internos que consigam solucionar uma dor latente na empresa de maneira simples e eficaz. Dando seguimento após isso, é possível buscar a conexão e encontrar as redes que irão ajudá-los a pensar holisticamente a partir da perspectiva do cliente, do mercado, do técnico e dos concorrentes. Além disso, eles buscam atingir cinco objetivos principais para gerar inovação em seu ambiente: encontrar um problema interessante, entender o problema completamente, encontrar e validar uma solução para o problema, executar o processo de desenvolvimento formal para tornar a solução um produto vendável, além de criar aceitação do mercado.

Vale lembrar que, uma das habilidades diferenciais deste profissional, cada vez mais valorizada no mundo corporativo, é a técnica de influência. Para conseguir a aprovação do projeto de inovação radical, é necessário clareza e confiança para posicionar estrategicamente bem o projeto, plantar ideias dentro das áreas e mostrar o valor das ideias a partir de dados e informações já coletadas nas fases anteriores. Ele pode desempenhar também o papel de líder, acompanhando as definições e execuções do planejamento.

Com o papel do inovador em série ganhando cada vez mais relevância, é de suma importância que as empresas realizem as transformações estruturais necessárias para não somente atrair, mas formar esse tipo de profissional. Um ambiente pesado e engessado desestimula qualquer pensamento que possa trazer revolução para qualquer negócio.

Assim, entender o caminho que as ideias inovadoras percorrem na empresa é essencial para identificar os gaps e definir melhorias para aumentar a geração de inovação. Toda instituição tem uma cadeia de valor da inovação, pois em todos os lugares as ideias são geradas e percorrem um caminho interno para se desenvolver. Entretanto, muitas ideias morrem antes mesmo de se tornarem um produto ou serviço, o que reforça a importância de identificar colaboradores com potencial de serem inovadores.

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Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

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quinta-feira, 7 de outubro de 2021

POLÊMICA DO AUMENTO DOS COMBUSTÍVEIS

 

Combustíveis

Por
Pedro Menezes – Gazeta do Povo

Imagens do cotidiano de Curitiba numa manhã de frio e chuva – preço dos combustiveis nos postos de Curitiba – preço – combustivel – alcool – diesel – gasolina – posto BR – Petrobras

Gasolina tem sofrido sucessivos reajustes de preço em 2021| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Não é fácil escrever este texto. Imagino, por exemplo, a situação de quem tinha um bom salário há alguns anos, foi demitido e só sobreviveu a duas crises econômicas colossais porque trabalhou como motorista no Uber. Ou o caminhoneiro que se endividou naquele distante período em que a economia crescia por aqui. Estes e muitos outros brasileiros estão desesperados com os preços dos combustíveis, cada vez maiores. Daí vem a dificuldade de escrever esse texto: quase toda a política brasileira promete que o problema tem uma solução simples e meu argumento é justamente que essas soluções simples não existem.

Sei que falar em “quase toda a política brasileira” soa como exagero, mas Lula, Ciro e Bolsonaro lideram grupos políticos que, nas eleições de 2018, tiveram quase 90% dos votos no primeiro turno. Os três vendem ilusões irresponsáveis para um eleitor desesperado. A mesma crítica cabe ao PSOL, a alguns políticos tucanos e ao bloco de parlamentares liderado por Arthur Lira, o poderoso presidente da Câmara. Devo estar esquecendo mais alguém.

Bolsonaro e Lira propõem segurar o preço da gasolina com a redução de impostos. Em especial, fala-se do ICMS, um imposto estadual, o que leva a um conflito com governadores como João Doria. Eduardo Leite tem aproveitado a polêmica para ressaltar que já reduziu o ICMS da gasolina, revertendo aumentos de gestões anteriores, tal como prometido em campanha.

Em bom português, a ideia é beneficiar o pagador de impostos que consome muita gasolina e jogar a conta pro pagador de impostos que consome pouca gasolina. Além do mais, a medida apenas repete um erro antigo da política brasileira, contrariando o liberalismo econômico que Paulo Guedes diz defender. Foi exatamente assim, alterando a estrutura tributária para atender preocupações de curto prazo do eleitor, que o Brasil construiu um dos piores sistemas tributários do mundo.

Lula, Ciro e PSOL, por sua vez, criticam a política de preços da Petrobras. Defendem que a Petrobras deve vender gasolina barata, ignorando variações na cotação internacional do petróleo. Na prática, o efeito é o mesmo da proposta de Bolsonaro: beneficia o pagador de impostos que consome muita gasolina e joga a conta pro pagador de impostos que consome pouca gasolina.

Este fato costuma ser escondido com base num populismo barato contra os “acionistas da Petrobras”, ignorando que o maior desses acionistas é o Estado brasileiro. Quando a ação cai, o patrimônio público se desvaloriza. Quando a Petrobras lucra menos, o governo recebe menos dividendos. Mesmo entre os acionistas privados, há também fundos de pensão que cuidam da aposentadoria de brasileiros comuns.

Mas, mesmo se não fosse este o caso, quem disse que a Petrobras deve tomar decisões contrárias ao interesse dos acionistas minoritários para atender ao acionista majoritário? Se um grande bilionário fizesse o mesmo em sua empresa, todos perceberiam a óbvia injustiça. O abuso de poder econômico deixa de ser abusivo quando liderado pelo Estado?

A situação fica ainda pior por conta da contradição entre o subsídio à gasolina e a preocupação ambiental que esses políticos dizem ter. Nos próximos anos, o Estado inevitavelmente vai desincentivar o consumo para cumprir compromissos climáticos. Para agradar o eleitor, políticos que juram entender a importância deste processo decidem seguir no caminho oposto.

Não estou defendendo que nada deve ser feito. Com um pouco de estabilidade política, o dólar poderia cair, trazendo o preço da gasolina na mesma direção. Sequer argumento contra políticas públicas para ajudar quem está quebrando com o aumento de preços. O problema está na crença de que uma gambiarra conseguirá evitar custos inevitáveis.

Na pior das hipóteses, a gambiarra vai esconder esse custo. Uma política pública minimamente séria deveria entrar no orçamento, dando ao público clareza sobre os custos, além de permitir uma melhor avaliação de impacto e facilitar um desenho inteligente para esse programa.

Em suma, o Estado não precisa consumir recursos para atenuar o problema e, mesmo que este seja o caminho escolhido, a transparência é o melhor caminho. Se a polêmica em torno da gasolina fosse um teste de populismo, quase toda a política brasileira seria reprovada por colocar o interesse eleitoral acima do interesse público.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/pedro-menezes/polemica-da-gasolina-expoe-populismo-generalizado/
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É IMPORTANTE COMBATER A CORRUPÇÃO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Câmara dos Deputados manteve maioria das mudanças na Lei de Improbidade aprovadas pelo Senado.| Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Uma das pautas mais importantes para que o Brasil defina que tipo de nação pretende ser anda, infelizmente, um tanto esquecida, ainda que por razões compreensíveis – e parte dos que ainda se lembram dela, lamentavelmente, anda disposta a miná-la. Falamos, é claro, do combate à corrupção, que em outras épocas levou milhões de brasileiros às ruas, foi tema decisivo em eleições recentes, mas que perdeu ímpeto no imaginário popular, substituído por outras prioridades enquanto era enfraquecido nos corredores de Brasília.

É verdade que temos uma pandemia cruel ainda a vencer, e uma economia repleta de problemas, como o desemprego ainda em níveis altíssimos, uma inflação fora de controle e um câmbio bastante desvalorizado – consequências da pandemia propriamente dita, mas também do descontrole no gasto público. Pode soar estranho, ou até irreal, falar de corrupção e se preocupar com ela quando se está batalhando por um trabalho, contando o dinheiro para as compras do mês ou lutando pela própria vida, ou de parentes e amigos. É compreensível que, no momento atual, o combate à corrupção possa não ser a prioridade de muitos brasileiros; no entanto, isso não pode servir de desculpa para os homens públicos e formadores de opinião, para quem o assunto precisa, sim, permanecer no alto da lista de temas cruciais para o desenvolvimento da nação.

Os corruptores, os corruptos e aqueles que, de uma forma ou de outra, cooperam com a impunidade levam o país à degradação material e moral

O brasileiro tem dado demonstrações de que o tema não está completamente adormecido na opinião pública – basta lembrar, por exemplo, das ondas de indignação popular verificadas, mesmo durante a pandemia, a cada decisão do Supremo Tribunal Federal que beneficiava corruptos condenados e enfraquecia a Operação Lava Jato, culminando com a absurda anulação dos processos contra o ex-presidente Lula e a igualmente absurda declaração de suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Mas, se os grandes golpes no combate à corrupção seguem revoltando os brasileiros, outros atos mais sutis de demolição vão ocorrendo longe do olhar da população.

É o caso da lei que altera a legislação brasileira sobre a improbidade administrativa, já amplamente analisada pela Gazeta neste espaço. A Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira a votação das mudanças feitas pelo Senado ao texto que já tinha sido aprovado pelos deputados, e já se sabe que os pontos mais criticados pelos especialistas em combate à corrupção estarão mantidos, como a exigência de comprovação do dolo para se configurar a improbidade – eliminando, por exemplo, a responsabilização no casos não intencionais, mas nos quais a negligência, a imprudência ou a imperícia são evidentes –, ou a diminuição do número de atos que se enquadrariam nesta descrição. A Câmara já desfez, por exemplo, uma alteração do Senado segundo a qual o nepotismo resultaria em improbidade sem a necessidade de atestar dolo.


Depois de encerrada a análise das emendas, o texto segue para a sanção do presidente Jair Bolsonaro. Esta seria uma oportunidade de trazer de volta o combate à corrupção ao centro das atenções, com o uso criterioso do poder de veto, para manter os pontos positivos – no caso, os trechos que definem melhor os atos passíveis de ação por improbidade, já que a lei atual é bastante aberta e imprecisa, levando ao “apagão das canetas” – e derrubar tudo o que tiver sido incluído no texto para facilitar a vida dos maus gestores. As bancadas na Câmara e no Senado comprometidas com a lisura na política, assim, teriam um respaldo maior para se mobilizarem no sentido de, posteriormente, conseguirem a manutenção dos vetos e impedir os retrocessos.

Como afirmamos no início deste texto, o combate à corrupção pode não despertar agora o senso de urgência que têm o combate à pandemia e a recuperação da economia, mas ele aponta para o tipo de país que o Brasil deseja ser. Os corruptores, os corruptos e aqueles que, de uma forma ou de outra, cooperam com a impunidade levam o país à degradação material – pois trata-se, sempre, de roubar dinheiro que pertence ao cidadão brasileiro – e moral, quando enviam à sociedade a mensagem de que o crime compensa, e é graças à impunidade que alguns dos maiores ladrões da República não hesitarão em pedir o voto do brasileiro no ano que vem. Frear e reverter essa degradação depende de os brasileiros não perderem de vista a importância de insistir, fiscalizar e cobrar seus representantes, e de não esquecer o mal que os protagonistas dos escândalos passados causaram ao país.


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PERSEGUIÇÃO DA CPI CONTRA O TRATAMENTO PRECOCE

 

Autonomia médica
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília

CPI da Covid criou um canal de denúncias sobre tratamento precoce.| Foto: Pedro França/Agência Senado

A CPI da Covid do Senado aprovou na semana passada a criação de um canal de e-mail para o recebimento de denúncias relacionadas à pandemia de Covid-19 no Brasil. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse via Twitter que o principal objetivo do canal é “receber denúncias de cidadãos a respeito da recomendação e execução de ‘tratamento precoce’”.

Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram

A proposta foi sugerida pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que alegou a necessidade de dar um caráter oficial às denúncias que os senadores têm recebido de forma individual em seus perfis nas redes sociais e por mensagens de celular.

Mas, até o momento, a prescrição de medicamentos para o tratamento precoce da Covid-19 não é considerada irregular por algumas das principais autoridades sanitárias do Brasil, que respaldam a autonomia médica na decisão de uso de alguns medicamentos para tratar os pacientes nos primeiros dias de sintomas da doença.

O Conselho Federal de Medicina (CFM), por exemplo, já deixou claro que, embora não recomende o tratamento precoce, também não atesta sua ineficácia. O seu comitê técnico vem fazendo um acompanhamento atualizado das pesquisas sobre o tema. O presidente do CFM, Mauro Ribeiro – que se tornou mais um dos investigados pela CPI nesta quarta (6) – considera equivocada a ideia disseminada por políticos e meios de comunicação de que este tipo de tratamento seria “comprovadamente ineficaz”.

Já o Ministério da Saúde, que até o fim de 2020 recomendava abertamente o tratamento precoce, deixou de fazê-lo depois que o atual ministro, Marcelo Queiroga, assumiu a pasta em março deste ano. Por outro lado, o ministério nunca afirmou que o tratamento precoce contra a Covid-19 é comprovadamente ineficaz – apenas que drogas específicas associadas a esse tipo de tratamento, como a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina, não têm evidência científica que justifique seu uso.


Se não é crime, tratamento pode ser alvo de denúncia?
Se a prescrição do tratamento precoce não é um crime e se a autonomia médica neste ponto está respaldada por autoridades da saúde, é possível criar um canal de denúncias relacionadas ao tratamento precoce dentro de uma CPI?

Dário Júnior, doutor em Direito Processual pela PUC de Minas Gerais, explica que os senadores tentam enquadrar a receita do tratamento precoce como um tipo de improbidade administrativa. É a mesma linha de atuação do Ministério Público, que abriu inquéritos pelo país acusando de improbidade administrativa autoridades que avalizaram o tratamento precoce e os medicamentos chamados pejorativamente de “kit Covid”.

Em julho, por exemplo, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por “adoção ilegal do tratamento precoce como política pública contra a pandemia”. Em agosto, o Ministério Público do Estado da Bahia abriu uma ação contra a prefeitura de Porto Seguro exigindo que o município pare de distribuir medicamentos usados no tratamento precoce, como cloroquina, hidroxicloroquina, nitazoxanida e ivermectina.

A CPI da Covid estaria seguindo a mesma estratégia, com base no fato de que os tratamentos receitados ainda não têm eficácia totalmente comprovada. “Mesmo não sendo crime, eles podem querer enquadrar isso como improbidade administrativa e excluir o médico dos quadros do SUS ou de hospitais públicos, mesmo com esse respaldo do CFM”, afirma Dário Júnior.

Os médicos que receitam o tratamento precoce, contudo, não estão totalmente desprotegidos. “Se a pessoa fizer uma denúncia e depois o médico conseguir se defender e provar que não infringiu nenhuma norma ou código ético, o denunciante pode ter que responder por perdas e danos”, explica o jurista.

Caça às bruxas contra o tratamento precoce é anticientífica, afirma biólogo
Para Eli Vieira, biólogo geneticista com pós-graduação pela UFRGS e pela Universidade de Cambridge, a caça às bruxas contra o tratamento precoce que ocorre no debate público brasileiro é anticientífica. “São autoridades, políticos e influencers querendo interferir num debate que tem que acontecer dentro da ciência”, diz.

Para ele, algumas drogas utilizadas no tratamento precoce, como a ivermectina, podem ter alguma eficácia para minimizar os sintomas da Covid-19. “Quando eu digo eficácia, não quero dizer que é a panaceia, não. Tem um grupo que atrapalhou todo mundo, que foi o grupo que insistiu que a ivermectina ia dar conta de tudo”, afirma.

Colocar o foco em opiniões como essa para refutar o outro lado, segundo ele, prejudica o debate científico. “As partes desonestas dos debates sempre fazem isto: elas escolhem os piores exemplares do outro lado. É uma atitude de discussão que não é racional, não é produtiva.”

Outro problema, para Vieira, é a noção de que precisaria haver um consenso geral entre cientistas para que o tratamento precoce fosse considerado uma alternativa. “Consensos não são os reis da decisão do que é científico ou não. Quem manda são as evidências. E, por definição, evidências novas não são consensuais, porque a comunidade que pesquisas o assunto não está sabendo totalmente delas. São evidências novas”, diz. “É danoso esse papo de que ‘não há consenso’. E, com isso, não estou querendo dizer que consenso não importa”, acrescenta.

Para o cientista, a ideia de que nada pode funcionar como tratamento precoce para a Covid-19 é uma postura dogmática, e não científica. “Seria o primeiro caso na história de um vírus para o qual não existe nada no nosso arsenal de drogas que possa fazer efeito. Então, essa posição de que todo tratamento precoce está descomprovado, está refutado, é totalmente absurda.”

A visão de que seria necessária comprovação definitiva sobre a eficácia de uma droga, aliás, também carrega um equívoco, destaca ele. “Em ciências empíricas, a gente trabalha com evidências, com acúmulo de evidências. Prova é coisa da matemática e da lógica. Esse papo de comprovação dá uma impressão de certeza, o que não existe. O que a gente faz sempre é comparar: ‘tem mais evidência para isso do que evidência para aquilo’”, explica Vieira.


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LIRA E PACHECO SÃO DOIS PRIMEIROS MINISTROS DO GOVERNO

 


  1. Política
     

Nem o Centrão resolve

William Waack, O Estado de S.Paulo

O parlamentarismo com dois primeiros-ministros é o mais novo evento político “jabuticaba”, aquilo que só existe no Brasil. Os presidentes das duas casas legislativas é que estão lidando diretamente com dois assuntos de enorme e imediato impacto sobre o bolso de todos e de ampla repercussão política: preços dos combustíveis e tamanho dos impostos.

A taxa de sucesso até aqui é baixa. As duas operações lidam com assuntos terrivelmente técnicos e complexos, afetados pelos naturais conflitos de interesses entre os mais variados segmentos, e dependem ainda do entendimento precário entre os entes da Federação, problemão por último evidenciado na pandemia. Mas o fato político expressivo é que a agenda política está nas mãos dos dois primeiros-ministros.

Arthur Lira e Jair Bolsonaro
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco são atrapalhados não só por desentendimentos causados por diferentes objetivos políticos pessoais. Foto: Dida Sampaio/Estadão – 14/9/2021

Sim, o ministro da Economia – sofrendo evidente desgaste político por conta de sua offshore – compareceu a reuniões com os dois primeiros-ministros que incluíam ainda representantes de municípios, Estados e Receita Federal. Pelo menos formalmente o Executivo estava lá, mas os presidentes da Câmara e do Senado deixaram bem claro ao público que são eles os condutores de todos os processos. São eles que se dirigem à população dizendo como e quando pretendem resolver os problemas.

O Executivo tem noção clara do que precisa – arrumar um jeito de sustentar programas assistenciais que, fora o indiscutível mérito de mitigar a miséria de milhões de pessoas, são também ferramentas políticas no esforço de Jair Bolsonaro em se reeleger. Mas ainda não disse exatamente como realizar esses programas, numa exibição espetacular da dificuldade em estabelecer prioridades: é para resolver primeiro o Bolsa Família ou o preço da gasolina?

Tudo está subordinado a esse eufemismo chamado de “espaço fiscal”, que, por sua vez, é função direta de rearranjo de impostos (para não falar em reforma ampla), propostas de emendas constitucionais que tratem de pagamentos de dívidas (os tais precatórios) e intrincadas negociações sobre o próximo orçamento. Os dois primeiros-ministros perceberam que, no fundo, trata-se da velha questão do ovo ou a da galinha.

Para escapar desse falso dilema, os dois primeiros-ministros teriam de puxar um fio da meada, ou seja, proceder ao que o Executivo mostrou-se incapaz de fazer: estabelecer claramente prioridades e arranjar-se com as várias forças políticas e os vários interesses setoriais. É a queixa recorrente de relatores de todo tipo de matéria demandando coordenação e articulação dentro e fora do Legislativo: não entendem muito bem o que pretende o Palácio do Planalto.

Neste ponto, o da agenda política, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco são atrapalhados não só por desentendimentos causados por diferentes objetivos políticos pessoais. Ocorre que os dois primeiros-ministros são, ao mesmo tempo, operadores e vítimas daquilo que o sociólogo Bolívar Lamounier chama de sistema político do “pluricorporativismo” (mascarado de pluripartidarismo), por meio do qual se propaga e se reforça a capacidade “extrativa” das mais diversas corporações.

Podemos chamar isso também de “sistema do Centrão”, que está claramente se consolidando na fusão gigante de DEM e PSL, e na busca dentro dessas forças políticas da alternativa eleitoral ao embate Bolsonaro-Lula. A despeito do que possam dizer as pesquisas de opinião sobre o momento, dando conta do pseudo favoritismo eleitoral de Lula, na visão desses operadores políticos a força e o sentido do eleitorado apontam para o que se chamaria de tendência de “centro-direita” – daí a dificuldade em costurar acordo com o PT.

Bolsonaro teve um pouco atrás a possibilidade de “caminhar para o centro” e ser abraçado eleitoralmente pelo Centrão. Essa oportunidade parece ter sido jogada fora por ele mesmo, que hoje não sabe se receberá um tapinha nas costas pelo fato de ter aberto uma chance inédita de consolidação do poder a esses caciques, agora enxergando a possibilidade de tomar conta eles mesmos do Executivo, e pela via eleitoral. 

Ou se receberá desses caciques um chute nos glúteos, dependendo das circunstâncias.

JORNALISTA E APRESENTADOR DO  JORNAL DA CNN