Qual o tamanho do poderio militar do Irã
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Getty Images Os mísseis iranianos são uma peça-chave no aparato militar do país
O Irã prometeu uma retaliação depois que seu
comandante militar mais poderoso foi morto em um ataque aéreo dos Estados
Unidos no aeroporto de Bagdá (Iraque), na quinta-feira (2/1).
"Vingança severa aguarda" aqueles por
trás do ataque ao general Qasem Soleimani, disse o líder supremo do Irã, o
aiatolá Ali Khamenei. Neste sábado, uma multidão se reuniu em Bagdá em uma
procissão fúnebre para Soleimani, antes de seu corpo retornar ao Irã.
Para Washington, Soleimani era um homem que tinha o
sangue de americanos nas mãos. Mas, no Irã, ele era popular. Na prática, foi
Soleimani quem liderou a reação de Teerã contra a ampla campanha de pressão e
sanções impostas pelos EUA.
O que mais surpreende não é que Soleimani estivesse
na mira do presidente americano, Donald Trump, mas por que os EUA decidiram
atacá-lo justamente agora.
Ao explicar a decisão de matar Soleimani, o
Pentágono se concentrou não apenas nas ações
passadas do general, mas insistiu que se tratava de uma medida de
intimidação e prevenção.
O general, diz o comunicado do Pentágono, estava
"desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas e militares dos
EUA no Iraque e em toda a região".
Mas, diante de uma escalada de tensão e das
promessas de vingança, o que sabemos sobre o poderio militar do Irã?
Quão grande é o
Exército do Irã?
Estima-se que existam 523 mil iranianos em uma
série de funções militares, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos
Estratégicos, um centro de estudos britânico.
Isso inclui 350 mil no Exército regular e pelo
menos 150 mil na Guarda Revolucionária iraniana. Força Aérea e Marinha não são
braços separados, como no Brasil e em outros países. No Irã, estão subordinadas
ao Exército.
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Getty Images A Guarda Revolucionária Iraniana tem sua própria marinha e força
aérea e supervisiona os bra;os armados estratégicos do Irã
Há mais 20 mil oficiais em serviço nas forças
navais da Guarda. Esse grupo opera vários barcos-patrulha armados no Estreito
de Ormuz, local de vários confrontos envolvendo navios-tanque de bandeira
estrangeira em 2019.
A Guarda Revolucionária iraniana também controla a
unidade Basij, uma força voluntária de repressão à dissidência interna. Essa
unidade pode potencialmente mobilizar muitas centenas de milhares de pessoas.
A Guarda foi criada há 40 anos para defender o
regime islâmico no Irã e se tornou uma importante força militar, política e
econômica por si só.
Apesar de ter menos tropas do que o Exército
regular, a Guarda é considerada a força militar de maior autoridade no Irã.
E as operações no
exterior?
A Força Quds, que era liderada pelo general Soleimani,
conduz operações secretas no exterior para a Guarda Revolucionária iraniana e
reporta diretamente ao aiatolá Ali Khamenei. Acredita-se que ela seja formada
por cerca de 5 mil homens.
A unidade foi enviada à Síria, onde orientou
elementos militares leais ao presidente sírio Bashar al-Assad e milícias xiitas
armadas que lutavam ao seu lado. No Iraque, apoiou uma força paramilitar
dominada pelos xiitas que ajudou a derrotar uma parte do grupo autodenominado
Estado Islâmico (que é um grupo jihadista sunita).
No entanto, os EUA afirmam que a Força Quds tem um
papel mais amplo, fornecendo financiamento, treinamento, armas e equipamentos
para organizações que Washington designou como grupos terroristas no Oriente
Médio. Esses incluem o movimento Hezbollah, do Líbano, e a Jihad Islâmica, da
Palestina.
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Getty Images O valor das importações de defesa do Irã entre 2009 e 2018 foi
equivalente a apenas 3,5% das importações da Arábia Saudita no mesmo período
Problemas econômicos e sanções internacionais
prejudicaram as importações de armas do Irã, que são relativamente pequenas em
comparação com as de outros países da região.
O valor das importações de defesa do Irã entre 2009
e 2018 foi equivalente a apenas 3,5% das importações da Arábia Saudita no mesmo
período, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, de
Estocolmo.
A maioria das importações iranianas vem da Rússia e
o restante da China.
O Irã tem mísseis?
Sim — as capacidades de mísseis do Irã são a
peça-chave de suas proezas militares, dada a relativa falta de poder aéreo em
comparação com rivais como Israel e Arábia Saudita.
Um relatório do Departamento de Defesa americano
descreve as forças dos mísseis do país como as maiores do Oriente Médio,
compreendendo principalmente mísseis de curto e médio alcance.
Ele também diz que o Irã está testando uma
tecnologia espacial para permitir o desenvolvimento de mísseis
intercontinentais, que podem viajar muito mais longe.
No entanto, o programa de mísseis de longo alcance
foi paralisado pelo Irã como parte de seu acordo nuclear de 2015 com países
estrangeiros, segundo o gabinete estratégico do Royal United Services Institute
(Rusi). O projeto, porém, pode ter sido retomado, dada a incerteza em torno
desse acordo.
De qualquer forma, muitos alvos na Arábia Saudita e
no Golfo estariam ao alcance dos atuais mísseis de curto e médio alcance do
Irã, e possivelmente alvos em Israel — aliado americano.
Em maio de 2019, os EUA ampliaram a instalação de
sistemas de defesa antimíssil Patriot no Oriente Médio, à medida em que as
tensões com o Irã aumentavam. Esse sistema é capaz de combater mísseis balísticos,
mísseis de cruzeiro e aeronaves avançadas.
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BBC
Quais são as suas
armas não convencionais?
Apesar de viver anos sob sanções, o Irã também
conseguiu desenvolver seus recursos para operar drones.
No Iraque, os drones iranianos são usados desde
2016 na luta contra o Estado Islâmico. O Irã também entrou no espaço aéreo
israelense com drones armados operados a partir de bases na Síria, segundo o
Rusi.
Em junho de 2019, o Irã abateu um drone de
vigilância dos Estados Unidos, alegando ter violado o espaço aéreo iraniano
sobre o Estreito de Ormuz.
Outro aspecto do programa de drones do Irã é sua
disposição de vender ou transferir sua tecnologia de drones para seus aliados e
representantes na região, diz Jonathan Marcus, analista de defesa e diplomacia
da BBC.
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Getty Images Os Estados Unidos acusaram o Irã de fornecer aos rebeldes houthis
veículos aéreos não tripulados
Em 2019, ataques com drones e mísseis danificaram
duas importantes instalações petrolíferas sauditas. Tanto os EUA quanto a
Arábia Saudita vincularam esses ataques ao Irã, embora Teerã tenha negado
qualquer envolvimento e apontado para uma reivindicação de responsabilidade dos
rebeldes no Iêmen.
O Irã tem capacidade
cibernética?
Após um grande ataque cibernético em 2010 às
instalações nucleares iranianas, o Irã aumentou sua capacidade na área.
Acredita-se que o Corpo Revolucionário da Guarda
Islâmica (IRGC, por sua sigla em inglês) tenha seu próprio comando cibernético,
trabalhando em espionagem comercial e militar.
Um relatório militar dos EUA em 2019 apontou que o
Irã tem como alvo empresas aeroespaciais, empresas de defesa, empresas de
energia e recursos naturais e empresas de telecomunicações para operações de
espionagem cibernética em todo o mundo.
Também em 2019, a Microsoft disse que um grupo de
hackers "originário do Irã e vinculado ao governo iraniano" teve como
alvo uma campanha presidencial dos EUA e tentou invadir as contas de
funcionários do governo americano.