sexta-feira, 20 de março de 2020

DOENÇA DO VÍRUS IMPEDE DE FAZER OS FUNERAIS


Vítimas do coronavírus são enterradas sem funerais em todo o mundo

Amanda de Oliveira Souza
Hoje em Dia - Belo Horizonte



Abatido pelo coronavírus aos 83 anos de idade, Alfredo Visioli se despediu de sua vida longa com uma cerimônia curta em um cemitério próximo de Cremona, sua cidade natal no norte da Itália.
"Eles o enterraram assim, sem um funeral, sem seus entes queridos, só com uma bênção do padre", disse sua neta, Marta Manfredi, que não pôde comparecer. Como a maior parte dos familiares do falecido, e do país, ela está confinada ao lar.



Rituais antigos para homenagear os mortos e confortar os enlutados estão sendo abreviados ou descartados pelo medo de aumentar o contágio

"Quando tudo isso passar", promete, "nós lhe daremos um funeral de verdade".
Em qualquer local que o coronavírus tenha atingido, independentemente de cultura ou religião, rituais antigos para homenagear os mortos e confortar os enlutados estão sendo abreviados ou descartados pelo medo de aumentar o contágio.
O vírus, que já matou quase 9 mil pessoas em todo o mundo, está reformulando muitos aspectos da morte, da objetividade de se lidar com corpos infectados à observância das necessidades espirituais e emocionais dos que ficam.
Na Irlanda, a autoridade de saúde está aconselhando os funcionários de necrotérios a colocarem máscaras em cadáveres para diminuir até o menor risco de infecção.
Na Itália, uma empresa de funerais está usando links de vídeo para permitir que famílias em quarentena vejam um padre abençoar o falecido. Na Coreia do Sul, o medo do vírus está provocando uma redução tão grande no número de pessoas nos funerais que empresas que servem refeições nestas ocasiões sofrem para se manter.
Há pouco tempo para cerimônias em cidades muito atingidas, como Bergamo, ao nordeste de Milão, onde os necrotérios estão lotados e o crematório está funcionando em tempo integral, disse Giacomo Angeloni, autoridade local a cargo dos cemitérios municipais.
A Itália já relatou quase 3 mil mortes decorrentes da Covid-19, a doença causadas pelo coronavírus – a cifra mais alta fora da China, onde o vírus surgiu. O Exército enviou 15 caminhões e 50 soldados a Bergamo na quarta-feira para transferir corpos para províncias menos sobrecarregadas.
Uma proibição de aglomerações acabou com os rituais essenciais que nos ajudam a passar pelo luto, disse Andy Langford, principal chefe de operações da Cruse Bereavement Care, instituição de caridade britânica que oferece cuidados e aconselhamento gratuito.
Mão de obra extra
No Irã, assim como no norte da Itália, funcionários de hospitais e necrotérios lidam com uma sobrecarga de corpos. O vírus já matou 1.284 pessoas e infectou milhares na nação, de acordo com a televisão estatal.
As autoridades contrataram mais gente para cavar túmulos, disse o administrador do cemitério Behesht-e Zahra de Teerã. "Trabalhamos dia e noite", contou. "Nunca vi uma situação tão triste. Não há funerais."
A maioria dos corpos chega de caminhão e é enterrada sem o ritual de lavagem que o islamismo dita, explicou.
Mortes provocadas pela Covid-19 têm sido registradas como ataques cardíacos ou infecções pulmonares, disse o funcionário de um hospital de Kashan, cidade localizada a cerca de três horas de carro de Teerã, à Reuters.
"As autoridades estão mentindo a respeito do total de mortos", afirmou.
Risco de infecção
Em vários países, levas de infecções surgiram depois de funerais. Na Coreia do Sul, onde mais de 90 pessoas morreram, o governo exortou as famílias de vítimas da Covid-19 a cremarem seus entes queridos primeiro e realizarem os funerais mais tarde.
Os funerais coreanos costuma acontecer nos hospitais e envolvem três dias de orações e banquetes.
Desde o surgimento do surto, o número de participantes de funerais despencou 90%, independentemente de o falecido ter o vírus ou não, disse Choi Min-ho, secretário-geral da Associação Coreana de Funerais.
As autoridades de Wuhan, o epicentro da epidemia na China e o local da maioria das mortes, identificou rapidamente o negócio dos funerais como uma fonte de transmissão em potencial.
No final de janeiro, a agência civil local ordenou que todos os funerais de vítimas confirmadas do Covid-19 ficassem a cargo de uma única agência funerária do distrito de Hankou. As cerimônias de luto, que normalmente são eventos sociais agitados na China, foram limitadas, assim como todas as outras aglomerações públicas.
No mês passado, um funcionário de uma agência funerária de Hankou que só se identificou com Huang escreveu um ensaio que circulou nas redes sociais. Ele disse que seus colegas de profissão estão tão sobrecarregados quanto os médicos da cidade, mas que testemunharam menos reconhecimento.
Doença cruel
Também na Espanha uma grande leva de casos foi ligada a um funeral em Vitória, cidade do norte, no final de fevereiro. Ao menos 60 pessoas que estiveram presentes foram diagnosticadas após o evento, segundo reportagens da mídia local.
Com mais de 600 mortes, a Espanha é o segundo país mais assolado da Europa, só ficando atrás da Itália, e agora a maioria das pessoas está isolada em casa.
Referindo-se a estas restrições, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, classificou o coronavírus como uma doença "cruel" que paralisa a necessidade humana de socialização
Na Irlanda, por enquanto ainda se permite até 100 convidados em todos os funerais, mas a maioria das famílias está optando por pequenas cerimônias particulares e incentivando outros a expressarem seus pêsames pela internet em sites como o RIP.ie, onde obituários e convites a funerais costumam ser publicados.

COLUNA ESPLANADA DO DIA 20/03/2020


Panelaço de Dória

Coluna Esplanada –Leandro Mazzini








No dia seguinte ao panelaço contra o presidente Jair Bolsonaro que soou como alarme à equipe palaciana, numa estratégia política o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), lançou um pacote de medidas para segurar a economia do Estado e se posicionou, naturalmente, como maior contraponto eleitoral ao chefe da nação com vistas para 2022. Alvo de críticas pelo perfil propagandista, Dória mudou o tom. Mandou fechar shoppings, pediu o Governo para manter aeroportos abertos por serviços essenciais, e agradou ao mercado ao lançar ações que vão de adiamento de cobranças em protestos a estímulos ao comércio.

Contraponto 
Os elogios de João Dória, de Rodrigo Maia e de Dias Toffoli (STF) à imprensa não foram trato. Mas saíram como provocação direta a Bolsonaro, que ataca a mídia.
Baixa imperial
Os Príncipes Dom Antonio, Dom Francisco e Dom Alberto de Orleans e Bragança, da família imperial, testaram positivo para coronavírus e estão em tratamento. Isolados.
Ei, ei!
Pegos de surpresa pela Febraban, os cinco maiores bancos buscam soluções para evitar fila na porta para adiamento da cobrança de empréstimos por 60 dias. A tecnologia do BB, por exemplo, corre para atualizar o app a fim de oferecer o serviço online.
Corona & BPC
O Governo luta para manter o veto do presidente ao aumento do Benefício de Prestação Continuada que vai custar R$ 20 bilhões a mais. Chegou a recorrer a uma liminar do ministro Bruno Dantas, do TCU (surpresa!), que suspendeu a votação do Congresso (o STF deve derrubar). Mas esse dinheiro é crucial para movimentar a economia nas classes C e D. Deveria até compor o pacote de emergência do ministro Paulo Guedes.
Proporção fatal
A conta na Regra de 3: Na China, foco da pandemia, o coronavírus matou 0,0002% da população em dois meses. Na Itália, matou 0,005% da população em 15 dias.
Virose digital
Termo desconhecido na busca do Google até início de janeiro, o covid-19 já tinha 5,7 bilhões de citações até ontem à noite. Surpresos? ‘Coronavírus’ tem 6,25 bilhões.
Fila
O comércio de produtos importados vai sentir. Os estivadores paralisaram na quarta-feira suas atividades no Porto de Santos, maior porta de entrada dos produtos.
Nas altura$
Efeito do dólar acima de R$ 5 na praça: Um brasiliense abriu o cofre para salvar as contas do mês, e ficou com as ‘verdinhas’ na carteira. Nenhuma casa de câmbio quer comprar a moeda. Pior: o comércio não aceita pagamento em dólar.

Seu sinal
Não é de hoje que as teles tratam o consumidor como se fizessem um favor. Protegidas por lei (que ajudaram a forjar no Congresso), cobram caro o plano de internet e dados, mas podem entregar até 80% do sinal, embora você pague 100% do pacote. Sabia disso?
Ambulantes S.A.
O Rio de Janeiro está largado aos camelôs, comentou um carioca leitor. Não é de hoje, a despeito de fiscalização pontual. Mas piorou bem. Em 2003, este repórter decidiu andar por toda a extensão da Av. Rio Branco. Contou 440 camelôs dos dois lados da calçada.
Te cuida, balcão
A Drogasil, cuja turma do balcão (em Brasília) reclama da ausência de máscaras para atender, informa que “uso individual é medida fundamental a partir do momento em que passar a ocorrer transmissão comunitária” Hein?! Avisa que analisa diariamente cada uma das 354 lojas no país.
Ponto Final
Desgraça pouca é bobagem. NASA ainda descobre asteróide de 4,5 km de diâmetro em direção à Terra. Mas jura que não colide.