O Brasil passa pelo período mais crítico da história. A pandemia do coronavírus afetou a todos os brasileiros. Já são mais de 400 mil mortos, deixando a sociedade inteira de luto. Mais de 27 milhões de brasileiros vivem em extrema pobreza, sendo que 19 milhões desses passaram fome nos últimos três meses. Seis em cada dez brasileiros enfrentam insegurança alimentar com a pandemia, sem saber se terão o que comer na próxima refeição.
Outro dado gravíssimo, ao qual vou me deter, é o crescente desemprego, que não dá sinais de refluir. O índice oficial do desemprego no Brasil atingiu 14,4% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o recorde da série histórica iniciada em 2012. O resultado representa uma alta de 2,9%, ou de mais 400 mil pessoas desocupadas frente ao trimestre anterior. Em um ano, o número de desempregados no Brasil aumentou 16,9%, com um acréscimo de 2,1 milhões de pessoas na busca por um trabalho.
Esse é o dado oficial, que não conta as pessoas que desistiram de buscar um emprego ou que vivem de bico. A expectativa é que o Brasil tenha até 18 milhões de desempregados e 6 milhões de desalentados.
Enfrentar esse problema do desemprego é prioridade para recuperar a vida dos brasileiros. Há várias formas para isso. No longo prazo, reformas estruturais, como a tributária, a administrativa, a fiscal e a trabalhista, são essenciais. No curto prazo, precisamos de vacina. E da aprovação de uma medida provisória que já tramita no Congresso Nacional, sob minha relatoria.
A medida provisória 1.040 de 2021, chamada de MP do Ambiente de Negócios, tem como intenção atrair investimentos para o país e reduzir a burocracia para a abertura e funcionamento de empresas, modernizando o ambiente de negócios no país.
A iniciativa do Ministério da Economia surgiu para melhorar a posição do Brasil no ranking Doing Businness, do Banco Mundial, que lista os melhores países do mundo para fazer negócios. Hoje, o Brasil está na inaceitável posição 124 entre 190 países. A aposta é que com a MP seja possível avançar 20 posições a curto prazo e, ao final de sua implantação, assumir uma posição entre os 50 melhores do ranking. As medidas previstas na MP também podem ajudar a recuperar a economia depois que a população for amplamente vacinada.
Um dos pontos mais importantes do projeto é a aceleração do processo de abertura de empresas, unificando inscrições fiscais municipal, estadual e federal. Hoje, esse processo é muito demorado e burocrático, afugentando investidores e reduzindo a oferta de empregos. Hoje, para abrir um empresa, um empresário deve ter, além do CNPJ, a inscrição estadual para para pagar o ICMS e outra municipal para o IPTU e o ISS. A MP faz do CNPJ o único número de inscrição fiscal.
O texto também moderniza as regras de empresas listadas em bolsa, tornando mais previsível e seguro para investidores brasileiros e estrangeiros aportarem seus recursos.
Há ainda questões que beiram o folclore na economia brasileira que a MP irá atacar. Qualquer produto que tenha um beneficio fiscal em sua cadeia produtiva, como o sapato de Franca ou a moto de Manaus, só pode ser exportado em um navio de bandeira nacional. É uma regra que praticamente anula o benefício, já que esses navios não existem. É uma burocracia que só prejudica o país.
Atualmente, o prazo médio para que a energia seja ligada em uma nova construção é de 130 dias —o prédio fica até quatro meses sem ser utilizado, causando prejuízo e ceifando empregos. A MP vai instituir um prazo menor e factível para todos.
Com a medida provisória, o Brasil vai conseguir atrair mais investimentos nacionais e estrangeiros. Vai reforçar o seu setor produtivo e fortalecer as empresas. E, acima de tudo, vai gerar emprego, que é nossa maior necessidade além do fim da pandemia.
*Marco Bertaiolli, 53 anos, é deputado federal pelo PSD de São Paulo. Administrador de empresas, foi prefeito de Mogi das Cruzes (SP) por dois mandatos (2009-2016)
Grupo criado por Arthur Lira discute a proposta para flexibilizar financiamento de campanha; fundo eleitoral com dinheiro público seria mantido
Rafael Moraes Moura, Daniel Weterman e Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Quase seis anos depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir o financiamento empresarial de campanhas políticas, a Câmaraavalia uma forma de tornar viável a destinação de recursos do setor privado para candidatos ou partidos. Uma proposta discutida nos bastidores por deputados prevê que sejam estabelecidos tetos de R$ 500 mil a R$ 1 milhão por empresa, independentemente do porte da companhia.
O valor poderia ser doado para um único candidato ou dividido entre outros concorrentes, de deputado federal a presidente da República. A medida, porém, não é encarada como um substituto do Fundo Eleitoral, que no ano passado foi de R$ 2 bilhões. O modelo do fundo como é hoje, abastecido com dinheiro público, continuaria existindo.
A reforma da lei eleitoral é patrocinada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que vai instalar hoje uma comissão especial para mudar as regras do jogo nas disputas de 2022. A deputada Renata Abreu (Podemos-SP) deve ser escolhida como relatora. Para ter validade, a proposta também precisa passar pelo Senado e ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro até outubro, um ano antes da eleição. Bolsonaro é candidato a novo mandato e ainda está à procura de um partido para se filiar.
Na lista das modificações sugeridas para a reforma estão a volta das coligações e a reserva obrigatória de cadeiras para mulheres no Legislativo – o porcentual ainda não foi definido. A proposta é vista como a forma mais eficiente de aumentar a participação feminina na política, uma vez que a regra de destinar 30% do Fundo Eleitoral a mulheres tem sido burlada com frequência.
A liberação para os showmícios que, em tempos de pandemia de covid-19, foram adaptados para “lives” com artistas, também está entre as mudanças previstas. A prática de promover candidaturas usando cantores famosos é proibida desde 2006 pela Justiça Eleitoral com o argumento de que abre brecha para o caixa 2 e possibilita o abuso de poder econômico nas campanhas. Dirigentes de partidos também querem alterar normas referentes à propaganda dos candidatos e impor limites para a edição de novas regulamentações pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Fundo eleitoral
A retomada do financiamento empresarial deverá ser levada para o centro do debate nesse pacote. Até agora, no entanto, não há intenção de reduzir o valor bilionário do Fundo Eleitoral. Levantamentos no Congresso também indicam que a maioria dos deputados e senadores é contra o voto impresso, bandeira do presidente Jair Bolsonaro.
“No atual momento, a decisão de instituir o financiamento eleitoral por empresas, com teto fixo, constitui uma decisão política, que cabe ao Congresso. Embora nem todo modelo de doação por pessoas jurídicas seja a priori inconstitucional, não tenho simpatia pela ideia”, disse ao Estadão o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. “O processo democrático deve ser um exercício de cidadania, e não de poder econômico. Sou a favor das doações por pessoas físicas, com teto. E sou a favor, também, de incentivos para que as pessoas físicas façam doações”.
Em setembro de 2015, com o voto de Barroso, o Supremo proibiu a doação de empresas para campanhas eleitorais. A decisão ocorreu após a Operação Lava Jato revelar um esquema bilionário de corrupção que envolvia troca de contratos na administração pública e distribuição de propina. Os valores da corrupção, segundo apontaram as investigações, eram mascarados como doação para candidatos e serviam para que os executivos cobrassem favores dos políticos que ajudavam a eleger.
As regras até então vigentes permitiam às empresas privadas fazer doações a campanhas ou a partidos até o limite de 2% do faturamento bruto do ano anterior à eleição. Os ministros do Supremo concluíram que as regras provocavam desequilíbrio na disputa eleitoral, privilegiando alguns candidatos e abrindo caminho para a influência negativa das empresas.
“Com um teto, as empresas podem influenciar na eleição, o que é legítimo, mas sem gerar uma relação promíscua, como as doações mais expressivas acabam gerando”, afirmou o advogado Luiz Fernando Casagrande Pereira, fundador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e consultor da reforma que está em discussão na Câmara. “É um tabu. Na época, o Supremo declarou inconstitucional aquele estado de coisas, não necessariamente todo o financiamento. Agora, podemos calibrar sem ofender a Constituição para oxigenar a forma de financiar campanhas no Brasil”.
Na avaliação de Pereira, “há um clima no Congresso” para aprovar as doações limitadas por teto. “Ninguém acha que isso vai distorcer o processo”, argumentou Pereira. A opinião é compartilhada pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), que disse ser a favor da volta do financiamento empresarial nas campanhas. “Acho que pode ter regra para isso, desde que não se inviabilize o financiamento”, defendeu o deputado. Barros ressalvou, porém, que não havia consultado o governo sobre o tema.
O vice-líder do Solidariedade na Câmara, deputado Zé Silva (MG), também apoiou a iniciativa. “Não há ainda um posicionamento do partido, mas eu sou favorável à volta dessas doações com um limite. Além disso, acho que o financiamento público deve prevalecer para que haja igualdade”, afirmou Silva.
Senado
O Estadão apurou que o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) também é um dos defensores do retorno do financiamento empresarial. Na avaliação de Alcolumbre, o Congresso poderia estabelecer uma regra para proibir quem doou de fechar contrato com a administração pública.
Em 2019, quando parlamentares discutiam a ampliação do Fundo Eleitoral para as campanhas municipais, o senador já era favorável à volta desse tipo de doação. “Não pode fazer financiamento de campanha todo ele criminoso. Se acontecerem equívocos, podemos colocar as amarras para corrigir os equívocos”, disse Alcolumbre, na ocasião. Um ano depois, Josiel Alcolumbre, irmão do senador, perdeu a eleição para a prefeitura de Macapá.
Apesar das articulações políticas, o assunto é visto com ressalvas por alguns dirigentes de partidos. “Eu tenho sido procurado, mas essas mudanças não têm nosso apoio. O sistema político já está muito deteriorado e essas modificações poderão piorar. Não tem de haver mudança nenhuma”, afirmou o presidente do PSB, Carlos Siqueira. Para ele, o ideal é um aumento no valor no Fundo Eleitoral, em 2022. “O financiamento sempre terá um custo e é demagogia fugir disso. Naturalmente, terá que ter um reajuste. O valor do ano passado foi muito aquém da necessidade”.
A quantia destinada no ano que vem para financiar gastos de candidatos será discutida no Orçamento de 2022 e deve ser aprovada ainda no segundo semestre.
Médico foi demitido do ministério da Saúde em abril de 2020, justamente por divergir de Bolsonaro em relação a como lidar com a pandemia
Redação, O Estado de S.Paulo
O médico, ex-deputado federal e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta vai depor nesta terça-feira, dia 4, à CPI da Covid. Embora a comissão tenha marcado de ouvir todos os quatro homens que ocuparam a pasta durante o governo de Jair Bolsonaro – Nelson Teich também irá na terça, Eduardo Pazuello na quarta e Marcelo Queiroga, atual ministro, na quinta –, a fala de Mandetta tem o potencial de ser uma das mais desgastantes para o Planalto.
O médico foi demitido do cargo em abril de 2020, justamente por divergir do presidente em relação a como o governo federal deveria lidar com a pandemia. Desde então, não só deu entrevistas e declarações afimando que o Planalto negligenciou a pandemia e a ciência como publicou um livro sobre o tema. Em Um Paciente Chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus, lançado no final de setembro, o ex-ministro apresentou sua visão interna sobre como Bolsonaro escolheu lidar com a crise.
Tanto no livro quanto em entrevistas dadas na época do lançamento, Mandetta revelou que o Ministério da Saúde estimava que 180 mil pessoas poderiam morrer no Brasil em função do coronavírus, caso não fossem adotadas medidas para frear o contágio. A estimativa de mostrou conservadora, já que o País já superou as 400 mil mortes e as previsões apontam para meio milhão de vítimas em mais alguns meses.
“Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele eu mostrei. Entreguei por escrito, para que ele pudesse saber a responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar. Então, foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa”, disse em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, em setembro, na véspera de lançamento do livro.
Ainda de acordo com o que o ex-ministro descreveu na obra, Bolsonaro não quis sequer conversar sobre os cenários. Foi necessário primeiro mostrar as projeções ao ministro general Braga Netto – que estava na Casa Civil e hoje é titular da pasta da Defesa – para que a gravidade da situação alcancasse os ouvidos do presidente. ‘Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele eu mostrei’Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde
Mandetta chegou a comparar o negacionismo de Bolsonaro com as fases de negação que psicólogos idetificam em pacientes com doenças terminais, inicialmente contrariando o quadro e depois procurando uma solução milagrosa. No caso de Bolsonaro, essa saída mágica teria sido foi a cloroquina, segundo o ex-aliado. O mandatário passou a ter caixas do remédio sem eficácia comprovada em cima da mesa de seu gabinete, mas nunca deu bola para máscaras ou para álcool em gel.
Ainda de acordo com o médico, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi igualmente desinteressado pela pandemia e nunca o procurou para saber da situação e planejar ações que ajudassem a economia do Brasil diante do quadro.
Em entrevistas mais recentes sobre a variante do coronavirus que surgiu em Manaus e que é mais letal e mais contagiante, Mandetta criticou o fato de que o Brasil não está fazendo mapeamento genético para concluir a velocidade de transmissão da nova cepa.
“O Brasil não está fazendo o mapeamento genético para saber a velocidade de transmissão dessa nova cepa. Deveríamos estar fazendo para saber o que está acontecendo em outras cidades e onde o vírus está se aclimatando melhor com a nova cepa. A gente está testando pouco e, mesmo testando pouco, estamos achando (a nova cepa), no Rio, em São Paulo. Araraquara fez uma testagem maior e achou tendência de predomínio da nova cepa”, disse o ex-ministro ao jornal Estado de Minas.
“Provavelmente, a gente vai plantar essa Cepa em todos os territórios da federação e daqui a 60 dias a gente pode ter uma megaepidemia”, afirmou em janeiro durante entrevista ao programa Manhattan Connection, da TV Cultura.
O ex-ministro, que vem se aproximando do governador de São Paulo, João Doria (PSDB) – potencial rival de Bolsonaro nas eleições de 2022 – também criticou este ano o desdém que Bolsonaro inicialmente demonstrou em relação às vacinas, ao instituto Butantan e à China. A gestão Doria viabilizou a fabricação da vacina Coronavac no Instituto Butantan. O imunizante foi desenvolvido pelo instituto paulista em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
“Esse erro foi cometido em agosto e setembro, quando fecharam as negociações com a Pfizer, Moderna, Johnson. Não quiseram. (…) É um erro muito primário. Como o governo fechou as portas com esses laboratórios de primeira linha, está avançando para terreno perigoso, que é comprar vacina que não tem fase 3”, alertou em fevereiro, em conversa com o portal Metrópoles.
Dois países em desenvolvimento, enormes em população e em extensão geográfica, são vítimas da devastação do coronavírus. No caso da Índia, o mundo se apressou a responder. No caso do Brasil, a resposta internacional tem sido mais moderada
Terrence McCoy, The Washington Post
RIO DE JANEIRO – Dois países em desenvolvimento, enormes em população e em extensão geográfica, são vítimas da devastação do coronavírus. Os hospitais esgotaram seus suprimentos. Pacientes são mandados de volta. Em todo lugar, uma nova variante. Precisa-se desesperadamente de ajuda externa.
No caso da Índia, derrubada por taxas recordes de infecção, o mundo se apressou a responder. Esta semana, a Casa Branca divulgou a entrega de mais de US$ 100 milhões em equipamentos e material hospitalar. Cingapurae Tailândiaenviaram oxigênio. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou que o Reino Unido fará “tudo o que puder”.
Mas no caso do Brasil, que enterrou 140 mil vítimas nos dois últimos meses, a resposta internacional tem sido mais moderada. Em março, o presidente Jair Bolsonaro solicitou a ajuda das organizações internacionais. Um grupo de governadores pediu à ONU “ajuda humanitária”. Há duas semanas, o embaixador brasileiro na União Europeia implorou por ajuda. “É uma corrida contra o tempo para salvar muitas vidas no Brasil”.
Mas a resposta tem sido em grande parte ou falta de interesse, ou críticas aos erros do Brasil – e muito pouca ação, até o momento.
“O que está acontecendo no Brasil é uma tragédia que poderia ter sido evitada,” afirmou um membro do Parlamento Europeu ao embaixador brasileiro em uma audiência, este mês. “Mas esta tragédia foi baseada em decisões políticas erradas”.
“Em lugar de declarar guerra ao coronavíurs”, afirmou outro, “Bolsonaro declarou guerra à ciência, à medicina, ao senso comum, à vida”.
Desde terça-feira, a presidente do Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen, tuitou três vezes sobre a ajuda à Índia. No entanto, pouco ela falou sobre o Brasil.
O contraste entre o tratamento dispensado pela comunidade internacional ao enfrentamento da crise na Índia e no Brasil mostra que as crescentes batalhas diplomáticas de Brasília complicaram a resposta do país contra o coronavírus. A imagem internacional que o Brasil passou décadas cultivando – focalizada no respeito do meio ambiente, amistosa, multilateral – foi solapada por um presidente cuja administração insultou grande parte do mundo no momento em que mais necessitava de ajuda.
Bolsonaro, um nacionalista de extrema direita, que chegou ao poder zombando do globalismo, acusou países europeu inclinados ao respeito do meio ambiente de colonialismo e desmatamento ilegal. Amplificou uma mensagem nas redes sociais usando termos depreciativos contra a aparência da esposa do presidente francês Emmanuel Macron. Reiterou as afirmações infundadas do presidente Donald Trump sobre fraude eleitoral, e foi o último líder do G-20 a reconhecer a vitória do presidente Joe Biden. Durante meses, membros do seu governo e apoiadores dispararam ataques racistas contra a China e zombaram de sua vacina. Na terça-feira, seu ministro da Economia afirmou que a China “inventou o vírus”.
Desde o começo da pandemia, o governo federal do Brasil menosprezou a gravidade de um vírus que aleijou este país de 210 milhões de habitantes. Bolsonaro conclamou as pessoas a viverem sua vida normalmente. Muitos lhe deram ouvidos – por causa da pobreza, da política ou do cansaço – o suficiente para comprometer medidas de contenção pouco uniformes. Mais de 400 mil brasileiros já morreram de covid-19, o pior desastre humanitário da história da nação, e o segundo maior do mundo, depois dos Estados Unidos.
Agora, ainda mergulhado no período mais mortal de sua pandemia – outros 3.001 morreram na terça-feira, segundo informações – um país que há muito gabava de ser amigo de quase todo mundo, agora se encontra em grande parte sem amigos.
“O mundo inteiro está tentando ajudar a Índia”, disse Maurício Santoro, cientista político da UERJ. “Mas Bolsonaro tornou-se um problema internacional tão grande que ninguém está disposto a ajudá-lo.”
“Ninguém fala em dar grande ajuda ao Brasil.”
À pergunta da razão pela qual os Estados Unidos não se mexeram para ajudar o Brasil com a urgência demonstrada em relação à Índia, um porta-voz do Departamento de Estado apresentou uma lista de contribuições dos EUA ao Brasil antes da fase pior da pandemia, por um total de mais de US$ 20 milhões em assistência fornecida pelo governo. O porta-voz acrescentou ainda os US$ 75 milhões de “ajuda do setor privado”. A contribuição, grande parte da qual foi enviada durante a administração Trump, incluiu mil ventiladores e 2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina.
“Continuamos ativamente dispostos a discutir com o governo brasileiro suas necessidades e a encontrar maneiras de continuarmos nossa parceria com o Brasil a fim de ajudar a satisfazer as suas necessidades”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado.
Outros países também contribuíram. A Alemanha enviou ventiladores depois que o sistema médico da cidade de Manaus fracassou. A Organização Mundial da Saúde começou a enviar vacinas por meio de um programa que visa sanar as de imunizantes. A União Europeia e seus países membros concederam cerca de US$ 28 milhões em doações desde o início da pandemia, segundo um porta-voz. Em resposta a uma solicitação do Brasil em março, o bloco contribuiu para o envio de “80 mil unidades de medicamentos criticamente necessários” ao Brasil.
Mas a falta de mais assistência internacional – ou mesmo de uma maior expressão de solidariedade – durante os meses de maior desespero no Brasil, confirmou os temores de que o país venha a pagar um preço internacional pela atitude de confronto de Bolsonaro em matéria de política externa e de zombaria em relação às medidas contra o coronavírus aceitas pelos líderes globais.
“O País perdeu influência em inúmeros níveis”, afirmou Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.
O Brasil nunca irritou o mundo. Vasto, tranquilo e em desenvolvimento, seguiu tradicionalmente o que Stuenkel descreveu como uma política externa “previsível”, baseada na construção de alianças. Ano após ano, procurou estender o seu corpo diplomático, um dos maiores do mundo em desenvolvimento.
Voltar-se contra a sua história foi uma jogada que o Brasil não podia se permitir.
“Os EUA conseguiram tirar um Trump porque não precisam tanto do mundo”, disse Stuenkel. “Eles podem produzir suas próprias vacinas. Mas no Brasil, tal comportamento foi particularmente imprudente porque dependia da comunidade internacional. Nós não temos poder forte. Nós precisamos de multilateralismo“.
Em vez disso, o governo Bolsonaro menosprezou a fé na China e em suas vacinas ao mesmo tempo em que o Brasil dependia do país para obter material para as vacinas. Em abril passado, o ex-ministro da Educação de Bolsonaro tuitou uma mensagem racista provocando uma violenta censura da China e da Suprema Corte brasileira. O filho do presidente, membro do Congresso brasileiro, culpou a China pela pandemia, depois a acusou de usar o sistema 5G para espionagem.
O governo chinês advertiu que haveria “consequências negativas” se tal retórica continuasse. Em janeiro, o embarque de material da China para a produção de vacinas sofreu um considerável atraso, provocando uma série de especulações. Para alguns veículos de informação, os insultos do governo tiveram consequências.
Esta semana, enquanto as autoridades de saúde do país recusavam a vacina Sputnik V da Rússia, alegando falta de transparência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou a vacina chinesa que o Brasil tem.
“Os chineses inventaram o vírus”, afirmou, “e sua vacina é menos eficiente do que a americana”.
O embaixador chinês revidou: “Até este momento, a China é a principal fornecedora de vacinas e de material básico ao Brasil”.
Os que estão pagando o custo destas disputas diplomáticas são os brasileiros comuns, afirmou Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano sediado em Washington.
“O povo brasileiro está sofrendo e morrendo a taxas absurdas,” ele disse. “E esta é a parte mais trágica”. / Tradução de Anna Capovilla
Políticos deveriam adotar o espírito de experimentação que sempre definiu a ciência
Moisés Naím*, O Estado de S.Paulo
Os cientistas nunca tiveram dúvidas de que teríamos uma vacina contra a covid-19. E não estavam errados. Muitos poucos, entretanto, previram que tal vacina estaria disponível tão rápido. Acertaram ao presumir que teríamos uma vacina contra esse vírus, mas erraram em suas estimativas da velocidade com que isso aconteceria.
A experiência histórica indicava que levaria anos para a vacina se desenvolver e se tornar disponível em grande escala. Os cientistas começaram a pesquisar a covid-19 em janeiro de 2020 e pouco depois estavam prontos para iniciar a fase 3 dos testes clínicos, a qual avalia a eficácia da vacina em um grande número de pessoas. Normalmente, passam-se anos até que qualquer medicamento ou tratamento esteja pronto para os estudos de fase 3. Nesse caso, foram seis meses.
O mesmo está acontecendo com as mudanças climáticas e a revolução digital baseada na inteligência artificial. Os especialistas identificam corretamente as tendências das mudanças, mas subestimam a velocidade com que ocorrem.
O desenvolvimento científico e tecnológico é uma das tendências que sempre definiram a humanidade. Outra tendência histórica é que as novas tecnologias tendem a ter consequências imprevistas na sociedade, na economia e na política. E, claro, nos governos, que estão sempre desatualizados e atrasados nas mudanças tecnológicas.
O que aconteceu com a vacina contra a covid-19 – sua invenção, produção e distribuição – é um exemplo revelador desse perigoso descompasso entre tecnologia e política. Se o esforço científico foi global, a resposta dos governos foi local. Se laboratórios de diferentes países compartilharam dados e informações, governos importantes, como o chinês, por exemplo, os ocultaram ou desconversaram.
Os cientistas mostraram visão, flexibilidade e velocidade, os governos foram míopes, rígidos e lentos. Tudo isso não quer dizer que não tenha havido rivalidades entre alguns cientistas e acirrada competição entre as empresas farmacêuticas. Mas todos nós vimos como, enquanto os cientistas respondiam efetivamente à crise, políticos e governos de muitos países negavam a própria existência da pandemia ou a minimizavam, ridicularizavam o uso de máscaras ou a necessidade do distanciamento social, promoviam tratamentos fraudulentos e o uso de medicamentos milagrosos.
As normas, regras e valores que orientam o comportamento dos políticos são, por certo, muito diferentes daqueles que orientam os cientistas. Se, para os cientistas, o mérito individual é muito importante, os políticos privilegiam a lealdade de seus colaboradores e seguidores. Para os cientistas, as decisões devem se basear em dados e evidências, enquanto os políticos tradicionais se fiam muito em suas experiências, passagens e intuições anteriores. Enquanto a pesquisa científica busca mudanças por meio da criação e adoção de novos conhecimentos, a política muitas vezes privilegia ideias e formas de agir conhecidas – mesmo que, em seus discursos, todos os políticos se apresentem como agentes da mudança.
Por fim, o método científico se fundamenta na razão e na verificação empírica de afirmações cuja validade pode ser verificada e replicada por outros. Na política, por outro lado, prevalecem as paixões e crenças pessoais, bem como as crenças religiosas e o pensamento mágico.
Tudo isso não significa, é claro, que entre os cientistas não existam comportamentos influenciados por paixões, interesses e preconceitos, ou que entre os políticos não existam casos de meritocracia, racionalismo e promoção da mudança. Mas o que esse contraste revela são algumas das fontes do descompasso entre ciência e política.
O atraso da política se manifesta brutalmente na estagnação dos governos, em seu funcionamento e, principalmente, nos processos de tomada de decisão em matéria de políticas públicas. Os políticos fariam bem em adotar o espírito de experimentação que sempre definiu a ciência. Isso, ao lado da abertura a novas ideias, a avaliação imparcial das evidências e a força da realidade empírica, poderia começar a reconstruir a credibilidade das democracias diante das múltiplas crises que as ameaçam. A alternativa – o status quo – oferece apenas o aprofundamento da crise de desgoverno que tem assolado tantas democracias ocidentais. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
* É ESCRITOR VENEZUELANO E MEMBRO DO CARNEGIE ENDOWMENT
A declaração infeliz do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que os chineses “inventaram” o vírus, mas desenvolveram vacinas menos eficazes do que os americanos, acabou servindo de oportunidade para a China reafirmar o desejo de parceria estratégia com o Brasil.
Na manhã seguinte, o chanceler Carlos França telefonou para o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, para tentar superar o constrangimento. Logo depois desse telefonema, Yang entrou em um seminário virtual do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
O embaixador contou que ambos reiteraram o desejo de continuar a colaboração no campo das vacinas. Yang acrescentou que a China considera o Brasil “um parceiro estratégico na pandemia”, e “vai honrar o compromisso de tornar a vacina um bem público global e de fornecê-la ao Brasil”.
Os dois manifestaram o desejo de manter boas relações, disse Yang, acrescentando: “Agora temos um diálogo muito fluido”, numa referência à saída do ex-chanceler Ernesto Araújo, que no Fórum Econômico Mundial de Davos propôs uma aliança do Brasil com os Estados Unidos para combater o “tecno-totalitarismo” chinês.
No mesmo seminário, Xu Bu, presidente do Instituto de Estudos Internacionais da China, que assessora o governo chinês, observou: “China e Brasil são economias muito complementares. Temos muito o que nos beneficiar dessa relação. O potencial é enorme. Temos que abandonar preconceitos ideológicos. Não temos que escolher entre países”.
Com essa última frase ele estava concordando com o que tinha dito antes o embaixador e ex-ministro Sérgio Amaral, para quem o Brasil não tem de escolher entre Estados Unidos e China. “Estamos todos no mesmo barco”, continuou Xu. “Temos que trabalhar juntos contra os desafios globais. Nenhum problema global pode ser resolvido por um único país.”
O assessor deslocou sua reflexão do Brasil para o governo Joe Biden: “Começar uma nova Guerra Fria, intimidar outros países, falar em decoupling (descolamento das cadeias de produção), isolamento, só empurrará o mundo para a divisão e o confronto”.
Uma aula de paciência estratégica. Os chineses costumam olhar em perspectiva. “Eles veem as relações com o Brasil no longo prazo, para além do atual governo”, me disse Henrique de Moura Reis, gerente de Relações Internacionais do China Trade Center.
O Brasil foi o primeiro país declarado pelo governo chinês “parceiro estratégico global”, em 2012, durante visita do então primeiro-ministro, Wen Jiabao, no contexto da Rio+20.
A complementaridade é total: o Brasil precisa de investimentos em infraestrutura e de importar produtos industrializados. A China tem US$ 3,2 trilhões em reservas e precisa de alimentos e matéria-prima. Outros países, que poderiam se encaixar nesse papel, como Índia, Austrália e EUA, mantêm disputas geopolíticas com a China.
Os chineses veem no longo prazo, mas agem no curto. O chanceler fez um relato na Comissão das Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados de sua conversa telefônica com o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi.
França pediu apoio na aquisição de 30 milhões de doses da vacina da Sinopharm, para entrega ainda no segundo trimestre deste ano, e de ingredientes para a produção no Brasil de 60 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. Segundo ele, Wang se comprometeu a fazer todo o possível para que as entregas ocorram a partir deste mês, já que em abril a China estava focada em vacinar a própria população.
Em mandarim, os caracteres da palavra “crise” (“weiji”) estão presentes em “perigo” (“weixian”) e “oportunidade” (“jihui”). O Brasil é indiferente ao perigo, como atestam, tragicamente, as 400 mil mortes por covid, muitas delas evitáveis. Seria bom se começasse a ser mais atraído pelas oportunidades.
* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS
“Comece copiando o que você ama. Copie, copie, copie e copie muito. Ao final de muitas cópias, você encontrará a si mesmo” (Yohji Yamamoto).
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes livros sobre Criatividade.
Eles me levaram para Austin, Texas, Estados Unidos, onde fui recebido pelo escritor Austin Kleon, autor do sucesso “Roube como um artista”, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
Copie as pessoas que você mais admira até se tornar original.
Desenhe uma espécie de árvore genealógica nomeando as pessoas mais inteligentes e geniais que mais te influenciam na vida, vivas ou mortas, famosas ou anônimas.
Depois, pesquise sobre elas e descubra as pessoas mais geniais e inteligentes que influenciaram cada uma delas e continue fazendo isso até cerca de cinco gerações atrás.
Você descobrirá desse levantamento uma coisa incrivelmente fantástica:
Nenhuma das pessoas que você mais admira foi totalmente original do zero, todas as suas melhores ideias partiram de cópias das melhores ideias de outros gênios.
Portanto, copie sem pudor o máximo de ideias que você puder.
Depois, agrupe-as e espalhe-as sobre a sua mesa, misture-as com suas próprias ideias e pensamentos e transforme-as em algo totalmente novo.
Em seguida, mostre suas novas ideias para o mundo, para que possam roubá-las e copiá-las de você, para o mundo melhorar.
Um exemplo curioso de cópia criativa é a música “Feelings”, balada romântica que fez muito sucesso no Brasil e depois estourou pelo mundo nos anos 70.
Seu autor, Morris Albert (um brasileiro cujo verdadeiro nome é Maurício Alberto), ficou milionário com tanto sucesso, quase 200 milhões de discos vendidos em toda a carreira.
Só que na década de 80 ele foi justamente condenado pela justiça americana a pagar uma indenização altíssima por direitos autorais devidos. Morris Albert foi condenado por ter feito uma cópia rasgada (plágio) de uma canção francesa desconhecida chamada “Pour Toi”, composta por Lolou Gasté, em 1957.
Lolou Gasté compôs uma obra prima que estava fadada ao fracasso e poderia não ter recebido um centavo, não fosse a cópia criativo de Morris Albert, um fenômeno de contaminação viral, numa era em que não existia a internet.
Copie muito, até se transformar em original, sempre respeitando os créditos e os direitos autorais.
Palestrante, consultor e fundador do Blog do Maluco
Todos nós em algum momento sempre estamos copiando alguma coisa de alguém por precisar e ou por acharmos bonita aquela coisa.
Agora, a Plataforma Comercial da Startup VALEON não foi copiada de ninguém, é única e exclusiva, foi concebida para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.
A Plataforma Comercial Valeon veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.
Diferenciais
Eficiência:A Valeon inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
Acessibilidade:A Valeon foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
Abrangência:A Valeon atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
Comprometimento:A Valeon é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.