quarta-feira, 14 de abril de 2021

FAMÍLIAS BRASILEIRAS NÃO SE ALIMENTAM ADEQUADAMENTE

 

Seis em cada dez casas brasileiras vivem insegurança alimentar; falta comida em 15% dos lares

Situação é mais grave no Nordeste; números são de estudo de universidade alemã com instituições brasileiras

Marcio Dolzan, O Estado de S.Paulo

RIO – Quase três quintos dos domicílios brasileiros (59,4%) apresentaram algum grau de insegurança alimentar no último quadrimestre do ano passado. Outro dois quintos diminuíram o consumo de alimentos importantes, como carnes e frutas. A situação mais grave está no Nordeste. Lá, 73,1% das casas registraram insegurança alimentar no período. Os números constam de estudo de pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB).

A pesquisa, cujos resultados foram divulgados nesta terça-feira, 13, foi feita entre novembro e dezembro de 2020. As duas mil pessoas que compuseram a amostra consideraram sua situação de segurança alimentar a partir de agosto. É considerado em insegurança alimentar um domicílio com incerteza quanto o acesso à comida no futuro ou que já apresenta redução de quantidade ou qualidade dos alimentos consumidos.

Insegurança alimentar atinge preto e pardo, nordestino e morador de zona rural
Quase três quintos dos domicílios brasileiros (59,4%) apresentaram algum grau de insegurança alimentar. Foto: Roberto Pereira/Estadão

O levantamento mostrou que 59,4% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar no fim de 2020. Considerando os números totais, 31,7% relatou insegurança leve,  12,7% moderada, e 15% grave. Nesse caso, há falta de alimento. As pessoas que convivem na casa, incluindo as crianças, passaram fome.

Depois do Nordeste, a pior situação era a do Norte, com  67,7% de domicílios em situação de insegurança alimentar. A região em melhor situação foi a Sul, mas lá ainda assim mais da metade dos domicílios (51,6%) estava em insegurança alimentar. Centro-Oeste (54,6%) e Sudeste (53,5%) também registraram números altos.

Os dados reforçam a conclusão da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em setembro do ano passado. O estudo, pela primeira vez na série histórica, indicou queda nos níveis de segurança alimentar dos brasileiros. Os números apresentados agora, contudo, mostram que a pandemia e a situação econômica do País nos últimos anos pioraram a alimentação dos brasileiros.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=2Em3w2

“O aumento ainda maior da insegurança alimentar, bem como a redução drástica no consumo regular de alimentos saudáveis, eram esperados por múltiplos fatores, de ordem econômica e política” avalia Renata Motta, professora de Sociologia na Universidade Livre de Berlim e uma das responsáveis pelo estudo. “Os efeitos da desaceleração da economia desde 2015 não foram, como quando houve a queda do PIB com a crise financeira mundial de 2008, mediados por políticas sociais anticíclicas de garantia da renda. A pandemia veio neste caldo e tornou ainda mais visíveis as consequências das escolhas políticas recentes do País.”

O trabalho das universidades mostrou que 63% dos domicílios entrevistados declararam ter utilizado o auxílio emergencial em 2020 para compra de alimentos. Por isso, o fim do benefício, em dezembro, e seu retorno agora, em valores bem mais baixos, causam preocupação.

“A instabilidade da política de auxílio emergencial, seu descontinuamento e seu corte significativo no valor e no universo têm efeitos imediatos na vida das famílias que dependem deste auxílio, pelo menos de duas grandezas: a limitação do acesso a alimentos pela própria redução do valor e também efeitos nas escolhas devido à preocupação de faltar dinheiro para comprar comida”, pontua.

Cai consumo de alimentos de qualidade no Brasil

Outro ponto destacado pela pesquisa é a piora na qualidade do que os brasileiros comem. O estudo mostrou queda superior a 40% no consumo de carnes, frutas e queijos, e de 36,8% no de hortaliças e legumes.

“Alimentos como as carnes e frutas são considerados marcadores de alimentação saudável”, ressalta a nutricionista e pesquisadora Melissa Araújo, da UFMG. “Além disso, indivíduos em insegurança alimentar apresentam maior consumo de alimentos não saudáveis, como os ultraprocessados, de maneira que o comprometimento na qualidade da alimentação contribui para maiores riscos de agravos em saúde como a obesidade, e, para as crianças, déficit cognitivo e no desenvolvimento.”

CRIANÇAS MORTAS POR AGRESSÃO

 

Em uma década, Brasil teve ao menos 2 mil mortes de crianças de até 4 anos por agressão

Caso Henry, morto no Rio, mostra riscos desse tipo de violência doméstica; para cada óbito registrado dessa forma, especialistas estimam outros 20 subnotificados

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

RIO – A morte de Henry Borel, de 4 anos, por espancamento não é um caso isolado de violência doméstica. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ao menos 2.083 crianças até essa idade foram mortas por agressão no Brasil, de janeiro de 2010 a agosto de 2020. Para cada caso de óbito registrado dessa forma, especialistas estimam haver outros 20 subnotificados. 

Os dados de mortalidade de 2020 ainda são preliminares e não foram consolidados até o fim do ano. Mas os especialistas acreditam que o isolamento social adotado na pandemia expôs as crianças a mais violência doméstica. Em consequência, dizem, aumentaram os casos letais. O problema deve se repetir neste ano. Segundo a SBP, os autores de 80% das agressões são os pais ou responsáveis, e elas acontecem dentro de casa.

Henry Borel
Henry Borel, de 4 anos, morto por espancamento, não é um caso isolado de violência doméstica. Foto: Reprodução/Instagram

“O caso do menino Henry não pode ser ignorado e deve ser apurado com todo o rigor que a lei exige”, defende a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva. “Tal barbárie deve alertar, ainda, para a existência de outras crianças e famílias que vivem dramas semelhantes que não chegam à mídia.”

As agressões estão agrupadas no Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Estão entre os motivos mais comuns de morte de menores no Brasil. Somadas aos acidentes, as agressões são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de 1 a 19 anos.

Em 2019, foram 188 óbitos por agressão na faixa etária até 4 anos – o patamar ficou próximo a 200 nos anos anteriores. No ano passado, até agosto, foram registrados 71 casos, mas os dados são preliminares. 

O problema não é exclusivo do Brasil, mas global. Apareceu em levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2016. O estudo estimou que em todo o mundo 1 bilhão de crianças e adolescentes tinham sofrido violência psicológica, física ou sexual no ano anterior à coleta dos dados.

As medidas de distanciamento social, incluindo o fechamento de escolas, foram adotadas por mais de 170 países e afetaram quase 80% de toda população estudantil mundial. Fizeram a maior parte das crianças permanecer praticamente todo o tempo em suas casas. Sabe-se, por exemplo, que só em março de 2020 o Brasil apresentou aumento de 17% no número de ligações notificando a violência contra mulheres. “De maneira similar, trabalhos nacionais e internacionais destacam que, diante de um cenário de risco e vulnerabilidade social, o isolamento domiciliar expõe crianças e adolescentes a maiores conflitos e tensões e à piora da violência intrafamiliar, sem que tenham condições de denunciar esta violência ou de ela ser percebida em outros locais que a criança estaria frequentando, como a escola”, explica o presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP, Marco Gama.

Até agosto de 2020, dados preliminares apontam 4.142 mortes de crianças e adolescentes de 1 a 19 anos – menos da metade da média dos anos anteriores. “Mas sabemos que o número de casos aumentou muito porque tivemos que pedir várias intervenções da Justiça para proteger crianças ao longo de 2020”, diz a pediatra Luci Pfeiffer, do Departamento Científico de Segurança da SBP, coordenadora do programa Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Dedica).

Desde o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, a tendência tem sido de aumento dos registros de violência contra crianças (com exceção do ano passado). “A violência sempre existiu, mas era muito encoberta”, explica Luci Pfeiffer. “As notificações só começaram a partir do ECA. Até então não se sabia nem identificar os casos.”

Ciclo de violência

Segundo especialistas, pais agressores, em geral, foram vítimas de agressão na infância. “A violência contra as crianças acontece em todas as classes sociais, em todas as culturas”, afirma Luci. “Não depende de escolaridade, religião ou etnia, é uma doença que vai passando de pai para filho. É preciso interromper essa cascata. Existe tratamento para essas famílias.”

O caso dos supostos agressores de Henry – a mãe do menino, Monique Medeiros, e seu namorado, o vereador Jairo Santos Júnior, o Dr. Jairinho – é visto como diferente. “Esse perfil é de pessoas extremamente covardes e cruéis, que sentem prazer na agressão”, diz Luci.

As agressões que resultam em morte da vítima raramente são o primeiro episódio de violência. Em geral, os maus-tratos se agravam com o tempo. “Quando uma criança é agredida nesse nível do Henry, todos à volta costumam saber”, afirma a especialista. “Não denunciam por conivência ou indiferença.”

Um dos aspectos mais chocantes do crime é que Henry teria falado sobre as agressões para a babá e a própria mãe. A avó materna e uma tia também teriam sabido da violência.

“É como se todas as esferas de proteção não funcionassem”, afirma a juíza Andrea Pachá, da 4.ª Vara de Órfãos e Sucessões do Tribunal de Justiça do Rio. “Quando a tragédia acontece e a criança aparece morta, fica tudo tão óbvio: como ninguém deu atenção às reclamações dessa criança? Vivemos numa sociedade em que os adultos não se sentem responsáveis pelas crianças. É dever do Estado, das famílias, das comunidades, de todo mundo, cuidar das crianças”, afirma ela. “Quando percebemos que o pedido de socorro circulou por essas esferas e não foi ouvido, me pergunto que sociedade é essa. Se ele não tivesse morrido, a violência ia continuar. É uma normalização da violência, como se fosse mais conveniente não acreditar, se omitir.”

Coordenador da Infância e Juventude da Defensoria do Rio, Rodrigo Pacheco concorda. “Todos têm de estar imbuídos desse espírito de proteger as crianças e, sempre que tiver notícia de alguma violência, ouvir e acreditar nas crianças”, diz. “Se alguém tivesse tentado intervir antes, a violência maior não teria acontecido’, completa ele. “Ninguém precisa sentir dor para aprender”, diz Luci.

Para entender – Lei da Palmada criou polêmica

A Lei 13.010, a Lei da Palmada, entrou em vigor em 2014 e estabelece que “crianças e adolescentes têm o direito de serem educados e cuidados sem uso de castigos físicos ou tratamento cruel ou degradante”. Ela causou polêmica porque grupos mais conservadores a viam como uma interferência do Estado na família. O presidente Jair Bolsonaro já manifestou seu apoio a castigos para crianças. “Em casa, não era bronca não, o ‘pau cantava’”, disse durante vídeo nas redes sociais em dezembro. “Saudade daquela época em que você tinha muito mais deveres que direitos.”

Como ajudar

– Sinais físicos

Hematomas frequentes e dores pelo corpo podem indicar agressão. Outros sinais de estresse e ansiedade devem ser observados, como náuseas, tonturas, vômito, taquicardia. Vale atenção a mudanças de apetite ou de sono.

– Sinais emocionais

Se uma criança se recusa a ver certa pessoa, dá as costas para ela, desvia o olhar, é preciso estar atento. O que é interpretado como birra pode ser medo. Agressividade em excesso com colegas é outro sinal. Problemas de autoestima devem ser levados a sério: podem indicar a internalização de impressões negativas passadas por adultos. 

– Sinais cognitivos

Problemas de aprendizado e de rendimento escolar são frequentes em crianças agredidas. 

– Escuta e denúncia

Segundo os especialistas, é preciso ouvir as crianças e levar a sério o que elas dizem. Qualquer problema ou mesmo suspeita deve ser denunciado à polícia, ao Ministério Público ou a autoridades competentes. Denúncias podem ser feitas até mesmo de forma anônima, pelo Disque 100.

ESTAMOS SEM LÍDERES NA POLÍTICA

 

E O POVO, COM CERTEZA, NÃO GOSTA DE LÍDERES FRACOS

William Horta – Jornalista de Teófilo Otoni

Concordo totalmente com o vácuo de liderança. Mas este vácuo é uma carência de âmbito geral. O senador Renan Calheiros que, por sinal, era tido como uma unanimidade extremamente negativa, disse há algum tempo, reclamando já nos primeiros atritos entre PT e MDB, mais ou menos o seguinte: “somos uma aliança, mas falta uma parceria PROGRAMÁTICA”.

Eu coloquei em maiúsculas esta última palavra, porque ela é imprescindível para uma LIDERANÇA sustentável. Andei lendo há pouco tempo, que até a dinastia de ditadores da Coreia do Norte, seguem uma mistura de ideologia/programa.

Uma coisa sem dúvida insustentável para qualquer país deste planeta. Mas como não existe o contraditório lá, os cidadãos seguem já, há três gerações o que eles chamam de “programa JUCHE”.Se eu entendi direito, o primeiro ditador da dinastia, de nome Kim ILL Sung, escreveu uma teoria que justificava, baseado em seu discurso unilateral e garantido pelo exército, que a Coreia do Norte seria auto suficiente e, portanto, isolada para não sofrer contaminação de outros sistemas políticos e mantendo o que para a liderança até hoje é sagrado. A Unidade do país sob a regência do supremo líder.Perto deles, até a Venezuela parece uma brincadeira de criança né?

Para além do bem e do mal, eles têm um programa, embora inexequível, sob o qual, o líder supremo encontra bases para manter a ordem e a normalidade do seu regime “from hell”.

TEMOS UM VÁCUO DE LIDERANÇAS

Nem olhando de luneta eu vislumbraria isto como um ideal para o Brasil. Só que, parecemos muito mais evoluídos e politizados e, no entanto, temos vácuo programático e de liderança.

Um líder tem que apontar um caminho. Tem que saber dizer o que está ruim, por que está ruim, o que está impedindo de melhorar e, especialmente, qual a “solução” que promete colocar em prática, usando, exatamente, quais recursos para tal.

O povo não gosta de líderes fracos. De outra forma como escolher um cara para liderar se o dito cujo é excelente para criticar e uma vez apertado contra a parede, sai com histórias da carochinha que não fazem o menor sentido. A liderança se sustenta pela força ou pela sedução das ideias.

NENHUMA FORÇA MANTERÁ DE PÉ UM MARIONETE

Não acho que força nenhuma manterá de pé um marionete na atual circunstância brasileira e do ponto de vista de credibilidade e conhecimento estamos realmente sem escolhas. A Marina Silva quando se candidatou ousou apresentar um programa. Foi o que o PT, através do marqueteiro e então presidiário João Santana precisava para fuzilar a candidatura dela.

Se acertou o alvo é porque o programa não era convincente. O PT se elegeu, na época, sem programa. O que por si só deveria impressionar. O Aécio quando foi candidato em 14, disse que tinha um, mas não me lembro de tê-lo ouvido. Enfim, o país chegou ao extremo de colocar em milésimo plano um programa de governo. Ele tem de existir e ser apresentado junto com a candidatura. Quem dera pudesse ser registrado em cartório.

O art. 165 da Constituição Federal, dispõe inclusive sobre o programa e seu cumprimento ao longo de quatro anos. Mas há muito os detentores do poder executivo não respeitam a constituição. Vide “IRRESPONSABILIDADE FISCAL” praticada desde longa data.

ESSA GERAÇÃO NÃO POSSUI LÍDERES CARISMÁTICOS

Retornando ao foco que trata da ausência de lideranças. Esta geração não possui líderes carismáticos. Para ser sincero, somente vi um esboço muito pálido em dois.

O Kim Kataguiri e o Marcel Van Hatten, deputados eleitos pelo DEM e PP de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Ambos são excelentes como bate paus. Sabem criticar que é uma maravilha. Têm de serem colocados à prova quanto a indispensável credibilidade e, a capacidade de elaborar um plano crível para reerguer não só a economia, mas o próprio prazer do eleitor de comparecer para votar, considerando que o voto pode ser justificado depois.

Os atuais políticos passaram a política numa máquina de moer carne. O sistema apodreceu. É um mar de lama, nos moldes daquela operação da PF na vizinha GV em 2.016. Lembra? Mas, a flor de lótus floresce na lama. Quem sabe?

terça-feira, 13 de abril de 2021

INTERFERÊNCIA DO ESTADO NA RELIGIÃO

 

Estamos diante de um problema político sério que a direita evangélica traz para a democracia

Rubens Barbosa, O Estado de S.Paulo

Estamos vivendo tempos estranhos. A sociedade está dividida e polarizada, anestesiada e paralisada, até pelas dificuldades decorrentes da pandemia. A perplexidade aumenta na medida em que, entre muitos outros exemplos, se verifica a maneira como a grave crise do combate à covid-19, fora de controle, está sendo conduzida; pela ameaça de um enfrentamento fratricida pela facilitação da venda e do porte de armas e munições; pela inexplicada crise militar com a demissão da cúpula da Defesa; pelo desmonte do combate à corrupção; pela crescente influência das milícias e do tráfico de drogas; pela chocante visibilidade da desigualdade social; pela falta de perspectivas e de uma visão de futuro para o País.

A tudo isso se junta agora a surrealista discussão sobre atividades religiosas coletivas em templos e igrejas durante a pandemia. As apresentações terrivelmente evangélicas feitas no STF pelo advogado-geral da União e pelos advogados que defendiam a abertura dos templos e igrejas trouxeram à tona, mais uma vez, a questão da laicidade do Estado brasileiro. Até o presidente reforçou a defesa de cultos e missas presenciais como um direito inerente a maioria, ignorando as ameaças à vida e a Constituição.

Estado é laico é o que promove oficialmente a separação entre Estado e religião. A partir dessa separação, o Estado não deveria permitir a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, nem privilegiar uma ou algumas religiões sobre as demais. Essa situação existe no Brasil desde a Proclamação da República, em decorrência do disposto na Constituição de 1891, em que se explicita a rejeição da união entre o poder civil e o poder religioso, pondo fim ao regime do padroado, que concedia privilégios à Igreja Católica e no qual se confundiam o Estado e a Igreja. No laicismo, cabe ao Estado garantir a liberdade e a igualdade de todos, independentemente dos valores morais e religiosos.

Mesmo com maioria até aqui católica, o Brasil é oficialmente um Estado laico, neutro no campo religioso, não apoiando nem discriminando nenhuma religião. Apesar de citar Deus no preâmbulo, a Constituição federal é clara ao vedar à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. Dessa forma, a liberdade religiosa na vida privada é assegurada, desde que separada do Estado. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Na minha visão, a separação Igreja-Estado foi um avanço e está na base da formação dos Estados modernos. Com a República, o Estado brasileiro tornou-se um Estado moderno, no qual não se busca a satisfação espiritual, mas a expansão dos direitos humanos e das liberdades individuais.

Ao contrário do que se ouviu nos últimos dias, o Estado brasileiro não se pode manifestar religiosamente. Como já foi dito por ministro do STF, “os dogmas de fé não podem determinar o conteúdo dos atos estatais” e “as concepções morais religiosas – unânimes, majoritárias ou minoritárias – não podem guiar as decisões de Estado, devendo, portanto, se limitar às esferas privadas”.

Nos últimos anos, o que se viu foi o contrário. A ameaça à Constituição não é uma preocupação. Embora não se constituindo em movimento único, pois há divergências entre elas, a influência das igrejas evangélicas, em especial a Universal, aumentou significativamente e ganhou força política real.

Sua eficiente arrecadação entre fiéis seduzidos e sua capacidade televisiva e radiofônica, além da mídia impressa e de partidos políticos, estão a serviço de um projeto político. Não é segredo para ninguém que os evangélicos buscam alcançar, sem intermediários, o poder máximo da República, depois de eleger prefeitos, governadores, senadores, deputados e ministros das Cortes de Justiça. A Igreja Universal ataca a Igreja Católica e exerce uma ação voltada para assumir a hegemonia do Estado.

Não se pode negar a competência e a eficiência da atuação da militância evangélica, instalada agora em diferentes órgãos públicos federais, na defesa de sua agenda de costumes, social, financeira e mesmo política, como estamos vendo nas ações do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e na política externa, nos últimos dois anos.

Pela primeira vez na História do Brasil, as igrejas evangélicas atuam de maneira coordenada para chegar ao comando do poder político. Em política não existe vazio. Se alguns setores ganham espaço, outros perdem. É surpreendente que representantes da alta hierarquia da Igreja Católica, em especial, não se tenham manifestado até aqui em defesa do Estado laico e da separação clara do Estado e da religião.

Estamos diante de um problema político sério que a direita evangélica traz para a democracia e afeta liberais, conservadores e progressistas. Trata-se, na realidade, de um problema de dominação por uma minoria e de reação contra o pluralismo.

PRESIDENTE DO IRICE

TENDÊNCIAS NA POLÍTICA BRASILEIRA

 

Unidos na eleição de 2018, diferenciações e divergências vão se tornando mais nítidas

Denis Lerrer Rosenfield, O Estado de S.Paulo

Jair Bolsonaro, em sua eleição, conseguiu encarnar a força do antilulopetismo, congregando em torno de si três correntes de ideias que, naquele então, apareceram juntas na luta contra um inimigo comum: a extrema direita, os conservadores e os liberais. Compareceram amalgamados, unidos, mesmo indistintos, prometendo uma regeneração nacional, contra a corrupção e os políticos que a ela tinham aderido.

A concepção propriamente de extrema direita, embora já presente, foi progressivamente ganhando forma, exercendo forte influência graças à família presidencial e à captura de ministérios importantes. Os conservadores, bem delineados, surgiram na defesa de valores morais, tendo como representantes principais os evangélicos. Os liberais apresentaram-se, principalmente, sob a pauta do liberalismo econômico e menos sob a forma do liberalismo político.

No entanto, nestes mais de dois anos transcorridos, as diferenciações e divergências internas foram se tornando mais nítidas, embora algumas ainda não se tenham configurado completamente. Por exemplo, o liberalismo econômico já foi praticamente deixado de lado, apesar de o ministro da Economia continuar no poder como figurante de um governo de extrema direita, afeito a intervenções em empresas públicas, abandono das reformas, irresponsabilidade fiscal e ausência de privatizações. Sobra apenas um fiapo de discurso e práticas liberais.

No que diz respeito ao conservadorismo, ele continua ainda aderido à extrema direita, apesar de fissuras se fazerem cada vez mais presentes. Os evangélicos prezam a solidariedade, a compaixão, os valores morais, são reconhecidos como pessoas que reverenciam as virtudes e o trabalho, logo, não podem compactuar com o tratamento que o bolsonarismo dispensa à morte, à doença, o seu desprezo pela vida. Quando a morte e a doença batem à porta, pelo descaso e pela inépcia governamentais, um limite está sendo ultrapassado. Não há nenhuma gracinha na “gripezinha” e nos efeitos da vacina criando caudas de jacaré. O que há, sim, é um completo menosprezo por valores religiosos e morais.

Os traços principais da extrema direita no poder são: 1) A concepção da política baseada na distinção entre amigos e inimigos. Todo aquele que não segue as ordens do clã presidencial é considerado inimigo efetivo ou potencial, seja ele real ou imaginário. Afirma-se, assim, o ódio ao próximo. 2) A sociedade e o mundo em geral são vistos pelo prisma de uma teoria conspiratória, com inimigos invisíveis urdindo um grande complô internacional, sendo o atual governo o bastião de “valores”, evidentemente os seus. 3) O presidente considera-se investido de uma missão de caráter absoluto, como se tudo por ele proferido devesse ser simplesmente acatado, no estilo ele manda e os outros obedecem. 4) Deduz-se daí um culto à personalidade, particularmente presente em sua apresentação de si como se fosse um mito, uma espécie de messias, numa deturpação dos valores religiosos. 5) A destruição e a morte tornam-se traços principais dessa arte de (des)governar, com as instituições representativas, liberais, sendo atacadas e dando livre circulação ao coronavírus, com atrasos, incompetência e tergiversações sobre vacinas, apregoando o contágio por aglomerações e ausência do uso de máscaras. A morte pode circular livremente!

Ora, o conservadorismo no Brasil, fortemente ancorado em valores morais de cunho religioso, está baseado no amor ao próximo, e não em sua exclusão ou potencial eliminação. Sua expressão política na representação parlamentar se faz pelo diálogo e pela negociação, o outro não podendo ser tomado como inimigo. Mais precisamente, não haveria como aceitar o culto à personalidade, muito menos ordens a serem simplesmente acatadas, pois, nesse caso, o poder laico estaria adotando uma forma religiosa. E conforme assinalado, a vida é algo sagrado, não pode ser tratada com incúria e desprezo. Torna-se nítido que o conservadorismo começa a distanciar-se do bolsonarismo, embora sua imagem continue atrelada a ele.

Quanto ao liberalismo, se o seu componente econômico já está sendo relegado a uma posição secundária, se não irrelevante, outro valor seu começa a ser contaminado, a saber, a sua feição propriamente política. Vocações autoritárias do bolsonarismo são inadmissíveis para um liberal. A política enquanto distinção amigo/inimigo é o contraponto de tudo o que essa concepção defendeu no transcurso de sua história. O culto à personalidade lembra tanto o stalinismo quanto o nazismo e o fascismo, com a glorificação e a santificação do líder máximo. A distinção dos Poderes, tão cara, está sendo cotidianamente testada, como se as instituições representativas fosse um obstáculo ao exercício do poder que devesse ser eliminado.

Eis alguns aspectos que serão centrais nas próximas eleições e para o destino do País, cujas distinções aparecerão mais claramente numa abertura para o futuro – isso se algumas dessas correntes não optarem por um jogo de esconde-esconde, do qual o bolsonarismo sairá vencedor.

Mais vale prevenir do que remediar.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFGRS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

SABER O QUE É INOVAÇÃO E O QUE NÃO É

 

Lucas Lima

Inovação virou uma das palavras da moda no mundo dos negócios nos últimos anos.

Isso foi ainda mais intensificado com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que quase do dia para noite fez com que negócios do mundo inteiro vissem a necessidade de saber como adaptar seus processos, produtos ou serviços.

Mesmo diante desse cenário, é comum encontrar diversas informações desencontradas sobre o que realmente é e de como criar uma cultura de inovação dentro das empresas.

O autor Nassim Nicholas Taleb, conhecido pelos seus livros Antifrágil, A Lógica do Cisne Negro e Iludidos pelo Acaso, dentre outros, costuma dizer que uma das melhores formas de visualizarmos o futuro é buscarmos o caminho da Via Negativa, uma expressão em latim que se refere a uma proposição cristã onde se busca explicar Deus por aquilo que ele não é, ao invés do contrário.

Quando falamos de inovar, essa é uma maneira interessante de começar a defini-la. Ao invés de começarmos falando o que é, vamos discutir primeiro aquilo que ela não é.

1- Inovação não é sobre tecnologia

Primeiro de tudo, inovação não é sinônimo de tecnologia. Essa é uma confusão frequente e bastante comum. Ela nasce do boom tecnológico que tivemos nas últimas décadas, quando gigantes como Microsoft, Google, Apple e Amazon surgiram e se tornaram algumas das maiores empresas do mundo.

A grande questão é que tratar inovação como sinônimo de tecnologia é levar em conta apenas uma parte da equação toda.

A tecnologia é sim, uma grande potencializadora de inovações, mesmo assim, tratar as duas como sinônimos pode levar empresas a acreditar que simplesmente adicionando mais tecnologia aos seus processos, serviços ou produtos, elas estarão inovando.

Sabemos que isso raramente é verdade e que pode produzir, no final das contas, resultados contrários ao esperado.

2 – Inovação não é sobre “ser descolado”

Em segundo lugar, inovação não é ter puffs coloridos e post-its grudados nas paredes.

Com o avanço das startups, das metodologias ágeis e dos espaços de trabalho mais abertos, muitas empresas passaram a confundir design organizacional com inovação.

Novamente, do mesmo jeito que acontece com tecnologia, ter espaços mais amplos de trabalho, utilizar metodologias ágeis, criar hub de inovação…

Tudo isso faz parte da equação, mas não é inovação propriamente dita.

3 – Inovação não é um departamento

Em terceiro lugar, e essa falácia é o ponto central deste artigo, inovação não é um departamento ou uma pessoa.

Veja, não estamos dizendo que uma empresa não deve ter um departamento de inovação ou um profissional como líder para inovar.

O ponto é: a inovação jamais deve ser vista como responsabilidade única deste departamento ou profissional. Essa área deve ser, na verdade, uma grande direcionadora dentro da empresa.

O que é Inovação, então?

Inovação é, no final das contas, gerar valor para o cliente. Todo o resto é acessório ou invenção. E uma das formas mais poderosas de se gerar inovação é a partir da criação de uma Cultura de Inovação.

Esse é o fator comum dentre as empresas mais inovadoras do Brasil e do mundo. Por isso é tão importante ter, de forma clara, as visões apresentadas acima daquilo que não é inovação: inovação não é tecnologia, não é ter puffs, não é um departamento.

Inovação tem a ver com cultura

Ao contrário do que muitas empresas dão a entender, a cultura tem muito mais a ver com mínimas ações diárias feitas pelos colaboradores do que necessariamente com frases bonitas distribuídas pelo escritório da companhia.

Cultura é algo orgânico, diário, presente em cada pequena interação que acontece de forma interna e externa da empresa.

E por isso é tão importante quebrar qualquer resistência à inovação, buscando investir cada vez mais nas pessoas para desenvolver uma cultura inovadora.

A inovação tem como início e fim um elemento em comum: pessoas. Elas devem ser o objetivo final de toda e qualquer tentativa de inovação. E elas devem ser também o ponto inicial de desenvolvimento de toda e qualquer tentativa de inovação. Perceba que esse é um discurso que ganhou bastante espaço nos últimos anos.

As empresas cada vez mais se definem como “centradas em pessoas” ou algo do tipo. Contudo, quando paramos para ver na prática, o que acontece é exatamente o contrário.

O discurso de muitas dessas empresas serve para a assessoria de imprensa e postagens nas mídias sociais, contudo, no dia-a-dia, os profissionais são impedidos de crescer, de mudar processos, de trazer novas ideias e sugestões.

Aqui, entramos em dois pontos importantes: a importância das lideranças e a escalabilidade da inovação.

Falamos lá atrás que inovação não pode ser confundida com um departamento ou uma pessoa. Isso não significa, contudo, que inovar não dependa das lideranças. Na verdade, as lideranças são fundamentais para que a inovação floresça dentro das empresas.

O papel do líder para a inovação é quase paradoxal. As lideranças precisam sim, serem educadas para inovar e precisam estar por dentro das iniciativas inovadoras da companhia. Contudo, a inovação não necessariamente surge das lideranças.

Elas devem ser grandes direcionadoras dos próximos passos e iniciativas. Elas devem ser capazes de abrir portas e conseguir recursos para as novas soluções. Se antes as lideranças eram vistas como figuras centrais, que tinham todas as respostas sobre os próximos passos da companhia, na conjectura atual dos negócios, isso não é mais verdade.

As lideranças devem ser grandes impulsionadoras de inovações que surgem independente delas. Dentro do escopo, os líderes devem ter muito menos um papel de “definidores” e muito mais um de “questionadores”, fazendo as perguntas certas e buscando colocar seus liderados para pensar. E é aqui que entramos no segundo ponto: a escalabilidade da inovação.

Se as lideranças não possuem todas as respostas sobre inovação, de onde ela surge, afinal? Das pontas.

Esse é um ponto ignorado por muitas empresas. Voltando ao ponto que citamos acima, muitas companhias dizem que são focadas em pessoas, mas não criam um ecossistema interno para que os profissionais das pontas, não apenas os líderes consigam gerar inovação.

Inovar deve vir das pontas, pois os profissionais que lidam diretamente com os clientes são aqueles que estão vivenciando, no dia-a-dia, a experiência do consumidor.

Cada troca entre colaborador e consumidor produz insights poderosos que a empresa não só pode como deve utilizar para gerar novos processos, novos produtos e novas soluções, além de otimizar aquelas já existentes.

Outro ponto-chave bastante ignorado por boa parte das empresas é a educação para inovação. Perceba, muitas companhias focam o ensino da inovação apenas nos profissionais mais high-level.

É, de fato, importante que esses profissionais recebam esse tipo de treinamento e conteúdo.

Contudo, como mencionamos, a inovação não deve ser algo restrita às lideranças. Inovação não tem dono. Ela pode surgir de qualquer lugar, a qualquer hora e em diferentes contextos.

As empresas que sabem como desenvolver esses grandes ecossistemas inovadores, onde os profissionais dos mais diversos cargos, áreas e níveis são convidados a trazer novas soluções, são aquelas que conseguem inovar mais rápido.

É importante ressaltar que a inovação só ocorre a partir da ideação de diversos testes e milhares de insights que devem acontecer a todo instante. Concentrar todo esse trabalho em apenas uma pessoa ou departamento é a receita para a não-inovação. Por isso a descentralização é tão importante.

Um case clássico dessa mentalidade é o da Intuit, gigante norte-americana de serviços financeiros online fundada nos anos 80.

Em determinado momento de sua história, a empresa percebeu que estava burocrática demais e que precisava se mexer com muito mais agilidade. A empresa passou então a investir na autonomia de seus colaboradores e na experimentação em massa.

Segundo Kaaren Hanson, ex-Diretora de Inovação da Intuit, “passamos de uma empresa de 8.000 colaboradores para uma empresa de 8.000 inovadores”.

O exemplo do caso da Intuit é perfeito para ilustrar os pontos que mencionamos ao longo deste artigo. Inovar tem a ver com cultura.

E a única forma de se construir uma grande cultura empresarial é a partir do foco nas pessoas.

Muitas empresas acabam focando demais nas lideranças, sem pensar em dar mais autonomia e educação sobre inovação para quem está nas pontas, em contato direto com os clientes.

Em suma, se você quer ter uma empresa inovadora, lembre-se sempre: A interação entre as partes é sempre mais valiosa do que as partes em si.

A Startup Valeon é uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Em geral, elas se caracterizam por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Seja nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, as startups buscam fugir do que o mercado já oferece para se destacarem ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave de qualquer startup. Essas empresas buscam oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

As startups procuram resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

GENERAL MILITAR ASSUME A PETROBRAS

 

 Por Gram Slattery e Rodrigo Viga Gaier – Reuters

Fachada do edifício-sede da Petrobras no Rio de Janeiro© Reuters/RICARDO MORAES Fachada do edifício-sede da Petrobras no Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO (Reuters) – Para muitos investidores, a indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras foi um movimento inesperado –e mal recebido.

O presidente Jair Bolsonaro anunciou o nome de Luna, de 71 anos, para comando da estatal em uma publicação no Facebook em fevereiro.

Luna, que deve ser eleito conselheiro da Petrobras em assembleia de acionistas nesta segunda-feira, não possui experiência no setor de óleo e gás.

Seu último cargo, chefiando a usina hidrelétrica de Itaipu, na fronteira com o Paraguai, está muito distante da presidência de uma das maiores empresas do Hemisfério Sul.

Mesmo assim, Luna e aqueles que o cercam insistem que o nervosismo do mercado é exagerado.

Seus amigos afirmam que ele possui um histórico de cortes agressivos de custos, algo não muito diferente de seu antecessor, Roberto Castello Branco, que recebeu aplausos do mercado por vender bilhões de dólares em ativos não essenciais, em uma tentativa de reduzir a enorme dívida da petroleira.

Luna se comprometeu a impedir que políticos indiquem aliados pouco qualificados para cargos importantes na Petrobras, um problema sério nas administrações anteriores.

“Indicações políticas não fazem parte da minha ideia de gestão”, disse Luna. “Já enfrentei pedidos e pressão (política), mas não aceitei e não foi fácil.”

Luna é conhecido por seus modos “espartanos”, segundo José Carlos Aleluia, conselheiro de Itaipu.

Nascido em Pernambuco, Luna evita jantares extravagantes de negócios, acorda cedo e é uma das primeiras pessoas a chegar aos escritórios, de acordo com Aleluia.

Militar de carreira, Luna atuou como ministro da Defesa em 2018. Ele é o primeiro militar a comandar a Petrobras desde a década de 80.

“Se ele tem uma vida social, não a mistura com o trabalho”, disse Aleluia.

DESDÉM POR EXCESSOS

As atitudes ascéticas de Luna também se refletem em um desdém pelo excesso e pela redundância, acrescentou Aleluia.

“Ele uma vez me disse: ‘se eu comprar uma calça, coloco outra fora; se eu comprar um par de sapatos, coloco outro fora'”, contou o ex-deputado federal Carlos Marun, que ocupa um cargo no conselho de Itaipu.

Entre suas iniciativas em Itaipu, Luna fechou os escritórios da hidrelétrica em Curitiba e reduziu drasticamente sua pegada na capital federal, Brasília.

Luna deve ser eleito para o conselho de administração da Petrobras em uma assembleia nesta segunda-feira. Na sequência, o conselho –controlado pelo governo– deve elegê-lo como CEO.

Nesse ínterim, Luna conversou informalmente com Castello Branco e com outros especialistas do setor de petróleo e gás no Brasil, disse ele à Reuters recentemente.

Entre as decisões mais aguardadas, está a forma como o novo CEO lidará com os preços dos combustíveis.

Castello Branco foi demitido após a Petrobras promover diversos aumentos nas cotações dos produtos, o que irritou Bolsonaro.

O anúncio da saída do executivo fez com que as ações da Petrobras entrassem em queda livre, em meio a temores generalizados de um aumento na interferência do governo na empresa. De 2011 a 2014, a Petrobras perdeu cerca de 40 bilhões de dólares por vender combustíveis abaixo da paridade internacional por orientação do governo.

Em entrevistas, Luna disse que a nova política de preços da empresa ainda não foi definida, mas que será determinada pelo governo.

Segundo ele, seria crucial para o governo –e não para a empresa– pagar a conta por preços de combustíveis abaixo do mercado. Ainda assim, disse Luna, a Petrobras deve pensar em toda a sociedade, e não apenas nos acionistas, ao definir sua política de preços.

“Tem que se buscar o equilíbrio”, afirmou.

Luna e aqueles em seu entorno dizem que ele valoriza muito a experiência técnica e costuma mudar de ideia quando apresentado a evidências convincentes.

Na companhia, um de seus primeiros desafios será superar o ceticismo generalizado em relação à sua falta de experiência no setor, bem como a rápida rotatividade no alto escalão da estatal.

Diversos executivos e membros do conselho renunciaram nas últimas semanas, ou disseram publicamente que planejam acompanhar Castello Branco após a saída deste.

(Reportagem de Gram Slattery e Rodrigo Viga Gaier; reportagem adicional de Sabrina Valle)

MICHAEL STOTT EDITOR DO FINANCIAL TIMES ANALISA A SITUAÇÃO ECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA DO GOVERNO LULA

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