EUA: eleitores
vão às urnas escolher novo Congresso e 36 governadores
Agência Brasil
O presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, terá parte do seu destino político definido na
próxima terça-feira (6), quando haverá eleições para a Câmara dos
Representantes, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, e para o Senado,
além de 36 dos 50 governadores. O esforço de Trump é para manter a maioria
republicana nas duas Casas do Parlamento, assim como no comando executivo dos
estados.
As eleições
legislativas costumam ser uma espécie de baliza política para o presidente
norte-americano, que está na metade do mandato e a dois anos de uma eventual
tentativa de reeleição. Se perder a maioria republicana para os democratas no
Congresso, Trump pode esbarrar em dificuldades para levar adiante projetos
prioritários para o governo, como os temas relacionados à migração.
Parlamento
Os números atuais
são favoráveis ao presidente norte-americano. Os republicanos têm 235 das 435
cadeiras na Câmara dos Representantes e 51 das cem, no Senado. A manutenção
dessa tendência a partir do dia 6, no entanto, é incerta.
As 435 vagas da
Câmara dos Representantes estão em disputa e os democratas, que fazem dura
oposição a Trump, tentam ganhar mais espaço. Já no Senado, dos cem assentos, 35
serão renovados.
Estados
Dos 36 estados onde
haverá disputa para o Executivo, 26 estão atualmente sob poder dos
republicanos. A Flórida é um dos destaques do pleito, pois pode eleger o
democrata Andrew Gillum que, se vitorioso, será o primeiro afro-americano no
cargo. Ele disputa com o republicano Ron DeSantis, aliado de Trump.
O Texas também está
no foco das atenções, pois tradicionalmente é governado por republicanos. A
campanha é apontada como uma das mais caras do país e tem na disputa o
democrata Beto O'Rourke, um cantor de rock-punk que ocupa um assento na Câmara,
e o republicano Ted Cruz.
Influências
A política de
imigração de Trump, que atinge os latinos em geral, influenciará principalmente
as regiões fronteiriças com o México, como caso de Distrito 2 do Arizona. Os
eleitores vão escolher entre duas candidatas mulheres: a republicana de origem
latina Lea Marquez Peterson e a ex-parlamentar democrata Ann Kirkpatrick.
No Kansas, a disputa
está entre a democrata Sharice Davids, candidata de origem indígena e o
republicano Kevin Yoder, que teve parte dos recursos de campanha suspensos pelo
partido.
Trump
enfrentará maior teste pessoal em eleições legislativas
Estadão Conteúdo
Nesta terça-feira
(6), os americanos votarão nas eleições de meio de mandato, definindo a
renovação da Câmara, de um terço do Senado e de 36 dos 50 governadores. Para
além de uma disputa interna, a votação é considerada um referendo de aprovação
- ou reprovação - do governo de Donald Trump. Na reta final, o presidente
intensificou sua participação na campanha do partido para conter uma onda
democrata.
Hoje, as duas Casas são comandadas pelos republicanos, mas o partido corre o
risco de perder a maioria na Câmara dos Deputados - no Senado, a situação é
mais confortável. "As eleições presidenciais costumam ser um olhar para o
futuro, enquanto as de meio de mandato são um referendo do passado",
afirma Gary Nordlinger, da Escola de Gestão Política da George Washington
University. O fator Trump é levado em conta por seis em cada dez americanos,
segundo pesquisa do Pew Research. Segundo o instituto, 37% dos eleitores dizem
que a eleição será um voto contra Trump, enquanto 23% consideram votar em favor
do presidente.
Trump tem trabalhado como cabo eleitoral em uma agenda marcada por viagens para
defender até críticos dentro do partido, como Ted Cruz, do Texas. Os americanos
renovarão todos os deputados - que têm mandato de dois anos nos EUA - e 35 dos
100 senadores.
Trump admitiu a possibilidade de perder a maioria na Câmara dos Deputados na
sexta-feira. "Pode acontecer, pode acontecer. Nós estamos indo muito bem
no Senado, mas pode acontecer", disse Trump, em campanha na Virginia
Ocidental. Os democratas precisam conquistar 23 cadeiras a mais do que os
republicanos para conseguir a maioria da Câmara.
À CNN, a deputada democrata Nancy Pelosi se disse confiante no último fim de
semana antes da disputa. "Até outro dia, eu diria que 'se as eleições
fossem hoje, nós poderíamos ganhar'. Agora, o que estou dizendo é 'nós vamos
ganhar'."
Manter a maioria no Senado dá segurança ao mandato de Trump, já que um eventual
pedido de impeachment precisaria da aprovação dos senadores, após análise na
Câmara. No entanto, perder a maior parte da Câmara para a oposição não é boa
notícia, já que os democratas passarão a assumir as comissões na Casa e
comandariam investigações contra o republicano - que está na mira da Justiça em
razão de um possível conluio com os russos para interferir na campanha
eleitoral de 2016.
Obstáculos
Mais do que convencer os eleitores a votar em seu partido, Trump trabalha para
engajar os republicanos a votar - já que o voto nos EUA não é obrigatório. Dois
acontecimentos recentes jogaram pressão em cima do presidente americano.
Primeiro, o ataque a uma sinagoga em Pittsburgh, na Pensilvânia. Por fim, o
envio de pacotes com explosivos a alvos ligados aos democratas. Ambos fizeram
Trump responder a acusações de que seu discurso de ódio leva a ações de uma
sociedade polarizada. Para Nordlinger, isso não deve impulsionar a oposição.
"Os democratas que se importam com isso já votariam de todo o jeito",
afirma.
Outros acontecimentos, no entanto, deram força ao republicano, como o avanço da
caravana de cerca de 7 mil imigrantes da América Central em direção aos Estados
Unidos. Trump endureceu o discurso, usando sua conta no Twitter, contra a
imigração ilegal - sua principal plataforma de campanha desde que se lançou à
presidência.
Discurso 'roubado'
O discurso de proteção de minorias, tradicionalmente usado pelos democratas,
agora virou plataforma dos republicanos. Em maio, o cabeleireiro Brandon
Straka, em Nova York, postou um vídeo em suas redes sociais lançando o
movimento "Walk Away" - para reunir ex-simpatizantes democratas e
minorias insatisfeitas com o partido.
"O Partido Democrata dá como certo que possui as minorias raciais, sexuais
e religiosas", disse Straka, que, de lá para cá, começou a ser convidado
frequente da Fox News - canal de TV pró-Trump - e possui mais de 97 mil
seguidores no Twitter. Há uma semana, o movimento ganhou um apoiador de peso: o
próprio presidente Donald Trump, que deu parabéns a Straka por "começar
algo tão especial".
No dia 27 de outubro, Straka e seu grupo fizeram uma marcha em Washington. No
discurso na Freedom Plaza - a 200 metros do Trump Hotel, Straka, que é gay,
conclamou as minorias a abandonarem os democratas. "Quem somos? Somos
americanos negros, hispânicos, héteros ou homossexuais. Somos americanos e não
vamos nos dividir."
Na sua camiseta preta lia-se: "Não sou racista, não sou intolerante, não
sou homofóbico, não sou democrata". Straka foi aplaudido - exceto quando
assumiu que votou em Hillary Clinton para presidente em 2016.
O palanque foi dividido com mulheres e negros, sob o mesmo mantra da unificação
de minorias contra os democratas e a saudação a Trump como representante de
todos os americanos. "Não quero ser identificado por minha cor, idade ou
gênero. Quero ser identificado como americano", disse Brendley Dilley, no
palco.
O discurso comum é que democratas usam as minorias como plataforma política e
seria mentira que Trump não respeite imigrantes, negros e gays. Tammy Gore, que
assistia aos discursos, disse que os democratas causaram a divisão da
sociedade. "Eles não se interessam pelas pessoas. Eles se interessam pelo
poder".