domingo, 23 de maio de 2021

POSSIBILIDADE DE LANÇAMENTO DE CANDIDATURA DE TERCEIRA VIA EM 2022

 

Eleição presidencial
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília

Renan Santos, coordenador do MBL, durante discurso.| Foto: Divulgação
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A polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) não é um cenário garantido para a disputa presidencial do ano que vem. E, nesse contexto, a candidatura do humorista Danilo Gentili pode ser uma alternativa competitiva de “terceira via”. A análise é de Renan Santos, coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL).

Santos falou com a Gazeta do Povo sobre as metas do movimento e disse ser real a possibilidade de Gentili se candidatar à Presidência da República. “A gente não ia jogar a credibilidade nossa, o projeto no lixo para falar: ‘Ah, eles estão numa brincadeira’. Não estamos numa brincadeira”, declarou.

O nome de Gentili começou a ser cogitado como alternativa após o MBL pedir a inclusão do apresentador de TV como opção em uma pesquisa eleitoral. No levantamento, ele empatou com o governador João Doria (PSDB-SP), com o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e com o também apresentador de TV Luciano Huck.

Santos disse que vê o MBL “bem forte” para as eleições do ano que vem e confirmou a intenção do movimento em lançar o deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei”, como candidato ao governo de São Paulo.

O coordenador do MBL reforça a posição do movimento como antagonista tanto do PT quanto de Jair Bolsonaro, e diz que o governo atual, que considera um “fracasso”, revitalizou as bandeiras defendidas pelo grupo. “O nosso grande teste era sobreviver ao bolsonarismo. E a gente sobreviveu.”

Leia abaixo a entrevista que Renan Santos concedeu à Gazeta do Povo.

O cenário eleitoral para 2022 indica ser pouco provável uma corrida presidencial que não seja liderada por Lula e Bolsonaro, ambos indesejados pelo MBL. Se for assim mesmo, como se posicionará o movimento?

Renan Santos: Eu não acho que seja tão pouco provável assim [uma eleição sem a polarização Bolsonaro-Lula]. As pessoas não estão polarizando com o Lula. O Lula está quieto e os fatos estão beneficiando ele. O Lula está virando um fato dado no segundo turno, praticamente. É um fato dado. Quem não é um fato dado, e justamente é quem corre risco também de ir para o segundo turno, e quem está se polarizando, é o Bolsonaro. O que acontece? O Lula lidera. Mas o Lula não é o governo. Então o Lula está numa posição muito confortável, porque ele não está no centro da discussão. Ele nem sequer está polarizando com o Bolsonaro. Eu acho que vai haver uma polarização contra o Bolsonaro e o que vai haver é uma desconstrução do voto tradicional antipetista, que o Bolsonaro dava como certo e não é mais certo, perante esses caras que vão tentar buscar esse voto. E quem vai buscar esse voto? O Ciro [Gomes], que está fingindo que é de direita, e uma candidatura que espero que surja logo, que tire votos do Bolsonaro. Mas não vejo essa dualidade [Lula x Bolsonaro] como certa.

O MBL está completando sete anos. Qual o balanço o movimento faz de sua trajetória?

Renan Santos: Extremamente proveitoso. A gente conseguiu firmar uma linguagem política clara. No começo, entre 2014 e 2017-18, a gente construiu uma coisa mais aberta e amorfa no campo da direita, que é uma oposição ao petismo, e a imposição de certos valores como a agenda de mercado e o combate à corrupção. Graças ao bolsonarismo, que era a doença dentro do nosso universo político, a gente conseguiu, por conta do contraste com ele, reafirmar nossas verdadeiras qualidades. E criar, aí sim, um nicho político e um fenômeno político de qualidade muito maior, e que é muito mais duradouro do que o que a gente tinha naquele processo que envolveu as manifestações. Eu acho que o mérito nosso, de 2019 para cá, é maior até do que o de 2014-15-16. Porque, via de regra, o Bolsonaro tem a máquina, e ele poderia nos destruir. E ele não conseguiu. E hoje a gente está ajudando a construir uma alternativa, a gente está com nomes que participam do centro do debate público. Todo mundo achou que o MBL já era. Mas o papo tá rolando. E, no ano que vem, a gente vai estar muito bem no jogo, e bem forte.

Se você fosse Bolsonaro, quem indicaria para novo ministro do Supremo Tribunal Federal na vaga de Marco Aurélio Mello?
Augusto Aras, procurador-geral da República
André Mendonça, advogado-geral da União
William Douglas, desembargador do TRF-2
Humberto Martins, ministro e presidente do STJ
Ives Gandra Martins Filho, ministro do TST
João Otávio de Noronha, ministro e ex-presidente do STJ
Quais são, em síntese, as bandeiras e propostas do MBL?

Renan Santos: O MBL trabalha com teses. Mais do que propostas específicas. Quando o Arthur [do Val] concorreu a prefeito [de São Paulo], trouxe um conjunto de propostas para a gestão municipal aqui. E, no campo federal, a ideia nossa de redução da interferência do governo na economia e na vida das pessoas, diminuição da concentração de poder em determinadas lideranças, revisão de pacto federativo, reformas estruturantes, defesa da democracia, ficaram mais atuais que nunca com o fracasso do governo Bolsonaro. Porque ele entrou lá como alguém que representaria essa agenda e ele destruiu ela, aviltou ela. O Bolsonaro fez campanha no segundo turno falando que nós não podíamos deixar o Brasil virar uma Venezuela. Ora, ele está nos “venezuelizando”, e num ritmo insano. “Ah, ele vai fazer reformas.” Mas não anda porcaria nenhuma, em termos de reformas! E isso em todas as outras áreas. Até no combate à criminalidade. Os números da violência e homicídio diminuíram em 2019, e voltaram a subir em 2020. Então toda a agenda que fez parte do processo histórico de 2014-15-16-17-18 está toda em aberto. E o que cabe ao MBL agora é, num termo em inglês, o “cut the bullshit”. Cortar o “bullshit”, o discurso amalucado. Saem também as grandes expectativas, para colocar essas teses dentro de propostas mais pé no chão, mais realizáveis. Porque é isso que a gente tem que olhar. Olhar o que é uma agenda anticorrupção possível; o que é – e eu acho que esse é o grande desafio nosso – criar um modelo de governabilidade que, por se necessitar de coalizão no Brasil, mais sem ser de cooptação. Eu acho que esses são os desafios e as coisas que a gente defende.

A saída do Fernando Holiday é um episódio já superado? [O vereador paulistano Fernando Holiday, que por muito tempo foi um dos principais expoentes do MBL, deixou o movimento em janeiro, por divergir da agenda dele

Renan Santos: Foi “sussa” [sossegado, tranquilo]. Ele quis sair, quis tocar as coisas do jeito dele. Não somos inimigos.

Também falando em episódios antigos: e o caso de Guarulhos? Foi realmente um erro? O que ficou de aprendizado daquilo? [Em abril, Kim Kataguiri e Arthur do Val, além de outros políticos, fizeram um ato de fiscalização no Hospital Geral de Guarulhos. O episódio foi interpretado inicialmente pela Secretaria de Saúde de São Paulo como uma “invasão”, especialmente porque a área visitada tinha pacientes de Covid-19. A pasta depois mudou seu entendimento, mas os membros do MBL publicaram vídeos se dizendo arrependidos do ocorrido.]

Renan Santos: Uma coisa que é importante colocar em perspectiva é que a Secretaria de Saúde depois reconheceu que ninguém tentou entrar lá nas UTIs. A visita foi super pacífica. O que houve foi o seguinte: não queriam deixá-los entrar porque é um comportamento recorrente, o de não querer deixar entrar. E assim, locais públicos, da administração pública, são objetos de fiscalização de agentes públicos. Isso é natural. Um exemplo é: uma semana depois daquela fiscalização, o Arthur foi fazer uma outra fiscalização, em um equipamento público em Santo André, e pegou casos bizarros, de funcionários, de diretores do hospital que mal trabalhavam e já tinham sido vacinados enquanto os funcionários da ponta não eram vacinados.

Ou seja: eles [Arthur do Val e Kim Kataguiri] faziam isso numa boa. Eu sei que tem pessoas que fazem coisas espetaculosas em termos de fiscalização. Mas a gente tem um histórico enorme de visitar equipamentos públicos. Se você procurar no Youtube do Kim, vai achar vídeos e mais vídeos de ele visitando hospitais. O que teve [em Guarulhos] foi que não deixaram entrar; e o Arthur entrou. E aí o pessoal do hospital, com a Secretaria de Saúde, divulgaram o vídeo e deram uma intepretação para o vídeo. E aí depois voltaram atrás. Olhando hoje, o que acho que nós erramos: erramos em nos colocar no risco de sermos mal-interpretados, e num momento em que nós não podemos errar, porque estamos enfrentando o bolsonarismo e o petismo. Então a gente não tem direito de errar. Esse é o ponto.

A candidatura do Arthur do Val ao governo de São Paulo é um processo irreversível?

Renan Santos: É. Ele é um cara que cresce nas pesquisas, um cara que começou as primeiras pesquisas para governador com 4% e pouco, e nas últimas já está com 7,9%. Ele terminou com 10% para prefeito e começou com 1% [Arthur foi o quinto colocado na disputa pela prefeitura de São Paulo no ano passado, com 9,78% dos votos válidos].

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Renan Santos: Preferencialmente. Mas acho que o Arthur tem que ser compreendido no jogo como um agente político em ascensão, sem marcas, com um projeto muito diferente de tudo o que vem sendo tratado aqui no estado de São Paulo. E ele tem que ser tratado dessa forma, inclusive pelos partidos grandes, que ainda querem ficar presos a, por exemplo… “o Alckmin vai sair”, “fulano vai sair”. São Paulo é um estado de vanguarda em muitos pontos. É um lugar que vai estar aberto a novidades. E o Arthur é a novidade nesta eleição.

E para a disputa presidencial? Em termos práticos, o que o MBL tem feito para fomentar a terceira via? Tem conversado com candidatos, se reunido, etc?

Renan Santos: A gente conversa. Até saiu uma matéria na Veja, muito deselegante, não por parte da Veja, mas de quem vazou. A matéria dizia: “O MBL não quer mais fazer reuniões com todos os candidatos da terceira via”. Fui consultado pelo jornalista e disse: “não quer mesmo”. A matéria já demonstra, e deixamos claro, que nós conversamos com eles. E eu deixei claro na resposta que dei que não vai se juntar… o [João] Doria não vai dar as mãos para o [Luiz Henrique] Mandetta, com o [João] Amoêdo, e todo mundo vai cantar no Rubayat [churrascaria frequentada por políticos]. Não vai ter. O que vai ter é: a gente tem que sentar com os candidatos com quem temos afinidades e que tenham apelo e gerem militância. Esse discurso não é o discurso do “presidentaço”. Não é o discurso do Eduardo Leite, não é o discurso do Doria. É um discurso que vem sendo feito por determinados agentes do debate público, e aí eu incluo o Amoêdo e o Danilo [Gentili], com os defeitos e acertos de cada um, que é o mesmo discurso nosso, do Arthur, do Kim, que é um discurso que tem tração e tem demanda. Ninguém está falando: “Taí, eu quero um presidentaço porque estão falando que ele parece o Biden”. A galera nem sabe quem é o Biden. O “presidentaço” não é o Tasso Jereissati, ele não é nada. O Doria, com todo o respeito, se queimou demais. O Mandetta tá lá, diz que conversa com o Ciro, “temos que conversar com a UNE [União Nacional dos Estudantes]”… Que UNE? A UNE já está na campanha do Lula! A UNE tem dono.

Como você avalia a ótica dos partidos tradicionais sobre o MBL? O respeito destinado ao movimento, nos últimos anos, tem aumentado ou diminuído?

Renan Santos: Eu acho que sim [tem aumentado]. A gente não prioriza mais movimentos de rua, só que a gente tem um trabalho institucional bem mais sério, e um trabalho dos parlamentares respeitado. O nome mais óbvio é o do Kim. Eu não conheço estreia de um deputado no Brasil igual à do Kim. Com relatórios aprovados, já está no quarto projeto de lei aprovado na Câmara… Isso para um deputado de dois anos e pouco é assombroso. Com um detalhe: é um parlamentar de oposição ao governo. E a curiosidade que gerou nos políticos em relação ao desempenho do Arthur e à eleição de três vereadores aqui [em São Paulo], sem usar discurso eleitoral, sem discursinho de Partido Novo, e brigando no campo da direita. Isso é uma coisa que todo mundo começa a olhar: “Opa, tem algo aí”.

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Em relação a Danilo Gentili: por que ele, que é um humorista e nunca disputou uma eleição, é visto pelo MBL como uma alternativa na corrida presidencial?

Renan Santos: Vamos entender como a gente enxerga essa lógica. Existe um universo que renega o bolsonarismo e o petismo e, ao mesmo tempo, é legatário do processo histórico que derrubou a Dilma, que fechou a rua pelo combate à corrupção, que convulsionou o Brasil nos últimos anos, e nós somos parte disso também. Entre todos os formadores de opinião e agentes do debate público, o Danilo Gentili é o maior de todos e não se furta de se posicionar o tempo todo sobre isso. A ponto de ser um cara que, um pouco antes de ter seu nome citado para presidente, o Arthur Lira [presidente da Câmara] pediu a prisão dele. A Maria do Rosário [deputada federal pelo PT-RS] também, o que é sintomático.

Ele tem posições políticas extremamente pé no chão, extremamente sensatas. Só que ele não é esse centro, esse “centro de boutique” que estão tentando vender, o “olha como eu sou de centro, como eu gosto de democracia”. Ele é o centro aguerrido de quem está se vendo comprimido entre uma direita aguerrida e radical e uma esquerda radical e dizendo “não quero essa droga pra mim”. É esse discurso que se tem que ter, porque você vai ter que gerar empatia, e gerar aproximação com esse eleitor, que é um eleitor mais desmobilizado.

Não é igual um eleitor do Bolsonaro, que é um eleitor assíduo. O cara tá tomando cloroquina e falando de terra plana – esse eleitor está mobilizado. E nem o eleitor petista, que é um eleitor, nos grandes centros urbanos, muito ligado ao Psol, e é um eleitor fiel, que não participa do debate público, mas é um voto cativo ao PT, especialmente no Nordeste. Então para a gente ativar esse eleitorado, que hoje está desiludido com a política, você vai ter que dar uns choques na galera. E a função do Danilo é essa.

Conheço o Danilo há muitos anos. É um cara muito pé no chão. Só que ele é barulhento. Ele fala as coisas. Mas é um cara pé no chão, e a gente não ia jogar a credibilidade nossa, o projeto no lixo para falar: “Ah, eles estão numa brincadeira”. Não estamos numa brincadeira. O Danilo e o [João] Amoêdo [presidenciável do Partido Novo em 2018] estão conversando, e acho que o Danilo e o Amoêdo juntos representam uma força e uma capacidade de agregar agentes que é formidável, que os outros candidatos da terceira via não têm. E isso é uma novidade.

Essa pergunta que você me fez outros jornalistas já fizeram e eu falo: pergunte ao Amoêdo, que é um cara que não é um dos jovens serelepes do MBL; que é um empresário de sucesso Aliás, o [Sergio] Moro afirmou isso também [que votaria em Gentili].

Você se arrepende de ter apoiado Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais de 2018? [no primeiro turno daquela eleição, o MBL não apoiou formalmente nenhum candidato. No segundo, os integrantes se mobilizaram em favor de Bolsonaro]

Renan Santos: Eu teria, hoje, anulado [o voto]. Por quê? Para não ter a marca de “eu votei nesse cara”. Mas, ao mesmo tempo, eu não nego. Eu entendo por que votei [em Bolsonaro]. E entendo por que as pessoas votaram. E outra coisa: um governo petista teria sido desastroso. Seria um desastre de outra natureza. Outro tipo de desastre, mas seria. Tentam vender algo como “vocês votaram no Bolsonaro, mas se tivessem votado no Haddad estava tudo bem”. Estava tudo bem uma ova! Estaria um caos. O caos institucional ia prosseguir, e tudo o que esses caras conseguiram fazer com o Bolsonaro na maciota, na conversa mole, trabalhando no STF – porque o Bolsonaro é um Judas do próprio eleitor –, o PT teria que fazer de forma conflituosa. Então o Brasil estaria em outro nível de crise institucional. Então eu teria ficado feliz com meu voto nulo. Mas ninguém que votou no Bolsonaro precisa se arrepender por conta disso.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/candidatura-de-danilo-gentili-nao-e-brincadeira-diz-coordenador-do-mbl/
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BRASIL DO CAOS TRIBUTÁRIO ÀS ESTRADAS ESBURACADAS

 

Passaporte Carimbado

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo

Buracos na pista da Rodovia Transamazônica, de Balsas (MA) a Guaraí (TO). Expedição Safra 23/03/2019 Foto: Rogério Machado/Gazeta do Povo

| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Não são apenas as incertezas em relação à economia que contribuem para afastar o investimento estrangeiro no setor produtivo brasileiro. Fatores estruturais que compõem o chamado “custo Brasil” – como tributação pesada, dificuldades no comércio internacional, problemas logísticos e incerteza jurídica – também estão influenciando na perda de atratividade do país no exterior, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Segundo a consultoria internacional Kearney, em seis anos o Brasil perdeu 18 posições em um ranking das perspectivas de investimento estrangeiro direto num horizonte de três anos. Na lista de 25 nações, o país caiu do sexto lugar em 2015 para o 24.º em 2021.

No período de 12 meses encerrados em março, o investimento direto no país (IDP) somou US$ 39,3 bilhões, ou 2,73% do PIB, já descontadas as saídas desse tipo de capital. O valor é 43% inferior ao registrado um ano antes, e próximo aos 11 anos atrás. “Naquela época, a situação fiscal era outra, tínhamos menos reservas e um orçamento mais flexível”, explica Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Na comparação com outros países, nosso ambiente de negócios melhorou muito pouco de lá pra cá. Em 2010, segundo o ranking Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil ocupava a 129.ª posição entre 183 países. No ano passado, era o 124.º entre 190 países.

Como você avalia o desempenho da economia brasileira neste momento?
Está melhor que no início do ano
Está pior que no início do ano
Não melhorou nem piorou
Custo Brasil: sistema tributário brasileiro é um dos piores do mundo
O economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, diz que parte da culpa pela menor atratividade do país em relação ao investimento direto estrangeiro está relacionada ao custo Brasil.

“Operar no território nacional exige custos acima da média comparativamente a outros países. O Brasil, no mercado consumidor mundial, é muito pouco para justificar os altos custos de operação”, explica.

Um dos principais problemas está nos impostos. Segundo o Doing Business, o país tem o sétimo pior sistema tributário do mundo, à frente apenas de Somália, Venezuela, Chade, República Centro-Africana, Bolívia e República do Congo.

Aqui um empreendedor gasta em média 1.501 horas por ano para preparar, arquivar e pagar (ou reter) o imposto de renda empresarial, o imposto sobre o valor agregado (similar ao ICMS e ao IPI) e as contribuições previdenciárias. A carga tributária total consome, em média, 64,7% dos lucros de uma empresa.

O Barein, no Oriente Médio, é o país com o melhor desempenho na questão tributária. Lá, a burocracia consome 23 horas por ano e a carga tributária sobre os lucros de uma empresa é de 13,8%.

“Nosso sistema tributário é extremamente complexo, exigindo até mesmo um departamento nas empresas que cuide exclusivamente disso. Não bastasse isso, pagamos tributos sobre os investimentos e acabamos exportando resíduos tributários, perdendo ainda mais a competitividade”, ressalta Fonseca.

O Brasil discute há três décadas uma ampla reforma na legislação tributária, e nos últimos anos o foco todo esteve em sugestões de simplificação das regras – e não na redução da carga tributária, tida como inviável por causa do elevado volume de despesas públicas obrigatórias.

Embora o governo defina como prioritária uma reforma tributária, em dois anos e meio de gestão o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs ao Congresso apenas a fusão de dois tributos federais (PIS e Cofins). Além disso, o ministro é contra a proposta mais ampla de reforma que foi apresentada recentemente por uma comissão mista do Congresso Nacional.

Incerteza jurídica é entrave importante
Outro entrave importante para o investimento direto no país e que acaba contribuindo para o custo Brasil é a incerteza jurídica. “Não se tem certeza do que está por vir”, diz Franchini, da Monte Bravo Investimentos.

Um dos exemplos mais claros é a “briga” entre governo e contribuintes pelo pagamento de tributos. Segundo o Núcleo de Estudos da Tributação (NET/Insper), ela alcançava o equivalente a 75% do PIB em 2019.

O sócio da Monte Bravo aponta que as regras do jogo mudam com muita frequência no Brasil, o que, ao lado de uma taxa de câmbio instável, contribui para ampliar as incertezas de médio e longo prazo, inviabilizando investimentos produtivos.

“Falta argumento para o Brasil crescer”, afirma. “E há falta de vontade para resolver os entraves burocráticos.”

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Como o custo Brasil afeta o comércio exterior
Ricardo Bacellar, líder de industrial markets e de mercado automotivo da KPMG no Brasil, destaca que o país precisa massificar políticas de exportação. “Elas têm de ser de Estado e não de governo. São necessárias facilidades para o comércio exterior e uma estrutura cambial e tributária adequadas.”

No ranking Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil está na 108.ª posição entre 190 países em termos de facilidades para o comércio internacional. O tempo necessário para exportar é mais de quatro vezes superior ao dos países de alta renda da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e os custos para esse procedimento são 76% maiores por aqui do que na média dos países da América Latina e Caribe.

Esses números se repetem quando se fala em importação. “As mercadorias ficam emboladas na aduana”, diz o economista da CNI. O custo brasileiro de importação e o tempo gasto nos procedimentos aduaneiros são mais do que quatro vezes superiores aos dos países de alta renda da OCDE. É uma situação que se repete na América Latina.

Não bastasse isso, o Brasil conta com uma desvantagem geográfica: está no Hemisfério Sul, enquanto a maior parte do fluxo de mercadorias corre no Hemisfério Norte. “As linhas de transporte são menores”, afirma Fonseca.

Há, no entanto, novidades positivas nesse aspecto, que nos próximos anos podem melhorar as posições do Brasil em rankings de competitividade e facilidade para negócios internacionais.

Uma delas é o Portal Único do Comércio Exterior, que começou a ser implantado pelo governo federal ainda em 2015 e recebe elogios da CNI. A confederação estima que até 2040 o portal vai elevar em US$ 92 bilhões a corrente comercial brasileira (soma de importações e importações). Segundo o governo federal, o módulo para exportação, que já está em pleno funcionamento, reduziu o tempo de espera de uma operação de 13 para seis dias.

O setor produtivo também elogia a eliminação do Siscoserv, um sistema de registro de operações no comércio de serviços que era considerado oneroso e burocrático, com gastos elevados para o governo e principalmente para as empresas, que precisavam destacar profissionais exclusivamente para o preenchimento de formulários.

Em paralelo a isso, no fim de março o governo editou uma medida provisória para facilitar a entrada de importados e reduzir a burocracia para negócios com o exterior.

Problemas de infraestrutura dificultam o transporte e encarecem logística
O economista-chefe da CNI destaca que, com o avanço da globalização, uma fábrica não precisa ter tantos fornecedores no local quanto nos anos 1970 ou 80, quando o transporte internacional era muito mais caro. “As empresas podem mapear os processos a distância.”

Esta transformação na economia mundial acrescentou gargalos à economia brasileira, devido aos problemas de infraestrutura. Fonseca lembra da dificuldade na movimentação de cargas nos portos brasileiros. A infraestrutura deficiente acaba pesando no custo Brasil.

A maior parte do transporte é feito por via rodoviária. E, segundo uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) neste ano, os investimentos públicos e privados em estradas vêm caindo nos últimos anos.

A expectativa é de que pelo menos os gastos do setor privado possam aumentar nos próximos anos, com o avanço da agenda de concessões rodoviárias do governo federal. Em 2019 e 2020, o governo leiloou apenas dois trechos rodoviários. Neste ano, as licitações devem deslanchar: o governo já leiloou a BR-153 entre Goiás e Tocantins e prevê mais dez certames neste ano, dos quais o mais aguardado é o da Via Dutra, que liga São Paulo e Rio de Janeiro.

“É um cenário [de problemas logísticos] que acaba desestruturando as cadeias produtivas e se perde previsibilidade. Muitas empresas são obrigadas a trabalhar com estoques maiores e têm dificuldade em embarcar a mercadoria na data correta nos portos. Este gargalo atrasa a produção no Brasil e dificulta a inserção do país nas cadeias globais de produção.”

Um dos setores em que esse problema é mais evidente é o das montadoras, que tinham intenção de usar o país como um hub de exportação. Nos últimos meses, Audi, Ford e Mercedes Benz suspenderam a produção de carros no país.

“As montadoras vieram para o país, mas não foram feitos investimentos nos portos. Faltam condições para ser competitivo e parar de exportar impostos”, diz o líder da KPMG.

Esta é a segunda reportagem da série Passaporte Carimbado, que mostra os motivos para a saída ou reestruturação de multinacionais do Brasil nos últimos anos.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/custo-brasil-entrave-atracao-investimento-direto-estrangeiro/
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PRESIDENTE DA CPI DA COVID SE MANTEM EQUILIBRADO

 

 Vinícius Valfré – Jornal Estadão

BRASÍLIA – Ao fim das três primeiras semanas de depoimentos na CPI da Covid, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), está convicto de que o governo cometeu uma série de erros no combate à pandemia. Mesmo expondo impressões críticas, o parlamentar assumiu um tom paternal ao liderar os trabalhos no fogo cruzado entre governistas e opositores, garantindo, até aqui, que ambos os lados pressionassem e defendessem os convocados.

O estilo do senador resultou em reconhecimentos até de aliados do Planalto, minoritários na CPI que mais despertou atenção nos tempos de predomínio do Twitter e do Facebook, com potencial explosivo contra o governo de Jair Bolsonaro. “Esta CPI é diferente das outras porque é a primeira que está na casa de todos os brasileiros. Temos uma responsabilidade com as mais de 446 mil famílias enlutadas”, diz o senador ao Estadão. “Quem quiser politizar, vai precisar responder aos brasileiros. Não vou permitir politização. Estamos fazendo uma investigação com o máximo de isenção”, ressaltou. “E que todos os brasileiros recebam as suas duas doses de vacina.” O senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid no Senado © Dida Sampaio/Estadão  O senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid no Senado

Aos 62 anos, engenheiro civil e paulista de Garça – mas com carreira política feita toda no Amazonas –, Aziz não dispensa, no dia a dia da CPI, algumas alfinetadas para pontuar sua insatisfação com as respostas escorregadias dos convocados, alguns deles ex-ministros interessados apenas em adular o presidente da República.

Quando o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sentado ao seu lado, recusou-se a responder ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), se concordava com o ponto de vista de Bolsonaro sobre o uso da hidroxicloroquina contra a covid, Aziz saiu-se com esta: “Até minha filha de 12 anos falaria ‘sim’ ou ‘não’”. No mesmo depoimento, tomou a liberdade de aconselhar Queiroga ao estilo “sincerão”. “Aconselho V. Exa. a ser bastante objetivo para que não haja, mais tarde, problemas pessoais para V. Exa., porque, pelo andar da carruagem, se troca de ministro como quem troca de camiseta.”

Na oitiva de Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), ligado ao Planalto, disse que o depoente estava sendo humilhado e induzido. Aziz retrucou: “Humilhado é 425 mil mortes neste Brasil. Essas pessoas estão sendo humilhadas porque não tem vacina no País. Ele? Ele está muito bem protegido, todo mês tem o dinheirinho dele para comer”, disse.

Tradicionalmente, os relatores são os que mais se destacam na história das CPIs. Eles têm tempo livre para interrogatórios, podem partir para inquisições e direcionam as conclusões. Esse poder foi entregue por Aziz a Renan Calheiros. Contudo, desde antes do início dos trabalhos, a imparcialidade do veterano relator é questionada pelos governistas.

‘Deixa disso’

Nos embates mais acirrados, Aziz é partidário do “deixa disso”: entra em campo apaziguando e suspende a sessão por alguns minutos para frustrar o objetivo dos brigões de fazerem performances caprichadas para câmeras e microfones. No insulto mais grosseiro até aqui, quando Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), chamou Renan Calheiros de vagabundo, Aziz tirou por menos e paralisou a reunião para abreviar a briga. “Senador Flávio, eu estou tentando equilibradamente conduzir as coisas. E as agressões aqui não vão levar a lugar nenhum.”

Aziz é de um partido que, em tese, está na base do governo Bolsonaro. A escolha dele para a presidência contou com o aval do governo. O Planalto vislumbrou a possibilidade de um parlamentar da oposição ocupar o posto. O requerimento de instalação da CPI partiu de Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Geralmente, quem propõe uma comissão a preside. Randolfe tornou-se o vice-presidente e trabalhou para que Renan Calheiros fosse confirmado na relatoria. Sob os holofotes de uma CPI, porém, toda ligação com o Planalto tem limite. O fato de Aziz ser do Amazonas, onde em janeiro o sistema de saúde entrou em colapso por falta de oxigênio para pacientes com a covid-19, dá a ele motivos para fincar os dois pés na procura por culpados.

Segundo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ele tem mantido o equilíbrio, “buscando valorizar as posições de todos os membros da comissão, independentemente das suas”. Seu maior arroubo, até aqui, foi uma reação à tentativa do governista Luis Carlos Heinze (Progressistas-RS) de poupar o ex-ministro Eduardo Pazuello, alegando que o governo Bolsonaro havia enviado mais de R$ 2 bilhões ao Amazonas no ano passado. Aziz gritou e chamou Heinze de mentiroso. Em seguida, desculpou-se.

Faltou oxigênio”, disse, “as pessoas morreram. Eu recebi, no meu celular, mensagens de amigos, dizendo: ‘Meu pai está sem oxigênio. Omar, me ajude’. E fiquei ligando para ministro, atrás de oxigênio. E a gente de mãos atadas. Nunca foi falta de dinheiro”.

Omar Aziz caiu nas graças de internautas. Uma publicação que viralizou horas antes do depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo o associava ao técnico da seleção brasileira conduzindo os jogadores até o estádio em dia de Copa do Mundo. “O técnico Omar acredita em bom jogo”, dizia o post.

De fato, o senador aumentou a relevância nas redes. Do início da CPI até sexta-feira, ganhou 28 mil seguidores no Twitter. Chegou a 85,7 mil. Apenas no segundo dia de depoimento de Pazuello mais de 6 mil usuários aderiram ao perfil. Ganhou mais do que Renan Calheiros, que passou de 173 mil para 191 mil.

Lutas antigas

Na internet, ele apresenta um perfil jovial, antenado. O estilo “quadradão” do senador que ganhou a simpatia das redes também pode ser aplicado à própria sistemática de CPI, um instrumento que desde as investigações do mensalão não atraía tanta audiência e voltou aos holofotes.

A postura de Aziz nas redes e no plenário lhe valeu a alcunha de “herói com voz de vilão”, referência ao seu tom rouco. Ele tem uma empresa para gerenciar toda a sua comunicação. Seu perfil oficial interage durante as sessões, pede sugestões e embarca em brincadeiras. A um usuário que perguntou qual filme veria no fim de semana, respondeu: “‘Retroceder nunca… render-se jamais!’.

A CPI marca a entrada do senador no jogo político nacional. No Amazonas, foi vereador e vice-prefeito de Manaus, deputado estadual e governador. Em 2019, uma investigação sobre contratos do governo para a gestão de unidades de saúde prendeu sua mulher, a deputada estadual Nejmi Aziz, e três irmãos. O senador não se tornou réu.

Com Aziz na CPI, apenas algumas páginas da extrema-direta na internet fizeram menção ao caso. Os governistas precisam dele para que os requerimentos que visam ampliar o foco da comissão sejam votados. Também cabe ao senador tomar algumas medidas que os governistas trabalham para evitar. Foi dele a decisão de negar o pedido de prisão de Wajngarten, feito por Calheiros. “Não serei carcereiro.”

VAMOS TER VOTO IMPRESSO EM 2022?

 

 Poder360 

Fachada do edifício sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília© Marcello Casal Jr. Fachada do edifício sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sinalizou que será difícil que o voto impresso seja implementado nas eleições de 2022, mesmo que a medida seja aprovada pelo Congresso Nacional antes do pleito.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) instalou, em 13 de maio, a comissão que analisará o voto impresso. A PEC 135/19, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF), exige a impressão de cédulas em papel na votação e na apuração de eleições, plebiscitos e referendos no Brasil.Publicidadex

Em nota enviada ao jornal Folha de S. Paulo, o TSE declarou que “a implantação do voto impresso envolve um procedimento demorado, embora não seja possível, neste momento, estimar sua duração”.

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Segundo o órgão, é necessário que seja feita uma licitação “pautada por rígidos trâmites administrativos e burocráticos”. É preciso encontrar fornecedores capazes de atender uma demanda de mais de 500 mil urnas em todo o Brasil.

Esse processo não teria um prazo de duração, “tendo em vista o tempo necessário para as especificações técnicas e a margem de imprevisibilidade decorrente dos procedimentos de qualificação e dos eventuais recursos administrativos e judiciais”.

Além disso, antes da implementação existe um longo processo de testes, etapas de desenvolvimento do software, treinamento de pessoal e outros procedimentos que devem ser cumpridos.

O voto impresso é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo já deu declarações colocando em dúvida, sem apresentar provas, o sistema de urnas eletrônicas pelo qual são realizadas as eleições no Brasil.

Bolsonaro chegou a dizer que “se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleição! Acho que o recado está dado”. Os apoiadores do projeto costumam referir-se a ele como “voto auditável”, apesar de a Justiça Eleitoral argumentar que as urnas eletrônicas são auditáveis e seguras.

Assim que a comissão do voto impresso foi instaurada, Lira declarou que é importante que a Casa analise o voto impresso para que “não paire dúvida na cabeça de nenhum brasileiro”. Ele estava ao lado de Bolsonaro.

Dois dias depois, em 15 de maio, o presidente declarou que o Brasil não pode “admitir um sistema eleitoral que é passível de fraude. E eu tenho dito se o nosso Congresso Nacional aprovar a PEC do voto auditável da Bia Kicis, e ela for promulgada, nos teremos voto impresso em 22”, disse o presidente.

Na nota, o TSE declarou que cumpre a Constituição e a legislação “tal como interpretadas pelo Supremo Tribunal Federal” e reforçou que o sistema de urnas eletrônicas é “confiável e auditável em todos seus passos”.

A TOCHA FUGAZ DOS ANOS

 

Os anos encolheram minhas necessidades, costumes e raio de ação, sem tolher a felicidade

Vittorio Medioli – Jornal o Tempo

Nunca imaginei chegar a um bolo de creme para soprar 70 velinhas. 

Já passei por muitas, graves e até inexplicáveis circunstâncias, e continuo movido por um ímpeto quase juvenil. Como se o tempo não tivesse oxidado minha alma. 

Os anos encolheram minhas necessidades, costumes e raio de ação, sem tolher a felicidade. 

A coluna curvou, a pele e os cabelos ressecaram, mas a calma ficou mais fácil de ser alcançada. 

As aspirações, também, não são mais mirabolantes. Agora desço em campos apenas para enfrentar injustiças, amenizar sofrimento, ajudar a me sentir bem, mesmo sem qualquer agradecimento. No momento que alcancei consegue-se aplaudir até adversários, “inimigos declarados”, reconhecendo neles a companhia proveitosa para mim na longa viagem. Neles vejo a razão da superação, o cumular de experiências, o aprendizado para estar mais preparado e um pouco mais sábio. 

Na última semana me surpreendi com a reação espontânea que tive quando um jovem político, que sentiu seu partido destratado por mim, mandou o recado de que usará (ou intensificará) suas maldades nas redes sociais e confidenciou que isso poderá custar-lhe não mais escrever no jornal que fundei. Enganou-se. Respondi que continuará com o mesmo tratamento de sempre e que as maldades são um sério problema dele, já que não duram para sempre, e que a justiça divina dará a resposta, mesmo no meio das risadas dos descrentes. 

Nesta minha vida, tão rápida e fugidia, vi que a justiça de outras esferas não falha e desce aqui mesmo, na forma de tristeza, de doenças, de infortúnios. 

Aprendi a considerar que defeitos de outros precisam ser vistos com moderação, pois todos nós temos ainda muitos deles para superar. 

Felizmente, passei a ver os adversários como úteis e estimulantes, que precisam ser tratados, quando não podem ser esquecidos, pelas leis desta terra, e perdoados pelas leis divinas. 

Sinto-me espiritualmente mais desperto e sensível, melhor a cada dia, sem pânico ou preocupação com o fim da vida. Esse sentimento me atormentava na juventude. Hoje, seja quando for, será no momento certo e bem-vindo. Já o vejo como o começo de outro estado da vida, sem esta carne velha. Emprestado de Shakespeare, lembro: “Apaga-te, apaga-te, fugaz tocha! A vida nada mais é que uma sombra que passa, um pobre histrião que se pavoneia e se agita uma hora em cena, e, depois, nada se ouve dele. É uma história contada por um idiota, cheia de fúria e tumulto, que nada significam”. 

Sou cristão, sou budista, sou sufista e não nego a qualquer religião a sua bondade e suas limitações. Sem Deus, a vida seria um tormento. A ciência, apenas a ciência, é uma lata que enferruja. Deus é o passado, o futuro, o infinito que me sustenta e protege. 

Tenho como dever ser justo, não me envergonhar frente a esse Deus que me deu vida e uma missão. A justiça é a maior garantia dos oprimidos, dos humildes, dos sem voz, dos que sofrem. É minha obrigação. 

É estranho, entretanto, deparar-se com uma justiça, nesta terra, falha e vesga, limitada e incerta, quando exercida pelos homens. 

Convenci-me: o sentido de estar vivo, aqui e agora, se liga a uma missão que aparece a cada instante, renovando seu nome, aspecto, intensidade. 

Nos 70 anos que vivi, meus olhos viram festas de arromba na véspera de desastres, como derrotas penosas diante das maiores vitórias. Nunca vi alguém ficar realmente impune aos sofrimentos desnecessários que provocou. Notei que existe uma regra natural, divina, poderosa, que regula a grande representação no palco terrestre. 

Deparei-me com “invencíveis” Golias derrubados por um simples descuido. Soberbos quebrados por uma casca de banana, fantoches que se desfazem quando os fios arrebentam. Já vi humilhados, serenos e confiantes, contarem seus torturadores levados pela correnteza. 

Senti que o poder e o dinheiro são empréstimos temporários, que dão alegria e geram tormentos. Senti que a glória é uma ilusão, que passa mais rápido que a juventude. Registrei que quem comemora com exageração é o mesmo que esquece que voltará a sofrer derrotas. 

O sábio comemora a verdadeira vitória com compaixão do derrotado. 

A ciência não é exata, mas relativa, maior que ela é a cadela que dá à luz os seus filhotes numa galeria abandonada e os defende sacrificando a própria vida. 

Com 70 anos me convenci de que a paciência, a benevolência, a honestidade, o respeito à verdade – atitudes ao alcance de qualquer um – acabam proporcionando a felicidade. A maior felicidade está na ausência de desejos, de pretensões, reside no ato de receber o que vem como alegria, sentir na dor uma experiência e o pagamento que estamos realizando de uma dívida. 

A maior felicidade foi medida em monges orientais que vivem sem teto, apenas de restos de comida. São aqueles que oferecem aos abutres a carne dos familiares recém-falecidos, dando-lhe utilidade, como tudo tem que ter. 

O estoico imperador Marco Aurélio repetia: “Viva sempre como fosse o último dia de sua vida”, não chorando a perda de um corpo, porque na eternidade um dia, uma semana ou cem anos são granéis que não valem pelo volume, mas como diamantes pela pureza e beleza. Melhor um dia bom com honradez e bondade do que cem anos desperdiçados numa longa agonia sem proveito para o mundo. 

A idade altera os desejos, as necessidades, seleciona o que tem de melhor, de mais simples, apaga os sonhos deslumbrantes. Gratifica na capacidade de adorar a beleza dos seres vivos, reconhece o esplendor da juventude, como a pureza de um olhar maduro. Aprecia na simplicidade a elegância mais agradável. Concede, com bastante proveito, a capacidade de ler nas feições das pessoas o que se passou em suas vidas, permite antever o futuro deles em sílabas e pequenos gestos. Passa-se a ter uma terna atitude com os jovens, que, por não terem vivido tanto, se confundem nos julgamentos, se atormentam nas aspirações. E com essa idade se passa a ter mais determinação em ajudá-los.

sábado, 22 de maio de 2021

BRASILEIROS CONTINUAM SENDO DEPORTADOS DOS ESTADOS UNIDOS

 

Brasileiros deportados dos EUA chegam acorrentados em BH nesta sexta-feira

Trinta pessoas, que tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos, chegaram à capital em avião providenciado pelo governo americano

Por ALICE BRITO – Jornal o Tampo

Brasileiros deportados dos EUA chegam a Belo Horizonte

Brasileiros deportados dos EUA chegam a Belo Horizonte | Foto: Ramon Bitencourt/O Tempo

Brasileiros deportados dos EUA chegam em BH nesta sexta

Brasileiros deportados dos EUA chegam em BH nesta sexta | Foto: Ramon Bitencourt/O Tempo

Brasileiros deportados dos EUA chegam em BH nesta sexta

Brasileiros deportados dos EUA chegam em BH nesta sexta | Foto: Ramon Bitencourt/O TempoUnsubscribe from push notifications

” Nós viemos a viagem inteira acorrentados”, disse Roberto da Silva, 31, morador do interior de Minas, ao desembarcar no aeroporto de Confins, em BH, na tarde desta sexta-feira (21). Ele fazia parte do voo fornecido pelo governo americano, que deportou  30 brasileiros que tentavam entrar ilegalmente – sem passaporte e visto, nos Estados Unidos (EUA). 

Como Roberto,  a maioria dos deportados foram detidos na fronteira entre México e Estados Unidos. ” Fui pego tentando cruzar a fronteira.Fique 75 dias detido, num local que comia e bebia, mas não era bem tratado.Tentei entrar nos Estados Unidos para buscar uma vida melhor, mas infelizmente, não foi possível, agora é levantar a cabeça e tentar recomeçar aqui mesmo”, narrou Roberto Silva. PUBLICIDADE

Adailsa dos Santos de Souza, 24, de Rondônia,  também tentou entrar em território americano para ganhar dinheiro e construir um futuro melhor.No entanto, foi surpreendida pela realidade da polícia de imigração. ” Fiquei 25 dias detida, não éramos assistidos com quase nada. Fui cruelmente maltratada e não entendia o porquê, só queria trabalho”, desabafou a mulher que vai voltar para Rondônia, o estado natal dela, para recomeçar. 

Este é o primeiro grupo de imigrantes que é deportado pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A política anti-imigração adotada pelo presidente, vai de encontro com o que foi apresentada na campanha presidencial dele. Biden prometia oferecer melhor tratamento para as pessoas que tentassem entrar nos EUA sem documento.   


Espera 
 
Dayana de Oliveira, 27,  esperava ansiosa no desembarque Internacional do aeroporto de Confins, para saber se o irmão, preso na fronteira do México, desde o dia 10 de março, voltaria para o Brasil no voo. “Meu irmão foi tentar a sorte. Fiquei sabendo lendo as notícias que esse voo chegaria hoje.Nós nos falamos pouco, não é sempre que ele pode ligar. Então vim ver se o meu irmão viria nesse voo. Infelizmente ele não veio. Agora é esperar quando o próximo grupo de deportados será enviado para BH”, disse.

PRESIDENTE BOLSONARO DETONA FHC E LULA

 

Presidente fez ironia no mesmo dia em que surgiu uma foto de um almoço entre Lula e Fernando Henrique Cardoso

Por DA REDAÇÃO – Jornal o Tempo

Jair Bolsonaro, em evento em Açailândia, no Maranhão

Jair Bolsonaro, em evento em Açailândia, no Maranhão

Foto

Foto: Reprodução/TV BrasilUnsubscribe from push notifications

Horas após uma imagem de um almoço dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ser divulgada, o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), foi ao ataque, em referência irônica a seus apoiadores. O chefe do Executivo disse que uma chapa para 2022 já está formada, com um ladrão e um vagabundo. A declaração foi dada em um evento em Açailândia, no Maranhão, para a entrega de títulos de propriedade.

“Nosso objetivo é entregar no futuro um Brasil bem melhor do que recebi em 2019. Por falar em política, para o ano que vem já tem uma chapa formada. Um ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice”, disse, no início de seu discurso, para o delírio de seus apoiadores.PUBLICIDADE

Depois disso, antes de falar sobre o evento, ele passou a palavra a um pastor para que fizesse pregação religiosa. O líder religioso local puxou uma oração com todos.

No mesmo evento, Bolsonaro voltou a fazer críticas ao comunismo, citou a Venezuela e a Argentina, governadas pela esquerda, e fez ataques ao governador do Maranhão Flavio Dino (PCdoB).

“Quando se fala em partido comunista tem que ter aversão a isso”, afirmou, após completar que o Maranhão seria libertado do que chamou de “praga”.

“Só os do partido ficam gordos. O povo emagrece e sofre”, disse, em referência a outra fala contra o governador, feita ao chegar ao evento. Na ocasião, ele chamou Dino de “gordinho ditador”.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...