Moro depõe em meio à crise institucional entre o Planalto e o Judiciário
Renato Souza
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Ed Alves/CB/D.A Press O ex-ministro da Justiça Sergio Moro deve prestar
depoimento no final da manhã deste sábado (2/5) na Superintendência da Polícia
Federal, em Curitiba, no inquérito que investiga supostos crimes cometidos pelo
presidente Jair Bolsonaro. O ex-juiz será questionado por dois delegados do
grupo da corporação que atua nos inquéritos junto ao Supremo Tribunal Federal
(STF). Além disso, três procuradores destacados pela Procuradoria Geral da
República (PGR) também vão atuar na oitiva do ex-juiz da Lava Jato. Moro deve
ser ouvido por policiais que atuam na divisão de combate ao crime organizado, o
que inclui delitos de corrupção. Ele voltou a morar na capital paranaense após
pedir demissão do governo Bolsonaro, na semana passada.
O procurador-geral da República, Augusto Aras,
destacou os procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto
e Hebert Reis Mesquita. De acordo com informações obtidas pela reportagem, por
meio de fontes na PF do Paraná, pelo menos um dos delegados que deve participar
da oitiva de Moro atuou na Lava Jato, e já cumpriu determinações de Moro quando
ele era juiz.
O inquérito aberto pelo Supremo vai apurar a
conduta do presidente da República, Jair Bolsonaro, acusado pelo ex-ministro da
Justiça de tentar interferir no trabalho da Polícia Federal e de querer acessar
relatórios de inteligência. A investigação vai se concentrar na suposta prática
dos crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia
administrativa, prevaricação, obstrução de justiça e corrupção passiva.
Se não provar as acusações que fez, Moro pode
responder por denunciação caluniosa e crime contra a honra. O ministro Celso de
Mello, relator do caso no Supremo, deve determinar, ainda, o cumprimento de
mandados de busca e quebras de sigilo telefônico de alguns envolvidos para
colher provas.
Em meio à investigação sobre acusações feitas pelo
ex-ministro Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro, o procurador-geral
da República, Augusto Aras, rebateu as críticas feitas pelo ex-juiz da Lava
Jato. Em nota divulgada ontem, o chefe do Ministério Público fez críticas em
relação aos procedimentos realizados no caso sem citar diretamente Moro. Ele
encerrou a nota com uma declaração contundente: “O procurador-geral da
República, Augusto Aras, reitera que não aceita ser pautado ou manipulado ou
intimidado por pessoas ou organizações de nenhuma espécie. Ninguém está acima
da Constituição!”, escreveu.
Em entrevista à Veja, Moro disse ter visto uma ação
“intimidatória” na peça de Aras, que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF)
abertura de inquérito para investigar declarações dele que apontam supostos
crimes cometidos pelo presidente. Ao enviar o requerimento de abertura de
investigação à Corte, o procurador enquadrou o ex-ministro como investigado,
alegando que ele pode ter cometido denunciação caluniosa e crimes contra a
honra se não conseguir provar as acusações.
“Verdade real”
Juiz de primeira instância no Paraná por 22 anos e
principal responsável por condenações de políticos e empresários na Lava Jato,
Sergio Moro afirmou à Veja que discorda de como a peça foi apresentada ao
Supremo. “Entendi que a requisição de abertura desse inquérito que me aponta
como possível responsável por calúnia e denunciação caluniosa foi
intimidatória”, disse. No âmbito processual, Aras vem sofrendo algumas derrotas
impostas pelo ministro Celso de Mello, relator do caso no Supremo. Ao aceitar o
pedido para abrir inquérito, o magistrado não mencionou a possibilidade de Moro
ter cometido crime em suas declarações.
Na última quinta-feira, o ministro também atendeu a
um pedido de deputados para que o ex-juiz seja ouvido em um prazo de cinco dias
pela Polícia Federal. Então o procurador enviou nova peça ao Supremo afirmando
que a hipótese de parlamentares solicitarem diligências não é abrangida pela
legislação brasileira. Em resposta, Mello determinou que “seja transmitido ao
Senhor Procurador-Geral da República o teor integral da decisão” proferida na
qual ele acolheu, “em parte, o pleito ontem deduzido por ilustres
congressistas”.
Em nota, publicada ontem, Augusto Aras rebateu as
declarações de Moro e diz que agiu de acordo com o que prevê a legislação. “A
Procuradoria-Geral da República tem o dever de averiguar todos os fatos — e as
versões que lhes dão os envolvidos — em busca da verdade real. O requerimento
de inquérito encaminhado ao Supremo Tribunal Federal obedece à consagrada
técnica jurídica de apurar fatos, em tese, ilícitos, identificando os
responsáveis e a existência ou não de sua materialidade, em busca de formar
convicção sobre a ocorrência ou não de crimes”, escreveu o procurador.
O chefe do Ministério Público sustentou, ainda, que
não houve ação intimidatória no pedido de abertura de inquérito. “A petição de
inquérito apenas narra fatos e se contém nos limites do exercício das
prerrogativas do Ministério Público, sem potencial decisório para prender,
conduzir coercitivamente, realizar busca e apreensão, atos típicos de juízes –
e, só por isso, não tem caráter intimidatório”, completou o texto.
Dias eletrizantes em Brasília
23 de abril
Presidente Jair Bolsonaro avisa a Sergio Moro sobre
troca no comando da Polícia Federal. O ministro discorda. Em um dia de muita
especulação em Brasília, informações de bastidor indicam que o ministro pode
deixar o governo.
24 de abril
Às 5h, Diário Oficial da União oficializa a
demissão de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da PF. O decreto vem
assinado tanto pelo presidente quanto por Sergio Moro. O ministro convoca uma
entrevista coletiva para o final da manhã e anuncia a saída do governo. Diz que
foi surpreendido pela demissão de Valeixo e não assinou o ato oficial. Horas
mais tarde, o governo republica o decreto sem o nome de Moro.
No anúncio da demissão, Moro acusa o presidente de
tentar interferir no comando da Polícia Federal para obter acesso a informações
sigilosas e relatórios de inteligência de investigações em curso. Seis horas
depois, ao lado de praticamente todos os ministros, o presidente Jair Bolsonaro
admite ter pedido acesso a relatórios da PF e acusa Moro de barganhar uma vaga
no Supremo.
O Procurador-geral da República, Augusto Aras, pede
ao STF autorização para apurar se foram cometidos pelo presidente os crimes de
falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa,
prevaricação, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, denunciação
caluniosa e crime contra a honra.
27 de abril
O ministro Celso de Mello autoriza a abertura de um
inquérito para investigar as declarações do ex-ministro contra Bolsonaro.
Integrantes do MPF apontam que, como Aras pediu ao STF a apuração do crime de
denunciação caluniosa e contra a honra, o inquérito pode se voltar contra Moro,
caso as investigações não confirmem as acusações.
30 de abril
Celso de Mello determina prazo de cinco dias para o
ex-ministro da Justiça prestar depoimento sobre o caso. Pela decisão, Moro
deverá apresentar provas das acusações contra o presidente Jair Bolsonaro. O
decano do STF atendeu a pedido de parlamentares pela redução do prazo,
inicialmente até 60 dias.