quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

FESTAS NA BAHIA EM PORTO SEGURO AUMENTOU OS CASOS DE COVI-19 EM 20%

 

Depois de festas clandestinas no réveillon, casos de covid-19 no sul da Bahia crescem até 20%

Cidades da região, como Porto Seguro, foram cenários de aglomerações entre os últimos dias de 2020 e o início de janeiro. Agora, casos da doença avançam puxados pelo movimento de turistas

Fernanda Santana, Especial para o Estadão

SALVADOR – Diariamente, o trabalho sobre as águas do Rio Caraíva era regido pelo fluxo de turistas. Começava ao nascer do sol, com a chegada dos primeiros, e terminava no fim da tarde, com o retorno de outros para o continente. O canoeiro Benedito Borges, de 63 anos, transportava nove pessoas por vez até Caraíva, distrito de Porto Seguro, no sul da Bahia, nas dez horas de trabalho diárias. Repetiu a rotina até acordar doente. O ar não chegava mais aos pulmões e o corpo, antes firme, mal se aguentava em pé. Estava com o coronavírus.

O sul da Bahia foi cenário de aglomerações entre os últimos dias de 2020 e o início de janeiro. Uma briga judicial entre o governo da Bahia, promotores de evento e parte do setor turístico teve o Estado como vencedor – ficaram proibidos eventos de qualquer porte. As restrições, porém, couberam apenas nas laudas judiciais. Na prática, Borges, canoeiro há 15 anos em Caraíva, disse nunca ter visto o distrito tão cheio.

Festas causaram aglomerações na região durante o período de réveillon Foto: Reprodução

A conta chega agora, no sistema de saúde, com cada vez mais infectados pela covid-19. Dos 28 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dedicados a pacientes graves de Porto Seguro, distribuídos entre a cidade e Eunápolis, a 55 quilômetros de distância, 70% estão ocupados.

Há três semanas, os primeiros sintomas da contaminação apareceram em Borges, apelidado de Dito. Como não tinha tempo para ter medo, e via naquele movimento de turistas uma oportunidade de passar o início do ano tranquilo, Dito se aventurava. Às vezes, um turista, no barco, teimava com ele, sem querer usar máscara. O canoeiro insistia e um armistício momentâneo era selado. “Saíam já rasgando a máscara. Eu usava sempre, acho que contraí o vírus de pegar dinheiro, e porque nem sempre tinha álcool em gel”, contou. Por pessoa, a travessia para chegar ou deixar Caraíva, um tipo de península, custa R$ 5.

A movimentação de turistas rumo ao sul da Bahia começou a crescer em 26 de dezembro do ano passado – e, com ela, o contato de nativos com aglomerações nas ruas. Um dia após o Natal, o Aeroporto Terravista, em Trancoso, distrito vizinho a Caraíva, onde só pousam aviões fretados, registrou até engarrafamento de aeronaves que esperavam autorização para desembarcar os passageiros. As festas clandestinas, na beira do rio, pousadas e casas em condomínios fechados, passaram a invadir madrugadas em Caraíva e Trancoso.

Porto Seguro tinha, de março de 2020 até aquele momento, 4.346 casos da doença, mostra o boletim diário divulgado pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). Pouco mais de duas semanas depois, em 15 de janeiro, foram contabilizadas 4.779 notificações de covid-19. Até o último boletim, divulgado nesta segunda-feira, 1º, a cidade tinha 5.373 casos – 1.027 a mais, um crescimento de 12%.

O distrito de Caraíva tem  uma só Unidade Básica de Saúde (UBS). Lá vivem, segundo os próprios nativos, em média, mil pessoas. Entre o fim do ano passado e janeiro, eles estimam que a população fica até sete vezes maior. Esse fluxo não foi mudado pela pandemia, já que os turistas desembarcaram, ainda assim, na região. Sem estrutura de saúde robusta, Dito não conseguiu nem acesso a medicamentos no distrito.

“Sorte foi que não precisei ser transferido, nem nada, e me isolei aqui. Como moro sozinho, e minhas filhas vem na janela e deixam a comida que preciso”, falou. Um dos sete filhos de Dito precisou atravessar o rio que isola geograficamente o distrito para conseguir os medicamentos dele. Quando conversou com o Estadão, ele dava pausas para respirar, antes de responder ou durante uma fala, sinal de que os pulmões ainda se recuperavam do baque.

Dito teve um tio que, aos 96 anos, também contraiu o vírus em janeiro e precisou ficar internado em Porto Seguro. Mas os casos se tornaram frequentes em toda a vizinhança, relatou o nativo, não só entre seus parentes. “Teve um monte de gente que pegou”, afirmou. Conforme os boletins diários divulgados pela prefeitura de Porto Seguro, Caraíva tinha 28 casos de coronavírus no dia 26 de dezembro. No dia 1º de fevereiro, eram 56. Os moradores acreditam ainda que esse total de casos ainda esteja subnotificado.

A prefeitura de Porto Seguro respondeu, por meio da assessoria de comunicação, que não comentaria o aumento do número de casos. A gestão municipal também não detalha as ações voltadas para conter o avanço do vírus na cidade e nos distritos, pois disse que estava empenhada no início da vacinação.

PM dispersou ao menos 70 festas ilegais em uma semana

As aglomerações entre o fim de dezembro passado e janeiro aconteceram, principalmente, em Caraíva, Trancoso e Arraial D`Ajuda, três distritos de Porto Seguro. Entre 28 de dezembro e 3 de janeiro, a Polícia Militar da Bahia diz ter encerrado 70 festas ilegais – a maioria aconteceu em Trancoso e Arraial D`Ajuda. Uma delas, em 29 de dezembro, foi na casa da cantora Elba Ramalho, em Trancoso, então alugada para um empresário, que reuniu 400 pessoas. Ela negou saber do evento.

Menos de um mês depois, tanto Trancoso quanto Arraial viram o número de infectados saltar. No primeiro vilarejo, saiu de 143 para 230; no segundo, de 324 para 482. A guia de turismo Cátia Campanholo, 45 anos, circula todos os dias pelos três distritos, além das praias urbanas de Porto Seguro. Ela recebe os turistas nos aeroportos, os acompanha até os hotéis e, depois, nos passeios por praias e outras atrações.

“No final do ano, início de janeiro, parecia carnaval. Só funcionários com a máscara. Os turistas que eu acompanhava até usavam máscara na van. Mas, na praia, não existe isso”, relatou. O medo de trabalhar existia, mas a necessidade era maior. “O turismo foi o primeiro a parar e o último a retornar, a gente precisava voltar a trabalhar”, completou.

Logo depois do Réveillon, em 4 de janeiro, Cátia percebeu que poderia estar contaminada pelo coronavírus. “No trabalho, troco a máscara, mas não foi o suficiente.” Numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA), receitaram um combo de medicamentos – incluindo o vermífugo ivermectina, comprovadamente ineficaz contra a covid-19. Àquela altura, ela já sentia falta de ar e dores no corpo.

Ela pediu que fosse testada, mas não foi atendida. O mal-estar permaneceu e, em 9 de janeiro, depois de pagar por teste privado, recebeu a confirmação de que estava infectada. Hoje Cátia ainda apresenta disfunções no paladar – sente quase nenhum gosto – e falta de ar. Ainda estava ofegante enquanto conversava com a reportagem. Mas teve de voltar a trabalhar, após receber o diagnóstico da cura, porque o movimento de turistas permanece, embora menor.

Carnaval é temido por secretária de Saúde

Em Cairu, onde o Estadão denunciou a ocorrência de festas clandestinas em barcos, para driblar a fiscalização, os resultados também são sentidos. Eventos ilegais aconteciam principalmente na Ilha de Boipeba, pertencente ao município, na região conhecida como Costa do Dendê. O número de casos de covid-19 saltou de 661, em 26 de dezembro, para 796 em 1º de fevereiro deste ano, em Cairu. Isso significa alta de 20% dos infectados – a cidade tem 18,4 mil habitantes.

A secretária de Saúde e vice-prefeita de Cairu, Cíntia Rosemberg, acredita que não só as aglomerações do fim do ano passado tenham repercutido no aumento do número de casos, reconhecido por ela. A gestão municipal do ano passado foi substituída pela atual, vitoriosa nas eleições de novembro. “Incrementamos a vigilância em saúde. Antes estávamos com duas pessoas treinadas para realizar testes, hoje temos dez. Também estamos fiscalizando mais, notificando irregularidades”, afirmou.

A preocupação agora, segundo Cíntia, é com o carnaval, mesmo após o governo estadual cancelar o ponto facultativo no Estado, para evitar aglomerações. Isso porque, tradicionalmente, o litoral sul da Bahia é destino certo para quem quer relaxar durante ou depois da festa. Ao menos oficialmente, a folia foi cancelada.

REFORMA MINISTERIAL A CONTA-GOTAS PARA TESTAR CENTRÃO

 

Bolsonaro planeja testar fidelidade do centrão com reforma ministerial

Da Redação – ISTOÉ

Após a vitória dos aliados Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estuda realizar uma reforma ministerial a conta-gotas para testar a fidelidade dos partidos do chamado centrão. As informações são da Folha.

De acordo com a reportagem, Bolsonaro teria ouvido de ministros que fazem parte da articulação política que, num primeiro momento, abrir um amplo espaço para a base aliada na Esplanada dos Ministérios pode ter efeitos indesejados no futuro.

Ainda segundo o jornal, a estratégia defendida é a de que o presidente só entregue cargos após a aprovação de propostas prioritárias no Congresso, a fim de evitar traições em votações de projetos.

Também haveria a possibilidade de que uma entrega rápida de cargos ao centrão possa dar margem para que os partidos do bloco exijam mais espaço no primeiro e no segundo escalões em um futuro próximo.

Ainda de acordo com a Folha, Bolsonaro avalia, neste primeiro momento, nomear indicados dos partidos aliados apenas em duas pastas: Cidadania e Desenvolvimento Regional, em aceno à Câmara e ao Senado, respectivamente.

GUEDES NEGOCIA COM O CONGRESSO AS SUAS PRIORIDADES

Guedes negocia com ‘novo’ Congresso plano para recuperar economia

Da Redação – ISTOÉ

O Ministério da Economia quer negociar com a nova cúpula do Congresso um plano escalonado de medidas para recuperar a economia. A pasta planeja começar ações menos polêmicas e caminhar para propostas como a criação de um imposto sobre transações financeiras, como a extinta CPMF. As informações são da Folha.

Segundo o jornal, de acordo com membros da equipe de Paulo Guedes, a eleição de aliados do governo para o comando do Legislativo deve dar uma última oportunidade de aprovação de propostas de impacto dentro deste mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e que esse período deve durar apenas até setembro deste ano.

Auxiliares do ministro acreditam, ainda segundo a Folha, que os deputados e senadores passarão a se ocupar das articulações para as eleições de 2022 a partir do último trimestre de 2021, e que isso poderia inviabilizar o andamento da agenda de reformas estruturais, como a administrativa e a tributária.

Paulo Guedes ainda não se encontrou com os novos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), mas ligou para ambos para parabenizá-los pelas eleições e, segundo o jornal, planeja conversar pessoalmente com eles nos próximos dias.

Segundo a Folha, interlocutores defendem que as negociações com o Congresso sejam abertas apenas na próxima semana, pois que deputados e senadores decidam questões internas das Casas.

 

SESSÃO SOLENE DE ABERTURA DO ANO LEGISLATIVO NO CONGRESSO

 

Congresso abre hoje o ano legislativo em sessão solene

RedeTV!

Congresso Nacional abre hoje (3) o ano legislativo, em sessão solene prevista para começar às 16h. A sessão será comandada pelo novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que acumula a função de presidente do Congresso Nacional. Ao seu lado estará o novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

A solenidade no plenário é precedida de uma cerimônia na área externa do Congresso, que começa com a chegada de militares das três Forças Armadas. São 40 militares da Marinha, 40 do Exército, e 40 da Aeronáutica. O Hino Nacional será executado enquanto são disparados 21 tiros de canhão. Em seguida, Pacheco e Lira subirão a rampa do Congresso Nacional, em direção ao plenário da Câmara.

O início da sessão será marcado pela leitura da mensagem enviada pelo Poder Executivo ao Legislativo. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, deverão comparecer à cerimônia.

A Mesa da solenidade é composta pelos presidentes do Congresso e da Câmara, pelo portador da mensagem do Poder Executivo, pelo portador da mensagem do Poder Judiciário;e por integrantes da Mesa do Congresso. Há a expectativa entre os parlamentares de que o presidente Jair Bolsonaro compareça à cerimônia. Tanto Pacheco quanto Lira foram os candidatos de sua preferência na eleição das duas Casas, ocorrida na última segunda-feira (1º).

Durante a sessão, estão previstas falas de Fux e, em seguida, do presidente da Câmara. A sessão solene é encerrada com o discurso do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Os demais parlamentares não fazem uso da palavra.

SABER ESTAR EM PAZ CONSIGO MESMO

 

A arte de estar em paz consigo mesmo

*Mauro Condé

“Você só vive uma vez, mas se você souber viver bem, uma vez é o suficiente” Joe Lewis

Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes biografias.

Elas me levaram para Veneza, Itália, no ano de 1323, onde fui recebido por Marco Polo, a quem fui logo pedindo:

Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

Cultive o hábito de fazer viagens prazerosas como forma de terapia para afastar o estresse da sua vida.

Maior viajante da História, ele narrou num livro incrível suas grandes aventuras ao redor do mundo, vividas inicialmente ao lado de seu tio e seu pai, os quais só foi conhecer aos 17 anos de idade.

Seu livro se transformou numa espécie de bíblia inspiradora para grandes navegadores, entre eles Cristóvão Colombo, que por causa disso viria a descobrir a América anos depois.

Naquele tempo, um incidente ocorrido do outro lado do mundo, mudou para sempre a vida de Marco Polo.

Uma antiga imperatriz chinesa, ao tomar chá sob uma amoreira observou um casulo de bicho-da-seda cair dentro de sua xícara. Ao tentar removê-lo, percebeu que a água quente amolecia as fibras do casulo, resultando em um lindo fio de alta qualidade.

Foi o insight para uma das maiores inovações de todos os tempos na China que, por séculos, deteve o monopólio da produção e da comercialização da seda para o resto do mundo.

O lucrativo comércio desse produto atraiu Marco Polo e o fez se aventurar pelo itinerário da chamada rota da seda (que por coincidência tinha seu traçado geográfico parecido com o formato de um casulo).

Viajou de Veneza, sua terra natal e passou por lugares maravilhosos hoje conhecidos como Grécia, Egito, Israel, Síria, Turquia, Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia até chegar à Corte de Kublai Khan, neto do poderoso Gêngis Khan, na China.

Lá, ele chegou a ser preso, torturado, libertado, estudado e depois admirado e adotado pelo próprio Imperador Khan como seu maior mentor e conselheiro, devido à sua vasta cultura e conhecimento.

Expandiu muito a sua visão da vida e do mundo quando foi treinado por um monge totalmente cego, conhecido como Mestre Cem Olhos, o maior mestre de kung fu da História.

Inspire-se no legado de quase oitocentos anos deixado por Marco Polo.

Passada a pandemia, viaje pelo mundo para conquistar a liberdade de ficar ainda mais em paz consigo mesmo.

*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.

As viagens de Marco Polo


Descrição

Este manuscrito de cerca de 1350 é uma das cópias existentes mais antigas de Les voyages de Marco Polo (As viagens de Marco Polo), o relato do mercador veneziano Marco Polo (por volta de 1254 a 1324) de suas aventuras na Ásia Central e no Extremo Oriente durante a segunda metade do século XIII. É possível que seja um dos cinco manuscritos relacionados à viagem de Marco Polo que pertenceu ao rei Carlos V da França (reinou de 1364 a 1380). Mais tarde fez parte da biblioteca do colecionador de livros francês Alexandre Petau, sendo em 1650 vendido à rainha Cristina da Suécia (de 1626 a 1689). Acompanhado por seu pai Niccolò e seu tio Maffeo, Marco Polo viajou por terra para a China em 1271-1275. Ele passou 17 anos servindo Kublai Khan (de 1215 a 1294), neto de Genghis Khan e conquistador da China, para quem realizou trabalhos na China e no sul e sudeste da Ásia. Os três venezianos voltaram para sua cidade natal pelo mar em 1292-1295. Marco Polo logo se envolveu na guerra entre Veneza e Gênova, onde equipou e comandou uma galé na marinha veneziana. Em 1296 foi levado como prisioneiro pelos genoveses e, segundo a tradição, enquanto esteve preso narrou as histórias de suas viagens a um companheiro de cela, Rustichello da Pisa, que as escreveu em francês antigo. O relato de Marco Polo não foi apenas um simples registro da viagem, mas uma descrição do mundo, uma mistura de relatório de viagem, lendas, boatos e informações práticas. Por estas razões, Les voyages de Marco Polo às vezes é chamada de Divisament du monde (Descrição do mundo) ou de Livre des merveilles du monde (Livro das maravilhas do mundo). A obra foi uma importante introdução aos europeus para a história e geografia da China e da Ásia Central. No final do manuscrito de Estocolmo há um mappa mundi, um mapa do mundo esquemático medieval dividido em zonas, que, no entanto, pode ser uma adição mais recente.

BOLSONARO AGORA NÃO TEM DESCULPA QUE O CONGRESSO ATRAPALHAVA O GOVERNO

 

Acabou a desculpa

Como Bolsonaro se queixava da falta de colaboração do Congresso, é lícito supor que agora terá força política para tocar sua agenda.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro venceram as eleições para o comando da Câmara e do Senado. Como Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, passaram toda a primeira metade do mandato presidencial a se queixar da falta de colaboração do Congresso para destravar a votação dos projetos de interesse do País, é lícito supor que agora, com uma direção parlamentar supostamente mais alinhada ao Palácio do Planalto, o governo terá força política para tocar sua agenda adiante.

Ou seja, acabou a desculpa usada frequentemente por Bolsonaro para a impressionante inoperância de seu governo.

Mas é duplamente ingênua a expectativa de que o desfecho da eleição do Congresso dará ao governo melhor condição de governabilidade e permitirá que Bolsonaro, enfim, comece a trabalhar.

Em primeiro lugar, qualquer observador minimamente bem informado sabe que Bolsonaro não trabalhou até agora simplesmente porque é ergofóbico, e não porque não o deixaram trabalhar. Não tem nenhum projeto racional e estruturado de governo, e seu único interesse é se manter no poder e proteger os filhos. Foi um mau militar, na insuspeita avaliação do general Ernesto Geisel, e foi igualmente um mau parlamentar, sem qualquer contribuição para o País; não surpreende que seja um mau presidente.

Assim, mesmo que os novos presidentes da Câmara e do Senado revelem-se governistas leais, o que está longe de ser garantido, nada sugere que Bolsonaro daqui em diante faça mais do que bater ponto e sabotar as raras iniciativas reformistas de seus ministros e de sua base parlamentar.

Em segundo lugar, mas não menos importante, o novo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), é genuíno representante do Centrão – bloco cujos integrantes não saem de casa se não receberem algum estímulo fisiológico. Bolsonaro, que já vinha entregando seu governo ao Centrão, despejou bilhões de reais na campanha de Arthur Lira, na forma de liberação de verbas para deputados em troca de votos.

Mais uma vez, contudo, as aparências enganam. Os impressionantes 302 votos obtidos por Arthur Lira não significam nem que o Centrão tenha tantos deputados nem que todos esses parlamentares tenham se tornado subitamente governistas. Hoje, o Centrão mal tem votos suficientes para aprovar leis ordinárias – quando muito, pode impedir que um eventual processo de impeachment prospere, o que, na prática, é o único interesse do presidente da República.

Seja como for, a vitória dos candidatos apoiados por Bolsonaro no Congresso é um desfecho preocupante, pois um Legislativo amalgamado a um Executivo cujo chefe tem orgulhosa vocação autoritária é obviamente uma ameaça à democracia – a comparação com o assalto ao poder pelo chavismo na Venezuela não é despropositada.

O jogo é bruto, e vai requerer da oposição união e objetivos claros, algo ainda muito distante da realidade. Ao contrário, DEM e PSDB, que pareciam ter pretensões de liderar o movimento de centro contra Bolsonaro, deram vexame na eleição do Congresso, demonstrando imensa fragilidade e confusão de propósitos. Não é possível se apresentar como oposição e, ao mesmo tempo, permitir que seus correligionários se engalfinhem por cargos e verbas oferecidos pelo presidente.

O desanimador resultado da disputa no Congresso pode dar a entender que estamos fadados ao Centrão e ao bolsonarismo, isto é, à escória da democracia. A grandiosa promessa de renovação da política desembocou nisso – a eleição de um deputado condenado por improbidade, apoiado por um presidente que jogou no lixo suas promessas de acabar com a relação fisiológica, tudo ante a impotência de uma oposição covarde. E Bolsonaro, em vez de ser chamado à responsabilidade por suas inúmeras afrontas à lei e aos brasileiros, ganha poder.

Mas, em política, não existem resultados definitivos. As circunstâncias extraordinariamente duras que o País enfrenta demandam um governo sério e um Congresso consciente de seus deveres. Mais cedo ou mais tarde, o País se dará conta de que não temos nem uma coisa nem outra.

SERÁ MESMO QUE O STF ESTÁ ATENTO PARA A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS DURANTE A PANDEMIA?

 

O STF nesses tempos estranhos

Discurso de Luiz Fux indica um Supremo coadunado com as prioridades do País.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Foi auspicioso o discurso do ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), na sessão de abertura do ano judiciário. Como convinha, a tragédia da pandemia de covid-19, que já matou quase 230 mil brasileiros, mereceu lugar de destaque na fala do chefe do Poder Judiciário, sobretudo no momento em que a crise sanitária dá evidentes sinais de recrudescimento no País.

Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, sabotador de primeira hora das medidas indicadas pelas autoridades sanitárias para contenção do novo coronavírus, Fux afirmou que “é tempo de valorizarmos as vozes ponderadas, confiantes e criativas que laboram diuturnamente, nas esferas pública e privada, para, juntos, nós vencermos essa batalha (contra o coronavírus)”.

Na verdade, desde o início desse flagelo, a Nação carece de ouvir “vozes ponderadas”, especialmente vindas da esfera pública. Não foram poucas as vozes que, ao contrário, estimularam a comunicação truncada entre os entes federativos e a desinformação dos cidadãos, a começar pelo próprio presidente da República, que à esquerda de Fux tudo ouvia, impassível.

O presidente do STF fez bem ao relembrar em seu discurso que em momento algum a Corte Suprema “impediu” a atuação do governo federal no combate à pandemia, apenas reconheceu o óbvio constitucional, qual seja, a competência concorrente da União, Estados e municípios. Por meio de seus canais institucionais de comunicação, o STF já havia desmentido a distorção da decisão alardeada aos quatro ventos por Bolsonaro. Agora, o presidente teve de passar pelo constrangimento de ouvir o esclarecimento da boca do próprio presidente do STF.

Não se pode afirmar que tenha sido esta a intenção, mas, na prática, o discurso de Fux serviu como um contraponto institucional à condução da crise por Bolsonaro. Principal fonte do negacionismo no Brasil, em momento algum o presidente reconheceu a gravidade da crise de saúde, com múltiplos desdobramentos sociais e econômicos, e tampouco mobilizou seu governo para atenuar seus efeitos com um robusto programa nacional de vacinação.

Não por acaso, Fux disse que a ciência – em especial a vacina – permitirá que “a racionalidade vença o obscurantismo”. O presidente do STF teve o cuidado de destacar que “as vozes isoladas que abusam da liberdade de expressão para propagar ódio, desprezo às vítimas e negacionismo científico” não vêm de apenas um Poder. Fux disse ter ficado “estarrecido” com um pronunciamento do presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, desembargador Eduardo Contar, que vociferou nas redes sociais contra “picaretas que defendem o discurso do ‘fique em casa’”. Outro constrangimento para Bolsonaro, que, ao compartilhar o vídeo do desembargador Contar, lhe deu chancela e audiência.

O ministro Luiz Fux também falou para os seus colegas de Corte. “No auge da conjuntura crítica”, disse, “o Supremo Tribunal Federal, em sua feição colegiada, operou escolhas corretas e prudentes para a preservação da Constituição e da democracia.” A relação de Fux com alguns dos demais ministros está estremecida desde o julgamento da possibilidade de reeleição dos presidentes das Casas legislativas, no fim do ano passado. “Rejeitamos o estigma das ‘onze ilhas’, como alguns tentam fazer crer.”

A Nação só tem a ganhar com uma Corte Suprema que privilegia a sua “feição colegiada”, tal como estabelece a Constituição, e que se mostre ciosa de seu papel de último anteparo contra as tentativas de violação da Lei Maior.

Tanto melhor quando o STF se mostra atento às prioridades do País, como o combate ao vírus mortal, a segurança jurídica, a paz social e a construção de um ambiente propício ao crescimento econômico.

Mais importante, porém, é o STF servir como inexpugnável fortaleza da democracia diante de uma súcia cada vez mais atrevida que pretende solapar a liberdade no País.

PERDAS DA INDÚSTRIA SÃO ANTERIORES À PANDEMIA

 

Reanimar a indústria é só o começo

A produção industrial se recupera, mas falta cuidar de perdas bem anteriores à pandemia.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Depois de dez anos muito ruins, consertar a indústria será muito mais complicado que garantir algum crescimento em 2021 e 2022. Dinamismo, eficiência e poder de competição só serão reconquistados com muito investimento e ampla mudança na política econômica. Esses dois fatores continuam fora do radar. Se aumentar 5% neste ano, como se prevê no mercado, a produção industrial poderá superar ligeiramente a de 2019, mas ainda será 8,9% inferior à de maio de 2011. Este é o ponto mais alto da série histórica. Mas isso é apenas uma esperança. Com o recuo de 4,5% em 2020, o volume produzido ficou 13,2% abaixo daquele ponto. Além disso, o quadro imediato mostra um setor pressionado pela alta do dólar e pelo custo maior dos insumos.

Por mais de meio século a indústria funcionou, no Brasil, como um polo de modernização e dinamismo. A reversão tornou-se bem visível na fase final do governo petista. O balanço da produção industrial foi negativo em seis dos dez anos entre 2011 e 2020. O maior recuo, nesse período, ocorreu na produção de máquinas, equipamentos e outros bens de capital. No fim do ano passado, o setor produziu 25,2% menos que em setembro de 2013, pico da série. A longa queda, nesse caso, acompanhou o recuo do investimento em capacidade produtiva e modernização.

Essa perspectiva ajuda a avaliar com algum realismo a recuperação a partir de maio, depois da grande queda ocasionada pela crise sanitária. Em oito meses a indústria acumulou crescimento de 41,8%, na série com desconto de fatores sazonais. Com esse desempenho, o setor superou a perda de 27,1% ocorrida em março e abril e alcançou patamar 3,4% superior ao de fevereiro.

Em dezembro, oitavo mês de recuperação, o setor produziu 0,9% mais que em novembro e superou por 8,2% o resultado de um ano antes. Mas o balanço de 2020 aponta um volume 4,5% menor que o de 2019. Além disso, o crescimento mensal foi o menor desde o início da retomada. Em maio a produção foi 8,7% maior que no mês anterior, quando havia caído 19,5%. A retomada acelerou-se em junho, com aumento de 9,6%. A partir daí as taxas mensais declinaram, até chegar a 0,9% no fim do ano.

Três das quatro grandes categorias tiveram desempenho positivo na passagem de novembro para dezembro: bens de capital (+2,4%), bens intermediários (+1,6%) e bens de consumo duráveis (+2,4%). Nos bens de consumo não duráveis houve recuo de 0,5%. No ano, as quatro categorias encolheram. A maior perda foi a da indústria de bens de consumo duráveis, com produção 19,8% inferior à de 2019. A queda foi puxada pela fabricação de automóveis, 34,6% menor que a do ano anterior.

O consumo das famílias foi o motor principal da recuperação da indústria. Esse motor enfraqueceu com a redução do auxílio emergencial. Na recessão de 2015-2016, a exportação deu algum suporte ao setor industrial, porque a crise era brasileira e o mercado externo tinha algum vigor. Desta vez só o agronegócio teve sucesso nas vendas externas. Muito dependente do mercado sul-americano, especialmente do argentino, a exportação industrial brasileira encolheu.

Em 2020 a indústria de transformação faturou US$ 114,9 bilhões no mercado externo, 11,3% menos que em 2019. As vendas totais para a Argentina ficaram em US$ 8,48 bilhões, 12,7% abaixo da soma obtida no ano anterior.

Essa dependência do mercado sul-americano é efeito de muitos erros de política industrial. A equipe econômica tem falado sobre maior integração nas cadeias globais de produção, mas nada fez de relevante nessa direção. Não basta abrir mercados e chamar investidores. É preciso pensar na preparação da indústria para novos padrões de eficiência e de competição. Isso envolve ações em muitas frentes e se pode começar o trabalho mesmo antes de reformas importantes, como a tributária. Mas isso será possível somente se os formuladores e condutores da política mostrarem uma percepção mais clara de como funcionam a produção e as trocas no dia a dia do mundo real. Essa percepção nunca foi mostrada por essa equipe econômica.

ALIADA DE BOLSONARO VAI COMANDAR A COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA DA CÂMARA

 

Aliada de Bolsonaro, Bia Kicis vai comandar CCJ da Câmara

Deputada é investigada no inquérito das Fake News que tramita no Supremo Tribunal Federal

Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A deputada Bia Kicis (PSL-DF) vai presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara. É a CCJ que analisa a legalidade de projetos de lei, de propostas de emenda à Constituição, podendo até mesmo “segurar” denúncias por lacunas jurídicas e barrar o andamento de cassações de parlamentares e processos de impeachment.

Após a eleição de Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão, à presidência da Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao comando do Senado, nesta segunda-feira, 1.º, o presidente Jair Bolsonaro contará agora com outra aliada no Congresso.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Bolsonarista de carteirinha, investigada no inquérito das Fake News – que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e apura a disseminação de notícias falsas contra ministros da Corte –, Kicis anunciou nesta terça, 2, pelo Twitter, que substituirá o deputado Felipe Francischini (PSL-PR) na presidência da CCJ.

“É uma grande honra para mim e muita responsabilidade, para a qual meus 24 anos como procuradora, um ano como primeira vice-presidente da CCJ e meu amor pelo Brasil me habilitam, com fé em Deus!”, escreveu a deputada.

A escolha de Kicis, que foi procuradora do Distrito Federal, faz parte de um acordo pelo qual o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL, fica com a primeira secretaria da Mesa Diretora, colegiado responsável por decisões administrativas e até políticas da Câmara.

Bivar é da ala do PSL rompida com Bolsonaro. Kicis, por sua vez, representa o bolsonarismo mais radical. É negacionista e em várias ocasiões usou as redes sociais para manifestar posição contrária a medidas de isolamento para combater o novo coronavírus.

Em maio do ano passado, por exemplo, a deputada apareceu no plenário da Câmara usando uma máscara de proteção com a inscrição “E daí?” A pergunta virou o símbolo do descaso quando, em 28 de abril, Bolsonaro afirmou não ter o que fazer em relação ao recorde de mortes na pandemia.

Em setembro, Kicis também chegou a prestar depoimento na Polícia Federal no inquérito aberto para apurar o financiamento de atos antidemocráticos. “Foi tranquilo mas fica aquela sensação de que a valorosa Polícia Federal deveria estar empregando seu tempo e o dinheiro dos contribuintes na investigação de bandidos”, disse ela, na ocasião, em mensagem postada no Twitter.

O BRASIL TEM DESINFORMAÇÃO POLÍTICAS PELA INTERNET

 

Brasil tem ‘tropa cibernética’ de desinformação política, diz estudo

Pesquisa de Oxford coloca País no mapa das fake news políticas; grupos atacam opositores e aumentam polarização

Wilson Tosta, O Estado de S.Paulo

RIO – Uma pesquisa da Universidade de Oxford divulgada em janeiro apontou que 81 países – entre eles o Brasil – foram em 2020 cenários de ações de “propaganda computacional” e “desinformação industrializada” sobre temas políticos. Essas iniciativas foram promovidas profissionalmente por agências governamentais e outros atores institucionais ou privados – empresas, partidos e influenciadores digitais. No estudo, o País aparece com “tropas cibernéticas” dedicadas a atacar opositores do governo e aumentar a polarização na sociedade, entre outras metas. Em seu repertório de instrumentos, estavam as fake news. Essas notícias falsas, inventadas para manipular a opinião pública, foram massificadas por robôs nas redes sociais.

Pesquisadora vê atuação da indústria da desinformação: ‘É replicada narrativa de que covid não é preocupante’ Foto: Werther Santana / Estadão

“Na indústria da desinformação global, o Brasil está posicionado como um país com ‘tropas cibernéticas’ de capacidade média”, afirmou ao Estadão, em entrevista por e-mail, a pesquisadora Antonella Perini. Ela integra o Projeto de Pesquisa de Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute (OII). O grupo de pesquisadores constatou que, em relação a 2019, houve crescimento no número de países com esse tipo de atividade. Foi de 15,7%, 81 ante 70.

Ranking

O Brasil “garantiu” sua presença na lista de Oxford, posicionado entre países com média capacidade de desinformação industrializada, apontou a pesquisa Industrialized Disinformation 2020 – Global Inventory of Organized Social Media Manipulation, lançada em 13 de janeiro. As ações de suas “tropas” foram marcadas por atividade recente, em caráter permanente, com alguma centralização, emprego de recursos financeiros e existência de uma coordenação central. O País está ao lado de Armênia, Austrália, Bolívia, Cuba, Hungria, Polônia, México, Síria, Turquia. Ao todo, são 37 países nesse grupo. Empregam gente em tempo integral. Promovem ações “para manipulação de mídia social”. Algumas operam até fora de seus respectivos territórios nacionais, diz o relatório.

“As mais utilizadas estratégias no Brasil foram mensagens pró-governo, ataques à oposição e polarização”, disse Antonella Perini. “Mais frequentemente, os ataques são voltados contra jornalistas e meios de comunicação que são críticos ao governo, contra políticos e contra funcionários públicos.”

Classificação

Em primeiro lugar nesse ranking, a pesquisa da universidade britânica aponta um grupo com 17 outros países. Suas “tropas”, afirma, têm “alta capacidade” de desinformar. Estão lá Estados Unidos, China, Reino Unido, Índia, Rússia, além de Arábia Saudita, Venezuela, Irã, Iraque. Para “iludir” o público, usam notícias falsas e outros truques. Recorrem a contas automatizadas, campanhas organizadas de denúncia e até a perfis roubados. Suas atividades envolvem muita gente e grandes despesas. O dinheiro vai para operações psicológicas e guerra de informações.

“Essas equipes não operam apenas durante eleições, mas envolvem funcionários em tempo integral dedicados a moldar as informações”, prossegue o relatório. “Equipes de tropas cibernéticas de alta capacidade focam operações domésticas e no exterior. Também podem dedicar fundos à mídia patrocinada pelo Estado, para campanhas de propaganda aberta.”

O terceiro grupo tem baixa capacidade no campo da propaganda computacional. Estão lá 27 integrantes – Argentina, Colômbia, Espanha e África do Sul são alguns deles. Suas ações envolvem “equipes que podem estar ativas durante eleições ou referendos, mas param suas atividades até o próximo ciclo eleitoral”.

Segundo o estudo, desde 2009, em todo o mundo, quase US$ 60 milhões (mais de R$ 300 milhões) foram gastos em serviços de desinformação. Eles foram prestados por empresas privadas, em todo o mundo. O número de campanhas de “propaganda computacional” dirigidas por governos ou partidos, cresceu constantemente ao longo dos anos pesquisados, aponta o trabalho.

“Em 2020, encontramos empresas privadas operando em 48 países, implantando propaganda computacional em nome de um ator político”, diz o texto. “Essas empresas costumam criar contas-marionete, identificar públicos para microdirecionamento ou usar robôs ou outras estratégias de amplificação para estimular a tendência de certas mensagens políticas.”

O mesmo relatório lembra como grandes plataformas de comunicação intervieram recentemente nesse cenário. Elas tiraram do ar contas aparentemente gerenciadas por “tropas cibernéticas”, para ataques políticos.

Entrevista: ‘Produção de fake news se tornou profissionalizada’

Integrante do Projeto de Pesquisa sobre Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute, Antonella Perini atribuiu a ações de “desinformação industrializada” a grande quantidade de informação falsa disseminada no País durante a pandemia. Segundo ela, durante momentos “críticos”, como eleições, ações desse tipo “emergem ou aumentam”.

O relatório do Oxford Internet Institute aponta que, em 2020, havia 81 países com a chamada desinformação industrializada. O que é isso e como funciona?

A desinformação industrializada refere-se a um cenário em que a desinformação tornou-se mais profissionalizada. Os atores políticos estão cada vez mais contratando empresas privadas, que produzem desinformação em escala industrial.

Poderia citar exemplos de ações de desinformação industrializada no Brasil em 2020?

Nos primeiros meses de disseminação do coronavírus, tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto membros do governo disseminaram uma grande quantidade de informações falsas. A principal ação foi observada depois que Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde (Luiz Henrique) Mandetta. O que se seguiu foi uma campanha difamatória e de desinformação rapidamente difundida nas redes pró-Bolsonaro.

O relatório menciona a ação dos partidos na desinformação industrializada em 2020.

Observamos estratégias organizadas de manipulação de mídias sociais no Brasil desde 2010. Foi durante a campanha de 2018 que elas ganharam destaque. Os candidatos usaram contas falsas, mensagens em massa e/ou disseminaram desinformação em todo o espectro político. Quanto a 2019 e início de 2020, encontramos evidências de uma estrutura organizada dentro do governo Bolsonaro, surgida durante a campanha de 2018 do PSL.

Como a indústria da desinformação age no País na pandemia?

Observamos grande quantidade de desinformação replicando a narrativa do governo sobre a covid-19 não ser uma ameaça preocupante. Isso foi complementado por ataques a atores políticos que se opunham a essa visão, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

No Brasil, começa-se a falar em impeachment. O que podemos esperar em termos de desinformação industrializada aqui?

Operações de propaganda computacional emergem ou aumentam durante eventos politicamente cruciais, como eleições, escândalos de corrupção, impeachment. Não seria uma surpresa se víssemos intensas e organizadas campanhas pró-Bolsonaro e ataques a atores que são críticos a ele.

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