O essencial permanece
Manoel Hygino
Eis-nos depois de
procelosa tempestade, correspondente ao período da campanha eleitoral, a mais
acirrada de quantas se fizeram no Brasil desde o fim do regime militar. Bem
verdade que, apesar de já estarmos na fase pós, é possível não estarem
amainados de vez os ânimos. Diante de tamanho e tão farto volume de
divergências entre os contendores, somente o tempo se encarregará de aparar
arestas ou de eliminá-las e manter o objetivo essencial que desejamos para as
futuras gerações. Alguns modelos de prática política estão estigmatizadas
indelevelmente ou resultaram em ferimentos graves.
Sem embargo, para o
interesse nacional, de todos os brasileiros, para a sociedade que pretendemos
construir sob o símbolo do progresso, interessa a paz, um porvir melhor, mais
feliz, facilitando a convivência fraterna sem a qual todas as perspectivas
ruirão.
Observou-se por
aqui, por motivos sobejamente de conhecimento público, uma perigosa debacle.
Estremeceram-se fundamente sentimentos de dignidade e honestidade, ao contrário
do que deveria ter acontecido. Estabeleceram-se o desalinho em esferas de
governo e o incremento de atos ilícitos, envolvendo figurões da República e
grandes empresas.
Entraremos em novo
quatriênio administrativo e em novo ano com a República devendo muito a seus
cidadãos. Inclusive no que se refere ao equilíbrio já tênue entre os três
poderes, que conduz à preocupação com o elevado risco de integral
desequilíbrio. Neste momento delicadíssimo, quando termina 2018, cabem, deste
modo, serenas reflexões para conseguirmos promover a reinserção nos princípios
de honestidade, nos sonhos desfeitos, para não nos sujeitarmos a morrer
civicamente.
Ao contrário do que
se pensa, o tempo não é outro, apenas sofreu os naturais efeitos de decisões
humanas. Tem-se de estar atento ao fato de que muitos protagonistas são os
mesmos, preparando-se para novos embates, ainda sem saber o que está à frente,
se teremos melhores tempos ou mais borrascas.
Recordo o falecido
jornalista Carlos Chagas, da Universidade de Brasília e que foi porta-voz de
Costa e Silva. Ele, quatro anos atrás, lembrava que, em março de 1964, os
ânimos estavam exaltados. De um lado, as esquerdas que imaginavam mudar tudo
por meio de reformas pelo uso de teorias marxistas, ao menos se aproximando do
modelo socialista, ou ainda pela ruptura das instituições vigentes. Do outro,
empedernidos defensores de privilégios, infensos a mudanças, mas que, sem
coragem de opor-se às reformas, levantavam a bandeira do combate ao comunismo.
A maioria, todavia, desprezava os dois extremos, até o momento em que se
acirraram os ânimos.
Tem-se, contudo, de
convir com Carlos Chagas: o mundo não está dividido entre mocinhos e bandidos.
Os militares cometeram erros até execráveis, mas contribuíram para a manutenção
da unidade nacional. Eles, e quantos existiram antes e quantos vieram e virão
depois dela, usufruirão desse privilégio.
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