quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS TENTOU ACORDO COM O STF PARA LIBERTAR O DEPUTADO

 

Bastidores: Lira tentou costurar acordo com Supremo após prisão de deputado

Presidente da Câmara discutiu propor um pedido de desculpas públicas à Corte; ele ligou para Bolsonaro, que evitou o assunto

Andreza Matais e Rafael Moraes Moura, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – As horas seguintes à divulgação do vídeo do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que fez apologia ao AI-5 e atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), foram marcadas por conversas reservadas entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros da Corte e o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).

Nos bastidores de Brasília, a prisão de Silveira já era dada como certa antes mesmo de a decisão ser assinada pelo ministro Alexandre de Moraes na noite de terça-feira, dado o perfil rigoroso do ministro. Relator dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, o ministro já mandou para a prisão apoiadores de Bolsonaro por defenderem medidas antidemocráticas. Silveira foi preso no âmbito do primeiro e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) dentro do segundo.

Deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) chega ao IML do Rio nesta quarta-feira, 17, para fazer exame de corpo de delito. Foto: Betinho Casas Novas/Futura Press

Enquanto o vídeo de 19 minutos do parlamentar alcançava grande audiência nas redes sociais e repercutia entre integrantes do Poder Judiciário, Lira telefonou para o presidente Jair Bolsonaro, de quem Silveira é aliado. Buscava uma avaliação do chefe do Planalto sobre o conteúdo publicado. Um parlamentar que acompanhou o diálogo contou ao Estadão que Bolsonaro, um ávido usuário das redes sociais, se limitou a responder que não sabia de gravação alguma e encerrou a conversa.

O presidente da Câmara também tentou conversar com Moraes, mas num primeiro momento foi informado que o ministro estava viajando. Quando ele conseguiu o contato, a ordem de prisão já estava assinada, conforme revelou o Estadão. Interlocutores de Lira avaliaram que nenhum diálogo teria evitado a disposição do ministro. No vídeo, o deputado levanta suspeitas sobre a atuação de Moraes na Corte. “Será que você permitiria a sua quebra de sigilo temático? A sua quebra de sigilo bancário?”, questionou Silveira.

Conforme relatos colhidos pelo Estadão com envolvidos nas conversas, coube ao ministro Gilmar Mendes fazer chegar a Lira a péssima repercussão dentro da Corte. Diante disso, o presidente da Câmara discutiu em reunião com interlocutores propor um acordo. Ele pediria desculpas públicas ao Supremo, ressaltando que a posição beligerante de Silveira não representava o entendimento majoritário na Casa. Seria uma tentativa de colocar panos quentes, dissociar a Casa das ameaças feitas pelo parlamentar e evitar que os deputados tenham que decidir se mantêm ou não uma ordem da Corte, referendada ontem pelos 11 ministros.

Dessa forma, o episódio seria tratado como um problema interno da Câmara, que poderia ser resolvido pelo Conselho de Ética. Lira, contudo, não topou incluir no pedido de desculpas uma sugestão vinda de interlocutores do Supremo para criticar diretamente o deputado Daniel Silveira. Alegou que, apesar de discordar, ele tem direito como parlamentar a se manifestar. Com isso, quem tentava ajudar na interlocução desistiu.

Após tantos telefonemas, o desfecho do caso é considerado imprevisível. De um lado, a votação unânime do Supremo, chancelando a posição de Moraes, mostrou unidade do tribunal, pelo menos quando se trata de ataques antidemocráticos.

De outro, com boa parte de parlamentares – inclusive o presidente da Câmara – sendo investigada pelo próprio Supremo, há quem questione se a maioria dos parlamentares está realmente disposta a derrotar 11 ministros do STF em nome de um dos expoentes do bolsonarismo radical.

Na sessão do STF que chancelou a prisão de Silveira, o ministro Marco Aurélio Mello destacou que caberá à Câmara avaliar “não um ato individual” de um ministro, mas um “ato do colegiado, que, imagino, formalizado a uma só voz”. “Estou com 74 anos de idade, 42 em colegiados judicantes, e jamais imaginei que uma fala pudesse ser tão ácida, tão agressiva, tão chula, no tocante às instituições”, resumiu.

PRISÃO ILEGAL DE UM DEPUTADO MANDADA PELO STF

 

A prisão mais ilegal que vi.

Gesiel Oliveira – Professor de Direito Penal

Sou professor de direito penal e afirmo, nunca vi tantas ilegalidades cumuladas em um só ato. Vejamos:

1) Não existe crime de opinião no Brasil;

2) Não existe crime de discurso de ódio;

3) Não existe crime de atentado contra atos democráticos;

4) Não existe prisão no interior do imóvel a noite, nem mesmo com mandado de prisão, pois deve-se esperar amanhecer o dia para entrar no imóvel; Art 5, XI

5) Não existe expedição de mandado para crimes em flagrante, ou um ou outro, os dois ao mesmo tempo só podem partir da cabeça de ovo de alguém que não conhece minimamente as regras processuais penais brasileiras;

6)Não existe prisão de deputado federal sem autorização da Câmara, a não ser em flagrante delito de crime inafiançável.

Enfim, só o que existe no Brasil são militantes políticos que ocuparam a maior corte do Brasil para destruir a CF ao invés de defendê-la, que é a sua missão precípua, e um monte de esquerdo mórbidos aplaudindo o maior estupro da nossa Constituição Federal contra a liberdade de expressão e imunidade parlamentar. Lira já acabou de acionar o jurídico da Câmara dos Deputados para a defesa do Deputado Daniel Silveira. Alexandre de Moraes mordeu a isca direitinho e agora vai responder um processo de impeachment comandado por parlamentares que já estão com “sangue nos olhos” para defenestrar esse petista de carteirinha do STF.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

PEC QUE SEGURA A EROSÃO FISCAL CRÔNICA ESTÁ ENCALHADA NO CONGRESSO

 

Uma PEC cada dia mais emergencial

A PEC que segura a erosão fiscal crônica está encalhada no Congresso. Só no primeiro ano, a economia seria de R$ 25 bilhões

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Enquanto governo e Congresso batem cabeça para encontrar a quadratura do círculo, e investir em programas sociais sem aumentar impostos ou se endividar, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 186/19, dita da “Emergência Fiscal”, está há mais de um ano encalhada no Congresso. A PEC nada tem a ver com a covid-19: ela foi desenhada para conter a erosão fiscal crônica quando atinge a fase aguda, enquanto o poder público não promove reformas que restituam a funcionalidade orçamentária da máquina administrativa. Mas, com a pandemia, ela se tornou mais “emergencial”. Uma Nota Técnica do Centro de Liderança Pública (CLP) mostra isso com didatismo.

Entre 2008 e 2018, o setor público aumentou em quase 10% o número de empregados. Entre 2002 e 2017, enquanto a remuneração mensal média dos funcionários públicos aumentou de R$ 3 mil para mais de R$ 4,2 mil (cerca de 40%), no setor privado passou de R$ 2 mil para menos de R$ 2,4 mil (20%). Isso sem contar uma pletora de privilégios (“penduricalhos”), sobretudo para o alto escalão, notadamente no Judiciário. Se o setor público não tivesse tido aumentos superiores aos do privado, teria tido um espaço fiscal de 1,3% do PIB (quase R$ 90 bilhões) – 3 vezes o orçamento do Bolsa Família e mais que o déficit primário de 2019.

“Com elevações reais dos salários maiores do que no setor privado em ‘bons tempos’ econômicos, junto à impossibilidade de redução salarial nominal em períodos de necessidade de austeridade, a folha de pagamentos do setor público tem elevado progressivamente seu peso nas contas públicas, criando fortes dificuldades para a gestão pública, especialmente de Estados e municípios, que, ao contrário da União, não podem emitir títulos de dívida pública”, explica o CLP.

Não havendo mecanismos para controlar os gastos obrigatórios (previdência e salários), os discricionários (investimentos e programas sociais) são sacrificados. Em 2019, o Brasil teve um investimento líquido negativo de 0,4% do PIB, o pior da série iniciada em 2010. O orçamento do Bolsa Família para 2021 é 6% menor do que o de 2014. Inúmeros programas sociais subnacionais foram reduzidos ou extintos.

Em 2020, o governo federal fechou o ano com um déficit primário de 10,9% do PIB, e não há horizonte para o retorno do superávit primário (estimava-se que em 2030 o déficit chegaria a 0,78%). A dívida pública saltou de 56,2% do PIB em 2014 para 93% em 2020, patamar perigoso para um país emergente.

Dos 27 Estados, 21 já rompem o limite de gastos com pessoal da Lei de Responsabilidade Fiscal, alocando mais de 54% das suas receitas líquidas para custear o funcionalismo; 15 rompem também o limite prudencial, gastando mais de 57%; e 10 ultrapassaram a linha vermelha de 60%. Só seis Estados não desrespeitam os limites da lei. A situação dos municípios é similar, especialmente no Norte e Nordeste.

A PEC prevê uma série de gatilhos, acionados automaticamente, caso a “regra de ouro” (endividamento maior que os gastos com investimentos) seja rompida, como proibição de reajustes salariais, concursos para contratação de pessoal, reestruturação de carreiras, criação de cargos e promoções, além da redução de 25% da jornada de trabalho com redução proporcional da remuneração. Também prevê, a partir de 2026, mecanismos de bloqueio para a criação, ampliação ou renovação de benefícios tributários, além da reavaliação periódica dos subsídios existentes.

No caso dos entes subnacionais, pelos cálculos do CLP, se esses gatilhos fossem aplicados, em 10 anos se economizariam R$ 75 bilhões. Ou seja, nos 10 anos de vigência da PEC, a economia seria superior a 2 anos do Bolsa Família. Só a redução dos reajustes já levaria a uma economia de R$ 35 bilhões a R$ 41 bilhões. Para a União, prevê-se uma economia de R$ 50 bilhões em 10 anos.

Só no primeiro ano, a economia seria de quase R$ 25 bilhões (R$ 12,5 bilhões para Estados e municípios e R$ 12 bilhões para a União). Como se vê, embora a PEC Emergencial nada tivesse a ver com a pandemia, só se tornou mais, não menos urgente com ela.

POR QUAIS MOTIVOS A FEBRE NOS CAUSA TANTO MEDO

 

Por que temos tanto medo da febre?

Na maioria das circunstâncias, a febre é benéfica, reduzindo a gravidade da doença e encurtando sua duração

Jane E. Brody, The New York Times – Life/Style

Uma das muitas medidas que meu supermercado local está tomando para evitar a propagação da covid-19 é medir temperatura com um equipamento antes de as pessoas entrarem. Curiosa para saber quão “quente” eu estava em um dia frio e chuvoso, perguntei o resultado ao atendente: 35,6 ºC.

A última vez que minha temperatura foi medida em um ambiente médico estava a 36,4. O que aconteceu com os 37 ºC que eu e a maioria dos médicos consideramos a temperatura normal do corpo?

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times.

Como se estivesse lendo minha mente, Philippa Gordon, pediatra do Brooklyn, enviou-me um artigo, People’s Bodies Now Run Cooler Than ‘Normal’ – Even in the Bolivian Amazon (O corpo das pessoas agora é mais frio que o normal – até mesmo na Amazônia boliviana), de dois antropólogos, Michael Gurven e Thomas Kraft, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.

Como escreveram no site The Conversation: “Não há uma única temperatura corporal universal ‘normal’ para todos o tempo todo”. A temperatura corporal varia, não só de uma pessoa para outra, mas também ao longo do dia – menor pela manhã, maior à noite, subindo durante o exercício e depois dele, variando em diferentes momentos do ciclo menstrual e em idades diferentes – mais baixa para idosos como eu.

Além disso, pesquisadores que fizeram milhares de leituras de temperatura com a população de Palo Alto, na Califórnia, descobriram que 36,4 era o novo normal, cerca de um grau abaixo do que o médico alemão Carl Wunderlich estabeleceu em 1867 em um estudo com 25 mil pessoas. (A pesquisa de Wunderlich descobriu que a temperatura corporal “normal” variava de 36,2 a 37,5.)

Ao revisar os dados de 1862 a 2017, Julie Parsonnet, professora de Medicina na Universidade de Stanford, e seus colegas descobriram uma queda constante na temperatura corporal média de cerca de 0,05 grau Fahrenheit por década. Ela observou que pelo menos 75% das temperaturas normais estão agora abaixo de 37 ºC.

Se minha temperatura corporal fosse 36,4 ºC, isso significaria que estou com febre? Possivelmente, segundo Sharon S. Evans, professora de Oncologia e Imunologia no Roswell Park Comprehensive Cancer Center em Buffalo, no estado de Nova York, embora 38ºC seja geralmente considerada a extremidade inferior do espectro da febre.

Em uma revisão escrita com dois colegas, Elizabeth A. Repasky e Daniel T. Fisher, Evans mostrou que, na maioria das circunstâncias, a febre é benéfica, reduzindo a gravidade da doença e encurtando sua duração. (Ela enfatizou, no entanto, que os pacientes devem seguir o conselho de seus médicos de tomar medicamentos para reduzir a febre.)

“A febre age para mobilizar o sistema imunológico, função que é notavelmente bem conservada em muitas espécies – tanto as de sangue quente quanto as de sangue frio. A febre afeta todos os aspectos do sistema imunológico para fazê-lo funcionar melhor”, explicou ela em uma entrevista.

Para começar, disse Evans, a febre ativa a imunidade inata – a mobilização dos glóbulos brancos: neutrófilos que patrulham o corpo em busca de patógenos, e macrófagos que os devoram. Os macrófagos, por sua vez, enviam um alarme de que precisam de ajuda, levando a imunidade adaptativa – células T e células B – a entrar em ação. Essas células iniciam uma resposta específica ao invasor: a produção de anticorpos dias depois.

“Tratar a febre pode prolongar ou piorar a doença”, afirmou Paul Offit, vacinologista da Universidade da Pensilvânia, em Hippocrates Was Right: Treating Fever Is a Bad Idea (Hipócrates estava certo: o tratamento da febre é má ideia), fascinante apresentação no YouTube feita pelo The College of Physicians da Filadélfia.

“A febre aumenta a sobrevivência”, relatou Offit. Isso explica sua persistência ao longo da evolução animal, embora tenha um custo metabólico significativo. A imunidade, tanto inata quanto adaptativa, “funciona melhor em temperaturas mais altas”, observou ele.

Assim, quando você toma medicamentos como o acetaminofeno (Tylenol e suas formas genéricas) ou ibuprofeno para suprimir uma febre, você realmente trabalha contra os benefícios protetores inerentes oferecidos pela natureza. Sim, um antitérmico provavelmente faz você se sentir melhor, aliviando sintomas como dor de cabeça, dores musculares e fadiga. Porém Offit enfatizou: “Você não tem de se sentir melhor. Deve ficar debaixo das cobertas, manter-se aquecido e escapar da infecção”, e não sair por aí espalhando-a para os outros.

“Temos febre por uma razão”, disse ele. Ela ajuda a reduzir a transmissão viral e a encurtar a duração de doenças como a gripe.

O famoso remédio da vovó contra o resfriado comum, a canja quente, provavelmente ajuda, porque o vapor aumenta a temperatura das passagens nasais, reprimindo a reprodução do vírus, sugeriu ele.

Evans e colegas escreveram: “O fato de que a febre foi mantida ao longo da evolução dos vertebrados mostra que as temperaturas febris conferem uma vantagem de sobrevivência”. Isso também é verdade para invertebrados como os insetos. E quando animais com sangue frio, como lagartos ou abelhas, adoecem, eles tentam subir a temperatura corporal aumentando a atividade física ou buscando um ambiente mais quente, explicou Evans.

Então por que estamos tão empenhados em suprimir febres? O medo é uma das razões, segundo Gordon, a pediatra do Brooklyn, que disse que pais frenéticos frequentemente ligavam no meio da noite quando a febre do filho aumentava. Ela sugeriu que os médicos deixassem os pais de sobreaviso para um aumento noturno na febre de uma criança e explicassem que a temperatura alta em uma infecção não é prejudicial.

“O corpo tem um termostato embutido – o hipotálamo – que impede que as temperaturas se elevem a ponto de causar danos”, afirmou ela, e convulsões febris (convulsões breves, tremores e talvez perda de consciência que afetam algumas crianças pequenas) resultam da velocidade com que as temperaturas sobem, e não quão altas elas ficam. Em uma criança geneticamente suscetível, uma convulsão pode ocorrer quando a temperatura sobe rapidamente mesmo a baixas temperaturas, por exemplo, de 37,2 ºC para 38,2 ºC.

“As convulsões febris assustam os pais, mas não causam nenhum dano”, garantiu Gordon. Ela acrescentou, no entanto, que a febre é preocupante em bebês muito pequenos, que têm o sistema imunológico imaturo e ainda não foram vacinados contra doenças graves.

Mesmo sabendo dos benefícios no combate à infecção, Gordon disse que recomendaria medicação para diminuir a febre se uma criança, especialmente uma que ainda não fala, estivesse muito abatida e talvez sem conseguir dormir ou comer.

Os adultos geralmente são aconselhados a procurar ajuda médica se sua temperatura passar dos 39,4 ºC.

Uma ressalva importante sobre febre alta: ao contrário da resultante de uma infecção, não há um desligamento natural da febre induzida pelo meio ambiente, como a que pode ocorrer se uma criança estiver fechada em um carro quente ou se alguém estiver se exercitando com muita roupa em um dia quente, o que pode resultar em insolação fatal.

Os consumidores também devem considerar como a temperatura é medida antes de interpretar os resultados. A temperatura do ouvido é geralmente ligeiramente mais alta do que a oral, que por sua vez é maior que a das axilas ou da testa.

Para garantir uma leitura confiável, a temperatura dos recém-nascidos deve ser tomada com um termômetro retal, aconselhou Gordon. Mas, para crianças mais velhas com febre, o número exato de graus não importa, a menos que não tenham sido imunizadas, explicou ela.

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FALSIFICAÇÃO NA APLICAÇÃO DE VACINAS CONTRA O COVID-19

 

Polícia do Rio investiga aplicação de ‘vacina de vento’ em três cidades

Denúncias feitas por parentes de idosos mostram falsa aplicação das doses, o que pode configurar peculato

Caio Sartori, O Estado de S.Paulo

RIO – Após imagens repercutirem, a Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu investigação para apurar a suposta falsa aplicação de vacinas contra a covid-19 em diferentes cidades do Estado. Relatos apontaram para a prática – que pode configurar crime de peculato – na capital, na vizinhaNiterói e em Petrópolis, na região serrana.

As suspeitas sempre começam quando familiares de idosos que foram se vacinar estranham o movimento feito pela pessoa que está aplicando a dose. Em um dos casos, por exemplo, o profissional de Saúde nem sequer aperta o êmbolo da seringa.

“Se as investigações confirmarem que houve desvio de dose, ou qualquer outra irregularidade, o profissional de saúde poderá ser autuado pelo crime de peculato, que tem penas que podem chegar até a 12 anos de reclusão”, disse, em nota a Polícia Civil.

Vacinas contra a covid-19 Foto: Marton Monus/ EFE

O crime de peculato é definido como aquele em que o funcionário público se apropria de “dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.” Um exemplo clássico disso na política é a chamada “rachadinha”, quando um deputado, por exemplo, recebe dinheiro desviado de seus assessores.

Nos últimos dias, as secretarias de Saúde de Goiânia, em Goiás, Maceió, em Alagoas, e Manaus, no Amazonas, revisaram os procedimentos para evitar falhas na aplicação de doses da vacina depois que denúncias parecidas foram feitas.

NOVA VARIANTE DO CORONAVÍRUS SE ALASTRA PELO PAÍS

 

Registro de cepa do Amazonas avança em SP, preocupa cidades e causa lockdown

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, os casos da nova variante brasileira foram detectados em Araraquara (12), São Paulo (9), Jaú (3) e Águas de Lindoia (1); municípios ampliam restrições à circulação e adotam toque de recolher para conter a disseminação

José Maria Tomazela, Marco Antônio Carvalho e Everton Sylvestre, O Estado de S.Paulo

O Estado de São Paulo registrou até esta segunda-feira, 15, 25 casos da variante da covid-19 do Amazonas, dos quais 16 são de transmissão local (autóctone). A maior parte dos casos (12) foi detectada em Araraquara, que decretou lockdown para conter a propagação da doença. A preocupação tem se estendido entre prefeitos do interior do Estado, onde as medidas de combate tem sido endurecidas diante do temor de colapso do sistema de saúde.

Conforme a Secretaria Estadual da Saúde, os casos da nova variante brasileira foram detectados em Araraquara (12), São Paulo (9), Jaú (3) e Águas de Lindoia (1). Um caso relatado em Campinas ainda não foi confirmado pelo governo do Estado. Há ainda outros sete relatos confirmados da variante britânica, todos de janeiro: cinco na capital e dois em Sorocaba. Todos também são de pessoas que tiveram contado com alguém de Londres, o que descarta, por ora, a transmissão comunitária.

No centro de Araraquara, apenas alguns estabelecimentos considerados essenciais atendem entre a sequência de lojas com as portas abaixadas devido ao lockdown Foto: CELIO MESSIAS/ ESTADAO

A pasta diz que a confirmação de novas variantes ocorre por meio de sequenciamento genético, “além da investigação epidemiológica dos casos, como históricos de viagens e contatos”. No caso de Araraquara, os 12 casos confirmados são autóctones, ou seja, não foram trazidos por pessoas que estiveram em Manaus recentemente. Parte dos casos na cidade chegou a ser classificada como sendo da cepa britânica, mas a classificação foi retificada com um ressequenciamento, aumentando o total da variante brasileira.

A secretaria pontuou que as medidas já conhecidas devem continuar, como uso de máscara, higiene das mãos e distanciamento social. “Até o momento, não há comprovações científicas de que sejam variantes mais transmissíveis ou provoquem quadros mais graves.”

O que especialistas têm apontado, no entanto, é que a nova variante, primeiramente detectada em Manaus, tem maior potencial de transmissão. Esse foi um achado de um estudo do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde) divulgado em janeiro.

A situação tem preocupado prefeituras no interior de São Paulo. Além do lockdown em Araraquara, outras cidades repetiram a restrição máxima ou endurecimento das medidas, com toques de recolher, por exemplo. Em Guapiara, no sudoeste paulistas, o toque de recolher vigente vale das 14 às 6 horas, com multa para quem descumprir a medida. Em Américo Brasiliense, o lockdown adotado vale por 15 dias.

Após confirmar três casos da variante de Manaus do novo coronavírus, a prefeitura de Jaú, região central do Estado, enfrenta um novo desafio. A Santa Casa, único hospital de referência para covid-19 na cidade, estava nesta segunda-feira com todos os leitos de UTI lotados e tinha nove pacientes à espera de internação. A cidade, de 151 mil habitantes, registra média de cinco mortes por dia.

Conforme o secretário de Saúde local, Rodrigo Brandão, na primeira semana de fevereiro foram 41 mortes e, do dia 8 ao dia 14, mais 30 pessoas morreram. Ele acredita que a mortalidade maior pode estar relacionada à circulação da variante. A prefeitura se reuniu com a direção da Santa Casa para definir ações de enfrentamento ao novo cenário.

Na capital, o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse que a rede tenta investigar a procedência do paciente detectado desde o primeiro contato com as unidades de saúde. No Hospital de Pirituba, informou, há uma ala com dez leitos voltados para internação de casos ligados à nova variante.

“Não tem como baixar a guarda, fazemos o acompanhamento dia a dia. O que a gente tem de informação é que a variante tem um grau de transmissibilidade maior, mas não teria agravamento. Precisamos ver o reflexo disso nos casos e internações”, afirmou o secretário.

O lockdown de 15 dias passou a vigorar nesta segunda-feira em Araraquara. O decreto municipal determina que só serviços essenciais podem funcionar e limita horários: supermercados até 20 horas, postos de combustíveis até 19. Em qualquer horário, as pessoas devem justificar porque estão na rua. No primeiro dia, houve pouco movimento na cidade de 238 mil habitantes.

No centro, apenas alguns estabelecimentos considerados essenciais atenderam, em meio a uma sequência de lojas com as portas abaixadas. Poucos carros e pessoas circularam. Até o início da tarde desta segunda-feira, 217 pessoas foram abordadas pela fiscalização da prefeitura em diferentes pontos.

O prefeito Edinho Silva (PT) afirma que o comitê local relacionado à covid submeteu amostras para sequenciamento de cepas após verificar mudanças no perfil da doença na cidade. “Com ritmo de contaminação muito forte. Um vírus mais agressivo e que agrava o quadro em jovens”, detalha. “Se não fizermos isso (lockdown), nas próximas duas semanas nosso sistema entra em colapso”, reforçou o gestor, que teme que o mesmo ocorra em diferentes partes do Estado. Ele diz que o intuito é, com o distanciamento, fazer a curva de contaminação cair e, por ora, não cogita prorrogar o lockdown.

A medida teve o apoio da população. “A pessoa só se conscientiza quando acontece na família dela ou próximo”, afirmou o segurança Marco Antonio Bernardo, de 53 anos. “Tem de restringir mesmo, ainda mais no carnaval”, disse o empresário José Walter Verzola. “É só sair quem precisa”, comentou o taxista Edvaldo Ferreira da Silva, de 62. Nesta segunda-feira, não havia leitos disponíveis na cidade (100% de ocupação em enfermaria e em UTI) – os internados eram 197.

JEFF BEZOS SE AFASTA DA AMAZON

 

A Emocionante Despedida de Jeff Bezos

Na última semana, no dia 02 de fevereiro, depois de 27 anos, Jeff Bezos deixou o posto de CEO da Amazon.

Este foi o último e-mail que ele mandou aos seus mais de 1,3 milhão de colaboradores (vale a leitura):

Amigos da Amazon,

Tenho o prazer de anunciar que neste terceiro trimestre farei a transição para presidente do conselho da Amazon e Andy Jassy se tornará o CEO. Na função de presidente do conselho, pretendo concentrar minhas energias e a atenção em novos produtos e novas iniciativas. Andy é bem conhecido dentro da empresa e está na Amazon há quase tanto tempo quanto eu. Ele será um líder notável e tem toda a minha confiança.

Essa jornada começou há cerca de 27 anos. A Amazon era apenas uma ideia e não tinha nome. A pergunta que me faziam com mais frequência naquela época foi: “O que é a internet?”. Felizmente, não tenho de explicar isso há muito tempo.

Hoje, empregamos 1,3 milhão de pessoas talentosas e dedicadas, atendemos centenas de milhões de clientes e empresas e somos amplamente reconhecidos como uma das empresas mais bem-sucedidas do mundo.

Como isso aconteceu? Invenção. A invenção é a raiz do nosso sucesso. Fizemos coisas malucas juntos e depois os tornamos normais. Fomos pioneiros em reviews de consumidores, em compras com 1-Clique, recomendações personalizadas, remessa incrivelmente rápida do plano Prime, compras no modelo Just Walk Out, compromissos climáticos, Kindle, Alexa, marketplace, infraestrutura de computação em nuvem, escolhas de carreira e muito mais. Se você acerta, alguns anos depois de uma invenção surpreendente, a nova coisa se torna o padrão. As pessoas bocejam. E esse bocejo é o maior elogio que um inventor pode receber.

Não conheço outra empresa com um histórico de invenções tão bom quanto o da Amazon, e acredito que estamos no nosso momento mais inventivo. Espero que você esteja tão orgulhoso de nossa criatividade quanto eu. Eu acho que você deveria estar.

À medida que a Amazon se tornou grande, decidimos usar nossa escala e escopo para liderar em importantes questões sociais. Dois exemplos de alto impacto: nosso salário-mínimo de 15 dólares a hora e o Compromisso Climático. Em ambos os casos, demarcamos posições de liderança e depois pedimos a outros que nos acompanhassem. Em ambos os casos, está funcionando. Outras grandes empresas estão vindo em nossa direção. Espero que você também esteja orgulhoso disso.

Acho meu trabalho significativo e divertido. Eu trabalho com os companheiros de equipe mais inteligentes, talentosos e engenhosos. Nos tempos de fartura, vocês foram humildes. Quando tivemos momentos difíceis, vocês foram fortes e solidários, e fizemos um ao outro rir. É uma alegria trabalhar nessa equipe.

Por mais que eu ainda esteja no escritório, estou animado com essa transição. Milhões de clientes dependem de nós para nossos serviços e mais de 1 milhão de funcionários dependem de nós para seu sustento. Ser o CEO da Amazon é uma responsabilidade profunda e desgastante. Quando você tem uma responsabilidade como essa, é difícil colocar a atenção em qualquer outra coisa. Como presidente executivo, continuarei envolvido em iniciativas importantes da Amazon, mas também terei o tempo e a energia de que preciso para me concentrar no Fundo Day 1, no Fundo Bezos Earth, na empresa Blue Origin, no Washington Post e em minhas outras paixões. Nunca tive mais energia e não se trata de me aposentar. Estou muito entusiasmado com o impacto que acho que essas organizações podem ter.

A Amazon não poderia estar melhor posicionada para o futuro. Estamos acelerando em todas as direções, assim como o mundo precisa de nós. Temos coisas em desenvolvimento que continuarão a surpreender. Atendemos indivíduos e empresas, e fomos pioneiros em dois setores completamente novos e em uma classe totalmente nova de dispositivos. Somos líderes em áreas tão variadas como aprendizado de máquina e logística, e se uma ideia da Amazon exigir mais uma nova habilidade institucional, somos suficientemente flexíveis e pacientes para aprendê-la.

Continue inventando e não se desespere quando a princípio a ideia parecer maluca. Lembre-se de vagar. Deixe a curiosidade ser sua bússola. Continua sendo o Dia 1.

Jeff”

Além de inspiradora por si só, esta mensagem é uma aula de planejamento e estratégia do CEO e fundador de uma das maiores empresas do mundo.

Você que acompanha a StartSe gosta de estar informado e mais próximo do que os grandes polos e empresas do mundo estão fazendo, e como tudo pode impactar diretamente você e o seu negócio.

Podemos esperar grandes movimentos do (ex)CEO em 2021, principalmente agora que ele tem tempo de apostar suas fichas em suas outras empresas e torná-las tão disruptivas e impactantes quanto a Amazon.

E você, principalmente agora, precisa ficar por dentro dessas movimentações importantes que estão acontecendo nas maiores empresas do mundo para tirar insights valiosos e levar para o seu negócio e transformar isso em vantagem.

9 em cada 10 empresários(as) e executivos(as) buscam esses insights via portais de notícias (do Brasil e de fora) ou através de análises e curadorias (igual você está fazendo agora).

Mas nada é mais eficaz quanto vivenciar tudo isso ao vivo, onde esses impactos e transformações realmente acontecem.

Entender os porquês dessas movimentações e impactos, e como o mercado e outras empresas estão reagindo a tudo isso antes de você e suas concorrentes.

Esse tipo de informação você só tem acesso se conversar com executivos dessas grandes empresas, ouvir o que os profissionais dessas empresas geralmente só revelam nos cafés ou corredores das empresas. Estar in loco no ecossistema onde essas notícias acontecem em primeira mão antes do mundo inteiro ficar sabendo.

Um forte abraço,

Equipe StartSe – Educação do Agora

A Startup Valeon comunga essas mesmas ideias desse gigante da tecnologia que é a Amazon e inspirados nesses exemplos, estamos implantando no Vale do Aço através da nossa Plataforma Comercial de Marketplace uma nova metodologia de divulgação e informação das empresas desse vale. Esperamos muito que sejamos compreendidos pelas empresas e pelos seus usuários e compradores.

Site: https://valedoacoonline.com.br/ ou App Android valeon

Contato: Representante Comercial:  Engº./Prof. Moysés (31) 98428-0590

COOPERATIVAS DE CRÉDITO SÃO FORTALECIDAS PELO BANCO CENTRAL

Na contramão dos bancos e com apoio do BC, cooperativas abrem agências no País

Banco Central colocou como meta o aumento da participação das cooperativas no crédito do Sistema Financeiro Nacional para 20% até 2022; para regulador, segmento reforça inclusão e concorrência

Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo

Enquanto os grandes bancos fecharam mais de mil agências no último ano – e planejam enxugar ainda mais –, as cooperativas de crédito ampliaram a presença física na pandemia e fincaram os pés em novos pontos do País.

Maior instituição do segmento, o Sicoob abriu 197 agências em 2020, um crescimento de 6% da sua base, que alcançou 3,48 mil postos. Com isso, em número de agências, só perde agora para o Banco do Brasil, que fechou dezembro com 4,4 mil unidades. O Sicredi, segunda maior cooperativa financeira do País, com 2 mil agências, aumentou sua rede em mais 150 pontos na pandemia e tem outras 250 unidades previstas para este ano, com investimentos de R$ 200 milhões.

Fachada de agência da Sicoob em Sorocaba (SP) Foto: Divulgação Sicoob/Estadão

O movimento tem o apoio do Banco Central, que colocou como meta o aumento da participação das cooperativas no crédito do Sistema Financeiro Nacional para 20% até 2022 – hoje a fatia está em 10%, o dobro do visto há cinco anos. O cálculo utilizado pelo BC tira da conta nichos em que as cooperativas não atuam, como crédito a grandes companhias. Se todo o sistema for contabilizado, a participação das cooperativas seria em torno de 5%.

Muitas originadas no setor agrícola, as cooperativas extrapolaram o campo e hoje atendem clientes de todos os setores, tanto pessoas físicas como empresas, atrás de juros menores. Como não têm fins lucrativos – já que emprestam basicamente para seus próprios associados, que são, portanto, os donos do negócio – elas conseguem taxas mais competitivas.

Atualmente há mais de 5 mil cooperativas no Brasil, sendo 827 de crédito, com ativos totais de R$ 310 bilhões e uma carteira de empréstimos de mais de R$ 156 bilhões, segundo último levantamento realizado pelo Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em crédito especificamente, há mais de 10 milhões de cooperados e 6.043 postos de atendimento.

No ano passado, na esteira do covid-19, as cooperativas lideraram o ranking das concessões de empréstimos a pequenos negócios, sendo responsáveis por 31% do total, segundo o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

“Elas exerceram um papel fundamental ao longo da crise, que foi fazer o dinheiro chegar ao pequeno produtor, empresário, comerciante e empreendedor”, diz o coordenador do curso de economia da FGV, Joelson Sampaio. “É importante lembrar que, muitas vezes, o pequeno tem muita dificuldade de lidar com os bancos, pelas exigências que são feitas.”

Para ampliar ainda mais a participação do segmento no Sistema Financeiro Nacional, o BC quer mais flexibilização nas regras para associação, um movimento que já visto na última década. A ideia é permitir, por exemplo, que um cooperado de uma instituição possa tomar parte do crédito em outra, caso a sua não tenha recursos suficientes. Isso abre espaço para que companhias maiores sejam cooperadas.

Na avaliação do BC, as cooperativas são importantes porque, além de irrigarem pequenas empresas e ampliarem a competição bancária, são alternativa de inclusão financeira.

Geografia do crescimento

O atendimento a regiões do País em que as transações envolvendo o papel moeda e cheques ainda são significativas, incluindo periferias de grandes centros urbanos, explica em parte a abertura de agências das cooperativas. “Os pequenos têm dificuldade de acesso a serviços financeiros, mas também a meios de pagamento. Isso em época do Pix (meio de pagamento instantâneo, e eletrônico, capitaneado pelo Banco Central)”, afirma o presidente do Sicoob, Marco Aurélio Almada.

Para se ter uma ideia, em um período de menos de três meses, de novembro a meados de janeiro, foram depositados no Sicoob mais de 8 milhões de cheques. “Para transações em cheque e dinheiro ainda se precisa do porte físico”, comenta. Para este ano, o Sicoob planeja alcançar 2.144 municípios brasileiros, aumento de 14%.

O executivo destaca que essas transações têm baixo retorno às instituições financeiras, mas que as cooperativas conseguem prestar o serviço por não terem fins lucrativos. “O cooperativismo serve para ajudar com essa dor, provendo atendimento em geografias que não são interessantes aos grandes bancos”, afirma. Em função também disso, os juros costumam ser mais atrativos. No Sicoob, por exemplo, a taxa do crédito pessoal é de 15,75% ao ano ante média de 31,6%.

Única alternativa

Estudo do BC aponta que a quantidade de municípios onde a cooperativa de crédito é a única alternativa para obtenção de serviços financeiros passou de 184, em dezembro de 2018, para 202, um ano depois. Segundo o regulador, o aumento reflete tanto a expansão do atendimento presencial quanto a redução do número de agências e postos de atendimento dos bancos. “Enquanto a tendência dos bancos é a busca de aumento da eficiência, reduzindo assim o custo fixo com agências, as cooperativas de crédito vão na contramão, aumentando a presença no interior do País”, reforça o analista sênior da agência de classificação de riscos Fitch, Pedro Carvalho.

O presidente executivo do Sicredi, João Tavares, destaca que a presença física das cooperativas de crédito é um diferencial competitivo. “Nossa atuação é pautada por estar onde as pessoas precisam de nós e, como a inclusão financeira ainda é uma questão em evolução no País, nosso ritmo de penetração em novas comunidades segue acentuado. Nossos planos de expansão em termos de agências em 2020 eram, inclusive, superiores ao que foi realizado”, frisa o executivo.

 

MUITO DEMORADA A EMANCIPAÇÃO DO BC MAS ENFIM CHEGOU

 

Enfim, emancipação do BC

Atenção ao emprego já está na pauta do BC. Não era preciso copiar a lei do Fed

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

O Brasil fica mais moderno, mais organizado e um pouco menos sujeito ao populismo com a aprovação da autonomia do Banco Central (BC), assunto discutido há décadas. Conter a inflação continuará sendo sua missão principal, a mais importante para o bem-estar das famílias e para o bom funcionamento da economia. Será menor o risco de palpites e interferências políticas nas decisões sobre juros e condições de crédito. Com mandatos de quatro anos, os diretores só serão demissíveis em condições definidas na lei. Além disso, seus mandatos nunca serão coincidentes com o do presidente da República. Dito isso, é preciso reconhecer um detalhe prosaico e certamente positivo: na prática, a política monetária já vem sendo conduzida de forma autônoma, há anos, e seus critérios e prioridades devem ser mantidos, talvez para surpresa de muitos parlamentares e escândalo de outros.

Defender o poder de compra da moeda e garantir um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo sempre foi missão do BC, definida na Lei 4.595, de dezembro de 1964. Mas outros objetivos foram normalmente considerados na elaboração da política monetária. Ao mexer nos juros, nas condições do crédito e, de modo geral, na criação de moeda, os formuladores sempre levaram em conta os efeitos de suas decisões na atividade econômica e no emprego. Sempre avaliaram, portanto, o custo econômico e social de cada ação destinada a estabilizar os preços.

Não há nada surpreendente nesse procedimento. Comparar benefícios e custos de cada medida é mero exercício de racionalidade. Más decisões, muito frouxas ou muito severas, podem ter sido tomadas, no Brasil e em quaisquer outros países, mas isso é parte da vida normal. De qualquer forma, nenhum diretor de banco central é um robô programado para decidir com base em apenas um objetivo.

A política do BC tem sido conduzida, no Brasil, de forma bastante aberta. As decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) são informadas e explicadas, em seus aspectos essenciais, logo depois de toda reunião deliberativa. Uma ata com mais detalhes é divulgada na semana seguinte. Se lessem esses documentos, ou pelo menos o noticiário neles baseado, parlamentares teriam produzido um debate mais informado e mais inteligente durante a tramitação do projeto recém-aprovado. Se entendessem um pouco mais do assunto, ou se procurassem ajuda de pessoas competentes, teriam dito menos tolices e proposto, talvez, emendas mais úteis.

Sem surpresa, portanto, prevaleceu a ideia, defendida há muitos anos por alguns parlamentares, de incluir a atenção ao pleno-emprego entre as funções do BC, ampliando seu mandato legal. Com a explicitação desse ponto, copiou-se a legislação dos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) foi criado em 1913 com o mandato de “promover com eficiência os objetivos de máximo emprego, preços estáveis e juros de longo prazo moderados”.

Na prática, passou-se a procurar o máximo emprego compatível com preços estáveis, sendo estes, portanto, a referência principal. Essa é a política básica seguida até hoje, apesar das diferenças entre dirigentes mais propensos ao aperto ou ao afrouxamento monetário. Vários políticos brasileiros entusiasmados com o modelo do Fed parecem jamais haver entendido esses detalhes.

De toda forma, a lei recém-aprovada inclui a atenção à atividade econômica e ao pleno-emprego no mandato do BC, mas em posição secundária. Há nesse detalhe uma aparência de bom senso, mas a política de crescimento envolve muito mais que juros baixos e crédito amplo. Além disso, a inovação legal, embora nada acrescente aos critérios normalmente seguidos pelo BC, pode estimular pressões injustificadas e geradoras de insegurança econômica e financeira. Parte dos congressistas defende a subordinação da política monetária ao Executivo. A última experiência desse tipo, entre 2011 e 2013, resultou em forte aumento da inflação e em desmoralização do BC. O conserto foi demorado e custoso. Melhor é evitar experiências desse tipo.