domingo, 28 de fevereiro de 2021

INFRAESTRUTURA NÃO TEM AS VERBAS QUE PRECISA TER PARA TOCAR AS OBRAS

 

‘Prestígio’ de Tarcísio de Freitas não leva verba à infraestrutura

Ministro costuma ciceronear o presidente Jair Bolsonaro em agendas de obras de rodovias, mas montante para investimentos da pasta segue estagnado

André Shalders, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, é figura frequente ao lado do presidente Jair Bolsonaro em eventos presenciais e lives nas redes sociais. Com a fama de “rei do asfalto”, costuma ciceronear o chefe em inaugurações de obras de rodovias. Em janeiro, no interior da Bahia, Bolsonaro disse que Tarcísio era “a figura mais importante” da administração. As contas da pasta, no entanto, mostram que a Infraestrutura não é a prioridade na hora de liberar verbas do Orçamento e o ministro se sobressai na equipe de governo pelas obras de pavimentação de estradas.

O montante disponível para investimentos no Ministério da Infraestrutura segue estagnado desde o começo da gestão Bolsonaro. Tanto em comparação com o disponível para a área no governo anterior, de Michel Temer (MDB), quanto em proporção do total investido pelo Executivo. Enquanto bilhões de reais de fundos ligados ao ministério são retidos (contingenciados) para diminuir o déficit da União, áreas como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), autarquia ligada ao ministério, reclamam de falta de verbas para pagar fornecedores.

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Tarcísio de Freitas, da Infraestrurtura; a ‘figura mais importante’ da administração, segundo Bolsonaro Foto: Ricardo Botelho/MInfra

Desde que Tarcísio de Freitas assumiu a Infraestrutura, a pasta nunca recuperou completamente o volume de recursos que teve durante as gestões de seus antecessores, Maurício Quintella Lessa (2016-2018) e Valter Casimiro Silveira (2018-2019), quando o órgão se chamava Ministério dos Transportes.

Em 2020, a pasta empenhou R$ 8,1 bilhões em investimentos. A despeito da pandemia do novo coronavírus, é um valor maior que o empenhado em 2019 (R$ 7,8 bilhões). É menos, porém, do que os valores empenhados antes da chegada de Jair Bolsonaro ao poder: em 2018, foram R$ 10,6 bilhões em investimentos; e R$ 13,1 bilhões em 2017. Em 2016, ano marcado pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e pela troca de comando no governo, o montante fechou em R$ 9,9 bilhões.

Os valores foram levantados pela reportagem usando a ferramenta Siga Brasil, do Senado, e corrigidos pela inflação. Esses índices e valores foram apresentados ao ministério para comentários. A pasta não questionou os dados e destacou que tem buscado “otimizar” o uso dos recursos públicos.

Assim como no Ministério da Infraestrutura, o total destinado aos investimentos no Executivo como um todo vem caindo desde 2016 em valores reais. Mesmo assim, sob Bolsonaro, a pasta foi responsável por uma fatia menor desse dinheiro. Em 2017 e 2018, o orçamento autorizado para investimentos no antigo Ministério dos Transportes correspondeu a 19% do total do Poder Executivo. Já na gestão atual, em 2019 e 2020, o porcentual ficou em 17,5% e 18,1%, respectivamente.

O Ministério da Infraestrutura só assumiu este nome em 2019 – antes, era chamado de Ministério dos Transportes. A configuração atual da pasta surgiu em 2016, já sob Temer, quando ela absorveu as antigas secretarias de Portos e de Aviação Civil (a reportagem analisou números a partir daquele ano, quando estava consolidada a estrutura atual da pasta). No governo Dilma, as duas secretarias tinham status de ministério.

Na hora de usar os recursos disponíveis, Tarcísio de Freitas se sai bem: em 2020, a pasta empenhou 96,5% da verba disponível para investimentos. No ano anterior, foi de 96%. A marca, entretanto, não difere tanto daquela dos antecessores, que poderiam reivindicar o título de “rei do asfalto”. Em 2018, foram empenhados 96% do total disponível. Em 2017 e 2016, o porcentual ficou em 91,9% e 83,5%, respectivamente.

O índice que o ministério costuma apresentar é de 99,8% de execução em 2020. A diferença de números se deve ao fato de a pasta considerar todas as verbas discricionárias, enquanto a reportagem levou em conta apenas as verbas discricionárias de investimentos, que são identificadas com o código GND 4.

Pavimentação

Em tom de brincadeira e elogio, Bolsonaro disse, em lives, que, se deixar, Tarcísio asfalta até o gramado do Palácio da Alvorada. A capacidade de “tocador de obras” e a fama de “entregar muito” se limitam a obras de pavimentação. Além da estagnação nas verbas, a pasta da Infraestrutura viu fundos públicos ligados ao órgão sofrerem uma grande redução nos recursos aplicados em 2020 – caso do Fundo Nacional de Aviação Civil e do Fundo da Marinha Mercante. A redução ocorreu por causa da decisão da equipe comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de reter o dinheiro para a chamada “reserva de contingência”, isto é, para amenizar o rombo nas contas públicas.

Em 2020, o Fundo Nacional da Aviação Civil teve uma queda de 93% no volume empenhado, em relação a 2019. O valor caiu de R$ 1,85 bilhão para R$ 126 milhões, 93% a menos. O mesmo aconteceu com o Fundo da Marinha Mercante, que financia projetos da indústria naval. No FMM, a redução foi de 71% em relação a 2019. No Fundo da Aviação Civil, ficaram “guardados” R$ 5,24 bilhões em 2020, ante R$ 1,9 bilhão em 2019. Ainda no FMM, R$ 1,3 bilhão foi para a reserva de contingência em 2020. O dinheiro ajudou a amenizar o déficit de R$ 702 bilhões do governo do ano passado (esses recursos dos fundos não estão nos porcentuais acima).

O Fundo da Aviação Civil, especialmente, é alvo de reclamações constantes de Guedes, que o considera “engessado”. A reportagem do Estadão apurou que o próprio Tarcísio se queixa de não poder usar os recursos do fundo para outras áreas, como reparos em estradas. A limitação é determinada em lei.

Recursos

Ao mesmo tempo em que há dinheiro represado nos fundos, outras áreas do ministério reclamam de falta de recursos. No dia 3 de fevereiro, a diretora substituta de administração de finanças do Dnit, Fernanda Gimenez Machado Faé, enviou ofício ao ministério alertando sobre a “situação constrangedora de inadimplência” da autarquia.

Naquele momento, a dívida acumulada pelo órgão com empresas somava R$ 499 milhões, segundo um ofício publicado pela agência Infra cuja autenticidade foi confirmada pelo Estadão. Embora esta parcela tenha sido paga, o risco de paralisação nas obras não foi afastado totalmente: no documento, a diretora do Dnit estima que precisará de R$ 1,5 bilhão até março “para que se evitem paralisações de obras e futuras ações judiciais”.

Cenário é de restrição orçamentária, diz pasta 

O Ministério da Infraestrutura afirmou em nota que o País vive um “cenário de restrições orçamentárias” e, por isso, tem tentado otimizar o uso do dinheiro público. Segundo a pasta, isto é feito priorizando obras consideradas estratégicas, a conclusão de projetos inacabados e aquelas que precisam de manutenção para que o patrimônio público seja preservado.

A pasta ressaltou que o ministro Tarcísio de Freitas tem se reunido com congressistas para direcionar emendas às obras tocadas pelo ministério – o que significou R$ 2,3 bilhões no ano passado, e o dinheiro, segundo a pasta, ajudou a viabilizar “a entrega de 92 obras, incluindo 1.430 km de rodovias recuperadas nas cinco regiões do País”.

O ministério afirmou ainda que o objetivo do governo é “transferir o máximo de ativos para a iniciativa privada, para que os investimentos aconteçam de forma mais rápida”. “De 2019 até aqui, foram concedidos 40 ativos, que estão resultando em R$ 44,33 bilhões em investimentos privados para qualificar os aeroportos, ferrovias, portos e rodovias brasileiros.” Segundo a pasta, a meta é fechar mais de R$ 250 bilhões em contratos para investimentos privados até 2022.

Sobre o Dnit, o ministério destacou a liberação de R$ 538 milhões para a autarquia em fevereiro, o que evitou a paralisação de obras e serviços. “Com a aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual, em discussão no Congresso), o Dnit poderá realizar novos empenhos. Cabe ressaltar que a Infraestrutura mantém diálogo permanente com o Ministério da Economia para a liberação de recursos para garantir a execução dos cronogramas planejados.”

sábado, 27 de fevereiro de 2021

MEDIDAS ECONÔMICAS A FAVOR DO TRABALHADOR

 

Com ampliação de restrições, governo deve retomar medida que permite antecipar férias de trabalhador

Texto deve ser feito nos mesmos moldes da MP 927, que permitiu às companhias adiantar feriados, conceder férias coletivas e adotar o teletrabalho no ano passado; com medida, governo espera evitar uma avalanche de demissões

Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Com a explosão de casos e internações por covid-19 em vários Estados e a decisão de governadores de endurecer as medidas restritivas à circulação de pessoas, o governo federal deve reeditar a Medida Provisória (MP) que dá às empresas instrumentos para enfrentar a crise, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

O texto deve ser feito nos mesmos moldes da MP 927, que no ano passado permitiu às companhias antecipar férias e feriados, conceder férias coletivas e adotar o teletrabalho.

Palácio do Planalto
Na equipe econômica do governo, pode haver pressão para recriação do programa que reduz jornada e salários. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A nova MP já está engatilhada e terá vigência imediata. Sua edição é considerada importante porque estados como o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal já anunciaram que apenas serviços essenciais continuarão abertos.

No Rio Grande do Sul, estabelecimentos como academias, teatros e cinemas serão fechados, e restaurantes poderão funcionar apenas por meio de tele-entrega ou retirada, com 25% da capacidade e do número de trabalhadores. O DF deve seguir esquema semelhante.

Para evitar um desfalque grande no caixa das empresas ou uma avalanche de demissões, o governo vai lançar mão da MP com as medidas trabalhistas. O texto deve permitir antecipar férias de forma individual (com pagamento postergado do terço de férias como medida de alívio às companhias), conceder férias coletivas, antecipar feriados, constituir regime especial de banco de horas, entre outras iniciativas.

A MP 927 de 2020 previa ainda a possibilidade de os empregadores adiarem os depósitos do FGTS sobre o salário dos trabalhadores, mediante reembolso posterior. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, essa medida está em estudo e pode ser incluída na MP, mas ainda depende de cálculos sobre as condições de liquidez do fundo de garantia, isto é, se esse diferimento não compromete sua capacidade de honrar todos os desembolsos e saques previstos para o período.

Fluxo do FGTS

Segundo uma fonte, a suspensão temporária do pagamento traz um problema momentâneo de fluxo de receitas ao FGTS, mas isso poderia ser recuperado no segundo semestre. Caso haja disponibilidade para amortecer o impacto, o adiamento pode ser adotado.

Dentro da equipe econômica, também é esperada uma maior pressão pela recriação do programa que permite a redução de jornada e salário dos trabalhadores, ou suspensão de contratos. Essa medida continua em estudo, mas deve ficar para uma segunda etapa, pois depende de uma decisão final sobre o desenho do programa.

No ano passado, o governo pagou um benefício emergencial (BEm) equivalente a parte do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito se demitido, como forma de compensação pela perda de remuneração. Agora, porém, a equipe econômica dispõe de menos espaço no Orçamento para acomodar um desenho semelhante.

Por isso, os técnicos têm estudado maneiras diferentes de financiar o BEm, fazendo dele uma antecipação do próprio seguro-desemprego ou utilizando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que paga o abono e o seguro. Segundo apurou a reportagem, a avaliação hoje é que o BEm pode ser reeditado sem necessidade de aprovação da PEC emergencial ou de um novo decreto de calamidade, e a tendência é que ele seja sozinho equilibrado, sem necessidade de recursos adicionais.

A PEC emergencial, porém, é essencial para destravar a nova rodada de auxílio emergencial a vulneráveis. O presidente Jair Bolsonaro já informou que o governo vai pagar mais quatro parcelas de R$ 250, como já havia mostrado o Estadão/Broadcast.

PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS

 

O que sabemos sobre a privatização dos Correios?

O governo entregou ao Congresso projeto que permite que a iniciativa privada assuma operações hoje tocadas pela estatal, que tem o monopólio dos serviços postais (cartas e impressos) assegurado pela Constituição

Murilo Rodrigues Alves, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro entregou nesta semana ao Congresso Nacional o projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios.

O texto permite que a iniciativa privada assuma operações hoje tocadas pela estatal, que tem o monopólio dos serviços postais (cartas e impressos) assegurado pela Constituição. Prevê a transformação da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), fundada em 1969, durante a ditadura militar, em sociedade de economia mista. 

Correios
Bolsonaro entregou nesta semana ao Congresso Nacional o projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios.  Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

O governo pode abrir caminho para a privatização sem mudar a Constituição?

O entendimento da área jurídica do governo é que sim. A avaliação é de que o artigo da Constituição segundo o qual compete à União “manter” o serviço postal não obriga a prestação direta pelo poder público. Por isso, um dos objetivos do projeto é regulamentar esse trecho da Constituição e assim permitir que a iniciativa privada assuma as atividades hoje operadas pelos Correios.

Aprovar uma mudança na Constituição exigiria quórum maior de apoio: três quintos na Câmara (308 de 513 votos) e no Senado (49 de 81 senadores).

O projeto, que precisa apenas de maioria simples para ser aprovado, prevê “a obrigatoriedade, por parte da União, de garantia da prestação do Serviço Postal Universal por meio de empresa estatal”, mas “permite que os serviços prestados no âmbito do Sistema Nacional de Serviços Postais sejam explorados em regime privado.”

Qual modelo de privatização o governo vai seguir?

Ainda não está definido. Segundo a Secretaria-Geral da Presidência, ainda depende de estudos econômicos e setoriais. Pode ser venda direta, venda do controle majoritário (ou seja, o governo deixa de ser o principal dono da empresa), ou abertura no mercado de ações (o governo lança ações na Bolsa da empresa). A proposta escolhida ainda precisará do aval do Tribunal de Contas da União (TCU).

Paralelamente ao futuro da estrutura dos Correios como empresa, a iniciativa privada deve entrar na prestação de serviços por meio de concessões. Ou seja, o poder público realiza um leilão para que empresas privadas arrematem operações que hoje são tocadas pelos Correios.

Como fica o atendimento à população?

Hoje, 95% da população brasileira tem acesso aos Correios. De acordo com a secretária do Programa de Parcerias de Investimento (PPI)Martha Seillier, em qualquer alternativa de desestatização adotada pelo governo não haverá desatendimento de cidades. A ideia, segundo ela, é trabalhar com o modelo “filé com osso”: quem levar municípios mais rentáveis também terá que atender os que não dão lucro.

Quem tem interesse nos Correios?

No ano passado, o ministro das ComunicaçõesFábio Faria, disse, sem dar detalhes, que a varejista Magazine Luiza, a gigante americana do e-commerce Amazon e as empresas de logística estrangeiras DHL e FedEx estão interessadas na compra da estatal. Embora tenha dito cinco interessadas, o ministro citou nominalmente apenas quatro empresas. Mas não há nenhuma manifestação formal por parte dessas companhias sobre o negócio.

Qual é a situação financeira dos Correios?

A estatal acumulou prejuízo de R$ 3,943 bilhões entre 2013 e 2016, mas desde 2017 vem registrando resultados positivos nos balanços anuais. Boa parte do passivo da estatal se deve aos planos de Previdência, o Postalis, e saúde, o CorreioSaúde, dos funcionários. Ambos já foram alvo de denúncias de corrupção. O Postalis acumula quatro operações da Polícia Federal: Positus, Greenfield, Pausare e Rizoma que investigaram fraudes na gestão dos recursos.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=QnXooz

Em 2019 (último dado disponível), os Correios tiveram receita bruta de R$ 19,1 bilhões. A maior parte do faturamento vem de quatro serviços: o Sedex, PAC (encomendas), o FAC (serviço para empresas que postam grande volume de cartas) e o envio de carta.

A empresa fechou 2019 com 99.443 funcionários. São 11.124 unidades de atendimento, sendo 6.071 agências próprias e 5.053 terceirizadas.

Em outros países, os Correios são privatizados?

Além do Brasil, outros países como Estados Unidos, mantêm o monopólio dos Correios. O United States Postal Service (USPS) está entre os maiores empregadores dos Estados Unidos e goza de prestígio entre os americanos. O governo Donald Trump chegou a defender a privatização, mas não levou adiante. 

Na Alemanha, o Deutsche Bundespost, ex-estatal do setor de correspondência, levou mais de uma década para ser privatizado. A venda, que começou na década de 1990, foi dividida em fases. Para garantir que a empresa se tornasse competitiva e que a oferta dos serviços fosse mantida em todo o país, foi feita uma liberalização regulada do mercado.

Por que o governo quer privatizar os Correios?

Para o Executivo, a necessidade de a iniciativa privada entrar na área se justifica pela rápida transformação digital do setor, que demanda elevados investimentos para que a empresa permaneça competitiva e melhore a qualidade dos serviços. Na visão do governo, por ser uma empresa pública, a estatal não conta com o dinamismo que o setor precisa atualmente, muito menos tem a União capacidade fiscal para suportar os investimentos por meio de aportes.

Para o governo, essas dificuldades, aliadas ao alto nível de comprometimento das receitas dos Correios com despesas correntes, podem levar a empresa a uma situação de dependência de recursos do Tesouro Nacional, algo que a equipe econômica busca evitar com o projeto.

OPÇÕES MAIS BARATAS DE PLANOS DE SAÚDE

 

Em meio ao aperto na renda, setor de saúde lança opções de baixo custo

Formatos como assinatura de saúde, que oferece descontos em consultas – em vez do serviço em si –, crescem no País; especialistas, porém, alertam que cliente deve ficar atento: alternativas têm oferta limitada e não são regulamentadas pela ANS

Evandro Almeida Jr. , Especial para o Estadão

Em meio à alta na demanda por serviços de saúde, a escalada nos preços dos planos privados e o aperto na renda em meio à pandemia de covid-19, as empresas do setor têm criado opções de baixo custo para tentar ampliar a cobertura e chegar a quem não tem condições de bancar os valores de um contrato tradicional. Segundo especialistas, o movimento suscita atenção dos consumidores, pois pode envolver produtos com uma oferta limitada de serviços.

Dentro dessa tendência, um dos formatos que vem ganhando força é o serviço de assinatura de saúde. Ele difere dos planos porque não costuma oferecer consultas médicas, mas descontos nesse serviço. 

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Assinaturas são forma de consumidor que perdeu renda manter algum serviço privado. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Sócia diretora da área de saúde da KPMG, Sheila Mittelstaedt alerta que esse modelo não é regulamentado pela Agência Nacional de Saúde (ANS). “São serviços sem qualquer regulamentação e que oferecem coisas básicas. Pessoas que carecem de serviços mais especializados não devem buscar uma alternativa nessas assinaturas. Elas são para atendimentos simples e a previsão é de que cresçam rápido no Brasil”, ressalta.

Segundo a sócia da KPMG, a perda de renda fez muitas pessoas desistirem do plano de saúde, despertando a atenção das empresas do setor. “No fim, a carga volta para o setor público. É um ‘me engana que eu gosto’”, afirma.

A redução no número de usuários de planos de saúde se concentrou no auge da pandemia. De março a junho do ano passado, foram quase 400 mil pessoas. A tendência se reverteu no segundo semestre, e o Brasil fechou com um incremento de 1,2% no ano, com pouco mais de 47,5 milhões de beneficiários.

Opção ao SUS

Grupo Alliar, empresa de diagnóstico de imagens, lançou seu marketplace de assinatura em março de 2020, com preços a partir de R$ 19,90. Chamado de cartão Aliança, o serviço inclui descontos em farmácias e consultas médicas, além de opções de odontologia e oftalmologia. A plataforma já tem 120 mil usuários cadastrados, entre titulares e dependentes.

O grupo lançou um seguro adicional, que contempla serviços como dia de internação hospitalar, morte acidental e assistência funerária. O produto pode ser adquirido a partir de R$ 5,90 mensais, adicionais ao custo da assinatura do cartão Aliança Saúde.   

De acordo com Sami Foguel, presidente da Alliar, a empresa não pretende concorrer com planos de saúde. “Nosso produto é totalmente diferente. Queremos dar um suporte para o público que busca alternativas aos serviços de medicina privada e de qualidade com preço justo e que antes iria ficar esperando no SUS.”

Grupo Fleury também decidiu apostar na modalidade. Lançou no início deste mês o Saúde iD, marketplace de serviços de saúde, com preços que variam de R$ 29,90 e R$ 59,90. 

Diferentemente da Alliar, o cliente ganha direito a uma consulta mensal, que pode ser online ou presencial, além de acesso a exames e descontos para serviços mais específicos. O programa atenderá 5 mil usuários do aplicativo Saúde iD na cidade de São Paulo nessa primeira fase de lançamento.

Aprimoramento

Segundo Eduardo Oliveira, presidente da Saúde iD, o objetivo inicial é entender como vai funcionar o serviço, para depois aprimorá-lo. Um dos motivos que tornam o plano mais em conta é o acompanhamento do histórico de atendimentos no próprio grupo, num modelo que funciona com base na ideia do médico de família. “É criado um plano de cuidado e consulta, o que permite um acompanhamento com qualidade e planejamento terapêutico.”

Assim como Foguel, Oliveira também reforça a diferença em relação ao modelo tradicional. “Não somos planos de saúde e não nos interessa ser. Queremos ajudar ali na ponta da melhor forma para prevenir doenças crônicas no futuro.”

Mais baratos

O avanço de opções mais baratas que permitam ampliar a cobertura também se dá com apostas à moda tradicional. Uma delas é a de planos individuais, que são regulados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e têm seus reajustes definidos pelo órgão regulador, diferentemente dos planos comunitários, hoje mais comuns no mercado.

Segundo o vice-presidente executivo da QSaúde, Anderson do Nascimento, esse é um fator primordial para que os planos individuais possam ganhar força, inclusive diminuindo os preços de seus planos, fazendo parcerias com clínicas especializadas. O QSaúde foi lançado em outubro do ano passado.

“O reajuste menor do que de planos nos dá vantagem em atrair novos clientes. Outro fator é que damos acesso a hospitais de renome e de desejo da população e acompanhamento constante com um médico de família que segue toda a jornada de nosso cliente.”

COMO FUNCIONAM OS MARKETPLACES

 

Você sabe qual é o melhor marketplace para vender no Vale do Aço?

Vinicius Guimarães / Moysés Peruhype Carlech

Imagine ter seus produtos expostos em uma grande loja como o marketplace Valeon da Região do Valeo do Aço. Vê vantagem nessa ideia? Pois é, muita gente […]

Neste artigo, vamos mostrar como funcionam os marketplaces, indo bem além daquela definição de que eles são como um shopping center na internet. Apesar de a explicação ser coerente, há muito mais que você precisa saber se quiser ter sucesso no seu empreendimento online.

Parte inferior do formulário

O que é marketplace?

O marketplace pode ser definido como uma plataforma que reúne diversas lojas virtuais em seu espaço. Como esse site costuma pertencer a uma grande empresa digital, ela “empresta” seu nome e seu espaço para o lojista — também chamado de seller — em troca de uma mensalidade a preços razoáveis para os lojistas. .

Essa forma de negócio tem atraído muitos empreendedores digitais, já que é extremamente versátil e pode ser combinada com outras formas de comércio eletrônico. Em geral, os markets também contam com um design muito intuitivo e de fácil manuseio, conquistando quem ainda está iniciando na área e tem pouca afinidade com programação de sites.

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2016 mostrou que 24% dos microempreendedores digitais usavam um marketplace para divulgar seus produtos.

Como funciona o marketplace?

Basicamente, o marketplace funciona como uma vitrine online onde vendedores se cadastram para exibir seus produtos. O processo começa com o lojista fornecendo dados como CPF ou CNPJ, endereço e nome da loja.

Depois de feito o cadastramento, um painel vai ser disponibilizado para que os produtos sejam organizados, precificados e colocados em categorias já preestabelecidas. É importante usar fotos de qualidade e nomear corretamente os itens para que eles apareçam junto aos seus similares.

Além da parte de catálogo, o marketplace também oferece espaços específicos que mostram os status das vendas, o faturamento da loja, os produtos a serem enviados e as métricas.

Quais são as vantagens do marketplace?

É claro que vender nos melhores marketplaces pode trazer muitas vantagens aos empreendedores digitais, tanto que muitos têm aderido a essa ferramenta. Vamos ver algumas?

Visibilidade

Diferentemente do e-commerce, onde você precisa trabalhar bastante sua divulgação, atuar em um marketplace permite que os clientes cheguem até você de diversas formas. Uma delas será procurando um produto em uma grande loja online e chegando até a sua marca. A partir daí, ele pode se interessar por seus produtos e aumentar sua recompra.

Legitimidade

Uma das grandes questões em torno das compras online é a segurança da loja onde está o produto. Se você é novo no mercado, talvez esteja perdendo vendas porque alguns visitantes ainda não confiam na sua marca. Por isso, contar com a legitimação de uma grande empresa em um marketplace é vantajoso.

Custo-benefício

É claro que você vai precisar pagar mensalidades para fazer suas vendas, mas elas podem compensar bastante, considerando o número de clientes que você atrair por mês, seu lucro e a tranquilidade de não precisar se preocupar com a compra de uma plataforma independente.

Quais são as boas práticas do marketplace?

Para começar a vender seus produtos em um marketplace, o ideal é adotar algumas boas práticas que vão facilitar que seus objetivos de conversão sejam alcançados. Tendo elas em mente, você já sai na frente de muitos concorrentes.

Fotos de qualidade

As fotos, em geral, são o primeiro contato que o visitante de um marketplace tem com seu produto. Por isso, invista em imagens de qualidade e que explorem todo o potencial dele. Não deixe de apresentar cada item em vários ângulos e cores; quanto mais detalhes, melhor. É desse jeito que seu catálogo pode se destacar e ganhar mais visibilidade.

Descrições fiéis

Comprar na internet ainda pode ser um desafio para muita gente que não sente segurança nesse processo. É preciso ganhar a confiança do consumidor e uma estratégia para isso é fornecer o máximo possível de informações sobre cada produto. Assim, o visitante da sua loja não vai ficar em dúvida sobre o item que está adquirindo e nem vai desistir da compra por falta de detalhes.

Títulos estratégicos

Pensar e pesquisar os melhores títulos para os seus produtos pode fazer muita diferença na hora de atrair visitantes à sua loja. Use técnicas de SEO para descobrir quais são as palavras e termos mais estratégicos que vão ranquear melhor seu catálogo e fazer seu marketplace ser mais acessado.

Atendimento eficiente

O que muito se vê no comércio eletrônico são clientes insatisfeitos com o atendimento online das lojas onde realizaram suas compras. Muitas empresas deixam sua clientela praticamente desamparada, sem informação, satisfação e contato. Oferecer um atendimento de qualidade e personalizado fará com que você conquiste seu público e ganhe pontos no mercado digital.

Quais é a sua melhor opção?

Se você quer alavancar seu negócio virtual, já sabe que pode contar com um shopping center virtual. Mas o sucesso como seller também vai depender do local que você escolher para anunciar. Por isso, vamos falar um pouco sobre a Startup Marketplace Valeon da Região de Ipatinga:

QUEM SOMOS

A Plataforma Comercial da Startup Valeon é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial Valeon um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial Valeon veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (WP)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

BOLSONARO ACUSA A LAVA JATO DE PERSEGUIÇÃO

 

Bolsonaro acusa ex-coordenador da Lava Jato de perseguir sua família

Presidente fala em ‘tentativa de cooptação’ para escolha de PGR em 2019

Emilly Behnke, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Após dizer que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso a mensagens de integrantes da Lava Jato vazadas por hackers, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 26, que “vários diálogos” entre o procurador da República Deltan Dallagnol, ex-coordenador da operação no Paraná, e membros do Ministério Público demonstram “perseguição à sua família”.

Em postagem nas redes sociais, o presidente aponta uma “tentativa de cooptar o entorno do Presidente da República para a escolha do PGR (procurador-geral da República) em 2019″, quando indicou Augusto Aras para o cargo, nome que estava fora da lista tríplice formulada pela associação da categoria. 

Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Eleito com discurso de combate à corrupção, Bolsonaro nomeou o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro como seu ministro da Justiça logo no início do governo. Em abril do ano passado, porém, os dois romperam e Moro deixou o cargo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal para favorecer aliados. Desde então, o presidente mudou o discurso e passou a ser crítico à operação e aos seus antigos integrantes. A acusação sobre interferência na PF é investigada em um inquérito no Supremo Tribunal Federal.

“A perseguição à família Bolsonaro se mostra em vários diálogos entre Dallagnol e membros do MP (Ministério Público)”, escreveu Bolsonaro, citando como fonte um texto do site “Agora Paraná” assinado por Sandra Terena, ex-secretária do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.  

Nas mensagens atribuídas a Dallagnol citadas no texto, o procurador afirma que dados da família Bolsonaro foram vazados pelo Ministério Público e pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A conversa, ainda segundo o site, se deu em janeiro de 2019, um mês após o Estadão revelar que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), movimentou mais de R$ 1,2 milhão em sua conta. O relatório revelado pelo jornal deu origem à denúncia que aponta o filho mais velho do presidente como chefe de um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. 

Desde então, o Coaf entrou na mira do presidente. Logo no início do seu governo, ele transferiu o órgão do Ministério da Justiça, até então comandado por Moro, para o Banco Central, uma autarquia mais burocrática do que a pasta. 

Bolsonaro já colocou veracidade de mensagens em dúvida

Na postagem feita nesta sexta, o presidente também criticou uma manifestação dos procuradores do Paraná que atribui as conversas a “uma brincadeira entre colegas de trabalho”. “Dellagnol querer dizer ser brincadeira tais diálogos demonstra querer fugir de sua responsabilidade. Os diálogos do vazamento da família ocorreram em 2019, onde Bolsonaro já era Presidente da República. ISSO É CRIME!”, afirma o presidente.

Em 2019, porém, o próprio Bolsonaro disse que o vazamento das mensagens era “criminoso” e duvidou do conteúdo revelado: “Vazou. Se vazar o meu aqui tem muita brincadeira que faço com colegas . Houve uma quebra criminosa, uma invasão criminosa. Se é que o que está sendo vazado é verdadeiro ou não”.

As mensagens hackeadas foram reveladas em junho de 2019 pelo site The Intercept Brasil. Pouco mais de dois meses depois, a Polícia Federal prendeu um grupo de hackers responsáveis pelo vazamento e descobriu que os ataques virtuais também tinham como alvo integrantes da cúpula da República, incluindo Bolsonaro. Nenhuma conversa do presidente, porém, chegou a ser divulgada. Até hoje a PF não descobriu quem encomendou o ataque.

Procurados pela reportagem, os procuradores da Lava Jato do Paraná afirmaram, em nota, não reconhecer a autenticidade das mensagens. Informam, ainda, que não tinham acesso ao conteúdo de eventuais investigações envolvendo o presidente e sua família.

Leia abaixo a nota na íntegra:

Os procuradores da República que integraram a força-tarefa Lava Jato esclarecem sobre recente publicação do presidente Bolsonaro envolvendo supostas mensagens:

1. Os procuradores da República que integraram a força tarefa Lava Jato reafirmam que não reconhecem a autenticidade e a veracidade das mensagens criminosamente obtidas por hackers que estão lhe sendo atribuídas. Os supostos diálogos constantes nessas mensagens, editados, descontextualizados e deturpados, vem sendo utilizados de forma deliberada e sistemática por condenados da operação e simpatizantes que, não conseguindo enfrentar as provas e fatos que constam em centenas de autos judiciais, limitam-se a fazer e renovar, por dezenas de vezes, falsas acusações.

2. No caso específico, ainda que os diálogos tivessem ocorrido da forma como apresentados – embora não se reconheça o seu conteúdo, seja pelo tempo, seja pela ordem em que são apresentados, seja pelo conteúdo – as mensagens mostram, evidentemente, somente uma brincadeira entre colegas de trabalho. Qualquer interpretação diferente que se faça da questão, além de ser totalmente contrária ao contexto jocoso revelado pelas próprias supostas mensagens, não tem qualquer amparo na realidade. A força-tarefa do caso Lava Jato em Curitiba tinha atribuição limitada à investigação de crimes relacionados às empresas do Grupo Petrobras, não alcançando eventuais investigações relacionados ao presidente ou a sua família.

O IDEAL É A NÃO INGERÊNCIA DE UM PODER SOBRE O OUTRO

 

Análise: ‘PEC da Blindagem’, o retrato do caos

Faz algum tempo que cada Poder, como cegos examinando um elefante, tem uma concepção diferente da ‘opinião pública’

Fernando Guarnieri*, O Estado de S.Paulo

O Problema dos Três Corpos, na Física, trata da dificuldade de se prever a posição de três corpos atraídos mutuamente por sua gravidade. Se os corpos têm massas equivalentes e distâncias semelhantes em relação a um centro, o movimento deles em torno deste centro seria caótico.

 Na política temos algo equivalente aos três corpos da física se atraindo mutuamente. O Estado tem três funções, que nas democracias contemporâneas são exercidas por três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Esses seriam os três corpos da política. O centro, em torno do qual eles se movem, é a “opinião pública”. 

Câmara dos Deputados
O plenário da Câmara dos deputados nesta sexta-feira, 26 Foto: Najara Araújo/Agência Câmara

A separação dos poderes, idealizada em sua forma mais definitiva por Montesquieu no século XVIII para evitar os abusos de autoridade, teria como base um sistema de pesos e contrapesos que deveria gerar um equilíbrio. No entanto, no Brasil, na última década, os movimentos na política parecem estar um tanto caóticos.

A votação da PEC 03/21, a chamada “PEC da Blindagem”, que dificulta a prisão de parlamentares, é um retrato deste movimento caótico. É o Legislativo procurando ampliar suas prerrogativas frente a um Judiciário cada vez mais ‘ativo’ e que rapidamente deu a alcunha de “PEC da impunidade” à proposta. 

A PEC é uma reação à prisão em flagrante do deputado Daniel Silveira (PSL/RJ) que atacou, em vídeo, membros do Supremo Tribunal Federal, além de defender o AI-5, instrumento utilizado para cassar e tirar direitos de políticos no final da década de 1960. Diante da prisão, os parlamentares viram a necessidade de uma blindagem para evitar novas investidas do Judiciário. 

A  tentativa do recém-empossado presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL) de colocar a proposta em votação sofreu a resistência de parte minoritária, mas suficiente, dos deputados. Essa resistência fez com que Lira recuasse, colocando a PEC em banho maria, à espera de condições melhores para sua aprovação. A resistência dos deputados se deve ao receio de uma reação negativa da ‘opinião pública’ à decisão. 

O problema é que faz algum tempo que cada Poder, como cegos examinando um elefante, tem uma concepção diferente da ‘opinião pública’. Os membros do Supremo têm uma visão idealizada e, de certa maneira, elitizada. Para os deputados, a ‘opinião pública’ que vale é a de suas bases. Para o presidente, a ‘opinião pública’ equivale a seus seguidores nas redes sociais. Assim, cada Poder atira para um lado. 

Nas democracias modernas os partidos políticos fazem a ponte entre a sociedade e o Estado. Eles informam os dirigentes qual é a ‘opinião pública’. No entanto, nas últimas décadas, um aumento da fragmentação partidária no Brasil reduziu essa capacidade informacional. Sem essa baliza os Poderes vão continuar a se desentender. 

A solução para o problema dos três corpos na física é a expulsão de um deles e um equilíbrio entre os outros dois. Na história não tão remota do País, algo parecido se deu na política. Em 1963, o Executivo foi ‘engolido’ pelo parlamento no início do governo Goulart e, em 1964, foi a vez de o Executivo ‘engolir’ o Congresso e limitar a ação do Judiciário. Reduzir a fragmentação partidária mantendo o fim das coligações, impondo cláusula de desempenho e revendo os fundos partidários e de campanha ajudariam a evitar esse tipo de solução.

*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR ASSOCIADO DO IESP-UERJ

BRASIL E CHINA FAZEM PLANOS PARA CONCORRER COM A STARLINK DE ELON MUSK

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