segunda-feira, 13 de abril de 2020

DEPOIS DO CORONAVÍRUS O QUE VIRÁ?


O que virá depois?

As lições da crise imposta pela pandemia do coronavírus


Nada é definitivo, exceto a consciência da inevitabilidade da morte. “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. Crenças, convicções, certezas, ideologias, dogmas podem ser abalados pela evolução natural das coisas, pelo avanço da civilização e do conhecimento. Só o fantasma da morte nos traz a noção exata da transitoriedade da vida e da fragilidade de tudo que julgamos inabalável. Diante da morte, abandonamos a superficialidade das aparências e mergulhamos na essência da existência humana.
Diante de nossas fragilidades reveladas, talvez o melhor refúgio seja no terreno da arte, que nasce da sensibilidade humana. Nosso grande poeta itabirano escreveu certa vez: “Por que nascemos para amar, se vamos morrer? Por que morrer, se amamos? Por que falta sentido ao sentido de viver, amar, morrer?”. Nos escritos de Guimarães está lá: “Viver é um negócio muito perigoso”, “A gente morre para provar que viveu”. Um grande amigo meu gosta sempre de lembrar Clarice Lispector: “e bem sei que cada dia, é um dia roubado da morte”.
Na semana passada lancei a pergunta: depois da tempestade, virá a bonança? E concluí que tudo vai depender do aprendizado que fizermos na crise. Perguntei: será que vamos repensar nosso estilo de vida? Vamos contrapor vidas a empregos ou entender que o trabalho é uma ferramenta para uma vida feliz? Teremos uma nova percepção da natureza humana única em escala global para além de fronteiras, governos e nações? Seremos mais solidários ou egoístas? Entenderemos que diante da ameaça da morte, as distâncias entre ricos e pobres, poderosos e cidadãos comuns, se encurtam? Afinal, até o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, luta para sobreviver numa UTI. Seremos menos arrogantes e mais humildes politicamente para construirmos o diálogo necessário e os consensos em torno da solução dos verdadeiros problemas que atingem a população? Finalmente, vamos valorizar na medida certa o sistema de saúde, seja o público ou o privado?
Mas outras lições são possíveis. Com o aprendizado da quarentena, as formas de trabalho poderão avançar, criando mais espaço para o “ócio criativo”. Pensaremos nisso? As famílias, para o bem ou para o mal, estão tendo uma convivência muito maior, se conhecendo melhor, resgatando hábitos arquivados pela insanidade de nosso ritmo frenético neste mundo tão carente de resignificação. Será que os pais ficarão menos no trabalho e na internet, e curtirão e brincarão mais com seus filhos?
A hibernação involuntária, ditada por um vírus, certamente determinará uma queda expressiva das mortes no trânsito e as resultantes da violência. Será que aprenderemos um pouco sobre gentileza e respeito nas ruas e nas estradas ou pensaremos duas vezes antes de usar uma arma de fogo? As maiores e mais poluídas cidades do mundo estão registrando queda na poluição urbana. Será que após a crise revalorizaremos a questão da sustentabilidade ambiental?
Será que jovens e idosos terão um convívio mais harmônico, para além do choque de gerações, em homenagem ao padre italiano, Giuseppe Berardelli, que morreu ao abrir mão de um respirador em favor de uma pessoa mais jovem?
Hoje sentimos como nos é essencial o universo lúdico das artes e do esporte. Como nos fazem falta os gols de domingo, as cestas da NBA, a Olimpíada adiada, a ida à ópera ou ao show de rock ou de MPB, o teatro ou a novela interrompida. Será que olharemos a partir de agora nossos geniais desportistas e artistas com mais gratidão, respeito e admiração? E a ciência? Ficamos torcendo para que sejam descobertos logo uma vacina ou um remédio contra o coronavírus. Valorizaremos mais, muito além da estúpida politização da questão da cloroquina, os investimentos em ciência e tecnologia?
Como disse Bertrand Russel: “O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas cheias de certezas”. O que virá depois? Só o aprendizado dirá.

NOTÍCIAS DO CORONAVÍRUS NO BRASIL E NO MUNDO


Últimas notícias sobre o coronavírus no Brasil e no mundo
El País 





© SUSANA VERA (Reuters) Colegas choram em homenagem a enfermeiro morto por coronavírus em Leganés, região de Madri, nesta segunda-feira.

As fases mais duras da pandemia de coronavírus no Brasil serão nos meses de maio e junho, afirmou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na noite deste domingo.
Em entrevista na TV, ele defendeu fala única entre o presidente Jair Bolsonaro e a pasta da Saúde sobre o tema.“Ele [brasileiro] não sabe se escuta o ministro da Saúde ou se escuta o presidente”, disse Mandetta.
A Covid-19 provocou mais 99 mortes no Brasil nas últimas 24 horas e, neste domingo, o total de óbitos no país subiu para 1.223. De acordo com balanço do Ministério da Saúde, foram confirmadas mais 1.442 pessoas infectadas. O índice de letalidade do vírus Sars-Cov-2 no Brasil é de 5,5%.
Na Espanha, o número de novas mortes voltou a cair nesta segunda-feira: 517, o segundo número mais baixo desde 24 de março, confirmando tendência de desaceleração de óbitos e de casos no país.
Os destaques sobre a crise do coronavírus desta segunda:
  • Brasil tem 22.169 casos confirmados e 1.223 mortes por Covid-19.
  • Mandetta diz que brasileiro não sabe se escuta o ministro ou o presidente.

domingo, 12 de abril de 2020

CORTE DE SALÁRIOS - ACABAM CORTANDO SALÁRIOS DE QUEM GANHA MENOS


Redução de salários de servidores e políticos criaria caixa bilionário

Aprovação do corte para membros do Executivo, Legislativo e Judiciário, nas esferas federal, estadual e municipal, criaria um caixa de dezenas de bilhões de reais
Por Folhapress




Poder judiciário

O estado de calamidade aprovado em decorrência da pandemia da Covid-19 levou o governo a editar medida permitindo a redução provisória de até 70% no salário e na jornada na iniciativa privada, mas, até o momento, não há movimentação na cúpula dos três Poderes para replicar o plano no funcionalismo.
A aprovação do corte para políticos e servidores de Executivo, Legislativo e Judiciário, nas três esferas (federal, estadual e municipal), criaria um caixa de dezenas de bilhões de reais, mas, até o momento, só há ações isoladas para isso.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a se dizer aberto à discussão, mas recuou após o ministro Paulo Guedes (Economia), temendo uma depressão na economia, se manifestar contra.
O valor de um corte em salário e benefícios de servidores varia de acordo com os critérios a serem usados, sendo afetado ainda por uma série de condicionantes, como a exclusão do setor da saúde, que está na linha de frente no combate ao coronavírus, e de salários mais baixos.
Só no plano federal, dados do Siga Brasil mostram que vencimentos e vantagens dos servidores ativos civis (excluídos 13º, férias e Ministério da Saúde) somaram R$ 103 bilhões em 2019. Aplicando de forma geral uma redução de 25% do salário e da jornada, por três meses (a possibilidade mais branda reservada à iniciativa privada), haveria um caixa de R$ 6,4 bilhões.
Cálculo com base nos números do estudo "Atlas do Estado Brasileiro", do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que inclui área militar e todos os benefícios e contribuições sociais, aponta para algo em torno de R$ 36,8 bilhões em três meses, incluindo saúde, nos três Poderes e nas três esferas.
"Existem outros profissionais cuja renda a princípio também não será atingida pela crise: qualquer um que não perca o emprego, empresários e, parcialmente, famílias que vivem de renda do capital, as mais ricas. Creio que o mais justo seria distribuir esse custo na sociedade de acordo com a capacidade contributiva de cada um", afirma Sérgio Gobetti, economista do Ipea.
Algumas localidades estão tomando decisões por conta própria. A Assembleia Legislativa de São Paulo estuda um pacote de cortes. Na sexta-feira (10) o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou redução de 30% de seu salário por três meses. A reportagem acionou as secretarias de Fazenda e Planejamento de todo os estados.
Até a conclusão desta reportagem, apenas no Rio Grande do Sul havia redução de salários na cúpula do Executivo. Goiás avaliava a medida. No Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) baixou um decreto reduzindo temporariamente gratificações e adicionais. O governo de Pernambuco afirma que adotou ações para contingenciar gastos, o que dará uma folga de R$ 136 milhões até o fim do ano.
Na esfera municipal, em cidades como Jundiaí (SP), prefeito, vice e secretários terão diminuição salarial de 30% até dezembro. Segundo Jonas Donizette, prefeito de Campinas (SP) e presidente da Frente Nacional de Prefeitos, é difícil para alguns municípios enxugar a folha de pagamento. "Tenho 15 mil funcionários, e 9.000 são da Saúde. Vou cortar salário dos 9.000?"
O economista Marcelo Neri, ex-presidente do Ipea e diretor da FGV Social, também defende o corte de salários como ato simbólico. "O setor público não está acostumado a fazer sacrifícios".