Projeto 'bomba' de ajuda a Estados amplia dívidas em até R$ 65 bilhões
Adriana Fernandes e Camila Turtelli
BRASÍLIA - O projeto emergencial de socorro aos
Estados que está em discussão na Câmara dos Deputados autoriza os Estados a
aumentarem em 10% no estoque de suas dívidas, algo entre R$ 55 bilhões e R$ 65
bilhões em novos empréstimos, além do volume de R$ 565 bilhões do fim do ano passado.
© Felipe Rau/Estadão O presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia.
O cálculo foi feito pela Instituição Fiscal
Independente (IFI) do Senado. Além de suspender o pagamento de parcelas de
dívidas com a União e bancos, o projeto permite aos governadores a tomarem
crédito novo no limite de até 8% de suas receitas.
A votação do projeto foi interrompida na quarta, 8,
depois de uma guerra de números sobre o impacto da proposta que colocou de lado
opostos o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o governo federal.
Economistas alertaram para os efeitos nocivos do projeto para as contas
públicas para além do fim da calamidade pública devido à covid-19,
ultrapassando o ano de 2020. Durante a votação, começou a circular a informação
que artigo incluído no projeto facilitaria diretamente o Rio de Janeiro, o que
piorou o clima para a votação, Estado de Maia.
Articulador do projeto, o presidente da Câmara, que
pretendia concluir a votação da proposta ontem mesmo, decidiu suspender a
sessão. “A matéria tem ainda muita polêmica, muita gente querendo incluir temas
de municípios, outros querendo tirar”, admitiu Maia pouco antes de interromper
a sessão.
Depois de lido o texto, a equipe econômica calculou
que o impacto do projeto atingia R$ 159,7 bilhões (à tarde em versão anterior,
o projeto custava aos cofres públicos R$ 180 bilhões). Já o relator, deputado
Pedro Paulo (DEM-RJ), disse ao Estado que não passa de R$ 50 bilhões.
Maia também contestou os números do governo e dos
economistas Marcos Lisboa e Marcos Mendes, que ao longo do dia publicaram um
artigo no Brazil Journal, calculando o impacto em R$ 150 bilhões. Para
Maia, o impacto fiscal do novo projeto é de R$ 35 bilhões, mais um volume de
empréstimo na ordem de R$ 50 bilhões.
Segundo Pedro Paulo, o cálculo de impacto de R$ 180
bilhões feito pela equipe econômica inclui medidas já adotadas pelo governo
para os municípios e a suspensão de pagamento de dívidas durante a calamidade.
“São contas diferentes”, afirmou.
Para o diretor executivo da IFI, Felipe Salto, o
novo texto que se criou como alternativa ao Plano Mansueto, é muito ruim. “O
custo recairá sobre a União, passada a tempestade, e o problema fiscal será
maior do que antes da crise”, disse Salto.
Ele advertiu que a proposta permite a contratação
de dívida nova pelos Estados e municípios em até 8% da Receita Corrente Líquida
(RCL), sem olhar para nenhuma condição ou limite. “Agora, é hora de gasto
descentralizado financiado com dívida da União. O que precisamos agora não é
contratar mais custos e riscos para o futuro, uma herança que será muito
difícil de manejar”, ressaltou o diretor da IFI, que tem como missão avaliar o
impacto das medidas em tramitação no Congresso.
A ampliação dos limites de endividamento dos
Estados nos anos que se seguiram à crise financeira de 2008 levou à situação de
penúria e excesso de dívidas estaduais. Muitos dos recursos estaduais foram
utilizados para criar gastos permanentes. Mesmo antes da crise do coronavírus,
muitos governadores estavam sem dinheiro até mesmo para pagar salários.
Rio
Pedro Paulo negou com veemência que tenha incluído
no seu relatório “jabuti” para ajudar o seu Estado, o Rio de Janeiro, que está
em Regime de Recuperação Fiscal (RRF), programa de socorro do governo federal.