segunda-feira, 6 de julho de 2020

O MINISTRO PALULO GUEDES DA ECONOMIA TEM MISSÃO DIFÍCIL NO GOVERNO BOLSONARO

Os trabalhos de Guedes

 

Luís Eduardo Assis

 



Hércules matou a família e não foi ao cinema; foi ao oráculo. Em Delfos, recebeu como sentença a missão de realizar os tais 12 trabalhos, dos quais o mais leve era limpar, em um dia, os estábulos do rei Augias, onde viviam mil bois que defecavam no mesmo espaço há 30 anos. Esta foi a parte fácil para Hércules. A vida do ministro da Economia não está muito melhor.

Com seu passado ilibado na área criminal, o ministro recebeu apenas duas tarefas. A principal é matar a hidra de nove cabeças que tornou o fundamentalismo liberal o seu credo dogmático. Não deve ser fácil fazer política fiscal expansionista para quem acredita que o Estado é intrinsecamente nocivo e que o setor privado tende a ocupar todo o espaço deixado pelo corte dos gastos públicos, como se a decisão dos investimentos privados obedecesse a alguma lei da termodinâmica que regula a expansão dos gases.

A preocupação maior, evidentemente, é o crescimento do déficit e, consequentemente, da dívida pública. A tese convencional é de que, de alguma forma, em algum momento, a dívida que está sendo acumulada hoje terá de ser totalmente paga, como se o Juízo Final valesse também para os países e os Tesouros Nacionais. Na ausência de ajuste fiscal, o temor de um calote no futuro, segue o argumento, elevará as taxas de juros, o que agrava o quadro do desequilíbrio das contas públicas. Mas não é bem assim que se observa na prática.

De acordo com estudo do Ministério da Fazenda divulgado em 2/7 (Análise do Impacto Fiscal do Enfrentamento à Covid-19), o estrago em 2020 nas contas públicas será imenso, com aumento das despesas na ordem de R$ 508 bilhões, o que deve catapultar o déficit primário para 12% do PIB, empurrando a relação dívida/PIB para quase 100%. Ainda assim, no meio desta hecatombe, a taxa de juros dos títulos públicos de cinco anos está em torno de 5,8%, mais baixa que os 6,4% do fim do ano passado. Ou seja, em que pese o desarranjo das contas públicas, as taxas caíram. Isso porque a lógica que prevalece para empresas privadas não se aplica para a dívida pública. Se uma empresa vai mal das pernas, o mercado cobra taxas altas para carregar os seus papéis. Na dívida pública, dado que o próprio devedor pode emitir a moeda que liquida sua obrigação, os juros seguem a estimativa para a tendência da taxa Selic, que será, por sua vez, comandada pela expectativa de inflação. A queda dos juros, portanto, reflete a constatação de que a inflação, para os padrões brasileiros, está morta. Não porque exista confiança (sempre ela) na gestão da dívida, mas simplesmente porque vivemos uma recessão ciclópica, algo que não está descrito nem mesmo na mitologia grega. A tarefa de Paulo Guedes é mais do que hercúlea. Uma fuga para a frente, com aumento nos gastos públicos de investimento, é muito para ele.

A segunda tarefa é convencer Bolsonaro de que para fazer política econômica é preciso fazer política. As tais reformas exigem coordenação, empenho e posicionamento estratégico. O presidente não tem nada disso. Sua adesão ao liberalismo do ministro é flácida e vacilante. O foco é a sobrevivência política. Nestas condições, o melhor que se pode esperar a esta altura é que a equipe econômica se deixe dominar pelo pragmatismo e entenda que estabilizar a relação dívida/PIB é o máximo a ser almejado. Tentar reintroduzir a tese da “austeridade expansionista” a qualquer custo poderá gerar um desastre ainda maior.

Alterar a natureza beligerante do presidente é mais difícil que matar o gigante Gerião, que tinha seis braços e seis asas.

Hércules completou as 12 tarefas, cumpriu a penitência e virou imortal. Mas seus desafios eram menores do que os que atormentam hoje Paulo Guedes. Que Zeus nos proteja.

*ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E DA FGV-SP. E-MAIL: LUISEDUARDOASSIS@GMAIL.COM

 

POLÍTICOS NÃO GOSTAM DA LAVA JATO


Maia critica força-tarefa da Lava Jato e diz que Moro ‘virou político’

Vinícius Valfré 






BRASÍLIA – O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), voltou a criticar a força-tarefa da Operação Lava Jato após o procurador Deltan Dallagnol dizer que governistas vinham atacando o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro por receio do desempenho do ex-juiz em eventual candidatura à Presidência da República em 2022.
“Espero que o procurador-geral da República (Augusto Aras) consiga organizar o trabalho. Não é uma questão de interferência no trabalho dos procuradores, que têm independência. Mas alguém tem que coordenar, alguém tem que fiscalizar. Se não, acima da força-tarefa de Curitiba parece que não há nada. Precisa ter”, disse Rodrigo Maia, neste domingo, 5, em entrevista à GloboNews.

© André Dusek/Estadão O presidente da Câmara, Rodrigo Maia
Maia afirmou, ainda, que Moro “virou político” em razão da maneira como se comporta desde que deixou o primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro. Bolsonaristas temem que o ex-juiz da Lava Jato seja adversário do atual chefe do Palácio do Planalto na disputa presidencial de 2022.
“Se ele for candidato, é candidato fortíssimo. Acho que fez bom trabalho no Ministério da Justiça. Falei que ele é político porque as ações dele depois que saiu do ministério são todas de político. Na minha opinião, ele caminha pra política. E acho bom que ele participe do processo”, disse Maia.
O comentário de Deltan Dallagnol criticado por Maia foi feito em entrevista à CNN, na última sexta-feira. O procurador declarou que governistas teriam o objetivo de desconstruir o ex-ministro por preocupação eleitoral. “Com o desembarque do ex-ministro Sérgio Moro da parte da Justiça, passou a interessar ao governo e aos seus aliados a desconstrução do ex-ministro Sérgio Moro e da Lava Jato, de que ele é símbolo, pelo receio de que ele venha eventualmente a concorrer em 2022”, disse o procurador.
Procuradores entraram em rota de colisão com Augusto Aras nas últimas semanas depois que o procurador-geral da República determinou compartilhamento de dados da Lava Jato no Paraná, em São Paulo e no Rio. Aras também questionou a necessidade de força-tarefa para investigações específicas e propôs a criação da Unidade Nacional Anticorrupção (Unac) no Ministério Público Federal. A estrutura deixaria o controle de grandes operações em Brasília.

domingo, 5 de julho de 2020

ANÁLISE SOBRE O MOMENTO ATUAL DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Empurrado pelo silêncio

Vittorio Medioli

 

As circunstâncias levaram o presidente a um repentino silêncio, que diminui a possibilidade de errar, de arrogar-se a verdade, de mostrar-se no papel de brigador

Numa série de pesquisas realizadas a cada 30 dias para seguir as opiniões no período da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), na última semana, registrou uma evolução de tendência que pode ser surpreendente em relação ao momento adverso do chefe de Estado. No mês de junho aconteceu a prisão de Queiroz, ganhou cobertura a saída hostil de Sergio Moro, a queda do então ministro da Educação, Weintraub, dispararam os óbitos decorrentes da Covid-19, aconteceram decisões contrárias do STF, os noticiários negativos levitaram até fora do forno, o clima contrário no Congresso cresceu. O conjunto em sentido oposto deixava imaginar uma perda de apoio popular do presidente e até um aumento das possibilidades de impeachment. Na região metropolitana de Belo Horizonte, isso não aconteceu.

Com tudo adverso, com um vendaval de denúncias, os entrevistados que aprovam o presidente evoluíram do final de maio, quando eram 48,7%, para 52,1%, na última semana de junho. Quem o desaprova encolheu de 46,2% para 42,2%, e o resto, 5,7%, não opinou. A diferença positiva subiu de 2,5% para 9,9% em apenas 30 dias. Quem achava o governo Bolsonaro ruim ou péssimo diminuiu de 35,0% para 29,1%, uma queda de 5,9% em apenas um mês. Quem o acha bom ou muito bom subiu de 37,4% para 41,4%.

Além dos bilhões distribuídos à população mais carente, o que mais aconteceu para levantar a moral de Bolsonaro? Parece que valeu um sábio ditado popular: “Em boca fechada não entra mosquito”. As circunstâncias levaram o presidente a um repentino silêncio, que diminui a possibilidade de errar, de arrogar-se a verdade, de mostrar-se no papel de brigador.

Foi provavelmente forçado a calar-se para não se afogar na onda de água e de lama que o atingiu. Adotou a postura mais inédita de seu mandato, o silêncio. Deixou os adversários e o mundo sem respostas, ficou inerte, apanhando de acusações, críticas e ataques sem precedentes. Um volume de ataques e negatividades igual ou maior do que aquele que outros presidentes, em momentos de crise, não suportaram, o que os levou a cair do cargo.

O episódio culminante para a mudança de postura foi a prisão de Queiroz. Fechou a capacidade verbal de reação, levou Bolsonaro ao recolhimento, a medir melhor seus gestos e palavras.

Pois bem, se “há males que vêm para bem”, Bolsonaro pode “agradecer” o episódio Queiroz, que o fez recuar da linha dos holofotes, justamente com os três filhos.

Negando seu instinto, Bolsonaro experimentou um novo momento.

Entre os inúmeros defeitos de Bolsonaro, popularmente o salva a virtude que mostrou de não dar espaço, até o momento, à corrupção “de Estado” que marcou os últimos governos.

Com a saída de Moro, as operações da PF e as prisões de corruptos, que estavam paradas desde 2018, voltaram a ocorrer. Semanalmente, novas e cortantes revelações passam a pautar os noticiários. A última delas foi a prova de um depósito de R$ 40 milhões realizado pela Odebrecht nas contas do senador José Serra (PSDB-SP).

O MP, além de investigar, corretamente, “rachadinhas” e outras encrencas do filho do presidente, voltou a recuperar as fortunas depositadas em contas de larápios e figuras políticas de proa.

A um chefe de Estado é mais prudente se preservar, esconder a família, não banalizar seu cargo, deixar um porta-voz, os ministros e os fatos falarem por ele.

A tendência revelada pela sondagem em relação à Covid-19, de recuperação da imagem de Bolsonaro, no momento mais “infeliz” de seu mandato, pode ser uma lição valiosa para o presidente, sempre que saiba compreendê-la e aproveitá-la.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...