segunda-feira, 15 de março de 2021

CARACTERÍSTICAS DE UM EMPREENDEDOR

 

Robert Kiyosaki

Caro Leitor, um dos dias mais assustadores da minha vida foi o dia em que eu pedi demissão do meu emprego e me tornei oficialmente um empreendedor. Nesse dia, eu soube que não teria mais a estabilidade de um salário fixo, não teria mais plano de saúde nem plano de previdência oferecido pela empresa. Não teria mais férias pagas nem salário garantido em caso ficasse doente e precisasse ficar em casa.

Naquele dia, minha renda caiu para zero. A sensação tenebrosa de não ter uma remuneração estável foi uma das experiências mais tenebrosas pelas quais passei. O pior de tudo, não saberia quanto tempo levaria para que eu voltasse a ter uma renda estável. Poderia levar anos.

No momento em que pedi demissão eu soube qual era o motivo real que fazia as pessoas não se tornarem empreendedoras. É o medo de ficar sem nenhum dinheiro, não ter garantia de renda, não ter salário fixo. Pouquíssimas pessoas podem continuar vivendo por um longo período sem dinheiro. Os empreendedores são diferentes e uma dessas diferenças é a capacidade de continuar ativo de forma sã e inteligente sem estar ganhando dinheiro.

Naquele mesmo dia, minhas despesas aumentaram. Como empreendedor, tive que alugar um escritório, pagar por uma vaga no estacionamento e um armazém; comprar uma mesa e um luminária; alugar um telefone; e pagar despesas de viagens, hospedagem, táxis, refeições, caneta, papel e até mesmo o cafezinho na hora do expediente.

Também tive que contratar uma secretária, um contador, um advogado, um corretor de seguros e até uma pessoa para cuidar da limpeza e da manutenção do escritório. Todas essas despesas eram antes pagas pelo meu empregador. Comecei a perceber o quão caro era me contratar como empregado. Comecei

a perceber que o custo de um funcionário é bem maior que o valor no contracheque.

O dia que oficialmente deixei a empresa

Eu estava em San Juan, Porto Rico. Era junho de 1978. Eu estava em Porto Rico porque estava participando de um evento da Xerox Corporation para homenagear os profissionais com melhor desempenho. Estavam lá pessoas do mundo todo.

Foi um grande evento, um evento de gala que jamais esquecerei. Eu não podia acreditar no tanto de dinheiro que a Xerox estava gastando só em reconhecimento dos melhores vendedores da empresa. Mas, apesar de ser uma celebração, eu estava passando por um péssimo momento. Nos três dias do evento, tudo o que eu conseguia pensar era em largar o emprego, o salário fixo, a segurança da empresa. Eu percebi que quando a festa acabasse, eu estaria por minha conta. Eu não voltaria para o escritório em Honolulu da Xerox.

Quando deixamos San Juan, nosso avião passou por um tipo de emergência. Quando estávamos prestes a pousar em Miami, o piloto nos orientou para protegermos nossas cabeças e nos prepararmos para um possível acidente.

Eu já estava me sentindo mal o suficiente por esse ser meu primeiro dia como empreendedor, mas, além disso, ainda tinha que me preparar para morrer? O meu primeiro dia como empreendedor não estava começando muito bem.

Obviamente o avião não caiu e voei para Chicago, onde faria uma apresentação de vendas sobre a minha linha de carteiras de nylon para surfistas. Cheguei atrasado ao icônico prédio Mercantile Mart no centro de Chicago devido a problemas nos voos e o cliente que eu deveria encontrar, um comprador de uma grande rede de departamentos, já tinha ido embora. Mais uma vez, pensei comigo: “Esse não é um bom jeito de começar minha nova carreira como empreendedor. Se eu não fechar essa venda, a empresa não terá receita, eu não vou ter salário e não vai ter comida para colocar na mesa.

“Como eu gosto de comer, a ideia de não ter comida foi a que mais me incomodou.

Empreendedor x Empregado

“As pessoas nascem empreendedoras ou elas são treinadas para se tornarem empreendedoras?” Quando perguntei ao meu pai rico sua opinião a respeito desse antigo dilema, ele disse: “Não faz sentido perguntar se as pessoas nascem empreendedoras ou treinam para isso. Seria como perguntar se as pessoas nascem empregados ou são treinadas para ser empregados?” E ele foi além: “As pessoas podem ser treinadas. Elas podem ser treinadas para ser tanto empregados como empreendedores. O motivo que faz com que existam mais empregados é simplesmente porque as nossas escolas treinam os jovens para se tornarem empregados. É por isso que tantos pais dizem a seus filhos ‘estude e consiga um bom emprego’. Ainda não ouvi nenhum pai dizer ‘estude, assim você pode se tornar um empreendedor'”.

Os empreendedores estão sempre procurando por oportunidades independentemente de terem ou não muitos recursos. Já as pessoas com perfil de funcionário focam nos recursos que têm ou não têm, e é por isso que muitas dizem: “Como posso começar um negócio? Eu não tenho dinheiro.” Um empreendedor diria: “Feche o negócio e então nós vamos conseguir o dinheiro”. Essa diferença de mentalidade é uma diferença muito grande entre um empregado e um empreendedor.

Empregados querem um emprego seguro com uma empresa sólida, um salário fixo e a oportunidade de ser promovido —a chance de galgar a escada corporativa. Muito empregados se importam mais com uma promoção e o título do cargo que ocupam do que com dinheiro. Meu pai pobre era assim. Ele amava o seu cargo de Superintendente de Educação Pública, apesar de o salário não ser muito alto. Os empreendedores não querem galgar a escada corporativa. Querem ser donos da própria escada corporativa. Um empreendedor não é guiado por salário, mas pelos resultados da equipe. Além disso, como afirma o psicólogo Howard Stevenson, muitos empreendedores começam um negócio porque têm valores muito fortes que são mais importantes do que a simples segurança de um emprego e de um salário fixo. Para muitos empreendedores, seus valores são mais importantes do que dinheiro. Têm paixão pelo seu trabalho, sua missão e amam o que fazem. Meu pai rico dizia: “Muitos empregados são apaixonados pelo seu trabalho apenas enquanto tiverem um salário”.

As características de um empreendedor

Você pode observar que os agricultores, possivelmente os primeiros empreendedores que surgiram, tiveram que desenvolver a maioria dessas características para sobreviver. Muitos tiveram que plantar na primavera para poder colher no outono. A maioria teve que rezar para que o clima fosse favorável e que as pestes, doenças e insetos deixassem o suficiente para que suas famílias pudessem sobreviver ao longo e tenebroso inverno. Meu pai rico dizia: “Se você tiver a mentalidade e a resistência de um agricultor, você será um grande empreendedor”

Mentalidade de liberdade em vez de
segurança                                                                                             * Capacidade de continuar trabalhando sem dinheiro                                     ·Capacidade de continuar trabalhando sem segurança                               ·Foco em oportunidade ao invés de nos recursos                                                ·Diferentes estilos de gestão para gerenciar pessoas diferentes                       ·Capacidade de gerenciar pessoas e recursos sobre os quais não tem controle                                                                                                              ·Foco em equipe e valor ao invés de pagamento e promoção                                                                                                      ·Contínuo aprendiz —não para de aprender nunca                              ·Educação generalista, não especializada                                               ·Coragem de ser responsável por todo negócio

Se tornar um empreendedor começa com uma mudança de filosofia. Naquele dia em Porto Rico em que deixei a Xerox Corporation, minha filosofia deixou de ser a do meu pai pobre para ser a filosofia do meu pai rico.

Se você se encontra em uma situação em que as chances de sucesso são majoritariamente contrárias e a única alternativa que tem é resolver os problemas por conta própria, você vai se surpreender em descobrir as várias características de empreendedor que na verdade você possui.

O cerne da Startup Valeon é o empreendedorismo e acreditamos que é o modo mais correto para atingirmos os nossos objetivos. Contamos com os nossos parceiros empreendedores do vale do aço para juntos vencermos essa batalha do coronavírus. Temos também a mentalidade e a resistência de um agricultor para levarmos adiante os nossos planos.

VOCÊ CONHECE A VALEON

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A Valeon possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A Valeon já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A Valeon além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

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MINISTRO DA SAÚDE DEVE SER SUBSTITUÍDO

 

Ludhmila Hajjar deve ser convidada para assumir Ministério da Saúde no lugar de Pazuello

Alberto Bombig e Marianna Holanda – Jornal Estadão

A médica cardiologista Ludhmila Hajjar deve ser convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Eduardo Pazuello.

Como a Coluna mostrou no sábado, 14, a cúpula do Congresso iniciou na última sexta-feira uma ofensiva para tirar o general do comando da Saúde com a apresentação de nomes técnicos, gestores, com conhecimento do SUS. 

Ludhmila, que atua na linha de frente da covid-19 nas UTIs dos principais hospitais privados do País, era um dos nomes mais fortes. Outro nome cotado era o do médico Claudio Lottemberg, do conselho do Albert Einstein. Segundo a Coluna apurou, ele já se considera fora da disputa pela Saúde. 

Presidente da Câmara, Arthur Lira levou o nome da cardiologista para Bolsonaro em reunião no sábado. Quando Luiz Henrique Mandetta deixou o cargo, no ano passado, ela foi uma das cotadas para assumir.

A troca no comando da Saúde foi colocada por parlamentares a palacianos como uma forma de segurar a CPI da Covid-19 no Senado. Ministros com assento no Palácio do Planalto entenderam que a pandemia não é “gripezinha” e que o País enfrenta o pior momento da crise. Essa mensagem foi reforçada a Bolsonaro em reuniões durante a semana.

DEPUTADOS QUEREM ALTERAR O SITEMA DE VOTAÇÃO PARA PIOR

 

Manobras contra o voto

Reforma eleitoral em discussão na Câmara tem dois temas que afetam capacidade de o eleitor definir seus representantes

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

O direito ao voto é elemento essencial de um Estado Democrático de Direito. Esse direito fundamental pode ser ameaçado não apenas pela suspensão de uma eleição, por exemplo. Há muitas maneiras de distorcer a expressão da vontade popular nas urnas. Em concreto, a reforma eleitoral em discussão na Câmara tem dois temas que afetam diretamente a capacidade de o eleitor definir livremente quem serão seus representantes.

Há a tentativa de voltar a permitir as coligações partidárias nas eleições proporcionais. Trata-se de um claro retrocesso, cujo objetivo é revogar uma das medidas mais positivas ocorridas nos últimos anos na legislação eleitoral.

Antes de 2017, era permitido que os partidos estabelecessem coligações nas eleições proporcionais (deputado federal, deputado estadual e vereador), o que fazia com que o voto num determinado candidato pudesse eleger outro candidato, de outro partido, simplesmente em razão de uma coligação entre as legendas. Nesse sistema, o eleitor não tem controle sobre os efeitos do seu voto, o que traz problemas sérios em relação à representação.

Perante esse problema, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional (EC) 97/2017, proibindo as coligações partidárias nas eleições proporcionais, com vigência a partir de 2020. Foi uma importante conquista que, até o momento, só foi aplicada nas eleições municipais do ano passado. Não faz nenhum sentido que, antes mesmo de começar a produzir seus efeitos nas esferas federal e estadual, a proibição das coligações seja revista.

Vale lembrar que se trata de matéria constitucional, aprovada em 2017 por mais de três quintos das duas Casas Legislativas, em dois turnos. A pretensão de revisar agora a proibição das coligações partidárias em eleições proporcionais manifesta descaso com a Constituição, que deve dispor de um mínimo de estabilidade e perenidade, bem como com o próprio Legislativo, que há pouco se debruçou sobre o tema e proferiu uma decisão.

O segundo tema capaz de piorar a qualidade da representação refere-se à criação do chamado “distritão”.

Ressalta-se que, apesar do nome, essa medida nada tem a ver com o voto distrital, vigente em muitos países. No sistema distrital, há uma divisão do território em pequenas circunscrições eleitorais, nas quais há apenas um candidato por partido, permitindo uma melhor avaliação das propostas partidárias e, por consequência, um melhor acompanhamento do candidato eleito ao longo do mandato. O voto distrital aproxima o candidato do eleitor e, com isso, contribui para diminuir o custo das campanhas eleitorais.

Já no “distritão” não se trata de aproximar o eleitor dos candidatos, e sim de assegurar domínio político sobre determinado (e grande) território. A estratégia não é nada sutil. Trata-se de implantar o sistema de eleição majoritária em grandes circunscrições, chamando cada Estado de distrito.

Com isso, a representação partidária é desvalorizada. O “distritão” beneficia os candidatos conhecidos, notadamente aqueles que já têm mandato. Nessa nova dinâmica, ganham as personalidades do mundo do entretenimento e os oligarcas da política, cujos nomes são facilmente reconhecidos pelos eleitores. Saem ganhando também grupos que detêm poder territorial – milícias, igrejas e coronéis.

O “distritão”, para muitos, é uma manobra para assegurar a reeleição – ou melhor, a perpetuidade – de chefes partidários e seus prepostos. Além de prejudicar a sempre necessária renovação do Legislativo, esse sistema avilta a democracia representativa, uma vez que os eleitos não representam nada senão eles mesmos, em total desacordo com o regime representativo inscrito na Constituição, com participação fundamental dos partidos. 

A reforma política deve aperfeiçoar o sistema, e não piorá-lo. Coligações em eleições proporcionais e “distritão” diminuem a liberdade do eleitor, seja distorcendo a vontade expressa nas urnas, seja impondo um sistema que apenas consolida o poder de alguns. A liberdade política dá direito a escolher, e não simplesmente a obedecer.

COMIDA ENCARECEU MUITO ULTIMAMENTE

 

Comida ainda é o problema

Com o consumidor tão apertado, não há como falar de inflação de demanda

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

 Como o coronavírus, a inflação ataca sem preconceito e sem discriminação. Comer carne ficou 29,51% mais caro nos 12 meses terminados em fevereiro. Para o vegetariano a pancada também foi forte. Os preços de hortaliças e verduras subiram 23,30% nesse período. Cereais, leguminosas e oleaginosas, grupo onde se enquadram arroz, feijão e trigo, encareceram 57,83%. No caso de leite e derivados, a alta acumulada chegou a 15,44%. Na média, o custo de alimentação e bebidas aumentou 15% no intervalo de um ano. Convém pensar nesses dados para avaliar os números atualizados da inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicados na quinta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Comida e bebida ainda são, para a maior parte das famílias, um dos itens principais do orçamento mensal. Além disso, comer é algo especialmente complicado neste país. O desemprego no Brasil é um dos maiores do mundo capitalista, o dobro do registrado, em média, nos 37 países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Além disso, os mais pobres perderam desde o começo do ano o auxílio emergencial. O auxílio deve voltar, mas será mais limitado que o de 2020. Apesar de tudo, o IPCA de fevereiro parece ter trazido uma notícia animadora sobre o custo da comida. Animadora, mesmo?

No mês passado o IPCA subiu 0,86%, a taxa mais alta para fevereiro desde 2016, quando a variação foi de 0,90%. Encareceram oito dos nove grandes itens considerados na pesquisa. O item alimentação e bebidas também subiu, mas bem menos que em janeiro. De um mês para outro a taxa recuou de 1,02% para 0,27%. A desaceleração é clara, mas, antes de festejá-la, convém observar alguns detalhes.

Para comer e beber, o consumidor brasileiro enfrentou uma alta de custos de 15% nos 12 meses até fevereiro. Alguns componentes da alimentação, como carnes e verduras, subiram além dessa média. A desaceleração ocorreu, portanto, quando o nível de preços já era muito alto.

Um exemplo simples pode esclarecer esse ponto. Um carro sobe o espigão da Avenida Paulista a partir do Ibirapuera e perde impulso uma ou duas quadras antes do topo. A velocidade diminui, mas o carro já está lá em cima. Qualquer movimento depois, digamos, do penúltimo quarteirão, ocorrerá a partir de um ponto muito elevado. Houve algo semelhante, em fevereiro, na evolução do custo da comida.

Para avaliar a situação do consumidor e identificar seus maiores problemas é preciso considerar mais que os dados de curto prazo, como os de janeiro e fevereiro. Com alta de 2,28% no mês passado, o item transportes teve impacto de 0,45 ponto na formação do índice geral (0,86%). Com variação de 0,27%, o grupo alimentação e comidas produziu efeito de apenas 0,06 ponto porcentual. Mas o gasto efetivo das famílias foi realizado com base em preços acumulados durante meses – muitos meses, em alguns casos.

A alta de alimentação e bebidas, 15% em 12 meses, foi a maior dos nove grandes itens cobertos pela pesquisa. A segunda maior variação, de 7,78%, foi do grupo artigos de residência, mas esse item pesa bem menos, no dia a dia, que habitação, transportes, saúde e cuidados pessoais e, naturalmente, alimentação e bebidas.

Com o resultado de fevereiro, a alta do IPCA chegou a 5,20% em 12 meses, superando a meta deste ano, de 3,75%, e quase batendo no limite superior de tolerância (5,25%). Números maiores ainda poderão surgir, estima-se no mercado. O dólar instável, com valores muito altos diante do real, poderá ser, como tem sido, um fator inflacionário. As ações do governo e o quadro político poderão influenciar o mercado cambial.

Falta verificar se o Banco Central (BC) tentará conter os preços elevando os juros básicos. Isso seria defensável se a inflação fosse atribuível à demanda, mas a situação dos consumidores impede essa explicação. Além disso, taxas maiores aumentarão os custos do Tesouro e poderão travar a reação econômica. Na próxima semana o BC anunciará sua nova decisão sobre os juros.

JUROS SERÃO AUMENTADOS DEVIDO A INFLAÇÃO

 

BC se vê forçado a subir juros em plena crise por causa da aceleração da inflação

Em sua primeira reunião após Congresso garantir autonomia do Banco Central, Copom vai começar a tentar barrar risco de descontrole de preços, sobretudo em 2022, após período longo de queda da Selic

Adriana Fernandes, O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – A aceleração do aumento de preços colocou o Banco Central numa sinuca de bico: subir a taxa de juros em plena crise econômica e piora da pandemia da covid-19. Em um gráfico, as tendências de inflação, em alta, e da variação do PIB, em queda, mostram uma boca de jacaré se abrindo. Essa é uma situação de extrema anormalidade em que atividade e inflação estão em sentido oposto.https://f05640fafae05e788cb47c4e53b90718.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

A decisão desta semana será o primeiro teste e tudo indica mais difícil até agora para o presidente do BCRoberto Campos Neto, e sua equipe após o Congresso aprovar no mês passado a autonomia da instituição, com a justificativa de garantir a condução da política de juros sem pressões políticas.

A expectativa é que o BC comece agora a desarmar essa bomba relógio para barrar o risco de descontrole de preços, sobretudo em 2022, após um período longo de queda de juros, que levou a taxa Selic (os juros básicos) ao patamar histórico de 2%. A aposta do mercado é de uma elevação de 0,50 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 16 e 17.

A perspectiva de a economia brasileira entrar em recessão técnica, no segundo trimestre deste ano, num quadro de recrudescimento da pandemia, combinado com medidas de isolamento e lockdown, só amplia o desconforto com a medida.

Banco Central
A expectativa é que o BC comece agora a desarmar essa bomba relógio para barrar o risco de descontrole de preços.  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O momento é ainda mais delicado porque o próprio presidente Jair Bolsonaro contribuiu para elevar, nas últimas semanas, a cotação do dólar disparando uma série de movimentos erráticos e contraditórios na economia, que começou com a intervenção da Petrobrás, passou pela tentativa de flexibilizar o teto de gastos (a regra que atrela o crescimento das despesas à inflação) e terminou com a articulação de uma manobra para desidratar as medidas de corte de gastos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do auxílio emergencial.

O resultado: mais pressão sobre a inflação, a ponto de Campos Neto ter entrado nas negociações políticas para impedir uma derrota geral na votação, o que complicaria ainda mais o trabalho do BC na condução da política monetária (calibrar a taxa básica de juros, a Selic, para o controle da inflação).

“É um sinal de desequilíbrio ter essa bomba relógio de inflação alta com uma queda do PIB já contratada”, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas.

Com a inflação em 12 meses se aproximando de 7% em abril, desemprego e PIB negativo, a economia vive uma situação de estagflação. “Esse é o drama para o BC. E não sabemos quanto pior pode ficar a atividade econômica por causa da pandemia. É uma das piores combinações”, diz ela, que não descarta a consolidação de um quadro recessivo em 2021, mais grave do que a estagflação. Se soma ao cenário negativo a queda do poder de compra das famílias brasileiras no período de fraqueza do mercado de trabalho.

Ex-presidente do BC no governo Lula, Henrique Meirelles alerta para um fator que, segundo ele, precisa ser levado em conta: o nível de confiança baixa diante de um governo que não tem dado “uma direção clara e que vive envolvido em toda sorte de discussões e polêmicas”. “Numa situação de insegurança, a depreciação cambial (o real se desvalorizar frente ao dólar) leva ao repasse para os preços”, diz Meirelles, que assumiu o comando BC num momento crítico de alta dos preços em 2003.

Numa situação de pandemia há razões objetivas para a queda da demanda (pessoas e empresas produzem e consomem menos). Por outro lado, há também uma situação de desorganização da economia que tem levado a dificuldades de suprimento das cadeias produtivas. E isso acaba gerando mais inflação.

Nas contas do ex-secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, desde setembro vem se formando um acúmulo de pressões inflacionárias, que começou a partir da elevação dos preços de alimentos, mas que não foram levadas devidamente a sério nem pelo Ministério da Economia nem pelo BC.

A mudança foi muito rápida. Em julho do ano passado, ressalta Mendonça de Barros, a inflação estava abaixo de 2% em setembro, começou a aumentar e terminou 2020 acima de 4%. “É uma aceleração extraordinária”, diz. Em 12 meses até fevereiro, o IPCA, índice oficial de inflação, já acumula uma alta de 5,20% depois de ter subido 0,86% no mês passado – a maior taxa desde 2016.

Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre, o momento para a inflação é muito preocupante e o BC não pode facilitar. “Se dermos mole nesse campo, vamos continuar simplesmente com os problemas que já temos e acrescentar mais um”, diz Senna. Ele ressalta que no campo das commodities (produtos básicos, como grãos, petróleo e minério de ferro) já houve uma alta de 10% em janeiro e mais 7% em fevereiro. As matérias-primas, diz,  já acumulam uma elevação de 75% em 12 meses. “Estamos vivendo repasses reprimidos”, enfatiza.  

Senna avalia que a PEC do auxílio não ataca o problema fiscal de aumento das despesas obrigatórias (como gastos com servidores e Previdência, por exemplo), problema que pode ser acentuado pelo caráter populista da política do governo. “Num ambiente como esse as expectativas de inflação podem sair de controle. Isso é muito perigoso”, avisa.

INFLAÇÃO EM ALTA PREOCUPA O GOVERNO

 

Inflação em alta expõe desconforto de Bolsonaro

O presidente sente o “termômetro” da população e sobe o tom das cobranças à equipe econômica

Adriana Fernandes, O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – O risco de descontrole da inflação é o calcanhar de aquiles do presidente Jair Bolsonaro. Cobrado nas redes sociais pela alta da inflação, com vídeos que intitulam o movimento de alta dos preços como “Bolsocaro”, o presidente já reclamou em público diversas vezes do reajuste dos preços da carne, do arroz, do gás de cozinha e dos combustíveis.

O presidente sente o “termômetro” da população e sobe o tom das cobranças à equipe econômica, nas lives semanais de todas as quintas-feiras, e nos encontros frequentes com simpatizantes na porta da sua residência oficial, o Palácio da Alvorada.  

Bolsonaro tem demonstrado cada vez mais desconforto com a combinação perversa de preços altos e desemprego, que retira o poder de compra da população e a popularidade de qualquer presidente da República.  

A antecipação da corrida eleitoral pelo fator “Lula”, após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou as condenações do ex-presidente na Lava Jato, amplificou o risco de o presidente adotar medidas populistas para segurar os preços e aumentar os gastos públicos para garantir a sua reeleição no ano que vem.

Jair Bolsonaro
Bolsonaro tem demonstrado cada vez mais desconforto com a combinação perversa de preços altos e desemprego. Foto: Gabriela Bilo/Estadão

Esse temor ganhou fôlego depois que, nas últimas semanas, o presidente ameaçou intervir na Petrobrás e Eletrobrás (empresas do governo responsáveis por importantes insumos para a produção), isentou o preço dos combustíveis e patrocinou uma manobra para retirar o programa Bolsa Família do teto de gastos, a regra que limite o crescimento das despesas à variação da inflação.

A consequência desses movimentos foi mais alta do dólar, que se aproximou de R$ 6  na votação da semana passada da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do auxílio emergencial, ingrediente adicional a  retroalimentar a inflação. “Com certeza, o Banco Central vai começar a aumentar os juros e as autoridades nunca gostam disso”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e colunista do Estadão. Para ele, esse será o teste do “pudim” da política populista do presidente. “Não estou otimista. A tentação populista é enorme”, prevê o economista, que foi secretário de Política Econômica no governo FHC.

Mendonça de Barros chama atenção para um fator que acrescenta um complicador a mais nesse caldo que une política e economia: a população brasileira já se acostumou a viver com inflação baixa. Existe hoje uma geração inteira que não tem ideia do que seja viver num ambiente econômico de inflação alta. Brasileiros que nem sabem o que é isso. 

Essa população não aceitaria a volta da inflação de forma mais sistemática e está incomodada com a pancada de aumento de preços em plena pandemia da covid-19, que derruba o crescimento do Produto Interno Bruto e tira emprego dos brasileiros. O ex-secretário lembra que a ex-presidente Dilma Rousseff perdeu espaço e apoio político por conta da inflação.

Desde o final do segundo semestre do ano passado, as surpresas do lado da inflação têm sido do lado negativo. A mais recente delas, a subida do IPCA, a inflação oficial do País, para 0,86% em fevereiro, ante 0,25% em janeiro. O resultado foi pressionado pelos preços da gasolina, motivo da irritação do presidente.

Na área econômica do governo, a expectativa é que as incertezas vão se dissipar com o “fundamento fiscal” garantido pela aprovação da PEC que autorizou o auxílio mas também contrapartidas de cortes de gastos em momentos de crise fiscal. Mesmo desidratada (o cálculo é de que a desidratação foi de 30%), o texto garantiu  importantes medidas fiscais que serão reconhecidas como essenciais para mudar a trajetória das despesas. Associada à possibilidade de aumento dos juros pelo BC na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária, a avaliação é que a cotação do dólar deve cair e “amansar a inflação”.

A percepção do time do ministro da Economia, Paulo Guedes, é que o ciclo de alta commodities (produtos básicos, como petróleo, grãos e minério de ferro) no mercado internacional tem o potencial de “afundar” a taxa de câmbio, mas que o movimento na direção contrária, de alta do dólar, que ocorreu, é resultado do próprio governo tropeçando nos seus próprios passos. A avaliação é de que se não fossem esses atropelos a cotação do dólar deveria estar mais próxima de R$ 4,80.

Para o economista Armando Castellar. do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o populismo aumenta a incerteza de maneira preocupante. “O que o episódio da Petrobrás assusta porque deixa dúvida sobre se pode se repetir (para o lado do BC) quando começar o aperto monetário (alta dos juros básicos) que hoje em dia se faz necessário pela piora das perspectivas da inflação”, diz Castellar. Ele avalia que esse ponto será mais sensível quando a inflação em 12 meses bater em 7% logo mais à frente. Apesar de aprovada a autonomia, Bolsonaro ainda tem que validar a renovação da diretoria do BC.

Castellar diz que ainda falta uma âncora mais clara para frente diante do cenário eleitoral que se aproxima. Lembrando o poema de Carlos Drummond de Andrade, Castellar pergunta. “E agora José? Você marcha, José! José, para onde?”. Sem essa clareza, o Brasil não vai atrair os investidores, diz.

domingo, 14 de março de 2021

PARTIDO NOVO DIVIDIDO INTERNAMENTE

 

Racha no Novo vai além de conflitos por impeachment e oposição a Bolsonaro

Em guerra com o fundador João Amoêdo, lideranças e mandatários do partido apontam problemas de governança como origem da discórdia

José Fucs, O Estado de S.Paulo

O dia 12 de fevereiro de 2021 tinha tudo para ser comemorado com pompa pelo partido Novo. Fundado pelo financista João Amoêdo e por mais 180 apoiadores sem experiência política, para lutar pelo liberalismo econômico e pela moralização da vida pública, o Novo completava 10 anos de vida.https://068519710fb887343e1ceb49c4d44e66.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Mesmo com um desempenho que deixou a desejar no pleito municipal de 2020, no qual elegeu apenas 29 vereadores e um prefeito (Joinville-SC) em todo o País, e com uma queda de 15% no número de filiados no ano passado, de 48.429 para 41.218, não faltavam motivos para celebrar a data.

Único partido a não usar recursos dos pagadores de impostos para sobreviver e financiar as suas campanhas, o Novo tem, hoje, além dos representantes municipais, o governador de Minas Gerais, 8 deputados federais, 12 deputados estaduais e um deputado distrital.

João Amoedo partido novo
Ex-presidente do Partido Novo, João Amoêdo. Foto: João Allbert/ Futura Press (26/06/2019)

Em 2018, nas eleições para a Presidência, as primeiras que o Novo disputou, Amoêdo ficou em quinto lugar, com quase 2,7 milhões de votos, o equivalente a 2,5% do total, à frente de nomes tarimbados, como o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), a ex-senadora Marina Silva (Rede), o senador Álvaro Dias (Podemos) e o ativista Guilherme Boulos (PSOL).

Mas, exceto por um comunicado oficial no site do partido e algumas manifestações acanhadas nas redes sociais, o aniversário que marcava a primeira década de atividade do partido passou praticamente em branco – e não só por causa das restrições impostas pela pandemia. O Novo vive uma guerra fratricida e a sua maior crise desde a fundação, em 2011. “O partido passa por um momento delicado, muito delicado”, diz um dos principais doadores do Novo, que prefere se manter na sombra.

Polarização

De um lado, está Amoêdo, que ficou sem função na direção partidária depois de ter renunciado à presidência, em março de 2020, para, segundo ele, “ter mais disponibilidade de tempo”, “mostrar que o Novo não depende só de uma pessoa” e “ter um pouco mais de liberdade” para expor as suas posições, sem que elas tenham uma conotação institucional. Do outro, estão os políticos do partido, aí incluídos o governador de Minas, Romeu Zema, a bancada federal e a maior parte de seus deputados estaduais e vereadores.

Romeu Zema governador mg novo
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Foto: Pedro Gontijo/ Imprensa MG – 03/03/2021

Nas últimas semanas, o conflito entre os dois grupos se acirrou, levando a uma polarização tóxica de lideranças, filiados e simpatizantes da legenda. As divergências chegaram a tal ponto que, de acordo com informações obtidas pelo Estadão, Amoêdo praticamente não fala com Zema, principal mandatário do partido, nem com os deputados federais da legenda, a não ser por uma ou outra mensagem protocolar via WhatsApp.

‘Milagre’

Amoêdo defende de forma fervorosa que o Novo apresente um pedido de impeachment de Bolsonaro e estimulou a adoção de uma postura de oposição em relação ao governo, aprovada pelo Diretório Nacional, o órgão máximo do partido, em 6 de março, depois de muita controvérsia. Zema e a maioria dos mandatários se colocam contra as duas propostas e queriam que o partido mantivesse a postura de independência adotada desde a posse do presidente, em 2019, com apoio do próprio Amoêdo, mas foram derrotados nesta questão.

A decisão do Diretório Nacional representou uma espécie de compensação para Amoêdo, que havia amargado um revés no fim de janeiro, com a decisão do partido de não patrocinar por ora um pedido de impeachment de Bolsonaro. Inflamado por Amoêdo, o Diretório Nacional do Novo tentou impor a posição defendida por ele à bancada do partido na Câmara, mas a proposta foi rechaçada por seis de seus oito deputados federais, que ameaçaram se desligar da sigla se ela fosse levada adiante. Zema também se colocou contra a medida.

Christian Lohbauer
Dirigente partidário, Christian Lohbauer foi candidato a vice-presidente na chapa de João Amoêdo em 2018. Foto: Iara Morselli/Estadão

Para evitar um racha definitivo, de consequências imprevisíveis para o futuro do partido, o órgão teve de recuar. “O partido não acabou por milagre”, afirma Christian Lohbauer, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Amoêdo, integrante do Diretório Nacional e um dos signatários da ata de fundação do Novo, em 2011.

‘Clones do Amoêdo’

Até o atual presidente da legenda, Eduardo Ribeiro, que era considerado um amoedista, como são chamados os seguidores de Amoêdo, e vem adotando uma postura mais independente nos últimos tempos, posicionou-se contra o fundador em relação ao impeachment, para evitar a ruptura, apesar de ter apoiado a decisão do partido de se colocar como oposição ao governo. “O impeachment é um processo muito longo e o Bolsonaro conseguiu comprar um certo tempo ao se aliar com o Centrão”, diz. “Acredito que vale mais a pena a gente colocar todas as nossas energias na construção de uma alternativa ao bolsonarismo e ao petismo para 2022.”

Amoêdo, porém, parece disposto a “esticar a corda”, para forçar o expurgo dos “infiéis”, incluindo algumas de suas principais estrelas, como demonstrou ao estimular a aprovação da postura de oposição do Novo no começo do mês, e poderá voltar à carga para que o partido se coloque a favor do impeachment. “Acredito que deveria ser um caminho natural para o partido dizer se houve crime de responsabilidade do presidente e se deve haver pedido de impeachment”, afirma. “Se isso for feito, pode até haver uma cisão, mas o partido sairá fortalecido, pela coerência.”

Guerra de narrativas

Com os ânimos à flor da pele, o conflito ultrapassou os muros partidários e ganhou as redes sociais. Em meados de fevereiro, Amoêdo usou o seu perfil no Twitter para criticar a posição da bancada do Novo contra a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu o AI-5.

Ao menos dois deputados, Alexis Fonteyne (Novo-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS), reagiram à espetada, fazendo duros comentários em seu post. “Acredito que nem os clones do João Amoêdo iriam se entender com ele. Cada um iria querer ser mais protagonista que o outro”, diz Fonteyne. “Seria muito injusto, depois de eu ter trabalhado dez anos para a formação do partido, ter colocado tempo, recursos, não poder dizer que sou contra uma votação da bancada”, afirma Amoêdo.

Em meio à guerra de narrativas, os amoedistas passaram a classificar como “bolsonaristas” os mandatários do partido e a ala que os apoia – um rótulo rejeitado de forma veemente pelos atingidos. “Nenhum de nós quis que o Bolsonaro fosse presidente, tanto que lançamos candidato próprio em 2018, e nunca fomos base do governo na Câmara”, diz o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG), que preferiu anular o voto no segundo turno da eleição. 

“Nenhum dos nossos mandatários estará pedindo votos para Bolsonaro quando ele for candidato à reeleição”, afirma o secretário-geral do governo de Minas, Mateus Simões, homem de confiança de Zema. “É possível discordar sem ficar tachando os outros de bolsonaristas, para tentar desqualificar as suas posições e os seus argumentos.”

‘Partido do João’

Como se tudo isso não bastasse, as divergências no Novo, segundo lideranças e filiados, se estendem à organização e ao funcionamento do partido. “As brigas políticas são o reflexo de um problema de governança”, afirma Mateus Bandeira, ex-candidato a governador do Rio Grande do Sul pelo Novo e ex-presidente da Falconi, uma das principais consultorias em gestão do País.  Ele se desfiliou da legenda após as eleições e está escrevendo um livro sobre a campanha, no qual dedica alguns capítulos ao partido e a Amoêdo.

Apesar de seu afastamento da direção, muitas lideranças e filiados da legenda dizem que o Novo “tem dono” e continua a ser “o partido do João”. Mesmo que seja praticamente unânime a percepção pelo grupo de que o fundador da legenda ainda tenha uma contribuição importante a dar, a visão é de que ele precisa trabalhar mais em equipe e não deve ter a palavra final nas decisões, impondo as suas ideias aos correligionários. “Está todo mundo cansado desse comportamento, O partido não pode se resumir à opinião do João Amoêdo”, diz Alexis Fonteyne.

Partido Novo Câmara Federal
A bancada do Partido Novo na Câmara Federal. Foto: Divulgação/ Partido Novo

No Diretório Nacional, ao menos dois dos cinco dirigentes são ligados a Amoêdo, de acordo com integrantes do partido, e um flutua para um lado e para o outro, ao sabor dos acontecimentos. Isso acaba inviabilizando a tomada de qualquer decisão que não tenha a bênção de Amoêdo, já que são necessários no mínimo 66,6% dos votos para aprovação de qualquer medida.

Fontes da legenda afirmam que um dos integrantes do Diretório Nacional é amigo de infância de Amoêdo e outros dois trabalhavam em empresas nas quais ele mantinha investimentos pessoais, criando um conflito de interesses que compromete a independência do órgão, embora ele negue os antecedentes das relações com os três. “A informação não é verdadeira”, diz.

Aplausos dos amoedistas

Amoêdo mantém também o controle da Comissão de Ética, cujos integrantes foram indicados por ele quando era presidente do partido e não foram trocados por seu sucessor. O órgão foi o responsável pelas expulsões do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do empresário Filipe Sabará, então candidato à Prefeitura de São Paulo, duas decisões que, apesar dos aplausos recebidos dos amoedistas, geraram desconforto fora do grupo.

Além disso, o órgão foi responsável, entre outras medidas, por repreensões a Fonteyne, porque ele queria usar o auxílio-moradia, por não ser de Brasília, e à vereadora paulistana Janaína Lima, porque ela queria ter nove assessores, em vez dos oito estabelecidos como limite pelo partido, independentemente do número oferecido pela Câmara de Vereadores de São Paulo e outras Casas legislativas.

O fato de a assessoria de imprensa pessoal de Amoêdo ser a mesma do Novo é outra questão que incomoda lideranças do partido, por associar a ele a comunicação partidária. O mesmo acontece em relação à empresa encarregada de cuidar de suas redes pessoais e das redes sociais da legenda. “A informação é pública e está inclusive no site da assessoria”, declara Amoêdo.

Ele contesta a afirmação de que ainda tem o controle do partido e diz que, se fosse verdade, a sua posição em favor da apresentação do pedido de impeachment de Jair Bolsonaro teria sido aprovada pelo Diretório Nacional. “Qualquer instituição num primeiro momento depende muito de seu fundador, mas para ter sucesso tem de ficar independente daquela pessoa ou daquele grupo inicial, porque senão não cresce.”

Braço político

Há, ainda, uma questão estrutural, relacionada à exclusão dos mandatários das decisões políticas, que costuma causar muito atrito no partido. Como o Novo separa a gestão partidária de seu braço político, não há um canal formal de participação dos mandatários nas decisões, ainda que, eventualmente, eles sejam ouvidos de maneira informal. “Falta comunicação entre o Diretório Nacional e os representantes do partido”, diz a deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP). 

Para tentar resolver o problema, algumas lideranças passaram a defender a proposta de que o Novo formasse um Conselho Político, que seria composto pelos integrantes do Diretório Nacional e pelos mandatários, mas ela não foi para a frente. “O que está no estatuto do partido é que não deveria haver contaminação das agendas política e administrativa. Mas, na prática, o braço político está sendo subordinado ao braço administrativo, que não leva em consideração o pessoal que está no front, ralando, e isso é um erro crasso”, afirma Christian Lohbauer. “O que tem de acontecer é que as orientações, as políticas de ação partidária, para onde nós vamos, o que a gente quer, têm de ser feitas junto com os mandatários.”

Por fim, embora a ideia de promover um processo de seleção dos candidatos do Novo, para que tenham aderência aos valores e princípios do partido, pareça uma boa solução na teoria, na prática não está funcionando como se imaginava. Lohbauer conta que, no processo seletivo dos candidatos às eleições municipais de 2020, algumas perguntas feitas pela banca examinadora foram “muito mal formuladas”. “Quantos votos o João teve nas eleições de 2018?” era uma delas. “Quais são os autores liberais mais conhecidos?”, outra.

“Nós não temos pessoas com capacidade de interpretar o ambiente político com a missão de escolher pessoas para serem políticas. Não é que a gente seja idiota. Estamos tentando fazer a coisa certa, mas não temos os entrevistadores mais preparados para ouvir todo mundo pelo Brasil afora”, diz. “A gente errou muito em 2020, porque não soube se adaptar, ser maleável, e não se permitiu errar, escolher mais gente, competir em mais lugares. Quis escolher só gente nota 10, na visão sei lá de quem. A sociedade é heterogênea, as pessoas são diferentes, não têm formação política. Não estou dizendo que tem de nivelar por baixo, mas o resultado está aí: lançamos 34 candidatos a prefeito em 5.570 municípios e elegemos apenas um.”

Sem solucionar os problemas de governança, os conflitos políticos conjunturais, que envolvem o impeachment de Bolsonaro e a posição da legenda em relação ao governo, poderão até ser superados, mas outros, provavelmente, virão mais adiante. As divergências políticas, pelo que representam para o partido e para o País, têm muito mais visibilidade, mas são as questões de governança que acabam, em última instância, por alimentar a discórdia.

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