Johnson ameaça expulsar conservadores contrários a ele sobre o Brexit
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Reuters Especula-se que Johnson tenha planos de fazer o Brexit acontecer para
convocar eleições em seguida
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson,
ameaçou nesta 2ª feira (2.set.2019) expulsar os parlamentares do Partido
Conservador que se unirem à oposição trabalhista e tentarem bloquear uma
provável saída sem acordo do país da UE (União Europeia).
O aviso surge em uma semana que deve
ser decisiva para o processo do Brexit, enquanto algumas das principais figuras
do partido governista se esforçam para encontrar um meio de impedir que Johnson
force o chamado hard Brexit em 31 de outubro, quando se encerra o prazo
dado por Bruxelas para evitar um cenário traumático para ambos os lados.
Johnson insiste em manter em aberto a
opção do no deal (divórcio sem acordo com a UE), na tentativa de forçar
Bruxelas a fazer concessões de última hora e aceitar um acordo que seja mais
favorável economicamente ao Reino Unido.
Ainda nesta 2ª feira, Johnson convocou seu gabinete
para uma reunião emergencial para tratar de uma possível antecipação das
eleições parlamentares no Reino Unido. A ideia de antecipar o pleito foi o
assunto do dia entre o meio político em Londres. Johnson disse oficialmente que
é contra uma eleição antecipada.
“Eu não quero uma eleição, vocês não
querem uma eleição”, afirmou. Ao mesmo tempo, o premiê
deu sinais de que pode contemplar a possibilidade de convocar um pleito
antecipado caso os deputados consigam bloquear a opção de deixar a UE sem um
acordo até o fim de outubro. Segundo a a imprensa britânica, Johnson avalia que
uma nova eleição seria preferível a mais um adiamento do Brexit.
Enquanto Johnson falava em Downing
Street 10, a sede do governo britânico, era possível ouvir gritos de
manifestantes que entoavam “detenham o golpe!” nas proximidades.
A decisão do premiê, na semana passada, de
suspender as atividades do Parlamento britânico por cinco semanas, a partir de
10 de setembro, acirrou ainda mais as tensões e despertou uma onda de protestos
pelo país. Muitos acusam Johnson de atentar contra a democracia.
A manobra deixa os parlamentares pró-UE com poucos
dias para tentar impedir uma ruptura dolorosa com a União Europeia. Em recesso
de verão desde 25 de julho, o Parlamento britânico retoma suas atividades nesta
3ª feira (3.set) e será suspenso novamente na próxima 3ª feira (10.set).
Desde que assumiu o cargo em julho, após a renúncia
de sua antecessora, Theresa May, Johnson promoveu uma reviravolta nas tradições
políticas do país e inflamou os ânimos tanto das correntes favoráveis quanto
das contrárias ao Brexit.
A estratégia de bater de frente com seus opositores
internos e de apostar em blefes contra Bruxelas fez com que a popularidade de
seu partido voltasse a crescer, segundo pesquisas de opinião.
Os conservadores, contudo, possuem uma frágil
maioria no Parlamento. Muitos vêm especulando que Johnson tenha planos de fazer
o Brexit acontecer de qualquer maneira para, logo em seguida, convocar eleições
e se consolidar no poder.
Detê-lo seria algo difícil para algumas lideranças
de seu partido, como o ex-ministro das Finanças Philip Hammond e o ex-titular
da Justiça David Gauke, que manobram nos bastidores para impedir a estratégia
do primeiro-ministro.
Um grupo de cerca de 15 parlamentares
conservadores contrários ao no deal tinha uma reunião marcada com
Johnson para esta 2ª feira, num esforço para evitar uma divisão no partido.
Mas, segundo o jornal britânico Financial Times, o premiê decidiu “abruptamente”
cancelar o encontro, após se reunir com sua equipe de governo.
“A direita linha-dura tomou conta do
Partido Conservador”, disse o ex-ministro Gauke à emissora
britânica BBC, mencionando uma “obsessão quase religiosa” da ala
mais à direita em relação ao cenário do no deal. Ele acusa Johnson de
instigar os membros do partido a votarem contra o governo para que sejam
excluídos, em favor de parlamentares que apoiem a versão mais extrema do
Brexit.
Os partidos da oposição querem aprovar uma lei que
exija do governo a apresentação de um novo acordo com a UE ou force um pedido
de extensão da permanência britânica no bloco para além da data de 31 de
outubro.
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy
Corbyn, acusa Johnson de “sequestrar” o resultado do referendo de 2016
em que os britânicos optaram pelo Brexit. “Trabalhamos com os outros
partidos para fazer todo o necessário para remover nosso país da beira do
abismo”, afirmou.
Analistas avaliam que, sem um acordo, o Reino Unido
poderá enfrentar um cenário caótico com a imposição de tarifas e controles
aduaneiros entre o país e os demais 27 Estados-membros da UE, potencialmente
causando uma derrubada na cotação da libra e jogando o país numa recessão.
Bruxelas e Londres já parecem contar com o cenário
de um Brexit sem acordo como o mais provável fim de uma parceria de quatro
décadas entre as duas partes.
O negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel
Barnier, disse não estar otimista sobre a possibilidade de evitar uma saída sem
acordo.
Ele afirma que o chamado backstop
irlandês –uma solução encontrada para evitar uma fronteira dura entre o
território britânico da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que integra
o bloco europeu– seria o “máximo de flexibilidade que a UE pode oferecer”.
A fronteira entre as Irlandas é um dos pontos mais complexos do acordo
negociado entre as partes.
Barnier disse que o backstop
entrará em vigor se Londres e Bruxelas tiverem dificuldade de finalizar um
relacionamento comercial futuro. Através do mecanismo, o Reino Unido integraria
um território alfandegário comum com a UE, mantendo, de fato, a Irlanda do
Norte no mercado único, o que, para Jonhson, seria algo inaceitável.
RC/JPS/afp/ap/dpa