sábado, 20 de fevereiro de 2021

CRIME ORGANIZADO AGE NA PANDEMIA

 

Artigo: Pandemia e crime organizado na América Latina

No início da crise, alguns acreditaram que a covid-19 poderia ser ruim para criminosos; um ano depois, ficou claro que não foi isso que aconteceu

  •  José Miguel Cruz* e Brian Fonseca*, Americas Quarterly

Durante os primeiros dias da pandemia, alguns acreditavam que a covid-19 poderia ser ruim para o crime organizado, como o MS-13 e o cartel de Sinaloa. O lockdown em várias cidades do mundo impediu as pessoas de saírem de casa, minando o comércio, tanto legal quanto ilegal. Na média, a recessão atingiu as economias latino-americanas com mais força do que qualquer outra, significando menos dinheiro no bolso dos consumidores. À medida que os governos mobilizavam verbas e equipes para enfrentar o desafio, falava-se de um novo nível de engajamento que poderia fortalecer os laços entre os cidadãos e o Estado, possivelmente eliminando as organizações criminosas transnacionais em algumas áreas.

Um ano depois, ficou claro que não foi isso que aconteceu. A capacidade operacional, adaptabilidade, redes extensas e cofres recheados das organizações criminosas propiciam oportunidades para explorar os vazios deixados por instituições sobrecarregadas e cadeias de suprimento estressadas em toda a região. Embora ainda seja muito cedo para avaliar quaisquer mudanças duráveis ou resistentes, as organizações criminosas transnacionais estão mostrando indícios de que se adaptaram rápido e até se tornaram mais fortes de várias maneiras, algumas delas surpreendentes.

De fato, a pandemia pode, em última análise, ser um ponto de virada que marca a aceleração de tendências desastrosas relacionadas ao crime e à segurança registradas durante as últimas três décadas. A questão é o que governos podem fazer para impedir que isso continue.

Mesmo antes de a pandemia atingir a região, a América Latina e o Caribe eram o berço de alguns dos grupos criminosos mais dominantes, adaptáveis e violentos do mundo. Desde a década de 90, essas quadrilhas evoluíram de estruturas criminosas altamente centralizadas e hierárquicas para redes em expansão e ágeis envolvidas em uma ampla gama de atividades ilícitas.

Hoje, elas administram diversos portfólios de atividades ilegais que incluem desde o tráfico de drogas, de humanos, de armas, de minerais e outras mercadorias ilícitas até extorsão, sequestro, crime cibernético e lavagem de dinheiro. Esses grupos também evoluíram, de empreendimentos criminosos amplamente focados no hemisfério, com base em dinheiro vivo, para redes criminosas globais que estão profundamente entrelaçadas aos setores público e privado em toda a região.

Agentes da Policia Nacional de Honduras prendem membros da gangue Mara Salvatrucha (MS-13) Foto: Orlando Sierra/AFP

A história recente ilustra a tremenda resiliência desses grupos. Na América do Sul, os países andinos Bolívia, Colômbia e Peru continuam sendo os principais produtores de cocaína, apesar de décadas de políticas de erradicação. As antigas insurgências colombianas e peruanas resistiram às forças de segurança e evoluíram para organizações criminosas de fato com alcance global e extensos portfólios de atividades. Após a desmobilização dos paramilitares colombianos em 2006, bandos criminosos, também chamados de bacrim, surgiram como parte de uma terceira evolução das organizações de tráfico ilícito muito mais abrangentes e diversificadas que suas antecessoras.

De acordo com a InSight Crime, uma organização que estuda segurança na América Latina, a Colômbia enfrenta hoje uma quarta geração de organizações criminosas que possuem uma tremenda perspicácia empresarial, maior sofisticação tecnológica e são melhores tanto na estratégia de se integrar à sociedade quanto de fundir negócios legítimos com atividades ilícitas.

Na Venezuela, o regime de Nicolás Maduro transformou o país em um importante polo de drogas que partem da região com destino aos EUA, África Ocidental e Europa. O cartel dos Sóis é uma importante organização do narcotráfico composta em grande parte por militares venezuelanos. O país também atua como fonte de tráfico sexual.

Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, expandiu sua presença além das fronteiras do Brasil para assumir uma participação maior no tráfico internacional de entorpecentes ilícitos produzidos no Cone Sul. Os cartéis de drogas mexicanos continuam entre as organizações criminosas mais dominantes e poderosas do mundo. Entre eles, o cartel de Sinaloa, o Jalisco Nova Geração, o cartel do Golfo e o cartel Los Zetas operam em todo o mundo e são responsáveis por mais de 61 mil desaparecimentos e um número ainda maior de mortes desde os anos 60.

No fim de 2020, o México estava a caminho de registrar o ano mais violento de sua história, com mais de 40 mil assassinatos e uma taxa de homicídio projetada acima de 27 para cada 100 mil habitantes. A recente prisão e subsequente libertação do ex-ministro da Defesa do México, General Salvador Cienfuegos Zepeda, destaca como as organizações criminosas estão infiltradas no Estado mexicano.

Na América Central, gangues como MS-13 (Mara Salvatrucha) e Barrio 18 sobreviveram a quase duas décadas de políticas severas do governo destinadas a desmantelá-las e, talvez por causa dessas políticas, essas gangues ainda crescem de forma desenfreada com mais de 50 mil membros em El Salvador, Honduras e Guatemala. A região atrai outras organizações que estão se mudando para lá para tirar proveito de condições econômicas calamitosas, governos debilitados, um estado de direito enfraquecido e da proximidade de mercados importantes nos EUA.

Finalmente, o Caribe está mais uma vez fornecendo às organizações criminosas rotas de contrabando vitais que conectam produtores a consumidores. Fracas restrições a liberação de vistos e cidadania por meio de esquemas de investimento estão atraindo grupos que procuram usar o Caribe como um centro para várias atividades criminosas, incluindo tráfico ilícito e lavagem de dinheiro.

Por causa da pandemia, o crime está se expandindo para outras áreas, incluindo aquelas que o Estado, sobrecarregado, simplesmente não tem condições de administrar. Os grupos criminosos têm proporcionado uma espécie de governo paralelo em áreas praticamente abandonadas por instituições estatais. Por exemplo, na América Central as gangues assumiram a tarefa de fazer cumprir as medidas de controle da pandemia emitidas pelo governo e distribuir alimentos para a população em suas comunidades. No México, vários grupos criminosos, como a organização de Chapo Guzmán e o cartel Jalisco Nova Geração, têm distribuído alimentos às comunidades que controlam como forma de ganhar legitimidade pública.

No Brasil, facções em várias favelas do Rio de Janeiro impuseram toques de recolher e distanciamento social aos moradores e ao comércio local, ao mesmo tempo que distribuíam produtos de saneamento, suprimentos médicos e alimentos. Se os cidadãos continuarem a recorrer a grupos criminosos para a prestação de serviços, os governos serão forçados a pagar um alto preço para desalojar essas quadrilhas quando a pandemia acabar.

A covid-19 também está criando novas oportunidades econômicas para esses bandos. À medida que a recessão empurra um número cada vez maior de latino-americanos para as sombras da economia informal, o comércio de mercadorias ilegais pode se tornar ainda mais atraente. Por exemplo, há registros de um aumento no tráfico de suprimentos médicos, desde máscaras cirúrgicas, desinfetantes e álcool em gel a medicamentos e kits de teste. Recentemente, o secretário-geral da Interpol, Jürgen Stock, alertou que grupos criminosos planejavam se infiltrar nas cadeias de fornecimento de vacinas.

Dificuldades econômicas estão criando uma “epidemia paralela” de angústia emocional, aumentando a demanda global por substâncias psicotrópicas, muitas fortemente controladas ou totalmente ilegais. As organizações criminosas contam hoje com um mercado maior e mais exigente e instituições enfraquecidas. Alguns países, como o Brasil, podem emergir como novos atores transnacionais no fluxo de bens ilícitos, graças à interrupção do canal existente aliada à nova demanda registrada em regiões como a Europa.

A maioria das sub-regiões das Américas deve experimentar uma consolidação de suas redes criminosas transnacionais. Os Andes podem ver um aumento nas safras ilegais, pois elas se tornarão uma das fontes de receita mais seguras para os agricultores locais. Os grupos criminosos da América Central garantirão a continuação de seu status ao controlar centros de tráfico e proporcionar empregos para populações carentes, em muitos casos com a ajuda de políticos e agentes estatais corruptos.

Nesse ambiente, atores estatais e não estatais de Rússia, China e outros países poderão fazer parceria com organizações criminosas e instituições corruptas nas Américas de forma mais fácil. Esses países e seus setores privados são conhecidos por contornar o estado de direito e, geralmente, preferem trabalhar com atores corruptos. A influência crescente da China tem ajudado Maduro, em particular, permitindo que sua cleptocracia sobreviva.

Os custos sociais da pandemia serão enormes, especialmente considerando que as economias da região podem não se recuperar totalmente aos níveis pré-covid antes de 2025, de acordo com o FMI. Segundo o Banco Mundial, antes da covid-19, já havia mais de 20 milhões de “ninis”, neologismo em espanhol que se refere aos jovens que não trabalham nem estudam, na América Latina. Para milhares de jovens, a participação em grupos criminosos pode se tornar a única chance de sobrevivência.

O desemprego generalizado e o subemprego também aumentarão a pressão da migração legal e ilegal, alimentando as cadeias de tráfico humano. Relatórios mostram, por exemplo, que quando o governo colombiano fechou sua fronteira com a Venezuela para conter o surto de covid-19, milhares de migrantes venezuelanos desesperados acabaram caindo nas garras de organizações criminosas que operam na área.

Muitos governos nacionais reagirão ao poder crescente das organizações criminosas, e a revolta da opinião pública resultante, redirecionando recursos para expandir as instituições de segurança. Outros governos podem se ver forçados a negociar com organizações criminosas, uma prática já em vigor em El Salvador e comum no nível subnacional, onde os governos locais são fracos. Esse tipo de negociação parecerá politicamente conveniente, especialmente em países com eleições nos próximos 18 meses, mas na ausência de controles institucionais adequados e reformas nas instituições-chave, tais táticas raramente tiveram sucesso no passado.

Qualquer resposta governamental eficaz deve encarar as devastadoras consequências econômicas da crise de saúde, a erosão da capacidade do Estado e o colapso da legitimidade institucional. Os governos devem cavar fundo e desenterrar vontade política para expandir a luta contra a impunidade, a corrupção generalizada e a falta de capacidade institucional. Eles precisam expandir as reformas estruturais em instituições-chave, como o Judiciário, as forças policiais federais, estatais e locais, e melhorar a capacidade de fornecer aos cidadãos as necessidades mais básicas, como educação e saúde pública.

Sem esforços para uma reforma das instituições responsáveis pelo bem-estar da população e um esforço de investimento sustentado em capital humano, qualquer iniciativa tradicional com foco na segurança está fadada ao fracasso. Investimentos em capital humano e social devem ser acompanhados por uma maior cobrança das instituições políticas responsáveis. A regressão ao autoritarismo que vários países enfrentam agravará as crises desencadeadas pela pandemia. Portanto, enfrentar o crime organizado nessas circunstâncias exige que a resiliência dos governos democráticos seja maior do que a resiliência dos grupos criminosos da região.

Dado o tamanho da emergência e a crescente expansão transnacional das redes criminosas, os governos devem trabalhar multilateralmente para otimizar recursos, compartilhar informações e melhorar a coordenação intergovernamental. O combate ao crime transnacional é um desafio global que exige uma colaboração multilateral mais significativa que reúna países dentro e fora do hemisfério.

* JOSÉ MIGUEL CRUZ É DIRETOR DO CENTRO KIMBERLY GREEN DA FACULDADE DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS STEVEN J. GREEN, DA UNIVERSIDADE  INTERNACIONAL DA FLÓRIDA. BRIAN FONSECA É DIRETOR DO  INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS JACK D. GORDON DA UNIVERSIDADE  INTERNACIONAL DA FLÓRIDA.

BOLSONARO NOMEIA PRESIDENTE DA FIESP PARA O CONSELHO DE SEGURANÇA NACIONAL

 

Bolsonaro nomeia presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para Conselho de Segurança

Skaf encerra seu mandato na presidência da Fiesp em junho, mas se mantém próximo a Bolsonaro

Por ESTADÃO CONTEÚDO

Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro nomeou o empresário Paulo Skaf (MDB), presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), como membro titular do Conselho da República. A nomeação foi publicada em decreto na edição de ontem do Diário Oficial da União (DOU).

No mesmo decreto, Bolsonaro nomeou, também com membro titular do Conselho, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. O ministro interino da Secretaria-Geral, Pedro Cesar de Sousa, e o deputado federal Vitor Hugo (PSL-GO) foram nomeados como suplentes de Heleno e Skaf no colegiado, respectivamente.


O Conselho da República é um órgão superior de consulta do presidente da República, criado pela Lei 8.041 de 1990 para se pronunciar sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.

O órgão é dirigido pelo presidente da República e composto também pelo vice-presidente da República, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, os líderes da maioria e da minoria nas duas Casas, o ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros com idade superior a 35 anos.

Do grupo de cidadãos, dois titulares e seus suplentes são definidos pelo presidente da República, que é o caso das nomeações de ontem. Os outros quatro titulares e suplentes ficam a cargo do Senado e da Câmara.

Todos têm mandato de três anos e é vedada a recondução. De acordo com a legislação, o Conselho da República se reunirá por convocação do presidente da República e suas audiências serão realizadas com o comparecimento da maioria dos conselheiros.

As nomeações repercutiram no Twitter ontem. De um lado, bolsonaristas definiram as indicações como uma espécie de “recado” ao Supremo. De outro, opositores ao governo diziam que Bolsonaro, com os nomes escolhidos próximos a ele, estaria ampliando sua influência sobre o conselho, que precisa ser consultado em casos de crise grave, a exemplo da decretação do estado de defesa citado pelo Procurador-geral da República, Augusto Aras. (Colaborou Pedro Venceslau)

No final de Janeiro, Aras reconheceu indiretamente que a pressão por um possível impeachment de Bolsonaro está crescendo no País e alertou para o risco de “alastramento da crise sanitária para outras dimensões da vida pública”. Em texto, Aras citou a pandemia para insinuar que o presidente pode decretar o estado de defesa com o objetivo de preservar a estabilidade institucional e disse que o tempo é de “temperança e prudência”.

Aliado

Skaf encerra seu mandato na presidência da Fiesp em junho, mas se mantém próximo a Bolsonaro. O empresário é visto pelos bolsonaristas como um potencial nome do presidente para disputar o governo paulista em 2022 – cargo a que ele concorreu nas últimas três eleições. Discreto, Skaf segue por ora no MDB, mas está afastado da vida orgânica da sigla. Em conversas reservadas diz que não tem pressa em decidir sobre seu futuro político.

GOVERNO PRETENDE FACILITAR A VIDA DAS STARTUPS

 

Governo pretende impulsionar startups com normas específicas

Marco legal já foi aprovado na Câmara e deve ser votado no Senado na próxima terça-feira. Dúvidas em pontos do texto deixam especialistas receosos

Por MARCELO DA FONSECA – JORNAL O TEMPO

Com o objetivo de estimular um setor promissor da economia, que já movimenta bilhões anualmente, o governo federal e o Congresso querem aprovar ainda neste semestre a proposta que cria uma legislação para startups.

O Projeto de Lei Complementar 146/2019, chamado Marco Legal das Startups, está na pauta do Senado para a próxima terça-feira. O texto está entre as 35 propostas que foram consideradas prioritárias pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para 2021. Apesar de reconhecerem avanços no projeto, especialistas da área ressaltam que as medidas podem ficar aquém do que era esperado quando o texto foi proposto.

O projeto, de autoria do deputado João Henrique Holanda Caldas (PSB-AL) com apoio de outros 18 parlamentares, foi aprovado na Câmara em dezembro do ano passado, com 361 votos a favor e 66 contrários. De acordo com o texto, passam a ser consideradas startups as empresas (mesmo com apenas um sócio) e sociedades cooperativas que atuam na inovação aplicada a produtos, serviços ou modelos de negócios. Eles devem ter receita bruta de até R$ 16 milhões ao ano e até dez anos de inscrição no CNPJ.

De acordo com a proposta, são enquadradas como startups as empresas, mesmo com apenas um sócio, e sociedades cooperativas que atuam na inovação aplicada a produtos, serviços ou modelos de negócios. Para estimular os investimentos nessas empresas emergentes, elas passam a admitir aporte de capital por investidores que resultarão ou não em participação no capital social, dependendo da modalidade escolhida pelos envolvidos. Ou seja, ela abre caminho para que investidores apoiem as startups.

De acordo com o deputado Vinicius Poit (Novo-SP), que relatou o texto na Câmara, as novas regras poderão estimular o setor e a geração de empregos no país.

“Vai mudar a realidade do Brasil. A realidade de quem está lá fora esperando uma oportunidade de emprego aqui, uma oportunidade de renda. O texto vai, inclusive com o stock options (alternativa em que a empresa oferece ao funcionário a possibilidade de comprar ações), cujos pontos estávamos esclarecendo, ter essa remuneração, de acordo com as leis e os acordos com a empresa. Isso vai garantir a possibilidade de uma complementação, a possibilidade de ser sócio da empresa. Não só o empreendedor, dono da empresa, vai ganhar. Mas o trabalhador, o empregado”, avalia o parlamentar.

Este, no entanto, é um dos pontos mais críticos da proposta e que pode gerar divergências no Senado. Em audiência pública realizada na semana passada, surgiram dúvidas sobre o tratamento dado ao plano de opção de compra de ações, que permite que o empregado invista na empresa e assuma os riscos e tenha possibilidade de ganhos com o crescimento da empresa.

Especialistas do setor apontam que a venda da participação societária é a principal ferramenta dessas jovens empresas para atrair funcionários qualificados, mas há questões se esses planos são de natureza comercial ou remuneratória, o que envolve questões de tributação e gera insegurança jurídica.

Caso aconteçam mudanças no texto que será votado no Senado, o projeto voltará para a Câmara e pode demorar a sair do papel, como alertou o senador Carlos Portinho (PL-RJ), relator na Casa. “Se comprar essa briga, ela será longa. Vai derrubar o projeto da Câmara, e teremos uma briga enorme. Podemos perder uma janela de oportunidade”, avaliou Carlos Portinho.

Durante a audiência pública, ele afirmou que a expectativa é manter o cronograma previsto para a votação no dia 24 de fevereiro, mas não descartou que o texto pode sofrer mudanças. “Estamos trabalhando avançado no relatório para seguirmos o previsto, mas posso dizer que é um livro aberto”, afirmou o parlamentar.

“O texto ficou bem aquém do esperado”

Para o especialista em direito empresarial e societário Marcelo Godke, o Congresso já recebeu diversas sugestões sobre as startups, mas muitas delas não foram avaliadas e discutidas para entrar no texto final.

“O projeto complementar tem pontos positivos, e é importante que o Parlamento busque fazer algo. Temos um país com graves problemas de insegurança jurídica, que afeta o setor. Mas o texto ficou bem aquém do esperado, com mais problemas do que soluções. Ele foi preparado por pessoas que não estão envolvidas no ambiente da inovação”, critica Godke.

Ele aponta como defeito a restrição das novas regras às empresas voltadas para inovação tecnológica, excluindo milhares de empresas nascentes que tratam de outros setores e que também poderiam ser consideradas startups, se o texto fosse mais amplo.

Godke critica também a inclusão de benefícios tributários como forma de incentivo. “É um setor que não deveria ser fomentado por meio desses benefícios. Nosso sistema já é uma colcha de retalhos. Se a startup não pode pagar os impostos, será que ela deveria existir?”, questiona o especialista.

O marco prevê que, quando as empresas aplicarem em fundos de investimentos, elas poderão descontar o valor da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Esse incentivo fiscal está previsto em regime especial de tributação para a exportação de serviços de tecnologia da informação.

ALERTA PARA AS EMPRESAS SE DEDICAREM MAIS AO ATENDIMENTO DO CLIENTE

 

O tempo do cliente é precioso e as empresas precisam saber disso

André Brunetta*

O ritmo de atendimento de qualquer empresa é determinante para que ela ganhe destaque dentro do seu nicho. Quando falamos de empresas de tecnologia isso se torna ainda mais evidente, já que uma das estratégias para assegurar desenvolvimento é utilizar tecnologias que agregam valor ao seu negócio.

Quando se trata da relação com o cliente, partimos deste princípio de que ninguém gosta de esperar horas para ser atendido. Quando um cliente chega animado para comprar um carro, e nenhum atendente se dirige a ele, ou quando se dirige, não dá o tratamento ideal, ele vai ter suas expectativas quebradas e muito provavelmente vai embora, sem comprar o veículo. O mesmo acontece quando um pedido de comida em um restaurante demora muito para chegar, ou chega frio e mal feito. Isso faz com que o cliente dificilmente retorne a esse local.

Por isso, é imprescindível oferecer contato mais humanizado com os clientes, mesmo no ambiente virtual e escolher uma ferramenta de atendimento adequada. A agilidade interfere diretamente no nível de satisfação, faturamento e imagem da empresa no mercado. Nós sabemos que só vamos oferecer a melhor experiência para nossos usuários, facilitando e simplificando os processos que eles enfrentam, e proporcionando um atendimento de qualidade. Esse é o segredo!

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CÂMARA DOS DEPUTADOS SACRIFICOU UM PARA SALVAR TODOS

 

Câmara decide manter prisão de Daniel Silveira

Maioria dos parlamentares decidiu manter a prisão do deputado que publicou vídeo com ataques ao STF

Por FOLHAPRESS

Câmara mantém prisão de Daniel Silveira

A Câmara decidiu nesta sexta-feira (19) manter preso o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado do presidente Jair Bolsonaro.
Por 364 votos a 130, o plenário da Casa confirmou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que mandou prender o deputado após a publicação de um vídeo com ataques aos ministros da corte e defesa ao AI-5 (Ato Institucional nº 5), que deu início ao período mais autoritário da ditadura.

A Constituição prevê que, caso um deputado seja preso, caberá à Câmara analisar a acusação, os argumentos do Supremo e, então, avaliar se a medida será ou não mantida. A palavra final, portanto, é dos próprios deputados.

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Eram necessários 257 votos para confirmar a ordem de prisão, que partiu do ministro Alexandre de Moraes, do STF, na noite de terça (16) e foi mantida no dia seguinte por unanimidade pelos 11 ministros do plenário da corte.

O placar na Câmara nesta sexta ocorre após Silveira ter ficado isolado, sem apoio de Bolsonaro nem de membros do governo. O presidente evitou manifestações públicas nos últimos dias em defesa do aliado.

Na sessão, a Câmara mandou um recado à corte. O relatório aprovado, redigido pela deputada Magda Mofatto (PL-GO), ressaltou que os parlamentares têm imunidade para opinar, mas que a prisão de Silveira é um caso excepcional, em função do que considerou ameaças gravíssimas à democracia.

A mensagem é que o caso do deputado bolsonarista não abre um precedente, uma brecha, para que a mesma medida seja amplamente adotada, e sim que se trata de uma exceção.

Foi o mesmo tom adotado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em breve discurso antes do início da sessão.
Lira anunciou a criação de uma comissão extraordinária pluripartidária para propor alterações legislativas que tornem mais claro o artigo de imunidade parlamentar na Constituição. Ele qualificou o caso de Silveira como “ponto fora da curva”.

Ao delimitar o episódio, o líder do centrão definiu a intervenção do STF sobre as prerrogativas parlamentares como “extrema” e afirmou que também deveria ser “ponto fora da curva, sob o risco de banalizarmos excessos que, pelo caminho oposto, ultrapassariam o plano do razoável e passariam a orbitar também a atmosfera da irresponsabilidade.”

Em discurso, Silveira pediu desculpas à população brasileira, disse que se excedeu e negou ser um risco à democracia.

Silveira é alvo de dois inquéritos na corte -um apura atos antidemocráticos e o outro, fake news. A ordem de prisão contra o deputado bolsonarista foi expedida na investigação sobre notícias falsas por causa do vídeo com palavras de baixo calão contra os ministros do Supremo, em que acusa integrantes da corte de vender sentenças e sugeriu agredi-los.

Ao longo da semana, Silveira foi abandonado por membros do centrão –grupo de partidos que se tornou da base de Bolsonaro após a liberação de cargos e emendas.

Nem mesmo todo o PSL defendeu a liberdade de Silveira. O partido, que hospedou Bolsonaro nas eleições de 2018, se dividiu após divergências internas e denúncias de candidaturas laranjas. Ficaram ao lado de Silveira nesta sexta alguns deputados mais ligados ao bolsonarismo.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), também queria ver o deputado do PSL solto. Apesar de ter declarado essa posição ao longo da semana, Barros decidiu deixar a base governista livre na sessão desta sexta -não orientou ao grupo voto a favor nem contra a prisão.

Na prática, o governo se isentou de entrar na discussão sobre o futuro do aliado de Bolsonaro. No Palácio do Planalto, a recomendação também foi evitar o envolvimento com o caso.

Foi por causa desse distanciamento e por causa da manifestação unânime do STF pela prisão que o centrão acabou mudando de tendência ao longo da semana. O movimento corporativista em defesa da Câmara e da liberdade de expressão de Silveira perdeu força.

Isso por alguns motivos: derrubar uma decisão do Supremo e libertar um deputado que inclusive sugeriu agressões a ministros da corte poderia abrir uma crise institucional; Silveira é um político defensor da antipolítica e não é membro do centrão; e ficou a percepção que a prisão dele foi uma medida fora da curva e um episódio isolado.

Pela Constituição, congressistas não podem ser presos, apenas em caso de flagrante de crime inafiançável. A prisão de Silveira por causa da publicação de um vídeo de ataques ao Supremo gerou preocupação a líderes da Câmara –alguns deles também investigados pela corte.

O receio era que, ao concordar com essa medida, a Casa seria dado um precedente mais amplo para o Supremo usar o mecanismo de prisão em flagrante. Mas, após conversas de bastidores entre integrantes da Câmara e da corte, a tensão diminuiu.

Há um ano o plenário da Câmara derrubou uma decisão do então ministro Celso de Mello, do STF, que havia afastado do mandato o deputado Wilson Santiago (PTB-PB), acusado de desviar verbas de obras contra a seca no sertão da Paraíba.

À época, o argumento dos parlamentares era o de que uma decisão como a de Celso de Mello abriria um perigoso precedente. Segundo eles, não haveria impunidade já que as acusações contra Santiago seriam analisadas pelo conselho de ética da Câmara.

Apesar disso, até hoje, mais de um ano depois, o caso de Santiago está parado na estaca zero –na Mesa da Casa aguardando deliberação sobre arquivamento ou envio ao conselho.

Durante a sessão que confirmou a prisão de Silveira nesta sexta, um pequeno grupo de manifestantes foram para a frente do Congresso pedir a liberdade do bolsonarista e criticar a decisão do Supremo.
A votação foi conduzida por Lira, que venceu a disputa pela presidência da Câmara com o apoio de Bolsonaro e articulação de membros do governo.

Lira permitiu que deputados de ambos os lados (a favor e contra a prisão) se manifestassem, mas, pouco antes da confirmação da prisão, o presidente da Câmara afirmou que, a partir de agora, as críticas e discussões no plenário não poderão ser exaltadas.
“A partir de hoje [sexta], esta Mesa será rigorosíssima com qualquer tipo de adjetivação inadequada no plenário dessa Casa. Doa em quem doer”, declarou.

BOLSONARO NÃO PERDOA POLÍTICOS QUE VÃO ATRAPALHAR A SUA REELEIÇÃO

 

Análise: Bolsonaro mostra que não hesitará em descartar quem atrapalhar reeleição

No mesmo dia, presidente lavou as mãos na votação pela prisão de Daniel Silveira e substituiu a chefia da Petrobrás

Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo

Jair Bolsonaro mostrou que não pensará duas vezes em descartar aliados ou integrantes do governo que possam atrapalhar seu projeto político de reeleição. Ao mesmo tempo em que lavou as mãos e não se moveu para impedir que a Câmara mantivesse a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), o presidente decidiu também jogar ao mar o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o substituindo pelo general Joaquim Silva e Luna.

Em comum, os dois movimentos expõem que Bolsonaro vai priorizar seu caminho para a reeleição em 2022. Mesmo sendo integrante da ala mais radical – e fiel – do bolsonarismo, Silveira foi deixado de lado pelo presidente, que não quis comprar briga com o Supremo Tribunal Federal e muito menos atrapalhar o andamento da agenda de votações do Congresso. O presidente reconheceu que a crise causada pelo deputado precisava ser resolvida rapidamente. Do contrário, poderia travar a votação dos projetos da agenda econômica, incluindo a proposta que volta a pagar o auxílio emergencial e que garantiu maior aprovação popular para Bolsonaro. Sem apoio do presidente, Silveira viu sua prisão ser mantida pela Câmara por expressivos 364 votos.

O presidente Jair Bolsonaro e o general Joaquim Silva e Luna, indicado para a chefia da Petrobrás Foto: MAURO PIMENTEL / AFP (19/2/2020)

Em relação à mudança na Petrobrás, Bolsonaro mandou seguidos recados de que estava insatisfeito com a sucessão de aumentos nos preços dos combustíveis. A maior preocupação do presidente era com a reação negativa dos caminhoneiros. Há duas semanas, o governo conseguiu conter o movimento de greve que a categoria ameaçava fazer, mas com os novos aumentos do diesel, Bolsonaro perdeu a paciência e decidiu defenestrar o presidente da Petrobras.

Não é uma troca qualquer. Castello Branco é um dos membros originais do chamado supertime montado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com nomes fortes do mercado. Mesmo sabendo que a repercussão da troca seria péssima, Bolsonaro preferiu colocar no lugar um general que possa seguir suas orientações sobre o preço dos combustíveis. O presidente ficou especialmente irritado com uma fala de Castello Branco que afirmou que não tinha nada a ver com os caminhoneiros, ao justificar que a política de preços da companhia variava conforme o mercado no exterior.

“‘Eu não tenho nada a ver com caminhoneiros, eu aumento preço aqui e não tenho nada a ver com caminhoneiro’. Foi o que ele falou. Isso vai ter uma consequência, obviamente”, reclamou Bolsonaro, na sua live, essa semana.

A questão é que os dois movimentos podem trazer mais problemas do que benefícios para Bolsonaro. A intervenção no comando da Petrobras causou enorme mal-estar no mercado e mostrou o presidente se afastando a galope do liberalismo. Mais: trouxe também de volta a lembrança ruim de como a Petrobras tinha suas decisões definidas pelo Planalto, durante o governo Dilma. Ao colocar um general à frente da estatal, a leitura é que o presidente da companhia, de fato, passa a ser o próprio Bolsonaro.

Já ao virar as costas para o deputado Daniel Silveira, Bolsonaro passa um recado para seus outros aliados no Congresso: vocês estão por conta própria e risco. Por mais insanos que tenham sido os ataques e ameaças feitas pelo parlamentar aos ministros do Supremo, os bolsonaristas esperavam que o presidente não o abandonasse. Essa confiança irrestrita desse grupo Bolsonaro perdeu hoje.

EX-PRESIDENTE DO BNDES É CONTRA A COLOCAÇÃO DE UM GENERAL PARA CHEFIAR A PETROBRAS

 

‘Não faz sentido colocar um general na Petrobrás’, diz Mendonça de Barros

Para economista, saída de Castello Branco é justificável, devido a sua falta de perfil para lidar com problema do diesel; ele aponta também que empresa precisa de um presidente técnico, mas que saiba administrar conflitos

Entrevista com

Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES

  •  Luciana Dyniewicz, O Estado de S.Paulo

A saída de Roberto Castello Branco da Petrobrás “faz sentido”, segundo o economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luiz Carlos Mendonça de Barros. Isso porque Castello Branco não tinha o “perfil para tratar do problema do diesel com essa vertente social e econômica que demanda a questão dos caminhoneiros”, diz Mendonça de Barros. “O que não faz sentido é a entrada de um general, que também não tem o perfil de olhar para o problema e, ao mesmo tempo, defender (os interesses) da Petrobrás.”

Diferentemente de muitos economistas, Mendonça de Barros não vê problema na interferência do presidente Jair Bolsonaro na petroleira – “a empresa é do governo federal” –, mas destaca que tabelar o preço do combustível seria a pior solução para o entrave. Ele defende um seguro para o caminhoneiro, semelhante ao que existe para o produtor rural se proteger de variações climáticas. A seguir, trechos da entrevista.

‘Guedes fica enfraquecido, e a importância dos militares cresce’, diz economista. Foto: Evelson de Freitas/Estadão

Como o sr. avalia a mudança no comando da Petrobrás?

Faz sentido porque o Castello Branco não tem o perfil para tratar do problema do diesel com essa vertente social e econômica que demanda a questão dos caminhoneiros. A linha de pensamento dele é liberal, de que cada um tem de se virar, de que, se o preço é volátil, então, vai ficar volátil. O que não faz sentido é a entrada de um general, que também não tem o perfil de olhar para o problema analisando as questões econômicas e sociais e, ao mesmo tempo, defender (os interesses da) a Petrobrás. Não dá para a Petrobrás mudar o preço todo dia em função da especulação lá fora. Isso introduz uma variação não racional dentro de setores importantes aqui. O mais importante deles é o dos caminhoneiros independentes. Nem o Castello Branco nem um general do exército tem condições de fazer uma arbitragem dessas. Teria de ser um perfil técnico, mas com capacidade de administrar conflitos.

Se a Petrobrás não pode mudar o preço seguindo o mercado internacional, deve tabelar?

Não. O presidente Bolsonaro, pela falta de conhecimento que tem de economia, acabou entrando numa fria com essa história da Petrobrás. O preço do petróleo é um dos mais voláteis. Isso não é de agora. No Brasil, o preço tem outro componente que também é muito especulativo, o dólar. Você combina essas volatilidades e chega a uma situação que não dá para administrar. Tabelar é uma solução que compromete todo o modelo econômico do ministro Paulo Guedes. O que é pior: tudo isso para influenciar o comportamento de caminhoneiros. Os caminhoneiros não podem aumentar o preço do frete de uma hora para a outra. Por isso, seria muito mais fácil criar um seguro para eles, como o seguro para o produtor rural, que absorve os impactos climáticos. O Banco do Brasil administra isso, que é bancado com recursos fiscais. Mas, como o presidente não entende o problema, as soluções dele são as piores possíveis. Por outro lado, a solução do seguro já foi discutida na época do Fernando Henrique Cardoso.

E por que não foi adotada?

O câmbio estava estável, e o problema ficou para trás. Mas, como estamos em um momento difícil por causa da flutuação do petróleo e do câmbio, precisamos de um governo que tenha capacidade de entender que o caminhoneiro não pode ser submetido a um ajuste de 15% no diesel. Precisamos de duas coisas do governo. A primeira é que entenda que existe um problema socBolsonaroial. A segunda é de pessoas que entendam isso e que tenham capacidade técnica para propor soluções. A situação é caótica, e ele () não vai conseguir sair disso. Uma hora vai adotar a pior solução: tabelar o preço do diesel.

Qual reação podemos esperar do mercado diante do risco de uma ingerência política?

A empresa é do governo federal. Não tem absurdo o presidente trocar a gestão por achar que não está indo na direção correta. Esse conflito a estava colocado desde que Castello Branco tomou posse.

Como fica a situação do ministro da Economia, Paulo Guedes?

É muito ruim para ele, que fica enfraquecido, até porque o Castello Branco é da turma dele. Por outro lado, a importância dos militares aumenta. Agora um militar não é a solução. Um militar faz o que o presidente manda. Então, vai sentar no preço do petróleo.

GOVERNO DISSE QUE VAI COMPENSAR A ISENÇÃO DE TRIBUTOS SOBRE DIESEL E GÁS DE COZINHA

 

Guedes diz que vai compensar isenção de tributos federais sobre diesel e gás de cozinha

Ministro acalmou interlocutores ao dizer que vai reparar a perda de receitas causada pela medida anunciada por Bolsonaro, como manda a Lei de Responsabilidade Fiscal; estimativa é de impacto de R$ 3 bi nos cofres públicos

  •  Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O ministro da EconomiaPaulo Guedes, garantiu a interlocutores que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de zerar os tributos federais sobre o diesel e o gás de cozinha será acompanhada de medidas para compensar a perda de receitas, como exige da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A sinalização é importante porque vem depois de Bolsonaro flertar com uma flexibilização da LRF para dispensar essa contrapartida, o que poderia fragilizar ainda mais as contas e abrir a porteira para novas benesses.

A garantia de compensação e o respeito à LRF têm sido cobrados inclusive internamente. Técnicos na área econômica demonstram resistências em levar adiante uma concessão de benefício no diesel e no GLP sem a devida contrapartida, sobretudo num momento em que a equipe encampa uma batalha com o Congresso para conseguir a aprovação de medidas de ajuste fiscal para ajudar a pagar a conta da crise da covid-19. Além disso, qualquer suspeita de afronta às leis na implementação da medida anunciada por Bolsonaro levaria técnicos a responderem individualmente, com seus CPFs. Por isso, ninguém quer assumir esse risco.

Guedes já vinha sendo cobrado internamente para achar uma forma de compensar a perda com a arrecadação dos impostos. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Na semana passada, o presidente havia indicado a possibilidade de mudar a LRF para destravar a medida, que é um aceno aos caminhoneiros, grupo que integra a base de apoiadores de Bolsonaro.

ex-secretário da Receita Federal Jorge Rachid afirma que a exigência de compensação se aplica a este caso e rechaça o argumento de que a não aprovação do Orçamento até agora permitiria o recálculo das receitas e livraria o governo dessa obrigação. “Tem de ter um ato concomitante, um ato concreto. Uma medida provisória ou um decreto”, diz. Ele ressalta que a compensação tem de ser apresentada com a isenção do diesel e do GLP, ainda que entre em vigor depois – algumas mudanças de tributos requerem a chamada “noventena”, período de 90 dias antes de passarem a valer.

Lista de opções

Com a garantia de Guedes de que haverá compensação, os técnicos agora se debruçam sobre a lista de opções para fazer frente à renúncia, calculada em cerca de R$ 3 bilhões, segundo fontes da área econômica. Na mira estão benefícios concedidos a diferentes setores, em tributos como IPIIOF e o próprio PIS/Cofins, mas até agora não há decisão de quem vai pagar a conta. A preferência é por medidas que dependam apenas de um decreto presidencial, sem necessidade de aval do Congresso.

Na lista, há desde incentivos ao setor de aeronaves até à água mineral, mas escolher uma cesta capaz de compensar a benesse no diesel e no gás de cozinha “é a parte mais difícil”, nas palavras de uma fonte ouvida pela reportagem. A busca é por uma solução que seja suficiente para o impacto da medida em todo o ano, ainda que o benefício sobre o diesel dure apenas dois meses. Na prática, essa compensação pode ser mais “diluída” ao longo dos meses, embora a benesse seja concentrada.

Segundo uma fonte da área econômica, a atuação do governo sobre os preços de combustíveis deveria ser como a do Banco Central no câmbio, reduzindo volatilidade, mas sem interferir na trajetória do preço.