sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DEPOIS DA CONTURBADA ELEIÇÃO - O ESSENCIAL PERMANECE


O essencial permanece

Manoel Hygino 










Eis-nos depois de procelosa tempestade, correspondente ao período da campanha eleitoral, a mais acirrada de quantas se fizeram no Brasil desde o fim do regime militar. Bem verdade que, apesar de já estarmos na fase pós, é possível não estarem amainados de vez os ânimos. Diante de tamanho e tão farto volume de divergências entre os contendores, somente o tempo se encarregará de aparar arestas ou de eliminá-las e manter o objetivo essencial que desejamos para as futuras gerações. Alguns modelos de prática política estão estigmatizadas indelevelmente ou resultaram em ferimentos graves.
Sem embargo, para o interesse nacional, de todos os brasileiros, para a sociedade que pretendemos construir sob o símbolo do progresso, interessa a paz, um porvir melhor, mais feliz, facilitando a convivência fraterna sem a qual todas as perspectivas ruirão.
Observou-se por aqui, por motivos sobejamente de conhecimento público, uma perigosa debacle. Estremeceram-se fundamente sentimentos de dignidade e honestidade, ao contrário do que deveria ter acontecido. Estabeleceram-se o desalinho em esferas de governo e o incremento de atos ilícitos, envolvendo figurões da República e grandes empresas.
Entraremos em novo quatriênio administrativo e em novo ano com a República devendo muito a seus cidadãos. Inclusive no que se refere ao equilíbrio já tênue entre os três poderes, que conduz à preocupação com o elevado risco de integral desequilíbrio. Neste momento delicadíssimo, quando termina 2018, cabem, deste modo, serenas reflexões para conseguirmos promover a reinserção nos princípios de honestidade, nos sonhos desfeitos, para não nos sujeitarmos a morrer civicamente.
Ao contrário do que se pensa, o tempo não é outro, apenas sofreu os naturais efeitos de decisões humanas. Tem-se de estar atento ao fato de que muitos protagonistas são os mesmos, preparando-se para novos embates, ainda sem saber o que está à frente, se teremos melhores tempos ou mais borrascas.
Recordo o falecido jornalista Carlos Chagas, da Universidade de Brasília e que foi porta-voz de Costa e Silva. Ele, quatro anos atrás, lembrava que, em março de 1964, os ânimos estavam exaltados. De um lado, as esquerdas que imaginavam mudar tudo por meio de reformas pelo uso de teorias marxistas, ao menos se aproximando do modelo socialista, ou ainda pela ruptura das instituições vigentes. Do outro, empedernidos defensores de privilégios, infensos a mudanças, mas que, sem coragem de opor-se às reformas, levantavam a bandeira do combate ao comunismo. A maioria, todavia, desprezava os dois extremos, até o momento em que se acirraram os ânimos.
Tem-se, contudo, de convir com Carlos Chagas: o mundo não está dividido entre mocinhos e bandidos. Os militares cometeram erros até execráveis, mas contribuíram para a manutenção da unidade nacional. Eles, e quantos existiram antes e quantos vieram e virão depois dela, usufruirão desse privilégio.


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