sábado, 10 de novembro de 2018

COLUNA ESPLANADA DO DIA 10/11/2018


O abate do ruralista

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini 









O presidente Jair Bolsonaro (PSL) decidiu antecipar o anúncio da deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) para o comando do Ministério da Agricultura para estancar a crise que preocupava a equipe de transição. Nos bastidores, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia, passou a minar nomes que contavam com a simpatia do futuro ministro da Casa Civil, Ônix Lorenzoni (DEM-RS). Entre eles, o de Tereza Cristina, do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) e outros da bancada ruralista. A estratégia de Nabhan era desgastar concorrentes e pavimentar seu nome para a chefia da pasta.

Lobby 
Como esperado, Bolsonaro seguiu a indicação da ala de Lorenzoni. Antes da escolha de Tereza Cristina, Nabhan chegou a convocar amigos que comandam entidades do agro para apoiá-lo publicamente. Foi prontamente atendido e contou, em vão, com o lobby de 273 associações do campo que integram o Movimento Abril Verde e Amarelo.
Pavão
No auge da guerra com o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Nabhan disparou duras críticas em grupos de WhatsApp: “Já vi muito pavão virar espanador”, escreveu o ruralista, além de chamar Ônix de prepotente e despreparado.

Bloco na rua
O deputado Carlos Sampaio (SP) já botou o bloco na rua para tentar se eleger como novo líder do PSDB na Câmara. Organizou um almoço na quarta-feira, 7, em Brasília, onde reuniu Dória, Aécio e deputados federais.

Presidente-propaganda
Depois do posto Ipiranga, agora o Leite Moça. Bolsonaro colocou em evidência sua receita de pão francês recheado com leite condensado. O que virá mais nas palavras e atos do presidente-propaganda?

Açodamento 1
Alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), entrou em contradição ao pautar repentinamente, sem consultar os colegas, projetos que reajustaram os salários para ministros do STF e para o procurador-geral da República. Em agosto, o emedebista dissera que os projetos iriam ser analisados sem “açodamento”.
Açodamento 2 
À época, Eunício recusou-se, inclusive, a discutir as propostas nas sessões do esforço concentrado do Senado durante as eleições. “Isso (inclusão dos projetos na pauta) não foi discutido com nenhum líder”, queixou-se pelos corredores da senadora Gleisi Hoffmann (PT).

Quórum
Com 10 deputados presos, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) terá dificuldades em fechar quórum para cumprir a agenda de votações definida na terça-feira, 6, dois dias antes da Operação Furna da Onça.

Calamidade 
Um das prioridades da pauta da “propi-nolândia” <EL-5>_</EL> como definiu o procurador Carlos Aguiar <EL-5>_</EL> é a votação do projeto que prevê a prorrogação da situação de calamidade pública financeira do Estado, mantida, por enquanto, para 4 de dezembro.

Sistema S 
O tempo anda fechado para os lados do Sistema S. Dias atrás, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmou que entidades como Sebrae, Sesi, Sesc e Senai serão profundamente reformuladas. Na quarta, 7, foi a vez de a Comissão de Fiscalização Senado aprovar requerimento para que o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, apure junto ao Banco Central e ao Coaf se os dirigentes da CNI, da CNT, da CNA e da CNT têm contas bancárias no exterior, declaradas ou não.

Saque$ 
O requerimento é do tucano Ataídes Oliveira, que também quer saber se entidades fizeram saques superiores a R$ 50 mil, em dinheiro, entre 2014 e 2018. “Já passou da hora de se abrir a caixa-preta dos recursos bilionários recebidos por essas entidades”, diz o senador.
Esplanadeira
A cantora Hanna fará homenagem pelos 115 anos de Ary Barroso, em apresentação da música Aquarela do Brasil, dia 19, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

3 MILHÕES DE VENEZUELANOS JÁ DEIXARAM O PAÍS


3 milhões de venezuelanos já deixaram o país, dizem agências da ONU

Estadão Conteúdo









Agências da ONU anunciaram nesta quinta-feira (8) que o número de refugiados e migrantes venezuelanos já chega à marca de 3 milhões de pessoas. Os dados foram divulgados pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) e pela Organização Internacional de Migrações (OIM).

Ao final de julho, a ONU estimava que 2,3 milhões de venezuelanos já estavam fora do país. No último dia de setembro, a organização ampliou sua estimativa para 2,6 milhões de venezuelanos - naquele momento, 5 mil pessoas por dia tomavam a estrada em direção aos países vizinhos.

Hoje, apenas na América Latina, os venezuelanos já somariam 2,4 milhões de pessoas, enquanto países como Espanha, Canadá, EUA, entre outros, teriam acolhido outros 600 mil cidadãos do país caribenho. A ONU não divulgou o número de venezuelanos deixando o país a cada dia.

A mais quantidade de venezuelanos está na Colômbia, para onde se dirigiram um milhão de venezuelanos que deixaram a crise econômica, social e política do governo de Nicolás Maduro. Outros 500 mil estão no Peru, contra 220 mil no Equador, 130 mil na Argentina e 100 mil no Chile. O Brasil aparece apenas na sexta colocação, com 85 mil venezuelanos.

"Os países na América Latina mantiveram em grande parte uma política de portas abertas para esses refugiados e migrantes da Venezuela. Mas sua capacidade de recepção está severamente afetada, exigindo uma resposta mais imediata e robusta da comunidade internacional, se quisermos que essa generosidade e solidariedade continuem", disse Eduardo Stein, representante especial da ONU para a crise de migração na Venezuela.

Seu alerta é claro: se países ricos não injetarem recursos em pacotes de ajuda, os governos da região podem começar a fechar as portas para o fluxo, cada vez mais intenso em algumas áreas.

Além dos países sul-americanos, a ONU destaca que 94 mil venezuelanos já vivem no Panamá, além de uma população importante em ilhas no Caribe. "Com os números cada vez mais em alta, as necessidades desses migrantes e das comunidades que os recebem serão cada vez mais significativas", alertou Stein.

Nos dias 22 e 23 de novembro, governos da região voltarão a se reunir para avaliar a crise venezuelana. A ONU afirmou que um grupo com cerca de 40 entidades tenta dar uma resposta também a situação de Caracas.

Na semana passada, as Nações Unidas indicaram que o número de refugiados e migrantes venezuelanos que entraram no Peru vindos do Equador pela principal fronteira de Tumbes atingiu o recorde de mais de 6.700 pessoas em um único dia, número três vezes maior do que o registrado duas semanas antes.

Em recente passagem por Genebra, o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, negou a existência de uma crise de migração e disse que o fluxo era apenas "circunstancial". Segundo ele, "milhares" de venezuelanos também estavam voltando para suas casas, depois de planos frustrados no exterior.

Caracas não disfarça o temor de que a fuga em massa seja usada por governos estrangeiros para justificar algum tipo de intervenção.

NOVAS DESCOBERTAS INDICAM QUE "LUZIA" NÃO VEIO DA ÁFRICA E SIM DA ÁSIA


Pesquisa desmonta teoria de uma Luzia 'africana'

Malú Damázio









Estudo foi feito a partir de amostras de esqueletos encontrados em Lagoa Santa

Esqueça a Luzia com traços marcadamente africanos. O fóssil mais antigo encontrado nas Américas, na década de 1970, em Lagoa Santa, na Grande BH, tem outra identidade. A personagem mais conhecida da pré-história do Brasil não veio da África ou Austrália. Pesquisadores apontam que o grupo que iniciou a ocupação do continente, há cerca de 20 mil anos, é, na verdade, oriundo da Ásia.
A descoberta foi anunciada ontem por estudiosos das universidades de São Paulo (USP) e de Harvard (EUA) e do Instituto Max Planck (Alemanha), que analisaram o DNA dos fósseis encontrados na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O feito lança luz sobre a história dos povos ameríndios – os habitantes da América antes da chegada dos europeus –, que passa a ser recontada a partir das novas constata-ções científicas.
A extração do material genético é inédita. Há duas décadas se tentava, sem sucesso, acessar o genoma do grupo que tem Luzia como personagem principal. O obstáculo era o ambiente tropical, de difícil preservação, em que os esqueletos foram encontrados. As áreas, conforme os estudiosos, acumulavam grande fragmentação dos ossos e alta possibilidade de contaminação.
Publicada ontem na revista científica internacional Cell, a pesquisa elimina a hipótese de o Povo de Luzia ter aparência semelhante a de indivíduos africanos ou aborígenes australianos. A imagem de uma Luzia negra, inclusive, foi eternizada pela famosa reconstrução facial feita pelo especialista britânico Richard Neave, na década de 1990.
Essa primeira representação, mais artística do que científica, como afirmam especialistas, se baseou na teoria do antropólogo brasileiro Walter Neves, conhecido como “pai” de Luzia. Segundo ele, o grupo teria chegado ao continente antes dos ancestrais dos indígenas atuais, que vieram da Ásia.
A tese do professor aposentado da USP tinha como ponto central o fato de os crânios dos indivíduos encontrados em Minas Gerais serem anatomicamente muito diferentes das ossadas dos ancestrais dos índios. Porém, agora o DNA comprovou que todos os indivíduos que povoaram as Américas descendem de apenas uma população que chegou até o continente pelo estreito de Bering, que ligava a Sibéria, na Rússia, ao Alasca, nos Estados Unidos.
Confiabilidade
O bioarqueólogo André Strauss, um dos coordenadores do estudo, reforça que o mapeamento genético é mais confiável que a comparação dos esqueletos feita anteriormente. “
Se uma pessoa quer fazer um teste de paternidade, ela tira o DNA, que é infinitamente mais seguro, ainda que o crânio tenha informação genética. Agora, podemos ver que a população de Lagoa Santa é totalmente ameríndia. São da mesma linhagem que um povo Tupi, por exemplo”, diz o pesquisador, que também é professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), da USP.
Próximos passos
A análise genética do Povo de Luzia é considerada a “abertura da caixa de Pandora” da arqueologia das Américas, na visão de André Strauss. Além das ossadas de Lagoa Santa, o Instituto Max Planck, da Alemanha, verificou sambaquis (depósitos de material orgânico) na costa brasileira. Foram analisados quatro sítios arqueológicos: um mineiro, dois paulistas e um catarinense.
“A ideia é mapearmos o DNA. Com isso, podemos descobrir como essas populações se relacionavam, se eram grupos de famílias, quais povos já tinham genes selecionados, e entenderemos melhor os fluxos migratórios”, explica o pesquisador.
Traços genérícos
Com a descoberta, Luzia ganha um novo rosto, afirma o bioarqueólogo André Strauss. A representação facial atual, com traços generalizados e indistintos, foi feita a partir de um esqueleto masculino pela professora Caroline Wilkinson, da Liverpool John Moores University, na Inglaterra, especialista em reconstrução forense. “Por trás dessa face estão diferentes histórias dos ameríndios”, frisa Strauss.
A fisionomia mais genérica está ligada à grande diversidade de povos ameríndios, que se estabeleceram por milênios.
As feições dos indivíduos de Lagoa Santa são classificadas pelos pesquisadores como um “ameríndio ancestral”, das quais se derivaram outras variantes que se espalharam pelo continente, explicando a diferença entre os crânios. “Naquela época não tinha ninguém com a mesma ‘cara’ que as pessoas têm atualmente”, observa o bioarqueólogo.
Ancestralidade
Geneticista e professor da UFMG, Fabrício Santos ressalta que o fato de as ossadas terem aparências distintas se deve à ancestralidade dos povos. “As fisionomias mudam com o tempo, pouco a pouco, e essa alteração ocorre em todas as populações”.
O especialista diz, ainda, existir “certa continuidade entre os povos”. “O de Luzia era, provavelmente, muito mais parecido com as comunidades indígenas do Brasil de hoje do que com as demais. Os índios atuais representam muito mais essas populações, inclusive em termos culturais, sociais, na maneira de caçar e de produzir alimentos”, completa Santos.
Conexão
A análise do DNA das ossadas de Lagoa Santa também mostrou que o Povo de Luzia tem conexão com a cultura Clóvis, que reunia indivíduos produtores de pontas de lança feitas em pedra e que viveram na América do Norte há 12 mil anos. Com os dados genéticos foi possível constatar ter havido uma expansão populacional desse grupo.
No movimento migratório, essas pessoas se misturaram aos habitantes locais e deixaram descendentes, incluindo os indivíduos da Grande BH. No entanto, 2 mil anos após a chegada na cidade mineira, os herdeiros da cultura Clóvis deixaram de existir e foram substituídos por ancestrais dos indígenas que habitaram o Brasil colonial.
Reconstrução
Comparar os ossos mais antigos encontrados nas Américas do Sul, Norte e Central. Esse foi o objetivo de outro estudo publicado ontem, dessa vez na revista científica Science.
A pesquisa, que tem o geneticista e professor da UFMG Fabrício Santos entre os autores, analisou materiais escavados pelo dinamarquês Peter Lund, considerado o “pai da arqueologia brasileira”.
A ideia, conforme o pesquisador, é reconstruir a história de populações antigas do continente. “Com isso, também iremos remontar a história da humanidade a partir do ponto de vista dos povos indígenas. Nós sabemos dos europeus, fenícios, romanos e gregos, mas essas narrativas sozinhas compõem a maior parte dos conteúdos dos livros de história”, afirma o cientista.
Fabrício Santos lembra ser possível, a partir da arqueologia, da genética e da linguística, apresentar novas evidências sobre os povos indígenas. “Quando os europeus chegaram aqui, não havia escrita. Estamos buscando dados, ferramentas, cerâmicas e ossadas para fazermos essa recomposição”, explica o especialista.



DEPOIS DA CONTURBADA ELEIÇÃO - O ESSENCIAL PERMANECE


O essencial permanece

Manoel Hygino 










Eis-nos depois de procelosa tempestade, correspondente ao período da campanha eleitoral, a mais acirrada de quantas se fizeram no Brasil desde o fim do regime militar. Bem verdade que, apesar de já estarmos na fase pós, é possível não estarem amainados de vez os ânimos. Diante de tamanho e tão farto volume de divergências entre os contendores, somente o tempo se encarregará de aparar arestas ou de eliminá-las e manter o objetivo essencial que desejamos para as futuras gerações. Alguns modelos de prática política estão estigmatizadas indelevelmente ou resultaram em ferimentos graves.
Sem embargo, para o interesse nacional, de todos os brasileiros, para a sociedade que pretendemos construir sob o símbolo do progresso, interessa a paz, um porvir melhor, mais feliz, facilitando a convivência fraterna sem a qual todas as perspectivas ruirão.
Observou-se por aqui, por motivos sobejamente de conhecimento público, uma perigosa debacle. Estremeceram-se fundamente sentimentos de dignidade e honestidade, ao contrário do que deveria ter acontecido. Estabeleceram-se o desalinho em esferas de governo e o incremento de atos ilícitos, envolvendo figurões da República e grandes empresas.
Entraremos em novo quatriênio administrativo e em novo ano com a República devendo muito a seus cidadãos. Inclusive no que se refere ao equilíbrio já tênue entre os três poderes, que conduz à preocupação com o elevado risco de integral desequilíbrio. Neste momento delicadíssimo, quando termina 2018, cabem, deste modo, serenas reflexões para conseguirmos promover a reinserção nos princípios de honestidade, nos sonhos desfeitos, para não nos sujeitarmos a morrer civicamente.
Ao contrário do que se pensa, o tempo não é outro, apenas sofreu os naturais efeitos de decisões humanas. Tem-se de estar atento ao fato de que muitos protagonistas são os mesmos, preparando-se para novos embates, ainda sem saber o que está à frente, se teremos melhores tempos ou mais borrascas.
Recordo o falecido jornalista Carlos Chagas, da Universidade de Brasília e que foi porta-voz de Costa e Silva. Ele, quatro anos atrás, lembrava que, em março de 1964, os ânimos estavam exaltados. De um lado, as esquerdas que imaginavam mudar tudo por meio de reformas pelo uso de teorias marxistas, ao menos se aproximando do modelo socialista, ou ainda pela ruptura das instituições vigentes. Do outro, empedernidos defensores de privilégios, infensos a mudanças, mas que, sem coragem de opor-se às reformas, levantavam a bandeira do combate ao comunismo. A maioria, todavia, desprezava os dois extremos, até o momento em que se acirraram os ânimos.
Tem-se, contudo, de convir com Carlos Chagas: o mundo não está dividido entre mocinhos e bandidos. Os militares cometeram erros até execráveis, mas contribuíram para a manutenção da unidade nacional. Eles, e quantos existiram antes e quantos vieram e virão depois dela, usufruirão desse privilégio.