segunda-feira, 30 de março de 2020

COMO OS JAPONESES CONTROLAM O CORONAVÍRUS


Como o Japão mantém o coronavírus sob controle
Deutsche Welle

 
 
© picture- alliance/Zuma/Sopa/ V. Kam Apesar do coronavírus, japoneses não deixam de festejar o Hanani

Das cerejeiras que adornam as avenidas e parques japoneses, o coronavírus parecia estar bem longe no último fim de semana. Em todos os lugares, pessoas faziam piquenique sob o esplendor rosa, comiam, sorviam latas de cerveja e tiravam fotos diante dos brotos recém-florescidos.
“Hanami, o contemplar das flores, é a coisa mais importante no ano para nós, japoneses”, diz um animado funcionário do parque Ueno, em Tóquio..
O contraste com a Europa não poderia ser maior. O Japão tem apenas dez focos de covid-19, registrando nesta terça-feira (24/03) 41 mortos e 1.166 infecções confirmadas. Apenas algumas dezenas de novos contágios são adicionados diariamente às estatísticas.
Na verdade, esses números tinham tudo para explodir. Afinal, o país tem alta densidade demográfica, possui a maior proporção de idosos do mundo e um contato muito próximo com a vizinha China. Em janeiro, 925 mil chineses chegaram ao Japão, e em fevereiro, 89 mil.
No entanto, o governo demorou a tomar medidas mais rígidas. O primeiro-ministro Shinzo Abe fechou as escolas duas semanas antes das férias, e todos os eventos foram cancelados. Mas lojas e restaurantes permaneceram abertos, e não foram muitos os japoneses que começaram a trabalhar de casa.
Desconfiança do governo?
As estatísticas sobre a disseminação da covid-19 inicialmente levantaram suspeitas de que a verdade estava sendo varrida para debaixo do tapete.
“Na época do desastre nuclear em Fukushima, o governo primeiramente não quis admitir o derretimento dos reatores. Isso fez com que haja atualmente muita desconfiança em relação às declarações oficiais”, diz a socióloga Barbara Holthus, do Instituto Alemão de Estudos Japoneses, em Tóquio.
Apesar de ter capacidade para 6 mil testes por dia, o Japão fez apenas 14 mil exames, 20 vezes menos do que na Coreia do Sul, que foi duramente atingida pela pandemia.
“Apenas os pacientes com os sintomas mais severos são testados”, informa o virologista Masahiro Kami, do Medical Governance Research Institute. “O número de casos não registrados é, portanto, muito alto”, avalia. O cientista político Koichi Nakano acusa o governo japonês. “O primeiro-ministro Shinzo Abe quer retratar o Japão como um país seguro”, diz.
Tais críticas são rejeitadas pela equipe de especialistas que assessora o Ministério da Saúde japonês. Em vez de realizar testes em âmbito nacional, a tática consiste em buscar onde existe acúmulo de infecções. Por exemplo, quando a doença foi detectada em uma escola primária, a ilha de Hokkaido, no norte do país, fechou todas as escolas e declarou estado de emergência. Após três semanas, o vírus parou de se espalhar.
“O pequeno número de testes deve garantir que os recursos sanitários permaneçam disponíveis para casos mais graves”, analisa o cientista político alemão Sebastian Maslow, da Universidade de Tóquio.
Sem apertos de mão
Especialistas em Japão destacam outras características especiais: por um lado, o hábito de curvar-se para cumprimentar pessoas reduz o risco de infecção. Não há apertos de mão nem beijos no rosto. Por outro, desde a primeira infância, a população se atém, de maneira disciplinada, a regras básicas de higiene.
“Lavar as mãos, fazer gargarejos com solução desinfetante e usar máscaras fazem parte de nossa vida cotidiana. Para isso, não precisamos de coronavírus”, relata uma japonesa, mãe de duas crianças.


© Getty Images/AFP/P. Fong Crianças japonesas aprendem regras de higiene desde cedo

Por isso que foi fácil para a sociedade se adaptar à nova realidade a partir de fevereiro. Desde então, desinfetantes para as mãos estão disponíveis em todas as lojas e entradas de empresas. Usar máscaras tornou-se uma obrigação civil.
Mesmo antes do novo coronavírus, os japoneses consumiam 5,5 bilhões de máscaras por ano, uma média de 43 por pessoa. Essa cifra saltou tanto durante a pandemia que as lojas ficaram sem estoque de máscaras. Novas remessas passaram a ser vendidas de forma racionada. Antes da abertura do comércio, as pessoas já esperavam pacientemente formando fila na porta das lojas. Muitos estabelecimentos passaram a oferecer pedaços de tecido e filtros de café com instruções para que os clientes fizessem suas próprias máscaras.
“Os japoneses aparentemente entenderam rapidamente que e uma infecção pode permanecer sem sintomas”, afirma o executivo alemão Michael Paume, radicado no Japão. “Então, colocam a máscara para proteger os outros, a fim de não transmitir vírus.”
“Máscara reduz risco de contágio”
O uso em massa parece desacelerar os vírus. É o que indica a queda acentuada no número de pacientes com gripe nas sete semanas posteriores ao surgimento do vírus Sars-CoV-2.
“As máscaras reduzem a transmissão de gotículas com material viral pelos seus portadores”, constatam agora também cinco médicos ocidentais em um estudo, entre eles, Fabian Svara, do instituto de pesquisa Caesar, de Bonn, na Alemanha, e Matthias Samwald, da Universidade de Medicina de Viena.
Além do distanciamento social e da lavagem das mãos, o protetor para a boca pode desempenhar um papel importante na redução do contágio, segundo os cinco especialistas. Eles avaliam que o baixo número de infecções em países como o Japão comprova isso.
Em razão desse sucesso, o primeiro-ministro Shinzo Abe optou há uma semana por não declarar estado de emergência nacional. Desde então, os japoneses estão voltando lentamente à vida cotidiana normal. As escolas de reforço pedagógico voltaram a funcionar, as crianças sentam-se a uma determinada distância umas das outras em salas ventiladas. Os primeiros parques de diversões abrem, mas quem apresenta febre tem que ficar do lado de fora.
O governo, porém, teme uma segunda onda de infecções. Por isso, no início do novo ano escolar, em abril, só as escolas em áreas sem registro de casos devem reabrir. Eventos maiores continuam proibidos.
No entanto, a preocupação principal está no perigo apresentado por visitantes estrangeiros. Depois dos sul-coreanos, desde sábado são os cidadãos da União Europeia (UE) que estão impedidos de entrar no país. Só aqueles residentes no Japão podem entrar, mas todos os que chegam da Europa devem ficar em quarentena por 14 dias. Segundo informações não oficiais, as medidas devem vigorar inicialmente até o final de abril.

domingo, 29 de março de 2020

ENSINO A DISTÂNCIA (EAD) É A SOLUÇÃO PARA AS UNIVERSIDADES DURANTE O CORONAVÍRUS


Instituições de ensino superior migram para ensino a distância

Agência Brasil








Instituições de ensino superior recorrem à educação a distância para manter o ritmo de estudos em locais onde as faculdades e universidades não estão funcionando, para evitar a propagação do novo coronavírus (covid-19). Esta semana, o Ministério da Educação (MEC) publicou portaria autorizando a modalidade em cursos presenciais, ressaltando que a qualidade das aulas deve ser mantida. A Agência Brasil conversou com especialistas para esclarecer como as instituições devem se preparar e quais os direitos que os estudantes têm neste momento.
A portaria publicada pelo MEC na quarta-feira (18) autoriza que as aulas sejam transmitidas de maneira remota. Para isso, o MEC deve ser comunicado, e as instituições que optarem pela oferta a distância devem se preparar. As regras não valem para práticas profissionais de estágios e de laboratório, que só podem ser realizadas presencialmente.
Na quinta-feira (19), o MEC autorizou também que sejam dadas a distância as disciplinas teórico-cognitivas do primeiro ao quarto ano dos cursos de medicina. Até então, nenhuma aula desses cursos poderia ser dada por meios remotos.
"É importante que se entenda que essas medidas são provisórias", diz Luiz Curi, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), que é a entidade responsável, entre outras coisas pelo cumprimento da legislação educacional e por zelar pela qualidade do ensino. "A instituição tem que fazer um esforço complementar no sentido de permitir o cumprimento da portaria com qualidade. Todo mundo tem que fazer um esforço extra para que as coisas ocorram na normalidade".
Curi ressalta que as normas para metodologias da educação a distância continuam em vigor. Mas, em resposta a consulta feita pela Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (Abmes), o CNE esclareceu que no que diz respeito à pandemia do covid-19, as decisões tomadas no âmbito do Comitê Operativo de Emergência instituído pelo MEC, "sobrepõem-se a quaisquer outras manifestações inerentes ao sistema federal de ensino", ou seja, as regras podem ser alteradas nos próximos dias.
Orientações para as aulas
Durante a semana, o Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior, realizou uma série de webinários para tirar dúvidas sobre a migração para as aulas online. O diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, destacou que uma possibilidade é de as instituições terem uma equipe de apoio para orientar professores na elaboração de novos planos de aulas e no desenvolvimento de estratégias para cumprir o programa. As opções são muitas, como a utilização de plataformas de educação a distância (EaD), aulas ao vivo, o envio e recebimento de exercícios, vídeos e áudios por WhatsApp, entre outras.
"Essas possibilidades mantêm os professores trabalhando e em contato com os alunos. Eles vão compreender que não se está transportando as aulas só com plataforma Ead, mas fazendo algo onde os professores estão junto com os estudantes", diz.
Capelato orienta que as decisões das instituições sejam pensadas, organizadas em um plano e comunicadas aos estudantes. "Os alunos precisam entender claramente as regras, entender como vai ficar. Deixar claro que segue o mesmo ensino, só muda o meio. O estudante continua com os professores à disposição".
O diretor presidente da Abmes, Celso Niskier, que também acompanha a situação e orienta as instituições privadas, complementa: "O que é importante é que as instituições, seja pelas aulas remotas ou por reposição [posterior das aulas], cumpram o programa das disciplinas, para que não haja prejuízo acadêmico para os alunos. Isso garante que a gente enfrente a crise sem maiores turbulências".
Para os estudantes, o cofundador da Curseria, plataforma de cursos online, Celso Robeiro, recomenda que tenham uma rotina bem definida, para conseguir se organizar e aproveitar melhor as aulas. "A maioria das pessoas está em casa. É difícil criar uma rotina de trabalho com o filho, com o cachorro, etc. O que a gente recomenda é que a pessoa tente seguir o mais próximo da rotina normal. Que tome banho, se arrume, que não fique de pijama achando que está de férias", diz.
Instituições federais
Em universidades e institutos federais, o MEC informou na sexta-feira (20) que ampliou a capacidade de webconferências. Agora, mais de 123 mil estudantes e professores poderão ser beneficiados. Antes, eram 82 mil os que usavam esses recursos.
Além disso, terão acesso a 15 salas de reuniões simultâneas de webconferência - uma unidade pode receber até 75 participantes. Antes, eram 10 salas simultâneas. As salas virtuais podem ser acessadas por computadores pessoais e smartphones.
A capacidade total do serviço de 1,7 mil acessos simultâneos passa, agora, para 10 mil. O MEC anunciou que aumentou também a capacidade do serviço de videoconferência de 10 para 30 salas virtuais, com até 15 pontos remotos em cada sala. Para realizar as reuniões, de acordo com a pasta, basta que o usuário se conecte a um computador, a uma televisão disponível na sua instituição, utilizando um navegador web.
Direitos dos estudantes
Segundo o diretor de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Britto, não há ainda razões para os estudantes pedirem o dinheiro de volta, a redução, ou não pagarem as mensalidades. No caso das aulas terem sido suspensas, elas ainda poderão ser repostas.
"A gente tem que pensar que a despesa das instituições de ensino se mantém. Elas estão mantendo o pagamento dos professores", diz e acrescenta: "Temos que considerar que estamos passando por um momento inédito na história do mundo".
Ele ressalta, no entanto, que cabe às instituições buscar alternativas de qualidade para que não sejam questionadas posteriormente.
"Não há motivos para professores, universidades e instituições de ensino não comunicarem e não orientarem os alunos a respeito de tudo que podem fazer. Uma coisa que podemos dizer, aquela faculdade que, neste momento, não está buscando alternativas para se comunicar com os alunos, para orientar estudos a distância, atividades e exercícios, elas terão sérios problemas de reclamação dos consumidores na medida em que não há justificativa para não fazer isso", diz, acrescentando que até mesmo as redes sociais podem ser usadas para o ensino.
De acordo com o último Censo da Educação Superior, dos cerca de 8,5 milhões de estudantes universitários no país, 6,4 milhões, o equivalente a aproximadamente 75% dos estudantes estão matriculados em cursos presenciais. Segundo monitoramento divulgado pela Abmes, há, em todos os estados e no Distrito Federal, interrupções de aulas presenciais em instituições públicas e privadas de ensino superior.

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